Os que 1.

Como nos organizamos por

histórias
vivem à Recortes de Ana de Castro Leão

margem da Entendemos que a nossa espécie animal

evoluiu para cooperar. E num momento da
nossa evolução, o Homo Erectus percebeu

sociedade: que podia fazer barulhos com a boca e

combinar com seus amigos o que aqueles

Quais são as causas barulhos significariam, e isso facilitou a

cooperação.

da marginalização? Em outro momento da nossa evolução, o

Homo Erectus se transmogrificou em Homo
Sapiens. "Eventualmente, o Homo sapiens
emergiu como uma espécie pronta para a
linguagem. Nossos cérebros e fisiologias
prontos para a linguagem (que ainda são tão
variáveis ​quanto os de nossos ancestrais)
foram forçados a existir pela linguagem, e
não o contrário" (Daniel Dor).

A nossa espécie animal, o Homo Sapiens, é

o único macaco da família dos grandes
Alunas: Ana de Castro, Davi Leão e Petra primatas que sofisticou essa técnica da
Guerreiro de Souza linguagem - uma técnica que nos permite
instruir a imaginação do outro, para o outro
Ensino Fundamental I: 5ª, 6ª, 7ª Grade
poder "ver" o que estamos "vendo" - ao
Escola Clonlara - https://clonlara.org/ ponto de conseguir conviver em ordens
imaginadas.
Trabalho escolar sobre a marginalização
feito a partir de um corte colagem de
recortes, organizando todas as informações
que pesquisamos, com a ajuda dos nossos
pais, e nos ajudaram a entender mais sobre
o processo de marginalização em nossa
sociedade.
E o que são ordens imaginadas? A
linguagem - usando de símbolos, isto é,
combinando que determinados barulhos
com a boca representariam algo - foi se
sofisticando a tal ponto que a nossa espécie
começou a inventar "mentirinhas"
coletivamente; por exemplo: dinheiro
(combinando que um pedaço de papel que
não vale nada teria valor), países
(combinando mentirinhas de que existem
brasileiros, americanos, como forma de
organizar o nosso coletivo de animais
Sapiens), religiões (combinando que existem
forças superiores que ordenam Essas histórias:
determinadas condutas e comportamentos),
entre outras “mentirinhas”. E combinamos de (a) definem a sua subjetividade, que é uma
todos nós acreditarmos nessas construção cultural da interioridade, tipo um
"mentirinhas". Isso que nós estamos faz de conta que o animal primata homo
chamando de mentirinhas também pode ser sapiens é especial, e cada um deles possui
chamado de: histórias, ficções, mitos, uma alma, um euzinho interior, e essa
ideologias, narrativas, religiões, ou como essência de eu" continua a viver depois da
define o historiador Yuval Noah Harari, morte do saco de pele, da casca protetora
ordem imaginada. E essas histórias também dessa essência que é o corpo;
nos definem.
(b) definem a sua identidade, por exemplo,
as historinhas que nos contamos do que
significa ser negra, branca, vermelha ou
1.1. Nossas historinhas nos amarela; ser mulher, homem, ou trans; ser
definem rica, classe média, ou pobre; ser brasileira,
chinesa, australiana,angolana, ou inglesa;
Aprendemos em nossas pesquisas que a
sociedade é como uma rede. Cada ponto da
(c) definem os seus papéis, se você é
rede é uma pessoa que ocupa um lugar na
professor/aluno, mãe/filho; médico/paciente,
sociedade, e esse lugar é construído por
empregador/empregado;
historinhas (criadas coletivamente por
grupos/sociedade de pessoas) e
compartilhadas por todos que participam d) e definem os seus suportes, as redes,
desse grupo/sociedade, passando de formais e informais, que te constituem, e que
geração para geração. funcionam como suportes da sua ação, já
que expressam as suas capacidades sociais,
exemplos seriam o trabalho, a religião, a
cidadania.
Assim, “uma experiência é sempre contida e
organizada por instituições, exemplos disso
seriam: um doente em um hospital; um
adolescente indisciplinado em uma escola;
uma mulher cozinhando para sua família
etc.; e as experiências têm formas,
intensidades, texturas, que emanam do
modo como as instituições estruturam a vida
emocional” (Eva Illouz).
Para os sociólogos, isso se dá assim porque
as regras permitem aos atores se
relacionarem uns com os outros, criarem
expectativas uns sobre os outros e trilharem
caminhos conhecidos uns com os outros.
Em outras palavras, os “rituais” organizados
pelas instituições são uma poderosa
ferramenta simbólica para afastar as
ansiedades criadas pela incerteza.
1.2. A questão da hierarquização
Nós entendemos que à medida que a
população da nossa espécie animal cresceu,
observamos uma organização em
hierarquia, primeiro através da instituição de
clãs pertencentes a uma tribo, depois na
forma de Estados (estados-impérios e
estados-nações). O Estado (ou país) é uma
ficção, isto é, uma ordem imaginada. Somos
animais primatas linguageiros e isso significa
que nós usamos de ficções ("historinhas")
para nos orientarmos pelo mundo. Como
nos explica o historiador Yuval N. Harari:
“Os humanos evoluíram por milhões de anos
em pequenos bandos de algumas dezenas
de indivíduos. O punhado de milênios
separando a Revolução Agrícola do
surgimento de cidades, reinos e impérios
não foi tempo suficiente para possibilitar o
desenvolvimento de um instinto de
cooperação em massa. Apesar da ausência
de tais instintos biológicos, durante a era
dos caçadores-coletores centenas de
estranhos foram capazes de cooperar
graças às suas ficções (mitos/ideologias/
narrativas/ historinhas/ religiões) partilhadas
[...] Cooperação soa muito altruísta, mas nem
sempre é voluntária e raramente é
igualitária. A maior parte das redes de
cooperação humana foi concebida para a
opressão e a exploração [...] (E) todas as
redes de cooperação - das cidades da
antiga Mesopotâmia aos impérios Qin e
Romano - foram "ordens imaginadas". As
normas sociais que as sustentavam não se
baseavam em instintos arraigados nem em
relações pessoais, e sim na crença em
ficções partilhadas [...] As ficções habituaram
os primatas, praticamente desde o momento
do nascimento, a pensar de determinadas
maneiras, a se comportar de acordo com
certos padrões, a desejar certas coisas e a
seguir certas regras. Dessa forma, criaram
instintos artificiais que permitiram que
milhões de estranhos cooperassem de
maneira efetiva" (Yuval Noah Harari).
Nós entendemos que os primeiros Estados
surgiram na forma de impérios por volta de 4
mil da época Holoceno, na Ásia e na África,
como a forma que os primatas Homo
Sapiens encontraram para muitos de nós
coabitarmos um espaço. Com uma
hierarquização em larga escala veio uma
redução nos ataques e rixas crônicas que
caracterizavam a vida anterior e uma
diminuição drástica na violência, e isso se
deu graças à ficção do Estado-Nação, que
permitiu o monopólio da violência na mão
do Estado e a tributação. Vários pensadores
nos apontam isso, como: Norbert Elias,
Steven Pinker, Jared Diamond, Yuval Noah
Harari, entre outros.
O estado-nação é a forma como um coletivo,
uma nação, se organiza politicamente; é
como um grande combinado que regula a
convivência dos habitantes de um território,
de um país. O estado-nação possui o
monopólio da violência, e entendemos que
isso significa que as pessoas não podem
fazer justiça com as próprias mãos, o Estado
faz a justiça. Isso nos garante uma paz como
nunca houve antes em nossa história. “O
estado-nação também cuida da tributação, e
com os impostos tornam-se possíveis
políticas de afirmação étnica, racial, ou de
promoção cultural; políticas igualitárias,
tendo, como beneficiária, uma população
cujos rendimentos ou ativos são
extremamente baixos; políticas de
valorização regional ou promoção
econômica da nação; políticas de
desincentivo comportamental, que buscam
aumentar os impostos sobre determinados
bens ou serviços socialmente prejudiciais de
modo a incentivar a redução do seu
consumo por parte da população.
Os recursos providos pela tributação têm
sido usados por estados e suas funções
equivalentes ao longo da história para
realizar os seus vários feitos. Alguns destes
incluem a aplicação das leis, a manutenção
da ordem pública, proteção da propriedade,
construção e manutenção de infraestruturas
(manutenção de estradas, hospitais, escolas,
universidades, centros culturais, asilos,
orfanatos etc), obras públicas, transferências
sociais, e o funcionamento do próprio
governo. Os governos também usam os
impostos para financiar serviços sociais e
públicos. Estes serviços podem incluir
sistemas de ensino, os sistemas de cuidados
de saúde, pensões para os idosos,
seguro-desemprego e transporte público.
Água, energia e sistemas de gestão de
resíduos também são serviços públicos
comuns. Os estados também usam os
impostos para forçar os produtores e
empresários que relutam em modernizar sua
estrutura de investimento” (Wikipedia).
Isso tudo requer uma hierarquia para essa
organização funcionar. “As hierarquias têm
uma função importante. Elas permitem que
estranhos saibam como tratar uns aos
outros sem desperdiçar o tempo e a energia
necessários para se tornarem pessoalmente
familiarizados. Em Pigmaleão, de Bernard
Shaw, Henry Higgins não precisa se tornar
íntimo de Eliza Doolittle para entender como
deve se relacionar com ela. Só de ouvi-la
falar, ele deduz que se trata de um membro
de classe baixa com quem pode fazer o que
quiser – por exemplo, usá-la como títere em
sua aposta de fazer uma vendedora de
flores ambulante se passar por duquesa.
Uma Eliza dos tempos modernos
trabalhando em uma floricultura precisa
saber quanto esforço dedicar à venda de
rosas e gladíolos para as pessoas que
entram na loja todos os dias. Não pode fazer
uma indagação detalhada dos gostos e
bolsos de cada indivíduo. Em vez disso, usa
algumas pistas – o modo como a pessoa
está vestida, sua idade e, se não for
politicamente correta, a cor da pele. É assim
que ela imediatamente faz a distinção entre
o sócio da firma de contabilidade que tem
grande probabilidade de comprar um buquê
de rosas caro e o mensageiro que só tem
um dólar para gastar num punhado de
margaridas. Obviamente, as diferenças nas
habilidades naturais também desempenham
seu papel na formação de distinções sociais,
mas tais diversidades de aptidão e caráter
costumam ser mediadas por hierarquias
imaginadas. Isso acontece de duas formas
importantes. A primeira e a principal delas é
que a maioria das habilidades precisa ser
cultivada e desenvolvida. Mesmo que
alguém nasça com um talento em particular,
esse talento normalmente permanecerá
latente se não for estimulado, lapidado e
exercitado. Nem todas as pessoas têm a
mesma chance de nutrir e aperfeiçoar suas
habilidades. Ter ou não essa oportunidade
costuma depender de sua posição na
hierarquia imaginada pela sociedade em
que estão inseridas. Harry Potter é um bom
exemplo. Tirado de sua família notável de
bruxos e criado por trouxas ignorantes, ele
chega a Hogwarts sem nenhuma
experiência em magia. São necessários sete
livros até que ele aprenda a dominar
plenamente seus poderes e conheça suas
habilidades excepcionais. A segunda é que,
mesmo que pessoas pertencentes a classes
diferentes desenvolvam exatamente as
mesmas habilidades, é improvável que
tenham o mesmo sucesso, porque terão que
jogar segundo regras diferentes. Se, na Índia
governada pela Inglaterra, um intocável, um
brâmane, um irlandês católico e um inglês
protestante tivessem, de alguma forma,
desenvolvido exatamente o mesmo tino
para os negócios, ainda assim não teriam as
mesmas chances de enriquecer. O jogo
econômico era manipulado por restrições
jurídicas e barreiras invisíveis não oficiais”
(Yuval Noah Harari).
Então, resumindo, entendemos que nós
somos animais eussociais, portanto a
hierarquia é inerente a nossa organização, e,
entendemos a importância da hierarquia em
nossa organização. Mas, é fato que essa
hierarquia organizada pela posse de bens
materiais é uma ordem imaginada que além
de exterminar o meio ambiente - em que
nascemos, prosperamos e sem o qual a
nossa espécie animal perecerá -, gera
também uma violência direta e estrutural
bárbara. Entendemos que a carência por
conformidade, concordância, aprovação,
validação, apreciação do outro, em nossa
espécie animal, é muito forte, faz parte
inclusive da formação de quem somos, de
como nos vemos, e de como vemos o
mundo, e, por essa razão mesmo, diante de
tantos malefícios - de uma hierarquia
organizada pela posse de bens e um
sistema jurídico falho - uma pletora de
movimentos se opuseram e estão se
opondo significativamente ao paradigma do
movimento social convencional.
1.3. A questão da comodificação
Eugênio Pashukanis foi um jurista e
acreditava que “o modo de produção
capitalista funciona necessariamente por
meio da forma jurídica, mediada pelo Estado
(núcleo de poder público e impessoal), e
não sob outra forma qualquer (por exemplo,
coerção física imposta diretamente por uma
classe sobre a outra, existente na sociedade
escravagista)”. Ou seja, o Estado e o Direito
não são meros instrumentos da classe
dominante. E por isso, se o proletariado
tomar o poder, tanto o Direito, quanto o
Estado, não vão necessariamente refletir os
interesses da classe trabalhadora.
Pashukanis apontou que sem uma alteração
substancial no campo das relações
econômicas e de organização do trabalho,
não há possibilidade de se alcançar uma
organização social democrática.
Pashukanis explica o seguinte: a estrutura
de poder é algo secundário e derivado,
imposto externamente aos donos das
mercadorias existentes. A 'igualdade' no
mercado de fato cria uma forma específica
de poder: o Estado. E o Estado de paz de
fato tornou-se uma necessidade quando a
troca se tornou um fenômeno regular. Ou
seja, entendemos que sem a igualdade e a
paz (com o monopólio da violência) o
mercado e o Estado morrem. Então, por que
essa desigualdade toda se isso ameaça ruir
tudo? Porque o capitalismo monopolista cria
as pré-condições para um sistema
econômico no qual o ímpeto da produção e
reprodução social é efetuado, não por meio
de transações individuais entre unidades
econômicas autônomas, mas com a ajuda
de uma organização centralizada e
planejada. Esta organização é criada por
trusts e outras associações monopolísticas.
Portanto, entendemos que não foi a
comodificação a causadora dessa situação.
A comodificação (ou mercantilização) foi e
continua sendo extremamente útil para a
humanidade, uma vez que permite
transações convenientes entre uma vasta
gama de mercadorias. Como alerta Ayn
Rand: enquanto os homens viverem juntos
na terra, e precisarem de um meio de troca
para lidar uns com os outros, sem o dinheiro,
é com uma arma que vão se resolver. Além
do que, o dinheiro não é fungível como se
prega nas teorias dos mundos-hostis. A
socióloga Viviana Zelizer demonstra isso
claramente em suas obras. Contradizendo
as visões dos mundos-hostis, das famílias,
por exemplo, como domínios exclusivos de
sentimento e solidariedade em que qualquer
intrusão de cálculo econômico ameaça a
intimidade, os membros da família
rotineiramente compartilham da produção,
consumo, distribuição e transferência de
ativos. A convivência necessariamente
produz problemas econômicos,
oportunidades, direitos e obrigações
compartilhados para todos os que
participam. Tribunais rotineiramente
reduzem as particularidades das situações a
um valor monetário, tudo tem um preço sob
a lei. Todos bens e serviços valiosos se
tornam mercadorias alienáveis. Entende-se a
liberdade principalmente como a liberdade
de trocar esses bens.
Portanto, entendemos que não é o dinheiro
ou a comodificação os causadores dos
grandes problemas que vivemos em nossa
atual sociedade. Nós imputamos a causa ao
sistema jurídico (de criação do direito e sua
aplicação na sociedade). O conceito
sintetizador “commodity” reflete uma
relação social objetiva. A partir do momento
que tudo vira uma commodity nasce uma
regulamentação legal para gerir o conflito
de interesses privados e garantir a
circulação das commodities. Como explica
Pashukanis: “Na medida em que a riqueza
da sociedade capitalista aparece como 'uma
imensa coleção de commodities’, esta
mesma sociedade aparece como uma
cadeia interminável de relações jurídicas”.
Assim, a relação econômica de troca deve
existir primeiramente para a relação jurídica
dos contratos de compra e venda surgir. O
poder político pode, com a ajuda de leis,
regular, alterar, condicionar e concretizar a
forma e o conteúdo desta transação da
maneira mais diversa. Mas é a lei que
determina em grande detalhe o que pode
ser comprado e vendido, como, sob quais
condições, e por quem. O único fim do
sistema jurídico é a circulação de
commodities.
Entendemos que essa circulação de
commodities organizada pela ideologia do
capitalismo (intensificado no neoliberalismo)
é que todo mundo deve ser livre e deve
respeitar a liberdade dos outros. Todos
possuem seu próprio corpo como uma
ferramenta livre de sua vontade'. Mas essa
não é a realidade, a realidade é outra bem
diferente desse ideal de liberdade para
todos, e, com isso, a desigualdade que
antes existia, permanece. A medida da
liberdade de algumas pessoas depende
exclusivamente da medida de sua
dominação sobre outras pessoas. “A norma
está determinada não pela possibilidade de
coexistência, mas pela dominação de uns
sobre outros. As associações industriais com
seus fundos de luta, suas listas negras, seus
bloqueios e seus regimentos de fura-greves
são, sem dúvida, órgãos de poder que
convivem com o poder público, isto é, com o
poder estatal. Assim, é possível que as
relações de dominação e subserviência
existam também no modo de produção
capitalista, sem se desviar da forma concreta
em que essas relações figuram: como o
domínio dos produtores pelas condições de
produção” (Pashukanis). No entanto,
precisamente o fato de que eles aparecem
em forma velada aqui - e não como
aparecem na escravidão e na servidão - isso
os torna um verdadeiro desafio para o
jurista. A autoridade do capitalista não é
política, mas provém de sua propriedade de
um fator de produção. O capitalismo
monopolista cria as pré-condições para um
sistema econômico inteiramente diferente,
no qual o ímpeto da produção e reprodução
social é efetuado, não por meio de
transações individuais entre unidades
econômicas autônomas, mas com a ajuda
de uma organização centralizada e
planejada. Esta organização é criada por
trusts e outras associações monopolísticas
como as grandes corporações.
“[...] Assim como atos fortuitos de troca e
formas primitivas, como a troca de presentes
precederam as transações de troca da
produção de commodities, também o
indivíduo armado (ou, mais frequentemente,
grupo de pessoas, um grupo familiar, um clã,
uma tribo, capaz de defender suas
condições de existência na luta armada) é o
precursor morfológico do sujeito jurídico
com sua esfera de poder jurídico (uma
criação artificial do intelecto humano)
estendendo-se ao seu redor. Esse vínculo
morfológico estreito estabelece uma
conexão clara entre o tribunal e o duelo,
entre as partes em um processo e os
combatentes em um conflito armado [...]”.
Ora, assim como no duelo vence o melhor
preparado, também no tribunal é assim.
Ainda se adiciona a esse quadro o fato de
que, como explica Pashukanis: o grande
capitalista destrói o pequeno capitalista “de
boa fé”, sem com isso violar o valor absoluto
de sua personalidade de forma alguma. A
personalidade do proletário é "igual em
princípio" à do capitalista; esta circunstância
se expressa no fato do contrato de trabalho
"livre''. Mas tudo o que resulta dessa
"liberdade materializada" para os proletários
é a liberdade de morrer de fome - sem
qualquer interferência. Essa ambigüidade da
forma ética não é fortuita; nem é um defeito
externo condicionado pelas deficiências
específicas do capitalismo. Pelo contrário, é
um traço característico da forma ética como
tal.
Um exemplo recente verídico são os trusts
das indústrias farmacêuticas, para citar
apenas alguns: (1) “Drug Goes From $13.50 a
Tablet to $750, Overnight”. O medicamento,
chamado Daraprim, foi adquirido em agosto
pela Turing Pharmaceuticals, uma start-up
administrada por um ex-administrador de
fundos de hedge. Turing imediatamente
aumentou o preço de US $ 13,50 para US $
750 por comprimido, elevando o custo anual
do tratamento para alguns pacientes a
centenas de milhares de dólares
(http://bitly.ws/gwZR). (2) “Regulator links
Sanofi epilepsy drug to child deformities”.
Até 4.100 crianças na França sofreram
grandes malformações no útero depois que
suas mães fizeram um tratamento contra
epilepsia e distúrbios bipolares com
valproato entre 1967 e 2016, disse o
regulador de medicamentos da França. (3)
“Why do doctors choose a $2,000 cure
when a $50 one is just as good?”
(http://bitly.ws/gx2X). “Gilead sued over
'exorbitant' hepatitis C drug prices”. Sovaldi,
um tratamento altamente eficaz para a
hepatite C, custa US $ 1.000 por comprimido
nos Estados Unidos, ou US $ 84.000 para
um curso típico de 12 semanas
(http://bitly.ws/gxHE). E essa lista poderia
completar páginas e páginas, basta
pesquisar na Internet, não faltam escândalos
envolvendo trusts (um grupo de empresas
comerciais combinadas para monopolizar e
controlar o mercado de qualquer
mercadoria) dessas grandes corporações
farmacêuticas.
Ainda outro exemplo são os trusts da
indústria de celulose. Organizações sociais,
trabalhadores rurais e pequenos produtores
rurais estão se mobilizando para deter a
expansão do deserto verde sem sucesso.
Os oligopólios poderosos da indústria de
celulose têm obtido financiamento do
próprio Estado, com o Banco de
Desenvolvimento Econômico e Social
(BNDES), e o estrago ambiental que estão
causando é irreversível. O plantio em áreas
que antes eram ocupadas pela atividade de
trabalhadores do campo, inibe a
manutenção dos costumes típicos do local,
causa a contaminação pelo uso dos
agrotóxicos nos lençóis freáticos, nascentes
e animais; 90% da extensão original da Mata
Atlântica foi destruída. Mas esses trusts
mudam as leis do nosso país para os
favorecerem.
1.4. O neoliberalismo
Somado a essa injustiça, aprendemos que
de uns anos pra cá, a nossa espécie animal
tem vivido, além da ordem imaginada do
Estado-Nação, a mitologia do neoliberalismo
(que é um capitalismo piorado) como forma
de conduzir o Estado e seus indivíduos:
“O neoliberalismo, além de definir um
conjunto de políticas econômicas (Hall e
Lamont, 2013) ou uma época histórica (Ruíz
Encina, 2019), em sua mais ambiciosa
projeção ideológica está associado a um
novo tipo de sujeito. Freqüentemente,
argumenta-se que esse é o cerne da
ideologia neoliberal: uma generalização do
princípio da competição em todos os níveis
da vida social. A ideologia neoliberal insta os
indivíduos a se responsabilizarem por seu
destino, a se conceberem principalmente
como empresários que devem administrar,
divertir e acumular diferentes formas de
capital (estudos, relacionamentos,
poupança, riqueza). O antigo individualismo
possessivo, típico do liberalismo emergente
do século XVII (Macpherson, 1962), foi
reinventado na nova figura do individualismo
competitivo.
Sem dúvida, foi sob a proteção de
coordenadas ideológicas desse tipo que
uma verdadeira guerra moral foi lançada em
muitos países contra a ajuda aos pobres, e
uma redução dos programas sociais
universais foi proposta em favor de políticas
focais reservadas apenas para os pobres
que realmente mereciam. Formas de
solidariedade coletiva baseadas em direitos
sociais universais deram lugar a uma gestão
de risco mais individualizada, onde cada
ator, altamente responsável por seu destino
(Martuccelli, 2001 e 2007), tem que garantir
seu futuro para si (o que estimula o
desenvolvimento de sistemas de saúde
privada, fundos de pensões, mas também a
expansão dos serviços privados na
educação ou segurança). No cerne da
ideologia neoliberal está, portanto, o
redesenho das fronteiras entre
responsabilidade individual e solidariedade
coletiva. Assim, a ideia de novos indivíduos
que deveriam se comportar em primeiro
lugar como proprietários de várias formas de
capital que teriam de manter e enriquecer
(estudos, poupança, compra de bens, várias
capitalizações, redes) para ter sucesso na
sua vida social e em sua competência
generalizada” (Danillo Martuccelli).
Só que o neoliberalismo, com sua cartilha do
egoísmo, já se mostrou ineficiente para
dirigir um coletivo de Sapiens que evoluiu
para cooperar e empatizar. A bíblia do
egocentrismo do neoliberalismo prega uma
ilusão pois a realidade é que funcionamos
como animais eussociais, e por conta disso
esse sistema de crenças tem gerado graves
consequências em nossas sociedades.
Além disso: “cada indivíduo, em todas as
sociedades históricas, existiu graças aos
suportes. Mas em sociedades que se
modernizaram e experimentaram um
aumento nos fenômenos de isolamento,
solidão e desinserção da tradição, o
problema de como suportar individualmente
a existência torna-se um desafio maior e até
central, para muitos de nós [...] Pense que
até algumas décadas atrás (e isso ainda é
verdade em muitas camadas sociais), os
indivíduos tinham menos momentos de
solidão do que hoje. Poucos tinham um
quarto só para si; geralmente viviam em um
espaço comum; e a solidão era uma
experiência rara ou inexistente. Hoje, ao
contrário, em cidades como Nova York ou
Paris, mais da metade das pessoas mora
sozinha. O desafio de como suportar a
existência torna-se mais agudo (e o abuso
do smartphone é fundamental nesse
contexto) [...] Esses suportes dão origem a
cifras díspares. Vou apenas dar a você
algumas delas. Começo com a experiência
de maior ‘sucesso’. Existem pessoas nas
nossas sociedades que por razões de
privilégio (sociais, culturais ...) possuem
"apoios|suportes invisíveis". Ou seja, elas
gozam de suportes socialmente tão
legítimos que acabam sendo invisíveis,
graças aos quais acabam tendo a sensação
de serem efetivamente autossustentáveis
​por dentro. Um sentimento constantemente
validado socialmente reforça uma autoilusão
(e isso ainda mais porque é individual e
coletivo).
Quase se poderia dizer que essa ilusão é
uma necessidade funcional nas sociedades
que construíram a imagem idealizada do
Indivíduo soberano que se sustenta de
dentro: para acreditar nela é preciso
postular a existência do grande homem
capaz de encarnar essa ficção (e digo
homem, porque são homens, o grande
homem que tem e transmite sobretudo esta
representação de si). Este é o (suposto)
mundo dos grandes políticos, dos grandes
dirigentes de empresas, entre os quais o
vício do trabalho nunca se apresenta como
uma forma de dependência, mas como um
mecanismo de grandeza pessoal” (Danillo
Martuccelli.
1.5. As consequências do
neoliberalismo
A Marginalização é um conceito da
sociologia que está relacionado com a
exclusão, seja social, política, ou econômica.
As minorias são marginalizadas por conta
de aspectos econômicos, sociais, religiosos,
raciais, sexuais etc. Sendo assim, os
indivíduos marginalizados, ou seja, os que
sofrem o processo de marginalização, são
chamados popularmente de “marginais”,
“vadios” ou “indigentes”.
Acreditamos que a marginalização de
indivíduos como o Ramirez se dê por conta
de aspectos econômicos. De acordo com a
teoria da tensão de Robert K. Merton, os
indivíduos em sociedades capitalistas
compartilham essencialmente os mesmos
objetivos culturais, a saber: acumulação de
riquezas, bens, status. Essas metas são
incentivadas e reforçadas pelas principais
instituições sociais, como: escolas, mídia e
empresas. Por sua vez, são definidos os
meios culturalmente preferidos e
encorajados para atingir esses objetivos que
seriam a formação acadêmica, trabalho
árduo, economia e sacrifício pessoal. Estes
se tornam atributos ou práticas valorizados
culturalmente. Mas, as pessoas têm meios
diferenciados disponíveis para alcançar
essas metas. Alguns não têm oportunidades
de estudo por sua condição financeira, a
outros é negado um trabalho por causa de
sua etnia, ou cor, ou religião, ou por
discriminação de gênero. Como
consequência, esses indivíduos são
incapazes de atingir seus objetivos por
meios legítimos. A sociedade oferece aos
membros de diferentes grupos sociais meios
institucionais (através de suas políticas e
economia) muito diferentes de alcançar seus
objetivos prescritos independentemente do
mérito. A tensão se desenvolve a partir
dessa discrepância meios-fins entre os
objetivos culturalmente encorajados e os
meios estruturalmente disponíveis para
alcançá-los; se intenso o suficiente, pode
resultar em desvio. Uma lacuna entre
esforço e recompensa torna impossível para
algumas pessoas estabelecer metas
realistas e alcançáveis ​ou planejar formas
legítimas de atingir suas metas.
Existem diversos relatos verídicos que
retratam muito bem os indivíduos que são
deixados à própria sorte (vide referências),
privados da possibilidade de uma ação
coletiva e qualquer mudança democrática,
para citar alguns deles. E existem poucas ou
nenhuma opção para ganhar uma vida
legítima para esses indivíduos, forçando-os
a atuar em um esquema estruturado em
torno da dicotomia de atividades legais e
ilegais. A pressão gravitacional das
circunstâncias de uma vida criminosa é tão
forte que o indivíduo não consegue escapar
dela.
E é como se essas pessoas não tivessem
saída, porque: “o consentimento dado pelo
indivíduo para viver em companhia de
outros numa forma específica, por exemplo,
num Estado, e estar ligado a outros como
cidadão, operário ou fazendeiro, e não como
cavaleiro, servo da gleba ou criador nômade
de ovelhas, esse consentimento e essa
justificação são algo retrospectivo. Nesse
assunto, o indivíduo pouca opção tem.
Nasce numa ordem que possui instituições
de determinado tipo e o indivíduo é
condicionado com maior ou menor sucesso,
para conformar-se a elas. E desaprovar ou
fugir da nossa sociedade não é menor sinal
de condicionamento do que louvá-la e
justificá-la”.
Ou seja, somente um esforço coletivo da
sociedade como um todo pode mudar essa
situação. Fato é que as pessoas
marginalizadas acabam por sofrer
transtornos que, muitas das vezes, as
tornam sujeitos com “zero grau empatia”
(Simon Baron-Cohen).
“A maldade nos atrai. Queremos sempre
saber o motivo das pessoas fazerem o que
elas fazem, principalmente as coisas
chocantes, violentas. Devido à cultura
religiosa, a maioria das pessoas tende a
justificar atrocidades sob o domínio dessa
entidade(s) que está no interior da pessoa
ou a influência: “o mal”. Mas como
poderíamos defini-la de uma forma
científica? A proposta do livro “The Science
of Evil: On Empathy and the Origin of
Cruelty” (A Ciência da Maldade: sobre a
Empatia e a Origem da Crueldade, 2011) de
Simon Baron-Cohen, professor de Psicologia
do Desenvolvimento na Universidade de
Cambridge, é essa. Simon define a
“maldade” como a ausência de empatia.
Empatia é “a nossa habilidade de identificar
o que outra pessoa está pensando ou
sentindo e reagir aos seus pensamento e
sentimentos com uma emoção apropriada”
(Baron-Cohen, 2011).
Na sua visão, ela não é algo 8 ou 80, mas
ela se dá de uma forma muito variada em
sua intensidade: entre o preto e o branco
temos várias gradações de tons
acinzentados. E ela também pode ser
transitória, flutuante: em um momento
somos empáticos e no outro nos
percebemos em situações em que
desumanizamos as outras pessoas e as
transformamos em objetos. Álcool, fadiga e
depressão, por exemplo, também
influenciam a nossa capacidade de
empatizar. Mas há também aqueles que
podem estar permanentemente no lado
extremo, nunca a apresentarão. De forma
didática, como referência, Simon cita níveis
de empatia que vão do 0 (“Grau Zero”, sem
empatia) ao 6 (pessoas sempre alerta aos
sentimentos dos outros e reagindo a eles de
forma adequada e acolhedora) .
Baron-Cohen identifica características de
grau zero de empatia em alguns transtornos
de personalidade como o Borderline, e
Narcisista e a Psicopatia. Nestes casos, ele
chama de “Zero-Negativo” devido às
péssimas consequências de seus
comportamentos aos outros. Porém temos
os “Zero-Positivos”, pessoas com
dificuldades em empatizar, porém esta
característica não as leva a agir de forma
não ética ou imoral: os nossos queridos
autistas”.
2. Relato de caso
Recortes por Petra Guerreiro de Souza
Apresentamos a seguir apenas um exemplo,
dentre milhares, de uma pessoa que foi
marginalizada e as consequências dessa
marginalização para o próprio indivíduo, sua
família e para a sociedade.
2.1. Richard Ramirez
Richard Ramirez foi o famoso Night Stalker, o
Serial Killer que aterrorizou a vida dos
americanos no período de 1984 a 1985.
Richard sempre foi misterioso, quase
ninguém conseguia tirar palavras carinhosas
da boca dele, mas por vezes ele dizia
palavras, frases relacionadas com o afeto,
com emoções. Os olhos dele eram
estranhamente tristes, por vezes também
com muita história dentro deles, mas por
vezes podem estar cheios de orgulho,
felizes, relacionado com o que ele fez ou o
que ele superou.
A vida dele desde pequenino não foi fácil,
na verdade foi muito dura, demasiado dura
para uma criança. Todos os dias aguentava a
violência que o seu pai lhe transmitia. A sua
mãe ignorava os atos, fingindo não ver a
crueldade do pai com o filho.
Richard era um dos cinco filhos de
Mercedes Ramirez e de Julian Ramirez. Os
pais dele migraram para os Estados Unidos,
Texas, precisamente El Paso.
Ao vermos uma das entrevistas que ele fez,
que foi elaborada pelo jornalista Mike. Ele
diz que até os serial killers têm emoções
profundas. Na mesma entrevista ele disse
que ele desistiu do amor e da felicidade à
muito tempo e que não queria explicar
porque não valia a pena. Em outra entrevista
ele disse que ele não se importava com
nada, que nunca se importou.
2.2. Os olhos dele mostram dor
As pessoas geralmente julgam os outros por
suas expressões faciais, seu comportamento
gestual, pois fornecem pistas de como estão
se sentindo. A maioria dos serial killers
sofreram na infância, não são todos, mas
Richard Ramirez foi um desses que sofreu
muito quando era criança, teve dois
acidentes graves por conta da violência
doméstica que sofreu, as consequências
foram graves, provocaram epilepsias até
seus 17 anos.
E isso era nítido em seu olhar. Quando uma
pessoa está triste, olha-se para ela e diz-se
logo que ela está triste mas quando uma
pessoa pensa em vingar-se, ela também
está triste. Porque o que levou a pessoa a
querer se vingar foi pelo o que ela sofreu.
Tudo o que Ramirez viu em sua vida foi
violência, isso acumulou-se dentro dele, as
agressões, a sua mãe não querer saber do
que se passava, ninguém aparentava gostar
dele. Tornou-se vingativo, de uma maneira
ou outra ele iria se vingar, e os olhos dele
mostravam isso.
2.3. Serial Killers têm emoções e
sentimentos?
Primeiro, serial killer podem ser psicopatas,
narcisistas ou boderliners, é importante
saber a diferença:
Narcisista: é aquele que admira
exageradamente sua própria imagem,
cultiva e nutre uma paixão excessiva por si
mesmo.
Psicopata: apresenta dificuldade em
processar emoções, não se importam com o
sofrimento alheio, são incapazes de
empatizar.
Borderline: pessoas com personalidade
instável, com grande dificuldade em
controlar seus impulsos e emoções.
Apresentam uma relação conturbada com
os outros e se irritam de maneira exagerada.
Observação: o psicótico é diferente do
psicopata. O psicótico perde contato com
realidade e acredita em suas alucinações.
Segundo, é importante diferenciar emoções
e sentimentos. Emoção e sentimento são
coisas diferentes. A emoção é uma reação
imediata a um estímulo. Já o sentimento
envolve um alto grau de componente
cognitivo. Existem cinco emoções básicas
(raiva, nojo, medo, alegria, tristeza), e
diversos sentimentos derivados
(arrependido, ansioso, chocado etc).
Os psicopatas, narcisistas ou boderliners
sofrem de zero grau empatia, isso significa
que eles têm dificuldade, diria até
incapacidade, de reconhecer o sofrimento
alheio e empatizar, mas isso não significa
que não tenham emoções e sentimentos
(Wikipedia).
3. O gatilho da mudança: o
conflito
Recortes por Davi de Castro Leão
Serge Moscovici propõe que todos os
movimentos sociais se iniciam por indivíduos
ou pequenos grupos. Portanto, a grande
maioria das invenções e das mudanças
sociais são realizadas por minorias.
De acordo com sua pesquisa, a chave para a
influência da minoria é - ao invés de buscar
o lado da autoridade ou número
(abordagem majoritária) - expressar suas
convicções de forma coerente e repetitiva.
De acordo com essa visão, um indivíduo ou
uma minoria, com comportamento
consistente, que se esforça para introduzir
ou criar novas formas de pensar ou
comportamentos, para modificar visões
existentes, pode influenciar os outros
membros da sociedade. Isso gera um
conflito que certamente pode levar à
ruptura, pois se oporá à norma majoritária,
adotando e proclamando um padrão
substituto.
Como explica Yuval Harari: ““[...] Movimentos
que buscam mudar o mundo
frequentemente começam com a reescrita
da história, permitindo reimaginar o futuro.
Se você quer que trabalhadores façam uma
greve geral, que as mulheres assumam que
são donas do próprio corpo ou que minorias
oprimidas exijam direitos políticos — o
primeiro passo é recontar sua história. A
nova história vai explicar que “nossa
situação atual não é nem natural nem
eterna. As coisas uma vez já foram
diferentes. O mundo injusto que
conhecemos hoje foi criado apenas por uma
série de eventos ocasionais. Se agirmos
com sabedoria, poderemos mudar este
mundo e criar um muito melhor”. É por isso
que marxistas recontam a história do
capitalismo, que feministas estudam a
formação das sociedades patriarcais e que
afro-americanos rememoram os horrores do
tráfico negreiro. O objetivo não é perpetuar
o passado, e sim libertar-se dele.”
Um exemplo de minoria que já conquistou
muitas mudanças positivas em nossa
sociedade, e com isso salvou muitos de
sofrerem os danos mais graves da
marginalização, é o MST, o Movimento dos
Sem Terra.
A ditadura militar promoveu uma grande
concentração de terra nas mãos de
latifundiários. O MST nasceu da ocupação
da terra e tem nesta ação seu instrumento
de luta contra a concentração fundiária. Os
Sem Terra se deslocam para as grandes
cidades para manifestações e passeatas,
como uma forma de obter a visibilidade da
população para os seus problemas e
bandeiras de luta do MST, relacionados à
concentração da terra e exclusão do campo.
São cerca de 450 mil famílias que
conquistaram a terra por meio da luta e
organização dos trabalhadores rurais.
Os latifúndios desapropriados para
assentamentos normalmente possuem
poucas benfeitorias e infraestrutura, como
saneamento, energia elétrica, acesso à
cultura, educação e lazer. Por isso, as
famílias assentadas seguem organizadas e
realizam novas lutas para conquistarem um
conjunto de direitos básicos.
Com esta dimensão nacional, as famílias
assentadas e acampadas organizam-se
numa estrutura participativa e democrática
para tomar as decisões no MST. Nos
assentamentos e acampamentos, as famílias
organizam-se em núcleos que discutem as
necessidades de cada área. Nesses núcleos,
são escolhidos os coordenadores e as
coordenadoras do assentamento ou do
acampamento. A mesma estrutura se repete
em nível regional, estadual e nacional. Um
aspecto importante é que as instâncias de
decisão são orientadas para garantir a
participação das mulheres, sempre com dois
coordenadores/as, um homem e uma
mulher. E nas assembleias de
acampamentos e assentamentos, todos têm
direito ao voto: adultos, jovens, homens e
mulheres.
Da mesma forma, isso acontece nas
instâncias nacionais. O maior espaço de
decisões do MST são os Congressos
Nacionais que ocorrem, em média, a cada
cinco anos. Além dos Congressos, a cada
dois anos o MST realiza seu encontro
nacional, onde são avaliadas e atualizadas
as definições deliberadas no Congresso.
Para encaminhar as tarefas específicas, as
famílias também se organizam por setores,
que são organizados desde o âmbito local
até nacionalmente, de acordo com a
necessidade e a demanda de cada
assentamento, acampamento ou estado.
O MST participa também de articulações e
organizações que buscam transformar a
realidade e garantir estes direitos sociais.
Nacionalmente, participamos do Fórum
Nacional da Reforma Agrária, da
Coordenação dos Movimentos Sociais,
Frente Brasil Popular e de campanhas
permanentes ou conjunturais.
Internacionalmente, somos parte da Via
Campesina, que congrega os movimentos
sociais do campo dos cinco continentes
(MST).
Desta forma, o MST luta contra a pobreza e Davi de Castro Leão
a marginalização e reduz as desigualdades.
São milhares de jovens que são orientados
para lutarem por seus direitos, para não se
sentirem menos por terem menos, pois são
o resultado dos processos sociais, políticos
e econômicos que conduzem os indivíduos
para condições de exclusão, ou seja, os
impedem de fazer parte da sociedade, e ter
acesso a direitos básicos, como saúde,
educação e moradia. E com isso estes
jovens não se perdem na vida da
criminalidade.

4. Sobre @s pesquisador@s Formado em não sei o que, com mestrado e

doutorado em não sei o que lá. Professor
Ana de Castro Leão poderoso e maravilhoso.

Petra Guerreiro de Souza

Formada em não sei o que, com mestrado e

doutorado em não sei o que lá. Professora
Formada em não sei o que, com mestrado e
poderosa e maravilhosa.
doutorado em não sei o que lá. Professora
poderosa e maravilhosa.