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Em algumas narrativas, a presença ou a alusão a figuras míticas, cujo significado simbólico está no
inconsciente coletivo, pode ser a ponte para revelar os complexos processos da subjetividade humana.
Ela pode revelar através de seus símbolos e significados, a trajetória do processo potencial de
individuação, da busca de si mesmo, os conflitos interiores e sua compreensão do sentido da vida e do
"vir a ser". O imaginário é constituído pelas imagens que surgem espontaneamente na nossa vida interior,
ou imagens que encontramos no mundo que são de alguma forma significativos ou provocativos para nós.
Os símbolos podem normalmente ser expressos através de imagens, mas também através de qualquer
coisa que tenha a capacidade de evocar uma resposta emotiva. Em outras palavras, o valor simbólico da
imagem ou objeto tem a capacidade de provocar, suscitar a paixão, instilar o medo ou estimular outras
emoções, sem uma certeza por que isso ocorre. A ideia é que, apesar de certos sentimentos e associações
serem expressas em resposta ao símbolo, a relação com ela não se esgota. Isto é porque esta relação é
mais profunda do que a que pode ser articulada conscientemente.
Não precisam ser apenas imagens. Por exemplo, a música tem uma ressonância simbólica forte. Uma
pessoa pode ser emocionalmente estimulada ou movida por uma música. Geralmente associamos à uma
sensação, uma música que pode ser alegre ou triste, mas sem necessariamente sabermos porque aquela
música em particular tem o efeito emotivo que provoca. Dança e outras formas de expressão artística têm
também ressonância simbólica. Por que é que uma pessoa ama um determinado estilo de roupa, música
ou um local?
Há um conjunto de associações que têm um significado particular e específico para o indivíduo e por essa
razão ele transcende todas as demais coisas que se lhe assemelham. Uma característica fundamental de
um tal símbolo é que ele não pode ser exaustivamente descrito. Ela tem um significado que não só está
consciente, mas também inconsciente. Um princípio básico na discussão sobre os símbolos é que ele
contém um significado que é sentido e que é experimentado emocionalmente, ainda que não possa ter seu
significado totalmente articulado.
Em termos psicológicos expressa algo que não é unicamente consciente, mas algo que é inconsciente. Os
símbolos são importantes na psicologia Junguiana, porque eles oferecem uma maneira de construir uma
ponte para o inconsciente. Eles são a linguagem do inconsciente, e trazem para nós algo a mais que
enriquece aquilo de que temos consciência. O símbolo amplia o conteúdo consciente.
O significado atribuído ao símbolo não emerge da literalidade. Não é o veículo ou trabalho que tem um
significado inerente. Essas coisas tornam-se significativas porque tornaram-se símbolos pela maneira que
eles são experienciados.
Em sua discussão dos complexos, Carl Jung fez uma distinção importante entre os arquétipos que
constituem os blocos básicos da psique e a rede de associações pessoais que os rodeiam. Um arquétipo
forma o núcleo de um complexo, e nossas associações pessoais formam o arcabouço que circunda esses
núcleos.
O mapa natal se afigura como uma ferramenta simbólica, muito como um sonho, ou um desenho de
mandala. A autoridade final sobre um seu conteúdo é do paciente. O analista e o analisando procuram
colaborativamente encontrar o significado nos símbolos. E é a capacidade do astrólogo para conectar as
experiências cotidianas do cliente à esta linguagem simbólica de uma maneira significativa, que permite
os desdobramentos da alma no processo terapêutico.
Jung pensou em arquétipos como constituintes básicos da psique humana, autóctones, compartilhados de
forma Inter cultural por todos os seres humanos; e expressões universais de um inconsciente coletivo. Os
arquétipos conferem sentido e significado à vida psíquica, são herança espiritual e estão presentes no
inconsciente coletivo como estruturas que revelam experiências humanas individuais e coletivas
Ao que Richard Tarnas acrescenta: " Muito antes, a tradição platônica considerava arquétipos como
expressão não só psicológica, mas também cósmica e objetiva; como formas primordiais de uma Mente
Universal que transcendia a psique humana.
A Astrologia parece se apoiar na visão platônica, bem como na Junguiana, uma vez que dá provas de que
os arquétipos Junguianos não só são visíveis na psicologia humana, na experiência humana e
comportamento, mas são também ligados ao próprio macrocosmo - os planetas e seus movimentos nos
céus. Astrologia apoia, assim, a ideia antiga de um Anima Mundi, ou alma do mundo, em que a psique
humana participa. A partir desta perspectiva, o que Jung chamou o coletivo inconsciente pode ser visto
como sendo em última análise, embutidos dentro do próprio cosmos. "
Segundo o dicionário de Símbolos de Jean Chevalier, uma das interpretações da cruz é ... " de síntese e de
medida. Nela se juntam o céu e a terra.... Nela se confundem o tempo e o espaço. Ela é o cordão umbilical
jamais cortado, do cosmo ligado ao centro original. De todos os símbolos, ela é o mais universal, o mais
totalizante. Ela é o símbolo. Ela é o símbolo do intermediário, do mediador, daquele que é, por natureza,
reunião permanente do universo e comunicação terra e céu, de cima para baixo, e de baixo para cima".
(CHAS 31-32)
Na simbologia celta a cruz é contida num círculo e tem um círculo na intersecção dos dois braços
transversais. A correspondência quaternária ilustra a repartição dos quatro elementos: ar, terra, fogo, água
e suas qualidades tradicionais: quente, seco, úmido e frio. (CHEVALIER, Jean - Dicionário de símbolos
p. 313).
De acordo com a biografia desenvolvida por Deirdre Bair sobre Jung, foram as palestras de W. Pauli de
1948 no Clube de Psicologia de Zurique: "A Influência das Ideias Arquetípicas sobre as Teorias
Científicas de Kepler" que levaram Jung a escrever seu trabalho Synchronicity An Acausal Connecting
Principle que incluíram as experiências astrológicas de Jung. As palestras de Pauli e o ensaio de Jung
foram originalmente publicados juntos como um livro em 1952: "The Interpretation of Nature and the
Psyche".
No prefácio de seu livro "Sincronicidade", lemos: " ao realizar este meu trabalho, tive o interesse e o
apoio decidido de uma série de ´personalidades que são mencionadas no decorrer do texto. Aqui gostaria
de expressar meu particular agradecimento à Dra. L. Frey-Rohn, pela dedicação com que providenciou o
material astrológico". Agosto de 1950. C.G. JUNG
É também interessante notar que sua filha Bret Baumann-Jung foi proeminente Astróloga na Suíça, tendo
colaborado estreitamente com seu pai não só em seu trabalho Sincronicidade, mas também elaborando a
partir de certa idade, os mapas dos clientes.
Outro aspecto importante é o desenvolvimento do conceito de arquétipo, aplicado pelo antropólogo
Joseph Campbell e compartilhado com Jung.
Em recente palestra proferida por Bob Walter, presidente da Joseph Campbell Foundation, perguntei
como se deu o contato entre os dois. Segundo Bob, Joseph Campbell ficou interessado e compareceu ao
Círculo de Eranos. O Círculo de Eranos é um marco na história do pensamento humano no que tange a
produção científica de textos fenomenológicos e antropológicos. Este seleto grupo de eméritos
pesquisadores das áreas da ciência da religião, psicologia, história da religião, mitologia e fenomenologia,
se reunia no Lago Maggiore, em Ascona, Suíça. Este círculo de pensadores que se reuniram a partir de
1933, visavam tratar dos estudos promovidos por suas áreas da ciência acerca do tema espiritualidade, um
verdadeiro banquete intelectual que reuniu diversas personalidades, dentre elas Carl Gustav Jung,
representantes das chamadas Escolas de Psicologia Profunda, História Comparada e da Religião,
Epistemologia, Folclore, entre outros. O círculo também tinha como meta a aproximação epistemológica
dos vários ramos do estudo do sagrado.
Joseph Campbell compareceu incógnito como ouvinte, mas logo foi identificado por Emma, esposa de
Jung que o convidou para um chá da tarde em sua residência. Jung chega em casa e é apresentado à
Joseph e Emma sugere que seria fenomenal uma palestra, contribuição de Joseph Campbell no encontro
de Eranos no próximo ano, ao qual Joseph Campbell compareceu então como convidado. Nessas duas
oportunidades Campbell e Jung conversaram longamente sobre o que se tornou um dos pilares da
psicologia Junguiana
A seguir a título de exemplo, alguns trechos de trabalhos de Jung que empregam diretamente Astrologia.
Em Sincronicidade, lemos:
" Desde a Antiguidade a correspondência mitológica, astrológica e alquímica tradicional neste sentido é a
coniunctio solis (A) et Lunae (B), a relação amorosa entre Marte (E) e Vênus (D), assim como as relações
desses astros com o Ascendente e com o Descendente. Esta relação deve ter sido introduzida na tradição,
porque o eixo do ascendente foi considerado, desde tempos imemoriais, como tendo uma influência
particularmente importante no caráter da personalidade.
Por isso seria preciso investigar se há um número maior dos aspectos coincidentes A - B ou E -
D nos horóscopos das pessoas casadas do que em relação àqueles não casados".
Em outro trabalho, Jung escreve:
Desde o Timeu, de Platão, tem sido costume lembrar que a alma é elemento redondo. Como
Anima Mundi, ela gira conjuntamente com a roda do mundo, cujo cubo é o polo. É por isso que aí se acha
o coração de Mercúrio, que é, com efeito, a Anima Mundi. À roda do Universo estrelado corresponde o
horóscopo, o thema tès genesis, isto é, a divisão do céu em doze casas, divisão esta que é orientada,
juntamente com a primeira casa, para ascendente o momento preciso do nascimento. [...] O sentido
fundamental do horóscopo consiste em que ele traça, antes de tudo, um quadro da constituição psíquica, e
depois, também, da constituição física do indivíduo, sob a forma das posições dos planetas e suas relações
(aspectos), bem como da repartição dos zódia pelos diversos pontos cardeais. O horóscopo representa,
portanto, sobretudo um sistema de qualidades originais e fundamentais do caráter e, por isso, deve ser tido
como o equivalente da psique individual. JUNG, 1934-2013, p. 163-4, § 212
Em seu tratado Aion, seu objetivo é iluminar "A mudança da situação psíquica dentro do" eon cristão ".
O simbolismo zodiacal apoia a sua pesquisa, pois o "eon cristão" e a Era dos Peixes são sinônimos. Em
um ponto Jung faz uma declaração abrangente:
"O curso da nossa história religiosa, bem como uma parte essencial do desenvolvimento de nosso
psiquismo poderia ter sido previsto de forma mais ou menos precisa, tanto em termos de tempo como de
conteúdo, desde a precessão dos equinócios até a constelação de Peixes. "
A "a precessão dos equinócios através da constelação de peixes", faz uso analítico de uma técnica
astrológica baseada no simbolismo dos equinócios no pano de fundo do zodíaco, que descreve as grandes
idades ou eon da história humana. Jung inspirou a inteligência da astrologia para mexer com sua
imaginação e aprofundar sua visão, mas, ao fazê-lo, também valida a arte antiga.
A Astróloga Maggie Hyde resumiu bem:
"O pensamento de Jung sobre a Era dos Peixes foi seminal para os astrólogos. O trabalho é influente
porque revela o simbolismo astrológico em grande escala, trabalhando em uma fronteira entre fatos
astronômicos e imaginação subjetiva. A reverência de Jung pelos antigos mistérios trouxe vida aos mitos,
permitindo-lhes entusiasmar e hipnotizar. Mas imagens míticas também foram símbolos e metáforas de
padrões arquetípicos da experiência humana. Através da articulação de Jung desses padrões, os astrólogos
puderam recuperar e comunicar uma expressão mais ampla e profunda de seu próprio trabalho. "
Portanto, a Astrologia foi incorporada ao trabalho de Carl Gustav Jung desde muito cedo e os textos
acima sugerem que seu conteúdo eminentemente simbólico, foi importante na compreensão, articulação
da abordagem e prática Junguiana. Os conteúdos astrológicos permeiam vários de seus textos e ele
conseguiu propor uma ampliação da compreensão do conteúdo e do papel da Astrologia como a mais
antiga ferramenta de análise e compreensão da psique e indispensável para todo aquele que se propõe a
estudar e compreender a alma humana.
Deborah Jean Worthington, astróloga e analista em formação pelo IJEP
E-MAIL debbieworth@outlook.com
Consultórios Alto da Boa Vista e Vila Madalena
Fone: (11) 97507 7988
REFERÊNCIAS:
BAIR, Deirdre - Jung uma biografia Volumes I e II - São Paulo; Globo, 2006
CHEVALIER, Jean - Dicionário de Símbolos
GREENE, Liz - Seminário: JUNG’S ASTROLOGY AND THE PLANETARY JOURNEY OF THE
RED BOOK; Cornwall, May 2017 and co-hosted by The Faculty of Astrological Studies.
FREUD, Sigmund - A correspondência completa de Sigmund Freud e Carl G. JUNG - William McGuire
(organização) - Rio de Janeiro; Imago, 1993JUNG, C.G - Letters Volume I 1906- 1950. Volume II 1951 -
1961 USA; Princeton University - 1973.
JUNG, C.G. - Aion. Petrópolis, Vozes, 2012
JUNG, C.G. - Sincronicidade; Petrópolis. Vozes, 2012
JUNG, Carl Gustav. WILHELM, Richard. O segredo da for de ouro: um livro de vida
chinês. Petrópolis: Vozes, 2012.
JUNG, Carl Gustav. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis: Vozes, 2012
HYDE, Maggie - Jung and Astrology, the Aquarian Press; London: 1992