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PETRA VANESSA ENKE FRANCO

A SOMBRA

Monografia orientada pelo Prof. Nélio Pereira


apresentada para obtenção do título de
especialista em Psicologia Clínica da
Universidade Tuiuti do Paraná.

CURITIBA
2006

1
Agradeço minha família cujo auxílio e
sacrifício foram imprescindíveis para esta
etapa e, de forma especial aos docentes que
foram espetaculares no tratamento e na
forma de ensinar e incentivar à busca do
conhecimento científico. .

2
ÍNDICE

INTRODUÇÃO................................................................................................4

1. DEFINIÇÃO DE SOMBRA..........................................................................6

2. FORMAÇAO DA SOMBRA ........................................................................8

3. COMO RECONHECER E TRABALHAR A SOMBRA? ............................10

4. CASO CLÍNICO ........................................................................................13

4.1 QUEIXA .................................................................................................13

4.2 HISTÓRICO ...........................................................................................13

4.3 PROCESSO TERAPÊUTICO ................................................................13

5. ANÁLISE DE CASO .................................................................................17

CONCLUSÃO .................................................. Erro! Indicador não definido.

GLOSSÁRIO DE TERMOS JUNGUIANOS..................................................20

BIBLIOGRAFIA.............................................................................................25

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INTRODUÇÃO

Este trabalho pretende desenvolver dentro da abordagem junguiana o


conceito de Sombra.

Quando ela surge dentro do processo analítico?

Como material de pesquisa utilizou-se um dos casos clínicos atendidos na


clinica escola da Universidade Tuiuti do Paraná - Pós-graduação.

O objetivo de trazer este tema aparentemente tão obscuro pretende


justamente mostrar o lado positivo e necessário de se encontrar com a própria
sombra no desenvolvimento pessoal, na individuação e nas situações de conflito que
usualmente se manifestam os conteúdos sombrios.

Estudar o relacionamento dos indivíduos com o seu meio interno, fazer com
que conheça melhor a si mesmo, as suas próprias qualidades, e como conseguir
encontrar um equilíbrio entre o que se é e o que a sociedade exige dele para poder
encontrar uma harmonia entre estes dois pólos, é o que se espera elucidar.

A maioria das pessoas não sabe o quanto são egocêntricos e egoístas


quando na realidade são e querem aparentar serem altruístas e terem o total
domínio de seus apetites e prazeres. Elas vêem-se como decentes de acordo com
as regras de seus círculos sociais, e só revelam elementos sombrios por acidente,
em sonhos ou quando impelidas ao extremo, funcionando assim através do
inconsciente.

A sombra não é diretamente experimentada pelo ego, sendo projetada em


outros.

Dentro do processo analítico existe a possibilidade de trazer estes


conteúdos a luz da consciência, entretanto o que o ego quer na sombra não é
necessariamente mau em si e de si como se imagina.

Durante os atendimentos percebeu-se que este processo de olhar a própria


sombra é desenvolver um relacionamento progressivo com ela e expandir o senso

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do eu alcançando o equilíbrio entre a unilateralidade do consciente e as profundezas
do inconsciente. Leva-se ao reencontro das potencialidades enterradas.

A individuação tem o objetivo de unir a luz e as trevas criando um


relacionamento construtivo entre o ego e o self.

No encontro terapêutico através do diálogo e interpretações de sonhos


temos a chance de aceitar quem realmente somos.

Segundo Glauco Ulson (1988-Ed. Ática, SP), a confrontação com a sombra


constitui uma das fases mais importantes do processo analítico e se não dermos a
devida importância, todo o processo será comprometido.

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1. DEFINIÇÃO DE SOMBRA

Sombra é um termo da psicologia analítica com o significado específico de


ser o outro lado da personalidade.

Jung diz que “todo individuo é acompanhando por uma sombra e quanto
menos ela estiver incorporada a sua vida consciente, tanto mais escura e espessa
ela se tornará” (2002 – Ed. Vozes).

Trata-se da sombra pessoal como o outro em nós, a personalidade


inconsciente do nosso mesmo sexo, o inferior repreensível, o outro que nos
embaraça ou envergonha, o lado negativo da personalidade partindo do ponto de
vista da consciência.

Como personificação do negado e reprimido, a sombra busca sempre ser


reconhecida para assim ser assimilada pelo ego através de uma constante irrupção
a consciência. É o conhecido retorno do reprimido.

Quando muito dissociada, torna-se autônoma, solapando a hegemonia do


ego. E assim é vista como inimigo interno, o nosso lado sombrio, expressando
nossos instintos sádicos e criminosos.

De acordo com a lei da compensação psíquica, quanto mais queremos subir,


para nos tornar pessoas perfeitas, tanto mais a sombra ganha força e tenta
derrubar–nos desse pedestal.

O ego está para sombra como a luz esta para as trevas. E é isso que nos
torna humanos, ou seja, imperfeitos. Todos nos possuímos uma sombra ou somos
possuídos por ela.

Jung viu a sombra como uma personalidade inferior que tem seus próprios
conteúdos, imagens e julgamentos de valor, que são semelhantes aos da
personalidade superior.

Hoje se entende por uma parte da psique inconsciente que esta mais
próxima da consciência, mesmo que não seja completamente aceita por ela.

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Por ser contrária a nossa atitude consciente daquilo que gostaríamos de ser,
não permitimos a sua expressão, assim ficando inconsciente, oculta.

A sombra não é o todo da personalidade inconsciente, representa


qualidades e atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego, aspectos que
pertencem, sobretudo a esfera pessoal e que poderiam também ser conscientes.

Sob certos aspectos a sombra pode, igualmente, constituir de fatores


coletivos que brotam de uma fonte situada fora da vida pessoal do individuo.
Quando uma pessoa tenta ver a sua sombra ela fica consciente das tendências e
impulsos que nega existirem em si mesma, mas que consegue perfeitamente ver
nos outros.

Muitas vezes ela se apresenta como um ato impulsivo ou inadequado, uma


situação que não tencionava criar conscientemente.

A sombra é mais perigosa quando não reconhecida, o individuo tende


projetar suas qualidades indesejáveis em outras pessoas ou a deixar-se dominar
pela sombra sem o perceber.

Quanto mais o material da sombra tornar-se consciente, menos ele pode


dominar. Porem, a sombra sendo um componente da psique [arquetípica] nunca
pode ser simplesmente eliminada. Ninguém é totalmente sem sombra.

Segundo Marie-Louise Von Franz (1991-Cultrix, SP), a palavra sombra é


apenas um nome que damos ao fato de que a maioria das pessoas não tem
consciência de todos os aspectos da sua personalidade, gostaríamos de nos
imaginar como pessoas inteligentes, generosas, de bom caráter, com certas
habilidades e assim por diante. Mas nossa personalidade completa inclui também
qualidades inferiores, das quais não somos conscientes.

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2. FORMAÇAO DA SOMBRA

O nosso lar é o ponto de partida, o processo necessário para a formação do


ego no seu desenvolvimento. Começa é claro na família, aonde já existe uma
herança psicológica que nos é transmitido através de valores, hábitos, dentro de
padrões de socializações.

O desenvolvimento do ego depende da repressão daquilo que é ‘errado’ ou


‘mau’ em nós, bem como na identificação com aquilo que é visto como ‘bom’.

Isto é o referencial positivo ao crescimento da nossa personalidade, até


sairmos para o mundo. Daí aquilo que foi reprimido não desaparece, continua a viver
dentro de nós inconscientemente.

Junto com a formação da sombra se forma em oposição a persona, o ideal,


aquilo que gostaríamos de ser. E assim lutamos pelo ideal de perfeição reprimindo
cada vez mais nosso lado não aceito.

Reprimimos aquilo que não se encaixa na visão que fazemos de nós


mesmos e, desse modo vamos criando a sombra.

A persona satisfaz as exigências do relacionamento com o nosso ambiente e


cultura, conciliando o ideal do nosso ego com as expectativas e os valores do
mundo onde crescemos.

É a resposta natural ao ambiente e é influenciada através da comunicação


dentre a nossa família, com nossos amigos, professores e conselheiros, através das
suas aprovações e desaprovações.

Enquanto que a sombra vai estocando o material reprimido.

Podemos perceber que ser pai, mãe, guardador em geral requer muita
consciência, paciência e sabedoria fora do comum, em se tratando com criatividade
o problema da sombra.

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Não se pode ir muito além em direção a permissividade, nem em direção a
resistência extremada. A solução ou a melhor opção talvez seria a própria
consciência dos pais a respeito do problema da própria sombra.

Mas sendo inevitável possuirmos a personalidade da sombra sendo ela


arquetípica, ou seja, típica de todos os seres humanos, o primordial seria o
conhecimento, a aceitação, o bom relacionamento com ela. Pois parece que
enquanto tentamos iluminar, buscar a verdade e fazer o bem, um lado oposto cresce
com a mesma intensidade.

É um fenômeno tão independente da intenção de nossa consciência, tão


difícil de ser olhado e aceito por ela.

É certo que a figura da sombra sempre há de existir na nossa personalidade.

Para chegar a desenvolver uma personalidade consciente, precisamos nos


identificar com alguma coisa, e isso implica a inevitável exclusão do seu oposto. E é
evidente que, esse processo de desenvolvimento infantil seja positivo que uma
criança possa se identificar com atributos psicológicos apropriados e não com a
sombra.

A individuação e a totalidade só são possíveis quando a personalidade


consciente tem certa atitude moral. Mas como moral pode ser um conceito relativo,
nem sempre o que fica na sombra é negativo, pode ser algo que permaneceu na
função inferior, que não foi desenvolvido por circunstancias familiares, culturais ou
outra. Por isso o material reprimido da sombra pode ser muito criativo, e o individuo
pode descobrir – se positivamente.

E assim sendo, nos resta a possibilidade no nosso processo de


individuação, de conseguir encontrar o caminho do equilíbrio entre o que é
consciente e inconsciente em nós.

Encontrar o humano através do relacionamento entre os opostos.

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3. COMO RECONHECER E TRABALHAR A SOMBRA?

A sombra está o tempo todo se revelando, o que determina o seu


reconhecimento em maior ou menor grau e o nível de relação entre consciente e
inconsciente, o quanto estamos conscientes ou mais perceptíveis com o nosso
inconsciente.

A individuação, o processo de uma pessoa tornar-se toda e única, tem como


objetivo englobar luz e trevas, e através de um processo terapêutico de
interpretações de sonhos em analise existem grandes possibilidades de se trabalhar
os conteúdos sombrios. Pois a sombra não constitui o todo da personalidade
inconsciente, ela representa atributos desconhecidos ou pouco conhecidos do ego,
aspectos que, na sua maioria, pertencem as esferas pessoais e que poderiam, do
mesmo modo ser conscientes. A sombra também e constituída de fatores coletivos
de uma fonte exterior a vida pessoal do individuo.

Normalmente quando tentamos olhar para nossa própria sombra, ela se


torna consciente e às vezes nos sentimos envergonhados de certas qualidades que
eram tão evidentes nos outros.

Quando alguém nos repreende por um erro podemos sentir muita raiva
dentro de nós, ai está provavelmente uma parte da sombra inconsciente, e natural
que fiquemos aborrecidos com tais pessoas, mas o que fazer quando tal conteúdo
vem através dos próprios sonhos?

Depois da dor pode se começar o extenso trabalho da auto educação.

A sombra não e feita apenas de omissões, ela se mostra em atos impulsivos


ou impensados. Quando nos damos conta o estrago já esta feito.

Segundo William Miller “existem cinco caminhos a fim de identificarmos a


nossa sombra - pedir que os outros nos digam como nos vêem, descobrir os
conteúdos de nossas projeções, examinar nossos” lapso “verbais e de
comportamento e investigar o que realmente acontece quando somos vistos de

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modo diferente do que pretendíamos, analisar nosso senso de humor e nossas
identificações, estudar nossos sonhos, devaneios e fantasias” (1991 – Cultrix, SP).

Nota-se que entrar perceber a própria sombra e um processo muito pessoal,


constituindo para cada pessoa uma experiência diferente.

Cada um deve seguir o seu próprio método.

Mesmo porque cada um de nós tem uma herança psicológica como a


biológica.

Essa herança inclui uma parte da sombra que nos é transmitido e que
absorvemos no psíquico do ambiente familiar.

Normalmente problemas que os pais não conseguiram resolver em suas


próprias vidas vêm alojar-se nos filhos.

Existe uma relação direta entre a formação do ego e da sombra, o ‘eu


reprimido’ é um subproduto natural do processo de construção do ego que acaba se
tornando o espelho do ego.

Reprimimos aquilo que não se encaixa na visão que fazemos de nós


mesmos e desse modo, vamos criando a sombra.

Nossas qualidades reprimidas e inaceitáveis acumulam-se na psique


inconsciente e se forma como uma personalidade inferior - a sombra pessoal.

A cura da sombra diz Hilman “é uma questão de amor” - amar a si mesmo


não e fácil, pois significa amar todas as partes de si mesmo, incluindo a sombra.
(1984 – Ed. Paulinas, SP).

Por outro lado, mesmo que entremos em contato com a sombra de modo
correto, ela pode ser um choque para nossa personalidade consciente. Percebemos
tantos sentimentos reprimidos tais como agressividade e tantos outros que nos
impediram de agir resolutamente.

Hilman disse que a raiva pode saudável, por exemplo, numa situação
intolerável. Sem nossa sombra, então, podemos bloquear a capacidade de

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reagirmos de forma saudável em certas situações na vida, sejam intoleráveis para o
nosso espírito. (1984 – Ed. Paulinas, SP).

Muitas vezes acreditamos na sombra, como sendo a personificação de


nossa tendência de agir agressivamente, impulsivamente, ou por qualquer algo
ativo. Mas a sombra também pode ser uma figura passiva enquanto personificação
de uma fraqueza que nós quase não percebemos. Pode ser encarada como uma
vida não vivida.

A maior dificuldade de se lidar com a sombra é a culpa que ela engendra, é


muito desconfortável suportarmos a culpa por isso preferimos a evitá-la. E muitas
pessoas não amadurecem desse estágio infantil, não querem assumir a
responsabilidade pela pessoa imperfeita que somos.

Muitas pessoas carregam um sentimento de culpa, mas na realidade uma


falsa culpa não se responsabiliza de fato por aquilo que em suas vidas seria de sua
responsabilidade e isso as paralisa.

Mas quando de fato assumimos o fardo da responsabilidade por nós


mesmos, então não somos paralisados, mas podemos efetivamente crescer e se
aprofundar.

O que é importante, é que reconheçamos o lado sombrio de nós mesmos.


Só esse reconhecimento produz uma mudança poderosa e benéfica na consciência,
o que ajuda muito nossa humildade, senso de humor e capacidade para sermos
menos críticos com relação às outras pessoas.

É essencial o desenvolvimento de uma personalidade consciente e,


portanto, de individuação. Pode-se considerá-la como base para uma verdadeira
moralidade individual.

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4. CASO CLÍNICO

4.1 QUEIXA

Veio para a terapia dizendo-se muito estressado para trabalhar em grupo.

4.2 HISTÓRICO

C., um rapaz de 25 anos, filho caçula de dois irmãos. A mãe era dona de
casa, o pai aposentado e o irmão mais velho era deficiente mental (paralisia
cerebral).

Nessa fase estava noivo de uma estudante de Direito, filha única.

Cursava o 4o. Ano de Psicologia e segundo seu relato, antes de cursar


Psicologia, fez Ciências Contábeis.

Gostaria de ter feito medicina para ajudar o irmão, mas optou por psicologia,
pelo mesmo motivo.

4.3 PROCESSO TERAPÊUTICO

No inicio do processo terapêutico relata que muitas vezes quando criança


sentia raiva e vergonha do irmão, mas depois sentia raiva dos outros perante este.

Em outros momentos fala como foi boa sua infância, de suas paixões, de
como brincava na rua com seus colegas. Sentia tudo muito saudável.

Na primeira sessão contou um sonho que sempre se repetia – “estava


caindo de uma janela muito alta e sempre acordava antes de chegar ao chão e que
a sensação era muito boa”.

No começo da terapia se sentia muito seguro de si em relação à noiva, aos


colegas, mas irritava-se facilmente com eles, com professores e com seus pais,
como se o mundo fosse errado e ele tivesse uma enorme responsabilidade por tudo
e por todos que o rodeassem.

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C. via sua mãe como se ela tivesse nascido só para cuidar do irmão, sem
vaidade diferente da noiva. Quanto ao pai, diz que era muito ausente pouco afetuoso
e desconfiava que ele tivesse outro filho fora do casamento.

Incomodava-se muito com os sogros, pois os achavam super protetores da


filha, não permitindo o desenvolvimento dela. Mas logo percebeu que ele próprio
desqualificava a noiva e fazia a mesma coisa que o sogro.

Apresentava-se sempre estressado, com humor oscilante, dizendo que


precisava sempre dar conta de tudo – “gostaria de instalar um chip no cérebro para
armazenar informações”.

Demonstrava dificuldades de relacionamentos com as mulheres desde


professoras, chefes e mesmo com a própria noiva.

Tinha insegurança em relação a sua profissão, estava sempre se auto


afirmando perante a noiva e seus pais – que ele dizia serem “ignorantes” quanto à
psicologia.

Estava sempre querendo prever a sua vida e com isso se frustrava.

C. possuía muitas dúvidas entre religiões e seus dogmas. Queria se definir,


não sabia se acreditava em Deus - quando criança tinha medo de imagens de
santos.

Teve vários sonhos relacionados a santos, anjos e igrejas.

Criticava seu pai em relação a questões financeiras e ao mesmo tempo tinha


medo que esse pai pudesse faltar um dia e assim sua mãe e irmão ficarem sob sua
responsabilidade.

Teve um sonho que o seu pai tinha morrido, sua mãe ligou avisando e ele
não teve qualquer reação. Na mesma sessão relata outro sonho com o ex-sogro -
“estava pelado, tinha câncer e andava pelas ruas com muleta”.

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A partir deste relato, ele contou sobre um relacionamento anterior que para
ele se mantinha significativo e comparando-o com o atual. Considerava essa pessoa
melhor que a sua noiva. Dizia ser ela mais resolvida, decidida do que a atual.

Até então, sentia-se provedor em relação à noiva, como se ela fosse


dependente dele – ora se via nesse papel como um homem forte e em outros
momentos pesava-lhe essa sensação.

Mas logo essa situação se inverteu, a relação começou a ficar mais


conflituosa – agora ele sentia-se submisso em relação a ela, sem forças para
expressar sua vontade. Conflitos no âmbito familiar e com os sogros.

Enredado nesse contexto, surgiu o desejo de casar-se e ter filhos,


tornando-se uma prioridade em sua vida.

Isso foi mais um motivo de stress por um período, voltando-se mais as


questões práticas da cerimônia e fatores financeiros.

Sentia-se muito manipulado pela noiva. Neste período seus sentimentos


começaram a oscilar em relação a ela. Houve um desgaste grande na relação, onde
pessoas externas da relação começaram a interferir no relacionamento deles por
lapsos “inconscientes” dele, aonde ele se viu muito assustado com as
conseqüências.

Mas na realidade nunca a traiu e nem gostaria – relatava que tinha muito
medo dela descobrir mesmo que ele já tivesse morrido. Aconteceu que a relação
ficou estremecida e o noivado terminou, desistindo do casamento, ficaram poucos
tempos separados e logo voltaram só como namorados.

Contudo isso começou a fazer coisas para si, como práticas esportivas, ir a
jogos de futebol, sair com seus amigos – ele relatava que por um lado era bom, mas
às vezes sentia-se vazio. Sentia falta dela.

Deu-se conta o quanto estava bravo com o distanciamento da namorada.

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Começou a correr atrás de projetos, trabalho – se afirmar profissionalmente.
O pai oferecia-lhe muitas oportunidades se ele voltasse a morar com eles, na cidade
deles, mas isso ele não queria, apesar de ser tentador.

Relata sentir-se inseguro e acomodado. Foi um esforço libertar-se desse


sentimento.

Começou um trabalho com dependência química que o motivava bastante.


Envolveu-se com vários trabalhos. Mas o seu relacionamento não continuava bom.

Começou a ter ciúmes e a ficar muito bravo com ela.

Neste período teve um sonho – “uma casa que por fora era de uma tia
materna e por dentro era um quarto da bisavó paterna, com a cadeira de balanço,
encontrou um álbum de fotos dele pequeno com os pais juntos, primos e de festas
familiares – quando ele olhando passava para próximo a que ele já tinha visto ficava
em branco. De repente estavam dentro de um ônibus, ele era pequeno e cada grupo
ia descendo em um lugar. Chegou a um salão de festas junto com os pais e o irmão,
saíram e viram 02 aviões acrobata, um caiu e havia uma galinha no fio da luz que
queimou – caiu e virou um frango assado”.

Começou a chegar atrasado as sessões, dizendo estar trabalhando,


“correndo atrás”.

Teve vários sonhos nas suas últimas sessões – “que voava, outros que era
pai de uma criança de meses, correndo de carro”.

Na última que ele veio, estava ansioso, com muitos projetos, queria voltar a
tocar guitarra, fazer nova tatuagem, “diz que estava se integrando com seu lado
místico, mas com consciência”.

Estava bem, daí não veio mais para análise.

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5. ANÁLISE DE CASO

5.1 CASO I

C. quando iniciou análise estava sempre estressado com os outros porque


acreditava que ele sempre se dava mais. Era muito tirânico, mas logo em seguida
começou a se perceber e ver que nem tudo estava fora dele, na verdade quase tudo
era conteúdo próprio e sua relação com o mundo começou a mudar. Não foi fácil,
pois o cansaço e stress eram aparentes, só que agora a culpa não estava só fora e
isso foram o mais difícil para ele.

Seus sonhos que se repetiam que ele estava sempre caindo no ar e nunca
chegava ao chão, mostravam quanto na realidade ele flutuava.

Ele não se identificava como seu, é o filho da mãe Puer, mitologicamente,


aquele que voa.

O eterno jovem que não quer crescer. Permanece inocente, preso a


fantasmas da perfeição, narcisismo.

Outros sonhos se relacionam com a persona, sua dificuldade em se


identificar com seus diversos papéis. E a persona é o oposto da sombra. Quanto
mais ele queria se identificar com uma persona “perfeita”, a sua sombra o invadia –
ou melhor, nas suas desqualificações em relação ao pai e ao sogro projetava sua
sombra.

Quase sempre que se referia ao seu pai e as vezes a mãe era em tom de
crítica e desqualificação, só que ao mesmo tempo não conseguia se desvencilhar
dessa constelação familiar, matando seu papel de provedor e do bom filho, estava
preso, tanto que despendia deles. Inconscientemente havia um desejo a de se
desprender de toda a sombra familiar, a vontade de se casar a procura do amado
perfeito, um ato produzido pela Persona que é o oposto de sombra. Para ele poder
sustentar.

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Vê-se o quanto seu lado sombrio estava inconsciente, a sua inocência de
ansiar por relacionamentos a prova de desapontamentos, bem narciso.

Com a noiva surgiram brigas, como um mecanismo básico de sombra e


persona, o desencadeante era o lado sombrio das famílias.

Ele não suportava ser criticado, ser visto de modo diferente do que ele
pretendia ser, que é sua sombra.

Ele gostava de vir para análise, sempre trabalhou bem, mas sempre com um
desejo de ser uma pessoa melhor.

Criticava seu pai e foi se percebendo parecido, o que lhe causava medo e
quanto mais diferente tentava ser, mais semelhante ele ficava.

Quando ele foi acolhendo, reconhecendo seu lado sombrio, mais fácil foi de
aceitar os outros e se relacionar.

Isso tudo não é fácil, é um processo, ele que queria algo extraordinário para
si, percebeu que era só um ser humano e não um super herói. Então a análise não
ficou mais tão interessante. Ele não deu conta, o puer não deprime para poder se
desenvolver, isso mostra sua identificação com a persona idealizada.

É justamente essa confrontação com a sombra constitui uma das fases mais
importantes do processo analítico, tornando-se assim comprometido.

Pelo menos passou a se ver e se perceber.

Como aluno de psicologia pressupõe que tivesse conhecimento de processo


e encerramento de uma análise – mas justamente o sombrio estava tão
inconscientemente presente, que não deu conta de continuar o seu processo.
Justamente no momento de se iniciar um trabalho mais profundo, ele desiste.

O trabalho com a sombra não é estático e sim dinâmico. È uma relação da


consciência com o inconsciente – é um processo contínuo de aprofundamento.
Onde nem sempre estamos prontos.

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CONCLUSÃO

Um dos significados da sombra exprime o lado não aceito da personalidade,


ou seja, dos desejos inaceitáveis, a sombra do Eu, um fator psíquico inconsciente
que o ego não pode controlar. Assim o ego não possui consciência que projeta,
sendo inevitável.

A projeção é um processo natural, e não patológico no qual não precisamos


nos livrar, ou ser domado, é simplesmente inconsciente, está escondido da cs,
portanto precisamo3s descobrir formas indiretas para conseguir enxergar.

Durante o processo analítico ocorrem fenômenos mais evidenciados em


relação à sombra como a sua projeção, a cisão, a sua diferenciação e a sua
integração. Atingindo assim, o processo de individuação.

Essa idealização de se chegarem algum lugar imaginário, que ninguém na


verdade sabe ao certo, na teoria conseguimos explicá-la, mas na prática mostra-se
bem mais complexo, com muitos meandros e de difícil definição.

No caso descrito, percebe-se a dificuldade já no dois fenômenos. Perdendo-


se a possibilidade de dar continuidade ao processo.

Ele estava muito identificado com a sua persona, veio para analise com um
desejo de tentar moldar mais ainda a persona do bom rapaz da perfeição que havia
incorporado.

Mas mesmo o processo analítico não ter avançado o tempo que ele veio foi
suficiente para depositar nele a humildade e sair um pouco de sua inocência infantil.

O importante de se conduzir é que a sombra não pode ser vista numa visão
unilateral, só como ruim, pelo contrário é a chance de se desenvolver um lado
criativo que estava adormecido dentro de nossa alma.

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GLOSSÁRIO DE TERMOS JUNGUIANOS

As definições que se seguem são as mais utilizadas no decorrer deste


trabalho de um modo geral, referem-se a construção teórica elaborada por Jung e
seus colaboradores ao longo de suas obras.

ALMA Jung usa a palavra Alma em contraposição à Persona. A alma


representa uma personalidade interior e profunda, enquanto que a persona é uma
personalidade exterior, superficial e manifesta (ver persona).

ALQUIMIA O interesse analítico da transformação, significa alterar ou


transformar materiais básicos em alguma coisa mais valiosa, em espírito, ou seja,
em libertar a alma.

ARQUÉTIPO Um a priori algo sem conteúdo, isto é, uma forma que não
recebeu conteúdo e que está situada além do tempo espaço; como um núcleo a
partir do qual um mecanismo dinâmico de investimento de energia psíquica sob a
forma de imagens. O Arquétipo, como um a priori, é herança da humanidade e,
portanto, é coletivo.

COMPLEXO Constitui-se de um aglomerado de imagens arquetípicas


relacionadas entre si que não necessariamente possuem um núcleo comum (as tais
imagens), mas que se integram energeticamente entre si. A possibilidade de
inúmeros arquétipos no inconsciente coletivo leva a possibilidade de inúmeros
complexos, dependendo da dinâmica pessoal da psique de cada um; além disso,
ocorre uma dinâmica de energia psíquica entre os complexos que tende a aglutinar
mais um complexo em torno de um núcleo arquetípico, formando um complexo
maior. A esse maior denomina-se Constelação de Complexos ou até mesmo de
Constelação Arquetípica.

EGO Organização da mente consciente que se compõe de percepções


conscientes, recordações, pensamentos e sentimentos cuja função básica é a de
vigia da consciência.

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ESTÁGIO DA INFÂNCIA Tem início com o nascimento e dura até a
puberdade. É o estágio no qual a criança muito nova não tem um ego consciente,
isto é, existe pouca ou nenhuma organização em suas percepções e sua memória
consciente é muito fugaz. Não existe continuidade de consciência e nem senso de
identidade pessoal, pois é programada pelos pais. Este estágio foi chamado de
Tenra Infância. Posteriormente, durante este estágio, o ego começa a formar-se,
parcialmente, em conseqüência de uma ampliação da memória e vai se energizando
e individualizando um complexo de ego em torno do qual vai surgindo uma sensação
do próprio eu (a criança começa a falar de si na primeira pessoa), emerge da
clausura paterna, ou do útero psíquico.

INCONSCIENTE Temos que distinguir o inconsciente pessoal do


inconsciente impessoal ou suprapessoal. Chamamos este último de inconsciente
coletivo, porque é desligado do inconsciente pessoal e por ser totalmente universal;
e também porque seus conteúdos podem ser encontrados em toda parte, o que
obviamente não é o caso dos conteúdos pessoais. O inconsciente coletivo
representa a parte objetiva do psiquismo; o inconsciente pessoal, a parte subjetiva.
O inconsciente pessoal contém lembranças perdidas, reprimidas (propositadamente
esquecidas), evocações dolorosas, percepções que, por assim dizer, não
ultrapassariam o limiar da consciência (subliminais), isto é, percepções dos sentidos
que ainda não amadureceram para a consciência. Corresponde à figura da sombra,
que freqüentemente aparece nos sonhos.

INDIVIDUAÇÃO A essência da Individuação é a consecução de uma mescla


pessoal entre o coletivo e o universal, por um lado, e, por outro, o único e individual.
É um processo, não um estado; a não ser pela possibilidade de se considerar a
morte como um objetivo final, a individuação jamais é completa, e permanece como
um conceito ideal. A forma que o processo de individuação assume, seu estilo e
regularidade, ou intermitência, depende do indivíduo. É um processo natural que
ocorre em todos. A análise junguiana não produz o processo de individuação, mas

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com freqüência é capaz de ativa-lo, de torna-lo mais consciente e de acelerar-lhe a
velocidade de ocorrência.

PERSONA A Persona é uma forma pela qual nos apresentamos ao mundo.


É o caráter que assumimos, através dela nos relacionamos com os outros. A
persona inclui nossos papéis sociais, o tipo de roupa que escolhemos para usar e
nosso estilo de expressão pessoal. O termo “persona” é derivado da palavra latina
que equivale a máscara. A persona tem aspectos tanto positivos quanto negativos.
Uma persona dominante pode abafar o indivíduo e aqueles que se identificam com
sua persona tendem a se ver apenas nos termos superficiais de seus papéis sociais
e de sua fachada.

PROJEÇÃO Para os junguianos a participação psicológica individual é


inevitável em todos os atos cometidos pelo ser humano; em sua relação com o
exterior, ele superpõe aspectos de sua relação com o mundo interior, e vice-versa.
Essencialmente, e de modo geral, ao ato de superpor a um objeto uma imagem
relacionada com a constituição pessoal, denomina-se projetar.

PSIQUE É a totalidade psíquica, na qual encontramos as sensações, os


pensamentos, Sentimentos, a intuição, memória, componentes subjetivos das
funções, afetos, o inconsciente pessoal e o inconsciente coletivo.

SELF Jung chamou o self de arquétipo central, arquétipo da ordem e


totalidade da personalidade. Segundo Jung, consciente e inconsciente não estão
necessariamente em oposição um ao outro, mas complementam-se mutuamente
para formar uma totalidade. O self é um fator interno de orientação, muito diferente e
até mesmo estranho ao ego e à consciência. O self não é apenas o centro, mas
também toda a circunferência que abarca tanto o consciente quanto o inconsciente,
é o centro desta totalidade, assim como o ego é o centro da consciência.

SÍMBOLOS Jung está interessado nos símbolos “naturais” que são


produções espontâneas da psique individual, mais do que em imagens ou esquemas

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deliberadamente criados por artistas. Além dos símbolos encontrados em sonhos ou
fantasias do indivíduo, há também símbolos coletivos importantes, que são
geralmente imagens religiosas, tais como a cruz, a estrela de seis pontas de David e
a roda da vida budista. Imagens, em termos junguianos, via de regra representam
conceitos que nós não podemos definir com clareza ou compreender plenamente.

SONHOS São pontes importantes entre processos conscientes e


inconscientes. Comparado à nossa vida onírica, o pensamento consciente contém
menos emoções intensas e imagens simbólicas que ajudam a equilibrar as
influências dispersadoras e imensamente variadas a que estamos expostos em
nossa vida consciente, nosso pensamento. A função geral dos sonhos é a de tentar
estabelecer a nossa balança psicológica pela produção de um material onírico que
reconstitui, de maneira útil, o equilíbrio psíquico total.

SOMBRA É o centro do inconsciente pessoal, o núcleo do material que foi


reprimido da consciência. A sombra inclui aquelas tendências, desejos, memórias e
experiências que são rejeitadas pelo indivíduo como incompatíveis com a persona e
contrárias aos padrões de ideais sociais. Quanto mais forte for a nossa persona, e
quanto mais nos identificamos com ela, mais repudiaremos outras partes de nós
mesmos. Em sonhos, a sombra freqüentemente aparece como um animal, um anão
ou uma figura escura, primitiva, hostil ou repelente, porque os seus conteúdos foram
violentamente retirados da consciência e aparecem como antagônicas à perspectiva
consciente. Se o material da sombra for trazido à consciência, ela perde muito de
sua natureza amedrontadora e escura. No momento em que achamos que a
compreendemos, a sombra aparecerá de outra forma. Lidar com a sombra é um
processo que dura por toda a vida; e que consiste em olhar e refletir honestamente
sobre aquilo que vemos ali.

TENRA INFÂNCIA Vide estágio da infância

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UROBOROS Motivo universal de uma serpente enrolada em um círculo,
mordendo a própria cauda. Representa o estágio anterior ao delineamento e
separação dos opostos, um estágio precoce do desenvolvimento da personalidade.

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BIBLIOGRAFIA

Zweig, Connie e Jeremiah. Ao Encontro da Sombra – São Paulo, Ed.


Cultrix, 1991.

Sanford, John A. Mal – o lado sombrio da realidade – São Paulo, Editora


Paulus, 1988.

Ulson, Glauco. O Método Junguiano. – São Paulo, Editora Ática, 1988.

Zweig, Connie; Wolf, Steve. O Jogo das Sombras – Rio de Janeiro, Editora
Vozes, 2000.

Dicionário Junguiano – Editora Vozes, 2002

Uma Busca Interior em Psicologia e Religião – São Paulo, Editora


Paulinas, 1984.

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