Você está na página 1de 6

A PRÉ-HISTÓRIA (ORIGEM DO HOMEM – 4 MIL A.C.

“Quando o passado não ilumina o futuro, o espírito humano vive nas trevas”


Alexis de Tocqueville.
1) Introdução
A. Pré-História = Equivalente a 95% da História Humana

“Comparados com a história da vida orgânica na Terra, os míseros anos do Homo


sapiens representam algo como dois segundos ao fim de um dia de 24 horas” Walter
Benjamin.

B. Termo ”Pré-História” foi cunhado por Sir John Lubbock, em 1865, no livro
Prehistoric Times, contrapondo-se a noção defendida pelo bispo Usher e por muitos
religiosos de que o mundo foi criado em 4.004 a.C.

C. Hoje, o termo pré-história é inadequado e preconceituoso, pois pressupõe


que povos sem escrita não possuem uma história. Tal ideia está ligada a uma
tradição de historiadores positivistas do século XIX, segundo a qual a história só é
possível se feita com documentos escritos.

D. Arqueologia = "arché", que significa origem e "logos", discurso racional.

2. O Surgimento do Homem - Cronologia1

A vida no planeta teve início há 3 ou 4 bilhões de anos. Há 600 milhões,


aproximadamente, as formas de animais mais primitivas desenvolveram-se. Os
mamíferos surgiram entre 225 e 180 milhões de anos atrás, enquanto os primatas

1
Todos direitos reservados
www.seliganessahistoria.com.br
Página 1
surgiram entre 60 ou 70 milhões de anos atrás. Os primatas são os parentes mais
próximos do homem. Um erro muito comum é admitir que “o homem descende de
macacos”. No entanto, o que ocorre é que tanto os macacos quanto os homens
partiram de um tronco comum de grandes primatas. Dessa forma, o tronco dos
primatas se dividiu em dois: pongídeos (que deram origem aos macacos, gorilas,
chipanzés e orangotangos) e hominídeos (membros da família hominídea, da ordem
primata, antecessores diretos da humanidade).
Dessa forma, há cerca de 2,5 milhões de anos, os primeiros seres do gênero
Homo apareceram: os Homo habilis. Esses primeiros hominídeos eram bípedes,
viviam em savanas, possuíam grandes dentes molares e pequenos caninos, o que
evidencia uma dieta de plantas e animais. Com sua capacidade craniana avantajada,
ele pode alcançar modelos culturais mais complexos, como a produção de
instrumentos de pedra afiados que compensavam sua pequena velocidade, seus
pequenos dentes e a ausência de garras.
O desenvolvimento da capacidade cerebral do H.habilis deu origem a uma
nova espécie: o Homo erectus, que surgiu na África centro-oriental cerca de 1,5
milhões de anos atrás. Surgido na “mãe-África”, verdadeiro berço da humanidade O
H. erectus povoou a Europa e a Ásia (portanto, a rigor, todos os seres humanos são
afrodescendentes). Com um cérebro maior e postura mais ereta (daí aumentam as
dores nas costas e pescoços), o H.erectus utilizou modelos de comportamento
baseados na cooperação, na divisão sexual do trabalho, na repartição do alimento e
no sustento das crianças por tempo prolongado, garantindo a sobrevivência dessas
criaturas em seu estágio mais frágil. O H.erectus tinha maxilar e mandíbula maciços
e grandes dentes, tornando-se um hábil caçador. Ele foi o tipo de ser humano que
mais durou na terra, sobrevivendo por mais de um milhão de anos, uma meta difícil
de alcançar pelo H. Sapiens.
O desenvolvimento do cérebro implica numa maior dependência da criança
para com seus pais: os ossos do crânio da criança são relativamente macios e
frouxos, de modo que o cérebro possa expandir-se dentro deles; essa criança, em

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 2
contrapartida, depende excepcionalmente dos pais. A postura elevada permite tal
cuidado.
Ele também desenvolveu uma ampla coleção de instrumentos de pedra e
dominou o fogo. Antes da “descoberta” do fogo, o homem passava de 5 a 6 horas por
dia mastigando alimentos; o fogo torna os alimentos mais digeríveis, liberando mais
tempo para a atividade humana e possibilitando alimentar um cérebro que demanda
cada vez mais energia. Pelo fogo, o homem começa a se libertar da servidão do
ambiente: aquecido pelas fogueiras, ele suporta noites frias, penetra regiões
temperadas ou árticas, possibilita explorar as escuras cavernas, cria novos
alimentos. Como disse Gordon Childe, "pela primeira vez na história, uma criatura
da Natureza dirigia uma das grandes forças naturais (...), afirmava um poder sobre a
natureza e modelava os objetos à sua vontade". O fogo é um elemento fundamental
na formação do homem; em quase todas as mitologias, ele possui uma história a
parte, associado aos deuses.
Muitos tipos de ser humano foram extintos sem deixarem descendentes. É o
caso do homo floresiensis, da Indonésia, os quais, pelo que se sabe, originam-se de
outras espécies que ficaram presas na ilha quando o nível do mar subiu. Eles tinham
uma altura média de um metro e pesavam no máximo 25 quilos.
Com a última era glacial, aproximadamente 500 mil anos atrás, um grupo com
um cérebro ainda maior se sobressaiu: era o H. sapiens (“homem sábio”, do latim),
cujo cérebro consome, em repouso, 25% de nossa energia. O que faz o H.sapiens
sobressair-se aos anteriores é sua capacidade de produzir cultura. A cultura pode
ser simplificadamente ser definida como toda criação humana não instintiva. Houve
vários descendentes dos H. sapiens.
Os H.sapiens encontrados na Alemanha, França, Iugoslávia, Palestina e África
do Sul, por exemplo, são os chamados Neandertais (homens do vale do Neander), que
surgiram há 200 ou 100 mil anos. Os Neandertais eram bem próximos aos seres
humanos modernos. Eles um cérebro menor que os atuais seres humanos, braços
longos, testa saliente, mandíbula e maxilar maciços. Seus maxilares sem tinham

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 3
queixo, uma grande saliência óssea sobre os olhos e sua testa recuada davam aos
seus rostos uma expressão bestial. A julgar pelas limitações dos músculos da língua,
sua fala era muito rudimentar. Eles eram capazes de produzir uma vida comunitária
e religiosa, o que se presume a partir de cemitérios onde estão reunidos corpos de
Neandertais mortos, junto com ferramentas, travesseiros e cobertores de pedra. A
cabeça e o tronco eram enterrados separadamente. Tais práticas sugerem alguma
relação dos Neandertais com a morte.
Enquanto os Neandertais tornaram-se robustos, adaptando-se às condições da
glaciação, outros H.sapiens tornaram-se mais “delicados”, dando origem aos
H.sapiens sapiens, a atual espécie humana. Eles surgiram na África há cerca de 120
mil anos, ou seja, um período extremamente recente na história do planeta (por
exemplo, se a vida da terra fosse dividida em 365 dias, nasceríamos na última hora
do último dia do ano). O H.sapiens sapiens ampliou o número e a complexidade da
ligação entre os neurônios, criando, assim, a linguagem e aumentando a
complexidade de sua cultura. A linguagem é um produto social: palavras só podem
ter sentido e sugerir coisas e acontecimentos e sociedade por um acordo tácito entre
seus membros.
Sem garras, carapuça, veneno ou força física, graças ao seu cérebro
hiperdesenvolvido o atual ser humano se sobressai aos outros animais. Se não tem
uma natural proteção de lã, como o carneiro, pode fazer casacos; se não tem patas e
focinhos para se abrigar nos buracos, como os coelhos, pode escavar com pás e
enxadas; se não tem garras e dentes afiados, como os leões, podem fazer flechas e
lanças para abater sua caça. O equipamento corporal do homem para enfrentar
condições especiais é inferior ao da maioria dos animais: não tem bico, garra, não é
veloz nem forte; seu complexo cérebro, entretanto, permite adaptar-se às mais
variadas situações.
Mais do que isso: o homem desenvolveu a linguagem, passando suas ideias
para novas gerações; a linguagem favoreceu a permanência das criações humanas
para além da morte física do criador. Se outros animais sobrevivem a partir dos

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 4
instintos, de maneira que os filhos vivem exatamente como os pais, no homem, a
invenção e a linguagem (que permite a perpetuação de determinada invenção)
substituíram a evolução biológica: há uma série de conhecimento herdados não no
sentido biológico, mas no sentido social. Essas criações não instintivas,
transmitidas através das gerações, são chamadas de Cultura, fato social inerente ao
ser humano. Como disse Gordon Childe, "dentro de nossa espécie, os melhoramentos
no equipamento que os homens fazem para si mesmos - isto é, na cultura -
substituíram as modificações corporais".. A diferença entre um homem de 150 mil
anos atrás e atual, do ponto de vista biológico, é ínfima; no ponto de vista cultural, é
abismal. Por isso, o surgimento da linguagem há cerca de 70 mil anos é chamado,
pelo historiador Yuval Noah Harari, de Revolução Cognitiva; para ele, é aqui que
começa a história, pois é aqui que nos destacamos da biologia.
O H. sapiens sapiens é capaz de transcender, isto é, transbordar sua natureza,
ir além. O vento, por exemplo, venta como só poderia ventar; a maré também mareia
como só poderia marear. O golfinho não tenta ser uma baleia ou um pássaro; um gato
não tenta escapar da ordem cósmica em que nasceu. O homem, por sua vez, é
diferente: ele pode escolher, pode querer ir além de si mesmo, transbordar. O homem
é capaz de uma enorme flexibilidade física e mental.
A ética surge, exatamente, dessa questão: o instinto, em si, é insuficiente para
garantir a vivência do homem em grupo. Ethos, em grego, significa "morada
humana", de modo que ética significa tudo aquilo que garante ao homem uma boa
vida com o outro. Moral, por sua vez, é uma palavra que significa tradição. Por vezes,
a ética e a moral se encontram; por vezes, a ética impede que a moral se feche a si
mesma.
De qualquer forma, essa última evolução mental provou ser a mais vantajosa: o
atual ser humano é capaz de sobreviver às mudanças da natureza pelo imenso poder
criador de seu cérebro. Os H. sapiens sapiens então passaram a espalhar-se pelos
quatro cantos da terra e subjugar o Neandertal, que desapareceu da terra há 30 mil
anos. Alguns estudiosos sugerem até mesmo que o Neandertal foi utilizado como

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 5
escravo do H.sapiens sapiens. De qualquer forma, desde então, não houve mais
transformações perceptíveis no aparato biológico dos H.sapiens sapiens,
permanecendo praticamente igual até hoje.

"Dentro de nossa espécie, os melhoramentos no equipamento que os homens


fazem para si mesmos - isto é, a cultura - substituíram as modificações corporais.”
Gordon Childe, principal historiador da “Pré-História
Criações não instintivas, transmitidas através das gerações, são chamadas de
Cultura.

Eles migraram para o Oriente Médio há 90 mil anos, para a Índia há 70 mil
anos, Europa e Austrália há 50 mil anos e, segundo números contestáveis, nas
Américas entre 20 e 15 mil anos atrás. 1.500 a.C. ocuparam a Islândia, ilhas do
mediterrâneo e Nova Zelândia.

Autoria: Daniel Gomes de Carvalho

Todos direitos reservados


www.seliganessahistoria.com.br
Página 6

Você também pode gostar