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Os Quatro ARQUÉTIPOS,

AS FACES DO MASCULINO
Introdução

Para introduzirmos o assunto, convido você a voltar no tempo,


lá na antiguidade europeia, há milhares de anos atrás. Antes do cris-
tianismo, quando aquela região ainda era politeísta. Se você fosse a
Roma nesse período, veria cultos a um tal deus Marte, deus da guerra,
que protegia e dava força aos guerreiros romanos. Agora, convido
você a viajar para a Grécia, ainda no passado, onde você veria estátuas
e mitos sobre um tal deus Ares, também deus da guerra, mas dessa
vez um deus odiado pelos intelectuais gregos.
Por que será que lugares diferentes do planeta possuíam divindades
para cultuar um mesmo aspecto da vida, o Guerreiro?
Ok! Talvez você considere Roma e Grécia perto demais, o que po-
deria justificar a semelhança cultural. Mas viaje para a África Ociden-
tal então, berço da cultura Iorubá e do culto aos Orixás. Ali, Ogum
era cultuado como um orixá guerreiro. Mas não para aí… Tyr para
os nórdicos, Arcanjo Miguel para os cristãos. Cada cultura possui seu
próprio guerreiro para adorar, rezar ou odiar.
Na atualidade, a atração pelo Guerreiro ultrapassa o culto a deu-
ses nas religiões e chega aos filmes e séries. Por que o Rocky Balboa
se tornou uma lenda do seu tempo que ultrapassa gerações? Luke
Skywalker com seu sabre de luz? Ou, mais atualmente, por que a série
Vikings fez tanto sucesso?
A resposta é porque há, dentro da psique de todo ser humano, um
guerreiro que possui uma função importante para a vida humana, por
isso ele tem o poder de influenciar e moldar o nosso comportamento.
Assim como nosso corpo físico possui órgãos com funções espe-
cíficas para o bom funcionamento do nosso organismo, nossa psique
(mente) também possui divisões, como se fossem “órgãos”, com fun-
ções particulares, os quais o psicoterapeuta Carl Gustav Jung chamou
de Arquétipos.
Arquétipo significa “padrão original”, portanto, se trata de uma he-
rança compartilhada entre toda a nossa espécie, entre todos os seres
humanos. Por exemplo, o arquétipo materno faz com que todo ser
humano tenha um lugar especial dentro da sua psique, responsável
por lhe ajudar a se relacionar com a primeira figura feminina e cuida-
dora da sua vida, a mãe. De forma cultural, podemos ver que há inú-
meros registros de culto a “Grande Mãe” há milhares de anos atrás,
espalhados pela Europa e pela Ásia. É interessante observar o quando
o culto a Nossa Senhora Aparecida, mãe de Jesus Cristo, é extrema-
mente forte na religião católica, principalmente no Brasil. A mãe, não
só a biológica, mas todo seu simbolismo nos encanta. É como se a
deusa mãe nos ajudasse a evoluir e ampliar a relação com nossa mãe
biológica e tudo que ela representa.
Como os arquétipos se tratam de uma herança da nossa espécie,
trazemos dentro de nós as memórias do passado, as experiências dos
nossos ancestrais, que servem como legado do aprendizado adquiri-
do por eles. Os arquétipos são estruturas que se provaram, ao longo
do tempo, serem indispensáveis para o nosso desenvolvimento.
Os arquétipos são como se fosse uma fôrma, que já oferece uma
forma pronta e estabelecida, mas o indivíduo irá preencher essa fôr-
ma de forma específica, de acordo com a cultura que está inserido
e com a sua história pessoal. Voltando ao Guerreiro, por exemplo,
existem pessoas que expressam com facilidade o guerreiro em sua
vida, são agressivas e batalhadoras, colocam limites e impõem a sua
vontade. Por outro lado, há outras pessoas que possuem dificuldade
de colocar essa energia guerreira para fora, possuem dificuldades em
impor limites, dizer “não” e conquistar seus objetivos.
Dessa forma, os arquétipos regulam nosso comportamento, co-
lorindo e dando emoção às experiências da vida. Cada indivíduo
possui uma experiência mais aflorada com um ou outro arquétipo,
mas carrega em si a semente de todos eles.
Nesse e-book, irei trazer para vocês os arquétipos do masculino, que
foram muito bem explorados por Robert Moore e Douglas Gillette
no livro “Rei, Guerreiro, Mago e Amante”. Veja, se arquétipos são he-
ranças presentes na psique de todo ser humano, então os arquétipos
do masculino estão presentes em todas as pessoas. No entanto, eles
se mostram em destaque na vida dos homens, são estruturadores no
nosso comportamento e influenciam sobremaneira em nossa qualida-
de de vida. Seu estudo é de extrema relevância para qualquer homem
que esteja buscando se desenvolver.
Além disso, quando estudamos suas variações (expressão equili-
brada e desequilíbrios), eles também funcionam como modelos de
comportamentos maduros nos quais podemos nos inspirar. São como
referências, um mapa para que saibamos melhor por onde ir.
Podemos entender que esses arquétipos são os personagens/
imagens que habitam dentro de você. Eles fazem parte da psique adulta do
homem. São eles:

Rei, Guerreiro, Mago e Amante

Aqui temos que fazer uma diferenciação entre a psique adulta e


a psique do menino.
A diferença fundamental na transição de menino para homem
adulto se dá com relação ao aumento da responsabilidade. O menino
se comporta e se desenvolve sob o padrão de que o mundo deve sa-
tisfazer suas necessidades básicas: ensinamentos, proteção parental,
segurança e alimento. Já o adulto, em primeiro lugar, precisa aprender
a se responsabilizar pelas próprias necessidades. Em segundo lugar,
ele precisa se responsabilizar pelo ambiente ao seu redor, sua casa,
seu quarto, seu escritório, a natureza, as ruas da cidade. Em terceiro
lugar, ele se responsabiliza pelos outros, oferecendo seus dons e talen-
tos para o desenvolvimento da sua comunidade. Oferecendo cuidado,
orientação e proteção aos meninos.
Uma das grandes causas da crise da masculinidade, pela qual
vivemos hoje, é a falta de ritos de passagem que façam o homem
passar de menino para adulto. A crise da masculinidade é composta
por homens inseguros com relação a sua masculinidade. Homens
que agridem e violentam quem o questionam, acreditando que ser o
“machão” é ser homem. Ou ainda, uma parcela significativa que sen-
te culpa por ser homem, se desculpam, sofrem de ansiedade, disfun-
ção erétil, como se tivessem perdido a conexão com o próprio corpo
e identidade masculina.
A falta de uma boa orientação para os homens, cria as expressões
distorcidas dos arquétipos, que são as inflações (super identificação
com o arquétipo) e as deflações (falta de identificação). Assim, vemos
homens com corpo físico de adulto, mas um desenvolvimento emo-
cional de menino.
Robert Moore e Douglas Gillette, no livro “Rei Guerreiro Mago
Amante” dizem que é provável que não exista um homem no mundo
expressando os quatro arquétipos na sua forma plena. Isso foi dito/
escrito há algumas décadas, mas acredito que ainda seja verdade.

Vamos mudar isso?

A seguir explicarei o que cada arquétipo e suas variações repre-


sentam. Mas antes, quero recomendar que você leia entendendo que
todos esses arquétipos influenciam sua vida. Vejo homens tentando
eleger qual seria o “meu arquétipo”. Mas entenda, por vezes, o Guer-
reiro pode ser muito útil na conquista dos seus objetivos, mas se seu
Amante estiver em desequilíbrio na sua vida amorosa, todo o resto da
sua vida pode entrar em desequilíbrio.
Mas não se sinta culpado por às vezes expressar as versões dese-
quilibradas dos arquétipos, o processo é longo. O autoconhecimento
é uma aventura, durante a qual nos apaixonamos pelo processo de
integrar parte por parte do nosso ser. Pense em um bailarino se equili-
brando sobre a ponta dos pés: manter o equilíbrio exige esforço, ação
e movimento, não é? Use as diferentes expressões dos arquétipos para
se orientar, buscando ter consciência quando seu comportamento está
desequilibrado e o que você precisa fazer para voltar para o centro.

Vamos mergulhar nos arquétipos?


arquétipo

Rei

Esse é um arquétipo que é ativado toda vez que ocupamos alguma


posição de autoridade e responsabilidade dentro da comunidade da
qual fazemos parte.
Não se refere somente ao cargo de rei ou presidente de uma nação.
Todo ser humano possui em alguma área ou momento da sua vida
essa posição de responsabilidade.
Mas fugindo dos aspectos mais óbvios desse arquétipo, entramos
na principal virtude que representa sua energia madura: o serviço. O Rei
humano, ao contrário do que comumente se pensa, possui a função
de ser um grande servo do seu povo. Ele entrega sua identidade pes-
soal em prol de uma função social responsável pela organização, lei e
ordem.
Quando um homem está em uma função social que o coloca em
um papel de responsabilidade e/ou autoridade, emerge de suas pro-
fundezas o arquétipo do Rei, presente no inconsciente coletivo huma-
no. Como todo arquétipo é uma fôrma pronta para ser preenchida, o homem vai
expressá-lo de acordo com o nível que está seu amadurecimento pessoal. Dessa
forma, pode expressar tanto o Rei maduro quanto o imaturo - as dis-
torções ou desequilíbrios.
A personalidade de um Rei, de um governante ou chefe interfere
diretamente nas condições do seu povo. Essa figura carrega em si
uma grandeza que movimenta a energia de todas as pessoas que estão
sob sua responsabilidade. Vemos essa relação energética quando um
chefe de uma empresa está equilibrado e, assim, conduz sua equipe
a construir o resultado esperado, e também quando um governante
desequilibrado leva seu povo à crise e instabilidade.
No filme O Rei Leão, podemos ver claramente como Mufasa, o rei
maduro e sábio, traz equilíbrio e fertilidade ao seu reino. Mas quando
seu irmão, Scar, assume o trono, a abundância e harmonia se converte
em escassez e destruição.

O Rei é o principal dentre os quatro arquétipos, pois ele possui


duas funções básicas na nossa psique:

Organização e dar bênçãos (Fertilidade)


Organização

Em sua função organizadora, ele traça os limites do seu território e


conhece cada parte que está dentro e fora dele. Para dentro de si, ele
equilibra questões desarmônicas dentro da psique, como emoções ca-
óticas que ameaçam a estabilidade do todo. Conhecendo seus limites,
ele sabe se impor de maneira sábia perante situações que ameacem a
harmonia do seu interior.
Um bom Rei é também um bom Guerreiro, Mago e Amante, pois
organiza as disposições energéticas de cada um, dando espaço para
cada arquétipo se expressar e manter a fertilidade criativa necessária, a
fim de que todos permaneçam ativos e em harmonia.
Um Rei em equilíbrio sabe manter seu Guerreiro pronto para agir
ou se posicionar quando necessário. Sabe ativar seu Mago, quando
precisa mergulhar dentro de si para integrar mais uma sombra. Rela-
ciona-se de forma agradável com cada parte do reino através do amor
do seu Amante.
O homem que domina a energia madura desse arquétipo possui a
ampla visão de quem enxerga a todos e integra pontos de vista con-
flitantes, tomando decisões criativas que auxiliam na manutenção da
harmonia ao redor de si.
Bênçãos/promove Organização

A segunda função do Rei é a de dar bênçãos. Desse lugar de grande


visão, o Rei promove quem merece. Quando chega o momento de
algo morrer para dar lugar para o novo nascer, é o Rei quem reco-
nhece esse momento. Para exemplificar essa função do Rei, uso como
exemplo a experiência que tive quando fiz uma viagem para a Amazô-
nia, a fim de viver uma experiência ritualística junto a etnia indígena
Sateré-Mawé.
Enquanto eu me preparava para realizar o Ritual da Tucandeira da
etnia Sateré-Mawé, quando o menino morre para dar lugar ao adulto,
assumindo responsabilidades com sua tribo. Em um desses dias de
preparação, sonhei que me encontrava com um Cacique. Era noite
e ele me levou até o alto de um morro. Chegando lá, me falou para
seguir sozinho a partir dali, e terminou dizendo: “Chegou a hora de
você morrer”. Não tive medo, apenas soube que havia chegado o
momento, então segui em direção à uma fogueira, onde um Xamã me
aguardava.
O Cacique é como chamamos popularmente a governança máxima
de etnias indígenas (o Rei). No sonho, essa autoridade dentro de mim
reconhece meu estágio de amadurecimento e direciona o caminho
para a iniciação que eu deveria passar. Em alguns casos, podemos pas-
sar anos sonhando que somos bandidos fugindo de um Rei ou uma
figura de autoridade em nosso interior, simbolizando que corremos
do próprio processo de amadurecimento.
o tirano
Inflação do arquétipo do Rei

O Tirano não alcançou essa conexão com seu Rei interno, não
está no seu centro de equilíbrio e, por isso, não tem confiança no seu
próprio poder gerador e criativo. Assim, levanta muralhas e estacas
externamente a si, para provar que tem controle de tudo.
Infelizmente, temos muitos exemplos de Reis Tiranos hoje em dia.
Ditadores como Kim Jong-un, Líder Supremo da Coreia do Norte,
incorporam esse papel na sociedade. Sua luta é contra o novo que
ameaça seu poder absoluto. Também podemos ver ele sendo expresso
no professor que poda a criatividade e o potencial dos seus alunos, o
governante que não se importa com o desenvolvimento integral de
seu povo, o pai autoritário que marca a infância dos filhos com frieza
e violência.
O Tirano é o que agride: verbal, física e sexualmente. Ataca a vul-
nerabilidade da criança, pois não aprendeu a cuidar da sua própria
Criança Divina, então, tudo que representa sua sombra acaba sendo
alvo da sua agressão. Como resultado do silenciamento da criança que
o habita, acaba por incorporar uma personalidade ranzinza, rude e
fria. Ele não dá liberdade para que partes criativas e amorosas dentro
de si se expressem e não reconhece o Rei em outras pessoas.
O Rei Tirano, como um ditador, se recusa a abandonar o trono
para que outro Rei assuma. Não compreende a importância da morte
e renascimento para seu povo. Governa apenas por sua ambição, serve
somente a si mesmo e não abençoa aqueles que precisam da sua graça.
A verdade é que o Tirano tem medo da sua fraqueza, inocência e
vulnerabilidade. Age como se tivesse inimigos dentro e fora de si, po-
rém, seu único inimigo é ele próprio.
Todos nós podemos assumir a face do Rei Tirano quando estamos
sob muita pressão e/ou incumbidos de um cargo de responsabilidade.

“Quer conhecer o carácter de uma pessoa? Dê-lhe poder!”


Robert G. Ingersoll

Nesses momentos onde você é tomado pelo Tirano, é preciso re-


conhecer que é o seu lado infantil que está se expressando. O Rei
maduro age com clareza, reconhece seus limites e os defende com sa-
bedoria, já o Tirano cobra para que os outros lhe sirvam e satisfaçam
os seus desejos e ambições.
Já sonhou com crianças sendo perseguidas?
Assim como a passagem bíblica que conta sobre a perseguição do
Rei Tirano Herodes a Jesus Cristo, quando algo novo está para nascer
dentro de você, podem surgir sonhos com crianças ameaçadas por
um Tirano. É comum que na paternidade surja esse tipo de sonho,
na medida que ter um filho estimula a reconciliação do pai com a sua
própria criança divina. Na verdade, o pai precisa deixar de ser uma
criança e assumir a posição de rei: autoridade, serviço e responsabili-
dade.
Mas esse tipo de experiência não surge apenas na paternidade. Pode
surgir quando você está iniciando um novo relacionamento, um novo
projeto ou uma nova fase em sua vida. Quando você está buscando
desapegar de antigas emoções ou perdoar algo que te aconteceu. Nes-
sas situações, podem surgir crianças ameaçadas por um Tirano que
busca desesperadamente manter a antiga ordem e impedir que o novo
floresça em sua vida.
O Covarde
Deflação do arquétipo do Rei

O Covarde é o polo passivo - ou a deflação/falta de identificação


- do Rei. Por trás dele, encontra-se a identidade do homem que não
amadureceu a energia do pai dentro de si, acreditando que todos de-
vem fazer tudo para ele. Como perdeu a identificação com seu Rei
interno, ele projeta sua energia externamente, buscando essa identi-
ficação em outras pessoas. Busca “pais” externos que cumpram esse
papel, pois dentro de si há um “lordezinho” que não desapega da ne-
cessidade de atenção, cuidado e proteção.
Esse arquétipo possui dificuldades de assumir compromissos na vida. É
o Pai que abandona sua família, seus filhos, pois não aprendeu a assu-
mir a responsabilidade por aquilo que ele cria. Duvida da sua potência
criativa, dos seus valores.
Na mesma medida que não assume seu lugar e foge da possibili-
dade de assumir responsabilidades, ele busca criticar os que assumem
papéis de liderança na sociedade, sempre apontando defeitos e falhas.
Assim como o Tirano, o Covarde também está em constante atrito
com aqueles que escancaram sua sombra: a recusa em assumir as res-
ponsabilidades da vida adulta.
Essa é uma faceta do Rei que tem surgido cada vez com mais fre-
quência diante da alta quantidade de abandonos paternos. É um ciclo
vicioso, no qual um pai abandona o filho, que, por sua vez, quando
se torna pai também abandona, pois não teve um homem mais sábio
para orientar sua passagem.
Outra forma desse arquétipo desequilibrado está presente nos ho-
mens que tomaram consciência da necessidade de mudanças diante
do patriarcado doente no qual vivemos, mas que decidiram fazer isso
recusando o poder do Rei dentro de si, ou então os que tentam carre-
gar em seus ombros a culpa por séculos de assédio e abuso de poder
de Tiranos. Acabam ficando em uma posição na qual não assumem
sua potência geradora e criativa para efetivamente causar mudanças
ao seu redor. O homem Covarde perde seu brilho, sua potência e se
prende a um lugar de vítima, colocando a culpa da sua falta de ação
em outras pessoas.
No caso de homens considerados mais sensíveis pela sociedade,
há uma opressão emocional e às vezes física, desde a juventude, sobre
seu potencial masculino, muitas vezes sendo acusados de não serem
“homens de verdade”. Essas situações acabam reprimindo a ligação
com seu Rei interno, sendo preciso empreender um resgate da sua po-
tência masculina dessas pesadas vozes instauradas em sua mente, que
o impedem de realmente ocupar o seu lugar no mundo.
Por trás do Covarde, esconde-se o Tirano. Quando colocado sob
extrema pressão, o Covarde vê seus limites, ora tão bem armados,
agora ultrapassados e, então, mostra todo o poder da sua face Tirana.
Isso acontece, por exemplo, com o homem que, por muito tempo,
pinta a imagem de “bonzinho”, mas que, em um momento de tensão,
expõe toda sua tirania, cometendo as atitudes que tanto criticou.
Ser “bonzinho” é uma das facetas do Covarde e não tem a ver com
as características plenas do Rei, como justiça, decisão, generosidade,
afeto, cuidado e proteção.
arquétipo

guerreiro

Era 2012, eu havia acabado de entrar no Exército e fizemos nossa


primeira caminhada com a mochila de combate, que pesava aproxi-
madamente 18 Kg. Nela, continha tudo que precisaríamos em uma
situação de missão. Havíamos caminhado apenas 1 km e todos nós já
estávamos respirando profundamente, com a coluna arcada, mortos
de cansaço. O instrutor repetiu diversas vezes que no dia do campo
de instrução, que aconteceria em um mês e duraria cinco dias, iríamos
caminhar 12 km com ela nas costas e eu pensava: “12 km? Eu não
aguento, eu vou morrer.” A vontade era largar a mochila no chão, ou
eu mesmo me jogar no chão junto com ela. Mas ninguém estava fa-
zendo isso, todos os meus companheiros estavam sofrendo, gemendo,
mas estavam aguentando. Eu olhei o próprio tenente que nos instruía
e lembrei que ele já tinha passado por tudo aquilo, então me mantive
firme.
Resultado: não só aguentei os 12 km para chegar até o local do
campo de instrução, como também suportei todos os cinco dias de
campo, onde tínhamos que carregar a mochila para todos os lados que
nos deslocamos.
Há um potencial dentro de nós que se não superarmos um limite
extremo, nós nunca iremos conhecer. Essa é a energia do Guerreiro.
Da superação e da persistência.
Lembro de quando fui morar em Florianópolis em 2014, tinha 20
anos e passei a viver realmente longe dos meus pais. Eu já morava so-
zinho há dois anos, mas ainda vivia muito perto deles, tinha as contas
pagas e tudo mais. Mas agora eu estava por conta própria. Passei pela
pior fase da minha vida, estive a um passo da depressão e a vontade
do suicídio me perseguia. Mas justamente nesse limiar da crise, onde
se tem que encontrar forças que você nunca precisou usar antes, que
há o encontro com a energia do Guerreiro.
Não podemos controlar o surgimento das crises. A qualquer mo-
mento uma doença, a chegada de um filho, o falecimento de um ente
querido, podem afetar drasticamente a sua vida e é a energia do Guer-
reiro que te ajuda a gerenciar a crise e se manter firme no seu caminho.
O Guerreiro é nossa energia do movimento e da ação, por isso,
está intimamente relacionado com a emoção da raiva. A raiva é o que faz
o sangue ferver e o corpo se movimentar em direção a uma mudança
necessária. Como nesse episódio que contei anteriormente sobre mi-
nha crise emocional, senti raiva da situação na qual me encontrava, dei
uns gritos e fui atrás de terapia.
Em razão dessa relação com a raiva, o Guerreiro é um dos arquéti-
pos em situação mais crítica atualmente, tendo em vista o grande nú-
mero de casos de agressão contra mulheres que as variações desequi-
libradas desse arquétipo provocam. Na verdade, esse é um arquétipo
que o ser humano dedicou especial atenção ao longo de toda nossa
existência, visto que é o principal envolvido nas guerras e outros con-
flitos. Muitas filosofias, como as artes marciais, por exemplo, surgiram
como caminhos possíveis de amadurecimento do Guerreiro.
Nesse contexto de guerras e abusos de poder, parte do mundo tem
se virado contra o Guerreiro.
No entanto, esse é um arquétipo instintivo do ser humano e, de
alguma forma, sempre estará vivo em nós. Como falei antes, ele está
envolvido com o desenvolvimento da nossa capacidade em superar
desafios e crises. Em encontrar saídas em meio às situações que nos
colocam para baixo na vida. O Guerreiro precisa urgentemente de
direcionamento, observação e disciplina, que é diferente de repressão.
O Guerreiro, na sua energia madura, é extremamente importante
para defender e ampliar os limites do Rei: é imprescindível nos mo-
mentos que precisamos levar uma ideia, um sonho ou projeto adiante.
Ajuda tanto a abrir caminhos na vida quanto a nos posicionar de for-
ma clara e assertiva diante dos desafios.
A raiva, que ferve e induz o movimento, é a energia pura da ação,
é como se fosse o combustível. Mas é através da disciplina mental que
o Guerreiro alcança seu máximo potencial. Não é à toa que, em di-
versos filmes de heróis guerreiros, vemos o personagem tendo que
treinar até seu extremo, para que os limites mentais sabotadores sejam
rompidos.
Conta-se na Bíblia que Jesus Cristo caminhou 40 dias no deserto
em completo jejum, tentado continuamente pelo Diabo (sabotador),
mas que com determinação se manteve firme no seu propósito e con-
seguiu obter o preparo necessário para a grande missão que estava
prestes a fazer. Qual arquétipo está ativado nessa passagem de Jesus?
Uma mente fraca não sustenta toda potência energética do Guer-
reiro e tende a permitir a extravasão da energia através da violência ou
da sujeição ao medo, tristeza ou culpa, fazendo surgir as faces dese-
quilibradas desse arquétipo.
Através do pensamento, o Guerreiro cria meios de canalizar sua
energia e direcioná-la de forma assertiva para seus propósitos. Ele
sustenta seus ideais e protege quem necessita da sua proteção: seja
esse homem um profissional da área militar ou um ativista, ambos
ativam esse arquétipo para levar seus ideais de justiça adiante.
O Guerreiro vibra em todos nós quando a vida nos pede movimen-
to e ação. Ele é a forma madura do arquétipo do Herói, que temos
como base na Jornada Solar. O Herói que fez suas passagens e que
já não luta mais contra a mãe, o feminino e a Natureza. Ele garante a
proteção e o cuidado para quem está sob sua responsabilidade.
O Guerreiro maduro é também a figura do guardião. Ele guarda a
passagem entre seu inconsciente e seu consciente. Quando visualiza
alguma emoção ou memória que emerge das suas profundezas e ame-
aça o seu equilíbrio, ele promove a jornada necessária no seu incons-
ciente para a integração. Ele não foge dos fantasmas do passado que
o assombram. Nesse momento, podem surgir sonhos nos quais você
é ou está acompanhado de um Guerreiro, uma figura corajosa que
enfrenta algum desafio.
Esse é um arquétipo que, mesmo na sua energia madura, necessita
dos outros arquétipos. Sozinho, o Guerreiro é perigoso para si e para
os outros: sua frieza e foco total no seu propósito podem fazê-lo dei-
xar de olhar para os lados. É o que acontece com muitos militares que
desenvolveram toda capacidade de superação, dedicação e propósito,
mas seguem cegamente as leis de um chefe, arquétipo do Rei externo,
que expressa as figuras de um Tirano, não correspondendo assim ao
potencial do Rei, Amante e Mago maduros que ele carrega dentro de
si mesmo. Sem ajuda dos outros arquétipos, esses homens acabam
cumprindo ordens que agridem aqueles que deveriam proteger.
O Guerreiro precisa de um propósito, pois, sem isso, sua ação fica
dispersa. Ao seguir tal propósito, ele não desvia do seu caminho: é
como a flecha lançada que não para até chegar ao seu alvo. Você pre-
cisa de um “porquê” em sua vida.
Sádico
Inflação do arquétipo do Guerreiro

O Sádico é aquele homem que perdeu o domínio sobre a sua agres-


sividade, se tornando violento, impulsivo e/ou competitivo de forma
compulsiva. É a submissão a uma versão animal de si mesmo, de um
caçador insaciável. Tem dificuldades com limites e sua energia está
constantemente indo além do que deveria, perfurando e adentrando a
vulnerabilidade de outras pessoas.
Esse é o principal arquétipo envolvido na doença social da mi-
soginia, escancarada pelo alto número de casos de agressão contra
as mulheres. Isso porque o homem tomado pelo Sádico está intima-
mente conectado com a sua mãe de forma negativa, ele é o Herói que
não realizou seu ritual de passagem de forma madura e plena, onde
uma das principais tarefas é aprender a honrar e perdoar o feminino
que existe dentro e fora de si. A grande verdade que ele esconde é
que ele tem medo do poder feminino que o envolveu nos nove meses da
sua gestação e que continua o envolvendo ao longo da sua vida, pois
a natureza ao redor também é um símbolo do “arquétipo da mãe” e
nos relacionamos com ela com base na forma que nos relacionamos
com nossa mãe pessoal.
Como diz James Hollis em Sob a Sombra de Saturno, não à toa a
infância de “assassinos em série” é perturbadora e, na maioria dos ca-
sos, o principal motivo está na relação com uma mãe incapaz de criar
um vínculo saudável com o filho. Um exemplo é a história de Jeffrey
Dahmer, o Canibal de Milwaukee, que ganhou uma série na Netflix
em 2022. Sua infância foi marcada por uma mãe que abusava de remé-
dios, tinha alucinações e não se conectava afetivamente com ele.
A mãe é nosso primeiro vínculo afetivo e é através da relação com
ela que desenvolvemos a base dos nossos relacionamentos afetivos
futuros. Por isso, a história do Sádico começa na infância. É ater-
rorizado pelos seus pais, pelo ambiente ao seu redor, perde poder
pessoal e a capacidade de criar vínculo com as pessoas. Futuramen-
te, tentará obter emoções profundas e sensação de poder através da
constante afirmação de força e da agressão contra a vulnerabilidade
de outras pessoas.
Do pai, esse homem espera a benção e a orientação. É o pai que
guiaria o ritual de passagem e o ajudaria a amadurecer essa relação
materna. No ritual ele sacrificaria sua parte animal compulsiva, em
prol de viver vínculos mais saudáveis com o mundo.
Em razão dessa expectativa com o pai, por um lado, ele pode per-
turbar a lei e a ordem em qualquer lugar por onde passa, na busca
de encontrar um limite que não lhe foi dado lá atrás, na sua infância.
Interiormente, está buscando testar os limites do reino, algo que lhe
sirva de freio e direção. Nesse caso, pode ser um “fora da lei”, um
traficante, um rebelde sem causa. Por outro lado, ele pode buscar
seguir as leis do “pai” como se fossem o caminho para a aceita-
ção masculina que tanto deseja, se tornando assim um soldado cego
para com as ordens do seu comandante ou um fanático político ou
religioso. De um jeito ou de outro, o Sádico está perdido e se sente
constantemente ameaçado, mas seu inconsciente sempre busca a in-
tegração, o levando ao encontro de experiências que o incentivam a
lutar contra seus monstros.
Pode passar uma vida inteira na busca incansável pelo pai e na ne-
gação da mãe, não entendendo que ele tem que abraçar seu passado,
suas memórias emocionais, seu feminino, sua criança ferida e vulnerá-
vel, para finalmente encontrar o pai/Rei dentro de si.
Portanto, não é só nos casos extremos de uma psicopatia que o
Sádico se apresenta. Vivemos o Sádico toda vez que agredimos ver-
balmente ou fisicamente outra pessoa, principalmente alguém mais
vulnerável. Como um animal entocado, o sádico está sempre pronto
para se defender, atacando quem ameaça chegar perto demais das
suas emoções mais vulneráveis.
Esse arquétipo também está presente nos viciados em trabalho,
que escravizam seu corpo e sua mente em prol de metas absurdas.
É impossível trabalhar com eles, pois estão sempre exigindo de sua
equipe o mesmo nível de dedicação que eles entregam. Não respeitam
os próprios limites do seu corpo, estão sempre indo além - “Trabalhe
enquanto eles dormem” - e, assim, vivem uma vida de realização ma-
terial, mas com a saúde emocional e física extremamente abalada.
O homem que é tomado pela frieza do Sádico não respeita mais
a dor e nem a vida, pois criou uma muralha em si que não permite a
expressão das suas próprias dores.
Se o Sádico ouve uma crítica ao seu comportamento, está pronto
para brandir sua espada e assustar qualquer um que queira ajudá-lo.
Esse homem esconde atrás de si um Masoquista, que, causando dor ao
mundo, está causando dor a si próprio.
Masoquista
Deflação do arquétipo do Guerreiro

Se o Sádico expressa agressividade em excesso, o Masoquista é


aquele que reprime a sua vontade e a sua raiva. Quando a potente
energia de ação do Guerreiro não é externalizada, acaba sendo inter-
nalizada, fazendo com que o homem cause dor a si mesmo.
O Masoquista é a negação do Guerreiro interior.
A vida adulta vai constantemente nos chamando para a luta, para
afirmar nossos valores e tomar decisões. Se fugimos dessas deman-
das, acabamos cada vez mais afundados pela culpa, frustração, medo
e vergonha.
O Masoquista é aquele que foge do combate, que não se posiciona.
Não para manter a paz, não por sabedoria e vontade própria, mas sim
pelo medo ou sensação de incapacidade de usar seu poder pessoal.
Em seguida vem a autopunição, a autoflagelação.
Quantas vezes punimos a nós mesmos por não dizer aquilo que
queríamos? Por não ter coragem de terminar um relacionamento per-
turbador ou sair de um trabalho que não nos valoriza?
Na espiritualidade, nos deparamos constantemente com os valo-
res de “não julgar” e “acolher os diversos pontos de vista que chegam
até nós”. No entanto, é normal confundir o real significado desses
valores e acabar acolhendo tudo que chega até nós, de forma a não
afirmar nosso verdadeiro posicionamento.
Atualmente, muitos homens reprimem o Guerreiro dentro de si
buscando reparar séculos de violência e se tornar o “filho perfeito da
mamãe”. Porém, o que precisa ser feito é curar o Guerreiro ferido. O
Masoquista esconde seu Guerreiro. Não há nada de maduro em um
homem que não enfrenta a raiva que carrega dentro de si, esconden-
do-a por trás de uma máscara de homem bom e correto. Quando esse
homem é extremamente ferido e pressionado, mostra o Sádico que
tem dentro de si, em uma péssima versão, pois há muita raiva acu-
mulada no Masoquista. Novamente, como um animal acuado, ataca
aqueles que o espremeram em um canto apertado.
O homem tomado pelo Masoquista possui dificuldades em relaxar
e ficar tranquilo, pois está sempre preocupado em esconder a raiva
que tem dentro de si. “Vai que descobrem o monstro que carrego dentro de
mim?”
Lembro do Ritual de Passagem do Guerreiros do Coração que re-
alizei em 2017, onde tive uma vivência intensa que escancarou a ver-
dade da minha alma. Eu carregava uma autoimagem de um homem
bom, equilibrado, educado e pacífico. Ao mesmo tempo que era mui-
to tímido, deprimido e estressado. Mas naquele dia, eu me deparei
com uma raiva que eu não imaginava que carregava dentro de mim.
Era como se existisse um animal enjaulado, que agitava meu interior
enquanto eu forçava uma imagem de “bozinho”.
De fato, aquele momento no qual eu expressava toda aquela ener-
gia reprimida por anos, foi o momento mais feliz e verdadeiro que
eu havia vivido até então. O que nos leva para outra verdade sobre o
Masoquista, ao reprimir seu Guerreiro, ele está aos poucos matando
sua força vital.
É comum que esse arquétipo seja carregado por uma apatia e falta
de brilho que vai cada vez mais restringindo seu poder de ação no
mundo e o sufocando com o peso da frustração. Altos indices de de-
pressão, suicídio e compulsão a vícios são resultado da submissão do
homem a esse arquétipo, pois ao ser tomado pelo Masoquista, se per-
de o poder de lutar contra os monstros que nos colocam para baixo.
A equação é a seguinte: quanto mais restrição da externalização da
raiva, maior o acumulo da raiva interna, assim o ferimento do animal
vai aumentando, aumentando, até que a bomba explode, contra outras
pessoas ou contra si mesmo. Sabe quando ouvimos histórias de ho-
mens que “do nada”, entram em uma escola com uma arma na mão,
violentam a esposa ou cometem suicídio? Que ao falarem sobre ele
dizem: “mas era um homem tão bom, ninguém imaginava”? Então, esse é o
Masoquista, uma hora ele se cansa de se machucar. Nesse momento,
pode ser tarde para uma ação curadora e ele acaba se rendendo à ação
destrutiva do Sádico.
Pense em uma ponte entre você e o mundo, onde o Guerreiro
seria o guardião ideal. Ao ter o Sádico nessa posição, o homem está
tentando mostrar valentia e força, atacando e conquistando qualquer
um que se aproxima. O Masoquista, quando exposto, não sustenta as
ameaças que recebe e, acreditando que é aquilo que ele merece, escon-
de-se em uma moita próxima à ponte. Já o Guerreiro maduro não tem
nada a esconder, então, observa a situação e sabe o que proteger e o
que mostrar do território que ele guarda.
Antes que seja tarde, busque amadurecer a expressão da sua agres-
sividade no mundo.
arquétipo

mago

O que seria do desenvolvimento humano sem a curiosidade e


criatividade presente dentro das pessoas?
O Mago carrega a energia do conhecimento e da curiosidade.
O que move esse arquétipo é a curiosidade humana em desvendar,
cada vez mais a fundo, os mistérios de um determinado campo de
conhecimento.
Em culturas nativas, o Mago está presente na figura do Pajé ou
Xamã, que é aquele que alcançou um nível de conhecimento que não
está acessível aos demais. O Xamã é o porta voz dos segredos da vida
e da natureza, conhece os ciclos e as ervas.
Na nossa sociedade contemporânea, vemos o Mago na figura dos
cientistas, que mantêm aceso aquele ancestral desejo em desvendar
os segredos da vida. No último século, vimos esse lado do mago as-
cender e se destacar na sociedade, trazendo diversos conhecimentos
revolucionários sobre química, física e biologia.
Um grande Rei sempre tem um Mago sábio para lhe orientar, ve-
mos isso nas figuras clássicas do Rei Artur e do Mago Merlin. Assim
como atualmente, um governante pouco pode fazer pelo desenvol-
vimento do seu povo sem um investimento significativo em ciência,
tecnologia e educação.
O Mago também está ligado aos processos iniciáticos de morte
e renascimento. O Herói, após se entregar ao poder estruturador do
Rei, é conduzido ao Mago para que faça seu ritual de passagem. Mes-
mo na falta dos rituais de passagem, há uma busca inconsciente em
todo homem por um sábio, um mago, que lhe orienta em suas transi-
ções.
Dentro de todos nós há um Mago que podemos acessar para des-
vendar segredos do nosso inconsciente. Carl Gustav Jung trouxe o
conceito de “inconsciente coletivo”, que seria, de modo genérico, um
inconsciente compartilhado entre toda a nossa espécie. Na cultura
Guarani, fala-se do Grande Vazio ou Grande Mistério, chamado de
Namandu, Grande Espírito. O Xamã é capaz de acessar esse Gran-
de Escuro e trazer conhecimentos importantes para seu povo, assim
como o psicólogo ou psicoterapeuta auxilia o seu paciente a entrar
em contato com seu inconsciente, com o Grande Escuro que carrega
dentro de si.
Sendo assim, o Mago também é aquele que conecta mundos
opostos e distintos: material e espiritual, consciente e inconsciente,
céu e terra. É uma ponte entre mundos, responsável, ao longo de muitos
anos, por ser o porta-voz dos deuses para os seres humanos.
Uma outra característica do Mago é a capacidade de manipulação
energética, através do conhecimento dos quatro elementos, ervas, esta-
dos químicos e físicos, medicinais, estados psíquicos do ser humano,
dentre outros. Ele manipula e transforma.
Portanto, o Mago se manifesta em todos nós quando temos
curiosidade em algum assunto específico e nos aprofundamos nele,
absorvendo um conhecimento que se destaca dentre as demais pes-
soas. Nas escolas e universidades, passamos pelos ritos iniciáticos de
formação - e lá está o Mago dentro de nós, despertando.
Conhecedor da alma humana, o homem tomado pela energia do
Mago maduro faz com que homens dominados pelo Rei Tirano ou
Covarde voltem ao seu centro, expondo, de forma sábia, suas fraque-
zas. Mostra a Guerreiros que se perderam do seu coração o caminho
de resgate ao feminino.
Conta-se a história de que, na época de Sidarta Gautama, o Buda,
havia um Rei Tirano que era temido por ser impiedoso com qualquer
um que lhe cruzasse o caminho. Porém, após conhecer os ensina-
mentos de Buda, mudou sua postura e se transformou em um Rei
centrado, bondoso e querido por seu povo. Foi esse Rei, inclusive, que
patrocinou expedições de monges para regiões distantes, o que contri-
buiu para que os ensinamentos do Buda permanecessem disponíveis
até os dias de hoje.
Amadurecer o arquétipo do Mago é dar força a um personagem
que nos coloca em sincronia com nossos ciclos de vida e ritos de pas-
sagem. É levar adiante o conhecimento e a sabedoria que o ser huma-
no acumula com o tempo.
O Manipulador
Inflação do arquétipo do Mago

Com tanto conhecimento sobre os segredos da vida e da alma hu-


mana, é fácil perceber como age o homem que é tomado pela energia
inflacionada do Mago. É o Mago das sombras que conhece os cami-
nhos para acessar a fraqueza e vulnerabilidade das pessoas e abusa
disso. É o homem sociopata, que possui um imenso poder de mani-
pulação de outras pessoas.
Na figura de Dédalo, da mitologia grega, podemos entender as
duas facetas desse arquétipo. Dédalo é o Mago que construiu, a servi-
ço do Rei Minos, o labirinto do Minotauro, que tinha como objetivo
guardar o monstro do Rei, que era metade homem e metade touro.
Minotauro era um monstro faminto e Minos ordenou que, todos os
anos, a cidade de Atena enviasse 14 jovens, 7 homens e 7 mulheres,
como tributo. Mais adiante, o herói Teseu é enviado ao labirinto e
consegue matar o Minotauro, mas havia ainda, o desafio de sair do la-
birinto. Para tanto, é Dédalo quem o auxilia, entregando a ele um rolo
de fio de linho que o ajuda escapar do labirinto que o próprio Dédalo
criou.
Nesse mito, podemos ver a ambiguidade do Mago que carrega
em si o poder de criar e destruir. Cientistas criaram a bomba atômica,
mas também a cura de diversas doenças. Para o Manipulador, a natu-
reza se tornou apenas um agrupado de matéria-prima para exploração
abusiva e destrutiva. Assim, satisfaz as vontades de seus senhores e
governantes, desrespeitando a vida. Ajuda a satisfazer a tirania do Rei,
ao invés de auxiliá-lo a encontrar seu centro.
Jeffrey Epstein foi um milionário norte-americano que criou
uma rede de abuso a jovens mulheres em situação vulnerável. Segun-
do testemunhas, diversas pessoas de poder (Reis/Tiranos) estavam
envolvidas no caso. Jeffrey sempre externalizava uma postura fria e
reservada, característica do Manipulador. Por anos, manipulou todos
ao seu redor para encobrir seus segredos e aumentar cada vez mais
seu poder e satisfazer a tirania de outros homens.
O Manipulador é também o terapeuta que não respeita os limites
do seu paciente e o expõe a uma situação desestruturante. É o pro-
fessor que não permite que seus alunos façam avanços, colocando-os
sempre em uma situação precária. É o político que manipula o povo
com palavras muito bem arquitetadas apenas para garantir mais poder
a si próprio quando assume o “reinado”.
Toda vez que tentamos manipular outra pessoa através de jogos
emocionais, escancarando verdades com o único intuito de ferir o ou-
tro, estamos sob influência desse arquétipo.
O Inocente
Deflação do arquétipo do Mago

Esse é aquele homem que almeja o posto do Mago, mas não quer
passar pelos desafios necessários para alcançar um alto nível de co-
nhecimento e desenvolvimento. É o homem que não cuida nem de
sua própria casa, seu espaço de poder, mas quer que lhe deem um
grande nível de reconhecimento. Vive delegando aos outros suas res-
ponsabilidades mais básicas
No início do meu trabalho como Tenente do Exército, eu me
achava um militar muito bom e desejava já ter pleno reconhecimento
logo de cara. Mas não foi o que aconteceu, obviamente. Tive um Co-
mandante que não gostava de algumas características minhas, como
falta de posicionamento e iniciativa. Mas eu estava cego para as mu-
danças que eu precisava fazer, sempre rebatendo críticas, e acabei co-
lecionando desavenças com meu Comandante e outros militares. De-
pois de um ano eu estava prestes a ser mandado embora, quando um
dos meus chefes teve uma conversa séria comigo e me disse a seguinte
frase: “Eduardo, quando mais se pensa estar certo, é quando mais você pode estar
errado”.
Essa frase foi o suficiente para eu refletir muito e mudar da água
para o vinho. Percebi que eu estava querendo reconhecimento com 20
anos de idade, sem ainda nem ter passado pelas provações necessárias
que “um aspirante a Mago” deve passar. Eu queria que me reconhe-
cessem sem nem agir e mostrar serviço. Com essa mentalidade antiga,
eu negligenciava meu papel como líder e mentor dos soldados sob
minha responsabilidade.
Por trás do Inocente há um manipulador que, muitas vezes, ma-
nipula até a si mesmo. Como nesse exemplo da minha vida, onde eu
acreditava estar muito correto em meu comportamento, se fazendo
de inocente perante os conflitos que eu estava criando e os problemas
práticos no trabalho que eu acaba causando.
Como o Inocente impede seu próprio desenvolvimento emocio-
nal e sua transição para a responsabilidade da vida adulta, “tirando o
seu da reta”, ele acaba por viver um estado de imaturidade e depen-
dência emocional. Mas é uma dependência que, em muitos casos, é
usada como poder para manipular outras pessoas para fazerem a sua
vontade.
Por exemplo, o Inocente aparece no homem agressor, que, após
libertar seu Sádico e ver a mulher querendo terminar o relacionamento
ou ainda pedindo ajuda à polícia, faz-se de coitadinho e sofrido, mani-
pulando emocionalmente a vítima. E nem precisamos chegar a casos
extremos de agressão física. Podemos ver essa manipulação emocional
agir no dia a dia de um relacionamento tóxico, no qual o Inocente se
coloca constantemente em uma posição de coitadinho, atacando calcu-
ladamente as fraquezas da pessoa com quem se relaciona.
O Inocente é o homem que se recusa a crescer. Por dentro, ele carre-
ga uma crença de incapacidade, de que as coisas que faz nunca estão
boas o suficiente e por isso não sai do lugar. Sem um Mago interno
desenvolvido, ele se vê sem recursos para realizar os ritos de passa-
gem necessários. Tem dificuldades de agir e mudar e, ainda por cima,
tende a sabotar aqueles que buscam abrir caminhos na vida, desesta-
bilizando as estruturas alheias com palavras dolorosas, como no meu
exemplo que citei anteriormente, quando eu buscava julgar e criticar
outros militares que erravam, mas que pelo menos estavam tentando.
Expressa-se também no intelectual reservado, que está sempre
refletindo sobre a vida, fingindo para os outros e para si mesmo que
ainda não sabe o suficiente, sem assumir o conhecimento que possui
para passá-lo adiante. Conhece aquele homem que está sempre fazen-
do cursos e mais cursos, mas nunca aplica e ajuda outras pessoas com
o conhecimento que adquiri? Então, esse é o perfil do Inocente.
Em todo caso, o Inocente é o homem que foge da responsabilidade de
ser um canal de conhecimento para outras pessoas.
O Inocente mostra, assim, que possui uma energia possessiva:
restringe sua energia criativa apenas para si - e diminui seu próprio
potencial. Diferentemente do Mago, que passa adiante seu conheci-
mento, se mantendo em um ciclo de aprendizado, o Inocente repri-
me a natureza cíclica da sua energia. Dessa forma, priva os outros de
aprenderem com ele, mas prejudica principalmente a si mesmo. É o
avarento e mesquinho, que vive sob escassez energética, em uma de-
primente solidão.
Não dá ao mundo e também não recebe.
arquétipo

amante

O arquétipo do Amante fala da nossa capacidade de nos conectar


de forma afetiva com outras pessoas e com o mundo. É a nossa capa-
cidade de criar e manter vínculos. Vínculos que nos unem em casal,
família ou comunidade.
Rege as sensações, os cinco sentidos e o prazer. Aspectos esses que já fo-
ram alvo de reflexão para muitas religiões e filosofias. Se entregar para
o prazer ou não se entregar? Como dominar as paixões desenfreadas?
Mas como todo arquétipo, o Amante vive instintivamente dentro
de nós: por mais que tentemos reprimi-lo, ele se expressará de alguma
maneira.
Esse é o arquétipo mais carente de modelos maduros atualmen-
te, fazendo com que tenhamos extrema dificuldade em alcançar seu
equilíbrio. É difícil encontrar um homem realmente maduro no amor
e nas suas relações. Em muitos casos, as referências que surgem vem
do clássico Dom Juan, galante e sedutor, ou do homem frio e miste-
rioso, estilo Tommy Shelby da série Peaky Blinders, que leva uma vida
de negação ao vínculo e ao amor. Ambos se mostram muito atraentes
para as mulheres, e para os homens também (inclusive heterossexu-
ais), mas mal sucedidos para fazerem uma parceira (o) feliz. Mal su-
cedido até mesmo para se fazer feliz, pois se não consegue entregar
um amor genuíno para outra pessoa, pouco amor próprio conseguirá
entregar para si mesmo.
Fora os modelos pouco saudáveis, também há a pornografia e o
largo incentivo ao consumo que contribuem para o afastamento do
homem para um pleno desenvolvimento do Amante dentro de si.
A falta do Amante amadurecido talvez seja a principal causa do
distúrbio masculino que vivemos nos dias atuais. Sim, pois é através
desse arquétipo que o Rei desenvolve empatia com seu povo. Com a
ajuda do Amante, o Guerreiro sai da sua retidão fria e aprende a olhar
com amor para o mundo, sendo um guardião da vida. O Mago sai da
sua avareza intelectual e divide seu poder com os demais, além de se
conectar intimamente com a natureza e os ciclos.
A conexão do Amante vai além dos cinco sentidos. Ele sente uma
profunda conexão com a natureza que está dentro de si e, por isso,
também se conecta com a que está fora, com um profundo sentimen-
to de pertencimento ao todo.
É impressionante o nível de sensação de pertencimento que pode
trazer o desenvolvimento do amor. A solidão masculina ocupa um
importante espaço no debate sobre masculinidades. São muitos os
homens que não se sentem à vontade para compartilhar suas verda-
deiras emoções com ninguém, nem com um familiar ou amigo, e por
isso se sentem muito solitários no mundo.
Essa solidão é algo que carreguei por muitos anos e mesmo parti-
cipando de muitos grupos de homens, passando por rituais de passa-
gem, ainda foi algo que me perseguiu até pouco tempo atrás. Recen-
temente, tive um momento na minha vida, há pouco mais de um ano,
que ultrapassou as fortes muralhas do meu isolamento e me fez en-
xergar que eu nunca estaria sozinho, esse evento foi a chegada da pa-
ternidade. É difícil descrever a intensidade do sentimento que nasceu
em mim, era como se fosse uma semente de amor plantada dentro do
meu interior. Uma semente que começou a crescer semana a semana,
afastando as sombras e os fantasmas que ainda tentavam me dizer o
quanto eu “nasci para ser sozinho”.
Com essa experiência, finalmente senti um enraizado pertencimen-
to à vida, que elevou o amor entre eu e minha esposa e tem melhorado
significativamente o meu relacionamento com o mundo.
Outra característica importante do arquétipo do Amante, é que ele
possui uma profunda conexão com a mãe, o primeiro vínculo de todo
ser humano, mas, no fundo, sua ligação maior é com a Grande Mãe,
arquétipo relacionado à própria Natureza, aquela que provê o alimen-
to e o corpo a todos os seres vivos. Nesse sentido, ele entende as limita-
ções e imperfeições da sua mãe física, não projetando nela a perfeita Deusa
Mãe que carrega dentro de si. O homem que alcançou a expressão
madura do Amante dentro de si conseguiu encarar e superar os res-
sentimentos, faltas e mágoas que possui com sua mãe pessoal e, assim,
se abriu para uma vivência plena do amor.
Na infância, esse arquétipo se manifesta mais claramente na crian-
ça que ama os animais e a natureza, que sonha em ter uma casa na
árvore. No decorrer da vida, situações de repressão acontecem no de-
senvolvimento desse menino, que o levam a se afastar do seu Amante,
criando as polarizações distorcidas desse arquétipo.
Em parte, isso se deve a um processo natural de separação da mãe,
amadurecimento sexual e conflito entre os arquétipos do Herói, que
busca o desenvolvimento da independência através da aventura, e do
Amante, que busca o vínculo, o pertencimento e o amor.
Mas todo esse conflito poderia ser facilitado se não fosse a fal-
ta de rituais de passagem e um direcionamento saudável feito por
referências masculinas positivas para o menino. Os relacionamentos
amorosos são o principal evento de expressão do Amante na vida de
um homem e, sem um preparo adequado para algo tão importante na
vida, acabamos nos relacionando através das expressões distorcidas
do Amante.
O Tarado
Inflação do arquétipo do Amante

Assim como no caso do arquétipo do Guerreiro, as manifestações


desequilibradas desse arquétipo também estão fortemente ligadas à
relação do homem com a sua mãe.
Não é querer depositar na mãe uma carga ainda maior do que cul-
turalmente ela já carrega na criação dos filhos e sim trazer luz a algo
que está presente e causa verdadeiros impactos na vida dos homens.
Se os homens mais velhos ainda orientassem de forma estruturada os
ritos de passagem, teríamos mais homens resolvidos com o feminino.
O comportamento do arquétipo do Tarado se origina, em muitos
casos, de uma relação materna desenvolvida sob a influência do sen-
timento da falta de afeto, alimento e carinho. Em muitas situações, o
homem não percebe a existência dessa falta de forma consciente, o
que prejudica ainda mais o seu amadurecimento. Ao invés de identi-
ficar suas necessidades e buscar satisfazê-las de forma equilibrada, o
homem dominado pelo Tarado busca consumir qualquer projeção des-
se feminino original que encontra em seu caminho, tentando saciar a
fome das suas carências de forma exagerada.
Nesse sentido, o Tarado possui uma fome material que nunca se vê
saciada e alimenta-se compulsivamente de comida, bens, pornografia,
pessoas e drogas. Sendo assim, ele se revela na personalidade do ho-
mem através dos vícios. Coincidentemente, nós, homens, somos os
que mais nos prendemos a vícios, como alcoolismo, jogos, pornogra-
fia.
O Tarado é escravo das compulsões do seu corpo, sua mente está
dominada por programações que o condicionam a sempre satisfazer
sua fome, em um ciclo vicioso que se repete a cada dia.
Não conhece, muito menos domina, sua energia sexual. Por trás
dele, há um Impotente, incapaz de sustentar sua potência masculina.
Amedrontado com a força da natureza, dos instintos, da mãe e da co-
nexão com o feminino dentro de si, o Tarado subjuga o Outro. Sem a
conexão do Amante, ele age como se tudo existisse apenas para saciar
seu grande vazio.
O Tarado não entende que a fonte de prazer está na sensível co-
nexão com os seus sentidos e com seu interior, ao invés disso, ele
se pressiona a manter performances e padrões de uma sexualidade
deturpada. O sexo, para esse homem, é compulsivo e não respeita
os próprios limites. Possui dificuldades em atingir grandes orgasmos,
pois não conecta-se com o presente, com a pessoa que está na sua
frente, ele foca apenas na saciação da sua fome sexual.
O homem age como um animal: instintivo e impulsivo.
Esse arquétipo aparece no homem que está sempre em busca de
relações superficiais que irão mantê-lo protegido de expor suas emo-
ções e reais carências afetivas. Não só em homens solteiros, mas na-
queles que finalmente decidiram unir laços com outra pessoa e vivem
fugindo de uma relação verdadeiramente íntima. Esquivam-se das res-
ponsabilidades afetivas, traem e acabam vendo a vida sexual do casal
afundando.
É interessante notar a quantidade de homens que nunca se interes-
saram por autoconhecimento, mas que, quando entram em um rela-
cionamento, logo percebem a necessidade de algo a melhorar, seja por
pressão da companheira(o) ou do próprio relacionamento. O Outro
acaba sendo um espelho das suas necessidades. Agora com um espe-
lho, o homem percebe que ele precisa dominar o animal que existe
dentro de si, para que o amor e o vínculo no seu relacionamento real-
mente possam florescer.
O Tarado foge de uma conexão profunda, como a que o Aman-
te é capaz de alcançar, pois isso envolve limites e responsabilidades.
Seguindo esse caminho, o Tarado leva uma vida hipnótica e sem real
prazer, o vazio emocional só cresce.
O desafio maior está no fato de vivermos na era das redes sociais,
onde pessoas ficam horas grudadas na tela de um celular recebendo
anúncios que buscam exatamente se ligar ao Tarado dentro de nós. Se
não houver um sério comprometimento por parte do homem em sal-
var o amor dentro de si e se dedicar às coisas realmente importantes
da vida, ele acabará para sempre aprisionado no labirinto do Minotau-
ro, o labirinto das paixões.
O Impotente
A deflação do arquétipo do Amante

O homem tomado pelo Impotente também está intimamente liga-


do à mãe - sua versão infantil é o menino chamado de “Filhinho da
Mamãe”. É o homem que ainda se vê extremamente dependente do
alimento materno, projetando suas carências nas pessoas e no mundo.
Como se todos tivessem a obrigação de lhe sustentar.
Assim como o Tarado, esse homem também se prende facilmente
a vícios na busca de suprir sua fome e anestesiar suas dores, mas a
motivação dele é pelo excesso que recebeu, e não pela falta.
A mãe acaba ultrapassando os frágeis limites da criança. Paparican-
do em excesso, dando demais, fazendo tudo pelo menino. “Meu rei”
e “eterno namorado da mamãe” são algumas das frases que marcam
um longo relacionamento entre mãe e filho. Essa é uma verdade que
precisamos assimilar, a de que o excesso de amor e cuidado também
fere, também machuca e atrofia o nosso desenvolvimento.
Portanto, esse arquétipo se manifesta em homens que cresceram
engolidos pela energia feminina da sua mãe pessoal ou de outras fi-
guras femininas como avós e irmãs. Essa experiência fica ainda mais
intensa quando o menino não possui uma figura paterna presente,
que amplie sua consciência para fora dos limites da sua relação ma-
terna e lhe apresente limites. O Impotente cresce, assim, afastado da
sua energia masculina, sem o desenvolvimento da capacidade de agir,
tomar decisões e ser independente, já que sempre havia uma mãe que
fizesse tudo por ele. É como se buscasse viver o período gestacional
para sempre.
Certa vez um homem de quase 30 anos me relatou em terapia vá-
rios sonhos com seu carro, em que nunca era ele quem o dirigia e,
muitas vezes, acabava indo parar em uma valeta na estrada ou com
dificuldades de subir estradas íngremes. Por vezes, quem dirigia era
um desconhecido, em outras vezes era a avó. Na interpretação dos
sonhos, a conclusão a que ele chegou é que ainda tinha dificuldades de
tomar decisões e adquirir independência em sua vida, principalmente
financeira, já que a avó o ajudava bastante nessa área.
Sua infância foi marcada por uma mãe que resolvia tudo e um pai
com o qual se divertia, mas que não teve uma presença marcante na
sua educação e acabou falecendo no início da sua adolescência. A mãe
tinha muita energia, iniciativa e pouca paciência, o que acabava podan-
do a iniciativa do menino. Já a avó que aparece no sonho, era muito
boa, sempre disposta a ajudar, mas acabava o impedindo de enfrentar
os desafios da vida por si mesmo e de encontrar a própria força inte-
rior para superação dos obstáculos.
O resultado dessa experiência foi uma marcante presença do Im-
potente na sua vida. Somente trabalhando sua dependência emocio-
nal, esse homem conseguiu mais força para crescer profissionalmente
e adquirir a independência financeira que era seu objetivo na terapia.
O Impotente também não conhece sua potência sexual e acaba
sujeito ao excesso de estímulos sensoriais do mundo. Esse arquétipo
está preso nas sombras e, às vezes, até tem consciência do seu cárcere,
mas possui dificuldades em dar os passos necessários para se libertar
da teia de estímulos sensoriais que o envolve.
Nos relacionamentos, esse homem se vê refém da energia do(a)
parceiro(a). Não sabe como expressar sua sexualidade com naturali-
dade, então, vive sob grande pressão sobre o seu desempenho. Cul-
pa-se com excesso quando não atende as necessidades do Outro, sem
perceber que, antes disso, desconhece as suas próprias necessidades.
O Impotente é o maior medo do Tarado. A falta é o maior medo
de quem vive no excesso. Assim como a indústria farmacêutica lucra
com a insegurança dos jovens na venda de viagra, a indústria porno-
gráfica lucra com o excesso. Tudo para manter uma potência que só
serve para aparência, mas não para o prazer e o amor verdadeiro.
Os homens oscilam entre essas duas polaridades das sombras e
esquecem de olhar para o centro, o Amante.
Para quem vive as distorções do Amante, faria muito bem ativar
sua energia do Guerreiro, dando a ele um claro propósito para de-
senvolver sua capacidade assertiva e focada. Somente um sério com-
promisso com o seu desenvolvimento pode libertá-lo do labirinto do
Minotauro. É preciso disciplina e persistência.
O Impotente precisa aprender a sustentar o sofrimento que ele tan-
to tenta anestesiar com vícios. Fazer jejum faz muito bem. Se a com-
pulsão é alimentar, faça jejum intermitente. Se a compulsão é sexual,
faça jejum sexual, ficando um período sem ejacular. Regule o tempo
que você utiliza o celular, utilizando aplicativos que te auxiliam nisso.
É claro que os primeiros dias serão desesperadores, por isso, você tem
que ocupar seu tempo com hábitos saudáveis, como exercício físico e
meditação, por exemplo. Você precisa reeducar o seu corpo, reeducar
o animal que vive dentro de você.
E faça terapia para trabalhar sua relação materna.
Escrito por Eduardo Pereira
Autor e astrólogo da Jornada Solar

Referências Bibliográficas

Rei, Guerreiro, Mago e Amante - Robert Moore e Douglas Gillette


Sob a Sombra de Saturno - James Hollis

Livro agenda para homens

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