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VINCULAÇÃO

in Guedeney, Nicole e Guedeney, Antoine, Vinculação- conceitos e aplicações, Climepsi Edit, Lisboa, 2004

BOWLBY (1958 - The nature of the child’s tie to his mother) utliza pela primeira vez a
expressão VINCULAÇÃO para designar o laço afectivo de uma pessoa ou animal a outro
indivíduo específico e utiliza-a para caracterizar a relação da criança com a mãe.

...“Ligação de afecto específica de um indíviduo a outro. Trata-se de uma


tendência original e permanente de procurar relação com outrém. É uma
necessidade/impulso primário (não aprendido). A primeira ligação é
geralmente estabelecida com a mãe, podendo acompanhar-se de vinculações a
outros indivíduos. Uma vez constituída, a vinculação tende a durar.”

Os comportamentos de vinculação

São comportamentos que têm como finalidade permitir ficar perto ou manter a
proximidade das figuras preferenciais e previligiadas.

Têm como função, na infância, ligar a criança à mãe e favorecer a ligação recíproca da mãe à
criança. Os comportamentos do bebé que estão destinados a favorecer a proximidade são:

O sorriso e a vocalização, comportamentos de sinalização, que informam a mãe do desejo de


interacção do filho.
O choro, comportamento de natureza aversiva, que leva a mãe a aproximar-se da criança e a
efectuar actos que visam pôr fim ao choro.
Mais tarde, agarrar e gatinhar, comportamentos activos que lhe permitem aproximar--se ou
seguir a figura de vinculação.

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Figura de vinculação

É uma figura em direcção à qual a criança irá dirigir o seu comportamento de vinculação. É
susceptível de se tornar figura de vinculação qualquer pessoa que se envolva numa
interacção viva e durável com o bebé e que responda fácilmente aos seus sinais e às suas
aproximações.
Existem múltiplas figuras de vinculação, as quais serão hierarquizadas, não apenas em função
dos cuidados prestados ao bebé, mas também das qualidades das características
precedentes. A criança tem um tendência inata a vincular-se em especial a uma figura
(conceito de monotropismo), o que significa que, num grupo estável de adultos, uma das
figuras irá tornar-se a figura de vinculação privilegiada (Holmes, 1995).

Relação de vinculação

A relação de vinculação constrói-se progressivamente: o esquema genéticamete programado


é modelado pelo meio social.

A criança dirige-se de forma preferencial a figuras discriminadas em busca de sustento, de


conforto, de apoio e de protecção, ao mesmo tempo que surge a angústia perante o
estranho e o protesto em caso de separação, dois indícios da existência de uma vinculação
preferencial.

Ainsworth ( 1989) definiu assim 4 características que distinguem as relações de vinculação


das outras relações sociais:

- A procura de proximidade.

- A noção de base de segurança ( ou seja, a exploração mais livre na presença da figura de


vinculação).

- A noção de comportamento de refúgio ( ou seja, retorno em direcção à figura de vinculação


quando o indivíduo se apercebe de uma ameaça).

- As reacções marcadas perante a separação (involuntária).

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O sistema de vinculação

Compreende um conjunto de comportamentos de vinculação.


Engloba os seguintes sistemas motivacionais:

O sistema de vinculação própriamente dito


O objectivo externo é estabelecer a proximidade física com a figura de vinculação.
O objectivo interno é garantir um estado emocional e subjectivo, interno, de segurança, bem-estar e conforto.
A criança controla e monitoriza o ambiente, interpreta os indícios e, em caso de aflição e susto, procura a
proximidade da figura de vinculação. É um sistema capaz de controlar e regular, através de um conjunto de
activadores e de extintores, os meios para atingir um fim. O objectivo da criança é a busca da distância óptima
desejada em relação à mãe.

O sistema exploratório
Está intimamente associado ao sistema de vinculação. Está ligado à curiosidade e ao domínio. Estes dois sistemas
são activados e desactivados por sinais antagonistas.

O sistema afiliativo ou sistema de sociabilidade


Descrito por Bowlby como pertencendo ao sistema de vinculação, pois estaria ligado a uma tendência
biológicamente programada e contribui para a sobrevivência do indivíduo. Consiste no conjunto de todas as
manifestações de amizade e de boa-vontade, devidas ao desejo de fazer as coisas na companhia de outros, o
“fazer em comum”. É provávelmente activado quando o sistema de vinculação não o é. Este sistema está ligado à
construção da moralidade e da sociabilidade e representa a motivação da criança para se envolver socialmente
com os outros.

O Sistema de caregiving (Bonding)


Trata-se da vertente parental da vinculação. Consiste na capacidade de prestar cuidados e de se ocupar de
alguém mais novo. É a expressão de uma tendência biológica, modificada pelas prendizagem social.

Laço: ligação emocional entre as pessoas quando se relacionam intimamente com os outros.
Laço de vinculação -Dirige-se do mais fraco para aquele que protege.
Laço de bonding - Sentimento que aquele que presta cuidados tem, de estar ligado à criança
de que se ocupa.

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Base de Segurança

A confiança na ideia de que um figura de apoio, protectora, estará acessível e disponível, e


isto seja qual for a idade do indivíduo.
A proximidade fisica, necessária no inicio da vida, torna-se progressivamente um conceito
mentalizado e emocional, associando-se ao de acessibilidade, de “porto seguro”. Se a criança
construiu uma base de segurança, então pode, confiante, na disponibilidade da figura de
vinculação, explorar o mundo que a rodeia.

Capacidade para responder (Responsiveness)

A noção de capacidade de resposta por parte da figura de vinculação significa a possibilidade


de resposta, ao mesmo tempo emocional e adaptada às necessidades da criança. Inclui a
ideia de reciprocidade, activamente adaptada aos sinais do bebé. Noções como contingência
e harmonização, são outras expressões para o mesmo fenómeno.

Angústia - A angústia tem precedência sobre todas as actividades, quando o acesso à figura de vinculação é
ameaçado. A angústia activa o sistema de vinculação e leva ao aparecimento de comportamentos de vinculação
que, normalmente, servem para restabelecer esta proximidade. As manifestações de angústia servem para
alertar a figura de vinculação, para lhe fazer notar a aflição da criança, e dar lugar a respostas reconfortantes.

Cólera- A cólera desempenha também um papel importante na resposta a uma ruptura do laço de
vinculação. Pode servir, quando se dá uma separação, para motivar a criança a ultrapassar os obstáculos à
aproximação com a figura de vinculação. Com a sua cólera a criança transmite as suas recriminações e procura
levar a figura de vinculação a recomeçar.

Tristeza- Acompanha a percepção de que a figura de vinculação não está disponível e que os esforços para
tentar restabelecer esta acessibilidade fracassaram. Pode conduzir ao retraimento e descomprometimento e
pode ter efeitos de reorganização dos modelos operantes internos.

Redireccionamento - É utilizado em particular nas reacções à separação ou ameaças fortes à


disponibilidade da figura de vinculação. No animal, o redireccionamento de um comportamento hostil, faz
abandonar o alvo inicial, um animal mais poderoso, para o redireccionar para um animal menos poderoso. No
homem, o redireccionamento define a reorientação da cólera da criança para uma figura, um objecto ou uma
situação da qual não teme represálias sobre o seu laço de vinculação.

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MODELOS OPERANTES INTERNOS
(MOI)
A partir das trocas com os familiares que a rodeiam, a criança desenvolve modelos de relação que, uma vez
postos em acção, a ajudam a compreender e a interpretar os comportamentos dos que lhe são próximos. Estes
modelos permitem-lhe antecipar as reacções do outros e vão influenciar o seu comportamento com as suas
figuras de vinculação. São estratégias comportamentais. A criança forma um modelo de si e um modelo do
outro, em simultâneo. O modelo de si corresponderia a uma imagem de si, como sendo mais ou menos
merecedor de ser amado, ao passo que o modelo do outro, teria que ver com a sua percepção dos outros como
estando mais ou menos atentos e sensíveis às suas necessidades.É em função destes modelos que aborda as
novas relações ( percebe-as com o filtro daquelas que já experienciou, sentiu, teve conhecimento), o que pode
conduzir a tratar o novo de forma enviesada, a repetir, recriando o mesmo tipo de trocas.

Modelos de Vinculação
Ainsworth (1978), Main ( 1996)

Vinculação Segura
A criança, confiante na protecção parental de uma mãe disponível e sensível aos seus sinais de desamparo,
implica-se na exploração do mundo e regressa para partilhar, com entusiasmo, as suas descobertas com a
mãe.Sabe encontrar rápidamente um substituto para se consolar na ausência da mãe e procura criar com ele um
laço de segurança. Quando a mãe regressa precipita-se para ela para lhe mostrar alegremente as suas
descobertas.

Vinculação Ansiosa-Ambivalente
A criança não está certa de que a sua mãe tem disponibilidade para lhe responder, ou se a ajudará quando a ela
fizer apelo. Dada esta incerteza, sempre sujeita à angústia de separação, tende a agarrar-se, mostrando-se
angustiada perante a exploração do mundo. Não estabelece uma relação de ajuda senão quando está aflita.
Este esquema de vinculação é, segundo Ainsworth, favorecido pelo facto de a criança ter vivido diversas
separações, ou pelo facto de a mãe surgir como confiável e disponível em certas situações, mas não noutras, e
ainda pela utilização da “ameaça” de perda de afecto (abandono afectivo), como meio de disciplinar a criança.

Vinculação Ansiosa – Evitante

A criança, não tendo qualquer confiança na resposta à sua procura de cuidados, esperando a rejeição, torna-se
dificil de consolar, não procura a ajuda de outro e mostra-se “auto-suficiente” e desligada.

Vinculação Desorganizada

Mais rara, corresponde a bebés que não sabem utilizar a sua mãe como base de segurança, quando ela está
presente, nem se tranquilizam quando ela regressa, nem procuram um substituto, nem se mostram capazes de
utilizar os recursos do seu próprio corpo para se consolarem, comunicando uma impressão de estranheza, que
testemunha um profundo disfuncionamento na interacção com a mãe ou seu substituto.
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