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Centro Universitário do Planalto Central Apparecido do Santos

Curso: Psicologia
Período: 8º/noturno
Disciplina: Psicologia Analítica
Professora: Aline Agostinho
Alunos: Álvaro Rocha 0012514
Thaynar Barcelos Velame 0012211

RESENHA DO TEXTO: Breves Considerações Sobre o


Conceito de Sombra na Psicologia de Carl Gustav Jung

Abril de 2023
Gama - DF
Resenha:

Ao se falar sobre Psicologia Analítica, pensa-se em Carl Jung, teórico


criador de tal abordagem e compreensão do ser humano. Nascido em 1875 na
Suíça, Jung cursou medicina, recém formado se tornou segundo assistente no
hospital universitário Burghözli, onde realizava diversas pesquisas com Eugen
Bleuler, que permitiu sua aproximação ao estudo sobre inconsciente. Com isso,
Jung contatou Freud, trabalhando juntos por cerca de cinco anos, até
encontrarem pontos de divergências em suas compreensões da psique e
inconsciente.
Partindo da leitura freudiana, que viam os conteúdos recalcados pela
consciência como condenáveis, inaceitáveis e sombrio, Jung amplia tal
entender, uma vez que sombra não existe sem luz. Dessa forma, o autor não via
a sombra como algo somente obscuro, assim com o Ego (consciente) possuía
traços e partes ruins, a sombra também possui qualidades, instintos normais e
impulsos criadores. E, para tal compreensão e completude do conceito de
sombra e dinâmica psíquica, Jung trouxe novos conceitos como arquétipos,
inconscientes coletivo e pessoal, persona.
Sendo então, arquétipo predisposições e manifestações espontâneas de
natureza inconsciente do sujeito, herdadas do inconsciente coletivo, que por sua
vez é visto como substrato psíquico comum de toda humanidade, herdado
psiquicamente da história humana e composto por arquétipos. Somado a isso,
tem-se o inconsciente pessoal, que é formado pela experiência pessoal do
indivíduo, conteúdos que uma vez foram conscientes e por um motivo foram
esquecidos, recalcados ou reprimidos, não sendo apenas depositários de
conteúdos imorais e não suportados.
Desse modo, tais compreensões amplificadas da dinâmica psíquica, Jung
em suas viagens para África conheceu a tribo Elgonyis, que acreditava num
criador que fizera tudo bom de dia e a noite tudo era mal, percebendo que as
diversas culturas ao redor do mundo, em suas mitologias, traziam tal dualidade
e confrontos bem-mal, luz-sombra, concluindo, portanto, que a mitologia é uma
representação e padrão arquetípico do ser, tendo como herói (Ego) que enfrenta
o mal (Sombra).
Ademais, a sombra para os arcaicos era parte viva deles, o que reflete na
ótica psicológica o pertencimento da sombra na composição da totalidade ativa
da personalidade humana, contendo o que se julga como inaceitável e
desagradável. Além de que é formada junto com o Ego, onde o indivíduo em seu
desenvolvimento apresenta predisposições e atitudes que serão ou não aceitas
por seu meio, sendo o não aceito conteúdo da Sombra e o aceito composição
do Ego e Persona, que é a imagem que se usa nos relacionamentos ao longo da
vida. Assim, a Sombra e Persona possuem contrapontos e completudes em suas
funções, enquanto a persona possui um papel ativo nos âmbitos relacionais e
adaptativos, buscando expor ao mundo aquilo que a consciente aprova e
pretende, a Sombra traz consigo elementos contrários à Persona, sendo o que
social e moralmente não são aceitos e escondidos.
Tendo, portanto, como um exemplo prático e visual o filme Cisne Negro
(2010) de Darren Aronofdky, haja vista que a protagonista apresentará o papel
principal do ballet dramático de Tchaikovki: O Lago dos Cisnes, onde precisa
viver o papel do Cisne Branco de personalidade inocente, gentil e o do Cisne
Negro malicioso e perverso.
Percebe-se, então, que Nina, a protagonista, está se identificando com
sua persona ao dançar o Cisne Branco (o Ego), pois o faz de maneira
espontânea. Já o Cisne Negro, associado à Sombra, se mostra mais invasivo,
sendo o desencadeador de uma rivalidade entre a protagonista e outra bailarina,
Lily. Não conseguindo associar sua personalidade à Sombra, Nina projeta seu
conteúdo perverso em Lily. Ao longo do filme, quanto mais Nina adentra em seu
personagem, mais o seu Ego vai perdendo a autonomia e dando lugar à Sombra
que, pouco a pouco, cria uma simbiose com o Eu, transformando-se em
psicopatologia.
Sombra, quando não assimilada, pode vir à superfície através de atos
impulsivos, como atitudes maldosas e pensamentos errôneos e apatia, que
considerávamos impossíveis pela percepção do nosso Ego. Perceber a Sombra
e a possível perversidade no Eu é importante, pois caso isso não ocorra, essa
parte continuará imersa no nosso inconsciente e poderá vir à superfície, podendo
causar mal-estar devido ao seu conteúdo obscuro.
Não apenas há a Sombra individual, mas também existe a Sombra
coletiva, que em algum momento pode se demonstrar diferente da individual.
O Indivíduo pode ter convicções sobre o nosso certo e errado, mas
quando em grupo, essa percepção pode cair e pode fazer coisas consideradas
hediondas, como os alemães nazistas. Muitos, quando sozinhos, achavam a
ideia errada, mas em grupo cometiam atos absurdos e sem a mínima empatia,
dominados pela Sombra coletiva.
O conceito de Sombra não abrange somente as partes negativas do Eu,
pois ela engloba também instintos positivos, potencialidades e atitudes de
criação. Muitos criminosos, por mais perigosos que sejam, podem possuir
empatia e características positivas em relação à moral.
Nise da Silveira observou nas pinturas de seus pacientes que a Sombra
era amplamente evidenciada por animais selvagens, demônios com presas
afiadas e monstros, indicando que a Sombra possui uma esfera instintiva
representada pelas pulsões inconscientes em imagens arquetípicas. Na
mitologia, a Sombra é expressa pelo mal expresso em escrituras e imagens que
poderiam ser o inferno metafórico. A Sombra coletiva também está presente na
esfera política, onde os adversários são considerados como o mal e a destruição
da nação, enquanto o seu lado é a personificação do Ego à luz.
Para a psicologia analítica, a Sombra não é apenas a personificação do
mal. A concepção e polarização do Ego e da Sombra não é benéfica, pois cria
uma dificuldade no processo de individuação, que é a evolução e transformação
positiva do Eu. Manter esse aspecto de antagonismo entre o bem e o mal (Ego
e Sombra) resulta em uma estagnação no amadurecimento psíquico, ou seja, no
processo de individuação.
Encarar a imagem arquetípica da Sombra é uma tarefa complexa e difícil,
pois estamos frente a frente com imagens horríveis que não se manifestam de
forma física, abalando a parte psíquica, o que pode levar à humilhação,
desespero e depressão.

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