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O ESPÍRITO NA SIZÍGIA*

ANDRÉ DANTAS

A psicologia arquetípica surgiu no cenário junguiano combatendo ferozmente a ênfase


dada pelos junguianos tradicionais à unidade psíquica representada pelo arquétipo do si-
mesmo. A importância que Jung deu ao arquétipo do si-mesmo é vista por Hillman como a
subjugação da multiplicidade psíquica pelo monoteísmo que enxerga os fenômenos a partir de
um ponto de vista único. Para Hillman, os junguianos clássicos confundem a psicologia com
uma disciplina do espírito. A concentração no si-mesmo é a vitória do monoteísmo sobre o
politeísmo, do uno sobre o múltiplo, do espírito sobre a alma. O trabalho psicológico requer
multiplicidade, pois a psique é composta por uma multidão de complexos exigindo uma
perspectiva politeísta capaz de fazer jus à sua complexidade. Quando o si-mesmo assume um
grau demasiado de importância o espírito domina a alma. O modo como o processo de
individuação é tradicionalmente descrito, é o sintoma de uma psicologia aprisionada na
linguagem do espírito. Alma, e não o si-mesmo, é o foco da psicologia, e a individuação seria
mais bem entendida não como a realização do si-mesmo, mas como o trabalho de cultivo da
alma.
Na psicologia arquetípica a alma é uma perspectiva, um modo de olhar os fenômenos
e não algo que está objetivamente neles, um movimento e não uma substância. Alma deriva
do grego psyché, que no latim foi traduzido por anima, sendo o ponto de vista da interioridade
em qualquer lugar e não apenas da interioridade humana. Trata-se de uma perspectiva que
converte os eventos em experiências, um espaço intermediário entre a mente e o corpo, entre a
reflexão e a ação. Não vemos a alma, mas vemos através dela, e o olhar da alma permite ver
as suposições implícitas em qualquer afirmação, desliteralizando-a. Tentar definir a alma é
um problema filosófico que deve ser visto acima de tudo como um fenômeno psicológico que
brota do próprio desejo da alma por autoconhecimento. Esse desejo é melhor satisfeito através
daquilo que é intrínseco a sua constituição: imagens. Psicologia enquanto logos da alma é um
discurso imagético, metafórico, uma expressão da base poética constitutiva da mente1.
Para Hillman o engajamento com a alma não deve ser confundido com uma disciplina
espiritual. Enquanto imaginar é a atividade básica da alma, a posição do espírito é cega para
fantasia acreditando que suas afirmações são literalmente reais. Teologia, metafísica e
objetividade científica são as atividades por excelência do espírito visto que são incapazes de
enxergar através das suas exigências de verdade, ordem, estabilidade, claridade e
distanciamento. A diferença entre as duas posições é descrita por Hillman por meio de uma
metáfora geográfica. Enquanto o espírito situa-se nos picos mais altos, a alma encontra-se nos
vales mais profundos. O primeiro ascende às alturas abstraindo-se das paixões em busca da
unidade e da solidão, enquanto a segunda aprofunda-se no vale das paixões necessitando de
envolvimento, eros e comunidade. A linguagem do espírito é literalmente objetiva enquanto a
da alma é imaginalmente metafórica. Três qualidades fundamentais diferenciam o cultivo da
alma das disciplinas do espírito: 1) Interesse pela patologia, pelas paixões que impulsionam a
psique. 2) Lealdade ao humor nebulosamente aquático da anima, com suas confusões e
personificações. 3) Compromisso sincero com a discórdia cacofônica do politeísmo, sua
fragmentação e multiplicidade. Essas diferenças impedem que o cultivo da alma seja
confundido com as disciplinas espirituais, sejam elas filosóficas, teológicas, científicas ou
meditativas2.
Mas no capítulo final de um estudo sobre a anima, Hillman opera uma reviravolta no
seu pensamento afirmando que o envolvimento com a alma implica um mútuo envolvimento
com o espírito. A anima está sempre acompanhada e sua essência só pode ser captada em um
contraste3. Esse insigth remonta a Jung que afirmava que aquele que desconhecesse o
significado e alcance universal do motivo da sizígia dificilmente poderia opinar acerca do
conceito de anima4. Seus últimos trabalhos abordam a anima principalmente através da sua
conjunção com o animus. Como a anima manifesta-se sempre acompanhada do animus,
qualquer afirmação sobre ela é, mesmo que apenas implicitamente, uma afirmação sobre o
animus e por isso a melhor posição para se enxergar qualquer um é o outro deles. Não se
pode ter um sem o outro, e por isso todo estudo sobre a anima é também um estudo sobre o
animus, quer se esteja consciente ou não. A noção de sizígia exige que qualquer exame
profundo da anima explore em igual profundidade o animus e não se faz melhor justiça à
anima do que dedicar tempo e atenção ao animus5.
Masculino e feminino tem sido tradicionalmente o modo como a sizígia tem sido
abordada pela psicologia junguiana. Mas Jung sugere que a personificação feminina assumida
pela anima pode não lhe ser assim tão essencial.

Na projeção, a anima sempre assume uma forma feminina, com determinadas características.
Esta constatação empírica não significa no entanto que o arquétipo em si seja constituído da
mesma forma. A sizígia masculino-feminino é apenas um dos possíveis pares de opostos, mas
na prática um dos mais importantes e freqüentes. Ela tem muitas relações com outros pares (de
opostos) que não apresentam diferenças sexuais, podendo pois ser colocados numa categoria
sexual apenas de modo forçado6.

Pensar em termos de gênero inevitavelmente leva a sizígia para dentro do


relacionamento homem-mulher, e à concepção de que a anima é exclusiva dos homens e o
animus das mulheres. Se for esse o caso então o único modo deles se encontrarem é na
relação homem-mulher. Mas os arquétipos são transpessoais, não podendo ser confinados em
gêneros ou em etapas específicas da vida. Anima não é propriedade privada dos homens assim
como o animus não é das mulheres. A sizígia não ocorre somente nas relações interpessoais,
mas também dentro de cada um de nós. Homens também agem guiados pelo animus e as
mulheres não são imunes à ação da anima. Isso tem levado muitos psicólogos a malabarismos
contorcionistas ao tentar explicar essa dinâmica cotidiana em termos de anima do pai ou
animus da mãe. Tais peripécias falham porque não levam em consideração o ponto mais
elementar da relação dos dois, a projeção interior. Projeções ocorrem não apenas fora, no
mundo exterior, mas também entre partes da psique. Somente com a interiorização da
projeção é possível reconhecê-la como uma atividade que acontece às cegas entre anima e
animus interiores7.
Em qualquer imaginar da anima seja ele produtivo, lascivo ou malicioso, o espírito
animus pode surgir e criticar, e é essa a origem do espírito crítico, aquela parte da psique que
se distancia, abstrai, compara e também pode menosprezar. Este animus está a serviço da
alma realizando a separatio que distancia a mente do humor. Como o animus está ligado a
anima, o espírito crítico conserva traços do humor subjetivo negado sob a forma de um humor
objetivado em opiniões. O espírito objetivo que é a meta de toda a jornada intelectual
ocidental é o esforço da alma para libertar-se por meio do animus do vale das suas paixões8.
Quando se pensa ter captado algo da anima em uma imagem, humor ou projeção, a
questão que se segue imediatamente é onde se encontra o animus? Ele provavelmente está no
próprio ego que percebe, e que antes de tudo possibilita a observação. A observação de um se
dá através do outro, o que significa que a observação também é uma forma de projeção, pois a
própria perspectiva assumida define aquilo que é possível perceber. Na medida em que a
anima representa a interioridade, a fantasia, a função reflexiva, as conexões e o pessoal, o
animus deve aparecer na exterioridade, nas atividades, de forma impessoal, objetiva e literal9.
Em sua origem latina a anima aparece como o substantivo respiração enquanto o
animus era a atividade de respirar, sendo sinônimo da alma racional cujas qualidades são as
funções e ações da consciência como atenção, intelecto, mente, vontade, coragem, arrogância
e orgulho, tudo que hoje se atribui ao ego. Se muito do que a psicologia tem chamado de ego
refere-se ao animus na sizígia, então aquilo que está por trás do ego é o animus. O ego é uma
idéia do animus, o resultado do animus que se dissociou da sua conexão com a anima
colocando-se como independente da sizígia. A consciência da anima ou de animus implica o
reconhecimento do estilo de inconsciência em qualquer constelação específica, uma
inconsciência determinada pelo seu outro lado arquetípico. A identificação da personalidade
egóica consciente com qualquer uma das figuras da sizígia é o papel arquetípico que o ego é
constrangido a representar, pois a constelação de ambos só se dá com a intervenção da
personalidade consciente10. Como os dois estão sempre juntos, a intervenção da personalidade
consciente é na verdade a atuação de uma das metades. Tal dinâmica é quase irreconhecível
porque a personalidade consciente é o ponto mais iluminado e exatamente por isso também o
mais sombrio. Jung, no seu estudo sobre a sizígia percebeu que o sol, a imagem alquímica da
consciência, é em si um corpo escuro, luz por fora e escuridão por dentro e por isso o ego, seu
representante contemporâneo, seria uma personificação relativamente constante do próprio
inconsciente, uma fonte de luz onde há escuridão suficiente para um sem número de
projeções11. É a constância dessa personificação que torna as decisões e atitudes do ego tão
compactas e opacas ao outro inconsciente. Impedido de enxergar o outro e de se enxergar
através do outro a consciência egóica acredita-se literalmente real12.
Esse in anima leva sempre a uma infusão com o animus e a fenomenologia aérea da
alma transparece sua relação com o espírito pneumático. Estar na alma é também esse in
animus, pois sempre que se toca a alma o espírito também vibra. Devido à sizígia a psicologia
não pode excluir o espírito do seu campo de atuação, de modo que as idéias tornam-se
experiências psicológicas e experiências convertem-se em idéias psicológicas. Ser psicológico
é ser também espiritual, pois psicologia é a interpenetração de psique e logos, onde a
imaginação ilumina-se com intelecto que por sua vez refresca-se com fantasia. Isso exige que
o espírito e alma mantenham-se diferenciados (a demanda do espírito) e conectados (a
demanda da alma). “Considerar cada posição em termos de sizígia reflete uma consciência
hermafrodita, na qual o Um e o Outro co-habitam, a priori, todo o tempo; uma duplicidade
hermética e um acasalamento afrodítico ocorrendo em cada evento”13.
Hillman espera atender as demandas de separação e conexão através da imaginação
mítica que os personifica num tandem.

Imaginar em pares e casais é pensar mitologicamente. O pensamento mítico conecta os pares


em tandens,em vez e separá-los em opostos, que é o modo da filosofia. Opostos prestam-se a
pouquíssimos tipos de descrição: contraditórios, contrários, complementares, negações -
formal e lógico. Tandens, por sua vez, como irmãos, inimigos, negociantes ou amantes
apresentam infinita variedade de estilos. Tandens favorecem o intercurso – em inúmeras
posições. A oposição é apenas um dos vários modos de se estar num tandem14.

Mas isso faz jus às necessidades do animus? Imaginar a sizígia em tandens


mitopoéticos sacia as demandas da anima, pois mito, metáfora e fantasia estão para a anima
como a água está para o peixe. Serão eles os meios adequados para expressão do espírito?
Apesar do fantástico insight a respeito da sizígia, ele não provocou nenhuma alteração no
modo de expressão da psicologia arquetípica. A sizígia foi mantida a distância da teoria e seu
poder explosivo permaneceu encapsulado. Mesmo que a metáfora raiz da psicologia tenha se
revelado como a outra face de um dos seus inimigos mais combatidos, nenhuma mudança real
aconteceu, e o animus continuou exteriorizado. A psicologia arquetípica continuou uma
atividade da imaginação e o espírito foi reduzido ao imaginar da anima. Há alguma mudança
aqui? Personificar o espírito difere de alguma forma daquilo que a psicologia arquetípica
vinha fazendo até então?
É ingenuidade abrir as portas para o animus e esperar que ele não desembainhe sua
espada realizando cortes lógicos no coração das imagens, clareando suas contradições
implícitas. É ingênuo acreditar que a anima poderia permanecer virginalmente intacta e
continuar imaginando e re-imaginado a realidade sem ser calcinada pela clareza flamejante do
animus. É mais ingenuidade ainda acreditar que o animus poderia se conformar em esculpir e
admirar imagens sem exercer sua iconoclastia, realizando aquela que é a sua atividade por
excelência, o trabalho do conceito.
Sendo a sizígia a revelação de que não se pode ter alma sem espírito, então ela não
pode permanecer como um conteúdo ao lado de outros na práxis arquetípica, pois a alma é um
modo de abordar todo e qualquer conteúdo como metáforas do fazer alma. Se o espírito for
realmente interiorizado seu modo de atuação deve permear todo o estilo arquetípico de lidar
com os fenômenos. Mas a psicologia arquetípica continuou posicionada unilateralmente na
fantasia mitopética. Caso Hillman tivesse lido aquilo que ele próprio escreveu, a psicologia
arquetípica teria interiorizado a sizígia em sua própria forma de estar no mundo tornando-se
uma real psico-logia.No entanto, Hillman continuou ofuscado pelas fantasias da anima e não
enxergou aquilo que estava bem na sua frente. A linguagem do animus na sizígia é
exatamente a filosofia dos opostos complementares e suas descrições lógicas através da
negação e da contradição. O problema é que o logos abordado por Hillman ainda não sofreu o
influxo da sizígia, e por isso a sizígia continuou imune à ação da lógica. O logos permanece
sinônimo da lógica analítico-formal dedicada às regras do correto pensar que trata a fantasia
como um absurdo. Essa é a lógica atacada por Hillman e por Jung, mas ela não é a única
possível, havendo uma longa corrente filosófica, cujos elos atravessam séculos de história,
que se dedicou a uma lógica capaz de expressar a sizígia em sua plena potência. Nesse estilo
de filosofia a unidade dos opostos é tematizada não em uma linguagem mitopoética, mas a
partir da razão lógica do conceito. Jung resgatou a alquimia em busca das raízes históricas da
sua psicologia, todavia a realização da sizígia requer também a busca de uma tradição
histórica capaz de fornecer um logos fiel à plasticidade aquosa da coniunctio. Logo a
realização da sizígia demanda um profundo envolvimento com a tradição dialética.
O envolvimento com a dialética leva a um problema lógico no modo como a sizígia é
apresentada por Hillman. Ele coloca lado a lado oposições e personificações míticas,
afirmando que a contradição é uma das muitas formas de se estar num tandem. Eu diria que
ao invés de serem vizinhos a oposição está dentro do tandem, sendo aquilo que faz dele uma
real sizígia. Oposições lógicas não podem ser colocadas lado a lado com as imagens como se
a diferença entre elas fosse similar à diferença entre múltiplos tons de cores. Não há uma
simples continuidade no caminho que vai de uma para outra, e a maneira como Hillman as
trata faz delas indiferentes à sua diferença, à ruptura, à descontinuidade que há entre ambas.
Isso demonstra que a sizígia realmente não aconteceu, pois o pensamento que a pensa
continua preso na extensividade espaço-temporal. Nessa concepção um ente primeiro
manifesta-se e só então entra em relação, porque o que ele é em si-mesmo independe da
relação em que ele se encontra, sendo ela secundária, uma mera adição a sua forma de ser. A
relação é apenas uma dentre as múltiplas coisas que lhe acontecem, algo contingente,
arbitrário, um acidente externo ao seu ser. Isso se dá porque tanto a imaginação como a lógica
formal lidam com seus conteúdos como entidades extensas, partículas que se juntam ou se
separam, mas que por mais próximas que estejam nunca estão realmente unidas, apenas
agregadas umas as outras.
A psicologia arquetípica resgatou Dionísio das profundezas da imaginação mítica,
todavia ele permaneceu como um conteúdo da imaginação, restrito às intensidades somático-
emocionais e impedido de permear a própria lógica do seu pensamento, regido pelo mesmo
distanciamento apolíneo que acredita combater. Como personificar é intrínseco a imaginação,
ficar nela significa continuar vítima da lógica extensiva, onde duas coisas não podem ocupar o
mesmo lugar no espaço. A imaginação não consegue personificar o espaço por ele ser anterior
a toda e qualquer personificação, sendo a própria condição para a atividade de personificar. A
personificação é o próprio ato de conservar a concepção extensiva visto que um ser
personificado é um ser com propriedades espaciais, mesmo que metafóricas.
A lógica formal e a psicologia arquetípica compartilham a mesma concepção sólida
de realidade, o que muda é o modo como cada uma apresenta os seus conteúdos, uma de
forma clara e racional enquanto a outra numa forma poética e imaginal. Para ambas uma
relação é como uma roupa que pode ser colocada ou tirada sem maiores problemas, pois
aquilo que está em relação é imune à relação em que se encontra. Hillman estava certo ao
afirmar que o espírito estava junto da alma o tempo todo realizando a separatio, abstraindo,
fragmentando. Personificar não desfaz a abstração, apenas a maqueia com mitopoesia. Se a
psicologia arquetípica deseja ser realmente uma psicologia da interioridade ela precisa
conscientizar-se que interiormente é governada pelas mesmas leis extensivo-abstratas vigentes
no território egóico. Uma psicologia informada pela sizígia necessita de uma lógica onde a
identidade não seja sinônima de dissociação e a diferença não seja indiferente ao que
diferencia, em suma exige dialética.

DIALÉTICA NA SIZÍGIA

A dialética é a lógica da interioridade (psico-lógica), virtualmente interna a todo e


qualquer fenômeno, inclusive aqueles que se manifestam como amizade, negócios, amor ou
irmandade. Nessa lógica a essência, aquilo que algo é, define-se em uma relação, que é o
modo primordial como qualquer coisa existe. Se para o existencialismo a existência precede a
essência, na dialética a essência de qualquer ser é existir, na medida em que existir é estar em
relação15. Se a forma primária de manifestação é a relação, isso quer dizer que a relação é
essencial ao que algo é, ou melhor é aquilo que algo é, a sua essência mais íntima. A
identidade de algo não lhe é simplesmente interior e também não é exterior. A identidade é
um interior exteriorizado e um exterior interiorizado, ou seja, é uma exteriorização
interiorizante e uma interiorização exteriorizante, e por isso não é fixa, mas está sendo
definida sempre por meio dos contextos dos quais participa.
Um exemplo é o hieros gamos de Zeus e Hera. Para Hera, Zeus deveria ser marido e
legislador, contudo seus impulsos criativos explodem de forma promíscua, apropriando-se
anarquicamente daquilo que deseja, desestabilizando interiormente a família e a sociedade, as
esferas de poder de Hera, que para Zeus aprisionam a fantasia procriativa da sua imaginação
em liberdade, intensamente dedicada a gerar novas formas de vida 16. Esse mesmo deus exibe
uma face bem diferente no mito de Prometeu, onde ele não dissemina, mas ciumentamente
guarda para si as chamas criativas. Prometeu não é Hera e por isso Zeus manifesta-se com
atributos contrários aos exibidos em seu casamento. Sua essência é aquilo que ele está sendo
em relação.
A sizígia não é sinônima de relação pura e simplesmente. Uma relação de amor, de
negócios, de amizade, de irmandade, de ódio é sizígia quando os seres que estão em relação e
a relação em que os seres estão determinam-se mutuamente. Sizígia é uma relação interna, um
interior relacional. Sizígia é um nome mítico para o que em filosofia foi denominada dialética.
Relações externas não afetam os seres em relação, já que entre eles reina uma diferença
indiferente aquilo que cada um está sendo. A palavra chave aqui é oposição, já que afirmar
que um ser se opõe ao outro implica que os dois não são apenas diferentes, mas que também
comungam, caso contrário não se oporiam. Na oposição a identidade não recai fora da
diferença, mas a determina e é por ela determinada17.
Fenômenos complexos exibem múltiplas determinações, logo múltiplas oposições.
Dependendo do contexto algumas se manifestam enquanto outras permanecem latentes. A
oposição ocorre entre os predicados, entre as qualidades que determinam o que algo é. A
lógica extensiva abstrai o sujeito dos predicados que o determinam. De um lado o sujeito, do
outro os predicados que o qualificam e entre ambos a indiferença. Essa concepção estabiliza o
ego como sujeito e todo o resto como objeto da sua vontade. O ego não é apenas um
conteúdo, um complexo, ou uma região psíquica. Reduzi-lo somente a isso é continuar
aprisionado em seu território extensivo. Ego é toda forma de pensamento que abstrai um ente
das suas qualidades, que toma sua existência como primária e os predicados que o definem
como secundários18. Ego é o modo abstrato de conceber a realidade como um aglomerado de
partículas extensivas indiferentes à suas relações, aos processos que realizam, e a psicologia
arquetípica com sua insistência unilateral na imaginação mitopoética continua acorrentada a
essa concepção de mundo.

Claro, eu penso conceitualmente ... Somos pessoas modernas e civilizadas e precisamos de


nossos conceitos. Certamente, não quero com isso jogar fora toda a linguagem conceitual, mas,
genericamente falando, é na linguagem conceitual que estamos presos, onde estamos no ego,
onde as coisas estão mortas, onde retornamos ao que está feito e acabado e onde as imagens
não podem nos alcançar19.

A imaginação é colocada de um lado e o pensamento conceitual do outro, cada um na


ponta de uma linha, e a lógica linear que dissocia os dois continua intacta. A psicologia
arquetípica já reflete acerca das imagens e por isso já está comprometida com o pensamento,
mas por refletir diretamente apenas sobre as imagens ainda as pensa a partir da extensividade
intrínseca à lógica formal que acredita atacar. Ela combate o pensamento abstrato
personificando-o através da imaginação, mas o movimento é unidirecional. Isso não quer
dizer que não haja retorno, ele acontece sutilmente com a imaginação dissociando os
conteúdos uns dos outros, encarcerando-os na sua forma extensiva ao personificá-los,
exteriorizando-os das relações que participam. Pensar as imagens não significa apenas
personificar o pensamento lógico, tomando-o como um trabalho de Apolo ou do senex. Isso é
apenas metade de um movimento que para completar-se exige a despersonificação espaço-
temporal através da interiorização das imagens nos seus atributos. A extractio da essência
ocorre por meio da mortificatio da aparência. Não se trata de uma morte unilateral, mas da
coniunctio da essência e da aparência dentro da sua própria separação. A re-união das
qualidades determinantes de uma imagem com as relações em que ela aparece. Sua identidade
é a sua fenomenologia se a relação é o seu aparecer. A lógica dialética é o ato de dobrar a
linha explicitando a identidade-na-diferença entre as duas pontas.
Enquanto restringir-se a imaginação, a psicologia atuará inconscientemente (acting-
out) a lógica extensivo-abstrata governada pela exclusão. Ou picos ou vales. Essas imagens
estáticas da geografia imaginal dissociam alma e espírito coagulando-os em espaços
mutuamente excludentes20. A diferenciação de ambos é de extrema importância, mas é apenas
a primeira metade da obra. Completá-la exige a solutio desses coágulos imaginais e a
coniunctio de picos e vales. A psicológica assemelhar-se-ia aos antigos rios míticos que
descem do alto do céu em direção a terra, fluindo para o mundo subterrâneo e reascendendo
para derramar-se novamente das mais elevadas montanhas. Não o rio enquanto corpo
imaginal, mas o seu movimento, a sua fluidez, aqua permanens, a solidez do vale e do pico
enquanto lugares especificamente diferenciados gerada pela própria dissolução de um no
outro.
Algo assim não pode ser imaginado, mas pode ser pensado negativamente quando o
pensamento nega a si-mesmo como intelecto abstrato conservando-se nos vales mais
profundos da imaginação. Não se trata da separação e depois a reunião, pois isso seria
continuar preso na extensão temporal, onde a causa precede o efeito. Como a lógica do pico é
informada pelo vale, cada um é o que é a partir do outro. O movimento ascendente pressupõe
o movimento descendente e vice-versa. Quando pensados picos e vales revelam-se-criam-se
como personificações de momentos específicos de um movimento autocontrário.
A psicologia arquetípica ao exilar-se no mundo inferior deixa o espírito livre para
continuar literalizando suas abstrações. A rejeição do espírito afirma e estabiliza sua lógica
abstrata não apenas lá no alto, mas também embaixo, restringindo a psicologia a fenômenos
específicos do real como se ele fosse uma extensão compartimentalizada e não um devir
interconectivo. Nem picos e nem vales, mas os dois conservados pela negação é o que
constitui a psicologia enquanto identidade negativa de psique e logos.

RETORNO DO SI-MESMO

A psicologia arquetípica iniciou sua jornada exercendo uma pesada crítica ao foco dos
junguianos tradicionais sobre o si-mesmo. Mas no momento em que ela reflete sobre sua
concentração sobre a anima ele retorna enriquecido pela negação que sofreu. O si-mesmo
como a unidade dos opostos não é mais um arquétipo separado dos outros, uma entidade que
impulsiona a individuação a partir de fora. Ele é a singularidade mais íntima de toda e
qualquer coisa, aquilo que algo é em si-mesmo.

O si-mesmo é uma unidade, consistindo porém de duas, isto é, de opostos, caso contrário não
seria uma totalidade. (...) Apesar da natureza conservadora, os arquétipos não são estáticos,
mas estão num constante fluxo dramático. Por isso o si-mesmo como mônada ou unidade
contínua estaria morto. Mas ele vive na medida em que se divide e se une de novo. Não há
energia sem opostos21.

A anima revelou-se como sendo em si-mesma a outra face do espírito, uma projeção
sua e vice-versa. Eles são os reflexos invertido um do outro. A alma é em si-mesma a negação
do espírito, que por sua vez é a negação da alma. Eles se determinam negando um ao outro. A
alma é o que é, por negar o que o espírito é, sendo o não-espírito, assim como o espírito é a
não-alma. A alma é então a não-não-alma e o espírito o não-não-espírito. Ao reencontrar-se
no outro cada um retorna a si-mesmo enriquecido pela jornada negativa que sofreu, tornado-
se aquilo que eles já eram ao reconhecerem-se como sendo neles mesmos o seu outro. A
natureza de cada um é contra naturam, opondo-se a si-mesma e efetivando-se numa
dissolução no outro que coagula aquilo que cada um é. Ambos negam duplamente a si-
mesmos no outro, e por isso se afirmam através do outro. Se um não fosse o que fosse o outro
não seria o que é. Assim como uma luz só torna-se visível ao ser refletida por uma superfície
que lhe serve de obstáculo, a alma só torna-se consciente de si ao ser refletida no espírito, e é
por sofrer a negação da alma que o espírito determina-se.
Determinatio est negatio (Espinosa). Sem negação não há si-mesmo, visto que ele é a
determinação mais íntima de toda e qualquer coisa. Se for permitida a negação desenvolver-se
até o final ela nega a si-mesma tornando-se aquilo que une a partir da própria separação. Sem
negação haveria apenas um aglomerado amorfo e indiferenciado, mas graças ao poder do
negativo, uma coisa deixa de ser um algo qualquer para ser algo singularmente específico. Tal
processo poderia ser chamado de indivi-doação22, visto que cada um é mais individualmente
si-mesmo ao doar-se para o seu outro.
Individoação, a realização do si-mesmo, não se restringe ao personalismo
egóico, sendo um devir universal através do qual qualquer ser singulariza-se. Enquanto
oposição o si-mesmo é um universal idêntico ao seu conceito, uma identidade/diferenciante.
Essa é a sua expressão mais pura e abstrata, mas enquanto universal ele não possui nada fora
de si, incluindo a si-mesmo, e por isso opõe-se ao seu próprio conceito multiplicando-se em
um número infinito de singularidades. Ele faz isso sem sair de si, ou melhor, ele penetra cada
vez mais em si ao sair de si. Por sua essência ser oposição ele se interioriza exteriorizando-se
e se unifica multiplicando-se. Ele é uma unificação/multiplicante e aprofunda-se na sua
essência conceitual única na medida em que aparece de forma múltipla. Essa é a sizígia
expressa na linguagem conceitual abstrata do logos, que por ser dialético, é o outro de si-
mesmo, uma abstração que personifica-se em um sem número de imagens. O logos é em si-
mesmo o seu outro, psique, e vice-versa. Fazer psicologia exige realmente pensar as imagens,
dissolvê-las no movimento lógico do conceito, que se deixado livre para seguir a sua essência
adquire uma concretude sensorial. A psicologia como sizígia não dissocia monoteísmo de
politeísmo, sendo um monoteísmo de conceito (demanda do espírito) e um politeísmo de
imagens (demanda da alma). Não é a simples soma de um com o outro, mas a negação de um
através do outro que simultaneamente conserva um no outro. A psicologia despersonifica as
imagens pensando-as ao mesmo tempo em que personifica o pensamento imaginando-o, e ela
só é psico-lógica se existe como a realização desse movimento urobórico onde cada oposto
devora e cria a si-mesmo no outro.

PRINCÍPIO DA COERÊNCIA

O princípio que rege a dialética não é o princípio da não-contradição que rege a lógica
analítico-formal, mas o princípio da coerência, que nega-conserva o princípio da não-
contradição. O princípio da coerência conserva a importância da contradição para razão, mas
nega que ela seja aquilo que a impossibilita, pois razão é movida pela contradição, sendo o
que ela é em-si-mesma. O princípio da coerência é a identidade-diferenciada de dois outros
princípios.
O primeiro é o princípio da identidade, tão básico e fundamental que quase nunca nos
damos conta que o estamos utilizando. Ele diz que A é A, e está sendo sempre pressuposto
como verdadeiro. O princípio da identidade se divide em três subprincípios23.
Identidade simples: Quando se diz A ou qualquer outra coisa, está se dizendo uma
identidade simples. O A se destaca do seu pano de fundo e aponta para algo de determinado.
Mas apesar de apontar e dizer algo determinado não há ainda uma predicação completa visto
que sujeito e predicado não foram distinguidos um do outro24.
Identidade Interativa: O primeiro A se repete tornando-se A e A, podendo se repetir de
novo e de novo tornando-se A, A, A. Enquanto a repetição é interativa é repetição do mesmo,
não surgindo nada de novo. Mas identidade interativa é a primeira e mais básica forma de
multiplicidade, e apesar de ser ainda uma multiplicidade do mesmo, é a partir dela que se
inicia o movimento25.
Identidade reflexa: Começa quando se diz que A é igual a A. Aqui a identidade chega
à plenitude, sendo agora possível formular a primeira predicação onde o sujeito é o primeiro
A e o predicado o segundo A. Assim surge a tautologia, A = A, a mãe de todas as predicações
ulteriores26.
O segundo princípio é o princípio da diferença, que começa quando se acrescenta à
série de A, A, A, algo que não é apenas a repetição de A. Diferença é tudo que não é A. Essa
diferença ainda é indeterminada, abstrata, determinando-se quando o não-A se torna B, C, D e
assim por diante27.
Quando estes dois princípios se encontram três coisas podem acontecer. Um do dois
permanece enquanto o outro desaparece. Os dois desaparecem e nada resta. Na terceira opção
entra em cena o princípio da coerência, que funciona por meio de uma contradição concreta.
Dizer A e não-A anula o dito, nada sobra, a razão silencia e o caos irracional prolifera. Em
uma contemporaneidade dominada pela razão instrumental tecno-científica, o irracionalismo
caótico é por demais sedutor e se dissemina como formação reativa. Um é o outro-si-mesmo
do outro28. Mas se esse não-A assume a forma determinada de um B ou C é preciso se deixar
permear pelo conflito entre os dois e refletir se o que na aparência é regido por Marte, na
essência o é por Vênus. O que na razão analítica é excludente, na razão dialética é includente.
O que em uma paralisa a ação da razão para outra é o combustível do seu movimento. Na
dialética a contradição existe, não é impossível, e é através dela que a razão re-flexiona em-si-
mesma se reencontrando no interior do próprio real.
O princípio da coerência é a unidade dos dois princípios que aparentemente se
excluem. Identidade é aquilo que não é diferença e diferença é aquilo que não é identidade. O
ser de um é o não ser do outro, e por isso o conceito de identidade é a negação do conceito de
diferença e o conceito de diferença é a negação do conceito de identidade. Os dois só são
coerentes consigo por incluírem na sua afirmação a negação do outro. A identidade do
princípio da identidade consigo mesmo só se dá a partir da diferença com o princípio da
diferença, assim como a identidade do princípio da diferença consigo mesmo só ocorre a
partir da diferença com o princípio da identidade. Identidade contém a diferença em-si e a
diferença contém a identidade em-si. Esse é o princípio da coerência, identidade da identidade
e da diferença, que é a sizígia expressa na linguagem conceitual do animus e cujas
manifestações concretas são o objeto de estudo da psico-logia.

DIALÉTICA E HISTÓRIA

A dialética não é relação no sentido de uma estrutura estática, mas no sentido de uma
circulação contínua entre os opostos. Esse devir não é temporalmente extensivo, vindo do
passado ao presente em direção ao futuro, mas é aprofundamento total e completo no presente
que é efeito e causa do passado e do futuro. O tempo psicológico não é linear, extensivo, pois
não flui apenas num sentido, do passado para o presente e deste para o futuro, mas também
flui do futuro para o presente e deste para o passado. Futuro, presente e passado se co-
determinam e a psicologia lida com um passado que é presente e um presente que é passado, e
com um futuro que é presente e um presente que é futuro, ou seja, com um presente absoluto,
unidade autocontrária de passado e futuro.
O presente não apenas determina e é determinado pelo passado, mas também
determina e é determinado pelo futuro. Por ser a identidade-diferenciada do passado e futuro,
porta em si as sementes da sua própria negação, de um futuro ainda incerto que pressiona para
nascer. O presente é o momento imanentemente negativo que desvanece assim que germina,
tornando-se desde já passado e sendo sempre um futuro que estar por vir. Ele é uma flor que
negou-conservou o botão de onde nasceu e carrega as sementes do fruto que a sucederá, sendo
assim uma trans-imanência, uma imanência que por conter o negativo em-si é devir que
transcende a si-mesma.
Estamos total e completamente enraizados no presente sendo impossível observar
com neutralidade o passado que é a fonte do próprio presente onde nos enraizamos. Olhamos
para o passado a partir do que vivemos no presente e na medida em que alteramos o presente
olhamos para o passado de forma diferente e descobrimos nele as causas para essa nova forma
de ser presente. É o presente retornando infinitamente a si-mesmo.
A psicoterapia, enquanto processo de reconstrução da história do paciente, é
arqueologia do passado que transforma o modo de abordá-lo ao alterar o presente que é
causado por este passado, e que por isso causa um novo olhar para o passado que é a causa
desse novo presente. Presente e passado são causa e efeito um do outro, e nada existe na causa
que não esteja no efeito, assim como não há nada no efeito que não esteja na causa. O que é
efeito é uma causa com efeito próprio e o que é primeiro causa é em-si-mesma, efeito e tem
uma causa adicional própria. Causa e efeito contém um ao outro sendo inseparáveis. Ao
produzir um efeito, a causa torna-se causa sendo por isso causa de si-mesma, logo efeito de si-
mesma. O efeito é causa porque somente sua ocorrência faz com que a causa seja uma causa,
pois o que define uma causa é a sua capacidade de gerar efeito, logo a causa é efeito porque se
faz causa pelo seu efeito. Quando a reciprocidade entre causa e efeito é desfeita o resultado é
a má infinitude, a regressão infinita onde qualquer causa é efeito não do seu próprio efeito,
mas de alguma outra causa e qualquer efeito é causa não da sua própria causa, mas de algum
outro efeito. Explicar qualquer evento em si-mesmo torna-se impossível, pois seus
antecedentes causais regridem infinitamente29.
A dialética é assim uma forma sofisticada de tautologia, uma lógica ourobórica,
autopoiética, onde o movimento de partida, a causa em que se apoia, e o movimento de
chegada, o efeito posterior, retornam infinitamente um sobre o outro, interiorizando um ao
outro no conceito (sizígia) que é o alfa e o ômega de todo o movimento, porque ele é esse
movimento que interioriza a si-mesmo.
Esse devir é histórico e por isso não chegamos à antítese de uma tese através de uma
manipulação lógico-semântica a priori. No tempo intensivo o passado é presente e precisa ser
levado em consideração. É a partir da ação da história na linguagem e da linguagem na
história que os opostos se engendram. Por ser uma lógica urobórica a circularidade dialética é
absoluta e por isso o fechamento do círculo é também sua abertura às contingências históricas.
Isso implica que uma tese nem sempre possui apenas uma antítese, e uma mesma tese e uma
mesma antítese podem estar unidas de forma diferente dependendo do contexto histórico em
que são abordadas30. Aqui a história do psicólogo penetra com toda força, pois a dialética
como uma lógica da totalidade necessita incluir a história do psicólogo. O contexto total é a
unidade autocontraditória da história de vida do estudioso e da vida histórica do seu objeto de
estudo, e só se determina completamente a partir do momento em que se torna objeto de
conhecimento. Como cada estudioso é atingido de forma diferente pela história, o contexto se
determina de forma diferente dependendo do estudioso que o penetra, e o conhecimento que
nasce dessa penetração é absoluto, pois o contexto conhece a si mesmo através do estudioso
que o pensa a partir de dentro.
Não basta simplesmente colocar o “não” na frente de um predicado para engendrar
uma verdadeira contradição. Se na lógica analítica basta pôr o não em uma proposição
afirmativa para construir uma proposição negativa, o mesmo não ocorre na dialética, que é
fiel a contingência histórica ao não deduzir a priori uma lista de pólos contrários com suas
respectivas sínteses. Dizer que o contrário de A é não-A é por demais indeterminado. Uma
coisa é A ou é não-A e assim conjunto A e não-A inclui tudo que existe de forma
indeterminada31. Afirmar por exemplo que a psicologia é uma disciplina subjetiva e não-
subjetiva é jogá-la na indeterminação, afinal tudo que não é subjetivo estaria incluído na
psicologia, podendo ser ela uma disciplina matemática, geológica, anatômica, enfim qualquer
coisa. Ao penetrarmos na história da psicologia veremos que a subjetividade e a objetividade
estão em luta, uma se afirmando sobre a outra, e assim atingiremos uma verdadeira oposição,
onde cada pólo é rico em conteúdos que se negam mutuamente. Aí teremos a chama
necessária para a dialética, visto que cada pólo determina-se porque os seus conteúdos negam
os conteúdos do pólo rival, e por isso precisa dele para poder se afirmar. Na contradição entre
a subjetividade e a objetividade há uma dialética concreta em ação.
Esta unidade que inclui a diferença é a mysterium coniunctionis, a separação e síntese
dos compostos que tanto fascinou os alquimistas e Jung depois deles. Esta unidade negativa
não é visível ao primeiro olhar. Apenas através da intensidade reflexiva da oposição que
constitui a prima matéria, é que ela é revelada-criada. No começo ela é apenas uma onda
indeterminada de possibilidades, mas que se coagula numa experiência particular no momento
que o estudioso abre todo o seu ser para receber o seu outro. Como o ser total do estudioso
está envolvido no processo de conhecer, o conceito contém a identidade negativa do estudioso
e do seu outro, sendo assim um conceito subjetivo-objetivo.
Esse processo não é restrito à subjetividade privada do homem, sendo virtualmente
presente em qualquer parte do real. Apenas a sensibilidade reflexiva do estudioso dirá se ele
está ou não diante de um processo dialético. Qualquer processo só é dialético se incluir a
subjetividade do estudioso, pois necessita dele para ser o que é. “O que a natureza deixou
incompleta, a arte aperfeiçoa”. Esse dito alquímico transparece que a natureza só é natureza
para o homem, visto que ninguém mais tem um conceito de natureza. Mas por ser natureza
apenas para o homem, ele é em sua própria natureza contra naturam.
Sem a oposição entre observador e observado não há a tensão necessária para a
dialética porque ela é a conservação-negativa dessa oposição. Supor um real em-si
incognoscível para o homem é para a dialética um nonsense, visto que o real só é real para o
homem e ninguém mais. É através do processo humano de conhecer o real que o real conhece
a si-mesmo, pois o real só é para o homem e por isso o inclui. O homem só conhece a si-
mesmo conhecendo o real de que faz parte, pois só é homem enquanto parte desse real.

A SIZÍGIA NA OBRA DE JUNG

Um pouco antes de começar a redigir os Tipos Psicológicos, Jung teve um sonho que
modificou o modo como planejava concretizar a obra. Sua intenção inicial era escrever o livro
de forma clara, lógica e apurada ao estilo de O Discurso do Método de Descartes.Entretanto,
ele fracassava ao tentar fazê-lo porque o estilo cartesiano não parecia adequado à imensa
riqueza do material que tinha nas mãos.

Quando se defrontou com essa dificuldade, ele sonhou com um enorme barco fora do porto,
carregado de maravilhosas mercadorias para a humanidade; o barco devia ser trazido para o
porto e as mercadorias distribuídas ao povo. Ligado a esse enorme barco estava um cavalo
árabe branco, muito elegante, bonito e delicado. Era um animal arisco e supunha-se que era ele
quem ia puxar o barco até o porto. Mas o cavalo era absolutamente incapaz de fazê-lo. Nesse
momento um enorme gigante de cabelos e barbas vermelhos atravessou a multidão empurrando
todo mundo. Ele pegou um machado, matou o cavalo branco e pegando a corda puxou o barco
até o porto, num único élan. Assim Jung percebeu que teria de escrever sob o fogo emocional
do que sentia e não se apegar a esse elegante cavalo branco. Daí ele foi levado por um
tremendo impulso de trabalho ou emoção e escreveu o livro praticamente de uma só vez,
levantando toda manhã às três horas da madrugada32.

A atitude cartesiana de Jung era personificada pelo cavalo árabe branco que por si só
era incapaz de levar o barco da sua obra adiante. O sonho compensou essa atitude através de
uma outra forma de consciência personificada pelo gigante ruivo cuja matança do cavalo
representa o sacrifício do intelecto necessário quando se lida com os produtos do
inconsciente. As duas figuras personificam duas formas de consciência, uma emocionalmente
bruta e a outra mentalmente refinada. O aparecimento de uma significava a morte da outra, e
o sonho poderia ser descrito como um movimento enantiodrômico onde o excesso de lógica
cartesiana transforma-se no seu oposto. Mas a lógica cartesiana, matriz do sujeito moderno, é
personificada no sonho por um animal, enquanto a emoção bruta é personificada por uma
figura humana. O animal possui uma bela e delicada brancura espiritual, enquanto o gigante
possui uma brutalidade rubra e animalesca. As imagens negam uma à outra ao mesmo tempo
em que partilham uma identidade profunda. Cada uma nega, mas é em sua própria negação a
afirmação da identidade com a outra negada.
O fruto do sonho é a obra na qual Jung envolveu-se mais extensamente com a tradição
histórica do logos. Quando as chamas emocionais incendiaram o seu pensamento ele pôde
assumir a forma implicitamente dialética que conhecemos hoje. O pensamento junguiano não
exclui unilateralmente as emoções como o faz a lógica tradicional, mas a conserva em sua
própria negação, pois a diferença entre eles é interna a ambos. Essa é a lógica implícita em
seus Tipos Psicológicos.
A função pensamento difere da função sensação de forma externa, indiferente, pois
elas não se definem mutuamente. Contudo, se penetrarmos na interioridade da função
pensamento a fim de determiná-la, de estabelecer sua identidade para descobrir de que modo
ela funciona, o que se encontra é uma outra forma de consciência negada. Esse estilo de
consciência chamada da função sentimento lida com os conteúdos psíquicos a partir do seu
valor afetivo enquanto a função pensamento estabelece conexões a partir de conceitos. Uma
complementa a outra ao mesmo tempo em que na sua mais íntima identidade a contradiz. A
função pensamento pode atuar a vontade com a função sensação e a função intuição, mas
quando se trata da função sentimento as faíscas se acendem, pois ela nega o seu
funcionamento. A identidade de cada uma se faz a partir da negação da outra, e exatamente
por isso precisa da outra para ser o que é, pois é precisamente a identidade da função
sentimento que ao ser negada torna possível a função pensamento, e vice-versa. A lógica é a
mesma na relação entre a função intuição e a função sensação33.
O conceito de inconsciente compensatório de Jung é o maior exemplo de como sua
psicologia era, implicitamente, dialética. O inconsciente compensa a consciência, sendo em
si-mesmo o outro interno a ela. O que para consciência é A, para o inconsciente é B, um
conteúdo que nega de forma determinada o conteúdo A. O inconsciente funciona como o
mundo invertido da consciência. Se uma pessoa é conscientemente introvertida encontrará o
inconsciente fora de si, nos outros externos. Se for conscientemente extrovertida o
inconsciente se manifestará através de elementos internos à sua personalidade. Como
ninguém é só um o tempo inteiro, o inconsciente é ora externo, ora interno. O próprio
conceito de inconsciente coletivo é a inversão do conceito de consciência coletiva. Em um
predomina o intelecto pragmático, no outro a imaginação lúdica, um é lógico-racional, o outro
é imaginativo-mítico, um se ocupa do progresso científico do presente para o futuro, o outro é
inundado por fantasias míticas que remontam a um passado primevo, um só acredita naquilo
que vê e pode conhecer, o outro é uma estrutura vazia e incognoscível. Nenhum é por si só a
verdade, mas só é na relação com o outro que o nega e por negá-lo o conserva. No fim de sua
vida pensando em sua obra como um todo Jung afirmou que ela enfatizava tudo aquilo que
havia sido relegado para as margens pela consciência coletiva.

Na opinião de Jung, seu trabalho proporcionava o que faltava no Ocidente. Em outras ocasiões,
ele se expressou com mais veemência a respeito de como fora recebido. Em 1958, disse para
Aniela Jaffé que a falta de receptividade demonstrada para seu trabalho não era surpresa, pois
sua obra era uma compensação. Tinha dito coisas que ninguém queria ouvir. Diante disso,
considerava maravilhoso o tanto de sucesso que seu trabalho tinha conseguido obter, e que não
poderia ter esperado mais34.

A idéia de oposição está no coração do pensamento de Jung, sendo quase um sinônimo


de vida psíquica, visto que para ele os opostos são as inerradicáveis e indispensáveis
precondições de toda a vida psíquica. Jung atribui ao filósofo grego Heráclito a paternidade da
idéia de oposição complementar.

O velho Heráclito, que era realmente um grande sábio, descobriu a mais fantástica de todas as
leis da psicologia: a função reguladora dos contrários. Deu-lhe o nome de enantiodromia
(correr em direção contrária), advertindo que um dia tudo reverte em seu contrário35.

Jung trabalhou extensivamente com o conceito heraclitiano de enatiodromia, onde


tudo que chega ao seu extremo transforma-se em seu oposto, mas ele não ouviu o que
realmente o conceito falava, e temerosamente isolou a psicologia da insana fluidez
enantiodrômica. Jung recuou diante do insight que algo é mais extremamente si-mesmo
quando é também o seu outro. Ele preferiu se proteger isolando-se desse inquieto si-mesmo na
calma paz do meio-termo.

No entanto, se o indivíduo conseguir reconhecer o inconsciente a modo de fator co-


determinante, ao lado, do consciente, vivendo do modo mais amplo possível as exigências
conscientes e inconscientes (isto é, instintivas), então o centro de gravidade da personalidade
total deslocar-se á. Não persistirá no eu, que é apenas centro da consciência, mas passará para
um ponto por assim dizer virtual, entre o consciente e o inconsciente: o si-mesmo (Selbst)36.

Neste local estático abstraído de ambos os pólos, ele escapou da dissolução dialética
não pagando o preço exigido pela enantiodromia, continuando a pensar os opostos
externamente. Mas a enantiodromia diz que quando algo torna-se absolutamente idêntico a si-
mesmo, afirmando-se em sua máxima intensidade, nega-se tornando-se o seu oposto. Em
termos lógicos isso revela que algo é absolutamente si-mesmo a partir do seu outro. A
absoluticidade de algo é a sua relativização não por um outro qualquer, mas pelo outro que
algo é. O absoluto é relação, identidade da sua identidade consigo mesmo e da sua diferença.
Algo é si-mesmo um outro-em-si , estando mais intimamente dentro de si ao exteriorizar-se
como um outro numa exterior-intimidade.
A enantiodromia exige que a consciência não se abstraia, mas seja ela mesma esse
movimento onde a intimidade absoluta nega-conserva-se como exterioridade absoluta, como
uma extimidade. É isso que os chineses tentavam expressar por meio do Tao. O problema é
que enquanto o diagrama Yin-Yang for uma imagem, um conteúdo da consciência, ele ainda
será estático. A consciência precisa se dissolver nele deixando-o permeá-la, tornando-se una
com ele em seu próprio movimento. Quando isso acontece cada pólo se revela-cria como
indivisível por doar-se ao seu outro, visto que sua indivisibilidade é em-si a sua doação,
individoação.
Jung afirmava que a psique era o terceiro excluído por conciliar a oposição entre esse
in intellectu e esse in re através da sua principal atividade, a fantasia37. Quando ele afirma
que a psique cria realidade todo dia e que o nome dessa realidade é fantasia, não precisamos
entender que primeiro existe uma realidade concreta, que contém um ser humano, que contém
uma psique em seu interior subjetivo, e que entre uma de suas inúmeras atividades está a de
transformar fantasia em realidade. Essa abstração extensiva não consegue captar a inter-
relação entre fantasia e realidade. Quando a razão abstrata afirma que algo é fantasia, significa
que não é realidade, que é uma criação subjetiva. Quando afirma a realidade de algo, nega que
esse algo seja uma fantasia, que pertença à esfera subjetiva do homem. Realidade e fantasia
são categorias reflexivas, negam uma à outra de forma absoluta, pois negam a outra
colocando-a como externa a si. Como são em si-mesmas essa negação da outra, também
negam a identidade abstrata de cada uma consigo mesma. Essa dupla negação é o que torna
fantasia e realidade a negação absoluta uma da outra, e por isso a afirmação absoluta uma da
outra. Psicologia é a consciência da realidade interna à fantasia e da fantasia interna a
qualquer realidade.

SIZÍGIA EM AÇÃO

A história recente foi testemunha de uma sizígia cuja tensão pôs o mundo inteiro de
sobreaviso diante da ameaça de total e completa destruição nuclear. De um lado os Estados
Unidos, autointitulado campeão da liberdade individual, mas cego para sua sombra
coletivista, para os movimentos massificantes da cultura pop fabricados por multinacionais
que manipulam tão eficientemente os gostos e opiniões pessoais ao ponto de fazerem os
indivíduos acreditarem que compram seus produtos de acordo com sua livre e espontânea
vontade. Do outro lado estava a União Soviética, autointitulada representante do socialismo
comunista, que para poder funcionar esmagava a liberdade individual ao mesmo tempo em
que cultuava certos indivíduos escolhidos pelo Partido para representarem a alma coletiva,
cujos exemplos mais significativos foram Lênin e Stalin. Ao redor da aura fornecida por eles
circulava uma elite que lutava pela abolição da propriedade individual, mas gozava dos
privilégios exclusivos daqueles que possuíam grande poder político. Cada metade do par
atuava a sombra da outra metade, sua extimidade. O resultado foram décadas de guerra fria e
paranóia nuclear.
Um outro exemplo da sizígia provém de uma paciente que procurou atendimento
queixando-se de de que ria em excesso. Tal queixa me surpreendeu já que geralmente as
pessoas procuram atendimento psicológico por excesso de tristeza e não por rirem à toa. Sua
queixa era de que seu riso se dava de uma forma descontrolada e nas situações mais
constrangedoras. Uma vez presenciou uma senhora cair na rua e enquanto alguns pedestres
tentavam ajudá-la, a paciente não conseguia parar de rir, mesmo que por dentro sentisse que
devia ajudar a senhora e não constrangê-la ainda mais. Quando estava na igreja ria das
pessoas que ao subirem no altar erravam a leitura de trechos da Bíblia devido ao nervosismo,
constrangendo-as ainda mais e a si mesma por não conseguir se controlar ao ponto de ter que
sair da igreja para não atrapalhar a cerimônia. Nas situações mais improváveis ela caia na
gargalhada mesmo que usasse todas as suas forças para se conter.
Ela também se queixava de que sua memória era péssima. Era comum ela sair de casa
para resolver algo importante e esquecer o que era no meio do caminho. Ela contou que
tentava controlar sua risada lembrando de certas cenas tristes da sua vida, apesar de ter
esquecido a maioria. Mas uma que sempre recorria para se conter era a morte do pai ocorrida
na sua infância. Ela guarda poucas imagens dele na memória, mas lembra que ele traia sua
mãe constantemente e que por causa disso eles brigavam muito. Ele morreu assassinado por
uma das suas amantes. Apesar das esparsas lembranças ela recordou de algumas cenas da
infância, das brigas que tinha com a mãe, que ela sentia como bastante controladora, e que se
enfurecia porque ela a desafiava constantemente. Às vezes as brigas acabavam em surras
violentas onde sua mãe agarrava sua cabeça e batia contra a parede.
O que o riso compulsivo ocultava era a tragicidade que atravessava sua vida. As
gargalhadas descontroladas e as falhas de memória eram sintomas que serviam de cura para
sua infância dolorosa. Ao servir de barreira esse sintoma presentifica em sua própria forma de
ser aquilo que tenta ausentificar, pois seu riso era permeado por uma agressividade que não
hesitava em humilhar as pessoas de quem ria, como seus dentes expostos ameaçassem
mastigar a dignidade delas. O que o sintoma revelava em seu próprio ocultar era o seu outro
interno, e o trabalho psicológico desenvolveu-se na busca da re-união desses opostos sem
desrespeitar a diferença que marca cada um. Era importante que ela levasse a sério os
aspectos trágicos da sua vida, respeitando sua importância, e ao mesmo tempo não os levasse
a sério demais, sabendo rir mesmo das piores situações, permitindo-se esquecer a tristeza o
suficiente para recomeçar a vida sem que o ressentimento a paralisasse. O sintoma é em si-
mesmo sua própria cura, e reconhecê-lo significa iniciar a consciência no mistério
tragicômico da vida, onde a gravidade do sério Mercúrius Senex anda de mãos dadas com a
leveza cômica do Mercúrius Puer.
Trata-se de um ritmo normal em reações humanas, ilustrado, por exemplo, no teatro clássico
grego, onde três tragédias são seguidas por uma comédia. Ninguém podia ir para casa depois
de ter visto Édipo Rei e duas outras peças no mesmo tom; tinha de haver no final uma das
comédias de Aristófanes, para que todos os espectadores rissem a bandeiras despregadas. Ou
existe o mecanismo típico em que, no momento mais solene de um funeral, uma pessoa vê
subitamente algo burlesco e tem uma reação nervosa que a faz querer rir. É o clímax de
excitação que se converte no desejo de rir; ninguém pode suportar por muito tempo uma
condição trágica exagerada, de modo que, ocasionalmente, sente-se compelida a levá-la para o
lado da troça. Isso também explica a Missa Jocosa da Idade Média. Durante 364 dias por ano, a
Missa e a Hóstia são recebidas com a maior seriedade e, um dia por ano, a liturgia era
simplesmente um motivo de chistes. Ou, no ritual dos índios norte-americanos, onde existe um
palhaço que pertence ao clã Thunderbird, que escarnece das cerimônias mais sagradas, fazendo
comentários obscenos e chistes a respeito delas38.

***

A psicológica é a dialética éxtima, trans-imanente a qualquer fenômeno. É uma


análise-sintetizante, um eros-lógico, uma teoria-prática. E a psique é a verdade interna a todo
e qualquer ser, e sendo um outro-em-si, só é ela mesma quando refletida no seu outro-si-
mesmo, o logos. E isso é psicologia, a unidade/diferenciante entre psique e logos.

andre.mercurio@hotmail.com

NOTAS

* Este texto é parte do livro PSICOLOGIA DIALÉTICA: UMA CRÍTICA INTERNA À PSICOLOGIA
JUNGUIANA, escrito pelo autor e disponível em http://clubedeautores.com.br/book/3630--
Psicologia_Dialetica

1.HILLMAN.J, Psicologia Arquetípica. São Paulo: Cultrix, 1995.


2.HILLMAN.J,O Livro do Puer. São Paulo: Paulus,1998.
3.HILLMAN.J, Anima. São Paulo: Cultrix, 1995.
4.JUNG.CG, Os Arquétipos e o Inconsciente Coletivo, Obras Completas Vol IX/1. Petrópolis: Editora
Vozes, 2000.
5.HILLMAN.J, Anima.
6.JUNG.CG, ibid, p.81.
7.HILLMAN.J,ibid.
8.HILLMAN.J,ibid.
9. HILLMAN.J,ibid.
10.JUNG.CG, Ab- reação, Análise dos sonhos, Transferência. Obras Completas Vol XIV/2. Petrópolis:
Editora Vozes,1987.
11.JUNG.CG, Mysterium Coniunctionis, Obras Completas Vol XIV/1. Petrópolis: Editora Vozes, 1985.
12.HILLMAN.J,ibid.
13.HILLMAN.J,ibid. p.191.
14. HILLMAN.J,ibid, p.187.
15. Existência no sentido de aparecer, de manifestar-se, de ser efetivo, seja material, mental, ou
emocionalmente.
16.HILLMAN.J, Re-Imaginar la Psicologia. Madrid: Siruela, 1999.
17.HEGEL.GW,The Science of Logic. Disponível em
http://www.marxists.org/reference/archive/hegel/hl_index.htm.
18.GIEGERICH.W, The Neurosis of Psychology. New Orleans: Spring Journal Books, 2005.
19.HILLMAN.J, Entre Vistas.p.65. São Paulo: Summus, 1989.
20.GIEGERICH.W, MILLER.D, MOGENSON.G Dialectics & Analytical Psychology. New Orleans:
Spring Journal Book, 2005.
21. JUNG.CG, Cartas Volume II.pp.334, 335. Petrópolis: Editora Vozes, 2002.
22.BERNARDI.C, Individoação:do Eu ao Outro, Eticamente. Disponível em
http://www.rubedo.psc.br/artigosb/jgetiind.htm.
23.CIRNE-LIMA.C, Dialética para Principiantes. São Leopoldo: Editora UNISINOS, 2002.
24.CIRNE-LIMA.C,ibid.
25.CIRNE-LIMA.C,ibid.
26.CIRNE-LIMA.C,ibid.
27.CIRNE-LIMA.C,ibid.
28.Segundo a teoria da complexidade caos e ordem pertencem um no outro, visto que toda ordem oculta
em-si uma desordem, e todo caos contém uma ordem não percebida de imediato.
29.HEGEL.GW,ibid.
30.CIRNE-LIMA.C,ibid.
31.CIRNE-LIMA.C,ibid.
32.VON-FRANZ.ML, A Sombra e o Mal nos Contos de Fadas.São Paulo: Edições Paulinas, 1985.
33.JUNG.CG, Tipos Psicológicos.Rio de Janeiro: Editora Guanabara,1987.
34.SHAMDASANI.S, Jung e a Construção da Psicologia Moderna. p.375 São Paulo: Idéias & Letras ,
2005.
35.JUNG.CG, Estudos Sobre Psicologia Analítica,Obras Completas Vol VII.p.64-65. Petrópolis:
Editora Vozes,1981.
36. JUNG.CG & R.WILHELM, O Segredo da Flor de Ouro. p.59. Petrópolis: Editora Vozes,1984.
37. JUNG.CG, Tipos Psicológicos.
38. VON-FRANZ.M.L, Alquimia, p.175. São Paulo: Cultrix, 1993.

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