Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA – DH
Vitoria Da Conquista
2013
ALEXANDRINA MENDES SANTANA
Vitoria Da Conquista
2013
“Quem passou a vida em brancas nuvens
E em plácido repouso adormeceu,
Quem não sentiu o frio da desgraça,
Quem passou pela vida e não sofreu
Foi espectro de homem, não foi homem,
Só passou pela vida, não viveu.”
Francisco Octaviano
RESUMO
ABSTRACT
In the year of 2004, forming a collective auto-called MRA - Movimento Rompendo Amarras
(Movement Breaking Ropes) students of several courses took an unfinished building (current
headquarter of the TV and Radio UESB) as occupation that would last for 4 years, which
served also like dwelling. The occupation/residence would serve like source of pressure in
front of the administration of the University for the conclusion of the university restaurant, the
construction of the students residence/dorms as well as a driving force where the student
movement could rule, the introduction of a permanent student representation in the UESB.
Through other denominations of collective such as the MRL - Movimento Resistencia e Luta
(Resistance and Fight Movement) and two managements of the DCE - Diretorio Central dos
Estudantes (Central Directory of the Students) (managements: Declare War and DCE in
movement) there was still given continuity to this action that culminated in the delivery of the
R.U. managed by the private enterprise and the University residence, at present with 1/3 of
the work that had been handed in 2008.
Key-words: UESB, Student Movement, Student residence.
AGRADECIMENTOS
Agradeço em primeiro lugar a Aquele do qual eu extrai meu ser físico e espiritual, que
é Imenso, - não somente em tamanho, mas também em uma Imensidão de Força e de
Vontade. O Tudo espiritual/invisível/visível/imaginado. Esses termos para definir o que as
demais pessoas chamam de Deus. Eternamente grata. Nada a pedir, obtenho perfeição em
minha vida. Compadeço-me com o infortúnio alheio, mas não sofro. Tenho ao meu redor
muito amor. Tenho a minha adorada mãe, minha preta maravilhosa, minha mamãezinha, que
tanto me auxilia nessa caminhada, minha aliada em tudo. Nada do que eu faça será
suficientemente necessário pra expressar minha gratidão por ela. Agradecer a minha pequena,
que mesmo me tirando do sério, nas vezes que precisei de silencio, de ficar quieta nos meus
papeis, ela me tirava da tela, pedia colinho e queria dançar. Por ela e para ela eu vivo. A
minha irmã que me traz tanta alegria. Batizou seu primeiro filho com o nome do filho que eu
sempre quis ter, a meu pedido: Alecsander. Depois, em suas homenagens na capa do convite
de formatura me escreve: “a minha adorada irmã...”. Mãe Cida: tudo que sou tem uma parte
de você. Quando com Juju me banho lembro-me de nós duas nos banhando. Minha melhor
amiga. Minhas 3 melhores amigas. Fazemos parte uma da outra. À mãezinha dona Valqui,
pela convivência e conversas... Pelas canções que me trouxe. Aliás, eu, ela, e minha mãe,
somos como um coro quando cantamos. Alegra-me sempre quando fazemos isso.
Aos meus queridos irmãos José, Jairo, Jackson e Pedro. Sei que o amor de vocês chega
a mim e me guarda, ainda que a distância. Ao meu querido pai (in memorian), que se faz
presente em todos os momentos em meu coração, principalmente quando tenho contato com
um de vocês.
A todos os colegas que estiveram comigo nesses caminhos uesbianos. Nesses
corredores, no Teatro Glauber Rocha, nos filmes e eventos, na biblioteca, em cada sala de
aula que passei; nos campos da vasta área da Uesb, no bosque de pinheiros, na floresta
vermelha, nos urucuns...na laje do modulo I, na quadra, no Ca de história/comunicação, no Ca
de direito, geografia etc..no pontinho de seu Zé, em dona Dalva, em seu Luiz, no DCE, no
Banquinho da Paz...todos meus irmãos. Muito, muito grata. Os de desde o inicio Fabão,
Goma, João, Day, bem como Glauber, Naira, Aladim, Big Raidem, Babá, Uelber, Gildart,
Jacques, Jeferson, Rildão, Bruno (Busslighteyer), Tenório, Dayse Maria, Morgana, Alberto
Marlon, Mário, Taís, Isis, Diu,Tinho, Dani Preta, Felipão, Felipe Magú, Leo Aleixo, Bruno e
Milton Leituga. Dani (presidenta da AFB) Dedé (Adeildson). O povo das bandas que tocavam
nas festas...agradeço pelas vezes que pude estar com vocês, dos longos diálogos , de tudo
enfim. Depois de outras grandes mentes como Lilica e Driu, Edilene, Edilando Ferraz...
Clarinha, Gabrielzão, o índio Matheus, Vinicius, mestre Engels, Victor irmão de Glauber,
Aquiles e Marquinhos, Xandó, o ruivo Cris, Gabriel Preto, Jhon, Arthur. Toda a galera que
passou por coisas da Uesb, para além sala de aula. Os que viveram a Uesb. Monique Fiducha,
Nau, o mestre Toni, Rafael Trindade, Kito, Gui, Bia, Luiza a galera da greve de 2011, do
mobiliza uesb.
Aos que conviveram comigo de outros semestres que peguei matéria junto. Tia Karine, Raul,
Jura, Dani, Luan, Rosival, Gustavo, Vaninha, Alex, Binho, Amine, Clarinha, Jessica, Analis.
Aos colegas que contribuíram com os depoimentos contidos neste trabalho; Juliano, Luciana,
Isaac, Uelber, Glauber, Rogério, Leandro (Téo), Lino, Alan, Morgana e Tenório. A este
ultimo, principalmente. Explorei bastante desse cara. De suas memórias e vivencias da
residência. A todos que pararam um tempo de seus afazeres para contribuírem. Aos vários
colegas que participaram ativamente da ocupação e que apesar de não terem expressado em
escrita, me foram úteis em diálogos e partilhas. Ou simplesmente ao sinalizarem
positivamente quanto minha escolha de estudo. Muito obrigada.
Aos minhas grandes amigas Tatiane, Neidinha, Eliana, Deusa, Patrícia, Amanda,
Carol, Clarinha, Luzimare, Claudinha, Sandra, Suely, dona Marlene, Nardi, tia Rose, Rebeca,
Veu, Bete a shotyo Gilza, enfim toda irmandade da Mahikari. Aos meninos também Marton,
Ferd, Bruno, Tinho, Zenilson, seu Wilson (2), João Felipe, Paulo Roberto, seu Dário, Fabão,
Roney.
Aos caianinhos que vêm me guiando, me fazendo aos poucos um deles. Mestre Robson, todos
conselheiros e conselheiras, aos demais irmãos. LPA. Muita gratidão.
As minhas grandes e eternas amigas de sempre: Yara, Manu, Day, Juli, Lyu, Lívalivanea,
Danielesma. Mari Melo, Martinha. À minha comadre Cabeça, Érica Daniela. Aos meus
grandes irmãos Juninho Brow, Tadeu Cajado. Aos meus grandes amigos Eduardo Falcão,
Fábio Cairo e Matheus Augusto. Meu compadre Massumi sempre comigo, pra onde for. Pela
música que banhou minha vida em muito tempo de minha graduação me trazendo leveza e
alegria. Ao professor Gilsérgio Botelho, pelos ensinos teatrais que são bem importantes para a
vida em todos os sentidos. A toda compahia Operakata. Minha eterna gratidão.
Aos meus professores acadêmicos, todos, que de uma forma amorosa ou raivosa, me
ensinaram alguma coisa. Agradeço muito ao Prof. Alexandre por mais que já tenha sentido
algo diferente de admiração, num grande período de tempo me foi considerado. Agradeço-lhe
pelos auxílios do inicio do curso professor. Perdão pelos momentos de fúria e
extrapolamentos de emoções. A luta certas vezes nos inflama o juízo. Aos professores Roque
Felipe, Iracema, Márcio, Ruddy, Gal, Binho, Cida, Belão, Grayce, Cleidinha, Rita, Humberto,
Nivaldo, Adilson (Diu), Tadas (Tadeu Botelho), Chico. Aos professores dos outros cursos
que, pelo contato e aulas públicas que tínhamos permissão de ter nos atos, reuniões etc., me
trouxeram conhecimento e convivência: prof. Reginaldo, Itamar, Susane, Ruy Medeiros,
Ferdinand, João Diógenes, Jânio Santos. E para concluir a lista docente, meu orientador Cacá.
Que tanto discuti, enrolei e perturbei. Demorei a entender seu caminho, mas com muita peleja
o compreendi. Agradeço-lhe e peço desculpas por minha insuficiência. Alegro-me com o
resultado deste trabalho. Foi o que deveria ser.
Enfim, um dia achei engraçado ler isso numa dedicatória de convite de formatura, mas
acho que cabe também dizer. Agradeço a mim mesma, por ter conseguido mais uma etapa.
Vivo! Minha vida é só agradecimento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO............................................................................................................................
O DESASSOSSEGO ANTE AS NECESSIDADES .........................................................................
OS PRIMÓRDIOS DA LUTA ESTUDANTIL NA UESB..........................................................
ESTUDANTE: O MODIFICADOR DO LUGAR QUE PERTENCE.........................................
RESISTÊNCIA - O PODER DO MAIS FRACO.........................................................................
Movimento Rompendo Amarras e a Gestão Declare Guerra -2004....................................
Movimento Resistência e Luta e a Gestão DCE em Movimento -2007..............................
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................................
ANEXOS......................................................................................................................................
Questionario para a pesquisa........................................................................................................
Entrevistas escritas........................................................................................................................
Fotos e Notas.................................................................................................................................
REFERÊNCIAS............................................................................................................................
INTRODUÇÃO
Por que estudante não é só para estudar? O que significa esse tão bradado grito vindo
de vozes roucas e ávidas por justiça pelos corredores? Num momento de crise se aglomeram
alguns jovens “sabedores” e reivindicadores por fazer-se cumprir as ânsias de um bem
comum. Porque em movimento, junto aos camaradas, companheiros, malungos, amiguinhos,
coleguinhas, irmãos, brothers, os cabeças, enfim, como se chamarem, os grupos; homens e
mulheres neste período de fervilhamento constante da vida sentem um algo diferente que foge
ao simples ideal de acumular.
Parece que este lugar o converte (o estudante) no ser humano ideal, que se pretende
capaz de enxergar o seu entorno para além do que lhe é apresentado. E no emaranhado de
utilidades e tarefas que este estudante começa a vivenciar na militância, ele passa a vislumbrar
uma realidade onde as pessoas acreditam que as leis devem ser cumpridas. Que é inadmissível
passar como que “em brancas nuvens" em um ambiente no qual o descaso é impetrado às
claras - seja por parte de quaisquer tipos de governos os quais estejam subordinados, desde o
do reitor ao dos líderes políticos municipais, estaduais, nacionais, internacionais. As pessoas
sabem e é como se nada acontecesse ou é encarado com normalidade. Afinal tornou-se lugar
comum pensar que “as pessoas roubam”, e que “se estivesse no lugar dele, desviaria dinheiro
pra seu uso também.” Esse sentimento de ganância inerente atribuído aos seres humanos daria
ao líder a permissão de ignorar as necessidades da instituição a qual gere? Por parte desses
líderes institucionais o ato de ocupar um espaço - de se despir em público, de escrever
mensagens num muro, de fazer casas de sucata em locais inapropriados – se configura crime.
Porém a quem ofende? Afinal de contas, é isso violência? Parede pode ser novamente pintada
e não são em vão os escritos sobrepostos nos muros de uma ocupação. Servem como uma
mensagem, ato realizado na perspectiva de se fazer ouvido, mesmo que depois seja visto
como pichação e seja apagado. Em algumas ocasiões são até transformados em arte
contemporânea ou patrimônio econômico/turístico/cultural (depois de classificados como
pichação pelas autoridades), como os escritos do profeta Gentileza no Rio de Janeiro:
(MONTE, 1990.)
As infrações nesse sentido partem do princípio que estão sendo investidas em defesa
de algo ou como forma de alerta. Em alguns casos, por pedidos que foram simplesmente
ignorados, cujas resoluções sempre são postergadas e cujos resultados implicam em atos mais
visíveis de forma que cheguem à opinião púbica, pressionando as autoridades às devidas
providências. Pois bem, para além de crime, a desobediência civil é um conceito que,
Para enxergá-las (as imagens e ações) devidamente, este individuo necessita possuir o
mínimo de empatia para com a realidade alheia ou sua própria. Alguns nos agrupamentos, ou
mesmo fora deles. Thoueau absteve-se de pagar seus impostos ao Governo dos EUA e por
esta razão foi preso. Passado um dia na prisão, após ter tido sua divida paga por um vizinho a
sua revelia, retornou ao convívio social indignado com a obrigatória contribuição, que no seu
entendimento, serviria de investimento na guerra contra o México, ocorrida entre os anos de
1846 e 1848. Dessa forma em seus escritos ele traz a defesa da legitimidade de tais atos de
desobediência, de forma que prevalecesse o que julgava sensato perante ele próprio e outrem.
(PAULIN,2011)
Um indivíduo - que tem sua vida norteada pela realidade onde o que é possível ser
construído para seu sustento advém de seu ingresso no ensino superior - prossegue dando
continuidade a seu calvário nessa aquisição, onde perdura uma realidade em que sua condição
de classe o impulsiona numa busca muitas vezes frustrada, no decorrer da graduação. Se
assim não vive, tem notícia de algum colega que desistiu do curso, pois não tinha como se
manter na cidade. Potenciais profissionais que num dado momento, a situação aperta tanto
que ou luta ou desiste. Então ele - ou quem se compadeça da situação - entende que a vida
deveria ser plena e boa para todas as pessoas, mesmo que essas todas sejam reduzidas ao seu
entorno. Nesse caso, a luta para a obtenção do subsidio para a manutenção e permanência
deste cidadão, de forma que este possua o direito constitucional à educação garantido.
Dessa forma, as abordagens acerca das atuações estudantis e suas formas de poder,
exercidas no decorrer da história, possuem esses instrumentos de registro. Deve ser dito que a
bibliografia sobre a atuação estudantil nacional é reduzida, visto que a realização de pesquisas
e publicações de trabalhos nesse sentido foram ignoradas, proibidas e/ou deturpadas,
principalmente durante os tempos de repressão.
(MESQUITA,2003).
Sendo célula deste órgão, o estudante entende que em conjunto o que deve
ser/acontecer precisa ser conseguido (ainda que os “donos” sempre estejam tentando restringir
as benesses para si) para o desfrute comum, grupal. Ele atua onde o seu raio de influência
possui condições de mutação, sempre buscando o melhor do/para o grupo. Esta característica
se dá até o momento em que esse indivíduo não se convirja a massa de iludidos “donos”, que
cresce a cada centésimo de segundo, a partir do momento em que ele deseja o poder. Isso o
capitalismo e suas ferramentas de continuidade são experts em fazer suscitar.
Mas àqueles que juntos para além das entorpecências confabulam, sonham e creem
nesse “alcançar algo” marcam-se historicamente, ainda que no anonimato. Este é o espírito
que configura os que tentam, os que trazem em si a visão que algo pode ser feito, que é
sufocante viver aceitando, que é deprimente o sofrer de tantos à custa do luxo e do descaso de
outros, que acreditam em um ideal que deveria ser a convivência humana. A plena satisfação
das necessidades humanas (que estão sendo possibilitadas pelo desenvolvimento tecnológico)
a todas as pessoas.
Atribuindo ao egoísmo e a fabricação, reprodução e perpetuação dele a razão pela qual
a configuração estrutural das sociedades encontra-se nessa “ordem” é que a humanidade cria,
desenvolve, distribuí e consome utensílios e suas “necessidades” vão sendo propagadas em
tudo o que pode ser visto/sentido por alguém que tem a permissão de enxergar/sentir. Ainda
que em algumas localidades o merchan não tenha lá tanto êxito; ou pelo desejo do uso das
coisas ser maior ou menor, ou se estas são úteis de fato para as pessoas daquele local e/ou
ainda, se estas pessoas possuem o poder aquisitivo para obtenção destas coisas. O impulsionar
da sociedade telecomandada pelas mídias, as tendências do mercado consumidor, padrões
esses difundidos e estimulados pela família, sociedade, escola enfim, trazem consigo essa
amarra de ter, de possuir um “bem” ou “bens”. Mesmo as “ciências” relacionadas à atualidade
reproduzem e reforçam a ideia de consumo e das “necessidades” humanas, onde essas são
infinitas.
“o objetivo da Economia é melhorar a qualidade de vida do ser
humano utilizando da melhor maneira possível os recursos, uma
vez que os recursos presentes no mundo são de características
escassa e as necessidades humanas ilimitadas ou infinitas.”
(grifo meu)
(FATEC, 2012)
Afinal, a quem serve as guerras, as corridas armamentistas, a luta por acúmulo se não
a tão importante economia de mercado? Não é possível negar que ideologias também; as
“verdades” que devem ser levadas aos que são desprovidos delas; as religiosas, as de
costumes e moral, as políticas. Estas também são motivações para a difusão de lutas, tanto em
defesa como em rechaço. E os atores estudantis se fazem presentes na história em ambos os
lados, como está expresso na revista comemorativa dos 60 anos da União Nacional dos
Estudantes do Brasil, 1997. Nesta revista obtêm-se as atuações estudantis a partir da
institucionalização unificada nacionalmente em 1937. Nessas ações estão descritas as
campanhas da entidade, “pela declaração de guerra às potências nazi-fascistas”, que fora
adotada em ocasião da 2ª Guerra pelo presidente Getúlio Vargas. A campanha O Petróleo é
Nosso, lançada posteriormente ao final da Segunda Grande Guerra, traz os diversos contextos
que a atuação estudantil transita.
“O nacionalismo e o interesse pelo país estavam em alta,
naquela época. Era logo depois da guerra e havia, também uma
preocupação com a redemocratização...tinha toda aquela euforia
da participação do Brasil na guerra e, também, a crença de que
este era um pais que iria para frente. Agora eu realmente nunca
vi, daquela época pra cá, uma campanha igual aquela.[...]muito
maior que o impeachment de Collor.”
(FREJAT, 1997.p.32)
Este exemplo sugere que a atuação institucional das movimentações estudantis,
unificando pautas de lutas nacionais ou locais, traz consigo o sublinhar que é visível nas
atuações como um todo. E o histórico de um órgão como a União Nacional dos Estudantes
faz-se necessário para perceber o quanto essas atuações coletivas funcionam, ora em conjunto
ao corpo de cidadãos (quando de interesse nacional/local) ora subjulgadas pela mesma
sociedade. As descrições existentes abordam os diversos cenários os quais as atuações
estudantis permearam. Uma vez seguindo o status quo, bem quisto. Fomentando inquietações
que influíssem no desagrado ao governo (poder), na ilegalidade. Exemplo disso foi o período
em que a entidade teve sua sede nacional incendiada e suas assembleias suspensas, nos duros
anos da dita Dura de 64 (Revista UNE, 1997).
Ainda que pulverizada em grupos ultimamente, esses conflitos vão se tornando uma
massa homogênea de reivindicações e reivindicações, em cada momento da historia, de
acordo as necessidades dos grupos. Os grupos reivindicatórios em geral possuem a
característica, ainda que romantizada, de melhoramento para um coletivo. Estes agrupamentos
conseguem vislumbrar para além de suas necessidades e desejos pessoais, onde dedicados
tempo para ver, ler, pensar, debater e saber dos direitos venha a defendê-los quando
necessário de forma que estes sejam atendidos. Há que se destacar o fato de todas as causas
referentes aos mais necessitados, (ou melhor; os que não possuem poder de decisão ou
aquisitivo para comandar e viver de forma aprazível) terem sido conquistadas e adquiridas por
meio de agitações e aglomerações; de ideias, em passeatas, em atos de ocupação, enfim:
“lutando”.
A luta se converte no movimentar desses grupos de pessoas frente aos líderes,
detentores dos poderes. Mas o que teria haver o entendimento do consumo com as
revindicações dos grupos, aqui mais especificamente do movimento estudantil? As
necessidades existem ou são criadas e para estas - as reais necessidades ou necessidades
básicas como as de moradia, alimentação - sempre são necessárias as atuações de pessoas que,
desprendendo esforços buscam a defesa de que esses direitos sejam contemplados.
É notória a condição comum para os aglomerados; a busca de algo. A aquisição de
algo, a construção de algo, a desconstrução de algo, a obtenção de algo, a reivindicação de
algo para a grupo/sociedade. Assim, o individuo inserido no mundo concreto, experimenta
uma atividade prático/utilitária que nem mesmo possui consciência do real, ou seja, ele muitas
vezes age por impulsos que são gestados no senso comum como afirma Karel Kosik, em A
dialética do Concreto (1963) onde, ao tratar do
“complexo de fenômenos que povoam o ambiente cotidiano e a
atmosfera comum da vida humana, que, com a sua regularidade,
imediatismo e evidência, penetram na consciência dos
indivíduos agentes, assumindo um aspecto independente e
natural constitui o mundo da pseudoconcreticidade”.
(KOSIK, 1963)
1 MARINHO, Marcos Silva. 2013. Graduando do 8º período do curso de Direito da Universidade Estadual do
Sudoeste da Bahia. Bolsista UESB de Iniciação Científica. o_marcus@hotmail.com
2 OLIVEIRA, Maria Alice Costa Fernandes. 2013. Graduanda do 6º período do curso de Geografia da Universidade Estadual
do Sudoeste da Bahia. Bolsista PIBID – Programa de Iniciação à docência. lilikageo@yahoo.com.br
essas políticas trazem consigo a toga da exclusão, pois, não ter condições de manter-se em
uma cidade anula a facilidade de ingresso em uma universidade pública.
A atuação dos movimentos sociais relacionados à garantia do direito a moradia é
ampla e bastante combativa. Em contrapartida, o governo brasileiro tem empenhado esforços
no sentido da habitação popular, pelos programas sociais como o Minha Casa Minha Vida,
por exemplo, mas ainda incipiente em relação à quantidade de pessoas desprovidas de
habitação própria e digna. Numa cidade como Vitória da Conquista, terceira maior do estado
da Bahia em que;
“a questão da habitação [...] não se reduz a seu valor social, pois
representa um lucrativo negócio para a economia local: a
especulação imobiliária. Há alguns anos, Vitória da Conquista
alcançou o status de cidade média e apresenta-se como um polo
de comércio e de oferecimento de serviços. Em função das
diversas instituições educacionais situadas nesta cidade,
estudantes de outras localidades migram para Vitória da
Conquista, e isto tem servido como estímulo para o crescimento
do comércio imobiliário.”
(MARINHO E OLIVEIRA, 2013).
3
CARDIM, Adriano C.C- Estudante de Graduação em Geografia/Uesb, membro do Grupo de Pesquisa
Urbanização e Produção de Cidades na Bahia/Bolsista CNPq. E-mail: adriano_cardim@yahoo.com.br
4
PRATES, Agnes - Estudante de Graduação em Direito/Uesb, membro do Grupo de Pesquisa em Diversidade
Sexual da UESB. E-mail: agnesnps@yahoo.com.br
Existem também os momentos de hiato em que a atuação estudantil esmorece. Ou seja, num
cenário de luta, o movimento estudantil estará atuante.
O universo acadêmico e suas necessidades refletem diretamente o fazer social do
individuo em um todo coletivo. E aqui, serão destacadas as reviravoltas empreendidas pelos
principais atores da ópera universitária: estudantes. E em alguma medida, professores e
funcionários. Estes atores, por conta das necessidades (que vão surgindo e as relacionadas às
estruturas físicas) fomentam debates, vivências, laços e desavenças. Tudo nas estruturas da
Uesb fora conseguido na base do grito. As articulações existem, os processos pelas vias
burocráticas são investidos, mas o resultado aparece por meio das aglomerações e resoluções
coletivas, pela pressão coletiva.
Partindo do pressuposto que toda história deve ser iniciada a partir dos germes que
desencadearam um processo, deve-se ser destacado o ano de 2003, mais precisamente no mês
de agosto, segundo semestre letivo. A ocorrência do 46º Congresso Nacional de Agronomia
em que os estudantes do CA (centro acadêmico), preocupados com a logística para o evento,
recorrem à administração da Universidade para que fosse providenciado um restaurante, visto
que a disposição geográfica da universidade na cidade é isolada, ou era naquele momento.
Ocorre que na oportunidade a administração (na figura do reitor da época, o senhor Abel
Rebouças São José) compromete-se com a construção do restaurante em tempo hábil para o
evento, porém o congresso ocorre e esta promessa não é cumprida. Deve ser dito que as
bandeiras que pautavam a implantação de um DCE desde 1994, traziam consigo as
necessidades da instituição, nelas a implantação de um restaurante e de uma política de
assistência (permanência) estudantil, logo esta não fora uma reivindicação própria do curso de
agronomia especificamente, já que existia anteriormente e englobava toda a comunidade
acadêmica. Porém como já foi dito, existe uma necessidade de trazer a tona o desenrolar dos
fatos.
A conjuntura trazia a total opacidade de atuação do movimento estudantil
institucional, haja vista a atuação do DCE composto por estudantes aparatados pelo PCdoB e
UJS, que assumiram em 2004 e que - apesar de todas as promessas de campanha - a gestão
não funcionava, aliás, era como se não existisse. No ano anterior, havia sido realizado um
Congresso onde ocorreu a reforma do estatuto do diretório, a qual versava sobre a
possibilidade da convocação de uma assembleia no caso de omissão por parte dos membros
do DCE, o que estava ocorrendo. Assim um grupo de estudantes decide convocar uma
assembleia, realizada no dia 14 de setembro de 2004 (sem muita expectativa) que servisse
para as colocações sobre as demandas de cada curso e dos acontecimentos que rondavam a
universidade. Um destes acontecimentos: a presença de uma placa no terreno somente
terraplanado que, desde 2003 (ocasião relatada acima) permanecia com o seguinte slogan:
ESTAMOS CONCLUINDO O RESTAURANTE UNIVERSITÁRIO!
“A indignação era por conta do fato da obra estar praticamente
parada, apesar da placa. Fomos direto para a Reitoria, e lá
permanecemos por 10 horas. O prédio da Administração Central
ficou completamente tomado por estudantes dos três turnos. [...]
A assembleia deliberou pela ocupação de um prédio público
como medida fundamental para pressionar a Reitoria a construir
a Residência Universitária. Sobre o Restaurante Universitário
foi dado o prazo de um mês; vencido o prazo, o Movimento iria
realizar uma feijoada-protesto no prédio da Administração
Central. Talvez eles tivessem duvidado, mas de fato, 30 dias
depois, isto é, no dia 14 de outubro de 2004, o Movimento
realizou a atividade e mais de 300 estudantes compareceram. As
obras já haviam sido retomadas e, no final do ano de 2004, sob
forte protesto, o reitor inaugurou o Restaurante, mas terceirizou
o serviço para uma empresa privada, que, obviamente, iria
administrar visando o lucro – o que, obviamente, iria repercutir
no preço da refeição e, com isso, no próprio caráter de um
Restaurante Universitário, isto é, fornecer alimentação de
qualidade e a baixo custo, ou a preço de custo, ao estudante. O
Restaurante inaugurado não era, portanto, um Bandejão. Nós
defendíamos gestão pública, e foi essa a bandeira que o
Movimento em seguida iria incorporar.” (CASTRO,2013)
A luta da segunda fase fora também, por conta da mal adaptação do que existia e que
os colegas seriam obrigados a aceitar. Dessa forma a obra fora “concertada” e colocaram
dentro desta estrutura. Uma cozinha e uma sala de convivência. Dois banheiros com lavabos,
chuveiros. E tantos são os requisitos de pobreza que o estudante necessita comprovar. Depois
disso, necessita também de um atestado de saúde da rede pública e um de antecedentes
criminais.
“Afinal de contas, a pobreza, ainda mais na Universidade, é uma
coisa difícil de se admitir publicamente; ela se manifestava
silenciosamente.. no estudante que assistia aula morrendo de
fome, muitas vezes sem café da manhã, que muitas vezes se
alimentava mal no almoço, e, em alguns casos extremos,
passava-se até fome. Quando a situação tornava-se
insustentável, a desistência era a saída encontrada.”
(CASTRO, 2013)
No passar dos anos e com a ocupação tendo tomado um corpo quase que institucional,
pois funcionava como se fosse algo comum, incorporado ao cotidiano da universidade.
Estudantes, professores, funcionários, artistas em trânsito pela cidade como Denilson Santana,
artista plástico. Encontravam naquele espaço algo que segundo Foucault funciona como uma
espécie de heterotopia, que diferente de utopia, pois
“Se refere a lugares reais, mas que estão fora dos lugares
aceitos. [...] a sociedade produz heterotopias [...] (estes espaços
são denominados) heterotopia de desvio, ou seja, aqueles
comportamentos que estão fora do que a sociedade aceita e
impõe as condutas. São nestes espaços que [...] estão contidos os
conflitos e tensões que se exercem pelas relações de poder de
uma sociedade determinada.”
(VANDRESEN,2011)
O ambiente da residência/ocupação teve momentos em que a tentativa de aproximar
aquele local ao mais próximo de uma casa, foi mantida pelos colegas, respeitando os espaços
de cada pessoa, todos procurando auxiliar na manutenção da cozinha, das panelas, dos
banheiros.
“Fui com meu filho morar na casa dos meus avós em Vitória da
Conquista para cursar a faculdade.(...) Recebíamos uma mesada
de uma outra avó que mora aqui em Salvador e vivíamos por
tanto às custas de avós. Em 2005, começaram a tratar o meu
filho mal na casa da minha avó. Por isso, apesar de achar um
ambiente inóspito para uma criança de 4 anos, fomos morar na
residência. [Por 3 meses em meados de 2005]”
(PACHECO, 2013)
A pressão por parte dos professores que apoiavam a luta começou a ser contrária à
vontade de alguns que tinham naquele ambiente numa espécie de santuário de recordações. Já
desesperançados e com toda a pressão por parte da reitoria, abalou sobremaneira o
movimento. Já não tinham pernas, ou poder de barganha.
“A notícia do processo, porém, nos deixou muito tensos.
Apostamos tudo em uma última mobilização, tentando
pressionar para uma reunião de negociação. Fechamos os
portões da UESB com pneus velhos e toras de bambu. Levamos
conosco alguns pertences, como um botijão de gás em uma
galinhota, barracas de camping, colchões, jarros de flores e
esteiras de palha. Nosso objetivo era apenas criar um clima de
acampamento, mas não tínhamos a pretensão de ficar
acampados no meio da pista. Logo se aglomeraram muitos
estudantes, provavelmente chocados com aquela cena incomum.
Quando o espaço começou a esvaziar decidimos nos deslocar até
a reitoria para pressionar uma reunião e renegociar os termos da
desocupação. Estávamos muito preocupados quanto a nossa
capacidade de pressioná-los, entretanto tivemos uma “ajuda”
inesperada. Fomos salvos por uma má avaliação do prefeito de
campus, Mauro. Quando ele nos viu aproximar da reitoria com
toda aquela parafernália, julgou mal nossas reais intenções.
Imaginando que estávamos mesmo dispostos a ocupar a reitoria,
ordenou que seus portões fossem trancados, com todos que
estavam dentro, inclusive membros da sociedade civil. Ordenou
também uma espécie de sítio, mantendo a universidade fechada
mesmo após termos abandonado nosso posto inicial no portão.
Isso tornou o acontecimento muito mais grandioso do que teria
sido sem essa catastrófica interferência.
O bloqueio da passagem para a reitoria causou uma grande
indignação daqueles que ficaram presos lá dentro, e nós
soubemos utilizar isso a nosso favor. Se no momento em que
partimos para a reitoria já estávamos no limite de nossas
energias, com o “estado de sítio” ganhamos folego e
conseguimos prolongar a mobilização até o final da tarde,
obrigando o reitor Abel a nos receber. Graças à tempestade que
eles fizeram com nosso copo d’água, toda a UESB parou para
acompanhar as negociações. Foi neste momento que garantimos
a fim da ocupação, desde que os processos fossem retirados,
além de outros pontos de nossa pauta de reivindicações ligados a
assistência estudantil.”
(LEAL, 2013)
Não é a toa que em boa parte dos relatos contidos no livro de Artur Poerner, acerca da
atuação militante estudantil, tinham nos futuros bacharéis as tochas que tocavam fogo nos
moditis urbano. A sociedade comprava escravos, os estudantes de Direito, num agrupamento,
compravam-lhes a alforria. Os libertava. Eram taxados (os estudantes) de vândalos pelos
líderes dos poderes. È de entender por que a sociedade de um modo geral, traz consigo a
defesa que o estudante precisa buscar em seus estudos seus meios de sobrevivência e que lutas
como essas são despropósitos.
As pessoas querem mudar, querem uma vida melhor, mais próspera. Não há mal
nenhum nisso. Todos possuem seu ideal de vida, uma maneira de viver. Alguns precisam de
pouco pra viver, outros acham que precisam de vários carros, casas e bens. Mas “a parte que
te cabe nesse latifúndio... é uma cova grande pra teu defunto pouco” (João Cabral de Melo
Neto). O estudo com foco único e exclusivo para a aquisição de um certificado para formação
profissional forma apenas isso: “Um profissional”. A cada dia vem sendo retirada da
universidade sua característica primordial; seu papel formador de sujeitos sociais. Quando não
se percebe a realidade, as falas são reduzidas a lamentações sem propósito. Faz-se necessário
a reflexão sobre as lutas, os conflitos existentes nos âmbito sociais, sendo o da universidade
uma realidade onde esses conflitos são mais fortemente expostos. Principalmente os cursos
das ciências exatas. Os de ciências humanas são “obrigados” a estudar os melindres humanos
a todo custo. Não que isto o torne melhor, mais empáticos com as causas coletivas. Mas ele ao
menos lê para fazer prova. Ele necessita escrever, colocar registro em pensar. Mesmo que
cada dia mais recheados de carnes de segunda/terceira categoria, os textos precisam ser
escritos, entregues e apresentados dentro da didática nas ciências humanas.
Os que entendem melhor e possuem aptidão para o serviço da busca de melhores
condições, para estar atento as manobras e descasos acometidos a universidade, patrimônio da
humanidade. Estes são os que colocam em prática para além das leituras e discussões.
Conhecimento sem práxis não executa função alguma. Casos de racismo, preconceitos de
variados tipos, relações de poder e “panelas”, os jogos sociais. Essas características
intrínsecas do ser humano, seus sentimentos velados; sobrepostas por seus valores e cargos,
são postos por terra quando na aquisição de conhecimento em conjunto. A prática e estudo
dentro do movimento estudantil forma para vida, esta é uma formação indispensável a uma
educação para vida plena.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Alexandrina - O que te levou, em que momento foi que você adentrou ao movimento?
Tenório - Acho que a pergunta fundamental não é o momento em que as pessoas
passaram a participar, e sim por que foi que fizeram a ocupação, por que foi que em
determinado momento isso virou uma bandeira de criar uma assistência estudantil na
Uesb. Desde o inicio foi para criar uma assistência estudantil na Uesb? Se não, o que
foi então que levou isso acontecer? Por que na verdade a luta pela residência surgiu da
ideia de duas pessoas, no entanto, não com intuito de se criar uma política
assistencialista aqui para estudante. A gênese da ocupação do prédio aqui atrás, do
prédio da Tv (Uesb) foi exatamente por que o curso de Agronomia tinha feito um
acordo com Abel. Abel para se eleger no primeiro mandato dele, ele fez um acordo
com o curso de agronomia, com os estudantes de agronomia de receber aqui um
evento de agronomia, não sei se estadual ou nacional, acho que era nacional de
agronomia aqui na Uesb. (46º Congresso Nacional dos Estudantes de Agronomia. A Agricultura: A via para garantir uma soberania
alimentar duradoura e sustentável para todos os povos.Agosto, 2003. UESB – Vitória da Conquista - Ba
Fonte: Currículo de Engenheiro Agrônomo )
Isso aconteceu no ano em que eu entrei aqui, no primeiro semestre de 2003. Eu entrei
no segundo semestre do ano de 2003. Esse evento ocorreu no primeiro semestre de
2003. Então o acordo de campanha era esse: o C.A (Centro Acadêmico) de Agronomia
iria trazer esse evento nacional dos estudantes de agronomia, eles apoiariam a
campanha de Abel e ele se comprometia a construir um R.U (restaurante universitário)
pra o evento e dar toda logística do evento, coisa que não aconteceu. O R.U não saiu, a
logística saiu por que os meninos ficaram em cima: “banheiro de maderite” aqui no
fundo da quadra de esporte. O pessoal do sudeste e do nordeste tomando banho gelado
por que só tinha um chuveiro quente. (...) Antes disso também, o DCE da Uesb tinha
feito a maior greve dos estudantes aqui em Vitoria da Conquista, foi num semestre
anterior. Teve a greve dos professores e depois os alunos continuaram a greve por que
o acordo feito com os professores não foi cumprido, né? Os professores chegaram e,
quando a caba a greve: bora, bora, atividade, avaliação.
Alexandrina- Quanto tempo durou?
Tenório – durou muito tempo. Parece que um mês a mais depois. Uma coisa assim.
Deve ser até visto isso pois foi um movimento interessante, que deve ser pesquisado
também. Isso aconteceu, eu ainda não tinha chegado à cidade definitivamente.
Alexandrina- Pergunto por que a derradeira greve de 2011 os estudantes também
deram continuidade a greve com a saída dos professores, mas não durou tanto apesar
da mobilização. Engraçado que é sempre o mesmo que acontece.
Tenório- Mas hoje não existe mais mobilização, hoje isso aqui virou um “coléjão”. O
movimento da residência foi o ultimo suspiro do cadáver, do defunto. Por que o
movimento estudantil morre ali com a residência. Então assim: Esses meninos de
agronomia dentro agora já num embate com a reitoria desde o evento que Abel não
tinha cumprido o que prometeu começa recrudescer as ações contra a reitoria. Nisso o
CA de Comunicação também é muito importante por que vinha batendo pesado desde
sempre, nessa época tinha Rogério batendo pesado em Abel. Foi quando eu entrei e
comecei participar das reuniões. Em cima dessas mobilizações por essas coisas
prometidas; primeiro pelo restaurante. Então os meninos de agronomia fazendo essa
campanha do restaurante. Daí, Allan Denizzard que era do CA de Agronomia mais
Lino que era do CA de Comunicação resolveram criar/fazer uma ação política para
forçar a entrega do R.U.
O R.U (restaurante universitário) pra você ter uma ideia nesse momento, só tinha
aplainado o local e a placa. Que tem o dia da placa, que a galera sai carregando a
placa, leva e coloca lá na sala, dentro do modulo do reitor. Em função disso, Lino e
Allan não falam para ninguém; só eles sabiam o quê que ia ser feito:
- Em determinado dia a gente vai convocar todos vocês, em determinado horário, pra
a gente fazer determinada coisa. Vocês não podem saber. Pra não dar merda.
Por que a gente sabia que tinham os “orelhas secas” da reitoria no meio do movimento.
Por que Abel era uma pessoa covarde, então ele tinha essa prática de espionagem, essa
coisa feia de espionar. Até durante a época da ocupação mesmo, o pessoal do curso de
comunicação, os câmeras, eram funcionários da Uesb, eles eram prestadores de serviço
da Uesb. Eram obrigados a filmar. Se você cavoucar dentro dessa Uesb
institucionalmente, tem vários vídeos feitos a mando de Abel da gente, do pessoal que
fazia parte do movimento.
Alexandrina – Dedé (Adeildison Ferreira) tem um vídeo também, tá tudo em VHS.
Tenório – Fui até eu quem deu uma dessas fitas. No dia da entrega do Ru. Foi até um
dia que a policia tentou prender uns meninos aqui e etc. e tal. Mas a gente vai chegar
lá.
(...) Ai o que aconteceu?
A ação era exatamente isso: ocupar um prédio público pra forçar a entrega do R.U. Foi
assim que se ocupa o que hoje é o prédio da TV Uesb. No dia da ocupação eu não
estava aqui. Nessa semana que aconteceu a ocupação eu fui pra São Paulo, na USP,
num seminário internacional. Mas eu estava de São Paulo ligando pra os caras daqui
pra saber o que estava acontecendo. Eu fique sabendo que iria acontecer a ocupação.
Eles me disseram que iriam ocupar. Eu também não sabia o que era. Ai o pessoal me
disse qual era ação. A ação era ocupar. Ocuparam de noite, 9/10 horas da noite.
Trouxeram esse pessoal todo pra cá de mochila, de barraca e tudo. O prédio estava
inacabado, sem porta, sem nada.
Leandro Aquino – Historiador e professor.
Campanha do CA de comunicação
Fundos da residência/ocupação
Churrasco coletivo
Lavando pratos no banheiro. Fabiano Borges “Pinicão”.
Reuniões
Reuniões
Porta da Esperança
O diário coletivo
Arte na parede
1
2
3
4
1
2
3
4
1
2
Estudantes da Uesb ocupam prédio público e exigem Residência Universitária
Embate
Na ocupação havia duas entradas, ambas permaneciam constantemente fechadas, uma com corrente e
cadeado e outra com uma enorme placa metálica.
Em 19 de abril de 2005 realizou-se na Uesb o 1º Encontro de Estudos/Formaçã o Continuada do PEI
(Programa de Enriquecimento Instrumental) . Parte da programação seria nas salas de
videoconferência, no então prédio ocupado. Houve tentativas de
negociações, mas o movimento decidiu, em assembléia, que não facultariam o acesso ao prédio.
Assim, na manhã do dia 19, funcionários da segurança tentaram serrar a corrente que lacrava a entrada
principal. Só havia cinco pessoas no Módulo, Adeildson operava uma filmadora portátil, enquanto
Morgana Gomes, estudante de Comunicação, e Kelly Prado, estudante de História, tentavam dissuadir,
com palavras de ordem, os seguranças. As duas colocaram os braços sobre a corrente, desafiando os
agentes. Fabiano Borges,estudante de História, após saltar a janela, saiu em disparada gritando que
estavam tentando retomar o Módulo ocupado. A reação foi imediata, e a cena desenvolvida é digna de
ser mencionada nos anais do Movimento Estudantil: alunos deixando as salas de aula, correndo e
formando uma multidão em frente à entrada do prédio ocupado. Os
seguranças desistiram e se retiraram. As imagens captadas dos funcionários indo embora, sob vaias,
ilustram o poder que as pessoas têm quando unidas em torno de uma causa comum.
Hoje
Em uma reunião realizada no dia 7 de outubro de 2005, um acordo foi firmado entre a Reitoria e a
direção do movimento. Toda a tensão inicial foi extinta. A Uesb retirou a ação judicial, abrindo
mão da decisão favorável, e se comprometeu em iniciar as obras da Residência Universitária.A
construção foi iniciada em janeiro de 2006, com prazo para término de 90 dias. Atualmente as obras
estão paralisadas. Carlos, assessor da Reitoria, diz "ter uma intuição que, talvez ainda este ano, a obra
possa ser concluída, senão no ano que vem". Dentre os envolvidos nesses dias agitados alguns se
formaram e muitos ainda se encontram na Uesb, acalmados pelos tempos de paz ou suprimidos pela
vida cada vez mais atarefada. Destes, apenas três ainda moram no prédio ocupado: Dayse Maria
Souza, Fabiano Borges e Josemário Cavalcante. Atualmente vivem, em média, 10 moradores. O fluxo
de alunos é grande, uns ficam alguns dias e outros, ex-moradores e amigos, freqüentam diariamente a
casa. O movimento estudantil é dinâmico. Fez ou faz parte da vida de muitos que tiveram a
oportunidade de respirar os ares da academia.No entanto, os quadros precisam sempre ser renovados.
Eis uma, senão a principal, causa das cíclicas hibernações pelas quais passa a política nas
universidades. Como afirma Morgana Gomes "o resgate histórico é uma coisa a ser pensada no
movimento estudantil, o DCE (Diretório Central dos Estudantes) deveria ter um arquivo com fotos e
imagens. Tudo isso poderia compor um acervo que valeria a pena porque, daqui a pouco tempo,
muitos que hoje aqui se encontram nãoestarão mais".
Por Alberto Marlon, Péricles Pereira e Fábio Botelho
Depois que a prefeitura de campos ordena o cortar da escada de acesso ao telhado de modulo I
Resistindo até o ultimo suspiro
Area externa
Cozinha
Sala de estudos
Sala de estudos
Quarto feminino
Quarto feminino
Quarto masculino
Guarita
Sala de convivência
Área externa lavanderia. (Finalmente a casa é entregue)
Entrevistas:
Sites:
http://www.residencia.ufba.br/r1/
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=1275
http://www.ebah.com.br/content/ABAAAAmdcAE/apostila-economia
http://ujcrj.blogspot.com.br/2013/05/nota-da-uniao-da-juventude-comunista.html
http://www.nucleodenoticias.com.br/2008/08/30/carta-aberta-dos-ocupantes-da-residencia-
universitaria-da-uesb/
http://www.pstu.org.br/node/10261
http://www.pstu.org.br/juventude_materia.asp?id=2538&ida=0
http://www.anpocs.org.br/portal/publicacoes/rbcs_00_26/rbcs26_03.htm
http://www.nucleodenoticias.com.br/2008/09/05/estudantes-tentam-ocupar-reitoria-da-uesb/
http://nacildadecampos.blogspot.com.br/2008/04/interpretao-da-msica-de-chico-buarque.html
VÍDEOS:
http://www.youtube.com/watch?v=ZaAvPswXlRs
MRA – Movimento Rompendo Amarras - 2004/2005 (Parte 1/3)
http://www.youtube.com/watch?v=IF1YRv1ODNU
MRA – Movimento Rompendo Amarras - 2004/2005 (Parte 2/3)
http://www.youtube.com/watch?v=hS80BvEQL3U
MRA – Movimento Rompendo Amarras - 2004/2005 (Parte 3/3)
http://www.youtube.com/watch?v=M58k0HyUTLQ
Ocupa e Vem pra LUTA! - UESB - Residência Universitária - 2008