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A CARÊNCIA AFETIVA MATERNA

SUA IMPLICAÇÃO NO DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

Professor: Fernando Sousa


Aluna: Joelma Anes
ÍNDICE
Introdução:
O Hospitalismo de Spitz;
Depressão Anaclítica de Spitz;
Características da Depressão Anaclítica;
As consequências da carência afetiva na infância;
Como evitar a carência afetiva na infância;
Conclusão;
Bibliografia.
INTRODUÇÃO

Sendo a primeira infância uma fase delicada, e porque não dizer decisiva, no processo de
desenvolvimento do ser humano, há destaque para a relação parental paterna e
principalmente materna, com elevada significância para que todos os campos de
maturação sejam bem elaborados e estruturados. Como enfatiza Benhaim (2008), a mãe
é responsável pela estruturação psíquica da criança nos seus primeiros anos de vida, e que
vão sendo construídas através das relações estabelecidas com o seu filho. Assegurando
cuidados e proteção ao longo do seu crescimento favorecendo um desenvolvimento
saudável. Pode-se citar também que a aprendizagem, o desenvolvimento cognitivo e as
emoções de uma criança começam a ser experienciadas e organizadas nos primeiros dias
de vida, em que o bebê ainda não tem noção do seu próprio ser. É nessa relação de carinho,
afeto, e confiança que o bebê meses depois passa a ter consciência de mundo e descobre
que ele e sua mãe não são mais um só (BOWLBY, 2006). A privação afetiva ocorrida
nesse período poderá gerar a perda de referências identificatórias causando possíveis
conflitos internos e externos, citado por Gomide (2009, p. 73), como, por exemplo, “a
negligência impede o desenvolvimento da autoestima, que é o principal antídoto ao
aparecimento do comportamento antissocial. A criança negligenciada é insegura, seu
olhar não tem brilho. Por não ter recebido o afeto que alimentaria seu ser”, ela se torna
frágil. Bowlby (2006), destaca que as frustrações são realmente significativas para as
crianças, estando relacionada às necessidades que elas têm de atenção e de amor por parte
dos seus pais (ou de quem efetive essa função) que são exercidas durante os cuidados
básicos, a exemplo da alimentação, higiene e da educação, por isso sua falta são
desestabilizadoras, porque estão relacionadas ao afeto recebido durante a interação com
os genitores além de serem básicas para a sobrevivência do bebê.

Observa-se que esse tipo de conduta para com as crianças pode atingir famílias de todas
as classes sociais, e nem sempre tem a ver com a vontade da mulher em ter aquele filho,
mas pelo simples fato de não conseguir ser uma mãe suficientemente boa (WINNICOTT,
1956, 2012). Nesse ponto surge a necessidade de se distinguir Maternidade de
Maternagem, em que a primeira pode ser vista como uma condição física, biológica em
se poder gerar um bebê. Por sua vez, a segunda, a Maternagem, é um estado de amor, de
carinho e de afeto direcionados a criança, estabelecendo um vínculo com a mesma
(WINNICOTT, 1958, 2000).

O “Hospitalismo” de René Spitz

René Spitz, psiquiatra infantil com formação psicanalítica, desenvolveu um conjunto de


pesquisas em crianças que, durante os primeiros doze meses de vida, permaneceram um
período prolongado numa instituição hospitalar ou num orfanato, privadas da presença da
mãe. Estudou as consequências e concluiu que os bebés apresentavam perturbações
somáticas e psíquicas como resultado da ausência completa da mãe numa instituição em
que os cuidados são administrados de forma anónima, sem que se estabeleçam laços
afetivos. Do ponto de vista do cuidado físico, estavam asseguradas as condições
fundamentais de higiene e de alimentação; do ponto de vista afetivo, constatou uma
carência afetiva total, porque cada adulto tinha à sua guarda várias crianças.

Spitz designou por Hospitalismo o conjunto de perturbações vividas por crianças


institucionalizadas e privadas de cuidados maternos: atraso no desenvolvimento corporal,
dificuldades na habilidade manual e na adaptação ao meio ambiente, atraso na linguagem.
Constatou que é menor a resistência às doenças e que, nos casos mais graves, pode ocorrer
a apatia. Os efeitos do Hospitalismo, presentes nas crianças que foram abandonadas em
orfanatos ou asilos, são duradouros e muitas vezes irreversíveis.
Com as investigações Spitz confirmou a necessidade de laços e de contatos afetivos entre
o bebé e o adulto, especialmente entre a mãe e o filho; a sua ausência pode conduzir a
perturbações emocionais, comportamentais e de desenvolvimentos graves.

Recentemente, as suas conclusões foram confirmadas por estudos desenvolvidos nas


crianças encontradas nos orfanatos romenos, sobrelotados, depois da queda de Ceausescu,
na Roménia, em 1989. A maior parte das crianças com 2 e 3 anos não conseguia andar ou
falar, manifestando um comportamento passivo sem manifestação de emoções.

A ausência de uma relação privilegiada com a mãe ou com um agente maternante, isto é,
um adulto que a substitua, tinha como consequência a recusa em se alimentar, a
perturbação do sono, a manifestação de comportamentos ansiosos. O desenvolvimento
normal da criança ficava comprometido. O sentimento de abandono e ver-se sem uma
figura securizante comprometia o equilíbrio das crianças. Seria graças à relação
privilegiada com um adulto que o bebé desenvolveria estratégias de adaptação ao
meio.

Estas conclusões levaram a Organização Mundial de Saúde, em 1950, a incluir nas suas
orientações um documento – Cuidados maternos e saúde mental -, onde se afirma:

“… fica claramente demonstrado que os cuidados maternos no decurso da primeira


infância desempenham um papel essencial no desenvolvimento harmonioso da saúde
mental”

No início do século XX, a grande preocupação dos responsáveis por instituições de


acolhimento para crianças era a de assegurar condições de higiene que reduzissem as
elevadas taxas de mortalidade e de doenças infectocontagiosas que se verificavam nesses
lugares. Esta preocupação remetia para segundo plano a questão das necessidades sócio
afetivas das crianças dessas instituições. René Spitz (1887-1974) foi uma das primeiras
vozes a chamar a atenção para este erro. Defendeu mesmo, como já foi salientado, que a
ausência de carinho, de laços verdadeiramente humanos e de cuidados de tipo maternal
eram os principais fatores responsáveis pela mortalidade das crianças de tais instituições.
Para Spitz, a privação afetiva precoce provocava dor psíquica (depressão) e acontecia,
por exemplo, na sequência de longa hospitalização da mãe ou da criança.

Quando a rutura da relação afetiva era parcial e passageira, acontecia a depressão


anaclítica, uma ausência de estimulação afetiva que era reversível, ou seja, que cessava
no momento do reencontro entre a figura materna e a criança. Quando o rompimento do
vínculo afetivo era duradouro e total, sucedia uma privação emocional a que Spitz deu o
nome, como já foi mencionado, de hospitalismo. Traduzindo-se numa separação
prolongada ou total, o hospitalismo pode ter efeitos irreversíveis, provocando, sobretudo
se acontecer nos primeiros 18 meses de vida, atrasos no desenvolvimento a todos os
níveis.

Depressão anaclítica de René Spitz

A depressão anaclítica é uma forma de depressão que ocorre durante o primeiro ano de
vida, quando a criança é separada da mãe e não tem outros vínculos afetivos. É um estado
grave que pode levar à morte.

O que é depressão anaclítica

No início dos anos trinta, quando René Spitz começou a sua pesquisa, nos círculos
acadêmicos pensava-se que as crianças eram incapazes de ter depressão. Alguns
psicólogos argumentavam que os sinais depressivos eram clinicamente irrelevantes em
crianças. Os psicanalistas, por outro lado, diziam que as crianças não tinham a capacidade
necessária para refletir e que, portanto, era impossível ficarem deprimidas.

Apesar dessas crenças generalizadas, dois pesquisadores decidiram verificar por si


mesmos qual era a validade do que era afirmado. Esses dois pesquisadores foram René
Spitz, criador do conceito de depressão anaclítica, e John Bowlby, que estudou em
detalhes a relação entre mãe e filho no início da vida do bebê.

Spitz concluiu que as crianças, desde a mais tenra idade, também ficavam deprimidas.
Ele descobriu que esse estado incluía um quadro completo de sintomas bem definidos e
que a criança reagia com essa forma de depressão à súbita separação de sua mãe ou aos
vínculos de afeição por um período superior a três meses.

Características da depressão anaclítica


Spitz observou que a depressão anaclítica ocorre em crianças menores de um ano de
idade. Ocorre quando o bebê desenvolve um vínculo com a mãe e sofre um
afastamento repentino por um período de três meses. Se isso acontecer, a criança
começa a mostrar todo um conjunto de sintomas depressivos.
Os sintomas mais visíveis são os seguintes:

 O bebê perde a capacidade de se expressar através de seus


gestos. Basicamente, ele para de sorrir.
 Apresenta anorexia ou falta de apetite.
 Tem dificuldade para dormir. As horas de sono são reduzidas ou alteradas.
 Perda de peso.
 Apresenta um atraso psicomotor global.
No caso de a privação emocional ser prolongada por um período superior a 18
semanas, todos os sintomas se agravam. A criança entra em um estado que Spitz
chamou de “hospitalismo”. O bebê se torna incapaz de estabelecer contatos afetivos
estáveis e a sua saúde se torna muito frágil. Em muitos casos, isso leva à morte.

As consequências da carência afetiva na infância


Os pais devem estar bem conscientes da importância de seu papel formador e do
suporte que eles têm que ter com seus filhos. Os pais que são egocêntricos, egoístas
e centrados em si mesmos e seus assuntos, geralmente são aqueles que não cumprem
plenamente com a cota de afeto que seus filhos precisam.

O amor não se implora nem se exige, mas se trouxemos uma vida ao mundo, um ente
vulnerável que precisa de nós e do mais puro sentimento, o amor, então a pergunta é,
por que não fornecer o que nossos filhos precisam?

Uma criança submetida à carência de afeto, na idade adulta tende a apresentar


imaturidade emocional, será uma pessoa egoísta, sem empatia, irá ter dependência
emocional, insegurança em seus relacionamentos, transtornos depressivos, fobias e
será uma pessoa egocêntrica e propensa aos vícios. Na verdade, são incontáveis os
males que são causados por não ter tido uma criação afetuosa.

 A permanente busca afetiva


A criança que cresce com a falta de amor de seus pais ou responsáveis buscará o afeto
em outros lugares. Elas tenderão a buscar o reconhecimento, aceitação e carinho em
outras pessoas e até pensarão que seu valor como pessoa estará dado pela opinião que
os outros tenham dela.
 Distúrbios da linguagem e da aprendizagem
As crianças com síndrome de carência afetiva, segundo os psicólogos, apresentam
problemas de linguagem e baixo rendimento escolar. Além disso, demoram para
desenvolver a linguagem e têm poucas habilidades sociais. Normalmente elas veem
de forma negativa uma expressão de afeto, e é por isso justamente que elas não são
muito carinhosas com aqueles que as rodeiam. Também censuram suas emoções.
Vários estudos têm mostrado que as crianças com carência afetiva são mais propensas
às doenças.

 Desconfiança generalizada, medo de abandono


As crianças com uma carência afetiva profunda que não são tratadas terapeuticamente
ou superadas, crescem com uma sensação de vazio e desconfiança que mina as suas
relações. O medo do abandono faz parte dos padrões que têm adquirido e dos quais
serão ser difíceis de superar. A dependência emocional, a baixa autoestima e o
isolamento são vestígios da falta de amor na infância.

Como evitar a carência afetiva na infância

Para evitar a carência afetiva na infância é importante que os pais fiquem atentos ao
mundo de seus filhos e aos interesses deles.

Não se devem converter em pais de helicóptero, mas sim em pais que se envolvem
em relacionamentos saudáveis com seus filhos. Não é suficiente só estar fisicamente,
deve-se estar presente também mentalmente e emocionalmente é dar o melhor de si
mesmo à sua família e filhos.

● Além disso deve-se manter uma boa comunicação com seus filhos. Seja um bom
ouvinte e atenda às suas necessidades. Veja suas expressões e valorize suas opiniões.

● Passe tempo de qualidade com seu filho, brinque, realizem viagens juntos, etc…

● Não economize em demonstrações de afeto. Faça com que seu filho se sinta seguro
e amado sempre que você estiver ao seu lado.
CONCLUSÃO

Depois de realizar todas as pesquisas sobre o tema concluo que diversas são as
consequências causadas pela falta desse vínculo afetivo nos primeiros 6 anos de vida da
criança, principalmente nos aspetos cognitivo e afetivo. Os abalos emocionais diante das
privações vividas podem causar à criança um transtorno de conduta, psicose e até mesmo
a depressão.

É de extrema importância que tanto o Pai como a Mãe tenham consciência do importante
papel que cada um desempenha na vida da criança de forma a garantir que a criança
desenvolva fisicamente, psicologicamente e emocionalmente com bases que permitirão a
criança ter uma ótima infância e posteriormente uma boa vida adulta.

Quando uma criança nasce, ela precisa de alguém que a ajude a construir uma boa
formação psíquica que a proporcione muito além de cuidados básicos, mas, que exista
uma relação de carinho e afeto advindas desses cuidados, por isso é muito importante que
principalmente a mãe (sem descartar o papel do Pai e dos restantes familiares),
desenvolva esse papel e ajude a criança na formação da sua identidade através de relação
de carinho, afeto e muita proteção.
BIBLIOGRAFIA:

O “Hospitalismo” de René Spitz;

Privação afetiva e suas consequências na primeira infância: um estudo de caso, Daniele


Barbosa Rayane & Daniela Heitzmann Amaral Valentim de Sousa»;

Trabalho- Hospitalismo (Spitz), Helena

www.google.com

Fonte própria.

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