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O NEOLÍTICO (10 mil a.C – 3.300 mil a.

C – Nova Idade da Pedra - “O


HOMEM DOMINA A NATUREZA”.

No início do Neolítico (que significa “nova


idade da pedra”) temos uma nova fase na
produção de alimentos: agora o homem tem
algum controle sobre a reprodução de plantas e
animais. Dessa forma, entre 10 e 8 mil a.C., no
Oriente Médio e Norte da África, ocorreu o que o
arqueólogo Vere Gordon Childe batizou de
Revolução Agrícola (ou 1ª Revolução Neolítica),
a partir da qual nasceu a agricultura e a
Desenho 1: Vere Gordon Childe, um dos maiores
pecuária (domesticação de plantas e animais).
estudiosos da Pré-História.

Tal revolução, ao que tudo indica, ocorreu de


maneira independente em diversas regiões do planeta e foi feita por mulheres, uma
vez que essas cuidavam da coleta dos alimentos. A Revolução Agrícola só é
comparável, em sua importância, à Revolução Industrial. O surgimento da
agricultura e pecuária pode ser considerado uma “revolução” porque possui um
impacto gigantesco na história humana. A partir da Revolução Neolítica, o homem
passa dominar e submeter a natureza
Ao mesmo tempo, se o homem era agricultor, precisava saber o tempo das
cheias, da colheita, melhores épocas para plantio etc. Daí passou a organizar seu
tempo, surgindo, então, o calendário. Por exemplo, o período em que chega a cheia
do Nilo é também o momento que a estrela Sírius ou Sothis é vista no horizonte do
Egito, ao amanhecer. Verificou-se que tal fato acontecia aproximadamente a cada
365 dias. A elevação da estrela foi tomada, assim, como ponto de partida para o ano.
É possível que, notando que certas estrelas o constelações tomam posição no céu na
época do plantio ou semeadura, o homem tenha inferido que as estrelas influíam em
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questões terrenas, surgindo, assim, a astrologia. Tais descoberta, além do mais,
permitiram ao astrólogo predizer a cheia para o camponês, e, com isso, justificar seu
poder mágico de controlar as cheias. O calendário egípcio é o pai de todos os
calendários. Os babilônicos, por sua vez, dividiam o dia e a noite em doze birus (as
"horas" de hoje) duplas; o número doze deve ter surgido dos doze meses do ano. O
culto ao sol, presente em variadas religiões, pode ter surgido a partir da mesma
lógica.
Para armazenar os grãos, surgiu uma nova arte conhecida como cerâmica.
Para Gordon Childe, "a fabricação de potes talvez seja a mais antiga utilização
consciente, pelo homem, de uma transformação química." A argila (silicato de
alumínio, nome químico original), quando molhada, é absolutamente plástica. Após
moldado, a essência do processo é a expulsão, pelo calor, de moléculas de água da
argila numa temperatura superior a 600 graus, que tira a plasticidade do material. A
essência da arte do ceramista é poder modelar um pedaço de argila segundo sua
vontade e dar-lhe, então, permanência. Se a argila conter óxido de ferro e for cozida
ao ar livre, sua coloração será vermelho férreo; se o pode for cercado, durante o
cozimento, com carvão em brasa, os sais ferruginosos serão reduzidos e o produto
ficará cinzento. Fazer um pote era um exemplo supremo da criação pelo homem,
fazendo a forma onde ela não existia.
Outra consequência da Revolução Neolítica é a obtenção de linho, algodão e lã
das ovelhas, proporcionando o nascimento do trabalho têxtil.
A estocagem de proteína animal e vegetal abriu imensas possibilidades ao
homem. Agora, podendo o homem plantar e estocar alimentos, era possível fixar
residência, construindo casas sólidas, muros, moinhos e dando origem às primeiras
vilas. O homem se sedentarizou e organizou famílias. As mulheres não precisavam
mais transportar os filhos em longas caminhadas. Podiam, portanto, ter uma prole
bem maior e dedicar-se também à agricultura, quebrando com a antiga divisão
sexual do trabalho. Do mesmo modo, as crianças – no mundo nômade um empecilho
– agora poderiam ajudar os pais na agricultura e pastoreio. Por isso, entre 10 e 6 mil

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anos atrás, a população humana saltou de 100 mil para 3,2 milhões de indivíduos na
região do Oriente Médio e Norte da África, a primeira explosão demográfica da
história.
Junto com a agricultura, em algum momento, surge também a propriedade
das terras sendo, em alguns locais, privada, e, em outros, coletiva. Para Friedrich
Engels, esse é o momento em que surge o machismo: em A Origem da Família, da
Propriedade Privada e do Estado, a submissão histórica da mulher tem como causa o
desejo de preservação da propriedade privada. Ou seja, se a mulher for livre e puder
ter vários amantes, a propriedade se diluiria; agora, se tiver um marido controlando-
a rigidamente, ela passará seguramente para as mãos de seus filhos.
É dessa época o surgimento do celte de pedra polida (o machado ou enxó), que
para o arqueólogo antigo era o marco da época neolítica. Com ele, o homem lidava
com a madeira, podendo iniciar a carpintaria. Os arados, rodas, botes de madeira,
casas de maneira, tudo isso exige, para sua manufatura, machados e enxós.
A roda, atrelada ao boi, burro ou jumento, poderia fazê-lo transportar um carro
ou vagão, facilitando enormemente o comércio. Para o ceramista, a roda horizontal,
no centro da qual podia fixar sua argila e dar-lhe movimento rotativo, permitiu a ele
montar em poucos minutos um vaso que demoraria vários dias de trabalho.
Tem-se como grande marca desse período, portanto, o crescimento das
cidades. A cidade é uma região onde a maioria dos indivíduos se dedica a atividades
não diretamente ligadas à agricultura ou qualquer outro trabalho do setor primário.
Em geral, as pessoas se dedicam ao setor secundário (fabricação de utensílios,
armas, roupas, a construção de edifícios, etc) e ao terciário (comércio, serviços
religiosos e médicos, administração pública e segurança).
Visto isso, os arados, inventados a cerca de 7.500 anos, melhoraram a
agricultura e permitiram sua prática em novas áreas. Com o avanço constante das
técnicas na agricultura, aumentou também o excedente, que, por sua vez, permitiu a
criação de grandes cidades. Por que o excedente na agricultura permite o
surgimento das cidades? O excedente permite, em primeiro lugar, o comércio. Em

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segundo lugar, o excedente permitiu que algumas pessoas não se dedicassem
exclusivamente à produção de alimentos, e trabalhassem em outras atividades:
pessoas poderiam trabalhar exclusivamente com cerâmica, tecelagem, construção
de navios, comércio, e, principalmente, em atividades ligadas ao poder e a religião,
como escribas, sacerdotes, legisladores, militares. Esses grupos apropriavam-se dos
alimentos dos agricultores pelo comércio e pelos impostos. À medida que a
população crescia, eram feitas grandes obras de distribuição de água, como os
canais e diques para irrigação dos campos. Com uma sociedade mais complexa,
surgia a divisão entre ricos e pobres, governantes e governados, letrados e
analfabetos, camponeses e citadinos. O crescimento das cidades e esse aumento da
complexidade social são chamados por Gordon Childe de Revolução Urbana (ou 2ª
Revolução Neolítica), um dos fenômenos mais importantes da história.
Onde a Revolução Urbana se iniciou? Entre 6.000 e 3.000 a.C., as primeiras
grandes cidades surgiram no Oriente Médio e Norte da África, na região do
Crescente Fértil, especialmente na Mesopotâmia (região do atual Iraque) e no Egito,
nos quais as cidades chegaram a possuir 35 mil habitantes. É no Oriente Médio a no
norte da África, portanto, que vemos o nascimento do que se convencionou chamar
civilização.
O Ligado a esses fatores, nessa região surgiu o Estado, que assumiu a tarefa de
organizar a produção, a distribuição, a cobrança de impostos, o comércio, os
exércitos, a construção de obras de irrigação e os cultos religiosos. Por que, no
Oriente Médio, surgiu o Estado? A chamada hipótese causal hidráulica defende que
o Estado surgiu como uma necessidade organizacional: como as sociedades estavam
cada vez maiores, apenas uma força suprafamiliar poderia coordenar a abertura de
canais para irrigar os campos e canais para drenar os pântanos, as barragens para
conter as violências das águas, exterminar animais ferozes que lá moravam, abrir
florestas, construir diques e montar plataformas para proteger os homens e gado da
água, elevando-os acima da enchente. Nas palavras de Gordon Childe, "a
necessidade de grandes obras públicas para secar e irrigar a terra, e proteger as

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aldeias, tendeu a consolidar a organização social e centralizar o sistema
econômico." A função do faraó de cuidar das obras de irrigação e as pinturas
representando-os nessa função compravam sustentam tal hipótese.
A escrita – entendida como registro gráfico de uma língua – apareceu
primeiramente na Mesopotâmia em, aproximadamente, 3.300 a.C., de acordo com o
historiador Marcelo Rede. O aparecimento da escrita é um fenômeno altamente
complexo: é o momento em que a mente humana aumenta sua capacidade de
abstração e passa a associar um símbolo e a um significado. De qualquer forma, tem-
se uma pergunta essencial, por que surgiu a escrita e por que ela pode ser
considerada um marco da passagem da “Pré-História” para a “Antiguidade”? O
surgimento da escrita está ligado ao próprio aumento da complexidade social desse
mundo Médio Oriental. Em outras palavras, a escrita surgiu a partir da necessidade
de registro de informações e dados, do controle do comércio de bens, o registro das
oferendas, a coleta de impostos, o controle da mão-de-obra gerada pelo acréscimo da
divisão social do trabalho. Com as relações sociais mais complexas, não era possível
armazenar os dados mais pela memória ou por objetos ( tokens) específicos. E mais: a
escrita é um componente do poder, quer dizer, um instrumento de dominação dos
reis, a partir do registro de seus discursos e batalhas, e dos sacerdotes, registrando
histórias mitológicas. A escrita surge, portanto, como um instrumento de controle,
administração e de ordenação social. Portanto, o surgimento da escrita está
completamente ligado ao surgimento de civilizações complexas, por isso seu
aparecimento pode ser considerado um marco do fim da Pré-História. Na chamada
escrita pictográfica, podemos pressupor o que significam os sinais (um jarro, uma
cabeça de touro, dois triângulos, etc), vendo-os; na escrita ideográfica, os símbolos
significam ideias. Na escrita fonética, os sinais representam sons. Na Mesopotâmia,
os sinais eram marcados na argila mole com um estilete em forma de cunha, sendo,
por isso, chamada de cuneiforme. A epopeia de Gilgamesh, da Mesopotâmia, é o
mais antigo poema escrito que temos notícia. Por marcar sua escrita na argila, os
documentos mesopotâmicos foram preservados e são os mais antigos que temos

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conhecimento. A escrita cuneiforme empregava cerca de mil caracteres distintos;
por isso, para ler ou escrever, o aluno tinha de decorar esse volume formidável de
sinais e aprender as regras complexas de sua combinação. A escrita egípcia, por sua
vez, tinha cerca de 500 sinais: era uma arte difícil e especializada. Na América, os
incas utilizavam um tipo de escrita chamada quipu – os nó nas cordas atuavam
como mnemônicos para um sistema de conhecimento mantido sobretudo na cabeça
dos especialistas, em que as posições dos nós nas várias cordas faziam-nos
recordarem o conhecimento que haviam consignado à memória. A leitura era uma
iniciação misteriosa, conseguida apenas através do ensino decorado. Daí o
surgimento de um grupo de escribas.
O período entre o quinto e o quarto milênio antes de cristo é um momento de
imensas e importantíssimas transformações nas sociedades humanas. No final do
período Neolítico, os homens passaram a desenvolver a metalurgia. Por isso, no final
do Período Neolítico, inicia-se o período conhecido como A Idade dos Metais.
Primeiramente, ainda na Pré-História, temos o uso do cobre e do estanho (entre 6 e 3
mil a.C.). O cobre, quando aquecido a 1.200 graus, funde-se e pode ser modelado. O
homem deveria, então, ter certo conhecimento de química prática para distinguir
que tipos de pedra se transformariam em cobre, quando aquecidos com o carvão.
Somente os minérios de cobre de superfície podem ser reduzidos diretamente pelo
aquecimento com o carvão; os minérios mais profundos são geralmente sulfetos e
têm de ser queimados a céu aberto, para oxidá-los, antes que possam ser fundidos.
Depois, já na Antiguidade, no apogeu das civilizações palacianas do Egito e da
Mesopotâmia, o bronze (uma mistura entre cobre e estanho, entre 3 e 1.300 a.C.).
Finalmente, no contexto de decadência dos palácios, o ferro (que surge por volta de
1.300 a.C.). O ferro, mais comum que o cobre e o estanho que compõe o bronze, é
muito mais viável e barato: sua difusão permitiu aos homens cultivarem novas
terras, derrubarem florestas e drenarem novos solos, como bem mostra a pré-
história da Escócia ou da Noruega, por exemplo. Nesse período, surgiram a cerâmica,
a fiação, a tecelagem, a metalurgia, os navios, os veículos com rodas, os calendários,

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os sistemas de pesos e medidas, a matemática e, finalmente, a escrita e,
principalmente, as cidades. O arqueólogo dinamarquês Christiam Thomsen, em 1825,
baseado nessas evidências, propôs dividir a história humana em Idade da Pedra,
Idade do Bronze e Idade do Ferro.

Autoria: Daniel Gomes de Carvalho

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