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PSICOLOGIA

Relações precoces
As relações precoces são uma relação recíproca que tem por base o conjunto de
comportamentos que nos primeiros tempos de vida possibilitam marcar a ligação afetiva
entre a criança e quem cuida dela.
A presença, a influência dos outros, as primeiras interações e as relações precoces são
essenciais para o processo de construção do eu. Trata-se de uma necessidade adaptativas
que nos acompanha ao longo de toda a vida.

Vinculação
Segundo Bowlby, a vinculação é a necessidade básica, independente de outras
necessidades, de ligação do bebé à mãe e desta ao bebe, que se manifesta por um
conjunto de comportamentos característicos da espécie. Atualmente, inclui qualquer
comportamento que possibilite à pessoa, aproximar-se ou manter a proximidade das
suas figuras preferenciais ou privilegiadas. Esta é essencial ao desenvolvimento pessoal
e social do indivíduo.
Em relação às relações precoces, a vinculação é o laço afetivo recíproco que a criança
e uma pessoa específica, ou seja, a figura de vinculação, estabelecem, onde a criança
procura sustento, apoio e proteção. Une ambos num determinado espaço e num espaço
de tempo, sendo que se exprime a partir das reações que procuram manter a
proximidade com a figura de vinculação, ou seja, os comportamentos de vinculação.
Algumas características que distinguem relações precoces de vinculação de outras
interações sociais são a procura de proximidade, a noção base de segurança, o
comportamento de refúgio e angústia e o protesto face à separação involuntária.

A estrutura da relação do bebé com a mãe, segundo Bowlby


Bowlby propôs a primeira teoria consistente acerca da vinculação precoce.
Este fez um estudo sobre crianças que tinham sofrido privação de cuidados maternos
durante a 2ª Guerra Mundial, por causa da evacuação, da destruição dos lares e do
desaparecimento e morte dos seus cuidadores. Com isto, mostrou as consequências da
privação de cuidados maternos como:
 relações afetivas futuras superficiais;
 ausência de concentração intelectual;
 incapacidade de se relacionar socialmente com os outros;
 inexistência de reações emocionais;
 comportamentos desviantes;
 delinquência.
Bowlby fez outro estudo, mas desta vez com crianças com tuberculose, que tinham
sido sujeitas a internamentos prolongados no hospital. Com isto, as suas conclusões
alteraram as crenças que havia até então, em relação ao papel da primeira relação
afetiva:
o a personalidade do adulto constrói-se através das ligações socioafeitvas
precoces;
o os vínculos precoces repousam sobre necessidades e fundamentos biológicos;
o a tendência para estabelecer laços afetivos é independente de outras
necessidades básicas.
Esta nova forma de ver a criança e de compreender as suas necessidades de afeto
contribuiu para a alteração de atitudes e comportamentos em relação à primeira infância
e para a remodelação e humanização de várias instituições.

O experimento de Harlow
Harlow decidiu provar a teoria da vinculação, de Bowlby, onde observou e registou o
desenvolvimento social de macacos Rhesus criados em situação laboratorial. A
manipulação experimental mais usada pela sua equipa foi o isolamento total ou parcial
durante os primeiros tempos de vida. Foram feitas várias investigações, mas os estudos
com “mães substitutas” de arame e de algodão foram as que ficaram mais conhecidas.
As suas experiências permitiram demonstrar a necessidade inato do conforto de
contacto.
As crias, cujos primeiros tempos de vida decorreram em situação de isolamento
revelaram comportamentos socio afetivos perturbados quando foram colocadas em
contacto com indivíduos da mesma espécie.
Harlow designou de síndrome de isolamento ao conjunto de perturbações provocadas
pela privação social. Estas consequências são progressivamente gravosas, ou seja,
quanto mais tempo for privado piores consequências terá para a vida.
Os sinais e os sintomas da síndrome de isolamento são os seguintes:
Privação específica Consequências no desenvolvimento
associadas à síndrome de isolamento
Isolamento total durante os 3 primeiros Medo e fuga ao serem postos com outros
meses de vida indivíduos criados normalmente.
Ação de isolamento, incapazes de
interagir, abraçam-se e embalam-se a si
Isolamento total durante os 6 primeiros mesmos, reações de terror, mostram-se
meses de vida incapazes de aprender e de se adaptarem
a uma nova situação; mais tarde, ficam
violentos.
Isolamento total durante os 12 primeiros Isolamento num período de a cerca de 5
meses de vida anos na vida de uma criança provoca
apatia e indiferença completa.

A vinculação, segundo Ainsworth


Para Ainsworth, a figura de vinculação fornece à criança uma base de segurança, a
partir da qual é possível a exploração do meio sem ansiedade, mostrando que o
comportamento de vinculação e comportamento exploratório são conceitos
interdependentes.
Ainsworth criou uma experiência designada situação estranha, onde se ativava, em
crianças entre os 12 e os 18 meses, comportamentos representativos, induzindo
ansiedade ligeira pela partida e regresso repetidos da figura de vinculação.
A situação experimental permitiu distinguir três padrões distintos:

A depressão analítica e a síndrome de hospitalismo


Spitz identificou duas perturbações que ocorreram por privação afetiva precoce depois
de se terem estabelecido vínculos:
 a depressão analítica: resulta da privação afetiva parcial. É um estado depressivo
precoce que acontece a partir dos 6 meses de vida, devido a uma rutura na
relação com o agente maternante, em consequência de separação ou negligência.
Tem como sintomas a atonia afetiva, a inércia motora, a pobreza interativa e
desorganização psicossomática, entre outras.

 a síndrome de hospitalismo: consequência de privação afetiva total e duradoura.


Esta decorre da rutura toral e duradoura da relação afetiva precoce durante os 18
primeiros meses de vida. Algumas características são o atraso global do
desenvolvimento físico, psicológico, social e intelectual, e sentimentos de
abandono, desamparo e medo. Os seus efeitos depressivos acontecem
sequencialmente:
 no 1º mês de separação, a criança abandonada chora e procura
proximidade e conforto perto de outros seres humanos;
 no 2º mês de separação, o choro contínuo vai provocando,
progressivamente, o lamento e o gemido. A criança vai perdendo peso e o
seu desenvolvimento psicomotor é interrompido;
 no 3º mês de separação, a criança evita o contacto humano e a atividade
motora, passa longas horas deitada e sofre de insónias.
Reconhece-se, assim, a possibilidade de dor psíquica em fases precoces do
desenvolvimento.

A resiliência
A resiliência é a capacidade de autorrestabelecimento e de resistência às doenças
mentais, face a situações adversas ou indutoras de grande ansiedade. Ser resiliente
obrigada a resistir, a desistir, a reconstruir e a reconstruir-se sob circunstâncias
desfavoráveis. É uma forma de adaptação positiva, como autoconstrução, que põe em
prática mecanismos adaptativos e evolutivos. A resiliência tem dois conceitos
fundamentais, enquanto capacidade de adaptação positiva a situações humanas:
fatores de risco, onde se incluem os fatores centrados na criança (patologia);
ligados à configuração familiar (violência doméstica);
fatores de proteção, que são os recursos pessoas, familiares ou extrafamiliares
que atenuam o impacto do risco e permitem fazer face à situação (saber e poder
procurar ajuda).
Algo que pode ajudar a superar é ter um tutor de resiliência, isto é, uma pessoa com
quem se cria um vínculo e tem um certo papel protetor.

A psicologia social
A psicologia social estuda a relação do indivíduo com a sociedade. Observa
comportamentos nos momentos em que estamos rodeados de outras pessoas. Uma das
suas ideias é que o nosso comportamento é diferente de quando estamos sozinhos e
quando estamos em comunidade.
Para entender a realidade social, as pessoas e os contextos sociais, as relações e o
funcionamento interpessoais são sistematicamente interpretados e simplificados através
das nossas crenças, valores e saberes prévios. A isto chama-se cognição social.

As impressões e as atitudes
 impressão: é quando organizamos diversos traços particulares de um indivíduo
num todo coerente que o caracteriza, ou seja, quando criamos uma grelha de
leitura simplificada que nos permite criar uma imagem ou ideia sobre
determinada pessoa. Alguns sinais físicos, verbais, não verbais e
comportamentais, que interpretamos com os saberes e valores adquiridos, são
essenciais para a perceção em relação ao outro e para a formação de
impressões. O que a pessoa diz, a forma como se manifesta, as suas expressões
faciais, postura corporal, a maneira como se apresenta e a sua conduta
fornecem-nos informações que interpretamos e organizamos com o auxílio das
representações sociais. As impressões dependem de categorias, isto é, classes
de pessoas, objetos ou acontecimentos, que guiados pela cultura, criamos para
organizar e simplificar a realidade social. Alguns estudos mostram que algumas
qualidades (qualidades centrais) são mais decisivas para a impressão final do
que outras (qualidades periféricas). Também provaram que temos tendência
para colocar maior importância à informação inicial que retemos sobre uma
pessoa, isto é, o efeito de primazia.

 atitude: são avaliações que predispõem para responder de forma favorável ou


desfavorável a um objeto, pessoa ou acontecimento. São juízos avaliativos que
variam na sua direção (favorável ou desfavorável), intensidade (num continuo
entre muito ou pouco) e acessibilidade (maior ou menor probabilidade de
ativação perante o objeto real ou imaginado). São estáveis, mas também podem
ser imutáveis. Formam-se nos contextos que estamos inseridos e nas interações
que temos com os outros. Existem três componentes das atitudes:
 a afetiva: emoções e sentimentos subjetivos, e as respostas fisiológicas
que acompanham uma atitude;
 a cognitiva: pensamentos, crenças e valores (nem sempre conscientes);
 a comportamental: processo mental e físico que prepara o indivíduo
para agir de uma determinada maneira.

Dissonância cognitiva
Segundo Festinger, a dissonância cognitiva é quando nos comportamos de forma
incoerente ou inconsciente com as nossas crenças e atitudes, ou quando existe
contradição entre duas ou mais atitudes, provocando um estado negativo, de
desconforto. Para este, a existência simultânea de elementos não concordantes faz com
que o sujeito tenha um esforço de análise para tentar torná-los mais concordantes,
eliminando ou reduzindo a dissonância.
Algumas soluções para eliminar ou reduzir a dissonância são a mudança de opinião
(alteração da cognição), evitar as situações em que pode haver maior dissonância
(preservação do eu) e a seleção das informações que são mais convenientes para
estabelecer a concordância dos elementos (reorganização).

A normalização e o conformismo
o normalização: processo do qual os vários pontos de vista adotados pelos
diferentes indivíduos de um grupo convergem em negociação, não sendo
enfatizada nenhuma norma individual.

o conformismo: fenómenos de influência social que se caracteriza pelo facto de


haver concordância das próprias crenças, julgamentos ou ações às crenças,
julgamentos ou ações de outras pessoas e de um grupo. Inclui aprovação e
mudança dos indivíduos, que alteram a sua posição e passam a concordar
publicamente com o grupo. Este conceito engloba três características
sequencias fundamentais:
I. existência de uma tensão entre o que o indivíduo defende e a posição do
grupo ou maioria;
II. adesão do individuo às normas impostas pelo grupo ou maioria;
III. alteração do comportamento num equívoco que reúne a negação da
posição inicialmente defendida e a aceitação dos comportamentos
inicialmente negados.
O experimento de Asch sobre o conformismo
Asch pretendia estudar o conformismo. Este considerava que o comportamento
normalizador dos indivíduos acontecia devido ao efeito autocinético, que era uma ilusão
visual subjetiva. Segundo o psicólogo, se houvesse perceção objetiva, os participantes
não se conformariam. Para provar isto, realizou uma experiência, onde reuniu um grupo
de sete homens para participarem num suposto estudo de acuidade visual. De seguida,
fê-los observar uma linha de referência e por fim, pediu-lhes que comparassem esta
linha-padrão com três outras linhas dizendo qual delas era igual à de referência.
O objetivo deste experimento era estudar as condições sociais que induzem o indivíduo
a resistir ou a conformar-se pelas pressões do grupo quando este revela uma opinião
contrária ao evidenciado. Assim, demonstra-se a relevância da influência social e da
pressão social na vida do ser humano.

Um grupo exerce grande Um certo grau de


influência social sobre os conformidade é benéfico
seus membros. para o funcionamento da
sociedade.

As pessoas sentem-
se obrigadas a
conformar-se, para
se ajustarem.

Fingirão ou convencer-se- A tendência para a


ão a si mesmas que conformidade pode ser
concordam com a maioria. mais forte do que os
valores e perceções
elementares

A obediência
A obediência é a tendência para alterar o comportamento no sentido de responder pela
submissão a uma ordem que provém de um poder legítimo.
O experimento de Milgram sobre a obediência
Milgram estudou até onde é que as pessoas normais, que se limitam a obedecer, são
capazes de ir. A obediência era medida a partir das ações manifestas e implicava
comportamentos fonte de sofrimento para outros. Neste experimento participaram 40
sujeitos com idades compreendidas entre os 20 e os 50 anos, onde estes faziam o papel
de professor que aplicava choques aos alunos, sempre que ele errava a resposta.
As variações no procedimento de Milgram são as seguintes:
Proximidade da vítima Quanto mais perto se encontrarem perto
de uma vítima em sofrimento, menos os
sujeitos obedecem.
Proximidade da autoridade Quanto mais afastada se encontrar a
autoridade que dá a ordem, menos os
sujeitos obedecem.
Contexto institucional A realização da experiência em contextos
distintos revelou ligeiras oscilações na
obediência.
Pressão para o conformismo Se os seus pares forem obedientes, o
sujeito tenderá a tornar-se mais
obediente. Se os seus pares forem
rebeldes, o sujeito tenderá a tornar-se
menos obediente.
Papel da pessoa que dá ordens As pessoas tens a obedecer mais a
autoridades que são percebidas como
legítimas.
Traços da personalidade Não se observou correlação significativa
entre traços de personalidade e
obediência.
Diferença cultural A tendência para a obediência parece ser
transcultural, apesar de existirem
pequenas variações de cultura para
cultura.
Atitudes e ideologias As pessoas religiosas revelaram ser mais
obedientes do que as não religiosas.

Através do seu estudo, Milgram demonstrou a tendência para não resistir às exigências
da autoridade, mesmo tendo conhecimento que estas são incorretas ou eticamente
condenáveis. Os sujeitos totalmente obedientes só pararam de administrar os choques
quando o experimentador ordenou.

Os seres humanos são


socializados, desde cedo, Sentimo-nos obrigados a
para serem obedientes cumprir ordens de figuras
de autoridade
As pessoas fazem o
que lhes ordenam Mesmo quando elas
que façam entram em conflito com os
nossos valores morais.

O experimento de Zimbardo na prisão de Stanford


Zimbardo pretendia descobrir como é que as pessoas comuns se comportariam se
fossem colocadas no papel de autoridades com poder ilimitado. Para isto,
desenvolveu a experiência da prisão de Stanford.
Esta experiência pretendia estudar os efeitos psicológicos da vida numa prisão. Assim,
Zimbardo selecionou 24 voluntários do sexo masculino e todos eles eram alunos da
Universidade de Stanford, norte-americanos e canadianos, sem historial de problemas
psicológicos, abuso de drogas ou atividades criminosas. Foram divididos, de uma forma
aleatória entre reclusos e guardas e encarcerados numa prisão construída na cave da
universidade, onde recebiam 15 dólares por dia.
O psicólogo mostrou a força das instituições para transformar boas pessoas em
indivíduos capazes de cometer atrocidades. Concluiu que mesmas pessoas de boa
conduta podem se transformar quando estão em um ambiente hostil. Ou seja, acabam
por se adaptar, rapidamente, a papéis sociais e o ambiente em que vivem pode ter um
grande impacto no seu comportamento. Percebeu, também, que o poder sobre outro
pode afetar o psicológico de alguém. Assim, a psicologia do mal estudo o
comportamento humano em relação a atos ou ambiente menos bons.

Efeito Lúcifer
O Efeito Lúcifer é um processo de transformação, onde uma pessoa aparentemente
normal, boa e integra é capaz de cometer atos atrozes. São casos em que predomina uma
influência poderosa de um fator situacional capaz de nos desumanizar.
Juntamente com a psicologia social, tenta demonstrar que existem diversas formas de
compreender o comportamento violento e criminoso como algo complexo e dividido
entre vários aspetos quando envolvem seres humanos a viver em sociedade.
Este efeito foi descrito e visível no experimento de Zimbardo na prisão de Stanford,
em relação aos comportamentos dos guardas.
A desinviduação
A desinviduação é a forma como as situações sociais deformam as identidades pessoais
e como os grupos influenciam o comportamento individual. Este fenómeno ocorre
quando as pessoas, inseridas em grupos, perdem a sua individualidade, deixando de
estar autoconscientes e de seguir padrões pessoais de regulação da conduta. Pessoas
desinviduadas alteram bastante o seu comportamento e fazem coisas em grupo que
nunca fariam sozinhas.

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