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INCONSCIENTE COLETIVO E O ARQUÉTIPO DA

PERSONA:
RESUMO: Carl Gustav Jung foi discípulo de Sigmund
Freud e um dos mais proeminentes teóricos da chamada
abordagem neo-psicanalítica. Designou conceitos
importantes e muito difundidos na ciência da Psicologia
contemporânea, como por exemplo, o inconsciente coletivo
e os arquétipos. Portanto, o presente estudo far-se-á de
forma introdutória, buscando identificar e analisar tais
conceitos,articulando uma analogia, primordialmente, ao
arquétipo da persona. Para tanto, o estudo prevalecerá de
uma revisão bibliográfica de obras acadêmicas
conceituadas nos derradeiros cinco anos, bem como em
obras do próprio autor.
INTRODUÇÃO
Carl Jung formou-se médico e se especializou em
psiquiatria. Ao conhecer o trabalho de Sigmund Freud,
através da conhecida obra “A Interpretação dos sonhos”,
logo se comprometeu com o sistema da psicanálise,
começando assim o relacionamento conturbado de ambos.
Apesar de ter sido designado por Freud como herdeiro da
psicanálise, Jung era um discípulo crítico, começando
assim a criar seus próprios conceitos, a aprimorar os já
existentes, divergindo da psicanálise ortodoxa e elaborando
uma nova teoria da personalidade humana, a qual chamou
de Psicologia Analítica.
(SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, pg. 85-87)
Dentre os principais pontos de divergência, pode-se citar a
com relação ao conceito de inconsciente. Ao contrário dos
outros neopsicanalistas, Jung enfatizou o inconsciente
ainda mais que o próprio Freud, investigando-o mais
profundamente e acrescentando-o uma nova dimensão,
mais profunda, onde conteria as experiências herdadas da
espécie humana e além. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011,
pg. 85)
Trata-se do notório conceito do inconsciente coletivo,
repositório de experiências humanas e pré-humanas
universais herdadas, conhecidas também como arquétipos,
o que se buscará analisar e identificar de forma mais
detalhada a seguir.
1 O INCONSCIENTE COLETIVO
A parte mais profunda e inacessível da psique, o
inconsciente coletivo é um dos conceitos junguianos mais
controversos. Assim Jung o define, “um depósito dos
processos mundiais encravados na estrutura do cérebro e
no sistema nervoso simpático [que] constitui, na sua
totalidade, um tipo de imagem mundial atemporal e eterna
que contrabalanceia a nossa imagem consciente
momentânea do mundo”.
(apud RYCKMAN, 2008, p. 81, tradução nossa)
Destarte, tem-se que o inconsciente coletivo é um
repositório de experiências universais, que se repetem a
cada geração e, consequentemente, são herdadas pelas
gerações subsequentes, mas não diretamente, mas sim
são herdadas as potencialidades ou predisposições, as
quais influenciam o comportamento atual.
(SCHULTZ & SCHULTZ, 2011, p. 93)
Para justificar metodologicamente seu conceito, Jung se
apoiou em evidências coletadas em seus estudos sobre
mitologia e história humana. Assim,quando se analisa a
existência de elementos e temas comuns em civilizações
ao
longo do tempo e espaço, percebe-se a aparência
repetitiva dos mesmos, sem que
as mesmas tivessem contato. (SCHULTZ & SCHULTZ,
2011, p. 94)
Jung (2000, p.51), ao buscar delibera-lo, diferencia-o do
inconsciente pessoal da seguinte forma:
Enquanto o inconsciente pessoal é constituído
essencialmente de conteúdos que já foram conscientes e,
no entanto desapareceram da consciência por terem sido
esquecidos ou reprimidos, os conteúdos do inconsciente
coletivo nunca estiveram na consciência e portanto não
foram adquiridos individualmente, mas devem sua
existência apenas à hereditariedade. Enquanto o
inconsciente pessoal consiste em sua maior parte de
complexos, o conteúdo do inconsciente coletivo é
constituído essencialmente de arquétipos.
Aparece, assim, o conceito de arquétipo, intrinsicamente
ligado ao do inconsciente coletivo, temas ou modelos
recorrentes que se manifestam no mesmo,os quais serão
fruto de melhor exame a seguir.
2 ARQUÉTIPOS
Segundo o próprio Jung (2000, p. 54), “o conceito de
arquétipo, que constitui um correlato indispensável da ideia
do inconsciente coletivo, indica a existência de
determinadas formas na psique, que estão presentes em
todo tempo e em todo lugar”.
Percebe-se assim, claramente, a inter-relação entre esses
dois conceitos basilares em sua teoria. Mas o que viria a
ser tal conceito? Assim elucida Ryckman
(2008, p. 82, tradução nossa), “arquétipos são temas que
existiram em todas as culturas através da história [...] a
natureza de tais memórias são universais por causa de
nossa evolução e estrutura cerebral comum”.
Desta maneira, esses temas ou imagens primordiais, como
Jung também os chama, são experiências universais,
existindo tantos quantos são as experiências humanas
comuns a todos, gravados em nossa psique e expressos
através de nossos sonhos. (SCHULTZ & SCHULTZ, 2011,
p. 94)
Em toda sua obra e, principalmente, em seu livro Die
Archetypen und das kollektive Unbewusste, Jung propôs os
mais diversos arquétipos, como por exemplo,a mãe, Deus,
morte, nascimento (experiências básicas que ocorrem em
todas as gerações), e outros distintos, entre eles, o self, a
sombra e a persona, a qual se dará destaque em frente.
3 PERSONA
4
Segundo Jacobi (apud RYCKMAN, 2008, p. 83, tradução
nossa), o arquétipo da persona é “o compromisso [...] entre
as demandas do ambiente e as necessidades da
constituição interior do indivíduo”, ou seja, são máscaras
que os indivíduos utilizam para melhor relacionar-se com
as pessoas das quais convivem”.
Corrobora esse entendimento Schultz & Schultz (2011, p.
94), “o arquétipo da persona é uma máscara, a face pública
que usamos para nos darmos bem com uma série de
pessoas [...] Jung achava que a persona é necessária
porque somos forçados a representar vários papéis na
vida”.
Ao conceitua-lo, Jung (2000, p. 30) utiliza-se de sua
conhecida linguagemculta, Verdadeiramente, aquele que
olha o espelho da água vê em primeiro lugar sua própria
imagem. Quem caminha em direção a si mesmo corre o
risco do encontro consigo mesmo. O espelho não lisonjeia,
mostrando fielmente o que quer que nele se olhe; ou seja,
aquela face que nunca mostramos ao mundo, porque a
encobrimos com a persona, a máscara do ator. Mas o
espelho está por detrás da máscara e mostra a face
verdadeira.
Destarte, concebe-se que o arquétipo da persona é uma
dimensão exterior do indivíduo, aspecto relacional da
personalidade, uma máscara adotada para relacionar-se no
dia-a-dia com as diversas pessoas que compõe a
sociedade.
(DALGALARRONDO, 2008, p. 261)
Todavia, Jung nos adverte dos aspectos negativos da
persona, no tocante ao indivíduo acreditar que ela reflete
sua verdadeira natureza ou identidade, tornandose aquele
papel, assim, este não desenvolveria sua personalidade
por inteiro. Esse processo ocorreria quando o ego se
identificasse com a persona. (SCHULTZ & SCHULTZ,
2011, P. 94)
Portanto, o pressuposto teórico de Jung (2000, p. 128)
descreve o referido processo como:
O mundo exige um certo tipo de comportamento e os
profissionais se esforçam por corresponder a tal
expectativa. O único perigo é identificar-se com a persona,
como por exemplo, o professor com o seu manual, o tenor
com sua voz; dai a desgraça. É que, então, se vive apenas
em sua própria biografia, não se é mais capaz de executar
uma atividade simples de modo natural.Nessa explanação,
Jung pretende demonstrar que o arquétipo da persona
pode ser prejudicial, no sentido de que quando essa
“máscara” (quer ela seja profissional, social, etc.) se
confunde com o próprio aspecto consciente da
personalidade da pessoa, esta não mais representa um
papel, mas sim se torna aquele papel.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Depreende-se do estudo em tela que C. G. Jung foi um dos
teóricos mais brilhantes da teoria da personalidade, porém,
possui uma linguagem técnica que dificulta o acesso da
população leiga. Faz-se necessário ao profissional da
Psicologia adquirir tal conhecimento, identificando-o de
forma acertada e analisando o, para assim aplicar em sua
vida profissional de forma satisfatória.

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