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Carl Gustav Jung – Teoria Junguiana e Constelação Familiar

Bert Hellinger antes de descobrir a técnica da constelação transitou por várias áreas de
conhecimento. Nascido em Leimen, morava em Cologne, sendo parte de uma família
católica[1]. Aos 10 anos, foi seminarista em uma ordem católica não alinhada
ao nazismo. Apesar disso, aos 17 anos se alistou no exército e combateu com os nazistas
no front, sendo preso na Bélgica[2]. Aos 20 anos, com o fim da guerra, se tornou padre.
Se formou no curso de Teologia e Filosofia na Universidade de Würzburgo em 1951].
Foi enviado como missionário católico para a África do Sul, onde atuou como diretor de
várias escolas, como o Francis College, em Marianhill. Em 1954, obteve o título
de Bacharel de Artes da Universidade da África do Sul e, um ano depois, graduou-se em
Educação Universitária.
No final dos anos 1960, abandonou o clero e voltou à Alemanha, onde passou a
estudar Gestalt-terapia. Mudou-se para Vienna para estudar psicanálise. Em 1973 se
mudou para a Califórnia para estudar Terapia Primal com Arthur Janov. Lá, se
interessou pela Análise Transacional.
A prática das Constelações familiares recebe influência de todo esse conhecimento
acumulado ao longo de sua vida. Além disso, ao assistir uma constelação familiar é
possível observar nos fenômenos vários conceitos desenvolvidos na psicologia como
um todo.
É proposta desta aula, transitar entre a psicologia analítica do Carl Gustav Jung, e o
olhar fenomenológico do Bert. Faremos esse esforço na busca de uma maior
compreensão da técnica para fundamentá-la cientificamente.
Bert não se deteve em fundamentar teoricamente o seu trabalho em Constelação
Familiar. Em alguns depoimentos nos seus livros, ele diz saber que a técnica funciona e
utiliza, e isso pra ele basta. Ousaremos ampliar um pouco mais esse conhecimento sem
modificar a estruturação do seu trabalho.
Iniciaremos abordando alguns conceitos fundamentais da Psicologia Analítica de Jung,
que subsidiarão essa compreensão. São eles: Inconsciente Coletivo e os Arquétipos;
Sombra e Persona; Processo de Individuação, Consciente, Inconsciente e a Dinâmica
psíquica.
Sigmund Freud descobriu a existência do inconsciente, porém considerou que o
inconsciente era constituído por conteúdos adquiridos pelas experiências pessoais do
indivíduo. Esse foi o ponto de divergência entre Freud e Jung.
De acordo com Jung parte do inconsciente era constituído por conteúdo pessoal e outra
parte por experiências vividas pela humanidade. Inconsciente coletivo é um conjunto de
sentimentos, pensamentos, imagens que são herdados pelos nossos ancestrais. E somos
afetados e influenciados por esses conteúdos por toda a vida.
Bert observou em seu trabalho que há uma dinâmica silenciosa e sutil atuando no
sistema familiar, em sua história, em seus acontecimentos, em sua cultura. A partir do
estudo do inconsciente coletivo podemos compreender que tudo que aconteceu antes da
nossa existência atua em nós. São informações contidas no inconsciente familiar e que
determina a nossa forma de estar no mundo e até mesmo muitas das nossas escolhas.
A esse conteúdo existente no inconsciente coletivo, Jung chamou de Arquétipos. Os
arquétipos são “formas sem conteúdo que representam apenas uma possibilidade de
percepção e ação...são imagens primordiais existentes na mente de cada indivíduo” São
universais, todos herdam as mesmas imagens arquetípicas, que ganharão significados a
partir da experiência pessoal de cada um.
Exemplo: existe uma imagem da mãe universal, que propicia ao bebê um
reconhecimento da mãe pessoal e partir desse contato e dessa relação serão formados os
complexos que podem ser positivos e/ou negativos.
Os complexos de acordo com a teoria junguiana são aglomerados de sentimentos,
pensamentos e lembranças carregados de forte potencial afetivo.
Ao estabelecer uma boa relação materna e paterna, constelam-se complexos positivos,
sentimentos e pensamentos saudáveis a respeito de nós mesmos. Se o complexo é
positivo o indivíduo tem um bom autoconceito, demonstra boa auto estima, auto
confiança, e flexibilidade no jeito de estar no mundo e de se relacionar com as outras
pessoas.
Se o complexo constelado for negativo, o indivíduo terá dificuldades de se relacionar,
pode apresentar sentimentos de depreciação a respeito de si mesmo, sentimentos de
inferioridade/superioridade e comportamentos de inflexibilidade consigo e com os
outros.
O arquétipo é o núcleo do complexo. Ele atrai para si experiências significativas, a fim
de formar o complexo. Existe um número inimaginável de arquétipos, dentre os quais:
pai, mãe, herói, criança, Deus, demônio, nascimento, morte, renascimento, sábio,
cuidador, sol, lua, entre muitos outros.
Os arquétipos são expressos nos mitos, nos contos de fadas, em histórias bíblicas, nas
religiões em forma de imagens sagradas, além de surgirem nos sonhos e nas visões com
manifestações mais imediatas e mais individuais, do que nos mitos.

Alguns arquétipos desempenham papéis fundamentais na formação de nossa


personalidade e de nosso comportamento. São eles: persona, anima e animus, sombra e
o Si-mesmo.

A palavra “persona“ é derivada do verbo “personare“, ou “soar através de”. No teatro


grego era o nome da máscara que os atores usavam para lhes dar a aparência que o
papel exigia, assim como amplificar sua voz para que fosse ouvida pelos espectadores.

Na Psicologia Analítica, a “persona” indica um aspecto da personalidade, representante


da psique coletiva, que se encontra dentro da própria personalidade. É uma estrutura da
psique que gira em torno do “eu”, e cuja relação com o próprio “eu” muda
continuamente ao longo da vida.

É a imagem que o individuo mostra externamente, seu papel ou status social nas
relações com o mundo e o aspecto que ele assume nas relações com a cultura e com a
sociedade. Refere-se também à adaptação do individuo ao coletivo, à atitude que o
individuo mostra como resposta aos outros e às situações, para adaptar-se ao ambiente e
nele agir. Diz respeito ao conjunto de atitudes convencionais do individuo enquanto
pertencente a uma tradição, que se evidencia nos seus prejulgamentos em relação aos
outros.

A sombra é a outra parte da personalidade, constitui em uma parte primitiva. Conteúdos


reprimidos ou nem acessados pela consciência. Exprime o lado não aceito da
personalidade assim como se constituiu, e portanto é, de um lado, o conjunto de
tendências, características, atitudes e desejos inaceitáveis em relação ao complexo do
“eu”; do outro, o conjunto das funções indiferenciadas ou fracamente diferenciadas em
relação às funções psíquicas. Surge então a expressão “sombra do eu”, que indica
especificamente o conjunto de modalidades e possibilidades de existência reconhecidas
pelo sujeito como não próprias, seja enquanto negativas ou não-valores em relação a
valores já codificados na consciência: considera-se que tais elementos fiquem alienados
de si para defender e ao mesmo tempo constituir a própria identidade, embora com o
risco de parar indefinidamente o devir da pessoa humana.

Durante o trabalho analítico ou durante a constelação familiar podemos observar como


o individuo lida com a sua sombra.

1. A projeção da sombra – alienação do sujeito em relação aos próprios conteúdos


psíquicos negativos considerados penosos e incompatíveis, e a incorporação dos
mesmos no “outro”. Tal dinâmica é posta como explicação das antipatias e
idiossincrasias que nascem em cada sujeito, ao referir ao “outro” aquilo que existe de
sombrio na própria personalidade;

2. A identificação com a sombra – o sujeito assume os próprios conteúdos negativos,


razão pela qual adota todas as suas características. A energia psíquica dinamiza apenas
os conteúdos negativos, por essa razão é considerada como ainda não elaborada sob
forma de autocrítica;

3. A cisão da sombra – se refere a vida autônoma, que ocorre dentro da psique, dos
conteúdos rejeitados, de qualquer forma, pelo complexo do “eu”, motivo pelo qual eles
provocam, por um lado, bruscas mudanças de personalidade, e por outro lado a
alternância de personalidades diferentes;

4. A diferenciação da sombra – nesta etapa, há a distinção e o desenvolvimento dos


conteúdos psíquicos negativos, a fim de que esses possam entrar verdadeiramente em
relação com os seus opostos;
5. A integração da sombra – é o reconhecimento crítico à aceitação não apenas racional
dos aspectos negativos da própria personalidade. Tal reconhecimento e aceitação, sendo
realizados por parte do “eu”, restituírão ao próprio “eu” a energia psíquica, de tipo
cognitivo e afetivo, que antes disso residia isoladamente nos conteúdos psíquicos.

De acordo com Jung, é preciso ver a nossa própria sombra e ser capaz de suportá-la. Ao
conseguir esse confronto o indivíduo já teria resolvido uma pequena parte do seu
problema.

Ao colocar uma constelação, é possível ver um filho que impede que outros irmãos
cuidem dos pais e ao mesmo tempo se revolte por cuidar sozinho. Na sombra pode
estar o desejo de ser único e ser amado por isso. Podemos oferecer uma fala de
conscientização: “Por amor eu carrego sozinho, também para ser visto e amado” Após
a tomada de consciência do lugar que ocupa, podemos oferecer uma nova possibilidade
ao oferecer uma fala de solução: “ tudo bem para mim se você também cuidar do nosso
pai e/ou da nossa mãe. Você pode ocupar o seu lugar e fazer a sua parte”

Esta mesma dinâmica sombria pode-se encontrar em constelações em que um dos pais
se queixa em ter que cuidar sozinho do filho, mas durante a constelação percebe-se que
um dos dois não deseja que o outro se aproxime do filho. A partir dessa percepção
oferece-se uma fala de solução “Tudo bem para mim se você assumir o seu lugar de
Pai/Mãe. E fizer a sua parte na vida do nosso filho” Após uma série de movimentos e
falas, o constelado pode assumir os seus desejos sombrios e abrir mão deles, assumindo
apenas o seu lugar nesta relação.

Anima e animus são termos latinos que indicam a imagem da alma de um indivíduo,


respectivamente masculina ou feminina.

Estes termos foram introduzidos por Jung para simbolizar a característica contra-


sexual de cada indivíduo, parte do princípio da complementariedade, através do qual a
psique se move. São imagens psíquicas, configurações originárias de uma estrutura
arquetípica básica, provenientes do inconsciente coletivo. São subliminares à
consciência e funcionam a partir de dentro da psique inconsciente, influindo sobre o
principio psíquico dominante de um homem ou de uma mulher.

Jung diz: “A anima, sendo feminina, é a figura que compensa a consciência masculina.
Na mulher, a figura compensadora é de caráter masculino, e pode ser designada pelo
nome de animus” (Obras Completas C G. Jung, Vol.VII, §328).

Para o homem, tem a característica de reações, impulsos e posicionamentos baseados


em conhecimento não suficientemente justificado; e para a mulher assume a forma de
compromissos, crenças e inspirações; é algo que induz a tomar conhecimento do que é
espontâneo e significativo na vida psíquica.
A compreensão e a integração de cada uma dessas imagens exigem uma parceria com o
sexo oposto. É uma tarefa primária na análise, discriminar e examinar os aspectos deste
par de opostos entre analista e paciente.

Vemos na nossa sociedade hoje, muitas mulheres tomadas pelo Animus, agindo pelo
principio masculino e vice-versa, homens tomados pela sua Anima agindo pelo
principio feminino. Na constelação pode-se observar essa identificação. Um homem
pode estar tão identificado com a sua mãe e não conseguir forças para tomar as decisões
necessárias para a sua vida. Quando ele consegue perceber e se diferenciar, deixando
com ela o que é dela e ficando apenas com o que é seu. Ele ganha força novamente.

O arquétipo central da psique humana é o Si-mesmo. É o principio ordenador e


unificador da totalidade da psique consciente e inconsciente, atrai para si e harmoniza os
demais arquétipos e suas atuações nos complexos e na consciência. Atua como a fonte
criadora e reguladora de nossa vida psíquica. O Si-mesmo é a maior autoridade psíquica
e subordina o “eu” ao seu domínio.

Quando o arquétipo do Si-mesmo está conectado ao “eu” a pessoa sente-se em paz


consigo mesma. Quando, por outro lado, o eixo “eu— Si-mesmo” está bloqueado ou
rompido, a pessoa sente-se “fora de eixo”, podendo até se desestruturar.

Para atingir a individuação, a pessoa precisa diferenciar e integrar todas as instâncias


psíquicas: “eu”, persona, anima ou animus e a sombra, em relação ao Si-mesmo e ao
coletivo, resultando assim em um desenvolvimento do individuo no âmbito espiritual e
coletivo.

A meta final de qualquer indivíduo é chegar a um estado de auto-realização e de


profundo conhecimento do próprio “eu”, essa é a tarefa de uma vida.

Alcançar a auto-realização depende da cooperação e estruturação do “eu”, pois depois


de um longo processo de transformações internas impõe-se o sacrifício do “eu”, que
reconhece sua posição subordinada e está preparado para servir à totalidade — o Si-
mesmo.

Na terapia sistêmica trata-se de averiguar se no sistema familiar ampliado existe alguém


que esteja emaranhado nos destinos, escolhas, crenças de membros anteriores desta
família. Muitas vezes ao colocar uma constelação podemos observar que a pessoa está
identificada com alguém da sua ancestralidade, repetindo um padrão de comportamento,
presa a questões que não são dela. Quando esse conteúdo é trazido a luz da consciência,
o cliente consegue se libertar mais facilmente desse emaranhado, passando a ter a opção
de fazer escolhas diferentes e a ser dono do seu destino, do seu caminho!!!

Fontes : https://pt.wikipedia.org/wiki/Bert_Hellinger

http://sandplay.jogodeareia.com.br/psicologia-analitica

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