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Que

liberdade
temos
?
Apresentação

Esse livro é o resultado de uma atividade inspirada pelas ideias das obras “Além da alfabetização" e
"Aprender a escrever" da Ana Teberosky. As crianças foram convidadas, a partir da leitura, a
realizar uma conexão entre texto e imagens representativas.

As crianças ajudaram a organizar o que entenderam do olhar da sociologia sobre a liberdade que
temos. A Sociologia é a Ciência Social que estuda a sociedade, padrões de relações sociais,
interação social e cultura da vida cotidiana. É uma ciência social que utiliza vários métodos de
investigação empírica.
Eu posso escolher meu corpo?

Posso ser grande como um elefante?

Ou pequeno como um rato?

Não, porque evoluímos e estamos no mundo como grandes macacos, junto


com o chimpanzés, gorilas, orangotangos e bonobos.
Eu posso escolher ser uma mulher?

Ou ser homossexual?

Não, eu não posso escolher meu sexo, nem minha orientação sexual, pois é
uma loteria genética.
Eu posso escolher ser um Homo Ergaster?

Ou um cavaleiro das cruzadas?

Ou um empresário do futuro?

Não, porque são posições produzidas historicamente.


Eu posso escolher os meus desejos? Tipo desejar um falafel? Ou desejar uma casa
com gramado? Ou uma viagem romântica?

Não, porque nossos desejos não são nossos, mas, sim, frutos de uma
convenção social.
Caramba, então, eu não posso escolher nada?

Calma, também não é assim, existe um “menu à la carte” de modelos


culturais e coletivamente moldados do qual você pode escolher.

Modelos culturais de afetividade e racionalidade influenciam as formas como


tomamos e percebemos nossas decisões.
Mas como esse menu foi elaborado?

Isso é uma longa história e remonta a nossa evolução …

As condições em que as escolhas são feitas se modificam de tempos em tempos,


e com isso se modifica também a organização cultural das escolhas.
Para os sociólogos, isso se dá assim porque as regras permitem aos atores se
relacionarem uns com os outros, criarem expectativas uns sobre os outros e
trilharem caminhos conhecidos uns com os outros. Em outras palavras, os
rituais são uma poderosa ferramenta simbólica para afastar as ansiedades
criadas pela incerteza.
Como nos explica a socióloga Eva Illouz, uma experiência é sempre contida e
organizada por instituições (um doente em um hospital; um adolescente
indisciplinado em uma escola; uma mulher raivosa em uma família etc.); e
as experiências têm formas, intensidades, texturas, que emanam do modo
como as instituições estruturam a vida emocional.
Uma escolha pode ser fruto de um elaborado processo de autoconsulta e
exposição de cursos alternativos, ou de uma decisão impulsiva, mas de
qualquer forma estará restrita às opções disponíveis no menu. Vamos
analisar alguns exemplos, imaginando um pêndulo, de um extremo ao outro,
e as variações no meio.
Vamos supor a escolha de uma obra de arte para enfeitar a minha parede. Eu
posso escolher o que se convencionou ser uma arte valiosa num extremo do
pêndulo, ou eu posso escolher o meu desenho, porque também estabelecemos
por consenso mútuo que arte é o que as pessoas acham que é arte, pois a beleza
está nos olhos do espectador, ou eu posso escolher algo bem entre esses pólos,
bem no meio do pêndulo, tipo uma reprodução que eu mesma fiz de um
quadro de Van Gogh. Mas, qualquer uma dessas escolhas foram estipuladas por
uma convenção social.
Vamos supor uma pessoa doente. “Lembrando que para ser inteligível para si
mesmo e para os outros, uma experiência sempre deve seguir padrões culturais
estabelecidos. Uma pessoa doente pode explicar sua doença como um castigo de
Deus por seus erros passados, como um acidente biológico ou como causada por
um desejo inconsciente de morrer; todas essas interpretações emergem e
estão situadas dentro de elaborados modelos explicativos usados ​e
reconhecíveis por grupos de pessoas historicamente situados. As fortes
restrições institucionais moldam nossas experiências, mas os indivíduos
lidam com elas com os recursos psíquicos que acumularam no curso de sua
trajetória social”.
Como nos explica o sociólogo Norbert Elias: “o consentimento dado pelo
indivíduo para viver em companhia de outros numa forma específica, por
exemplo, num Estado, e estar ligado a outros como cidadão, operário ou
fazendeiro, e não como cavaleiro, servo da gleba ou criador nômade de
ovelhas - esse consentimento e essa justificação são algo retrospectivo. Nesse
assunto, o indivíduo pouca opção tem. Nasce numa ordem que possui
instituições de determinado tipo e é condicionado com maior ou menor
sucesso, para conformar-se a elas. E desaprovar ou fugir da nossa sociedade
não é menor sinal de condicionamento do que louvá-la e justificá-la”.
Mas se as minhas escolhas na realidade não são bem minhas, são
pré-determinadas pela sociedade, então como vemos tantas mudanças
acontecendo de tempos em tempos?

A sociologia diz que nós possuímos sim a escolha de questionar tudo. Por isso
a metáfora do tecido social maleável que pode abraçar diferentes formatos de
sistemas de crenças.
Quando questionamos o sistema de crenças atual, formulamos um novo.
Como diz o Professor Yuval Harari: “É por isso que marxistas recontam a
história do capitalismo, que feministas estudam a formação das sociedades
patriarcais e que afro-americanos rememoram os horrores do tráfico
negreiro. O objetivo não é perpetuar o passado, e sim libertar-se dele”.
E assim caminha a humanidade, seguindo as convenções e ao mesmo tempo as
questionando e as modificando.

FIM

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