A palavra símbolo vem do grego symbelon que, na Grécia antiga,
refere-se a uma moeda, prato de argila ou anel que era dividido em duas metades, quando dois amigos se separavam. Caso recebessem algum parente ou mensagem do amigo distante, uniam-se as duas metades, para verificar a procedência. O termo passou a ser usado para designar algo material que represente o quê de outra forma não tenha melhor expressão. Serve para designar algo, que por traz do sentido objetivo e visível, oculta um sentido invisível e mais profundo. Bachofen diz: O símbolo evoca a intuição; a linguagem sabe apenas explicar ... O símbolo estende as suas raízes até o fundo mais recôndito da alma; a linguagem roça, como uma brisa leve, a superfície da compreensão. A autora Maria Célia Nasser acrescenta que o símbolo é transformador de energia e possui um caráter curativo e restaurador por conter dualidades. “O símbolo contem o oculto e o revelado, o imanente e o transcendente. A contradição e os opostos estão contidos no símbolo.” O símbolo sempre esteve presente para designar determinados conteúdos dogmáticos e fenômenos religiosos, também na mitologia, na filosofia, na arte, na medicina e na psicologia. As pesquisas de Jung são pioneiras sobre sua natureza e, sobretudo, sobre o seu significado psicológico mais profundo e seu lugar de primazia na psique humana e em toda a história cultural. SÍMBOLO E SIGNO
Jung estabelece uma distinção entre signo e símbolo:
“qualquer conceito que explica a expressão simbólica como uma analogia ou designação abreviada de uma coisa conhecida é semiótica. “Qualquer conceito que declara a expressão simbólico como a melhor formulação possível de uma coisa conhecida – e, por isso, não podendo ser mais claro e acertado – é simbólico.” Cassirer diz: “ Um signo é uma parte do mundo físico do ser; um símbolo é uma parte do mundo humano dos sentidos,” e ele acha que o homem poderia ser definido como um “animal simbólico “ em vez de um “animal racional”. IMAGENS DE SÍMBOLOS E SIGNOS SÍMBOLOS INDIVIDUAIS E COLETIVOS
Ao lado dos símbolos que se formaram através dos milênios no
espírito humano, existe também os que nascem da capacidade formadora de símbolos de cada indivíduo, estes, no entanto, baseiam-se, em formas arquetípicas fundamentais que, correspondendo à sua força de expressão e riqueza de conteúdo, são aceitos pela humanidade ou por grupos maiores ou menores. “ O símbolo formula uma parte essencial do inconsciente e, à medida que essa parte se propaga mais, seu efeito se torna mais generalizado. Eles ajudam a esclarecer o inefável, a lançar pontes do obscuramente intuído à compreensão satisfatória.” “Só depois que o motivo arquetípico originário surge atrás do símbolo cunhado individualmente e é aceito pelo consenso, isto é, só depois que ele passa a ser um símbolo coletivo, como os símbolos da mitologia e das religiões, é que põe em ação todo o seu efeito libertador e regenerador. Quando, da escuridão da alma, surge um símbolo, ele tem sempre um caráter iluminador e, com frequência, pode estar carregado de toda a minusiosidade do arquétipo que nele se revela e atuar como fascinador que ameaça dilacerar o que é focado por ele, caso não se encaixe num símbolo coletivo. Quão terrível e ameaçador parece o São Nicolau o “rosto” percebido em uma visão e que ele julgava ser Deus. Até ser capaz de transforma-lo e compreende-lo como um símbolo coletivo, o da Santíssima Trindade Os símbolos jamais são inventados conscientemente; nascem espontaneamente. Não se trata de matéria racional e tampouco de vontade, mas de um “processo de desenvolvimento psíquico que se expressa em símbolos “Isso pode ser observado, nos “símbolos religiosos”, que são “produtos espontâneos” da atividade inconsciente da alma, que cresceram aos poucos no decorrer de milênios e têm “caráter de revelação”. Jung diz: “A experiência comprova que as religiões não são, de modo algum, sutilizações conscientes; eles nascem da vida natural da alma inconsciente” É daí que se explica a sua propagação universal e seu imenso efeito histórico sobre a humanidade” “As religiões são sistemas psicoterapêuticos, no sentido verdadeiro da palavra. Eles expressam o volume do problema da alma em imagens potentes, são confissão e reconhecimento da alma” A LINGUAGEM SIMBÓLICA
A linguagem simbólica é subconsciente, o que significa que
os objetivos que persegue e os problemas que tenta resolver não estão presentes na consciência; não é adaptado à realidade, mas cria para si um mundo onírico de imaginação; tende a ser incomunicável por meio da linguagem. Atua principalmente através de imagens e, para se expressar recorre a métodos indiretos , evocando por meio de símbolos e mitos o sentimento que o dirige. A água para consciência é uma substância natural cuja origem conhecemos e seu comportamento está sujeito a certas leis que estudamos. Mas para linguagem simbólica acabou sendo representado em fantasias infantis e no folclore e sendo identificada com substâncias liquidas que saem do corpo humano, e veio a simbolizar deste modo, o próprio nascimento, como aparece em tantos mitos, (o nascimento de Afrodite) ritos (o batismo) sonhos e historias infantis. A nossa cultura supervaloriza o pensamento dirigido, orientado pela causalidade e assim adequado ao mundo exterior, em detrimento da vivencia do mundo interior de cada um, que acontece através do pensamento por imagens, que não recebe caráter de realidade e é encarada como algo primitivo, inferior e patológico. Coube a Jung salientar que a atitude do introvertido (para quem a adaptação à realidade externa é secundário e inferior em desenvolvimento quando comparado com sua preocupação com a experiência interior) não é patológica, assim como os meios não-conceituais em termos de imagens e pensamento não-dirigido dos meios utilizados para total experiência do eu interior. Como vemos na realidade transpessoal, onde uma dissociação entre o intelecto e o mundo emocional do significado – da própria fonte de vida, não são vivencias patológicas. Na verdade nos pacientes que seguiram a aceitação do que as imagens prediziam, houve a renovação da vida psíquica. As imagens surgem como portadora de mensagens que estão faltando em consequência de convenções unilaterais do consciente, de forma compensatória, caracterizando assim serem um componente básico e normal do funcionamento psíquico. Por que sonhamos imagens em vez de pensamentos lógicos? Por que a psique nos perturba com fantasias simbólica aparentemente irracionais ou pelo menos, de difícil compreensão, se ela quer nos ajudar a superar nossos impasses? Não poderia o propósito ser atingido mais facilmente se os sonhos e as fantasias fossem expressos em linguagem lógica e claramente compreensível? Para compreender o porquê da linguagem simbólica, temos que renunciar ao preconceito de que o consciente e seu sistema abstrato e baseado em conceitos é a totalidade do psique ou mesmo a unidade padrão do funcionamento psíquico. O consciente é uma forma relativamente tardia, secundária do desenvolvimento mental. A unidade básica ou original do funcionamento mental, é a imagem. Os conceitos são criados a partir de imagens. O estabelecimento de controle no mundo das coisas através da conceituação, do pensamento racional é uma fase vital e indispensável do desenvolvimento psíquico. Ela leva da infância psíquica primitiva para a idade adulta. É o inconsciente, que dá origem e mantém o mundo consciente. A primeira forma elementar de percepção ocorre através da incorporação de percepções sensoriais em imagens que se apresentam a nós como representativas do mundo exterior são subsequentemente usados pela psique para exprimir o mundo interior. A conscientização da existência do nosso mundo interior como entidade independente, chega até o consciente relativamente tarde. Estas imagens de objetos exteriores, são as primeiras e únicas unidades, os pontos em que a mente consciente retorna à experiência básica do seu ser, que é anterior a separação do consciente e do inconsciente. Jung considera a produção imagética espontânea, os sonhos, as fantasias e as expressões artísticas como fontes vitalmente indispensáveis de informação e orientação fornecidas pelo aspecto normal e não patológico da psique. De acordo com esta opinião, o sonho, “como a expressão de um processo psíquico involuntário e inconsciente, além do controle da mente consciente... Mostra a verdade e a realidade interiores do paciente como realmente são: não como eu conjecturo que sejam e não como ele gostaria que fossem, mas como elas são. Os sonhos não escondem mas revelam, exprimem em vez de disfarçar ou censurar, a satisfação de um desejo conscientemente inaceitável . A FUNÇÃO TRANSCENDENTE
A função psicológica e “transcendente” resulta da união dos
conteúdos conscientes e inconscientes. O inconsciente se comporta de maneira compensatória ou complementar em relação à consciência. A consciência, exerce uma inibição sobre todo o material incompatível que se encontra mergulhado no inconsciente. A consciência é um processo momentâneo de adaptação, ao passo que o inconsciente contém todo o material esquecido do passado individual e todos os traços herdados que constituem a estrutura do espirito humano O inconsciente contém todos os conteúdos que ainda não ultrapassaram a intensidade liminar e, com o correr do tempo e em circunstâncias favoráveis, entrarão no campo da consciência. A natureza determinada e dirigida da consciência é uma aquisição extremamente importante que custou a humanidade, pesados sacrifícios, mas que prestou o mais alto serviço a ciência, a técnica e a civilização, pois todas pressupõe persistência, regularidade e intencionalidade, fidedignas do processo psíquico. As características estáveis da consciência, em cada indivíduo são necessárias as exigências da vida, entretanto o fato de serem dirigidos para um fim encerra a inibição e o bloqueio de elementos psíquicos incompatíveis com ele. A unilateralidade é assim, uma característica inevitável. Mas se a tensão dos opostos aumenta, a tendência oposta irrompe na consciência, e isto quase sempre no momento em que é mais importante manter a direção consciente. A questão é como enfrentar as influências perturbadoras, a resposta consiste em suprimir a separação entre consciência e o inconsciente, e não se pode fazer isto, condenando unilateralmente os conteúdos do inconsciente, mas, pelo contrario, reconhecendo a sua importância para a compensação da unilateralidade da consciência. A tendência do inconsciente e da consciência são os dois fatores que formam a função transcendente . É chamada de transcendente, porque torna possível a passagem de uma atitude para outra, sem perda do inconsciente. No processo terapêutico é o terapeuta adequadamente treinado que faz da função transcendente e ajuda o paciente a unir consciente e inconsciente e, assim chegar a uma nova atitude. O método, se baseia em apreciar o símbolo, a imagem onírica ou a fantasia, como um sinal, de processos instintivos elementares, para extrair o sentido sugerido pelo símbolo, através das “associações livres”, falhas de memória, processos criativos (pinturas), etc. O SÍMBOLO COMO MEDIADOR
O que Jung chama de “bipolaridade do símbolo”, se baseia, no
duplo aspecto do arquétipo, que aponta para frente e para trás, onde as características do espaço e tempo ficam relativas, até sua completa dissolução no inconsciente. A “bipolaridade do símbolo se baseia na sua qualidade de unificador de pares opostos, em primeiro lugar do consciente e inconsciente. O símbolo como matéria-prima do inconsciente coletivo, onde não é difícil constatar o enlace de elementos masculinos (forma) e femininos (matéria-prima) o que explica os alquimistas chamarem o símbolo conjunction ou “casamento”, isto para o caso em que os elementos se tenham fundido um no outro e constituído uma unidade inseparável. O SÍMBOLO COMO TRANSFORMADOR DE ENERGIA “ A regressão do libido para o inconsciente detém o nascimento do símbolo. A regressão transforma-se em progressão, o estancado se torna fluente e, dessa forma, se rompe a atração magnética do motivo original” Por isso, Jung chama o símbolo de transformador psíquico de energia e chama a atenção para o seu caráter curativo e restaurador. Com sua dupla capacidade de, por um lado, levar a dissolução de tensões, por ser a manifestação visível de corpos energéticos de um “núcleo de significado” do inconsciente coletivo, e, por outro lado, de atingir um novo nível pela impressão nova que o seu sentido causa na psique, o símbolo indo de síntese em síntese é capaz de transformar a libido e leva-la a atividade útil. OS SÍMBOLOS DO PROCESSO DE INDIVIDUAÇÃO
O processo de individuação é um desenvolvimento psíquico,
natural e dado a cada ser humano com vista à ampliação da consciência e ao amadurecimento da personalidade. Símbolos variados acompanham as etapas deste processo, como se fossem marcas de um caminho. Eles se baseiam em determinados arquétipos que se apresentam de modo regular nos sonhos, visões e fantasias. Não importa a forma que adote, ele terá sempre a característica da fascinação. OS PRÍNCIPAIS SÍMBOLOS DE INDIVIDUAÇÃO SÃO: A SOMBRA O VELHO A CRIANÇA A MÃE A ANIMA DO HOMEM O ANIMUS DA MULHER Existe ainda os símbolos unificadores do “centro psíquico” do “eu”. Como manifestação de um dos valores mais elevados, eles são representados por figuras divinas ou símbolos do indestrutível ou muitas vezes por símbolos abstratos geométricos como as MANDALAS (símbolo de ordem primária da psique total). Só quando a consciência e o inconsciente entram em conflito e transformam a nossa alma em campo de batalha é que percebemos o quanto é difícil libertar a nossa verdadeira essência dos tentáculos destas duas esferas. É que a condição dessa libertação é uma consciência individual capaz de discernir, um “eu” consciente de suas limitações e ciente de que para fazer jus a inteireza da psique, deve permanecer ligado, numa relação viva e recíproca, a ambas as esferas, isto é a consciência e o inconsciente. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS JUNG, Carl Gustav. Obras completas. Petrópolis: vozes 2000 Vol VIII/2. A natureza da psique . 5. ed Vol XVIII/2. A vida simbólica Vol IX/1/1. Os arquétipos e o inconsciente coletivo JUNG. Carl Gustav; et al. O homem e seus símbolos. 18.ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira [s.d.] NASSER, Maria Célia de Q. Carrera. O que dizem os símbolos?. São Paulo: Paulino 2003. WHIT MONT, Edward. A Buscula do Símbolo. Ed Cultrix, 1990