Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
São Paulo
2022
Astros e Arquétipos
de Tereza Kawall
Editor
Eldes Saullo
Revisão
Cheila Vargas
Casa do Escritor
Copyright © Tereza Kawall 2022. Reservados todos os direitos. Nenhuma parte
desta obra poderá ser reproduzida por fotocópia, microfilme, processo
fotomecânico ou eletrônico sem permissão expressa da autora.
AGRADECIMENTOS
Pela confiança, encorajamento e cumplicidade, agradeço a Roberto
Gambini, Luiz Seabra e Luís Pellegrini.
Pela amizade eterna, agradeço a Marylou Simonsen e Liane
Leipnitz.
Pelo amor às estrelas, agradeço a Willy Wirtz, Antonio Carlos Bola
Harres, Divani Terçarolli, Ciça Bueno, Douglas Marnei, Constantino
Riemma, Maria Theresa Sandoval, Cleide Guedes, e Valdenir
Benedetti (in memoriam).
Pelo incentivo e amizade agradeço a Tito Cavalcanti, Sonia
Mendonça, Aspasia Papazanakis, Daniel Silva, Solange Rosset,
Sandra Amaro, Malu Benevides, Neusa Sauaia, Katia Bueno, Vera
Lessa, Amnéris Maroni, Marcia Ferreira, Fernando Fernandes, Lilian
Gouvea, Arnaldo Bassoli, José Jorge de Morais Zacharias e
Américo Sommerman.
Sumário
Prefácio
Introdução
Capítulo I
Origens da Psicologia Analítica
Jung, seu trabalho com psicóticos e a origem do termo
complexo.
Testes de Palavras: Como eram feitos?
Nise da Silveira e a chegada da Psicologia Analítica no Brasil
Breve histórico da vida de Jung
História da Astrologia no Ocidente
Reflexão
Breve histórico da Astrologia no Brasil
Capítulo II
Inconsciente Coletivo e Arquétipos
Duas facetas do Arquétipo: instinto e imagem
A Astrologia é arquetípica
Zodíaco, a Anima Mundi
A simbologia dos doze signos zodiacais
Conclusão do Capítulo
Capítulo III
Os Quatro Tipos Psicológicos
Os Tipos Psicológicos como funções da consciência
Função superior ou dominante e função inferior
Os quatro elementos na Astrologia
Fogo, Ar, Água, terra
Conclusão do Capítulo
Capítulo IV
Complexos, Multiplicidade das Imagens da Alma
O que é um complexo
Subpersonalidades: o que são
Diferentes Tipos de Personalidades
Conclusão do Capítulo
Dicas para mapear subpersonalidades ou complexos na carta
natal
Sugestões para nomear possíveis complexos no trabalho
psicoterápico
Capítulo V
Sombra
Mecanismos de defesa do Ego
Trabalhando com a Sombra
Dimensão arquetípica da Sombra
Saturno e Plutão na Astrologia
Mito de Saturno / Cronos
O Mito de Plutão e Perséfone
Simbolismo astrológico de Saturno
Trânsitos de Saturno
Simbolismo Astrológico de Plutão
Trânsitos de Plutão
Conclusão do Capítulo
Capítulo VI
Individuação
Atitude simbólica e função transcendente
Símbolos Solares
Mitologia e a Jornada do Herói Solar
O Mito de Apolo
O Sol e o Tarot
O Sol na Alquimia
Conclusão do Capítulo
Resumo das operações alquímicas mais relevantes
Capítulo VII
Sincronicidade, o Tempo Qualitativo
Definição e criação do conceito
Pesquisa astrológica de Jung
Sincronicidade e a Física Atômica
A Sincronicidade e o Zeitgeist
Trânsitos e progressões astrológicas
Ciclos planetários de desenvolvimento
Astrologia humanista ou psicológica
Conclusão do Capítulo
Capítulo VIII
A Mandala, os Símbolos do Self
Estruturas Quaternárias
Self, símbolo de totalidade
As Doze Casas Zodiacais
Doze setores da evolução humana
Conclusão do Capítulo
Considerações Finais
Bibliografia
Prefácio
Introdução
1875: Nasce Carl Gustav Jung, em Kesswil, Suíça.
1895: Entra no curso de Medicina da Universidade de Basiléia.
1900: Conclui o curso e torna-se segundo assistente de Eugen
Bleuler na clínica psiquiátrica do Hospital de Burghözli, em Zurique.
1902: Defende sua tese de doutoramento intitulada: “Sobre a
psicologia e a patologia dos chamados fenômenos ocultos”.
1903: Casa-se com Emma Rauschenbach, com quem teve 5 filhos.
1905: Qualifica-se como professor em psiquiatria da Faculdade de
Medicina na Universidade de Zurich; continua com professor até
1913.
1907: Primeiro encontro com Sigmund Freud, em Viena.
1909: Dedica-se ao estudo de mitologia comparada. Viaja com
Freud, também convidado, para dar palestras sobre a sua obra.
1910: Fundação da Associação Internacional de Psicanálise (IPA)
durante o congresso em Nuremberg. Jung é eleito o seu primeiro
presidente, entre 1910 e 1913. Deixa o Burghölzli e muda-se para
sua casa em Kusnacht, às margens do lago, perto de Zurique.
Dedica-se mais a prática psicoterapêutica.
1912: Publicação de Transformações e símbolos da Libido
1913: Rompimento com Freud. Posteriormente rompe com o IPA.
1913-1919: Confronto com o seu próprio inconsciente.
1917: Durante a Primeira Guerra Mundial, serve o exército, trabalha
como médico comandante em um campo de soldados ingleses.
1920: Viaja para o norte da África.
1921: Publicação de “Tipos Psicológicos”
1924: Viaja aos EUA, onde visita os índios pueblos do Novo México
e do Arizona.
1925: Expedição ao Quênia, África Oriental Britânica.
1928: Estudos de alquimia, com Richard Wilhelm.
1933: Torna-se presidente da Sociedade Médica Geral Internacional
de Psicoterapia.
1933-1951: Participante e professor das Conferencias Eranos, em
Ascona, Suiça.
1934: Começa a pesquisar Alquimia.
1937: Viagem para Índia. Recebe títulos de doutor honorário das
Universidades de Calcutá, Benares e Allabad.
1940: Publicação de Psicologia e Religião.
1944: Publicação de Psicologia e Alquimia. Para de lecionar na
Universidade da Basiléia.
1945: Completa 70 anos. Homenagem da Universidade de Genebra.
1948: Fundação do Instituto C.G. Jung, em Zurique.
1951: Pronuncia sua última conferência em Eranos.
1952: Publicação de Símbolos da Transformação; edição ampliada
e reelaborada publicada em 1912.
1955: Morte de Emma Jung em 1955.
1957: Escreve sua biografia: Memórias, Sonhos e Reflexões.
1961: No dia 6 de junho, morre, em sua casa, aos 85 anos. Suas
últimas palavras foram dirigidas à governanta Ruth Bailey: “Hoje à
noite vamos tomar aquele vinho tinto gostoso!”.
História da Astrologia
no Ocidente
Cosme de Médici, (1389-1464) o senhor da República de
Florença, havia solicitado a um monge italiano chamado Leonardo
da Pistoia que trouxesse da Macedônia manuscritos antigos em
latim e grego. E foi assim que recebeu os manuscritos da notável
obra dos primeiros séculos da era cristã, cujo nome era Corpus
Hermeticum[xiv], escrito em grego na Alexandria por vários autores
egípcios instruídos na cultura e filosofia grega. Cosme de Médici
havia criado a Academia Platônica de Florença com os filósofos
Cristoforo Landino e Marsílio Ficino (1433-1499). Solicitou a Ficino
que traduzisse imediatamente essa obra. Hermes Trimegisto, “três
vezes muito grande”, a quem foi atribuído a autoria desses textos,
era o sincretismo ou sobreposição do deus egípcio Thot, mestre da
escrita, da palavra divina e da inteligência e de Hermes dos gregos,
o mensageiro dos deuses, divindade da oratória, da astúcia, das
estradas e dos viajantes.
A esse respeito, comenta Sommerman:
(...) pois era tido como o arquétipo ou modelo perfeito do maior
dos reis, do maior dos sacerdotes e o maior dos sábios, e
também como o possuidor do conhecimento pleno das três
partes da sabedoria: dos fundamentos cosmogônicos e da
aplicação da alquimia, da astrologia e da teurgia, o que lhe dava
o domínio dos três mundos que são correspondentes a essas
três ciências sagradas: o mundo físico, o mundo astral e o
mundo espiritual. Ele personificava a transmissão da sabedoria
divina através dos tempos não somente aos homens, mas
também aos próprios deuses, tendo sido ele quem transmitiu,
por exemplo, a Osíris, Hórus e a Ísis[xv].
Marsílio Ficino, astrólogo, filósofo e mago florentino, teve um
papel muito relevante na Renascença Italiana, pois traduziu também
obras de Platão, Plotino, Jâmblico e Proclo.
Selecionei alguns nomes que se destacaram na construção dos
fundamentos astrológicos e astronômicos no Renascimento,
notadamente no período em que houve uma quebra de paradigma
muito importante. A astrologia, que até então era um sistema
geocêntrico, passa a ser compreendida como um sistema
heliocêntrico.
Nicolau Copérnico
Reflexão
Não tenho dúvidas de que JUNG, ao pesquisar e estudar a
Astrologia para si mesmo e para entender melhor os seus clientes,
deu a esse conhecimento mais credibilidade, através da qual muitos
de nós, astrólogos, fomos beneficiados. Hoje podemos olhar para as
Artes Mânticas e para a Alquimia, Tarot ou Kabala com reverência e
respeito, uma vez que representam a somatória de conhecimento
que percorreram os picos e os vales de distintas civilizações durante
milênios, e que permanecem vivos em nosso inconsciente coletivo.
Não há como negar que essa matriz simbólica segue exercendo
sobre muitos um grande fascínio, uma vez que estabelece essa
ligação espiritual e profunda com nossos antepassados.
No caso da astrologia, podemos imaginar as milhares de horas
de observação do céu estrelado, a olho nu, necessárias aos
estudiosos, através dos séculos, para que produzissem cálculos
sofisticados que decifrariam a engrenagem da mecânica celeste, tão
complexa e perfeita. Somos herdeiros afortunados desses homens
fantásticos e obstinados. Penso sempre que deveríamos ser gratos
a muitos deles, em especial àqueles que morreram em fogueiras por
sua obstinação para provar, a qualquer preço, as suas descobertas
e verdades aos poderosos de seu tempo. E pensar que hoje nós,
com nossos sofisticados softwares, e com alguns toques em nossos
teclados, temos toda a sagrada geometria celeste desvendada em
poucos instantes...
Urania, Jan Sadeler I, after Maarten de Vos,
Astrologia no Brasil
Inconsciente Coletivo
e Arquétipos
instinto e imagem
Os arquétipos são ao mesmo tempo imagens e instintos; são
como moedas que apresentam dois lados distintos e
complementares. A natureza instintiva de um arquétipo está
presente em inúmeras manifestações do mundo natural. Todos os
animais já nascem sabendo aquilo que instintivamente deverão
fazer para poder sobreviver. Podemos nos lembrar de inúmeras
ações surpreendentes relacionadas ao princípio arquetípico, vitais
para que as diferentes espécies da natureza não desapareçam: as
formigas buscando seu alimento de forma incansável, as rotas
migratórias dos peixes e das aves, as abelhas em ritmo frenético
construindo suas colmeias, os pássaros construindo seus ninhos e
buscando alimento para seus filhotes. Tudo o que eles fazem de
forma instintiva para a manutenção da vida não foi ensinado, foi
herdado.
Assim, os arquétipos são também padrões de comportamento
herdados (patterns of behavior), e este é o aspecto biológico do
arquétipo. Podemos percebê-los facilmente em comportamentos
instintivos presentes em toda a vida animal, que sempre se repetem
e não mudam. Na manifestação do instinto é perceptível uma ação
ou vontade, ordenadas de forma inteligente, em direção à
adequação ao objeto e à perpetuação da vida. Os instintos em si
não são criativos, pois constituem uma organização estável, ou seja,
são automáticos e repetitivos.
Para Jung, do ponto de vista psicológico há cinco grupos
principais de fatores instintivos, a saber: a fome, a sexualidade, a
atividade, a reflexão e a criatividade. A fome como impulso de
autoconservação, a sexualidade como instinto de preservação da
espécie, a ação, que é inerente a todos, o instinto criativo e a
reflexão, aspecto mais abstrato, inerente ao ser humano. Sobre o
instinto de reflexão, Jung explica:
Há um outro instinto, diferente do impulso a agir e, enquanto
sabemos, especificamente humano, que pudéramos chamar de
instinto de reflexão.(...) A reflexio é um voltar-se para dentro,
tendo como resultado que, em vez de uma reação instintiva,
seja uma sucessão de conteúdos ou estados, que podemos
chamar de reflexão ou consideração. Assim, a compulsividade é
substituída por uma certa liberdade, e a previsibilidade por uma
relativa imprevisibilidade. (...) A reflexão é o instinto cultural par
excellence, e sua força se revela na maneira como a cultura se
afirma em face da natureza.[xxiii]
Pela teoria junguiana há uma plasticidade que permite ao
indivíduo, uma vez se percebendo como um ser cultural, ter a
capacidade de viver e desfrutar de experiências criativas e
imprevisíveis ao longo da vida. Desta forma, o instinto psiquizado
ou modificado torna-se uma experiência que permite a
transformação; este é um ponto a ser destacado em sua teoria. O
instinto, ao perder sua característica da compulsividade e de
repetição, nos faz compreender a grande importância da noção de
psiquização no processo de individuação. Trata-se, aqui, de um
dos conceitos centrais da escola junguiana, o objetivo do processo
terapêutico que permitirá a esse indivíduo tornar-se cada vez mais
aquilo que ele realmente é. Na psicologia de Jung a individuação
não é só um conceito, mas também o objetivo da prática
psicoterapêutica, como veremos mais adiante.
Na psicologia analítica, há o entendimento de que o arquétipo é
como uma fôrma, uma moldura, sendo oportuno dizer que há uma
organização individual que é única para cada pessoa. Por exemplo,
todos nascemos de uma mãe, e com uma imagem a priori de mãe,
uma vez que ela já existe em estado latente, pois é arquetípica,
comum a todos. No entanto, a imagem ou a experiência que cada
um possui a respeito de sua própria mãe é única e intransferível.
Para Jung, cada indivíduo já nasce com uma fôrma do mundo, que
é uma matriz ou imagem virtual, mas esta fôrma vai adquirindo
conteúdos à medida que as experiências arquetípicas vão surgindo
no desenvolvimento do indivíduo durante sua vida; nascimento,
infância, adolescência, sexualidade, casamento, filhos, maturidade e
finalmente a própria morte. Para cada fase da vida, novas imagens
se tornam disponíveis para a consciência e esse padrão cíclico de
crescimento está relacionado com fatos empíricos da existência.
Ainda sobre o arquétipo materno, cito Sasportas:
Um arquétipo pode ser definido como a representação mental
de um instinto. Pelo fato dos seres humanos existirem há tanto
tempo, eons de tempo e processos evolutivos construíram e
estruturaram em nossa psique certas perspectivas que foram
transmitidas de geração a geração- uma espécie de “célula de
sabedoria”. Uma de nossas expectativas inatas é a de que deve
haver uma mãe ou, para ser ainda mais exato, a de que deve
haver um bico de seio. Ainda no útero esperamos que haja um
mamilo – nossa memória celular é portadora dessa expectativa.
Em nossa célula-memória também há a expectativa de um pai,
além da perspectiva de crescimento e morte. Essas imagens
existem em estado latente, antes mesmo de termos a real
experiência dessas coisas.Já nascemos com uma imagem de
mãe, com uma imagem deste arquétipo; e já nascemos com
uma imagem do pai, uma imagem do nascimento, uma imagem
do crescimento, outra da morte, etc. Mas cada pessoa tem
imagens ligeiramente diferentes acerca destes fenômenos
arquetípicos.[xxiv]
A predisposição inata é também defendida pela astrologia
psicológica ou arquetípica, pois o mapa natal, enquanto
possibilidade virtual, contém essas imagens em estado latente.
Assim, as predisposições imagéticas reveladas pelos símbolos
astrológicos da carta natal indicam tendências a uma determinada
forma de apreensão da realidade.
Marie-Louise Von Franz, que colaborou muitos anos com Jung
em inúmeras pesquisas, traduções e publicações, estudou
profundamente o simbolismo dos contos de fadas que nos permite
entender melhor o que a aparente simplicidade das imagens, fala a
todos de forma tão tocante. A respeito dessas formas estruturais da
psique diz ela:
Chapeuzinho Vermelho
Contos de fadas são a expressão mais pura e mais simples dos
processos psíquicos do inconsciente coletivo.
Consequentemente, o valor deles para a investigação científica
do inconsciente é sobejamente superior a qualquer outro
material. Eles representam arquétipos na sua forma mais
simples, plena e concisa. Nesta forma pura, as imagens
arquetípicas nos fornecem as melhores pistas para a
compreensão dos processos que se passam na psique coletiva.
Nos mitos, lendas ou qualquer outro material mitológico mais
elaborado, atingimos as estruturas básicas da psique humana
através de uma exposição do material cultural.[xxv]
Como vimos anteriormente, tanto a estrutura do corpo como da
psique, são resultados de um processo de adaptação e evolução
continuada; em nossa estrutura cerebral há várias camadas que
foram se sobrepondo durante o processo evolutivo, assinalando a
historicidade da nossa psique humana. Dito de forma mais simples,
cada indivíduo possui o seu inconsciente pessoal e familiar, mas ele
está imerso também no inconsciente de toda a humanidade, que
vem a ser essa camada mais profunda da psique humana, como
vimos no início do capítulo.
Para ratificar essa importante questão teórica, cito Jung:
O Inconsciente Coletivo não é, de forma alguma, um canto
obscuro da mente, mas o poderoso depósito de experiências
ancestrais acumuladas por milhões de anos. O eco de
acontecimentos pré-históricos, aos quais cada século adiciona
uma infinitesimal pequena quantidade de variação e
diferenciação. Como o inconsciente coletivo é, em última
análise, um depósito de processos terrenos encravados na
estrutura do cérebro e do sistema nervoso simpático, ele
constitui na sua totalidade uma espécie de eterna e atemporal
imagem-do-mundo que se contrapõe a nossa visão consciente e
momentânea do mundo.[xxvi]
Os arquétipos contêm uma reserva inesgotável do conhecimento
antigo sobre as profundas relações entre o homem, o Cosmos e a
natureza. Vamos ver em seguida como o simbolismo astrológico se
manifesta e expressa simbolicamente as experiências arquetípicas
de todos nós.
A Astrologia é arquetípica
Zodíaco vem da palavra grega zôé que quer dizer vida e diakos
que se traduz por caminho. Mas a etimologia de zôé contém zôon,
que significa animal, assim o Zodíaco pode ser traduzido ou
considerado como a rota ou caminho da vida, ou “círculo dos
animais”.
Giordano Bruno, teólogo italiano do Renascimento definiu
funções específicas para a “alma do mundo”, como prover vida
vegetativa, capacidades sensíveis, assim como a beleza e o mundo
como um todo:
Se, então, o espírito e a vida são encontrados em todas as
coisas e preenchem toda a matéria em vários graus, então eles
são o ato real e a real forma de todas as coisas. Portanto, a
alma do mundo é o princípio constitutivo formal do universo, e
de qualquer coisa que o universo inclua; quero dizer, se a vida é
encontrada em todas as coisas, então a alma é a forma de todas
as coisas; é o que controla a matéria em todos os aspectos e
predomina nos compostos, opera a composição e a consistência
das partes.[xxix]
Sobre a importância do número doze encontramos:
“Os 12 caminhos de vida ou, de outro ponto de vista, os 12
estágios de crescimento, não são exclusivos da astrologia. Se
observarmos de perto a tradição cristã, veremos que os 12
apóstolos são, em alguns aspectos, representantes de 12 tipos
humanos... O número 12 também é encontrado nos 12 filhos de
Jacó, os ancestrais dos 12 tribos de Israel. Nem esqueceríamos
os 12 portões de Jerusalém, conforme descrito no Apocalipse. O
número 12 também desempenha um papel importante em
outras culturas. Assim, o saber védico possui suas 12 Adityas,
ou 12 aspectos do “Deus do Caminho Solar”, que se manifestam
como 12 seres divinos. [xxx]
Entendemos que cada indivíduo possui uma base instintiva, dada
a priori, e também possui as imagens primordiais, que já estão
dadas a partir do mapa de nascimento. Se de um lado a estrutura
zodiacal é universal, temos a qualidade da experiência que é
individual, e que é dada no mapa astrológico, que é calculado pela
data, hora e lugar onde nasce o indivíduo. O mapa é como uma
semente que guarda de forma latente todas as potencialidades da
criança recém-nascida.
Um tema mitológico é também astrológico, uma vez que seus
símbolos estão intimamente entrelaçados e dizem respeito a
estruturas psíquicas semelhantes a todos os seres humanos. Esses
símbolos, sejam os signos, planetas, elementos, casas ou aspectos,
compõem uma espécie de partitura zodiacal, cuja melodia segue
uma ordenação sincrônica entre os fenômenos celestes e os
eventos terrestres. Eles não são causais e nem deterministas, não
devem ser interpretados dentro de uma relação de causa e efeito,
pois são compreendidos num contexto analógico, dentro do
princípio das correspondências. As histórias míticas relacionadas
aos arquétipos zodiacais são internas e externas, refletindo a alma
de uma pessoa, seus deuses regentes e seu destino. Um tema
mitológico é também astrológico, uma vez que seus símbolos estão
intimamente enraizados e entrelaçados no Inconsciente Coletivo.
Diz Sicuteri sobre o Zodíaco:
Julgamos que a vida não poderia ser vivida e expressa na sua
mais íntima profundidade – mesmo inconsciente - se os
símbolos não viessem em nossa ajuda. E é com a ajuda deles
que podemos traduzir em linguagem aquilo que sentimos dentro
de nós. Portanto, o símbolo é a imagem que criamos a respeito
de um conteúdo interior que transcende a consciência. No caso
da astrologia, o símbolo encerrado no Zodíaco e nos planetas é
o ponto de encontro, a soldagem dominante entre o mundo
psicológico e espiritual do homem (microcosmo) e o universo
dos astros no céu (macrocosmo).[xxxi] [xxxii]
Eclíptica [xxxiii]
GÊMEOS
Regido por Mercúrio, este signo representa o arquétipo da
comunicação, da inteligência, do movimento e do aprendizado. Está
relacionado à terceira casa zodiacal, ao modo mutável e ao
elemento ar, simbolizando o poder intelectual, a dualidade da vida
que nos é dada pelos princípios opostos complementares, presentes
em toda a manifestação de vida: masculino e feminino, o Sol e da
Lua, o dia e a noite, o céu e a terra. Seguindo o processo evolutivo
do zodíaco, a criança (ou indivíduo) agora vai aprender, imitar e
assimilar do seu meio ambiente o que precisa saber para ganhar
sua autonomia primária. Começa a andar e a falar, iniciando o
processo de socialização e aprendizagem, que será vivenciada em
sua interação com irmãos, primos, vizinhos e a escola. Na mitologia
grega Mercúrio, ou Hermes para os gregos, era o filho mais
inteligente de Zeus, o mensageiro dos deuses. Era a divindade que
protegia as estradas, os comerciantes e os ladrões. Hermes possuía
o talento e a perspicácia da boa oratória, de intermediação e trânsito
livre entre os três reinos, que eram os mundos ctônicos, terrestres e
celestiais. Com suas sandálias aladas, um capacete que o tornava
invisível e o seu caduceu, Hermes Psicopompo tinha o poder de
conduzir as almas dos mortos para o mundos subterrâneos e
infernais do Hades. Essa divindade não tinha um lugar determinado,
pois vivia nas fronteiras, nas encruzilhadas e nas passagens.
Hermes era também a divindade da astúcia, versatilidade e
sabedoria, da magia e da gnose. A dualidade da natureza
geminiana é também ilustrada por outro mito grego, o de Castor e
Pólux, os gêmeos Dióscuros. Eram filhos de Zeus e Leda, esposa
do rei Tíndaro de Esparta. Zeus teve que se transformar em cisne
para poder seduzir Leda, que botou dois ovos após essa união. De
um, nasceram Pólux e Helena, filhos e Zeus, portanto imortais. Do
segundo nasceram Castor e Clitemnestra, filhos mortais de Tíndaro.
Castor e Pólux viveram sempre juntos numa amizade fraterna,
embora com pais diferentes. Um dia, na adolescência, lutaram com
outro par de gêmeos, Linceu e Idas, e nessa luta Castor foi morto.
Em uma versão para esse mito dizem que Castor e Pólux foram
transformados em estrelas por Zeus, e assim ficariam para sempre
juntos na constelação de Gêmeos. Em outra versão conta-se que,
desesperado ao ver o seu irmão morto, Pólux suplica a seu pai que
o traga de volta à vida. Compadecido de seu sofrimento, Zeus
decidiu então que os irmãos passariam metade do ano nos infernos
de Hades, e a outra metade na morada celeste do Olimpo. Na
cultura grega Castor estava ligado à luz matinal, e Pólux estava
conectado com a luz do crepúsculo. Temos aqui presente a ideia de
polaridade, onde luz e trevas coexistem, e assim como a noite e o
dia, o bem e o mal, são também inseparáveis. Na Astrologia
Mercúrio representa a comunicação, a oratória, a dualidade da vida,
a inteligência, a intermediação, as trocas, a curiosidade, a
jovialidade do espírito.
CÂNCER
Câncer corresponde ao solstício de verão no hemisfério Norte.
Ele é o primeiro dos signos da água e o mundo aquático diz respeito
à origem da vida, à mãe, é o arquétipo materno, relacionado à
infância, à proteção e segurança emocional que advém da família e
da nossa ancestralidade. Câncer é a também a quarta casa
zodiacal, também chamado de Fundo do Céu na astrologia, que tem
a ver com nossas heranças psíquicas, a nossa raiz matriz afetiva, o
inconsciente familiar. É um signo que pertence ao elemento água e
ao modo cardinal, regido pela Lua, o princípio feminino da natureza
que diz respeito ao mundo da alma, da subjetividade do indivíduo,
seus sonhos, sua intimidade. A Lua astrológica representa a
memória emocional da criança, que é construída por emoções e
sensações corporais como calor, frio, sono, contato físico, dor,
amamentação, sons e imagens. O indivíduo agora pertence a um
grupo familiar, sua base e as suas raízes ali estão ancoradas. Em
analogia com nosso satélite que gira ao redor da Terra, modulando a
luz e o calor do disco solar, assim é a mãe, que gira em torno do
bebê, satisfazendo e atendendo suas necessidades básicas.
Também o homem primitivo dependia muito da Mãe natureza, e
para poder sobreviver deveria se submeter a ela, que embora
generosa e provedora, era por vezes imprevisível e destrutiva. Em
termos mitológicos, a Lua é tanto a vida vegetal, quanto animal ou
humana. Como a deusa Ártemis da antiga Grécia, ou Isis do Egito
antigo, ou Shakti, divindade da cosmologia hindu ou como Jaci, a
deusa da noite e da Lua na nossa cultura indígena tupi-guarani, as
deusas lunares regiam, além do ciclo anual da vegetação, o ciclo
humano de nascimento, da vida e da morte. Ártemis era
considerada pelos gregos uma deusa virgem, que quer dizer “uma
em si mesma”, pois agia por conta própria, e não dependia de
relacionamentos com homens. O mito de Ártemis diz que, logo ao
nascer, a deusa acabou sendo a parteira de sua própria mãe, Leto,
que deu à luz seu irmão Apolo. Era invocada pelas gestantes que
pediam a sua proteção para a hora do parto. Independente, tinha
uma natureza instintiva e também cruel com quem não a
respeitasse. Como divindade caçadora, era sempre representada ao
lado de cervos, cães ou lobos.
LEÃO
O signo de Leão, que é regido pelo Sol, pertence ao elemento
fogo a ao modo fixo. Representa uma importante etapa do
desenvolvimento humano, ocupando a quinta casa zodiacal, onde
há o nascimento da consciência e da noção de “indivíduo”. No
hemisfério norte Leão corresponde ao auge do calor de verão, é o
segundo estágio do elemento fogo, que se iniciou em Áries, e que
mostra a sua plenitude na exuberância das flores, dos frutos e das
colheitas. Sob a regência solar, esse arquétipo representa a paixão,
a alegria de viver, a criatividade, o poder da atração, a força da
vontade e a perpetuação da vida. A passagem diária do Sol no céu
é um tema mitológico sempre presente em antigas civilizações. Na
mitologia grega, encontramos o deus Apolo como a divindade solar
por excelência. Conta o mito que Apolo era um jovem de rara
beleza, com seus cabelos dourados e a cabeça cercada de raios.
Precedido por sua irmã Aurora, ele percorria a abóboda celeste
todas as manhãs com seu carro de fogo, levado por quatro cavalos.
Ao final das tarde, próximo ao poente, chegava aos oceanos, onde
banhava seus cavalos fatigados. À noite descansava num palácio
de ouro e pela manhã recomeçava um novo trajeto pelo céu. Como
uma divindade das profecias, era considerado pelo mundo grego
“aquele que tudo vê”, pois diante de sua luz não poderia haver
mistérios. Apolo era o deus da agricultura, da música, da poesia e
das artes em geral. Apolo concentrou, de acordo com seu mito,
funções bastante diversificadas. Era também deus da agricultura, da
medicina e da cura, sintetizando uma divindade complexa, mas que
certamente sempre esteve relacionada a um ideal de beleza, honra,
cultura e sabedoria. Os chamados deuses solares, como Apolo/
Hélio na Grécia, Hórus no Egito e Mitra para os persas eram
cultuados como heróis, simbolizando a inegável força criadora do
Sol. Na astrologia o Sol, como fonte de luz e vida, está associado ao
princípio masculino da natureza, ao Logos, simbolizando o pai, a
consciência, a força vital, o espírito e a autoexpressão. O Sol
astrológico é o doador da identidade do indivíduo, a “chamada para
a aventura” do herói solar em sua eterna busca de conhecer e
desvendar o si-mesmo, tornar-se aquilo que é, tendo em vista
desenvolver seus recursos e potenciais, encontrar um ideal ou
propósito para a própria vida. Vimos que a Lua como um princípio
feminino representa a mãe, o inconsciente, a alma, a subjetividade.
Como pares de opostos, a Lua e o Sol abrangem as polaridades da
natureza, a vida e a morte, o feminino e o masculino, o dia e a noite,
alma e o espírito, tudo o que nos remete ao princípio da dualidade e
da unidade dos contrários. Falaremos mais do simbolismo solar no
capítulo VI.
VIRGEM
Este signo está associado ao arquétipo da sabedoria das leis da
natureza. Esse signo é regido também pelo planeta Mercúrio, que
no contexto evolutivo se manifestará como a mente racional e
analítica que se sobrepõe aos instintos e paixões de Leão, o signo
anterior a ele. No campo arquetípico de Virgem, o indivíduo quer
aperfeiçoar a si mesmo, através da análise e da razão; temos então
o aprimoramento dos potenciais criativos através do aprendizado,
do pragmatismo e da lógica. Processo análogo a um cristal que
após ser lapidado poderá então mostrar a sua natureza intrínseca e
seu brilho. Processos de terapia ou de análise bem realizados tem o
mesmo efeito, no sentido de, aos poucos, poder de curar e
transformar as sombras e limitações internas do indivíduo, fazendo
emergir a sua verdadeira natureza, deixando-o mais livre dos
impulsos destrutivos ou inconscientes. Virgem é o segundo signo do
elemento terra, seu modo é mutável, onde surge a consciência do
corpo, seu funcionamento e fisiologia, sendo assim relacionado com
a saúde no sentido mais amplo. É comum associarmos esse signo
ao mito de Deméter, que representava para os gregos a terra
cultivada. Conta o mito que sua filha Perséfone havia sido raptada
por Plutão ou Hades para com ele habitar os mundos subterrâneos.
A mãe desesperada sai em sua procura por vários dias e noites,
sem êxito. Infeliz e irada, deixa a terra seca e estéril e isso significa
que o homem não terá mais o que comer. Ao final do mito, Zeus, o
grande juiz do Olimpo, intercede a favor de Demeter, decidindo que
Perséfone ficaria seis meses do ano com a mãe e seis meses com
seu marido. O período em que está com sua mãe corresponde aos
meses da primavera e do verão, e o tempo em que passa com seu
marido, abaixo do solo, corresponde ao outono e ao inverno. Esse
mito, aqui descrito de forma bastante simplificada, simbolizava para
a cultura grega o ciclo das estações da natureza, e as formas de
plantio que produziriam bons alimentos. E também os ciclos
geracionais, das mães e suas filhas, em que as sementes são
plantadas no seio da terra, ou seja, no ventre feminino, para que
possam ser germinadas, o que nos remete aos princípios da
perpetuação da espécie humana, da renovação da vida,
simbolizados pelas estações do ano.
Mercúrio, como regente do signo de Virgem nos fala da
inteligência crítica, seletiva e ordenadora. O arquétipo de Virgem
representa na astrologia as funções psíquicas e cognitivas da
inteligência pragmática, detalhista e minuciosa, sempre focada na
realidade material e objetiva. Neste signo, o indivíduo busca o
aperfeiçoamento da sua personalidade, está mais consciente de
seus talentos, se prepara para a vida em sociedade, e seus ideais
deixam de ser meramente pessoais.
LIBRA
Libra é o sétimo signo zodiacal, momento em que tem início o
outono no hemisfério norte. Nesse ciclo, as noites e os dias se
equilibram em sua duração. Seu símbolo é uma balança com dois
pratos, com dois pesos ou as duas medidas que se equiparam.
Pertencendo ao elemento ar, que é relacionado à vida intelectual,
este signo representa a justiça, equilíbrio, a conquista do eu social,
a cooperação, a diplomacia, assim como as questões éticas, e
valores estéticos, os códigos morais da sociedade. Relacionado ao
modo cardinal, este signo manifesta uma disposição intensa para os
movimentos e para o enfrentamento das situações; nestas, será
necessário estabelecer relações e comparações entre os fatos para
que se chegue à justiça. Libra governa os casamentos, associações
e as uniões. É importante observar que para um libriano uma
relação não necessita obrigatoriamente de emoções, mas de
equilíbrio e compromisso. Os arquétipos da beleza e da harmonia
aqui estão representados pelo planeta Vênus, que no panteão grego
é a portadora da cultura, dos amantes do belo e dos artistas em
geral. Esse arquétipo personifica o amor, a justiça, a eterna busca
pelas parcerias. Assim, este signo apresenta um caráter mais social,
uma vez que não se limita apenas aos instintos e desejos que
precedem o ato sexual. Desta feita, seu aspecto erótico pode
transformar a libido e o simples prazer físico em algo que vai além, e
é esse o impulso que está presente em manifestações criativas ou
artísticas como a dança, a poesia, e a música. Nos mitos gregos
encontramos um paralelo entre Libra e Palas Atena, que foi gerada
e nasceu da cabeça de Zeus, com a ajuda de Prometeu. Gerada
apenas por seu pai, tinha um aspecto mais masculino e
independente, que faria prevalecer nela os atributos do logos e da
inteligência. Representada sempre com um escudo, um capacete e
uma lança nas mãos, era cultuada como uma divindade da
sabedoria e da justiça, temas vitais para os deuses olímpicos e os
cidadãos da antiga Grécia. Protegia os heróis e soldados em suas
sagas e batalhas. Com sua sabedoria, sabia criar estratégias de
guerra, indicando a hora certa para atacar ou para recuar. Nas
narrativas míticas, Palas Atena era muito habilidosa em trabalhos
manuais, era também a patrona dos tecelões, dos navegantes e dos
artesãos.
ESCORPIÃO
Escorpião é um signo que pertence ao elemento água e ao modo
fixo. Seu simbolismo é complexo e profundo, assim como a casa a
ele relacionada e seu regente Plutão. Esse signo simboliza o mundo
oculto e invisível, as emoções profundas da alma, as pulsões da
vida inconsciente, a sexualidade, a magia. É o arquétipo da morte e
renascimento e da transmutação da matéria. Escorpião é um grande
laboratório da alma, onde padrões familiares e emocionais
arraigados precisam se dissolver num processo alquímico doloroso
e por vezes, muito solitário. No hemisfério norte, o oitavo signo
zodiacal também corresponde ao ciclo do outono, estação na qual
se dissolvem folhas e raízes e a natureza vai se recolhendo para o
interior da terra. O símbolo da lagarta que por longo período fica
imóvel dentro de seu casulo escuro, para depois se metamorfosear
numa delicada borboleta, bem descreve os processos internos
relacionados a essa casa zodiacal. O animal escorpião, seu
símbolo, que é temido por seu ferrão venenoso, foge da luz e vive
no escuro, escondido em lugares inacessíveis e úmidos. Pode
atacar repentinamente sua presa, e diante de um perigo iminente é
capaz de provocar a sua própria morte. Os aspectos sacrificiais e as
mortes simbólicas vividas durante uma vida bem traduzem os ciclos
astrológicos de Plutão, ou Hades, que é o regente deste signo. No
panteão da mitologia greco-romana, ele era uma divindade
misteriosa e temida como o senhor absoluto dos mundos
subterrâneos e invisíveis, para onde iam os mortos. Em suas
atribuições estavam também o poder de tornar o solo fecundo e o
da germinação das sementes. Ele não tinha altares para ser
cultuado e tampouco era visto pelos mortais. Seu nome quer dizer
“riqueza”, pois tem o poder de revelar talentos e tesouros que se
tornam disponíveis depois de momentos de devastação da alma
humana. Hades ou Plutão era filho de Cronos e de Réa, era irmão
de Zeus e de Poseidon. Acreditava-se que durante a grande batalha
entres os deuses recebeu dos cíclopes um capacete que tornava o
seu portador invisível. Na partilha que se seguiu à batalha, coube-
lhe o controle dos mundos subterrâneos. Em analogia, podemos
dizer que não existem dúvidas sobre as riquezas minerais que estão
no fundo da terra, embora não possamos vê-las. Carl G. Jung
sempre se referiu aos poderes criativos e dinâmicos do
inconsciente, àquilo que está oculto ou adormecido, mas guarda em
si um potencial latente para uma nova vida ainda não vivida, ou uma
nova consciência. Da mesma forma, como o Plutão astrológico, que
representa o inconsciente, a sexualidade, a potência psíquica do
ser, aquilo que para renascer precisa, antes, morrer. Vimos
anteriormente, no signo de Virgem, a rica simbologia relacionada
aos ciclos das estações, onde Perséfone, como semente precisa ser
fecundada por Plutão, nos mundos invisíveis, abaixo de terra. Sem
eles não haveria renovação da vida, e esse constante nascer e
morrer da natureza é primordial na compreensão dos fundamentos
arquetípicos deste signo. Neste sentido, a morte simbólica significa
recomeçar, com uma nova consciência e uma nova atitude.
Veremos mais sobre o simbolismo de Plutão no capítulo V.
SAGITÁRIO
O signo de Sagitário pertence ao elemento fogo e ao modo
mutável, expressando o idealismo e visão metafísica do ser
humano. Esse signo zodiacal é regido por Júpiter, o rei dos deuses
na antiga Grécia, e simbolizado pela figura mítica do Centauro, que
tem a parte inferior do corpo de um cavalo e a parte superior de uma
figura humana. O símbolo fala por si; o Centauro tem em mãos um
arco e flecha que está dirigido para o céu ou para o divino,
simbolizando uma síntese da natureza animal e humana já
diferenciada: a imanência dos instintos e a busca constante pela
transcendência. Com a alma mais apaziguada e após cumprir as
grandes metamorfoses de Escorpião, o indivíduo busca por uma
elevação espiritual, pelo conhecimento e pela fé. Como arquétipo da
visão e da sabedoria, esse signo ocupa a casa nove zodiacal, a
área do saber, da filosofia, o portal para a universalidade, o que
permite fazer a ligação entre o humano e o plano sagrado. A energia
transmutada no corpo e na consciência se move para o plano
metafísico, onde a abstração permite ao indivíduo, através dos
símbolos, uma finalidade e um significado para a vida e para outros
planos de realização.
Como símbolo astrológico Júpiter representa a maturidade, a
sabedoria, o desejo de expansão, a fé, a elevação espiritual, assim
como a capacidade de julgamento, as leis e o poder judiciário, a
educação superior. Ele representa o pensamento abstrato, a
filosofia, a reflexão, e a capacidade que o homem tem para criar
símbolos. Na astrologia, Júpiter, em seu aspecto positivo,
representa a dignidade, o senso de justiça, a benevolência, o
otimismo, a generosidade, a devoção e proteção espiritual. Em seu
aspecto negativo está associado à confiança excessiva, à
arrogância, ao esbanjamento, imoralidade, megalomania,
exibicionismo, ausência de limites e à soberba. Na Grécia antiga, o
nome Zeus deriva de “Djeus”, que vem a ser “Luz do céu”, ou
“Doador da luz”; em Roma seu nome vem de “Diu-pater”, que
significa “ Deus Pai”. A Titanomaquia foi uma grande e longa batalha
entre os titãs e Saturno, de um lado, e de outro, Zeus e seus irmãos,
os Ciclopes e os Sem Braços; nesse emblemático e violento
confronto entre gerações, Zeus vence seu pai Cronos/ Saturno.
CAPRICÓRNIO
No hemisfério norte o signo de Capricórnio corresponde ao início
do inverno, quando temos o dia mais curto e a noite mais longa do
ano. A vida se recolhe, as cores da natureza cedem ao branco da
neve e do gelo, os animais buscam refúgio em cavernas e os
pássaros migram para lugares mais quentes. No Zodíaco,
Capricórnio pertence ao elemento terra e ao modo cardinal
corresponde à décima casa, no Meio do Céu, o que é um símbolo
de elevação social e profissional, do status, do legado das
realizações, da ambição, e da capacidade para servir ou influenciar
a sociedade como um todo. É regido por Saturno, o senhor do
Tempo, ou Cronos, da mitologia grega. Saturno representa o tempo,
que tudo consolida através das estruturas visíveis e sólidas, o
princípio da lógica e da razão. Este é o último planeta visível a olho
nu, mostrando assim os limites da natureza humana. É ele que rege
a concretização, a promoção e a integração dos valores, das leis
que devem estar presentes nas instituições que dão sustentação à
vida em sociedade. Na Astrologia mundial, Saturno também rege o
poder executivo, os políticos e o Estado. Em termos psicológicos
encontramos em Capricórnio os arquétipos do senex e puer, o pai e
o filho que se confrontam na luta pelo poder e pela renovação da
vida. No mito grego, Saturno/Cronos derrota e castra seu pai Urano,
usurpando o seu poder. Mais tarde, quando se torna pai, acaba por
devorar seus filhos assim que nascem, pois teme que estes façam o
mesmo com ele. Mas será vencido e destronado pelo filho caçula
Zeus, que se tornará o deus supremo e poderoso do Olimpo. Esse
mito será relatado com maiores detalhes no capítulo V.
No plano individual, o simbolismo saturnino está relacionado à
capacidade de realização, perseverança, disciplina, limites, coesão,
determinação e responsabilidade. Em seu aspecto mais sombrio,
nos remete aos processos de limitação, escassez, melancolia,
solidão, renúncia e às dores da alma. Por outro lado, existe uma
clara percepção de que são as crises e circunstâncias dolorosas
que levam o indivíduo a sair da inércia, desenvolver a humildade e a
paciência para que possa superar a repetição de modelos ou
padrões emocionais paralisantes e envelhecidos. O sofrimento tem
o poder de desenvolver a força da resiliência, a determinação, a
perseverança para que surja uma nova consciência. Saturno, como
o arquétipo do Velho Sábio e da maturidade da vida, nos fala do
poder criativo e restaurador da psique, da sabedoria que chega com
o passar do tempo. Não por acaso, sabemos que os alquimistas
trabalhavam com o intuito de transformar o metal chumbo em ouro,
ou seja, o ouro psíquico e espiritual, e não o ouro vulgar. Veremos
mais sobre Saturno no capítulo V.
AQUÁRIO
Aquário é o décimo primeiro signo do zodíaco, relacionado ao
elemento ar e ao modo fixo, representado pelo Aguadeiro, o homem
cósmico que, com sua ânfora, verte seu conhecimento acumulado
para toda a humanidade. Na mandala zodiacal simboliza os
arquétipos da liberdade e da fraternidade, que indicam que o ser
humano já pode libertar-se de sua individualidade egocêntrica e agir
motivado por ideais mais elevados e universais. Dentro do processo
evolutivo, o homo sapiens busca a sua independência, o não
convencional, a originalidade e o que ainda está voltado para o
amanhã. O grupo social é a sua meta e a raça humana é a sua
família. Regido por Urano, que na mitologia grega representa o céu
estrelado, esta divindade primordial dos espaços celestiais fora
gerada por Gaia, a deusa mãe que alimentava as montanhas, as
grutas e as florestas. Urano tinha o mesmo tamanho de Gaia, e
estava sempre deitado sobre ela, pois assim poderia fecundá-la o
tempo inteiro. Como o céu estrelado é masculino e a terra é
feminina, esse casal primordial de forças opostas gerou inúmeros
filhos, os Titãs e Saturno/Cronos. Na astrologia o planeta Urano
rege as invenções tecnológicas, o futuro, a intuição, a astrologia, o
progresso, a criatividade, a originalidade, as grandes descobertas
científicas que aceleram o desenvolvimento da espécie humana.
Urano atua no sentido de romper os paradigmas, desestruturando a
ordem já conhecida ou estabelecida, em nome da liberdade.
Um mito que bem representa a natureza aquariana é o de
Prometeu. Seu nome significa: “aquele que vê à frente”, pois tinha o
dom da antecipação. Ao ousar roubar o fogo sagrado dos deuses e
entregá-lo aos mortais foi duramente castigado por Zeus, que o
deixou acorrentado no monte Cáucaso, nos confins do mundo. E
uma águia, enviada por Zeus, diariamente devorava o seu fígado,
que voltava a crescer novamente durante a noite. Esse suplício
durou por anos a fio. Prometeu é um herói semidivino, um rebelde
com causa, cujo intuito era o de libertar os seres humanos de sua
natureza puramente instintiva e da submissão aos deuses.
Representa o anseio humano de evoluir através das novas idéias,
da tecnologia, o princípio humanizador evolutivo, a inteligência
humana e tudo o que chamamos de avanços civilizatórios. Sem o
fogo do conhecimento, o homem estaria condenado a viver na
escuridão das grutas e das cavernas. O fogo roubado jamais foi
devolvido, ou seja, o conhecimento adquirido nunca se perde, ao
contrário, sempre se renova.
PEIXES
O último signo do zodíaco, Peixes, nos remete ao arquétipo da
síntese e unidade da vida, ele é a somatória dos demais signos
anteriores, onde todas as experiências humanas se dissolvem em
um arcabouço psíquico comum a todos os seres, o inconsciente
coletivo da humanidade. Peixes e a casa doze do zodíaco estão
relacionados ao período final do inverno no hemisfério norte, em que
a neve começa a derreter e as chuvas umedecem a terra,
anunciando a chegada de um novo ciclo vital, a primavera. Esse é
um signo mutável, e assim constela tanto a dissolução das formas
quanto o renascimento da vida, do calor e das cores. Encerra um
grande ciclo cósmico e natural, e dá inicio ao signo de Áries. O
hieróglifo de Peixes é formado por dois peixes ligados entre si, mas
que nadam em direções opostas, mostrando a dualidade da vida, o
dia e a noite, o frio e o quente, o bem e o mal, a queda e a
ascensão. É também um símbolo de renovação e do eterno
movimento do fluir e refluir da vida. É o terceiro signo do elemento
água, nos reportando às águas dos oceanos para onde correm
todos os rios, a etapa final do próprio zodíaco, o fim e o início de um
novo ciclo. É regido por Netuno, divindade dos oceanos e das
emoções profundas, simboliza o grande útero da Mãe Natureza, de
onde emerge toda a vida. Na Astrologia esse planeta representa o
inconsciente, a vida psíquica, a imaginação, a inspiração, os
sonhos, o mundo invisível, o infinito, a utopia, a loucura, a ausência
de limites. Os mistérios, a devoção religiosa, a iluminação, o
misticismo, a fé, a compaixão e o amor universal também estão sob
a regência deste planeta. No mito grego, Poseidon/Netuno era filho
de Cronos e Reia, seus irmãos eram: Zeus, Hades, Hera, Demeter e
Héstia. Nas narrativas míticas, ele aparecia imponente com seus
cavalos brancos com patas de bronze e crinas de ouro. Quando seu
coche emergia do fundo do mar, as tempestades passavam, e os
monstros marinhos que ali viviam passavam a escoltá-lo. Após a
grande batalha olímpica entre Zeus e seu pai Cronos, Poseidon se
tornou senhor absoluto do elemento líquido, com a tutela dos mares
e dos oceanos. Também as fontes, os rios, as chuvas, assim como
as navegações estavam sob a sua proteção. Influenciava a
fertilidade do solo, propiciando o crescimento dos grãos e as boas
colheitas. Poseidon era sempre representado de pé, em forma
majestosa, com farta cabeleira, o busto nu, e segurando o seu
tridente em uma das mãos. O tridente é o próprio símbolo da
psicologia, das profundezas inconscientes que dominam nossa vida
psíquica, tanto individual quanto coletiva.
Diz Jung:
O inconsciente coletivo - até onde nos é possível julgar - parece
ser constituído de algo semelhante a temas ou imagens de
natureza mitológica, e, por essa razão, os mitos dos povos são
os verdadeiros expoentes do inconsciente coletivo. Toda a
mitologia seria uma espécie de projeção do inconsciente
coletivo. É no céu estrelado cujas formas caóticas foram
organizadas mediante a projeção de imagens, que vemos isto o
mais claramente possível. Isso explica as influências dos astros,
afirmadas pela Astrologia: estas influências mais não seriam do
que percepções introspectivas inconscientes da atividade do
inconsciente coletivo. Do mesmo modo, como as constelações
foram projetadas no céu, assim também outras figuras
semelhantes foram projetadas nas lendas e nos contos de fadas
ou em personagens históricas.[xxxiv]
Conclusão do Capítulo
As incursões no campo da Psicologia começaram a influenciar a
astrologia, de forma mais marcante, a partir da década de 1930.
Essa gradual assimilação começou a tomar forma com a publicação
do livro A Astrologia da Personalidade, pelo conhecido escritor,
músico e astrólogo francês, Dane Rudhyar. Este autor, apropriando-
se de conhecimentos de psicologia, que passava por um momento
de muita efervescência e criatividade, desenvolveu uma abordagem
filosófica da astrologia.
Rudhyar afirma em seu livro “Astrologia Humanista e Astrologia
Transpessoal” que se encantou com as ideias de Jung no ano de
1933. A partir dali, ele percebeu que poderia desenvolver uma séria
e conexões entre os conceitos junguianos e um tipo reformulado de
astrologia.
A partir desta importante publicação, em 1936 teve início um
positivo intercâmbio e entrelaçamento conceitual, com
aproximações teóricas, entre a Astrologia e a Psicologia Analítica.
Esse paralelo entre os dois campos de conhecimento começou a
dar frutos e inúmeras publicações surgiram dando início, muitos
anos mais tarde, ao que chamamos hoje de Astrologia Psicológica,
que conta com renomados estudiosos na Europa e EUA. Além de
Dane Rudhyar, temos Alexander Ruperti, Michel Gauquelin, Roberto
Sicuteri, Liz Greene, Stephen Arroyo, Robert C. Jansky, Robert
Hand, Howard Saportas, Richard Idemon, Christine Valentine,
Richard Tarnas, entre outros.
A Astrologia é uma linguagem que usa de uma sequência de
símbolos para criar identificação entre o homem e o universo; é o
estudo comparado entre o céu e a Terra. Na estrutura zodiacal, os
planetas são a representação simbólica dos impulsos, necessidades
e motivações humanas, servindo como agentes catalisadores das
várias funções psicológicas. Da mesma forma, os doze signos
zodiacais são energias psíquicas ou princípios arquetípicos
presentes em toda a manifestação da vida, seja ela individual ou
coletiva.
Entendemos que, em sua estrutura, a Astrologia é
essencialmente arquetípica. Fundamentada em padrões simbólicos
e imagéticos, comuns a toda humanidade, os símbolos astrológicos,
sejam signos ou planetas, são a expressão de um universo de
imagens primordiais que, como vimos anteriormente, são
encontradas em inúmeras civilizações antigas, o que nos remete à
ideia e ao conceito de Inconsciente Coletivo. Esses símbolos
zodiacais compõem uma espécie de partitura zodiacal cósmica, cuja
melodia segue uma ordenação sincrônica e analógica entre os
fenômenos celestes e os eventos terrestres
Já vimos no capítulo II que, para Jung, os arquétipos são
princípios universais, ideias estruturantes inatas ou herdadas, a
soma de todas as potencialidades latentes na psique humana, que
pertencem ao Inconsciente Coletivo. Representado na estrutura
zodiacal de diferentes culturas antigas, o riquíssimo substrato
psíquico arquetípico carrega consigo o legado extraordinário da vida
humana.
Com seus doze signos, doze casas, dez planetas e quatro
elementos, o Zodíaco é um grande espelho celestial no qual são
projetados, de forma simbólica, nossos impulsos humanos, seja de
ordem racional, passional, instintiva, cognitiva, espiritual, etc.
Modelos humanos ordenados e ordenadores que têm, desde
sempre, um extraordinário dinamismo psíquico e se atualizam
continuamente, adquirindo novas roupagens.
A astrologia psicológica abarca os valiosos conceitos da
Psicologia Analítica, uma vez que o arcabouço intelectual de ambas
apresenta muitos pontos em comum. Outras premissas teóricas
abrangem os postulados de vida potencial dada a priori, o aspecto
dinâmico do inconsciente e o propósito criativo e finalista da
existência, em que o desenvolvimento individual, vale dizer, a
própria vida, tem um significado.
Cito Jung numa carta ao astrólogo francês André Barbault, em
1954: “A astrologia consiste de configurações simbólicas do
inconsciente coletivo, que é o assunto principal da psicologia; os
planetas são deuses, símbolos dos poderes do inconsciente”.[xxxv]
Os símbolos astrológicos, sejam eles associados a histórias de
deuses e heróis ou sobre a origem das constelações, são projeções
de imagens internas do homem, criadas pelo coração do homem
para serem lançados ao céu a fim de povoá-lo de figuras, visões e
significados. Essa percepção nada mais é que a experiência
especular humana, a busca de uma ordem e significado para sua
existência.
Termino com a citação de Stanislav Grof, renomado médico e
psicólogo transpessoal, sobre estas imagens coletivas:
O pensamento astrológico pressupõe a existência de arquétipos,
princípios primordiais e atemporais que fundamentam, informam
e formam a estrutura do mundo material. A tendência para
interpretar o mundo nos termos dos princípios arquetípicos
surgiu inicialmente na Grécia e foi uma das características mais
notáveis da filosofia e da cultura grega. Os arquétipos podem
ser vistos de várias perspectivas diferentes. Nas epopeias
homéricas, eles tomaram a forma de figuras mitológicas
personificadas, como divindades, tais como Zeus, Poseidon,
Hera, Afrodite ou Ares. Na filosofia de Platão, foram descritos
como princípios metafísicos puros, as Ideias ou Formas
transcendentes. Eles possuíam sua própria existência
independente, em um reino inacessível aos sentidos humanos
normais. Nos tempos atuais, C. G. Jung trouxe o conceito de
arquétipo para a psicologia moderna, descrevendo-os
principalmente como princípios psicológicos.[xxxvi]
Zeus e Hera
Capítulo III
funções da consciência
Na visão de Jung, a psique possui uma estrutura quaternária
que mostra a maneira como esta opera para cada pessoa em sua
interação com o mundo. Esses quatro pontos cardeais da psique ou
as quatro funções da consciência mostram maneiras distintas de
organização e de adaptação individual, e cada uma delas
representa um “tipo psicológico”. Importante ressaltar que se trata
de um modelo dinâmico da psique, que está sempre em movimento
e que poderá se alterar durante a vida, tendo em vista a ideia de
que nosso inconsciente não é estático, muito ao contrário, é muito
criativo. São elas:
INTUIÇÃO
A intuição como função indica a apreensão de potencialidades
futuras; busca a inspiração criativa; desloca-se facilmente para
aquilo que está por vir, mudança ou inovação; percebe melhor o
todo. O indivíduo é idealista, possui bom faro para novidades e
projetos, gosta de pesquisas, apoia ideias arrojadas ou visionárias.
Entretanto, como tem dificuldade em perceber a realidade tangível,
essa característica pode resultar em pouca eficiência para
concretizar seus ideais, seguir uma rotina ou até mesmo cuidar do
próprio corpo.
PENSAMENTO
O pensamento como função age através do nosso ego
conscientemente, estabelece uma ordem lógica racional entre os
objetos e esclarece o que eles significam. O indivíduo toma
decisões baseadas na justiça e na causalidade lógica dos eventos.
Ele pode aparentar frieza em seu julgamento, tende a formalidade,
pode ter dificuldade em estabelecer relações. Nesse tipo, há uma
tendência a valorizar o pensamento sobre o sentimento; é sempre
questionador e imparcial em seus pontos de vista.
SENTIMENTO
O sentimento como função é aquele que seleciona hierarquias de
valor para o mundo, seja de atração ou rejeição pelo objeto.
Sentimento aqui não é afeição e não deve ser confundido com
emoção, está relacionado à dimensão estimativa das coisas, com
juízos de valor de gostar ou não gostar. O indivíduo valoriza o
sentimento sobre a lógica; pode ser parcial em seus julgamentos,
levando em consideração aquilo que sente em relação a uma
determinada situação, seguindo a lógica do coração. Sua índole é
sempre apaziguadora. Seus interesses geralmente estão voltados
para as pessoas e as relações.
Nessa estrutura psíquica, Jung observou também uma dualidade
direcional da psique. Ou seja, a energia psíquica, ou libido, pode
fluir em direções opostas. Segundo ele, essas duas atitudes básicas
são a introversão e a extroversão, que indicam as atitudes
preferenciais na forma que o indivíduo tem de se relacionar com o
mundo.
INTROVERSÃO
Na introversão, o foco da atenção do indivíduo está voltado para
o mundo interno. A energia psíquica ou libido recua diante do objeto,
ou seja, o introvertido foca a sua atenção no mundo das suas
impressões íntimas, emoções ou pensamentos. Prevalece nele a
capacidade de reflexão, uma postura questionadora e certa
hesitação para tomar decisões, pois o mais importante é o fator
subjetivo da experiência. Desta feita, o introvertido opta por
compreender o mundo antes de vivenciá-lo de forma mais direta ou
espontânea. Prefere ambientes calmos e a comunicação escrita. Na
atitude introvertida, a motivação principal encontra-se em fatores
subjetivos.
EXTROVERSÃO
Na extroversão, a energia psíquica é voltada ou direcionada para
o mundo externo, o indivíduo se adapta mais facilmente às
situações ou novidades, faz aquilo que lhe é solicitado e vive mais
de acordo com as exigências da realidade objetiva. É sociável,
impulsivo, confiante e deixa-se levar ou influenciar pelo ambiente.
Gosta de agir, enfrenta o desconhecido e as novidades sem grandes
dificuldades; no entanto, pode perder a percepção dos seus limites,
fato esse que pode prejudicar a própria saúde. Tende a ser mais
generalista do que especialista, pois tem muitas áreas de interesse.
Na atitude extrovertida os fatores externos são a força motivadora
do indivíduo. É importante ressaltar que para que haja um equilíbrio
psíquico é necessário que a pessoa extrovertida encontre
momentos de reflexão e silêncio e a pessoa mais introvertida, por
sua vez, se deixe levar pelo inusitado, aventurando-se nas
novidades ou desafios que a vida traz.
Com relação a esses preceitos, diz Zacharias[xxxix]:
Jung considerou introversão e extroversão como critérios muito
simples e genéricos. Então foi em busca de outras
particularidades básicas para melhor compreender as diferenças
individuais, praticamente ilimitadas. Assim, ele observou que
algumas pessoas preferiam não se basear em conceitos gerais
para suas avaliações, outras evitavam atentar para as
informações fornecidas pelos cinco sentidos; outras pareciam
desprovidas de imaginação e outras evitavam avaliações
pessoais e afetivas. Por meio dessas observações e
constatações, Jung identificou quatro formas de atividade da
psique em relação ao mundo e denominou-as de funções da
ectopsique, que é a parte do sistema psíquico que relaciona os
conteúdos da consciência com os fatos e as informações do
meio ambiente.[xl]
Na visão de Jung encontramos também outra classificação
relevante. O pensamento e o sentimento são considerados funções
de adaptação racionais, uma vez que seu funcionamento se dá
através da reflexão do que é razoável e mais adequado a uma
situação, ou tomada de decisão. Por outro lado, a intuição e
sensação são chamadas de funções irracionais, pois se baseiam
mais numa percepção imediata de algo, que não é lógico, mas que
é capturado pelos sentidos, por um insight ou pressentimento
momentâneo. Para cada tipo de atitude de personalidade que são
introversão e extroversão, encontramos também quatro variações
de funções, que resultam num total de oito tipos psicológicos
básicos:
Pensamento extrovertido Pensamento introvertido
Sentimento extrovertido Sentimento introvertido
Sensação extrovertida Sensação introvertida
Intuição extrovertida Intuição introvertida
na Astrologia
ELEMENTO AR
Na Astrologia, o ar é o elemento do intelecto e simboliza o mundo
das ideias, da palavra, seja escrita ou oral. É considerado um
elemento positivo ou masculino, cuja função é estimular as trocas
com o meio ambiente, a comunicação e a expressão. Os signos de
ar são os mais sociáveis, com habilidade para se afastar da
experiência concreta, o que lhes permite uma visão de perspectiva
mais ampla sobre o mundo e as pessoas. Nos signos aéreos há
uma forte necessidade de troca intelectual, o amor pela vida cultural,
o senso de justiça, o refinamento, uma extraordinária capacidade de
adaptação a situações novas. Entre todos os elementos, o ar é
considerado como o mais civilizado e distanciado da natureza
instintiva. Tem capacidade de respeitar o pensamento alheio,
facilmente coloca eventos em perspectiva. Curiosamente, está
relacionado aos signos cujos símbolos não são representados por
animais e sim por figuras humanas, como em Gêmeos e Aquário, ou
por objetos criados pela mão humana, como Libra, que é
representado por uma balança. Facilmente encontramos estes tipos
em profissões ou atividades relacionadas ao magistério, literatura,
jornalismo, advocacia, comércio, publicidade e comunicação em
geral, tudo o que demanda inteligência, versatilidade, dinamismo e
rapidez. No nível pessoal os signos do ar não manifestam suas
emoções com facilidade, muitas vezes são vistos como pessoas
frias ou indiferentes, que racionalizam seus sentimentos. Preferem
questionar e entender os relacionamentos com algum
distanciamento, esquivam-se de pensamentos toscos ou muito
primitivos. A falta desse elemento pode indicar dificuldade de
adaptação a novas ideias, desconfiança intelectual, pouca
capacidade de reflexão. O excesso pode ser percebido como
propensão a ansiedade, dispersão e irritabilidade; a mente tende a
ser errática, imprecisa ou dispersiva.
ELEMENTO FOGO
O elemento fogo é a energia radiante, fonte de calor, luz e
expansão da vida. Exatamente como sua expressão na natureza, os
indivíduos com ênfase neste elemento são exuberantes, ardentes,
apaixonados e espaçosos. Têm forte tendência a expressar a sua
individualidade de forma voluntariosa e criativa. Não é difícil
perceber que a modéstia não combina com sua personalidade
altiva. Para eles, a vida é um infinito oceano de possibilidades a ser
exploradas, sem fronteiras ou limites. Sua energia flui de forma
espontânea e mesmo infantil, o que os tornam sempre cativantes ou
surpreendentes. São líderes naturais, capazes de inspirar, conduzir
e apoiar os outros, e é aí que se encontra grande parte de seu
carisma. Possuem uma fé inabalável na generosidade do destino,
se lançando por vezes de forma irrefletida atrás de seus ideais.
Teatrais e exagerados, fazem da vida um palco para expressar seus
rompantes e grandes aspirações; raramente expõem as suas
fraquezas. Encontramos estes tipos astrológicos mais facilmente em
atividades profissionais que exijam ambição, dramaticidade,
capacidade de liderança, pioneirismo, visão e futuro e forte
idealismo. Em seu lado exagerado este elemento pode tornar o
indivíduo demasiadamente competitivo, autoritário, passional ou
autocentrado, o que o torna insensível aos sentimentos dos outros.
O orgulho e a vaidade excessiva dificultam o reconhecimento de
suas falhas ou erros, e isso o impede, muitas vezes, de alcançar a
maturidade psicológica. A ausência deste elemento pode resultar
em pouca vitalidade, fé, autoestima e confiança na vida; fraqueza
diante das adversidades da vida.
ELEMENTO TERRA
No saber astrológico, o elemento terra diz respeito ao mundo das
formas e da matéria estruturada e visível. É comum aos indivíduos
com ênfase neste elemento um contato bem estreito com os cinco
sentidos e com a realidade do mundo material e tangível. Seu
universo de valores precisa de direção e utilidade, pois têm um forte
senso de dever. A natureza construtiva e realizadora dos signos de
terra é direcionada para a praticidade; ocupam-se com tudo o que
diz respeito ao que é sólido e organizado.São dignos de confiança,
disciplinados, ambiciosos, amam a ordem, o trabalho e valorizam
seus bons resultados. Geralmente são cautelosos, prestativos,
eficientes e determinados; sua necessidade de segurança e
inteligência pragmática faz com que seus empreendimentos sejam
sempre bem calculados e organizados.
Esse tipo astrológico sente-se geralmente muito à vontade com o
próprio corpo, sabendo expressar facilmente seus desejos físicos,
com cuidados e atenção à saúde e bem-estar. Todas essas aptidões
indicam êxito em atividades e trabalhos que exijam dedicação,
pragmatismo, método, cálculo, habilidades manuais, grande
determinação e perseverança.
Norteados pelas sensações físicas, facilmente deixará de lado as
considerações teóricas e abstratas a respeito da vida. Essa atitude
acaba por restringi-los, pois propicia uma visão estreita e imediatista
do mundo, e que pode anular qualquer outra maneira de apreensão
da realidade. A ênfase nesse elemento poderá deixá-los muito
apegados a necessidade de segurança e podem se tornar escravos
de uma rotina maçante e repetitiva, que acaba por impedir mais
flexibilidade e criatividade para com a vida de modo geral. Outro
aspecto sombrio é o pragmatismo que se transforma em teimosia,
ceticismo ou ironia, e uma forte tendência ao excesso de trabalho, o
que frequentemente gera prejuízos nas relações pessoais ou
familiares. A falta deste elemento indica a probabilidade de pouco
interesse ou sintonia com o mundo físico, que começa pelo seu
próprio corpo e atenção a coisas básicas, como a alimentação ou
exercícios regulares. Poderá ter limitações para aceitar rotinas e
regras, assim como abraçar um trabalho regular, ser autossuficiente,
ou seja, zelar pela própria sobrevivência.
ELEMENTO ÁGUA
Na tradição astrológica, a água representa o mundo dos
sentimentos, a vida íntima, instintiva e subjetiva. Suas atitudes são
por vezes infantis, pois como crianças esperam do mudo respostas
de amor e afeto. Pessoas cujos mapas têm ênfase nesse elemento
falam a língua do coração.
Os signos de água são os mais enigmáticos do zodíaco.
Receptivos, envolvem-se profundamente nos relacionamentos
pessoais, pois sabem “mergulhar” na intimidade do outro. Eles estão
naturalmente com contato com seus próprios sentimentos, gostam
do silêncio e da introspecção que possa promover o seu
autoconhecimento. Estes indivíduos são psiquicamente muito
sensíveis e vulneráveis. Intuitivos, percebem sutilezas do
comportamento humano de forma muito marcante. Necessitam de
paz e proteção, as turbulências e aglomerados humanos são um
problema para eles. Possuem uma imaginação muito criativa,
deliciam-se com suas próprias fantasias e devaneios. São
protetores, bons conselheiros, se dão bem em profissões da
assistência social, voluntariados, e da saúde em geral, pois a
empatia e a compaixão são sua assinatura no mundo. Amorosos,
fraternos e solidários, são ótimos cuidadores daqueles que sofrem
de algum tipo de carência ou deficiência.
Na vida social são afáveis e cordiais, não têm receio de expor as
suas fraquezas. Tornam-se cativantes, pois mais do que ninguém os
signos de água captam as necessidades dos outros, sem fazer
discriminações ou julgamentos.
A ênfase deste elemento significa uma vulnerabilidade psíquica
marcante, uma natureza imprevisível, sua noção de realidade
depende daquilo que podem sentir, o que os torna sujeitos a
situações de conflitos interpessoais; as idealizações são o caminho
direto para as decepções amorosas. Em nome da paixão e da
entrega, os tipos água absorvem tanto o seu parceiro que terminam
por paralisá-lo, sendo notadamente esse elemento que desconhece
os limites nas conexões amorosas. A deficiência desse elemento
pode indicar dependência excessiva de aprovação alheia,
acarretando forte insegurança e problemas de autoestima. O
indivíduo pode se tornar muito fantasioso, sofrendo com emoções
ou intuições equivocadas.
Conclusão do Capítulo
A descrição dos tipos psicológicos de Jung guarda semelhança
intrínseca com a tipologia humana dada pelos quatro elementos
astrológicos. No que diz respeito às duas atitudes psíquicas
predominantes, que são introversão e extroversão, vemos o mesmo
paralelo com os chamados signos femininos e masculinos
respectivamente. De modo geral, observamos que a natureza
intrínseca de pessoas com mais ênfase em signos de água e terra é
a de refletir sobre o mundo ou viver mais dentro de si mesmos. Sua
índole ou temperamento mais cauteloso e ponderado está em
ressonância com o que chamamos de “introversão”.
As pessoas com ênfase em signos de fogo e ar, por outro lado,
apresentam um temperamento mais expressivo, com mais interação
no mundo externo, guardando semelhança com os tipos
“extrovertidos”.
É interessante notar que, na natureza, os elementos água e terra
são mais pesados, sofrem a influência da força da gravidade, e se
concentram no nível inferior da matéria. Os elementos fogo e ar
tendem a se espalhar e subir pela atmosfera são mais rápidos e
leves.
Com relação às quatro funções, isso também é relativamente
fácil de observar, tanto na teoria quanto na prática clínica ou
astrológica. . Pessoas que têm uma natureza marcadamente mais
afetiva, empática, psiquicamente sensível, que são socialmente
mais receptivas e mesmo sonhadoras (tipo sentimento), geralmente
possuem o elemento água predominante na carta natal.
Outras que são mais realizadoras, pragmáticas, orientadas pelo
mundo físico e tangível, pelos cinco sentidos, voltadas para a
segurança material (tipo sensação), podem ter a ênfase no
elemento terra.
Os chamados intuitivos, mais orientados pelos processos
criativos, pelo entusiasmo das novidades e pela visão do amanhã,
frequentemente possuem a ênfase no elemento fogo em suas cartas
natais. Os tipos mais racionais, que privilegiam e valorizam a lógica,
as ideias e as realizações de natureza intelectual (tipo pensamento),
geralmente terão o predomínio dos signos de ar em sua carta natal.
É importante dizer que isso vem a ser uma classificação geral,
com infinitas variáveis, e que devemos observar a presença dos
outros elementos, uma vez que não existem tipos puros, nem do
ponto de vista das funções da consciência e nem da astrologia. O
astrólogo experiente sabe o quão é importante olhar o mapa com
um todo. Exemplo: o indivíduo tem muito fogo, mas os planetas
estão colocados na parte inferior do mapa, o que pode mostrar a
tendência ao movimento mais introvertido da libido. Ou, o indivíduo
tem pouco elemento terra, mas possui o Saturno bem aspectado na
casa um, que é uma casa de ação, o que dará a ele um colorido
“saturnino” relevante, ou seja, responsável, realizador e
determinado.
Entendo também que conhecer essas duas tipologias nos
propicia referências relevantes e facilitadoras da comunicação ou
compreensão do “outro”, tão diferente de mim. As idiossincrasias
criam estranhamento e perplexidade em todas as áreas das
relações humanas. Essas barreiras no entendimento entre pessoas
que se querem bem são reais e geralmente frustrantes. A
Astrologia, frequentemente e de forma simples, vem em nosso
socorro para auxiliar nesses impasses interpessoais.
Dito de forma prosaica, cito alguns exemplos em que as
expectativas foram frustradas em três situações diferentes:
a) Indefinição e contradição:
O que é um complexo
Todos nós já ouvimos em algum momento da nossa vida: “Fulano
é complexado”. Nesse capítulo vamos abordar um tema que é
precioso para a escola junguiana, que são os complexos. Vimos na
introdução que Jung, no início de suas atividades psiquiátricas,
observou as fortes perturbações que aconteciam com os seus
pacientes nos testes de associação de palavras, e a esses núcleos
inconscientes que disparavam alterações emocionais e fisiológicas,
foi dado o nome de complexos.
Sabemos que os complexos podem ter sua origem numa
situação dolorosa ou traumática, uma vez que são dotados de alta
carga emocional. Segundo Jung (1988), o complexo é como uma
psique fechada, cuja fantasia desenvolve uma atividade própria;
através de sua manifestação podemos chegar ao inconsciente.
Galatea of the Spheres, Salvador Dali, 1952
o que são
Subpersonalidade amorosa
Elas exibem impulsos bastantes persistentes voltados para a
questão dos relacionamentos amorosos, um forte desejo de
pertencer a alguém, compartilhar a vida a dois. São geralmente
afetuosas, sensíveis ao ambiente externo, abertas e receptivas ao
outro. Sabem estabelecer conexões fortes, e lidam bem com a
intimidade interpessoal. No seu aspecto mais distorcido, essa
subpersonalidade permite que tudo em sua vida fique girando em
torno de ter ou não ter alguém para amar ou sentir-se amado. Em
relação à personalidade, a necessidade de amor pode gerar todo o
tipo de insegurança, falta de discriminação ou tendência a se
adaptar demais ao outro para garantir a presença em sua vida.
Esperam pelo amor incondicional que nunca chega, e para isso
fazem uso de inúmeros subterfúgios ou de artimanhas de pressão e
controle, que acabam por afastar o objeto desejado. O que está por
trás dessa subpersonalidade pode ser o medo da rejeição, da
solidão, geralmente sustentada por uma falta de autoestima
marcante.
Do ponto de vista astrológico estas subpersonalidades amorosas
podem ter posições astrológicas muito marcantes em signos de
Água, como Câncer, Peixes e Escorpião. Como vimos no capítulo
dos quatro elementos, os tipos aquáticos têm forte tendência a uma
busca incessante de experiências amorosas na vida. Os planetas
mais fortemente associados a essa dinâmica psicológica são: Lua,
Sol, Vênus e Netuno. As casas quatro, sete e doze podem
manifestar mais comumente esta expressão.
Subpersonalidade voluntariosa
Essa subpersonalidade se organiza em torno do princípio
arquetípico da vontade. Há nelas um forte impulso para a
autoexpressão, a necessidade de reconhecimento por parte dos
outros, para a afirmação pessoal. Apostam em grandes causas, são
fortes, têm carisma e amam o poder. Empreendedoras e criativas,
lançam-se em aventuras e ideais com muita energia, pois esperam
pelo reconhecimento alheio. No lado distorcido e extremado dessa
dinâmica, podemos ver nelas o medo de não ser amado ou
admirado, uma dificuldade em perceber os limites das situações ou
das pessoas. No extremo, podem ser competitivas, autoritárias e
excessivamente ambiciosas porque, de forma inconsciente, têm
medo de perder o poder e o controle sobre tudo e todos. Impulsos
fortes de vontade ou poder estão associados aos planetas: Jupiter,
Sol, Marte, Urano e Plutão. Observar os signos: Áries, Leão e
Sagitário, que pertencem ao elemento fogo. Os signos de Escorpião
e Capricórnio podem dar pistas interessantes nesse sentido.
Devem-se observar também as casas um, cinco e dez.
Subpersonalidade conservadora
Existe nessa subpersonalidade uma forte necessidade de se
ancorar, consolidar as formas e manter aquilo que já existe, as
estruturas básicas da vida. Há nelas um ritmo e continuidade que
sugerem segurança e estabilidade. Os signos frequentemente
associados e essas qualidades pertencem ao elemento terra, que
são Touro e Capricórnio. Dito de forma mais simples, eles gostam
de manter os pés no chão, o pragmatismo é o seu forte, são bem-
sucedidas no mundo prático do cotidiano. Os signos de Câncer e de
Leão podem também apontar para essa tendência.
Em seu aspecto distorcido, essas subpersonalidades podem
expressar excesso de convencionalismo, teimosia, inércia, pouca
iniciativa, medo do desconhecido. Resistem às mudanças, e tudo o
que põe em xeque sua segurança ou seu status já adquirido pode
ser um grande desafio ou conflito. Uma subpersonalidade deste tipo
geralmente se constrói em torno de posições marcantes nas casas
dois, quatro e dez; e em posições específicas do planeta Saturno e
Vênus no mapa natal.
Subpersonalidade transformadora
É geralmente motivada por forte necessidade de modificar e
renovar tudo o que está ao seu redor. São pouco apegadas às
formas do mundo material, se levam facilmente por novidades e
mudanças sem grandes questionamentos. Desapegadas e mais
livres, são idealistas, evitam a monotonia e a repetição. As ideias e
as palavras as colocam em movimento. O cotidiano e a rotina
tendem a subtrair a sua motivação vital. Os signos que indicam mais
essas características são: Gêmeos, Aquário, Áries e Sagitário e os
elementos predominantes são ar e fogo. No limite, essas
subpersonalidades são extremadas; têm medo de enraizar ou de
serem aprisionadas no mundo da forma, o que pode indicar uma
faceta por vezes intolerante e destrutiva. Há uma dificuldade em
materializar e realizar suas ideias e projetos, que se renovam de
tempos em tempos e assim não são finalizados. Os planetas
envolvidos nessa dinâmica psicológica são geralmente: Mercúrio,
Marte, Urano e Júpiter. Devem-se observar as casas: três, seis e
onze.
Subpersonalidade pragmática
Essa subpersonalidade guarda algumas semelhanças com o tipo
descrito na subpersonalidade conservadora. Ela é organizada,
realista, com facilidade em executar ideias de forma rápida e
eficiente. Valoriza bastante o status e a segurança material, o que
significa uma tendência de visão mais materialista de existência.
São bem-sucedidas em ações de resultados imediatos e buscam
soluções no lugar de abstrações. Em seu lado mais distorcido, não
conseguem enxergar a totalidade da realidade ao seu redor,
derrapando na falta de sutileza com a complexidade da natureza
humana. Tendem a ser desconfiadas e irônicas em excesso, o que
pode ser um empecilho nas relações em geral. Tornam-se mais
abertas às mudanças quando essas são realmente imprescindíveis
ou inadiáveis. Diante de situações críticas são vulneráveis à
desesperança, pela dificuldade de ver um significado naquilo que
lhes acontece. Essa predisposição geralmente se constrói em torno
de posicionamentos de planetas nos signos de Touro, Virgem e
Capricórnio, que representam o elemento terra. São relevantes
também as casas dois, três, seis e dez.
Subpersonalidade mística
Aqui observamos uma forte tendência ao idealismo, onde o
indivíduo vive de forma mais ou menos confortável dentro de um
mundo de possibilidades ou de sonhos que podem ou não se
concretizar. Sua visão de mundo é abrangente e suas aspirações
sempre incluem o social e o aspecto humanitário. O mundo
sobrenatural e transcendente é alvo de seus interesses e estudos; é
uma buscadora de verdades e de significados para tudo o que
acontece, seja no plano individual ou coletivo. Essa
subpersonalidade não convive bem com as limitações do cotidiano
e, por vezes, o escapismo e a negação são as suas formas de
maquiar ou suportar a realidade. Suas ambições espirituais não
realizadas podem implicar em grande frustração e paralisia
psicológica. Em função de uma autoimagem idealizada, têm
dificuldade em reconhecer suas próprias limitações e sentimentos
negativos como ciúmes ou raiva, etc. É importante se observar
posições marcantes de Júpiter, Urano ou Netuno. Os signos de ar e
fogo pressupõem essa tendência, assim como as casas nove, dez e
doze.
As subpersonalidades podem funcionar como uma lente de
aumento de uma determinada expressão planetária; isso, em geral,
tem a ver com posições de Marte, Júpiter, Sol e Urano. No sentido
contrário, onde a distorção é no sentido de subtração, de menos
valia ou inferioridade, podemos nos deparar com aspectos difíceis
envolvendo Netuno, Vênus e Saturno. Em casos de naturezas
contraditórias, explosivas e polêmicas, geralmente encontramos
Marte, Lua e Urano em ação. Em casos de indivíduos mais
ambivalentes, indecisos e procrastinadores, Mercúrio, Netuno, Lua e
Vênus são relevantes. Oscilações entre desânimo e euforia ou
entusiasmo e tristeza podem ser observadas em posicionamentos
entre Saturno e Júpiter. Observe-se, entretanto, que essas
indicações são bastante genéricas e não podem ser levadas ao pé
da letra, pois cada indivíduo é único e reage a eventos da vida de
forma idiossincrática.
Explicitando melhor as distorções dos arquétipos, cito novamente
Ferrucci:
As subpersonalidades também são degradações ou distorções
de qualidades atemporais existentes nos níveis superiores da
psique. Por exemplo, a subpersonalidade hiperativa pode ser
vista como uma distorção do arquétipo da energia; o sedutor
compulsivo é um parente distante do amor em seu aspecto
superior; a subpersonalidade obstinada pode ser vista como
uma distorção da vontade; e assim por diante.[liv]
Conclusão do Capítulo
Tanto as subpersonalidades astrológicas quanto os complexos,
na psicologia junguiana, fazem parte de nossa vida inconsciente, da
nossa personalidade. Como já vimos, ambos têm autonomia,
pulsões, desejos e reivindicações próprias e, desta feita, moldam
nosso destino. Não são necessariamente negativos, mas podem ser
prejudiciais quando sequestram a nossa vontade ou libido e nos
impelem a agir de forma compulsiva e repetitiva. Ambos têm um
núcleo arquetípico central, que como personagens ditam regras
para um roteiro a ser vivido.
É importante salientar que as respostas que o indivíduo dá a
certas situações na vida dizem muito sobre sua tipologia, seus
complexos, e claro, sobre as configurações planetárias existentes
no dia de seu nascimento; entretanto, é primordial o entendimento
de que cada mapa natal é único, e as configurações astrológicas ali
presentes são pressupostos, cujo valor simbólico não é igual para
todos. Há que se levar em conta a interpretação do mapa como um
todo e a história individual que ali está contida. O mapa astrológico
pode indicar tendências que, como uma bússola, vai apontar uma
direção, ou guiar o astrólogo ou psicólogo em seu entendimento dos
possíveis caminhos para que haja uma transformação, caso ela for
necessária.
Afirma Greene sobre a complexidade da natureza humana:
Tudo o que possui vida e dinamismo é, portanto, “destinado”
pela natureza de seus complexos, os quais são modelos
inerentes percebidos pela psique humana como narrativas
míticas que determinam ambos, caráter e destino. (...)E para
Jung, os arquétipos que existem no âmago de todo complexo
são simbolizados pelos deuses planetários.[lv]
A esse respeito, completa Jung:
A jornada pelas casas planetárias, como também o passar pelos
grandes pórticos do mundo egípcio, portanto, significam a
superação de um obstáculo psíquico, ou de um complexo
autônomo, adequadamente representado por um deus ou
demônio planetário. Quem superou todos os círculos planetários
está livre de coação: conseguiu ele a corona victoriae e com
isso a semelhança com Deus.[lvi]
Gosto de lembrar que os sonhos, com suas preciosas e
surpreendentes imagens sempre são únicos, tal e qual o sonhador e
a sua história de vida. Um sonho pode conter imagens e situações
semelhantes, mas nunca será igual a outro. Sua estrutura simbólica,
como aquela que vemos na carta natal, precisa ser compreendida
sempre dentro de um contexto de respeito, amplitude e
sensibilidade. A interpretação pode levar o indivíduo a uma reflexão
mais profunda de si mesmo, seja em suas limitações ou
potencialidades. Os símbolos geralmente apontam para uma nova
direção ou caminho; sua riqueza e complexidade, quando
assimilados de forma adequada, são agentes de transformação
potentes. O inconsciente é criativo e dinâmico; se não assim não
fosse, por quê exerceriam tanto fascínio sobre nós?
Na literatura junguiana encontramos muitas referências aos
complexos: paterno, materno, inferioridade e superioridade, rejeição,
poder, velho sábio, puer e senex, salvador da pátria. Como vimos,
as configurações planetárias que chamamos de “aspectos” são
dadas pelas relações angulares entre os planetas no mapa
astrológico. Através delas podemos observar os pontos vulneráveis,
as fissuras psíquicas, os conflitos contraditórios da psique, ali
expressos pelas batalhas travadas pelos “deuses” ou arquétipos
planetários.
Dicas para mapear subpersonalidades
Sombra
Se por um lado as qualidades de generosidade, bom
comportamento e honestidade geralmente são estimuladas numa
criança, por outro, igualmente, são rechaçadas as manifestações de
agressividade, indisciplina, rebeldia, sexualidade ou fragilidade
emocional. Portanto, a sombra tem um aspecto individual e coletivo,
e nesse contexto ela é também a expressão de todas as formas de
intolerância, segregação, desigualdades, injustiças e dos horrores
das guerras.
A sombra pode ter uma natureza infantil, quando entendemos
que ela foi o depositário de todas as feridas ou humilhações
provindas da infância, que o indivíduo sofreu num grau maior ou
menor. Poderíamos dizer, assim, que a sombra existe dentro dos
territórios da psique onde o não prevalece, ou seja, em todos os
núcleos em que alguém, por motivos diversos, negou ou reprimiu
alguns aspectos inaceitáveis da sua história, personalidade, seja de
forma consciente ou não.
Num esquema simples, temos de um lado a persona, termo que
vai designar nossa fachada ou máscara, que é útil e funcional para a
vida social; de outro lado há essa outra parte do eu, mais sombria e
inconsciente, que permanece amordaçada ou trancafiada no porão
da psique. É como se a sombra ficasse escondida “atrás” da
persona (máscara) do indivíduo.
No comportamento humano é fácil reconhecer a entrada em cena
da sombra, pois ocorre no indivíduo uma mudança repentina da
personalidade. Assistimos então, perplexos, aos atos falhos,
explosões de ódio, emoções descontroladas, opiniões sarcásticas
ou desejos de vingança, medo, tristeza ou obscenidades que
normalmente não estariam na fala de certas pessoas. Em situações
de grande stress e doenças isso também pode ocorre, pois é
quando surge um rebaixamento da consciência. O ego dá uma
espécie de “cochilada” e qualquer contrariedade funciona como um
gatilho que aciona emoções negativas ou destrutivas, o que nos
permite afirmar que a sombra e os complexos são parentes bem
próximos e que andam de mãos dadas!
Pouco civilizada e primitiva, a sombra é também responsável por
comportamentos e pensamentos marcados pela inveja, ou
ressentimento. Nesse território sempre indomado e inconsciente
habitam também tendências cruéis e destrutivas, ganância
desmesurada, mesquinharias, enfim, o lado titânico do homem, e
que por convenções sociais e culturais não deve ser mostrado.
Em nome de uma autoimagem positiva, tudo o que na
consciência se opõe às qualidades socialmente valorizadas é
jogado ou banido para o inconsciente do indivíduo. A sombra, ao ser
tratada como inimiga e julgada ameaçadora, ganha vulto e força
justamente em função de seu não reconhecimento. Em outras
palavras, quanto mais negada ou não reconhecida, mais hostil a
sombra se torna.
No livro “A prática da psicoterapia”, diz Jung: “No momento em
que o espírito humano conseguiu inventar a ideia do pecado surgiu
a parte oculta do psiquismo, em imagem analítica: a coisa
recalcada”[lix].
É importante destacar também que a sombra não é
simplesmente aquilo que um indivíduo considera uma falha de
caráter, como egoísmo ou ambição. Por definição, como já vimos,
ela é inconsciente, reprimida e pode ser realmente detestável; no
processo psicoterápico, a sua integração à consciência é
geralmente bastante dolorosa.
É sempre um ponto de vulnerabilidade do indivíduo, uma espécie
de cicatriz que de tempos em tempos pode doer, virar um sintoma,
seja ele psíquico ou físico, originando as doenças. Dessa forma, é
compreensível que as pessoas prefiram negar ou justificar esse lado
escuro e perturbador. No inconsciente os complexos, a sombra e a
função inferior estão ou são emaranhadas entre si e podem atuar
em conjunto, pois possuem um dinamismo psíquico próprio. Os
habituais mecanismos de negação ou de defesa do ego funcionam
muito bem em nossa forma de autoavaliação, sempre arbitrária e
parcial, pois é assim que continuamos bem instalados nas áreas de
conforto psíquicas e supostamente bem longe de nossos defeitos e
limitações.
Retirada de projeções
na Astrologia
Assim, um grande acordo foi feito entre Hades e Zeus para que o
sofrimento de Demeter terminasse. No outono e no inverno, período
em que a terra dorme, Perséfone ficaria com seu esposo no mundo
ctônico; no verão e na primavera, ela voltaria para ficar com a sua
mãe, pois seria época das florações e das colheitas dos grãos e dos
frutos.
Junito Brandão faz um excelente comentário dessa linda
narrativa:
Deusa maternal da Terra, sua personalidade é simultaneamente
religiosa e mítica, bem diferente, já se salientou, da deusa Géia,
concebida com elemento cosmogônico. Divindade da terra
cultivada, a filha de Cronos e Réia é essencialmente a deusa do
trigo, tendo ensinado aos homens a arte de semeá-lo, colhê-lo e
fabricar o pão. Tanto no mito quanto no culto, Demeter está
indissoluvelmente ligada à sua filha Core, depois Perséfone,
formando uma dupla quase sempre denominada As Deusas. As
aventuras e sofrimentos das Deusas constituem o mito central,
cuja significação profunda somente era revelada aos Iniciados
nos Mistérios de Elêusis. (...) Demeter é, pois, a Terra-Mãe, a
matriz universal e mais especificamente a mãe do grão, e sua
filha Core o grão mesmo de trigo, alimento e semente, que,
escondida por certo tempo no seio da Terra, dela novamente
brota em novos rebentos, o que, em Elêusis, fará da espiga o
símbolo da imortalidade. Plutão é a projeção dessa semente.
(...) Fundamentalmente agrário, o culto de Demeter está
estreitamente vinculado ao ritmo das estações e do ciclo da
semeadura e colheita para a produção do mais precioso dos
cereais, o trigo.[lxiv]
Simbolismo astrológico de Saturno
No saber astrológico, Saturno/Cronos é representado pela figura
do ancião que carrega uma foice, um instrumento agrícola e uma
ampulheta, que significa a passagem inexorável do tempo. Como o
regente do signo de Capricórnio é também o eremita, o velho sábio,
aquele que aprendeu com a caminhada da vida. Para alguns
estudiosos, a foice, que teria sido dada por sua mãe para que
pudesse destronar seu pai, é a expressão simbólica ou arquetípica
de um ponto de ruptura, quando o tempo expira, sinalizando a
duração dos ciclos ou fases da vida.
Trânsitos de Saturno
Trânsitos de Plutão
Os aspectos sacrificiais e as mortes simbólicas vividas durante a
vida muito bem traduzem os ciclos ou trânsitos astrológicos de
Plutão.
É necessário dizer que Plutão e destino andam de mãos dadas e
muitas vezes atadas. No plano psicológico não é raro observarmos
como seus trânsitos ou progressões podem desencadear a erupção
de complexos e de partes mais sombrias e doentes do indivíduo. A
escolha, a vontade individual e o arbítrio têm pouca eficácia; pode
haver uma verdadeira humilhação ou rendição do ego, para um
despertar de consciência ou de compreensão da vida.
Seus trânsitos ou ciclos desafiadores tendem a implodir certos
sistemas de crenças negativas, arraigadas e presentes nos
complexos, e que tendo vida própria não são fáceis de serem
confrontados. Traumas e resíduos de natureza compulsiva podem
vir à tona para que possam ser vistos, aceitos e ultrapassados.
Acredito que não temos capacidade de transformar totalmente
nossos complexos, eles constituem a nossa dinâmica psíquica. Vale
dizer, podemos chegar ao fundo do poço, de lá tirar a água
renovadora da vida, mas ainda assim, o poço lá permanecerá.
Plutão atua intensamente no plano dos relacionamentos
amorosos. É o regente do signo de Escorpião, que por sua vez
corresponde à oitava casa do zodíaco natural. Esse planeta quando
ativa essa área, por trânsito, pode constelar complexos parentais
reprimidos, traumas de violência ou abusos de natureza sexual,
trazendo à tona dores de rejeição ou humilhações da infância que
estavam adormecidos, porém vivos. Lá estavam controlados, com
sua variada tessitura ou intensidade emocional. Mas ao serem
provocados por complexos de outrem, podem se assemelhar a um
vulcão em erupção que vai despejar as lavas ferventes dos
ressentimentos até então inconscientes. Cenas de ciúmes e
possessão cinematográficas acometem casais de forma súbita, mas
não por acaso. As lavas plutônicas precisam emergir para que
antigas toxinas emocionais soterradas na psique possam ser
eliminadas. Howard Sasportas assim alude aos trânsitos de Plutão:
Os trânsitos de Plutão evocam imagens de descida – uma
viagem ao mundo subterrâneo do inconsciente, uma viagem de
descoberta do que está escondido dentro de nós. Deve-se
enfatizar novamente que o inconsciente não é apenas o
depósito das emoções, complexos e sentimentos negativos que
nos recusamos a reconhecer, embora não faltem “demônios”
desse tipo à espreita, nas profundezas da nossa psique.[lxxi]
Como enfrentar lembranças negativas da matriz afetiva, ou
erótica, da infância, que brotam sem avisar e se atualizam de forma
inconsciente em relações aparentemente equilibradas?
A verdade é que esses ciclos têm como propósito o confronto
desses aspectos mais bestiais e destrutivos, pois é ali que estamos
impotentes e somos desnudados, as defesas caem, fazendo com
que algo novo possa emergir para a consciência. Questões
existenciais e profundas são temas que encontramos na música,
literatura, na poesia. Como elas poderiam surgir não fossem as
inquietações e as dores da alma? Na inspiradíssima canção do
cantor baiano encontramos:
“Se eu quiser falar com Deus
Tenho que comer o pão que o diabo amassou
Tenho que virar um cão
Tenho que lamber o chão
Dos palácios suntuosos do meu sonho
Tenho que me ver tristonho, tenho que me achar medonho
E apesar do mal tamanho alegrar meu coração”.[lxxii]
Conclusão do Capítulo
Na descrição dos significados arquetípicos destes dois planetas,
seja do ponto de vista mitológico ou astrológico, percebemos que
eles guardam semelhança bastante clara com aquilo que
entendemos ser a sombra no contexto da psicologia analítica.
Portanto faço aqui um resumo daquilo que entendo ser uma
possível interface simbólica e teórica entre a natureza da sombra
na psique humana e os conteúdos arquetípicos associados a
Saturno e Plutão no simbolismo astrológico na carta de nascimento:
- Ambos os planetas representam aspectos reprimidos, escuros
ou inconscientes da psique. Especificamente Saturno, no mapa
natal, representa as áreas de fragilidades ou defesas, onde
construímos nossos esquemas ou muros de proteção. A casa e o
signo onde ele está deve ser observado, independentemente dos
aspectos. Plutão diz respeito às feridas da alma que ficaram
soterradas em nossa história emocional.
- Saturno e Plutão têm uma relação intrínseca com a
manifestação da sombra nos complexos, a expressão exagerada ou
compulsiva das emoções, com vimos no capítulo IV.
- Ambos estão ligados à imagem do demônio, de Lúcifer, ao
príncipe das trevas, com a Besta, os aspectos indomados ou
destrutivos da personalidade, difíceis de serem aceitos tanto pelo
próprio indivíduo quanto pela sociedade. Nos mitos nos deparamos
com a natureza titânica, cruel e violenta de Saturno que, a meu ver,
encontra um paralelo com a força não civilizada, primitiva e
irracional de Plutão.
- Em ângulos difíceis no mapa natal ambos podem indicar
sentimentos de medo, rigidez, obsessão, depressão, pânico,
negatividade, comportamentos de frieza e indiferença. Em ângulos
harmônicos Saturno indica seriedade, segurança, resiliência,
determinação, senso de realidade. Plutão indica capacidade de
superação, tenacidade, determinação, capacidade de correr riscos,
obstinação, profundidade, enfrentamento, compromisso com a
verdade nua e crua, audácia e poder pessoal.
- Ambos estão implicados com o valor educativo da dor que
chega através das perdas, mortes, rupturas, traumas, frustrações ou
de situações difíceis que estão fora do nosso controle. É comum
observarmos experiências traumáticas em ciclos (trânsitos) fortes de
Saturno e Plutão. Há uma frase que diz: “O encontro com a sombra
rouba-nos a inocência”.
- Em trânsitos desafiadores, ambos podem representar
processos psicológicos de descida da libido, de depressão,
angústia, catarses, sofrimento, purificação, morte e renascimento,
para que haja o desenvolvimento da consciência. Nossos potenciais
ainda desconhecidos e inconscientes emergem de lugares
dolorosos para que possam ser reconhecidos e integrados em
nossa vida. Um processo terapêutico bem conduzido será
certamente bem-vindo e proveitoso para que a transformação
desejada possa ocorrer.
- Ciclos de Saturno demandam a paciência, a aceitação da
limitação, a espera pela passagem do tempo; processos de
purificação, regeneração e conscientização por vezes dolorosos,
geralmente são marcantes em trânsitos plutônicos. Ambos
demandam humildade para que haja uma nova consciência. Muitos
fazem analogias ao ciclo da lagarta dentro do casulo que, inerte,
espera o tempo certo para dele se libertar; uma vez transformada
em borboleta, poderá, finalmente, voar!
- Indicam ciclos (trânsitos) em que a sombra emerge em
decorrência de eventos externos ou internos, que podem resultar
num colapso de valores e na derrota do ego.
- Nas narrativas míticas, ambos se relacionam com gigantes,
pântanos, cavernas, labirintos, ogros, duendes, seres deficientes,
dragões, demônios, bruxas ou feiticeiras. Nelas o herói deverá
atravessar florestas, ser engolido por baleias, atravessar mares
revoltos, matar seres monstruosos, etc. Nessas histórias cujas
metáforas tão bem simbolizam a complexidade da dinâmica
psíquica, o herói necessita vencer enormes obstáculos e desafios
para que o tesouro seja encontrado, seja a princesa, uma jóia, um
reino encantado, ou o retorno para casa.
Em suma, Saturno e Plutão nos levam ao encontro da nossa
sombra. Promovem a humanização e a humildade; por outro lado
nos ensinam a altivez do espírito perante as adversidades; são os
senhores do destino. Mostram o valor educativo da dor, do
sofrimento que leva à sabedoria que advém do desenvolvimento da
consciência.
Capítulo VI
Individuação
A individuação é um processo de reflexão, que possibilita um
criativo diálogo entre o inconsciente e a consciência. É um trabalho
psicológico interminável que permeia toda a existência, cujo
pressuposto está na realização de um padrão básico que é inerente
a todo indivíduo. A individuação é um conceito central na psicologia
junguiana e também o objetivo da prática psicoterápica. É o emergir
da essência do indivíduo em detrimento da aparência, onde haverá
a integração de aspectos contraditórios e obscuros da psique.
Individuar-se significa ir além das limitações do nosso intelecto, e
implica a possibilidade de viver experiências transcendentes ou de
cunho religioso, junto à apreensão do sentido e do significado da
vida. Esse caminho de emancipação e de integração da
personalidade subtende uma maior autonomia e liberdade em
relação às forças do Inconsciente coletivo e o fim da submissão
inconsciente ou compulsiva aos valores sociais, aos complexos
parentais, culturais ou religiosos da sociedade.
A noção de indivíduo como uma unidade inseparável, não
divisível e ao mesmo tempo integrada ao contexto coletivo, assim é
descrita por Jung em “Two Essays on Analytical Psychology”:
A individuação só pode significar um processo psicológico
evolutivo que realiza a disposição de dado indivíduo. Em outras
palavras, é um processo pelo qual o homem pode criar a partir
de si mesmo aquele ser definido, único, que ele no fundo sente
ser... À medida que o indivíduo humano, como unidade viva é
composto de valores universais, esta unidade é totalmente
coletiva e, portanto, não se opõe à coletividade em nenhum
sentido... a individuação tem por meta uma cooperação
essencial de todos os fatores.[lxxiii]
É preciso lembrar que a individuação, como busca de expressão
da individualidade, não é um privilégio só daqueles que fazem
psicoterapia, seja de qual linha for, uma vez que essa predisposição
é inerente a tudo o que nasce e vive, cresce e morre. Todo ser vivo
tem um potencial biológico natural para tornar-se aquilo que está
destinado a ser, e isso acontece de forma espontânea.
Simplesmente que para alguns será de forma mais consciente do
que para outros. Sempre podemos fazer uma simples analogia de
que a nossa vida é como a semente de uma fruta: sendo de uma
laranja, nunca se desenvolverá como um abacaxi. Quando
nascemos somos uma semente, ou seja, um potencial, um vir a ser,
no entanto não somos uma tabula rasa, já trazemos conosco certas
predisposições e inúmeras possibilidades em estado latente. Desta
forma, todo indivíduo sadio poderá desenvolver habilidades e
talentos no decorrer de sua existência, sejam elas corporais,
emocionais, intelectuais ou mesmo espirituais.
O processo de individuação é, na verdade, mais que um amplo
acordo entre a semente inata da personalidade e as
circunstâncias externas que constituem o seu destino. Sua
experiência subjetiva sugere a intervenção ativa e criadora de
alguma força supra pessoal. Por vezes, sentimos que o
inconsciente está nos guiando de acordo com um desígnio
secreto. É como se algo estivesse nos olhando, algo que não
vemos, mas que nos vê a nós - talvez o Grande Homem que
vive em nosso coração e que, através dos sonhos, vem nos
dizer o que pensa a nosso respeito.[lxxiv]
O psicoterapeuta será o orientador do paciente neste processo
dinâmico e poderá se valer das imagens dos sonhos ou de outras
técnicas, no sentido de ajudar na elaboração e conscientização dos
conteúdos que forem surgindo na terapia. A individuação não ocorre
de forma aleatória, mas também não depende só da vontade egóica
do homem; cada um vai realizá-la de forma única e singular.
Labirinto da Catedral de Chartres
Por fim, creio que seja bastante importante ressaltar que a
individuação tem, como já vimos, um pressuposto não só individual,
mas também relacional, igualmente relevante. O processo subjetivo
da psique acontece e reverbera também no mundo externo, nas
relações, naquilo que o indivíduo poderá doar de si para o
desenvolvimento da coletividade.
Veremos a seguir o vasto simbolismo do Sol na Astrologia e
como ele se relaciona com esse processo de desenvolvimento
psicológico, conquistado e construído durante toda a vida e que
torna a existência mais plena se significados.
Símbolos Solares
Vamos agora tentar entender de forma mais específica o que
representa o Sol na astrologia, para assim estabelecer uma
correspondência entre o seu simbolismo e o processo de
individuação. A mitologia e outras tradições antigas também nos
contemplam com ricas imagens e significados do nosso astro-rei e
que veremos também nesse capítulo.
Do ponto de vista astronômico o Sol é a estrela central do nosso
sistema solar, sendo responsável por 98,6% da massa deste
sistema. Todos os demais corpos giram ao seu redor, pela ação de
sua intensa força gravitacional. No interior do Sol se produzem
quantidades imensas de energia, e, como um reator atômico, ele
transforma hidrogênio em hélio. A interação entre o Sol e a Terra
determina as quatro estações do ano; sem essa energia de luz e
calor não haveria vida na Terra. Seu tamanho é 109.000 vezes
maior do que o da Terra, e a distância entre o nosso planeta e o Sol
é de 150 milhões de Km. Essa dimensão astronômica nos dá a
percepção da magnitude e importância do astro-rei em nossas
vidas.
No saber astrológico, o glifo do Sol vem a ser um círculo com um
ponto no meio, que representa a consciência dentro do círculo da
totalidade.
Simbolicamente, o Sol representa a força de atração, a
vitalidade, a direção e o pulsar da vida, o impulso por autonomia, o
princípio masculino da natureza, a criatividade, autoexpressão, a
consciência do eu, a generosidade, o calor da paixão. Suas imagens
arquetípicas nos remetem ao sopro da vida, à centelha divina,
consciência, força criadora da vida e do espírito, ao poder, comando
e autoridade. O Sol na astrologia personifica o pai, os governantes,
os professores, os reis, os gurus e os heróis.
Pelo princípio das correspondências, podemos observar que o
Sol que está no céu e no centro do sistema solar é o mesmo que
está no centro do nosso corpo sob a forma do coração, pulsando e
irradiando a vida. No mundo mineral ele é simbolizado pelo ouro,
diamante e o quartzo rutilado; no mundo animal pelo leão, no mundo
vegetal pela flor girassol e o açafrão. Na anatomia zodiacal o Sol
corresponde ao coração e ao sistema circulatório, o timo, a coluna
vertebral, os olhos. É bastante clara a percepção que a imagem
arquetípica do Sol astrológico está sempre relacionada com a luz,
atração, força vital, criação, poder, exuberância, grandeza e realeza.
Templo de Apolo
O Mito de Apolo
Na Grécia antiga, no monte Parnaso, Apolo era cultuado e
reverenciado em seu templo, que abrigava o Oráculo de Delfos,
construído na cidade grega do mesmo nome. Em uma variante do
mito conta-se que Apolo, antes de se instalar nesse lugar, teve uma
importante missão: matar com suas flechas a enorme serpente de
Píton, que era a guardiã do oráculo de Gaia, a terra primordial.
Após destruí-la, ele ergueu o seu próprio templo, onde
reinou por muitos séculos, e homenageou a serpente,
dando o nome de Pitonisa à sua sacerdotisa. Num ritual
sagrado, sentada numa trípode de bronze e coberta pela
pele de Píton, ela respondia, em êxtase, às perguntas
dos consulentes que vinham ao Oráculo de vários
lugares, sendo que as consultas eram sempre feitas no
sétimo dia de cada mês. Nesse templo de Apolo havia a
famosa inscrição: “Homem, conhece-te a ti mesmo”.
Sabe-se que o oráculo de Apolo chegou ao seu apogeu
entre os séculos VI e IV a.C. da civilização grega. Em seu
templo iam se consultar chefes militares, soberanos e
navegadores, todos à procura de desvendar seu futuro ou
ganhar mais consciência sobre seu destino. A influência
político-social do Templo de Delfos foi de grande
importância na vida grega, não obstante as guerras e os
conflitos internos que nela houvesse. O templo de Delfos
era um centro de poder moral e sua influência religiosa
predominou na cultura grega e na hegemonia do povo
grego. Apolo, como representante da harmonia e da
beleza, lá estava para apaziguar as tensões e guiar o
gênero humano a favor do desenvolvimento da sua
consciência apesar das barbáries das guerras entre os
povos. Ao mesmo tempo que Apolo é a luz da
consciência, ele também promove uma ideia de cultura e
soberania, típicas da cultura grega. A espiritualidade por
ele representada é a função superior da consciência.
(Tereza Kawall)[lxxxiv]
Apolo
A superação e o confronto com o mundo lunar e inconsciente é
muito bem representado nas jornadas dos mitos dos heróis solares.
No mundo lunar, o eu está ainda submerso e preso em influências
familiares ou fatores mais subjetivos e emocionais. Os caminhos
tortuosos pelos quais o herói vai passar estão geralmente
representados por imagens arquetípicas que sinalizam uma
travessia pelo inconsciente: florestas escuras, rios que conduzem
aos infernos, mares revoltos e mesmo passar dias dentro da barriga
de uma baleia. Em sua jornada solar, o herói deverá matar dentro de
si as potências cósmicas do mal, representadas por serpentes e
dragões que habitam as cavernas de sua alma, vale dizer, livrar-se
da dependência materna ou familiar, que impedem o seu
desenvolvimento e autonomia. Sua meta ou recompensa, seja a
princesa, o tesouro ou a imortalidade é chegar à consciência de si-
mesmo.
Na representação dessa busca solar, da noite escura que
antecipa o amanhecer, ou seja, da inconsciência para a consciência,
e para a luz do dia que permite a visão, encontramos o simbolismo
do cavalo solar:
Na Grécia, o cavalo está associado a Apolo, o deus solar,
por conduzir a sua carruagem. Cavalo e carro solar têm
uma identificação tão íntima que muitas vezes não são
vistos separadamente. Ambos conduzem o Sol em seu
movimento diário pelo céu.[lxxxvi]
O Sol como símbolo cósmico sempre ocupou uma posição
central de poder em antigas civilizações. Em nosso país, na
concepção cosmogônica da cultura tupi-guarani, encontramos
presentes esses belos mitos. Para essas culturas, Tupã é o grande
espírito do trovão que deu origem à vida. Guaraci é o deus do Sol
que auxiliou seu pai na criação do mundo. Ele é irmão e marido de
Jaci, a deusa da Lua, que é guardiã da noite e responsável pela
reprodução das espécies.
Outras relações solares podem ser feitas com o deus Mitra, da
antiga Pérsia, um espírito poderoso, gênio do Sol e do fogo. E
também com Rá ou Horus, da mitologia egípcia, que era filho de Isis
e Osíris; Horus era representado como um homem com a cabeça de
um falcão. Era associado ao Sol, a luz do dia, sendo o protetor da
realeza egípcia. Também encontramos Surya, a divindade solar no
hinduísmo.
Termino com Valentine:
A tarefa do Herói consiste em “combater o dragão da
inércia a fim de destravar e liberar o fluxo da vida para o
corpo do mundo, na direção de um lugar onde a vida
secou, tornando-se uma terra estéril. Se recusamos a
chamada para viver nossas próprias vidas ficamos
deprimidos, sem vitalidade. O Sol simboliza a potência
criativa, cujos raios põem fogo no mundo, iluminam a
escuridão primordial, espírito penetrando na matéria, tudo
vai ganhando vida. O Sol nos liga com a forma vital e
bruta que existe em nós, oferecendo um canal para sua
manifestação, um princípio universal superior que nos
livra da dominação da natureza, liberta-nos das garras da
vida instintiva.[lxxxvii]
O Sol e o Tarot
Encontramos dois arcanos maiores no Tarot de Marselha, cujas
representações são bastante análogas aos princípios astrológicos
do Sol e do signo de Leão.
Vemos na carta “O Sol” a figura do astro-rei brilhando e duas
crianças. O Sol em seu trajeto diário e anual representa a fertilidade,
a ressurreição dos ciclos da natureza, e de acordo com sua potência
criadora, temos os princípios da organização e continuidade.
Sol e Carta de Tarot
As diferentes fases do processo alquímico tinham uma relação
direta com a posição dos planetas no céu, uma vez que tanto a
alquimia como a astrologia são baseadas no princípio das
correspondências e no tempo qualitativo. Dito de outra maneira,
os metais transformados tinham a mesma substância e energia dos
planetas, e tudo tinha o tempo certo para acontecer. No final deste
capítulo encontra-se uma descrição dessas fases alquímicas
também no contexto astrológico.
O ouro buscado pelo alquimista através da transmutação da
matéria é também um símbolo solar, por excelência. O Sol no céu e
o ouro encontrado em seu laboratório (da alma) brilham
intensamente e são representações do renascimento das forças
espirituais, como é a centelha do fogo divino no espírito humano.
Em analogia, o pressuposto alquímico é que o Sol é a própria
imagem de Deus, assim como o coração é a imagem do Sol no
homem. Por sua vez o homem é a opus, ou revelação do plano
divino da terra.
Sobre a pedra filosofal como metáfora alquímica, Roberto
Gambini[lxxxix] afirma:
A ideia é que, se andamos na direção da coisa importante que
queremos alcançar, os símbolos aparecem para nós para
sinalizar se estamos no caminho certo ou não. Na alquimia, a
pedra filosofal simboliza o longo processo que leva à unificação
interior. Então, pensando numa pessoa, quando ela consegue
chegar perto desse encontro consigo mesma e começa a se
aceitar do jeito que é, para de projetar seus conteúdos internos
para fora de si, aceita suas limitações e seu potencial – enfim,
torna-se responsável por si mesma. Aí é que se pode ver como
age uma pessoa psicologicamente madura, capaz de uma ação
eficaz porque aquilo que ela está se propondo é algo que lhe
corresponde. Ela chegou lá... uma configuração psicológica que
caricatamente pode ser resumida assim: “Essa pessoa
encontrou a sua pedra filosofal”.
Calcinatio
Esta operação tem íntima relação com o simbolismo do elemento
fogo, que vem a ser: aquecer e queimar a prima matéria, chegando
às cinzas. É um processo de secagem, para evitar a contaminação
inconsciente dos complexos. Em sonhos podem surgir imagens
recorrentes de incêndios, fogueiras, lareiras, vulcões. Queimar os
pecados no fogo do purgatório. A vivência da calcinatio é frequente
em vivências relacionadas com o desejo, raiva, decepção e amores
frustrados. O fogo aqui é a paixão que será extinta ou exaurida em
si mesma. Transmutar esse fogo significa elaborar as emoções, e
não ser refém de desejos de forma cega ou compulsiva. Sabemos
que a paixão é um catalisador para transformações. Aspectos
relevantes de Vênus, Marte e Plutão.
Solutio
Operação associada ao elemento água, que implica em
dissolução. Desintegração, onde os limites do ego se perdem ou há
ausência de limites, ou a inundação do inconsciente. Imagens de
renascimento, lavagem, purificação ou limpeza, como batismo,
banho de mar, ondas, cachoeiras, imersão na água, piscina, chuva.
Vemos resistências que precisam ser dissolvidas, o chorar e as
lágrimas. Experiências amorosas onde a fusão exagerada gera a
perda de identidade ou impotência. Trânsitos de Netuno e Lua.
Coagulatio
Operação relacionada ao simbolismo do elemento terra, cujas
características são o peso, a permanência, o chão, a encarnação na
matéria. Terra representa a cruz da matéria, a encarnação do corpo
físico. Autores dizem que essa fase pode vir após as duas
anteriores, onde paixões arrebatadoras pedem depois atitudes mais
realistas, a aceitação dos limites e da própria realidade. Pode
representar a capacidade de ficar só, ter responsabilidade sobre si
mesmo, pela própria vida. O planeta Saturno está associado a essa
fase, assim como a ideia de crucificação e do sacrifício. Seus
trânsitos nos levam a priorizar ou definir metas mais palpáveis e
realistas, e os esforços para concretizá-los. Pode haver melancolia,
depressão, que acabam se tornando necessárias para que haja a
transformação do metal pesado chumbo em ouro. Ou seja, a
individualidade se cristaliza e toma forma no aqui e agora da vida
real.
Sublimatio
Essa operação é associada ao elemento ar. As imagens
recorrentes podem ser pássaros, figuras aladas, escadas,
movimento de ascensão, elevadores, altura, alpinismo. Estar no
alto, olhar de cima permite a visão mais distanciada e desapegada
do emaranhado da existência cotidiana ou limitada. Ver a vida em
perspectiva também nos leva à capacidade de refletir, e à essência
significativa da matéria mais densa. A capacidade de abstração ou
de traduzir a vida em múltiplos significados, através dos símbolos e
de atividades criativas. Autores dizem que a sublimatio se relaciona
com a capacidade de brincar e imaginar, o pressuposto para obras
criativas ou artísticas. Trânsitos relevantes associados a Mercúrio,
Júpiter e Urano.
Coniunctio:
Sincronicidade,
o Tempo Qualitativo
Relógio Sincronicidade
Richard Wilhelm
No livro O segredo da flor de Ouro, assinado pelos dois
estudiosos, encontramos a frase de Jung sobre a construção deste
conceito:
“A ciência do I Ching não se baseia no princípio da causalidade,
mas em outro princípio, até o momento sem nome – por não
existir entre nós – ao qual chamei experimentalmente de
princípio de sincronicidade. Minhas pesquisas no campo da
psicologia dos processos inconscientes levaram-me a procurar
outras explicações para esclarecimento de certos fenômenos de
psicologia profunda, uma vez que o princípio da causalidade me
parecia insuficiente. Descobri, inicialmente que existem
manifestações psicológicas paralelas que não se relacionam
absolutamente de modo causal, mas apresentam uma forma de
correlação totalmente diferente. Tal conexão parecia basear-se
essencialmente na relativa simultaneidade dos eventos, daí o
termo sincronicidade”.[xcv]
Jung, ao estudar antigas tradições herméticas, como a Alquimia,
se deparou com pressupostos e concepções comuns a todas elas.
Ou seja, uma visão de mundo que abraça a ideia de uma perfeita
unidade e comunhão entre o homem, a natureza e o cosmos, o
unus mundus, a unidade transcendente de todas as manifestações
de vida. Entendo que Jung, ao estudar essas tradições estava já
vislumbrando o seu conceito de Inconsciente Coletivo, nossa matriz
psíquica de onde emergem as imagens dos arquétipos que
representam as pulsões vitais presentes em todas as manifestações
da natureza, sejam elas físicas, emocionais, filosóficas ou
espirituais.
A Alquimia como um vasto, complexo e arquetípico
conhecimento milenar tornou-se secreta no início do período
medieval devido à forte oposição que a Igreja fazia a ela; no entanto
era praticada em segredo por muitos. Com a queda de
Constantinopla pelos turcos em 1453, inúmeros textos mágicos e
alquímicos gregos, ainda preservados pelo império Bizantino,
voltaram para as cidades ocidentais. Entre eles um volume especial,
chamado Corpus Hermeticum, onde se encontravam invocações
planetárias, procedimentos para produzir talismãs mágicos, as
diferentes etapas para a transmutação dos metais, e assim por
diante. Nesse conjunto de textos vemos o homem dotado de
poderes criativos e divinos, imagem humana preponderante do
homem renascentista, que ao libertar-se das crenças religiosas do
mundo medieval, encontra seu lugar como o centro do Universo.
Relata Liz Greene sobre esse resgate do conhecimento
alquímico:
“Na Itália, Cosimo de Médici, o senhor de Florença, ficou
especialmente interessado em adquirir esses textos, que então
fez traduzir. O poderoso movimento filosófico e cultural que
chamamos de Renascença, e que incluiu a alquimia, resultou
diretamente da aquisição destes textos neoplatônicos e
herméticos. Muitos desses textos provinham originalmente de
Alexandria”.[xcvi] Essa obra é uma compilação de obras de
diferentes autores escritas em um período que se estendeu por
mais de três séculos, conforme apresentado no capítulo I.
Foi em 1460 que o célebre mecenas italiano solicitou a Marsílio
Ficino (1433-1499) que fizesse a tradução dos antigos manuscritos
gregos para o latim daquilo que viria mais tarde ser o Corpus
Hermeticum. Essa obra é uma compilação de obras de diferentes
autores escritas por um período que se estendeu por mais de três
séculos
O milenar conhecimento da Astrologia sempre contemplou a
correlação entre os movimentos dos astros no céu e os eventos
terrestres formando um todo dinâmico, harmônico e indivisível. Essa
relação sincrônica entre céus e terra encontra-se na Tabula
Smaradigma, ou a Táboa de Esmeralda, datada do século VII, e que
contém a célebre frase atribuída a Hermes Trimegisto, o mensageiro
e intérprete dos deuses, que diz: “O que está embaixo é como o que
está em cima. O que está em cima é como o que está embaixo,
para realizar os milagres de uma coisa única”.
Wolfgang Pauli
URANO
A descoberta de Urano em 1781 coincidiu com a época de duas
grandes mudanças políticas do mesmo período, as revoluções
Francesa e Americana, ambas envolvendo ideias de liberdade e
igualdade. Coincide também com o auge do Iluminismo e com o
início da Revolução Industrial, impulsionando os avanços
tecnológicos do século 19. Surgiram novos impulsos que mudaram
a consciência do indivíduo e desta feita, ampliando as possibilidades
tanto no setor cultural, quanto artístico, político, e científico. Urano
na astrologia tem a função de romper as barreiras do passado,
inovar, acelerar o ritmo da vida. Ele atua geralmente no sentido de
desestruturar uma ordem já estabelecida; é o movimento para frente
e para o futuro, a força que rompe com o status quo, a
irreversibilidade do amanhã.
NETUNO
Netuno foi descoberto em 1846. Assistimos nesse período o
surgimento movimentos religiosos expressivos como a fundação da
Sociedade Teosófica na Inglaterra, e acentuado interesse pelo
estudo de filosofias orientais ou esotéricas e o espiritualismo em
geral. Tivemos nesse ciclo o início da química, das indústrias
farmacêuticas, a invenção dos analgésicos, e as primeiras
experiências com a hipnose que abriram espaço para intensas
explorações do inconsciente, que posteriormente resultaram no
surgimento da chamada psicologia profunda. Nessa época, as
invenções da fotografia e do cinema tiveram forte impacto na vida
cultural e artística, assim como a estética do Impressionismo. Tem a
ver com as utopias; as ideologias do socialismo e comunismo se
expandiram nesse ciclo. Na astrologia Netuno é o anseio pela
transcendência, a capacidade de síntese, os ideais místicos, a
sensibilidade psíquica, a psicologia, a psiquiatria, os sonhos, as
fantasias, as imagens produzidas pela psique ou a imaginação, a
espiritualidade a compaixão.
PLUTÃO
O planeta Plutão foi descoberto em 1930, que coincidiu com a
quebra da bolsa de valores em Nova York, o que acarretou um
colapso na economia em proporções mundiais. Desemprego em
massa, desesperança, desemprego e suicídios marcaram
fortemente esse período. Com a recessão, novas medidas que
levassem em conta um aspecto essencial da vida – a alimentação.
Houve uma verdadeira revolução nas técnicas de plantio, com a
introdução de fertilizantes e inseticidas para que esse objetivo
pudesse ser alcançado. Foi descoberta a penicilina, medicamento
que salvou milhares de vidas durante a Segunda Guerra Mundial.
Foi em meados de 1930 que se obteve pela primeira vez a liberação
da energia da matéria através da fissão nuclear. Nesse período o
mundo assistiu a ascensão do Terceiro Reich na Alemanha, com a
eclosão de governos autoritários e guerras em toda a Europa. Numa
definição essencial, diríamos que esse planeta representa o poder
em diferentes formas: o poder da regeneração, da cura, da
sexualidade, dos recursos minerais subterrâneos, do potencial
invisível da natureza. É o planeta dos mistérios ou milagres da
criação da vida, da magia, da energia atômica e da psique coletiva.
Ele é arquétipo do fluxo incessante de vida e morte e renascimento
presente em todas as manifestações da natureza.
Para muitos astrólogos esses planetas são considerados como
“transpessoais”, pois eles revelam estágios transcendentes do
desenvolvimento humano, colocando o indivíduo em contato com
experiências que estão além de suas motivações pessoais,
geralmente relacionadas à coletividade. Ao expandir o nível de
percepção psíquica do ser humano, podem provocar de forma
incontrolável crises disruptivas e mudanças profundas na sociedade.
Não pertencem por completo ao sistema solar; estão dentro da sua
esfera de influência para desempenhar uma missão de ligar nosso
pequeno sistema (do qual o Sol é o centro e a órbita de Saturno é a
circunferência) ao sistema maior que é a galáxia. Entendemos que
os movimentos psíquicos na vida dos indivíduos são os mesmos
que estão presentes na psique coletiva, ou seja, a psique individual
está em ressonância com o universo como um todo. Macro e
microcosmos refletem-se mutuamente, e dessa feita, para muitos
autores, os planetas trans-saturninos ou transpessoais são a
representação viva das forças do Inconsciente Coletivo.
Vemos assim que fatos históricos associados ao que se entende
por
No meu entendimento, a “paisagem” interna de cada pessoa
torna-se determinante na sua visão de mundo, e como
consequência, nas suas atitudes perante a vida. Indivíduos muito
pragmáticos ou extrovertidos tendem a perceber os eventos da vida
em termos bons ou ruins, certos ou errados, justos ou injustos. Os
introvertidos, com mais facilidade para a abstração e a reflexão,
sofrem ou se comprazem com os eventos da mesma forma.
Entretanto, são mais hábeis em extrair algum significado dos
mesmos, aceitando-os como parte de sua evolução pessoal. Dito de
forma mais prosaica, sabem fazer “do limão uma limonada”.
Torna-se bastante relevante o fato que essas técnicas de
orientações astrológicas se dão em função de determinados
períodos de tempo, podendo ser dias, meses ou anos. Essa
informação é preciosa, pois pode criar uma espécie de organização
psíquica interna, em que o cliente pode compreender melhor a
“qualidade” do tempo que ele tem por viver e definir com quais
recursos, internos ou externos, ele poderá contar. Ao se apropriar e
entender a natureza de seus ciclos planetários (trânsitos e
progressões), poderá otimizar ou explorar assertivamente certos
períodos, com mais oportunidades de crescimento, e ao mesmo
tempo aprender a contornar adversidades dos ciclos mais
conflituosos. Afirma Sasportas:
“Não podemos, entretanto, negar o fato de que trânsitos e
progressões frequentemente têm correlação com eventos
externos que parecem desabar sobre nossa cabeça. Mesmo
assim, ainda acredito que esses eventos são a manifestação
sincrônica externa de mudanças internas que estão
acontecendo”. [cxiii]
Nesse contexto, é preciso colocar em destaque o elemento
criativo do homem perante seus inexoráveis desafios. Quem não os
tem? Com a atitude simbólica o homem entra em contato com seu
mundo interno, pleno de imagens e fantasias. E nesse lugar ele
poderá ver o mundo com lentes diferentes, pois o símbolo é a
linguagem capaz de promover transformações mais profundas e
duráveis. Como Jung dizia: “Psique é imagem”.
A atitude simbólica, a meu ver, também pressupõe silêncio e
humildade perante o não saber. Digo isso, pois a “luz” que um
símbolo astrológico pode representar, ou os insights de uma
imagem onírica, não chegam de imediato e nem pela via racional. É
preciso saber reverenciar e ouvir o diálogo arquetípico, bastante
sutil, entre os planetas sem urgência, e isso já é um aprendizado.
Toda a simbologia brota da alma humana e com astrologia isso não
é diferente. Simbolizar é algo arquetípico e isso nos define como
seres que estão em busca de algo, provavelmente de uma
compreensão, e mais que isso, de um sentido para o viver e
atravessar os embates de vida.
Cito novamente Dane Rudhyar, que enfatizou o caráter
teleológico e transpessoal da astrologia, que se ocuparia não só
daquilo que uma pessoa é, mas do que uma pessoa deve ser. Em
sua visão, o homem, uma vez transformado, também poderá atuar
como agente transformador:
“Crises e conflitos do homem são não só meios para realizar a
autoconsciência e, através da superação dos mesmos, alcançar
finalmente a paz de espírito e uma sabedoria que a cultura do
indivíduo limita e define; eles também podem ser usados como
um processo alquímico de transmutação de energia, o qual, se
for bem sucedido, pode transformar o homem em mais-do-que-
homem. Podem ser aguçados pela consciência de um desígnio
mais do que pessoal, como instrumentos para vencer a inércia
de hábitos passados, recordações e medos”.[cxiv]
O “mapa” natal mostra o caminho e a direção a seguir. Os
trânsitos e progressões astrológicas nos fornecem um
“mapeamento” que sinaliza os períodos de tempo para sabermos
quando a estrada da vida estará mais ou menos desimpedida, em
quais momentos ela pode subir ou descer, a necessidade de parar
ou fazer retornos, ou simplesmente ficar no acostamento esperando
uma chuva forte passar. Para tudo existe um tempo mais adequado,
e a astrologia nos mostra isso de forma muito clara. Quem já viveu
bastante sabe que dirigir um carro em uma estrada é bem mais do
que simplesmente apertar o pé no acelerador.
É bastante comum que as pessoas procurem os astrólogos para
saber que tipos de eventos os aguardam num determinado período
de tempo, ou seja, a “previsão” anual. Entendo que a finalidade da
astrologia bem aplicada é aquela que traz uma mensagem de ordem
ou sentido para o cliente seja ela cronológica, emocional,
existencial. A percepção de um significado muitas vezes dissipa
dúvidas, reforça intuições, aponta para desejos ainda não
explicitados pela consciência, encorajando decisões que ainda
estavam sufocadas por demandas sociais ou culturais. Uma leitura
bem elaborada pode trazer ao cliente um forte insight para o início
de um processo de individuação, uma tomada de consciência
daquilo que se é ou não é, ou seja, quais são seus dons, recursos,
dificuldades ou tendências.
O indivíduo poderá entender que Júpiter ou Mercúrio enquanto
princípios arquetípicos projetados no céu estão dentro dele, e que
sendo assim ele é cocriador de seu destino. Essa percepção
permite uma mudança na compreensão e nas atitudes em relação
às marés vazantes e cheias da vida, dos altos e baixos anímicos
que batem à porta de todos. E finalmente, como o céu planetário
está em constante e inexorável movimento, ele poderá entender que
as perdas ou transformações fazem parte de seu processo evolutivo
e tem a sua razão de ser. Por mais óbvio que isso possa parecer,
não o é quando se está atravessando turbulências emocionais,
físicas ou materiais. Nas crises e nas rupturas que exigem decisões,
facilmente a percepção do sentido se esvai, o que dificulta bastante
a aceitação e assimilação dos fatos que causam sofrimento.
Existe entre alguns astrólogos a ideia de que há um Eu profundo
ou interior que guia e revela o processo do nosso desenvolvimento,
e que sempre está lá, em estado potencial. Esse “guia” é também
chamado de destino, daemon, dharma, ou então de “intenção
original”, segundo Robert Hand, em seu importante livro, Planets in
Transit:
“Tanto trânsitos quanto progressões indicam a realização de
várias fases dessa intenção original. Embora eu penetre com
frequência no vocabulário causal nesse livro, eu não acredito
que os planetas “causem” alguma qualquer coisa. Eles
meramente são signos da manifestação da intenção original,
parte da qual é experimentada como vontade fluindo através de
você. Essa é a intenção da qual você tem consciência. A outra
parte da intenção é experimentada como o que vem de fora;
você pode chamar isso de fatalidade, destino ou circunstâncias
fora do seu controle. Mas isso também vem de dentro de você, e
tudo o que você precisa para saber disso é aumentar a sua
consciência. Parte da função da astrologia é elevar a
consciência do indivíduo exatamente nessa direção.”[cxv]
Conclusão do Capítulo
No contexto da astrologia arquetípica ou psicológica, o processo
de individuação está representado pelas fases de desenvolvimento
do indivíduo que podem ser apreendidas pelos trânsitos planetários.
Dito de outra forma, o mapa pode mostrar de forma individualizada a
manifestação mais intensa de certos arquétipos, em diferentes
momentos da vida.
A despeito das preferências de técnicas de predição ou
interpretação usadas pelos astrólogos, entendo que o fator subjetivo
deve ser levado em conta em cada situação ou consulta. Cada
pessoa tem a sua própria maneira de apreender, aceitar e
compreender os eventos, e aqui destaco as experiências igualmente
marcantes para todos os seres humanos, como: adolescência, vida
amorosa, casamento, filhos, crises profissionais, separações,
doenças, perdas e envelhecimento. No processo psicoterápico isso
também será observado, pois o timing de cada cliente é diferente,
ou seja, a negação, as resistências naturais sejam no confronto com
a sua sombra, ou com mudanças irreversíveis ou revelações
difíceis; tudo precisa ser respeitado, cada alma e sua história é
única. Não há fórmulas e nem técnicas exatas para adentrar a alma
humana. Como disse Jung, o sapato que serve para uma pessoa
aperta o pé da outra!
Diz a astróloga Liz Greene:
“As progressões individuais dos horóscopos descrevem
simbolicamente o tempo interior dos acontecimentos psíquicos.
Elas indicam, de forma sucinta, que áreas do potencial básico
expresso pelo mapa de nascimento serão “consteladas” – isto é,
vão ter a oportunidade do reconhecimento e integração
conscientes – em diferentes períodos da vida.” (...) Os trânsitos,
sendo reflexos dos movimentos planetários reais, refletem as
forças ou energias reais no mundo exterior que impressionam a
psique a partir de fora, produzindo uma reação de acordo com a
constituição do indivíduo.” [cxvi]
Liz Greene
Capítulo VIII
A Mandala,
os Símbolos do Self
Estruturas Quaternárias
É importante esclarecer o que se entende como estrutura
quaternária da psique, que está presente de diferentes maneiras
em imagens de disciplinas que formam a complexa filosofia
hermética, como a magia astral, a alquimia e a Cabala. Essas
imagens, com uma enorme riqueza simbólica, estão frequentemente
dispostas em forma de cruz, na qual se subdividem os quatro
ventos, os quatro temperamentos, as quatro estações do ano, ou os
quatro pontos cardeais.
"Todas as coisas estão contidas somente no três / no quatro elas se alegram"
(Quadratura do Círculo), Jamsthaler, Viatorium Spagyricum, 1625.
Cristo em mandala astrológica
Finalizando, o Zodíaco é uma representação de valores
universais, com experiências arquetípicas de toda a humanidade.
Porém, a definição das posições das 12 casas dentro do mapa
natal, é o que torna essa vivência única e particular; todos temos os
doze signos, mas o arranjo cósmico será vivido e experimentado de
forma individual. As casas zodiacais vão nos mostrar onde esse
vasto manancial simbólico vai se manifestar.
Doze setores da evolução humana
Não é possível entender ou interpretar as doze casas como
segmentos isolados, uma vez que o zodíaco é justamente um
círculo, símbolo de totalidade ou unidade. A sua compreensão, a
meu ver, deve acontecer através de um pensamento circular e que
vai integrando as partes que compõem o todo. As casas revelam a
totalidade do processo de desenvolvimento do ser humano a partir
do seu nascimento e a provável sequência evolutiva das suas
experiências. A cada nova etapa chegam novos desafios, que dizem
respeito ao que se entende por individuação, que na psicologia
junguiana vem a ser a realização do destino potencial que o
indivíduo trouxe consigo. Como vimos no capítulo II, os signos
mostram diferentes modos de funcionamento do ser e as casas
mostram onde as experiências vão acontecer. É importante
ressaltar que os diferentes planetas nas doze casas vão trazer um
colorido especial e diferente para essas vivências, e que todas as
combinações entre eles, planetas, signos e casas (o quê, como e
onde) são a quintessência da arte da interpretação astrológica. Isso
vale tanto para os planetas que estão na carta radical como para
trânsitos específicos que vão dinamizar determinados setores da
vida humana num determinado momento.
CASA UM
Equivale ao que chamamos de signo Ascendente, que
corresponde ao momento da primeira respiração, o ponto de partida,
o “start” da vida, quando o bebê entra em cena no palco da
existência. É a primeira vez que ele vê o mundo e vice-versa; é seu
caráter mais essencial e visível pelo mundo externo. É como o eu se
projeta no mundo, agora de forma encarnada, sua maneira
espontânea e natural de agir e se expressar. O Ascendente é o
impulso básico de vida, é também a aparência do indivíduo, seu
corpo e suas condições de saúde; o corpo é a identidade do eu em
ação.
CASA DOIS
Essa casa indica a relação que o indivíduo terá com seu corpo e
com a sua alimentação. A sensação de segurança pode estar muito
associada aos ganhos materiais, ao conforto, bem estar e ao
apreço pelo trabalho. A casa dois representa os valores pessoais do
indivíduo e a atitude que ele tem em relação àquilo que possui. Está
associada aos temas de dinheiro, sobrevivência e estabilidade
financeira; mostra a satisfação ou autoestima que se alcança com a
independência material.
CASA TRÊS
A terceira casa mostra as primeiras relações e informações
ambientais que a criança vai explorar, seja brincar, engatinhar,
imitar, falar e caminhar; vai surgindo a identificação dos sons. Aqui
vemos as experiências dos processos de adaptação social, a
curiosidade pelo novo, o convívio com irmãos, vizinhos e primos, a
escola, o ensino fundamental. O desenvolvimento da mente
concreta, capacidade de fazer associações, acumular informações
e conhecimento. A terceira casa diz respeito à capacidade de
comunicação, de interação e contínuo aprendizado.
CASA QUATRO
A família, o lar, as origens e influências dos antepassados;
atmosfera psíquica familiar, memórias afetivas, proteções maternais,
fantasias, desejos inconscientes, sentido de pertencimento, as
raízes parentais, a vida subjetiva. Diz respeito ao processo
psíquico da criança que vai, aos poucos, introjetando seus pais
enquanto modelos arquetípicos do masculino e feminino, a base da
segurança emocional. Muitos autores dizem que essa casa está
relacionada às condições da infância e também da velhice. A casa
quatro ou o Fundo do Céu representa as raízes do indivíduo, seus
alicerces, sua ancestralidade.
CASA CINCO
Aqui vemos o nascimento da individualidade e da consciência de
si mesmo: quem sou eu? Como o eu do indivíduo vai se expressar
de forma criativa não só para a família. Como ele vai despertar o
amor dos outros para se sentir especial? Aqui é o setor da
confiança, do brilho pessoal, da alegria de viver. É a casa da
expressão criativa, revela a importância do indivíduo que deseja
deixar a sua assinatura naquilo que faz. A quinta casa representa os
romances, as paixões, as crianças e os filhos.
CASA SEIS
O refinamento e o aperfeiçoamento do eu através da razão, da
técnica, da análise, senso crítico e pragmatismo. Condições ou
cuidados com a saúde, alimentação e higiene. O eu necessita
avaliar as próprias capacidades e percebe conexão entre e mente e
o corpo. Aqui nasce a percepção que trabalhar demais afeta a
saúde; a ausência desta prejudica o empenho no trabalho. A casa
seis tem a ver com a necessidade de servir, é o trabalho
cotidiano, habilidades manuais ou técnicas, a organização do
tempo e a relação com os subalternos. Também representa a
curiosidade e interesses pela diversidade dos elementos da
natureza, seja animal, vegetal ou mineral.
CASA SETE
O eu aperfeiçoado agora entra em relação com o mundo, e se
torna o eu social que se amplia através de parcerias e associações.
Esta é a casa da ação social, das relações, do senso de justiça e
equilíbrio, da cooperação, da diplomacia e das alianças. É o setor
do casamento, ou de uma união que implique em compromisso
recíproco ou com uma finalidade que pode ser de caráter afetivo ou
profissional. Os atributos que o indivíduo busca em seu parceiro/a. A
sétima casa diz respeito à capacidade de compartilhar, orientar e
aconselhar.
CASA OITO
O indivíduo necessita de segurança para sua alma e experimenta
a relação de intimidade sexual mais profunda e transformadora, pois
a fusão psíquica pode ser catalisadora de mudanças profundas.
Capacidade de transmutação interna, apreço pelo mundo oculto e
simbólico, sensibilidade e destreza para desvendar mistérios da
mente, trabalhar a alquimia dos processos anímicos, ver além da
matéria. Esse setor zodiacal representa os bens associados ao
matrimônio e às heranças familiares. Experiências de quase morte
física que levam à sensação de renascimento, físico ou espiritual.
Experiências traumáticas que possibilitam um renascimento. A casa
oito simboliza a capacidade de regeneração física, emocional e
espiritual do indivíduo.
CASA NOVE
O eu renascido e regenerado pode agora compreender e buscar
o significado de sua existência. A mente abstrata agora encontra
na filosofia ou na espiritualidade o sentido da vida ou o caminho a
ser seguido. A fé, a jurisprudência e a justiça divina vão guiar o
indivíduo em seus caminhos. É a casa do aperfeiçoamento do
conhecimento, da educação superior, das grandes viagens internas
e externas. Aqui surgem os desejos de elevação do ser, as nobres
aspirações éticas ou os grandes questionamentos religiosos ou
metafísicos. A casa nove representa a transcendência, a busca
pelos gurus ou mestres, que podem promover a expansão contínua
de novos horizontes existenciais e espirituais.
CASA DEZ
Aqui temos o nascimento do eu cósmico que quer realizar um
ideal, assumindo uma responsabilidade profissional ou uma ação
social voltada para o mundo. O trabalho vem a ser a realização de
um destino social, reputação, uma posição de elevação, de
autoridade conquistada pelo conhecimento adquirido. Este setor
representa os processos de cristalização e de organização social,
construídos pelas leis determinadas pela sociedade. A casa dez
manifesta o desejo de poder e a ambição em deixar um legado que
se eternize no tempo. É o zênite, o ponto mais alto do zodíaco
natural e da carta natal individual. É o ponto onde o sol se encontra
ao meio dia, no auge do seu brilho e calor.
CASA ONZE
O eu mais responsável e consciente de seu papel social vai
escolher seus semelhantes para compartilhar seus ideais
fraternos. Nesse setor zodiacal estão caracterizados os grupos, os
amigos, as associações, os clubes, a visão do futuro e a intuição
do vir a ser, que ensejam a busca por uma segurança intelectual.
Vemos aqui a força da consciência coletiva em busca da irradiação
do conhecimento que visa quebrar paradigmas ultrapassados que
não aceitam fronteiras ou limites. A casa onze representa a mente
universal, a liberdade, a utopia, o pioneirismo, as ações futuristas
voltadas para a humanidade.
CASA DOZE
Na última casa, o eu está encerrando sua caminhada evolutiva e,
por analogia, é como se olhássemos a chegada de todos os rios no
imenso oceano, que muitos entendem como sendo o Inconsciente
Coletivo. A sensação de unidade ou de síntese está
intrinsecamente relacionada a essa fase conclusiva, que abarca as
experiências vividas nas onze casas anteriores. Neste setor, essa
confluência psíquica se expressa pela busca da transcendência e da
paz através do misticismo e das aspirações espirituais. A casa
doze diz respeito à vida contemplativa, a interiorização, ao
sofrimento, ao sacrifício; é a sensibilidade psíquica que anseia
por uma síntese visando, assim, alcançar a libertação da matéria. É
um setor de reclusão, anonimato e filantropia.
Conclusão do Capítulo
Em suma, podemos observar que além dos signos que compõem
a mandala zodiacal, as casas, como setores específicos de
experiências humanas, mostram a totalidade ou finalidade da
existência, sinalizando as diferentes etapas de desenvolvimento
humano. Estes doze passos evolutivos expressam os diversos
conteúdos psíquicos que compõem o Self, em toda a sua plenitude.
Considero relevante o entendimento que o Self, como símbolo de
totalidade, está representado pelo zodíaco inteiro, pois é a
somatória de todos os elementos ali presentes.
Sobre essa intenção, ou seja, o projeto final da jornada humana,
o qual Jung definiu como individuação, diz Progoff:
“O Si-mesmo é o maior de todos os arquétipos que a psique
contém, pois encerra em si o propósito mais elevado que está
por trás não só dos arquétipos impessoais, mas ainda do
processo arquetípico através do qual o ego e a consciência
emergem. Pode-se dizer que o Self representa a essência, a
finalidade e o processo vivo pelo qual a psique realiza a sua
natureza íntima. Nesta condição o Self jamais pode ser contido
pelo ego ou por qualquer dos arquétipos específicos”.[cxxxvi]
Os planetas que são iluminados pelo Sol funcionam como uma
grande “equipe de apoio”, para que nossa aventura cósmica solar
possa ser cumprida. Ao seguir o conselho da entrada do templo de
Delfos, o indivíduo mais consciente daquilo que é ou deseja ser,
será mais exitoso, o grande protagonista do palco que compõe a
história de sua vida. Para isso a astrologia vem ao nosso alcance
quando nos informa com precisão sobre o ser que somos e que
poderemos efetivamente aperfeiçoar. Ainda que sejamos feitos da
mesma matéria-prima astrológica ( planetas, signos, elementos), a
vida, como uma obra de arte , é única e intransferível.
De forma análoga aos temas míticos, o herói solar terá que fazer
a sua travessia por pântanos, cavernas e florestas para alcançar
sua princesa ou um reino, e ele fará a sua trajetória com mais ou
menos bênçãos, vindas de ajudas auspiciosas de mestres ou anjos
que poderá encontrar em seu caminho.
Finalizando, a mandala astrológica é a representação viva e
espontânea dessa intenção original, nosso “mapa”, a direção
traçada, mostrando um caminho de realizações futuras. Ela abrange
nossos opostos entre consciência e inconsciência, conflitos,
contradições, frustrações, sonhos, ideais e esperanças e tudo isso
será vivenciado na sombra ou na luz.
Como símbolo de totalidade, ela representa para o indivíduo a
entrada no labirinto, onde há um vaivém de direções que parecem
desvios do percurso existencial, mas que ao mesmo tempo apontam
sutilmente a direção da chegada, para o centro dele mesmo, o
arquétipo central, do sentido da vida, o Self.
Termino com trecho de uma carta escrita ao astrólogo indiano
Bangalore Venkata Raman, em 1947, onde percebemos claramente
o apreço que Jung tinha pela astrologia e como lançava mão dela
como ferramenta de diagnósticos:
“Como eu sou um psicólogo, me interesso principalmente pela
luz especial que o horóscopo lança em certas complicações do
caráter. Em casos de difícil diagnóstico psicológico, eu
normalmente obtenho um horóscopo para ter uma perspectiva
mais profunda, de um ângulo totalmente diferente. Devo dizer
que, muito frequentemente, descobri que os dados astrológicos
elucidaram certos pontos que eu, de outra forma, teria sido
incapaz de compreender. De tais experiências formei a opinião
de que a astrologia é de particular interesse para o psicólogo”.
[cxxxvii]
Anima Mundi. No centro dessa figura da Natureza, vemos uma bela virgem
que está ligada à Deus por uma corrente. Ele á a Alma do Mundo (anima
mundi). Em seu seio há o Sol, em seu ventre, a Lua. Seu coração envia luz às
estrelas e aos planetas. Seu pé direito pousa sobre a terra, e o esquerdo está
na água. Aqui estão representados os reinos: mineral, vegetal, animal e
angélico. Nos círculos das Artes Liberais vemos a astronomia, música,
geomancia, pintura, geometria, pintura, entre outras. (Robert Fludd: Ultriusque
Cosmi História, 1617.)
Emma de Mascheville (1903 – 1981[cxxxviii])
Considerações Finais
casadoescritor.com
[i] Os ângulos entre os planetas são também denominados aspectos
2003.
[v] MARONI, Amnéris. Individuação e Coletividade. São Paulo, Ed.
Terra.
[viii] SILVEIRA, Nise da. Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro,
Alhambra, 1981.
[ix] SILVEIRA, Nise da. Gatos, a emoção de lidar. Rio de Janeiro, editora
Editorial, 2006
[xi]MANN, A.T. The Round Art – The Astrology of Time and Space.
2000.
[xiv] A obra Corpus Hermeticum, como um vasto conjunto de quatorze
textos ou tratados dos séculos II e III d.C., é uma literatura “hermética” erudita,
escrita em forma de diálogos numa fusão de religião, alquimia, filosofia, magia
dos metais para o feitio de talismãs, e astrologia. A magia alquímica é
também astrológica, considerando que o alquimista trabalha com o tempo
qualitativo, que está associado aos planetas.
[xv] SOMMERMAN, Américo. Corpus Hermeticum- Hermes Trimegisto. São
278.
[xxii] KAWALLL, Tereza. Artigo para revista Jung e Corpo. São Paulo,
2002.
[xxxvi] GROF, Stanislav. Psicologia do Futuro. Niterói, Ed. Heresis, p.
283,2007.
[xxxvii] JUNG, Carl G. Tipos Psicológicos. Petrópolis, Vozes, Vol. VI, §1031,
1991.
[xxxviii] BAIR, Deirdre. Jung – uma biografia. São Paulo: Globo, Vol. I, p.
1995.
[xlii] VON FRANZ, Marie Louise. Tipologia de Jung.São Paulo, Cultrix, p.22,
1995.
[xliii] ZACHARIAS, J. J. de Morais. Tipos – a diversidade humana. São
125, 2003.
[xlviii] JUNG, C. G.A Natureza da psique. Petrópolis,Ed. Vozes, Vol. VIII/2, §
253, 2003.
[xlix] SCHREIBER, David Servan-. CURAR: O stress, a ansiedade e a
podemos vir a ser. São Paulo, ed. Totalidade, pag 48, 1967.
[li] FERRUCCI, Piero. O que podemos vir a ser. São Paulo, ed. Totalidade,
p. 48, 1967.
[lii] GREENE, Liz. Relacionamentos. São Paulo: Pensamento, p.32, 1988.
[liii] SASPORTAS, Howard. O desenvolvimento da personalidade -
p.57, 2001.
[lv] GREENE, Liz. Jung´s Studies in Astrology – Prophecy, Magic, and The
XVI/1, 1981.
[lx]JUNG, Carl G. AION-Estudos sobre o simbolismo do si-mesmo.
[lxii] GREENE, Liz. Relacionamentos, Cultrix, pag 94, 1988.
[lxiii] GAMBINI, Roberto. A voz e o Tempo. São Paulo: Ateliê Ed, p. 136,
2008.
[lxiv] BRANDÃO, Junito. Mitologia Grega. Petrópolis, Vozes, Vol.I, 1986
[lxv] GREENE, Liz. Relacionamentos. São Paulo, Cultrix, p. 96, 1988
[lxvi]SULLIVAN, Erin. Saturno em trânsito. São Paulo, Siciliano, 1992.
[lxvii]Os trânsitos e progressões serão melhor analisados no capítulo VII.
[lxviii] GREENE, Liz. Astrologia do destino. São Paulo, Cultrix/Pensamento,
1989.
[lxix] SICUTERI, Roberto. Astrologia e Mito. São Paulo, Pensamento, 1994.
[lxx] ARROYO, Stephen. Astrologia, Karma e Transformação. Publicações
Europa-América, 1978.
[lxxi] SASPORTAS, Howard. Os deuses da mudança. São Paulo, Siciliano,
1991.
[lxxii] “Se eu quiser falar com Deus”, de Gilberto Gil, feita em 1980, no livro
“Todas as Letras”, organizado por Carlos Rennó, editora CIA das Letras, São
Paulo.
[lxxiii] RUDHYAR, Dane. Astrologia de Personalidade. São Paulo,
Pensamento, pag 94, 1992.
[lxxiv] VON FRANZ, Marie-Louise. O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeir,
251, 1999.
[lxxxiii] HILLMAN, James, O pensamento do coração e a alma do mundo.
88, 1994.
[lxxxviii] GREENE, Liz; SASPORTAS, Howard. A Dinâmica do Inconsciente.
392, 1998.
[xci] KAWALL, Tereza. São Paulo: Revista Jung e Corpo nº6, Sedes
Sapientiae.
[xcii] Paul Patrick. Meditações sobre o Tratado da Pedra Filosofal de
renascimento ou transformação.
[cvi]JUNG, Carl G. Sincronicidade. Petrópolis, Vozes,§ 972 CW
VIII/3.
[cvii] GREENE, Liz. Relacionamentos - guia astrológico para conviver com
os outros num pequeno planeta. São Paulo, Ed. Cultrix, p. 10, 1988.
[cviii] JUNG, Carl G. O espírito na arte e na ciência. Petrópolis, Ed. Vozes,
1979.
[cx] GREENE, Liz. Astrologia do Destino. São Paulo, Ed. Cultrix, 1989.
[cxi] SASPORTAS, Howard. Deuses da Mudança- uma nova abordagem da
1988.
[cxvii] FRANKL, Viktor E. Em busca de sentido. Petrópolis: Ed. Vozes,
214,1990.
[cxxv] SILVEIRA, Nise da.Imagens do Inconsciente. Rio de Janeiro, Ed.
1991.
[cxxviii] VON FRANZ, Marie Louise. A interpretação dos contos de fadas.
Pensamento, 1988.
[cxxxiii] Signos Fixos - Touro, Leão, Escorpião e Aquário compõem os
signos fixos da Astrologia. Como diz o próprio termo que os define, eles são
geralmente firmes, estáveis, dogmáticos, determinados, acumuladores,
conservadores ou convencionais. Por outro lado, podem ser teimosos e
inflexíveis.
[cxxxiv] O afresco da “Última Ceia”, de Leonardo da Vinci, está na igreja