Medidas de

localização/Posição Relativa
Licenciatura em Psicologia
Edição 2022-2023
Métodos Estatísticos: Fundamentos
Tópicos

• Se os quantis são a resposta, qual é o problema?

• Percentis
• Calcular os pontos percentílicos
• Calcular a posição percentílica
• Resultados padrão (ou resultados z)
• Resultados (ou escala) T

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 2

Problema

•Nas ciências sociais, frequentemente,

estamos preocupados com a
interpretação e a comparação de
resultados individuais
•O resultado de um aluno é bom ou mau?
Obteve melhor resultado no teste A do
que no teste B? Finalmente, como é que
o seu resultado se compara com os do
seu grupo (e.g., idade, sexo,
escolaridade).

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 3

Interações mãe-filho

• Qual o significado de um dado resultado numérico resultante de uma observação das interações
mãe-filho (v.g., número de vezes que a mãe sorri para o filho)?
• Esta contagem é “simples” e concreta, mas não necessariamente informativa.
• Imagine que verificou que a mãe sorriu cinco vezes, durante um minuto, para o seu bebé.
• Será impossível, sem mais informação, saber se a mãe estava a ser particularmente calorosa
para com o filho/a.
• Para interpretarmos corretamente o significado de um número precisamos de conhecer o
contexto em que este se insere!

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 4

O Problema e a solução na Psicologia

• Como procedemos na Psicologia?

• Por exemplo, medindo a posição relativa do resultado em relação à totalidade da
distribuição de que faz parte.
• Existem vários métodos disponíveis para medir a posição relativa de um resultado (vide,
p. ex., Murphy & Davidshofer, 2001, Cap. 5; ver também, slide seguinte)
• Os dois mais comuns - Percentis e Resultados Z - serão apresentados de seguida.
• Iremos ainda referir um terceiro método (Resultados/Pontuações T), igualmente, muito popular
na Psicologia.
• O QI é outro método muito popular para atribuir significado a uma caraterística individual muito
estudada na Psicologia (a inteligência).

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 5

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 6
Percentis, Pi e Rank Percentílico (PR: Posto
Percentílico)
• O PR, Rank Percentílico (Percentile Rank), é uma estatística usada para
revelar a posição relativa numa distribuição.
• PR é um número que indica a percentagem de scores que são menores
ou iguais que um dado score numa qualquer medida.
• Por sua vez, “os percentis são pontos [scores] numa distribuição contínua
abaixo dos quais estão situadas determinadas percentagens de N”
(Garrett, 1962, p. 111). Ou seja, quando um score é definido pelo seu rank
percentílico, chama-se percentil.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 7

Exemplos

• Por exemplo, se numa distribuição 30 é o valor associado ao PR de 75,

então, o score 30 é o percentil e 75 é o PR de 30 (i.e., 75% dos
valores/scores na distribuição são valores menores ou iguais a 30),
simbolicamente P75 = 30.
• Se, por exemplo, um aluno alcançou 45 pontos num teste de realização
académica e, se o percentil, P, que lhe corresponde é 70, então 70% de
todos os resultados da distribuição estarão abaixo do resultado 45.
• Podemos expressar o resultado (pontuação/score) de 45 como P70 , isto é,
P70 = 45.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 8

Comparar Percentis

• Com os percentis podemos ainda comparar facilmente a realização do

indivíduo em diferentes testes – um percentil de 55 no teste A, por
exemplo, sendo superior ao percentil de 50 obtido no teste B.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 9

Lembre: Percentis são Quantis!

• Ainda que alguns quantis tenham um nome específico (mediana, quartis,

decis, centis), na verdade todos eles podem conceber-se como percentis.
• Donde, para conhecer o valor de um qualquer quantil, basta calcular o
respetivo percentil.
• Contudo, não existe uma única maneira de calcular percentis!
• Uma maneira bastante popular (usada em programas como o SPSS) baseia-
se numa regra bastante simples (ver slide seguinte). Usámos este método no
cálculo dos percentis requeridos no estudo de caso (Alzina).

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 10

Método usado no SPPS (default)

• Comece por ordenar os casos de forma ascendente tendo em conta o seu

valor em X, e imediatamente calcule 𝑖 = 𝑘(𝑛 + 1)/100.
• Onde: k = percentagem (%) de casos acumulados que se pretende encontrar.
• De seguida comprove qual das duas condições se aplica:
• se i é um número inteiro, então Pk = Yi [1]
• se i é um número decimal, então Pk = (1 – d)Yi + (d) Yi+1. [2]
• Onde:
• Yi é o valor da variável que ocupa a posição correspondente à parte inteira de i; e,
• d é a parte decimal de i.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 11

Exemplo de Aplicação:
Variável estudada: Idade
Grupos Idade n
M 18 19 20 22 24 26 29 31 35 45 61 11
F 19 20 21 22 23 24 25 27 28 29 30 31 32 35 14
Posto 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º 10º 11º 12º 13º 14º

Nota: Neste caso os dados já estão ordenados (ascendente), senão fosse esse o caso teria previamente de os ordenar!
M = Homens; F = Mulheres.
De seguida, aplica-se o algoritmo (fórmula) usada pelo SPSS (o método usado pelo SPSS é denominado “Weighted Average at X(n+1)p”)

Calcular o P25, ou Q1:

25 11+1
1) Amostra dos Homens (M): 𝑖 = = 3 . Como o valor de i é um número inteiro, P25 =Yi =Y3. Ou seja, o percentil 25 é o
100
valor (idade) que ocupa a 3ª posição; portanto, no grupo dos homens, P25 = 20 anos.
25 14+1
2) Amostra das Mulheres (F): 𝑖 = = 3.75. Como o valor de i não é um número inteiro, é necessário fazer uma
100
interpolação linear com base em [2] (ver slide anterior) tomando i = 3 e d = 0.75. Donde, 𝑃25 = (1 − 0.75)Y3 + (0.75)Y4 =
(0.25)21 + (0.75)22 = 21.75. Portanto, no grupo das mulheres, P25 = 21.75.
3) Aplique o que aprendeu, calculando o P75 ( ) e o P75 ( ). Veja a solução no slide seguinte.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 12

Output SPSS

Nota: M = Amostra Masculina; F = Amostra Feminina

Resposta: P75 (M) = 35 anos; P75 (F) = 30.25 anos

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 13

Dois métodos (complementares) de cálculo dos
percentis

• Método 1 (calcular os pontos percentílicos (Percentis) que

correspondem a uma determinada posição/ordem/”rank”
percentílica, ou percentil; i.e., parte-se da percentagem e quer-
se obter o valor da pontuação correspondente na distribuição.
O valor/score é o Percentil!)
• Método 2 (calcular as ordens (ranks/posições) percentílicas
de um determinado resultado; i.e., parte-se de uma certa
pontuação e quer-se obter o percentil que lhe corresponde).

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 14

Distinção entre Percentil e Ordem Percentílica -
Repetido (Garrett, p. 111)
• Percentil (P)
• É o ponto de uma distribuição de
frequências abaixo do qual ficam uma
percentagem dos resultados (e.g.,
pontos abaixo dos quais ficam 10%,
43% ou 85%).
• Ao calcular-se os percentis parte-se de
uma certa percentagem de N, digamos
15% ou 62%. Conta-se, então, na
distribuição a percentagem dada e o
ponto atingido será o percentil
desejado, por exemplo, P15 ou P62.
J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022
• Ordem Percentílica (OP)
É a posição de um resultado numa
escala de 100.
No cálculo da OP parte-se de um
resultado/medida individual e determina-
se a percentagem de resultados/medidas
que se situa abaixo do mesmo. Se essa
percentagem for 62, digamos, o
resultado terá a ordem percentílica, ou
OP, de 62 numa escala de 100.
15
Percentil
•Calcular os pontos percentílicos (Vamos utilizar a seguinte fórmula):
Onde:
 pN  Pp = Percentil/Ponto percentílico
 −S  p = Percentil desejado (e.g., 10, 20, 50)
L = Limite inferior do intervalo onde se
Pp = L +  100 i localiza o Pp

 f  N = Efetivo (número total) da amostra

  S = Soma dos resultados localizados

 
abaixo de L
f = Número de resultados dentro do
intervalo que contém Pp
i = Amplitude do intervalo

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 16

Percentis/Pontos Percentílicos
Tabela 1. Incidência Intervalos Limites f fac
exatos n = 50
de atos agressivos 18-20 17.5-20.5 1 1
em crianças de 3 21-23 20.5-23.5 2 3
anos 24-26 23.5-26.5 3 6
27-29 26.5-29.5 6 12
Objetivo:
30-32 29.5-32.5 7 19
Calcular os pontos
percentílicos 33-35 32.5-35.5 8 27
(Note que para realizar esta 36-38 35.5-38.5 8 35
operação os resultados não
39-41 38.5-41.5 6 41
precisam de estar agrupados em
classes) 42-44 41.5-44.5 4 45
45-47 44.5-47.5 3 48
48-50 47.5-50.5 2 50

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 17

Percentil - Aplicação
Para os dados da Quadro 1 calcular: P10, P20, P30, P40, P50, P60, P70, P80, P90. Exemplo, P10?

Percentis Cálculo Ponto

Percentílico

 10  50 
 − 3 
10 23 .5 +  100  3
 3  P10 = 25.5
 
 

Solução (para os demais percentis): P20 = 28.5; P30 = 30.8; P40 = 32.87; P50 = 34.75;
P60 = 36.62; P70 = 38.5; P80 = 41.0; P90 = 44.5

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 18

Ordem percentílica
Fórmula de Cálculo
• Calcular a ordem percentílica
• O procedimento para calcular
a posição/ordem percentílica,
  (Pp − L ) + S
ou o percentil, para resultados  f 

p= 
individuais é basicamente o i
reverso do processo
100
N
delineado anteriormente.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 19

Calcule a OP/PR correspondente ao valor 34 atos agressivos:

Fórmula de Cálculo Cálculo para x = 34

  (Pp − L ) + S
 f 8
    (34 − 32 .5) + 19
p= 
3
p=
i 100  46
100 50
N

Resposta: O resultado 34 corresponde ao percentil 46. Ou seja, 46% dos

resultados situam-se abaixo de 34.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 20

Exemplificação:
Perfil no
Differential
Aptitude Tests
(DAT)

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 21

Resultados z, típicos, padronizados, ou estandardizados

Sir Francis Galton

(1822-1911)

In “Classification of Men According to Their Natural Gifts”

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 22

Definição e especificidades

• Um resultado típico, ou resultado z, informa-nos acerca da localização relativa

de cada resultado individual relativamente à média dos resultados da
distribuição.
• Assim, um resultado z indica-nos, por um lado, se o resultado está acima ou
abaixo da média e, por outro, revela-nos a distância que separa esse ponto da
média.
• Os resultados z têm, necessariamente, média = 0 e desvio-padrão = 1

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 23

Como calcular um resultado z?
Converter o resultado bruto (observado diretamente, ou
pontuação X) num resultado padrão, reduzido, ou típico,
usando para tal a média (M) e o desvio padrão (DP) da
distribuição de resultados.

x−x Onde:
z=
sx z = resultado padrão
ou x = resultado bruto

x−M M = média
z= DP = desvio padrão
DP

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 24

Exemplo de aplicação

• Num processo de seleção profissional de aprendizes, os alunos que

terminaram a escolaridade obrigatória têm de realizar três testes de seleção,
designadamente: teste 1 (numeracia), teste 2 (literacia) e teste 3
(conhecimento geral).
• Sendo conhecidos os resultados para o candidato K, e assumindo uma
distribuição (aproximadamente) normal dos resultados, em qual dos três
testes o candidato revelou melhor rendimento?
• Ver próximo slide.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 25

Tabela 2
Resultados do candidato em três testes
Resultado Bruto
x Média Desvio padrão

Teste 1 87 75 12

Teste 2 16 13 2

Teste 3 31 34 10

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 26

Cálculos
• Calcule o valor z para o teste de numeracia
x − M 87 − 75
z= = = +1
DP 12

• Calcule o valor z para o teste de literacia

x − M 16 − 13
z= = = +1.5
DP 2

• Calcule o valor z para o teste de conhecimento geral

x − M 31 − 34
z= = = −0.3
DP 10
J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 27
Resultados T
• Para eliminar os inconvenientes de resultados negativos e
com casas decimais, os psicólogos inventaram outras
procedimentos para proceder ao escalonamento das
respostas, um dos mais comuns, sendo os resultados, ou
escalas T.
• Para calcular pontuações T empregamos a fórmula seguinte:

T = bz + a Onde:
a = média nova;
z = resultado padrão
b = desvio padrão novo

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 28

Resultados T - Aplicação
• A escala T tem
• Média = 50
• Desvio padrão = 10

Logo, obteremos a fórmula:

T = 10 z + 50
Nota: Existe uma relação direta entre os resultados z
e os resultados, ou notas T.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 29

Resultados T

T = (10  1) + 50 = 60

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 30

MMPI – Escala de Depressão: Uso das
Pontuações T para fins interpretativos

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 31

TÉCNICA ADICIONAL PARA DESCREVER UM
LOTE DE DADOS
• A média (localização) e o desvio-padrão (dispersão) nem sempre são
medidas descritivas adequadas das distribuições (em particular quando estas
contêm valores outliers, ou extremos, ou de outro modo se afastam da
simetria)
• Nesse caso deve procurar alternativas, uma delas baseia-se nos percentis e
chama-se “sumário de 5 números” e foi delineada por Tukey.
• Os cinco números referem-se à mediana, ao primeiro e terceiro quartil e ao
valor mínimo e máximo; estes cinco números podem apresentar-se
convenientemente numa caixa (ver slide seguinte)

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 32

Exemplo:
Suponha que uma turma foi avaliada num exame intermédio e que a partir das pontuações observadas obteve os cinco
números abaixo.

Mediana 30

Primeiro, Terceiro Quartil 22 35

Score Mínimo, Máximo 9 49

• Pode ver facilmente que a pontuação 30 divide a turma na metade superior e inferior; que a metade inferior é
ainda dividida em duas metades pela pontuação 22 (percentil 25 ou primeiro quartil) e que a metade superior é
dividida em duas metades pelo score 35 (percentil 75, ou terceiro quartil). Finalmente, o score mais pobre (9) e o
melhor (49) mostram os limites exatos entre os quais as observações se localizam e, frequentemente, tem
interesse em si mesmos.
• Além do mais pode obter facilmente a amplitude interquartis (ou semi-interquartis) para os dados; determinar se a
sua distribuição é ou não simétrica e, ademais, tem toda a informação necessária para criar uma box plot.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 33

Referências
• Cohen, B. H. & Lea, R. B. (2004). Essentials of statistics for the social and
behavioral sciences. Hoboken, NJ: Wiley.
• Garrett, H. (1962). A estatística na psicologia e na educação. Rio de Janeiro:
Editora Fundo de Cultura.
• Marôco, J. (2007). Análise estatística – Com utilização do SPSS (3ª ed.). Lisboa:
Edições Sílabo.
• Se quiser aprofundar o estudo desta temática na Psicologia (Opcional):
• Freeman, F. S. (1974). Teoria e prática dos testes psicológicos. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian. [cap. 6]
• Murphy, K. & Davidshofer, D. (2001). Psychological testing: Principles and
applications. Upper Saddle River: Prentice Hall.

J. M. Tomás Silva - FPCEUC 2022 34