A AVENTURA DE CRESCER
A jornada do herói com o videogame
Roblox
Trabalho do estudante Davi de Castro Leão
da Clonlara School, com a ajuda de seus pais,
sobre “A jornada do herói” usando o
videogame Roblox.
Introdução
O estudante Davi de Castro Leão criou e
contou a jornada do herói Luf, do seriado
One Piece, usando o Roblox. O curso de sua
vida se inicia logo cedo, em sua primeira
infância, com a separação de sua família, de
sua comunidade, de sua tribo/ clã; passando
por várias aventuras, e ao final, ele completa
seu processo de transformação e
autoconhecimento.
Vladimir Propp
Vladimir Propp explica sobre as funções dos
personagens: “[...] a palavra morfologia
significa o estudo das formas. Em botânica,
por morfologia entende-se o estudo das
partes que constituem uma planta e das
relações entre essas partes e o todo: em
outras palavras, o estudo da textura de uma
planta. Ninguém havia pensado ainda na
possibilidade da noção e da designação
morfologia do conto maravilhoso.
Entretanto, no âmbito do conto popular,
folclórico, o estudo das formas e o
estabelecimento das leis que regem sua
disposição é possível com a mesma precisão
da morfologia das formações orgânicas,
empreendendo a comparação entre os
enredos desses contos [...] Para isso, isolamos
as partes constituintes dos contos de magia
segundo procedimentos particulares (cf.
adiante), após o que comparamos os contos
segundo suas próprias partes constituintes.
Obtemos como resultado uma morfologia,
isto é, uma descrição do conto maravilhoso
segundo as partes que o constituem, e as
relações destas partes entre si e com o
conjunto.
Quais os métodos que permitem obter uma
descrição exata do conto maravilhoso?
Comparemos os seguintes casos:
1. O rei dá uma águia ao destemido. A águia o
leva para outro reino (171);
2. O velho dá um cavalo a Sutchenko. O
cavalo o leva para outro reino (132);
3. O feiticeiro dá a Ivan um barquinho. O
barquinho o leva para outro reino (138);
4. A filha do czar dá a Ivan um anel. Moços
que surgem do anel levam Ivan para outro
reino(156) etc.
Nos casos citados encontramos grandezas
constantes e grandezas variáveis. O que
muda são os nomes (e, com eles, os atributos)
dos personagens; o que não muda são suas
ações, ou funções. Daí a conclusão de que o
conto maravilhoso atribui frequentemente
ações iguais a personagens diferentes. Isto
nos permite estudar os contos a partir das
funções dos personagens”. Trecho do livro
"Morfologia do conto maravilhoso" de
Vladimir Propp.
No caso, como funções dos personagens
adotadas para a construção da narrativa da
história One Piece, o Davi percebeu que o
herói é submetido a uma série de provas -
como: lutas, buscas, navegações, trabalhos,
pedidos, charadas, trocas etc -, e recebe uma
série de auxílios mágicos para tal - como: as
frutas ou akumanomis, armas etc. O Davi Joseph Campbell
pode explorar diversas frutas do diabo no Na área de estudo da literatura, Joseph
módulo Blox Fruit do Roblox. Campbell, importante mitólogo e escritor,
autor da obra “O herói de mil faces” (1949),
traz a teoria do “Monomito” ou “A jornada do
herói”, que consiste em classificar o herói
como alguém disposto a sacrificar suas
necessidades em benefício dos outros; ao se
sacrificar ele se torna sagrado, ele busca pela
sua identidade e auto-aceitação.
“Os heróis precisam ter qualidades com as
quais possamos nos identificar e com as quais
possamos nos reconhecer, por isso são
impelidos por impulsos universais, como o
desejo de ser amado e compreendido, de ter
êxito, de sobreviver, de ser livre, etc. Para
Campbell, este é um arquétipo em diversas
culturas que descreve a transição da
adolescência para a idade adulta, um ritual de
passagem”. (Jaqueline Souza).

O mangá de One Piece inclui uma fase de
separação, transição, e incorporação,
ocorrendo então uma fase de transformação
psicológica fundamental que deixa para trás
a psique infantil. Assim, o herói retorna como
adulto para enriquecer o mundo com suas
descobertas.
O módulo Blox Fruit do Roblox permitiu ao
Davi reviver algumas das aventuras e
desventuras do herói Luf.
A minha jornada
Nós fizemos uma analogia entre a jornada
do herói e a jornada do Davi. Assim como o
herói em sua jornada é submetido a uma
série de provas e recebe uma série de
auxílios, o Davi também em sua jornada de
crescimento e desenvolvimento - fisiológico,
psicológico e estudantil - é submetido a uma
série de provas, como: os atritos com os
colegas em seus projetos colaborativos, os
conflitos internos sobre sua própria conduta
e a conduta dos colegas, a enxurrada de
hormônios que chegam com a adolescência,
as mudanças em seu corpo, os acidentes e
contratempos da vida, entre outros desafios.
E o Davi também recebeu, ao longo de sua
jornada até o momento, uma série de
auxílios, como: primeiro, desenvolver a
autoregulação ao aprender a fazer e
atualizar uma lista para a identificação das
emoções e sensações em seu corpo
quando vive uma situação que desperta
emoções negativas; segundo, uso de
recursos diversos, como aprender a fazer e
atualizar uma lista de tudo que ele pode
lançar mão, tanto em momentos de estresse
quanto em momentos de tristeza; terceiro,
uma lista das distorções cognitivas (ou
armadilhas de pensamento) para reconhecer
os pensamentos que estão despertando
emoções negativas; e por fim, a busca e o
reconhecimento de possíveis soluções para
o seu problema /desafio.
EMOÇÕES E SENSAÇÕES
O neurocientista Joseph E. LeDoux alerta
que os termos como cognição, percepção,
memória, humor, empatia, sentimento e
emoção, todos esses termos são reificações
necessárias para fins analíticos, mas não
têm limites claros e não têm locais distintos
e dedicados no cérebro. Por exemplo: as
emoções estão envolvidas em muitas áreas
do cérebro humano e estão fortemente
entrelaçadas com estruturas de cognição,
memória e motivação. Em nossa cultura, a
fim de podermos nos expressar melhor,
criamos uma diferenciação entre esses
conceitos acima mencionados, e listamos
alguns indicados por Peter Levine para
ajudar a criança a reconhecer suas emoções
e sensações no corpo.
RECURSOS PARA RESILIÊNCIA
O Davi ajudou a organizar a seguir uma lista
somente de alguns dos recursos que ele
mais lançou mão quando despertaram
emoções negativas para conseguir se
acalmar …
A respiração profunda acompanhando os
cinco dedos:
O relaxamento muscular progressivo:
Essências calmantes:
O Davi aprendeu sobre o poder calmante
dos aromas, e como são uma ferramenta
auxiliar que pode ser decisiva no combate à
ansiedade e hiperatividade. Então o Davi
tem na mesinha de estudo dele três frascos
com diferentes essências que ele pode usar:
lavanda, bergamota e vetiver.
A garrafa mágica:
Quando o frasco de purpurina está
inabalável, o glitter é acomodado
pacificamente no fundo do frasco. Você
pode ver claramente através dele. O glitter
representa os pensamentos. Quando
estamos nos sentindo com raiva ou
chateados (agite a garrafa), os pensamentos
estão girando ao redor e aí somos incapazes
de pensar com clareza. Observe o glitter,
porém, ele sempre se acomoda. E enquanto
você observa o glitter se acalmar, observe a
mente se acalmando também. Quando o
glitter retornar ao fundo do frasco, você se
sentirá mais calmo e poderá pensar com
mais clareza.
DISTORÇÕES COGNITIVAS
As crenças são difíceis de questionar e
contestar porque normalmente são tomadas
como fatos, como parte de nós (parte de
nossa personalidade) porque incluem
nossas convicções, nossas crenças mais
profundas sobre o que é certo e o que é
errado; o que é bom e o que é ruim; e o que
é desejável e o que é indesejável. As
crenças são as suposições básicas sobre o
mundo e o futuro, e como devemos nos
comportar e representar o que deve e o que
não deve. Muitas dessas crenças são
desejáveis ​e nos ajudam a funcionar neste
mundo. “Você deve evitar prejudicar outras
pessoas”, “Você deve ser honesto”, “Você
não deve explorar outras pessoas” e assim
por diante, são exemplos de crenças muito
adaptáveis ​e valiosas. Outras crenças, por
outro lado, são irracionais, mal-adaptativas e
disfuncionais, pois esse tipo de crença nos
restringe, nos inibe e nos torna prisioneiros
de nossas próprias convicções. A seguir
uma lista de algumas das “armadilhas de
pensamento” que o Davi tem observado:
1. Inferência arbitrária. As conclusões são
feitas na ausência de evidências
substanciais, por exemplo, pais cujos filhos
adolescentes chegam em casa meia hora
depois do toque de recolher concluem: “Ela
está aprontando de novo”.
2. Abstrações seletivas. As informações são
retiradas do contexto e certos detalhes são
destacados enquanto outras informações
importantes são ignoradas. Por exemplo, um
homem cuja esposa responde às suas
perguntas com respostas monossilábicas
conclui: “Ela está brava comigo”.
3. Generalização excessiva. Um ou dois
incidentes isolados podem servir como
representação de todas as situações
semelhantes, relacionadas ou não. Por
exemplo, quando um pai recusa o pedido de
uma criança para sair com seus amigos, a
criança conclui: “Você nunca me deixa fazer
nada”.
4. Ampliação e minimização. Uma situação é
percebida como mais ou menos significativa
do que o apropriado. Por exemplo, um
marido zangado explode ao descobrir que o
talão de cheques não está equilibrado e diz
à esposa: “Estamos completamente
ferrados”.
5. Personalização. Eventos externos são
atribuídos a si mesmo quando existem
evidências insuficientes para chegar a uma
conclusão. Por exemplo, uma mulher que
encontra seu marido adicionando mais sal à
sua refeição assume: “Ele odeia minha
comida”.
6. Pensamento dicotômico. As experiências
são codificadas como preto ou branco, um
sucesso completo ou um fracasso total. Isso
também é conhecido como pensamento
polarizado. Por exemplo, quando um marido
está reorganizando um armário e sua
esposa questiona o posicionamento de um
dos itens, o marido pensa consigo mesmo:
“Ela nunca está feliz com nada que eu faço”.
7. Rotulagem incorreta. A identidade de uma
pessoa é retratada com base em
imperfeições e erros cometidos no passado.
Por exemplo, após erros contínuos na
preparação de refeições, uma esposa
pensa: “Eu sou inútil”, em vez de reconhecer
seu erro como sendo menor.
8. Visão de túnel. Às vezes, os
companheiros vêem apenas o que querem
ver ou o que se adapta ao seu estado de
espírito atual. Um homem que acredita que
sua esposa “faz o que ela quer de qualquer
maneira” pode acusá-la de fazer uma
escolha baseada puramente em razões
egoístas.
9. Explicações tendenciosas. Este é um tipo
de pensamento que os parceiros
desenvolvem durante momentos de
angústia, assumindo automaticamente que
um cônjuge tem um motivo alternativo
negativo por trás de sua intenção. Por
exemplo, uma mulher diz a si mesma: "Ele
está agindo todo amoroso assim porque ele
quer algo de mim. Ele está me armando
uma.” O mesmo pode acontecer em relação
a um filho: “Ele está agindo carinhoso
comigo porque vai me pedir algo”.
10. Leitura da mente. Este é o dom mágico
de ser capaz de saber o que outra pessoa
está pensando sem a ajuda da comunicação
verbal. Alguns cônjuges e pais e filhos
acabam atribuindo intenções indignas um ao
outro. Por exemplo, um homem pensa
consigo mesmo: “Sei o que está passando
pela cabeça dela; ela acha que eu sou
ingênuo sobre o que ela está fazendo."
11. Atenção seletiva. A tendência do
indivíduo de notar apenas certos aspectos
dos eventos que ocorrem nos
relacionamentos e ignorar os outros (por
exemplo, concentrando-se nas palavras do
outro e ignorando suas ações).
12. Atribuições. Inferências sobre os fatores
que influenciaram as ações de um parceiro
(por exemplo, concluir que um parceiro não
respondeu a uma pergunta porque deseja
controlar o relacionamento).
13. Expectativas. Previsões sobre a
probabilidade de eventos específicos
ocorrerem no relacionamento (por exemplo,
que expressar sentimentos ao parceiro
resultará em raiva do parceiro).
14. Suposições. Crenças sobre as
características gerais das pessoas e
relacionamentos (por exemplo, a suposição
de uma esposa de que os homens não
precisam de apego emocional).
15. Padrões. Crenças sobre as características
que as pessoas e os relacionamentos
“deveriam” ter (por exemplo, que os
parceiros não devem ter fronteiras entre si,
compartilhando todos os seus pensamentos
e emoções).
Base Nacional Comum
Curricular
Esse trabalho foi também uma
oportunidade de cobrir conteúdos
indicados pela BNCC.
Nós não seguimos um currículo fixo aqui em
casa, por várias razões, então não nos
prendemos às séries para as quais o
ministério da educação escolheu alocar o
aprendizado de determinados conteúdos. A
seguir uma lista de alguns dos códigos e
objetivos da BNCC que nós cobrimos
durante esse trabalho em grupo:
(EF01HI01) Identificar aspectos do seu
crescimento por meio do registro das
lembranças particulares ou de lembranças
dos membros de sua família e/ou de sua
comunidade.
(EF02HI03) Selecionar situações cotidianas
que remetem à percepção de mudança,
pertencimento e memória.
(EF02HI04) Selecionar e compreender o
significado de objetos e documentos pessoais
como fontes de memórias e histórias nos
âmbitos pessoal, familiar, escolar e
comunitário.
(EF02HI05) Selecionar objetos e
documentos pessoais e de grupos próximos
ao seu convívio e compreender sua função,
seu uso e seu significado.
(EF02HI06) Identificar e organizar,
temporalmente, fatos da vida cotidiana,
usando noções relacionadas ao tempo (antes,
durante, ao mesmo tempo e depois).
(EF02HI08) Compilar histórias da família
e/ou da comunidade registradas em
diferentes fontes.
(EF02HI09) Identificar objetos e documentos
pessoais que remetem à própria experiência
no âmbito da família e/ou da comunidade,
discutindo as razões pelas quais alguns
objetos são preservados e outros são
descartados.