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Como os arquétipos de Jung

explicam a personalidade humana?


Arquétipos são um conceito da psicanálise, descritos por Carl Jung - um dos maiores
psicanalistas da história. Segundo Jung, os arquétipos seriam padrões de
personalidade inatos do ser humano, e que por estarem presentes no inconsciente
de todos, podem ser vistos nas mais diversas culturas, mitos e religiões em todo o
mundo.

Por exemplo, o ideal de uma mãe cuidadora e amável, ou a imagem do herói, são
alguns dos padrões que vimos nas mais diversas sociedades e nas histórias criadas
por ela.

De acordo com Jung, esses padrões de comportamento seriam um elo que unem
todos os humanos, sendo os responsáveis por moldar nossas personalidades. Mas de
onde vem esses arquétipos e como eles interferem em nossas vidas?

Inconsciente coletivo: o lar dos arquétipos

Segundo a psicanálise, a psique humana é dividida em inconsciente e consciente.


Jung, por sua vez, propôs que o inconsciente existe em duas camadas.

A primeira seria o inconsciente pessoal, que contém as informações esquecidas ou


memórias reprimidas, já a segunda seria o inconsciente coletivo. Este seria
compartilhado com todos os membros da espécie humana, e conteria as memórias
de nossos ancestrais.
Segundo Jung, o ser humano não nasce raso, mas sim provido de memórias e
características inatas, que são resultado do nosso processo de evolução. Estas
memórias seriam predisposições universais, que estão presentes em todos os seres
humanos e derivam do nosso passado ancestral, como o medo do escuro ou de
certos animais.

E em nosso inconsciente coletivo também ficariam registrados modelos de


personalidade e comportamento, chamados de arquétipos.

Esse termo vem do grego archein (original) e typos (padrão, modelo), ou seja,


arquétipo significa “modelo original”.

O que são arquétipos e quais são os principais?


O arquétipo da Grande Mãe pode ser visto em Maria

Em seu livro Na natureza da psique,  de 1960, Jung define os arquétipos como as


imagens e padrões de comportamento que têm significados universais e se repetem
nos humanos desde os nossos primeiros antepassados.

Por isso eles são vistos e reproduzidos em sonhos, nas mitologias, histórias, e
atualmente em propagandas e filmes.

Esses arquétipos são tendências inatas que vivem em nosso inconsciente, e são
passados biologicamente de geração em geração. Eles simbolizam e impulsionam os
desejos e objetivos dos homens, e todos têm características e personalidades
próprias.

Todos temos potencialidades para despertar incontáveis arquétipos, mas para isso
precisamos passar por situações ou experiências relacionados a eles. E apesar deles
seguirem uma mesma base em todos, o nosso consciente pode influenciar o modo
como os expressamos.

Jung identificou um grande número de arquétipos, e diz que sua quantidade pode
ser infinita. Porém alguns deles se desenvolveram mais, a ponto de serem
categorizados, como é o caso dos seguintes arquétipos:

Persona
A persona é a face que apresentamos ao mundo, abrangendo os aspectos da nossa
personalidade que mostramos publicamente.

Ela obedece exigências sociais para que possamos nos encaixar melhor na
sociedade, e por isso não revela quem nós realmente somos.
Sombra
São as partes de nossa personalidade que nos recusamos a reconhecer, que
tentamos esconder dos outros e até de nós mesmos.

Pode ser considerada como o lado animal de nossa personalidade, mas para Jung, é
necessário reconhecer nossas sombras para sermos inteiros.

Anima e Animus
A Anima e o Animus são a imagem espelhada do nosso sexo biológico.

Devido aos séculos de convivência, cada sexo manifesta determinadas atitudes e


comportamentos do outro. Assim, a psique do homem contém aspectos femininos,
que seria o arquétipo da anima e representa o lado emocional.

Enquanto isso, a mulher contém aspectos masculinos - o arquétipo do Animus, que


representa o lado racional e é resultado das experiências de todas as mulheres com
seus pais, parceiros e filhos ao longo da história.

Algumas pessoas podem ter a Anima ou Animus muito desenvolvido, e não


conseguem aceitar isso muito bem. Por exemplo, para muitos homens, é ainda mais
difícil reconhecer sua Anima do que sua Sombra.

Grande Mãe
Esse arquétipo abarca os aspectos positivos e negativos da figura materna. Ela
representa a fertilidade e o poder da vida, mas também pode ser destrutiva e
controladora.

O arquétipo da Grande Mãe é visto em praticamente todas as culturas, lendas e


histórias, que mostram essa figura como sendo capaz de criar e destruir.

Herói
Esse arquétipo é muito comum em mitologias, e nos comovemos com suas histórias
pois elas conversam com essa imagem que há em nós.

O herói quase sempre aparece em uma saga, podendo vencer em seus objetivos ou
sendo subjugado.

Velho Sábio
O Velho Sábio é o arquétipo que representa a sabedoria, o significado sobre os
mistérios da vida. Esse arquétipo nos faz buscar conhecimento, e também nos leva a
procurar por líderes.

Self (eu)
O Self é a nossa tendência de buscar o autoconhecimento, a perfeição e o equilíbrio.

Ele proporciona nosso senso de unidade, ligando todos nossos arquétipos, o


consciente e inconsciente, e nos leva em busca do nosso objetivo final, que seria
alcançar um estado de autorrealização. Jung chama esse processo de Individuação.

A relação dos arquétipos na sociedade


Em quase todas as culturas, vemos mitos e histórias sobre uma grande mãe
bondosa, velhos sábios e heróis. Essas imagens arquetípicas nos inspiram e
conversam com os modelos de comportamento que existem dentro de nós,
movendo nossos desejos e objetivos.

Apesar de podermos nos identificar mais com alguns, podemos tomar atitudes que
são guiados por outros arquétipos, dependendo da situação que estamos passando.

Porém, a sociedade que vivemos também pode influenciar em como lidamos com
esses arquétipos, ou desenvolver complexos em nós.

Para Jung, um dos problemas da vida moderna é a alienação do homem sobre sua
base instintiva. Como exemplo, podemos citar nossa relação com os arquétipos da
Anima e do Animus.

Jung defende que todos temos os dois sexos em nossa psique. Porém, nossa
sociedade moderna desencoraja os homens a viverem seu lado feminino, assim
como as mulheres a expressarem suas tendências masculinas. Como resultado, o
desenvolvimento psicológicos de ambos acaba sendo prejudicado.

Isso, junto com uma cultura patriarcal presente em nossa sociedade, levou a uma
desvalorização das qualidades femininas.

Outro problema é uma hipervalorização da Persona, fazendo com que as pessoas


vivam de acordo com o que lhes é esperado na sociedade.

Os 12 arquétipos da mídia
As autoras Margaret Mark e Carol S. Pearson investigaram os arquétipos de Jung e
estabeleceram 12 grupos comportamentais e suas características.
Em 2001, elas os descreveram no livro “O Herói e o Fora da Lei”, que passou a ser
muito utilizado por marcas e na mídia em geral.

Cada um dos arquétipos consegue despertar reações em nós, seja por identificação
ou por complexos, e por isso o estudo foi muito utilizado no marketing e na
publicidade.

Veja então os 12 arquétipos definidos em “O Herói e o Fora da Lei”, suas


características e como cada um deles pode agir sobre você.

1. O Inocente

As pessoas que se identificam com o arquétipo do inocente costumam ser


sonhadoras, positivas e esperançosas. Esse arquétipo nos faz ver o mundo de uma
forma melhor, mas pode nos deixar agir de forma ingênua.

O maior objetivo do Inocente é ser feliz.

2. O Cara Comum ou Órfão

As pessoas que são mais influenciadas pelo arquétipo do Cara Comum tem
facilidade em lidar com grupos de pessoas. Eles costumam ser confiáveis e realistas,
porém podem acabar se tornando negativas demais em algumas situações.
O maior impulso desse arquétipo é o sentimento de pertencimento, de se encaixar
em algum lugar.

3. O Explorador

O maior objetivo do Explorador é experimentar coisas novas, aproveitar a vida. Esse


arquétipo irá te mover para fora da sua zona de conforto, te levando a conhecer e
aprender.

Porém as pessoas que se identificam mais com ele podem acabar tendo dificuldades
de se estabelecer em um relacionamento ou em um emprego por muito tempo.

4. O Cuidador

Aqueles que se identificam com esse arquétipo costumam ser empáticos e cheios de
compaixão pelo outro. Seu maior objetivo é ajudar os outros.

Mas eles também devem prestar atenção em si próprios, e não deixar que os outros
explorem esse sentimento de cuidado.

5. O Herói
O arquétipo do herói é movido pelo impulso de justiça e igualdade. Por isso, pessoas
que se identificam mais com ele estão sempre prontos para ajudar, e podem sentir
que tem um destino a seguir.

Porém, essas pessoas podem ter medo de ser percebidos como fracos, e não saber
lidar com derrotas.

6. O Rebelde

O rebelde é movido pelo impulso de mudar as coisas, de alterar a ordem e fazer a


diferença. No entanto, as pessoas que se identificam com esse arquétipo podem
abandonar tradições que funcionem apenas porque têm o desejo de mudar algo.

Essas pessoas também costumam ser carismáticas, convencendo outros a segui-las.

7. O Criador
Esse é o arquétipo que motiva as pessoas a criarem. Ele tem por objetivo trazer algo
novo à existência, e seus talentos envolvem criatividade e imaginação.

Porém, pessoas guiadas por esse arquétipo podem ter bloqueios criativos por não
acharem que conseguem criar algo bom o suficiente.

8. O Governante

As pessoas que se identificam com o arquétipo do governante gostam de estar no


controle. Eles costumam ter uma visão clara do que pode funcionar ou não em cada
situação, e estarão mais preparados para liderar grupos.

Porém, essas pessoas também podem se sentir frustradas quando os outros não
compartilham da sua mesma visão.

9. O Amante
As pessoas que se identificam com o arquétipo do amante buscam harmonia em
tudo que fazem, principalmente em suas relações. Mas por isso, elas podem achar
difícil lidar com conflitos e defender suas próprias ideias, correndo o risco de perder
sua identidade .

10. O Sábio

As pessoas que se identificam com o arquétipo do sábio valorizam as ideias acima de


tudo. Eles costumam ter facilidade em compreender e repassar conhecimentos.

Porém, eles podem se sentir frustrados por não saberem o tanto que gostariam, ou
serem incapazes de tirar suas ideias do papel.

11. O Mago
As pessoas guiadas pelo arquétipo do mago costumam ter uma forte crença em suas
ideias, e desejam compartilhá-las com os outros.

Eles conseguem perceber o mundo de um modo diferente, e podem trazer ideias


inovadoras para o mundo. Porém, eles devem tomar cuidado para não se tornarem
manipuladores ou egoístas.

12. O Tolo

O arquétipo do Tolo tem por impulso fazer os outros felizes. Eles podem usar seu
humor para mudar a percepção das pessoas, mas também podem usá-lo para
mascarar sua própria dor.

A importância dos arquétipos


Entender os padrões de personalidade do ser humano nos ajuda a compreender
também nossas próprias motivações, nossas forças e fraquezas.

O conhecimento sobre arquétipos nos ajuda no processo de autoconhecimento,


além de nos permitir entender as motivações dos outros e porque se comportam de
determinada maneira.

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