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Silvana Parisi
Resumen: El artículo presenta algunas reflexiones sobre los conceptos de anima y animus,
en particular, el animus, a la luz de los cambios socio-culturales en el mundo contemporáneo
que han alterado las relaciones familiares y los roles de hombres y mujeres. Esta reflexión se
basa en textos seleccionados de C. G. Jung y algunos teóricos junguianos que llevaron a cabo
una revisión sobre el tema, tratando de diferenciar y entender el animus más allá del género
y los prejuicios culturales. También se presenta la funcionalidad del concepto en la práctica
analítica y en la comprensión de la dinámica de las relaciones de amor entre hombres y
mujeres.
Abstract: The article presents some reflections on the concepts of anima and animus, in
particular on the animus in the light of socio-cultural changes that have altered contemporary
family relationships and the roles of men and women. This reflection is based on selected
texts of C. G. Jung and some Jungian theorists who conducted reviews on the subject, seeking
to differentiate and understand the animus beyond gender and cultural biases. It also presents
the concept of functionality in analytic practice and understanding of the dynamics of love
relationships between men and women.
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Capitulo do livro: Feminino, masculino e relacionamento amoroso: uma leitura junguiana. Org:
Durval L. Faria. 2017. E Book
minhas batalhas, derrotas e vitórias, na assertividade e em minha agressividade. “Ele” esteve
nos bastidores de escolhas, decisões, reflexões e vicissitudes de meu caminho, das alturas aos
abismos.
Na clínica, observo a presença e atuação do animus nas inúmeras mulheres com quem
trabalho individualmente ou em grupos. Vejo sua força, poder destrutivo e numinosidade.
Pergunto-me sempre como ajuda-las a se relacionar, transformar ou pelo menos atenuar seus
efeitos negativos, liberá-las do seu jugo e integrar seus conteúdos. A partir da prática, cada
vez mais a constatação de que a questão anima/animus se constitui no “opus major” da
individuação.
A persona, imagem ideal do homem tal como ele quer ser, é compensada
interiormente pela fraqueza feminina; e assim como o indivíduo exteriormente faz o
papel de homem forte, por dentro torna-se mulher, torna-se anima, e é esta que se
opõe à persona (...). Portanto, o contrário da persona – a anima – também permanece
totalmente no escuro e se projeta. (JUNG, O.C.VII/2: §309)
Entretanto, como aponta Stein (2004) o encontro com anima/us representa uma
conexão mais profunda do que a da sombra; é mais do que o inverso da persona. Além disso,
se pensarmos a persona como um importante instrumento de adaptação da psique ao mundo
externo e social, vemos que a noção de anima/us como sendo o contrário da persona, acabaria
sendo datada. A persona socialmente valorizada depende do ambiente, cultura e época a que
pertencemos. A esse respeito Hillman (1990) assinala que a tarefa hoje é descobrir quais
descrições de anima são apropriadas nesse momento, já que é governada por outros mitos.
Samuels (1989) concorda com a ideia de anima e animus existirem igualmente para
homens e mulheres. Acrescenta que “vivemos cada vez mais no mundo da anima, num
mundo animado” (SAMUELS, 1989: 270) considerando todas as mudanças culturais
contemporâneas.
Para Demaris Wher (1994) temos que considerar as origens sociais do animus
negativo; ela prefere nomear esse aspecto do animus de “opressão internalizada”.
Convém mencionar que, ainda em Aion, Jung (O.C. IX/2: §27) faz a ressalva: “se
trata de um trabalho pioneiro que deve contentar-se com seu caráter provisório”. De certa
forma, essa frase o “resguarda” parcialmente de algumas críticas de feministas e teóricos
junguianos, mas também oferece um convite ao aprofundamento.
Ainda no âmbito teórico, vamos ver como Jung apresenta especificamente o animus:
Em O eu o Inconsciente:
Sua visão, sem dúvida, é a partir de fora, de um homem falando sobre a experiência
da mulher e principalmente (como no parágrafo a seguir), de um homem que parece ficar
incomodado com a manifestação desse aspecto. Samuels (1989) considera que Jung via a
anima como uma figura mais agradável do que o animus: muitas vezes, em seus escritos a
anima parece suavizar o homem, tornando-o mais amoroso, enquanto o animus seria
responsável pelas declarações agressivas e obstinadas das mulheres. Nesse sentido, a
descrição de animus feita por Emma Jung (1995) é muito mais solidária e fiel à experiência
das mulheres, pois apresenta o animus visto a partir de dentro.
Em Aion:
Como vemos, Jung relaciona eros à psicologia das mulheres e logos aos homens. Uma
crítica frequente feita a Jung é que não se pode mais restringir a feminilidade à função de
eros:
À luz da tomada cada vez mais intensa de consciência das mulheres a respeito de si
mesmas, começaram a acumular-se evidencias crescentes de que o conceito Eros-
Logos não é adequado para abarcar toda a ampla gama de dinamismos masculinos e
femininos (WHITMONT, 1991:149).
Mesmo que seja necessária uma revisão conceitual à luz das transformações na
atualidade, é na prática (tanto a prática psicoterapeutica, quanto a observação da vida e das
relações humanas) que as ideias de Jung se revelam mais uteis; é indiscutível sua
funcionalidade. Penso que os questionamentos teóricos só serão fecundos se servirem
efetivamente para auxiliar homens e mulheres a lidarem com anima e animus em seu
processo de individuação, principalmente se pudermos absorver as novas ideias mais atuais
sobre gênero, sem os estereótipos e a visão tendenciosa que Jung apresentou em vários
trechos, principalmente em relação à mulher e ao animus.
Voltemos a Jung. Ele explica que a relação entre anima/us é sempre “animosa”, ou
seja, emocional (e, portanto, coletiva). É nesse ponto que se observa sua grande contribuição
para a compreensão das relações amorosas entre homens/ mulheres, especialmente. Nada
mais verdadeiro do que essa bela imagem:
Todas as vezes que o animus e a anima se encontram, o animus lança mão da espada
de seu poder e a anima asperge o veneno de suas ilusões e seduções (JUNG, O.C.
IX/2: §30).
Mas é quando Jung dá indicações de como se deve lidar com anima/animus, cuja
função é para dentro, atuando como pontes para o inconsciente e não nas relações exteriores,
que vemos sua aplicação prática e terapêutica. A respeito das “opiniões” do animus diz Jung:
Na análise de mulheres observo como este se torna o grande desafio: saber discriminar
se a voz que fala internamente é dela mesma ou de um animus, com frequência acusador e
crítico. Emma Jung (1995) e também Irene Castillejo (1973) detalharam com precisão e
sensibilidade a atuação do animus negativo na psique feminina. Apontam que o animus
costuma aparecer para a mulher como uma voz crítica ou autoritária, cheia de “deverias” e
regras, bem como opiniões baseadas no consenso geral, mas não no que a mulher realmente
é ou acredita. É inconfundível perceber a voz do animus negativo sempre que ouço alguma
paciente se desvalorizar, com baixa autoconfiança ou se exigindo em excesso, a ponto de
exaurir suas forças.
Com algumas pacientes às vezes proponho escreverem uma lista com as frases que
costumam ouvir dessa voz interna que as oprime. Peço para começarem com: “Você
deveria...” e em seguida completarem a frase. É impressionante como algumas mulheres
conseguem rapidamente encher uma página com essas falas internas. Já outras apresentam
uma dificuldade muito grande em realizar a tarefa; parece impossível separar essas vozes,
pois estão tão dominadas pelo animus (ou misturadas com ele) que acreditam em tudo que
ele lhes fala, como se fosse verdade absoluta e mesmo que essas falas as coloquem abaixo
do nível do chão. Esse exercício costuma me fornecer uma noção do tamanho da tarefa em
relação à questão do animus e como está a consciência de si mesma e seu processo de
individuação.
Pode-se conversar com eles, recorrer aos seus conselhos ou à sua ajuda, tendo-se
entretanto frequentemente de se defender de suas intervenções inoportunas e de se
zangar com sua rebeldia. E deve-se estar sempre muito vigilante para que essas
formas de aparição do animus não tentem tomar o poder e dominar a personalidade.
(JUNG, 1995:51)
Nesse sentido Jung (O.C IX/2) ressalta a autonomia de anima/animus, pois embora
seus conteúdos possam ser integrados à consciência, em si, como arquétipos, não podem ser
integrados. E devem ser vigiados, aconselha Jung, para não os perdermos de vista. Um
conselho precioso e que procuro seguir. Por exemplo: ler e escrever sobre ele e repensar
antigos trabalhos é uma forma de manter meu animus ocupado e não ocioso, pois, esclarece
Castillejo (1973), ele é o portador da tocha para a mulher, traz luz, foco e ilumina seu
caminho. Mas se a mulher não lhe diz onde colocar a luz, ele a dirige para algum lugar de
qualquer maneira (que pode não ser o lugar adequado para ela!). Pois essa é a função do
animus.
Referências bibliográficas
HILLMAN, J. (1990) Anima: anatomia de uma noção personificada. São Paulo: Cultrix.
JUNG, C. G. Obras completas de C.G.Jung, editados por Leon Bonaventure, Leonardo Boff,
Mariana Ribeiro Ferreira da Silva e Jette Bonaventure. O.C. IX/2. Petrópolis:Vozes.
JUNG, C. G. Obras completas de C.G.Jung, editados por Leon Bonaventure, Leonardo Boff,
Mariana Ribeiro Ferreira da Silva e Jette Bonaventure . O.C VII/2. Petrópolis: Vozes.
STEIN, M. (2004) Jung O Mapa da alma: uma introdução. São Paulo: Cultrix.
WHER, D. (1994) Animus – O homem interior. In: DOWNING, C. (Org.) Espelhos do Self.
São Paulo: Cultrix, p.46-59.