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INSTITUIÇÃO: UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA – CAMPUS I

DOCENTE: Braulino Pereira De Santana


DISCENTE: Elielson Costa dos Santos
DISCIPLINA: Estudos Linguísticos I e Educação I

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A ORIGEM DA LINGUAGEM NO HOMEM - UMA ORIGEM
COMPARTILHADA COM OS ANIMAIS

RESUMO
O presente artigo demonstra através de pesquisa bibliográfica e de alguns fatos
concretos como se deu a linguagem no homem. Buscou-se identificar a origem em
comum com os diversos animais, que utilizando meios inferiores de se comunicar,
levou-nos a um passado longínquo do homem que possuía uma comunicação
semelhante. Através dos estudos dos diversos autores e livros escritos por Darwin,
assim como análises concretas a respeito da evolução, o documento deixa claro e
evidente a semelhança entre os homens e os animais em graus diferenciados,
demonstrando assim que o mesmo teve uma evolução que segue as mesmas leis naturais
que os diversos animais. Com isso fica evidente e é demonstrado que a linguagem no
homem seguiu os mesmos passos da linguagem nos animais e foi-se aperfeiçoando ao
ponto de se tornar tão complexa como atualmente.
DESCRITORES: Origem da linguagem, homem e animais linguagem comum,
evolução do homem, aquisição da linguagem.

ABSTRACT
This document demonstrates, through bibliographical culture and some concrete facts,
how language developed in man. We tried to identify this origin in common with the
various animals, which using inferior means of communication, takes us to a distant
past of the man who had a similar communication. Through the studies of several
authors and books written by Darwin, as well as concrete analyzes regarding evolution,
the document makes clear and evident the similarity between men and animals in
different degrees, thus demonstrating that it had an evolution that follows the same
natural laws as the different animals. With this it is evident and it is demonstrated that
language in man followed the same steps as language in animals and was perfected to
the point of becoming as complex as it is today.
KEYWORDS: Origin of language, man and animals common language, human
evolution, language acquisition.

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A ORIGEM DA LINGUAGEM NO HOMEM - Uma origem
compartilhada com os animais

A origem do homem sempre foi um tema central para os diversos povos e suas culturas.
Através dos mitos, tentava-se dar significados à emoção, inteligência, razão e a diversas
habilidades presentes no homem. Segundo Franchetto e Leite, os povos Karajás,
Tapirapés e Kuikuros, cada um possuíam sua própria visão mística da origem do
homem. Os autores prosseguem citando a Bíblia a respeito da criação:
No Velho Testamento, o mundo é criado pela palavra de Deus. No Gênesis, no primeiro
dia da criação, o Criador Origens da linguagem diz: “Faça-se a luz”. E a luz se fez. “E
Deus viu que a luz era boa; e separou a luz das trevas. E chamou à luz dia, e às trevas,
noite”. E foi com a palavra que Deus criou os animais, e do barro que ele modelou o
homem, à sua imagem e semelhança, “e criou-os varão e fêmea”, e com um sopro de
vida em seu rosto tornou o homem “alma vivente”. “Tendo, pois, o Senhor Deus
formado da terra todos os animais terrestres, e todas as aves do céu, levou-os diante de
Adão, para ver como este os havia de chamar; e todo nome que Adão pôs aos animais
vivos, esse é seu verdadeiro nome.”(p.9 e 10, 2004).

Vemos assim como é diversificada a forma de pensar a origem do homem para os


diversos povos, porém duas coisas chamam a atenção: a visão mística e a importância
da linguagem na criação. A visão mística se faz presente pois os diversos povos não se
baseiam em evidências para chegar a tal conclusão, basearam-se únicamente nos
diversos desejos internos do homem e associaram à realidade externa, tornando assim o
homem um ser especial, de acordo com seu preceito de especial, e único. Já a linguagem
demonstra como os diversos povos a tinham como algo importante ao homem, com um
poder criador, organizador, de autoridade e o que os distanciava dos animais (basta dizer
a palavra mágica e todos os desejos serão realizados).
Com o progresso humano as explicações através dos mitos se mostraram falhas, e
pensando em um meio de superá-lo, chegamos à explicação científica das coisas e
devido sua eficácia a mesma permanece presente como meio da busca para descrever os
fenômenos físicos ou a busca daquilo que mais se aproxima da verdade. Analisando
esse progresso humano, podemos ver como ele se enquadra na teoria dos três estados de
Auguste Comte: o teológico, metafísico e o positivo (COMTE, 2016).
Para chegarmos à origem da linguagem no homem é preciso nos atermos à teoria da
evolução. Acredito que o ponto importante para desvendar a origem da linguagem no
homem se encontra na análise dos animais. Pois como sabemos, o desenvolvimento do
homem seguiu as mesmas leis naturais que os diversos animais presentes na natureza
(DARWIN, 2019). Logo, o surgimento da linguagem no homem inevitavelmente seguiu
os mesmos passos do surgimento da linguagem nos diversos animais, ainda que esta
esteja presente nos mesmos de uma forma inferiorizada. Analisando seus passos
chegaremos ao seu ponto de partida comum ao homem.
Antes de tudo é preciso demonstrar se inteligência, memória, razão, lógica e dentre
outras faculdades são algo presente somente no homem ou se está presente também nos
diversos animais. A esse respeito, Darwin(2019) cita o comportamento de diversos
animais: Como certas formigas ao serem separadas de sua comunidade durante quatro

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meses são reconhecidas por suas parceiras; que os cães, gatos, cavalos e outros animais
durante o sono sonham (ao observarmos seus grunhidos, expressão do rosto e dos
movimentos que são identicos aos de uma pessoa sonhando) ; Com razão cita um cão de
caça, onde duas aves ao serem feridas pelo dono com uma arma de fogo, o cão ao se
aproximar das aves tentou levar as duas ao mesmo tempo para os pés do seu dono,
porém uma delas estando viva se debatia e isso impossibilitava o cão levar as duas,
assim, tentando evitar levar a morta e perder a ferida, o cão estrangulou a ave ferida e
levou as duas ao dono, mesmo que por instinto a raça fosse domésticada para não ferir a
caça; há também os relatos dos comportamentos dos diversos simios e seus afetos,
como quando uma mãe lamenta a morte do seu filho, quando alguns simios orfãos são
adotados por outros; certo momento o autor cita um animal que estando em um
ambiente parecido com um parque aquático recebe um pedaço de pão, e este estando
separado do pão por uma grade, o animal assoprou na água, criando um pequeno
redemoinho que levou o pão para o seu alcance onde o apanhou.
São esses os diversos exemplos que fez Charles Darwin corretamente chegar a
conclusão de que:
Creio que foi demonstrado que o homem e os animais superiores, especialmente os
primatas, possuem alguns instintos em comum. Todos possuem os mesmos sentidos, as
intuições e as sensações, as mesmas paixões, afeições e emoções, ainda que as mais
complexas, como sejam a inveja, a suspeita, a emulação, a gratidão e a magnanimidade;
praticam o engodo e são vingativos; as vezes sujeitam-se ao ridículo e possuem também
o senso do humorismo; sentem admiração e curiosidade; possuem as mesmas
faculdades de imitação, atenção, decisão, escolha, memória, imaginação, associação de
ideias e também a razão, embora em nível diversos. (p. 99, 2019)

Demonstrando assim que esses diversos sentimentos, faculdades mentais e ações não
são algo unicamente divino e somente presente no homem, mas sim nos diversos
animais, seguindo as mesmas leis da evolução e adaptação. Legando ao homem um
ancestral comum aos macacos e não como afirma Franchetto e Leite(p.10, 2004): “No
pensamento científico moderno, descendemos não de peixes, mas de macacos, numa
longa[...]”. Pois:
É um erro dizer que o homem descende do macaco. Darwin nunca disse ou escreveu tal
coisa. A Teoria da Evolução explica que homem e macacos descendem de um ancestral
comum. Este ancestral não foi nem homem nem macaco. Este ancestral durante o
processo evolutivo dividiu se em ramos, um para o gênero em que se encontram os
macacos e outro para o gênero Homo. O gênero Homo, continuou a se evoluir e ainda
se evolui (GILLY, 2019).

Para complementar mostrarei aqui o comportamento do Drongo-de-Cauda-Forcada


(Dicrurus adsimilis) do deserto do Kalahari, na África do Sul:
O pássaro possui a capacidade de enganar espécies como os suricatos ao emitir falsos
alertas de perigo. Ao ouvirem os sinal, as aves fogem, deixando para trás os alimentos
colhidos, que logo viram banquete para o drongo. Passado um tempo, as vítimas
percebem o golpe e passam a desconsiderar as mentiras. Porém, o espertinho,
especialista em imitações, as engana novamente, reproduzindo avisos de perigo
produzidos por outras espécies(OLIVEIRA, 2014)

Disponibilizarei um link na referência desse documento de um curto vídeo no YouTube


disponibilizado pela BBC Earth(2016), que mostra em tempo real as diversas

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artimanhas dessa ave. Retomando ao assunto, ainda que seja de uma forma inferiorizada
em relação ao homem, podemos observar no drongo a análise da situação, o engano, a
racionalidade, a razão e a imaginação, etc. Ao perceber que quando seu engodo já não
funciona, ele abandona seu antigo canto(alerta) e passa a imitar o som de alerta de outra
ave, que anuncia o perigo para que todos os animais no ambiente fujam novamente
desesperados, fazendo com que os suricatos e os outros animais se escondam, enquanto
o drongo aproveita o alimento deixado para trás, e em certo ponto chega até a imitar o
sinal de alerta dos sentinelas dos suricatos. Perceba também a complexidade desse
comportamento adaptativo de dada ave e o uso da linguagem para transmitir uma
informação sonora aos animais de espécies distintas.
Com tudo isso só podemos concluir que o homem possui as mesmas capacidades
intelectuais que os animais, apenas em graus diferenciados, sendo assim, chegaremos
também à inevitável conclusão de que a linguagem no homem seguiu o mesmo caminho
gradual que a linguagem nos animais. Logo, o surgimento da linguagem tem uma
função adaptativa visando a sobrevivência dos mesmos e ou social, mas não somente
função social como define os diversos autores. Seu surgimento só pode ter se dado
devido ao forte desejo de demonstrar um sentimento para outra criatura, seja da mesma
espécie ou não, seja também um sentimento para tentar afastar um inimigo ou de se
comunicar entre seus pares. Assim, os movimentos dos membros passaram a ser usados
para expressar essas emoções, como o eriçar das penas das aves para demonstrar ser
maior e por fim afugentar seus inimigos, ou o exibir as presas para mostrar raiva, etc.
Conforme os animais expressavam suas emoções, ao contrair e expandir os diversos
órgãos do corpo, iam se criando alguns sons que logo esses passaram a ser associados
por tais animais como representação de uma dada emoção, externando-a para os
diversos animais ao seu redor. Conforme o uso prolongado do expandir e contrair, esses
diversos órgãos foram-se adaptando para a criação dos diversos tipos de sons
(DARWIN, 2009, p.78 e 79). Criando assim a linguagem sonora dos diversos animais.
Sabemos que algumas espécies de animais continuaram a usar a linguagem gestual para
se comunicarem, isso podemos notar nas formigas que utilizam suas antenas para
transmitir uma informação, e tal comportamento permaneceu até os dias atuais. Por
outro lado, notamos que diversos animais utilizam os gestos e os sons em conjuntos ou
separados para se comunicarem. E aqui é forçoso perguntar: mas o que fez o uso sonoro
da linguagem superar o uso gestual em algumas espécies? A única conclusão que
consigo chegar é que com o uso dos sons os animais poderiam deixar as mãos ou outros
membros do corpo livremente para seus afazeres diários enquanto se comunicavam,
com isso o uso da linguagem sonora foi-se aperfeiçoando como meio de linguagem e o
uso corporal foi perdendo esse poder central nas diversas espécies.
Voltando à aquisição da linguagem oral no homem, compartilho a visão de
Darwin(2019), de que isso se deu por imitação e associação do significado. Onde um
homem percebendo um som amedrontador na selva, emitido por um animal, ele repetia
esse som aos seus semelhantes que logo descobririam qual animal era. Através da
necessidade cada vez mais complexa que a sociedade ia se organizando, a linguagem
humana foi se aperfeiçoando, ao ponto do homem sofrer uma mutação no gene FOXP2,
gene esse presente em todos os primatas:

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"Existe um gene chamado gene FOXP2, que é comum em todos os primatas", diz Foley.
"Mas, como seres humanos, temos uma versão mutante."

As mutações nesse gene podem ajudar a explicar por que os humanos podem falar mas
os chimpanzés não, segundo o professor.

"Sabemos que ele tem um papel crucial no desenvolvimento da fala e do discurso,


porque as pessoas que têm a forma não mutante do gene geralmente têm problemas na
elaboração do discurso." (BBC, 2019).

Com essa e outras mutações benéficas e associadas às suas altas capacidades cognitivas,
chegamos ao nível complexo da linguagem na atualidade no homem.
Um outro ponto importante trata da diversidade da língua humana. Acredito que o canto
específico de um dado pássaro é transmitido quando os pequeninos filhotes vão
imitando e associando o canto dos seus pais e das aves parecidas com eles(parecida com
seus pais), desenvolvendo assim o canto X e não Y. Essa capacidade de aquisição de
um canto, específico ou não, se tornou inata nas aves, assim como a capacidade inata da
aquisição da língua no homem; claro que nos animais, como na ave, de uma forma
inferiorizada. Note que o canto de um dada ave da mesma espécie vivendo em regiões
diferentes tende a variar, assim como a variação regional das línguas humanas, e
conforme raças diferentes da espécie de ave vivem em regiões longínquas, seu canto
tende a ser diferente, assim como a existência das diversas línguas humanas seguiram
um parecer semelhante.
Para concluir irei fazer duas breves citações a respeito do artigo de Rastier(p.108, 2009),
pois para esse: “Também achamos que as línguas escapam de uma “explicação” de tipo
darwiniano”. Pelo que se deixa entender, o autor chega à conclusão de que a língua foge
de um escopo da evolução das espécies e é uma mera construção cultural. Porém, não
vejo como a coisa poderia se dar desse jeito, acredito que no homem o surgimento da
língua se deu de forma gradual e foi se aperfeiçoando, forçada pelo ambiente externo e
as necessidades do homem ao desenvolver sociedades cada vez mais complexas para se
adaptar e controlar o ambiente externo, sendo inevitável que a existência da língua se dê
para beneficiar o homem em sua sobrevivência. Ela é responsável por transmitir dados
de forma eficiente, de transmitir um saber rapidamente ao grupo, de avisar a respeito de
um perigo eminente e de expressar ideias aos seus semelhantes, que associando-as os
indivíduos externos usam esse saber para novas criações benéficas à existência da
sociedade humana, etc.; em resumo, a língua é aquilo que possibilita a codificação de
um sentimento, emoção, informação, etc, e o externa a outros seres, que decodifica essa
informação permitindo entendê-la. A própria organização da língua não se dá de forma
aleatória, ela segue um padrão pré estabelecido pelo sistema de aquisição da linguagem
inerente a todos os seres humanos saudáveis. Logo é impossível desassociar isso a
evolução da espécie e a sobrevivência através da adaptação natural.
Outra breve citação a respeito do mesmo autor é quando ele afirma: “A questão da
origem da linguagem não se coloca se admitirmos que a linguagem é uma criação
cultural: sua história não é senão a das línguas e se confunde com a das sociedades
humanas”. Acredito que seja o inverso, o aperfeiçoamento da linguagem beneficiou o
homem a viver em sociedade, e em sociedade suas chances de sobreviver aumentaram.
Logo, com a linguagem, a transmissão dos saberes, desejos, emoções e outros,
passaram a ser cada vez mais eficiente, permitindo ao homem associar ideias em

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grupos, regras, leis, moral, costume, etc. E todos esses saberes foram selecionados para
o surgimento das culturas dos diversos povos.

REFERÊNCIAS:
BBC. Quando e por que os humanos começaram a falar? 27 jun. 2019. Disponível
em: <https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-48757500 > Acesso em 5 ago.
2023.
BBC Earth. Drongo Bird Tricks Meerkats | África | BBC Earth. YouTube, 17 de fev.
2016.Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=tEYCjJqr21A&ab_channel=BBCEarth >. Acesso
em: 05 ago. 2023.
COMTE, Auguste. Discurso sobre o Espírito Positivo: Ordem e Progresso. 1ª edição.
Edipro,1 fevereiro 2016.
DARWIN, Charles. A Origem do Homem e a Seleção Sexual. 1ª edição. São Paulo -
SP: Editora Garnier, 1 janeiro 2019.
DARWIN, Charles. A expressão das emoções no homem e nos animais. Garcia-SP:
Companhia das Letras, 2009.
FRANCHETTO, Bruna; LEITE, Yonne. Origens da Linguagem. Rio de Janeiro-RJ:
Jorge Zahar Editor, 2004. Disponível em:<
https://drive.google.com/file/d/1pryPD1Qf949b0mqaPLHYyiaj0q2e2JR4/view >.
Acesso em: 04 ago 2023.
GILLY, Lara. 'Erro dizer que homem descende do macaco', diz biólogo sobre Teoria da
Evolução no 'Dia de Darwin'. G1, 12 fev. 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/rj/sul-do-rio-costa-verde/noticia/2019/02/12/erro-dizer-que-home
m-descende-do-macaco-diz-biologo-sobre-teoria-da-evolucao-no-dia-de-darwin.ghtml
> Acesso em 4 ago. 2023.
OLIVEIRA, Isabela de. Drongo, o esperto. CORREIO BRAZILIENSE, 02 mai. 2014.
Disponível em:
<https://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/eu-estudante/me_gerais/2014/05/02
/me_gerais_interna,425803/drongo-o-esperto.shtml > Acesso em 4 ago. 2023.
RASTIER, François. Tem a linguagem uma origem?. Revista Brasileira de Psicanálise
· Volume 43, n. 1, 105-117 · 2009. Disponível
em:<https://drive.google.com/file/d/1KtQO64baumcDk1ynyjoywuchjclI5rze/view >.
Acesso em: 04 ago 2023.

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