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módulo 01

HISTÓRIA

AS PRIMEIRAS
SOCIEDADES
HUMANAS

A PRÉ-HISTÓRIA

A Pré-História é o termo usado para designar o período


da história, que compreende o estudo das comunidades
humanas que não haviam desenvolvido a escrita como for-
ma de comunicação. Os arqueólogos e os paleontólogos
são os principais especialistas no estudo das sociedades
pré-históricas.
A Pré-História está dividida em três períodos: O período
Paleolítico, ou Idade da Pedra Lascada, compreendido entre
2,5 milhões de anos atrás até 10.000 a.C.; o período Neolítico,
ou Idade da Pedra Polida, compreendido entre 10.000a.C e
4.000 a.C e a Idade dos Metais de 5.000 a.C. até a invenção
da escrita.
Durante o período Paleolítico, as primeiras comunidades
humanas eram nômades, isto é, não se fixaram em um terri-
tório específico.
Organizavam-se em clãs (famílias extensas), controlavam
o fogo, viviam da coleta, da caça e da pesca, e, quando os
alimentos escasseavam ou o clima se tornava menos pro-
pício, abandonavam a região em busca de novas fontes de
sustento. Dizemos, então, que os homens do período Paleolí-
tico, além de nômades, eram caçadores e coletores. Durante
o nomadismo, viviam em cavernas ou cabanas feitas com
galhos e palhas.

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O trabalho era coletivo, assim como a
apropriação dos frutos desse trabalho, ou
seja, não havia a propriedade privada e
não existiam diferenças sociais. Embora o
objetivo fosse a manutenção da comuni-
dade, aos poucos, foram sendo produzidos
excedentes, algumas vezes trocados com
outras comunidades próximas.
As primeiras civilizações possuíam uma
visão de mundo marcada por uma divini-
zação dos elementos da natureza. Como
sua compreensão sobre ela carecia de
Os homens no período paleolítico andavam em bandos. explicações que surgiram com o questio-
Há cerca de 500 mil anos, esses homens namento científico, transformavam suas
passaram a produzir e a controlar o fogo. Com características em divindades, a quem cul-
o novo advento, passaram a usar o fogo para tuavam em busca de segurança, proteção
se aquecerem, afugentar animais selvagens, e boas colheitas.
como também preparar os próprios alimentos. A chamada arte rupestre, caracterizada
Durante o período Neolítico, iniciou-se o pela pintura feita pelos homens no inte-
processo de sedentarização com a prática da rior das cavernas, comprova a habilidade
agricultura. A Revolução Agrícola, ocorrida no humana de retratar aspectos de sua vida
ano 10.000 a.C., foi a inovação que garantiu o cotidiana, bem como a necessidade de
sustento das comunidades, através da colheita comunicação entre os membros da comu-
periódica de alimentos. Dizemos, então, que os nidade.
homens do período Neolítico além de sedentá-
rios, eram agriculturistas. A domesticação de SAIBA MAIS SOBRE A ARTE RUPESTRE
animais também foi um importante fator para
a fixação das comunidades humanas em um
território definido.
É evidente que as atividades de coleta e de
caça não foram abandonadas. O processo de
sedentarização gerou, também, uma divisão
de tarefas entre homens e mulheres. Embora
não ocorresse em todas as comunidades, em
geral, os homens se encarregavam da caça, da
pesca, do pastoreio e da fabricação de armas, e SAIBA MAIS SOBRE A PRÉ-HISTÓRIA:
as mulheres, da agricultura e do artesanato em
cerâmica .


Com o fim da Idade da Pedra, deu-se iní-
cio a Idade dos Metais, também considerada
por muitos historiadores, como a última fase
do período Neolítico. Durante a Idade dos
Metais, o homem desenvolveu os primeiros
O homem passou a viver em grupo a partir do período Neolítico. objetos de metais.

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O cobre foi o primeiro metal a ser trabalha-
do, derretido e fundido pelo homem, há cer-
ca de 6.000 anos. O manuseio do bronze e,
posteriormente, do ferro possibilitaram a
produção de instrumentos e armas mais efi-
cazes para as necessidades da comunidade.
O desenvolvimento das forças produtivas
ocorreu entre 6000 a.C. e 3000 a.C., permi-
tindo o início da chamada Revolução urbana.
O mais importante desses avanços foi
o aparecimento da metalurgia, isto é, do Entre as gravuras pré-históricas, é possível ver a roda.
trabalho com os metais. Essa tarefa exigia
uma dedicação exclusiva, o que levou a uma
especialização de funções nas comunidades.
Simplificadamente, podemos dizer que a di-
O ANTIGO EGITO
visão do trabalho passa a ser feita através da
atividade na qual o membro da comunidade
se especializasse, como artesão ou agricultor, “O Egito é uma dádiva do Nilo.”, Heródoto
por exemplo. O Egito, uma das grandes civilizações da
A utilização de animais domesticados Antiguidade Oriental floresceu às margens
como força motriz foi outro passo decisivo do Rio Nilo. A dependência da fertilidade
para a transformação citada. O arado de bois do rio para a prática da agricultura deu ori-
foi fundamental neste momento, assim como gem ao conceito de sociedade hidráulica.
a invenção da roda, decisiva para dinamizar
os transportes .
Os novos conhecimentos, ao gerarem
uma maior divisão de tarefas entre os
membros da comunidade e um aumento da
produção de bens materiais, levaram a uma
importante modificação nas relações sociais
de produção: a apropriação privada do ex-
cedente produzido coletivamente.
Aos poucos, essa apropriação privada
se estendeu à própria terra, um dos fatores
fundamentais para a produção de bens ma-
teriais, dando início à divisão da sociedade
em proprietários e não proprietários dos
meios de produção.

O Estado egípcio, na figura dos reis, ficava


responsável pelo controle das obras, pelo sis-
tema de irrigação e pela produção agrícola.
A necessidade de irrigar terras para o
Carro de guerra Sumério, cerca de 2.500 a.C. desenvolvimento da agricultura fez com

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que nos nomos (aldeias), se instaurasse um meados pelo faraó. A sociedade egípcia estava
sistema de trabalho baseado na servidão organizada de forma complexa e hierarquizada,
coletiva. conforme a representação da pirâmide abaixo.
O trabalho compulsório foi predomi-
nante na realização das obras públicas, no
controle das águas do rio e na condução A SOCIEDADE EGÍPCIA
dessas águas a regiões mais distantes das
margens, através dos canais de irrigação.
O controle desses esforços era realizado
pelo chefe local, o nomarca, autoridade
máxima das aldeias.
Aos poucos, os diversos nomos foram
se reunindo, criando dois reinos: o Baixo e
o Alto Egito. O Baixo Egito correspondia a
região do Delta e o Alto Egito, ao Vale do
Nilo.

Na sociedade egípcia, o faraó estava acima


de todos, e os nomarcas, como seus repre-
sentantes diretos, ficavam encarregados de
todas as funções de governo nas províncias.
Embora privilegiados, deviam obediência ao
faraó.
Os sacerdotes ficavam encarregados dos
cultos religiosos; os escribas eram os homens
que dominavam a leitura e a escrita, além
de serem os funcionários responsáveis pelas
finanças e controle dos estoques de cereais.
Tinham uma posição social de destaque, as-
A FORMAÇÃO DO ESTADO sim como os membros do exército.

TEOCRÁTICO A atividade agrícola era realizada pelos


camponeses (felás), que representavam a
maioria da população. De direito, a terra per-
A UNIFICAÇÃO DO EGITO tencia ao Estado, ou seja, ao faraó. De fato,
a terra pertencia aos grupos dirigentes que
pagavam vários tributos ao faraó. Cabia ao
Por volta do ano 3.200 a.C, o líder político Estado, a direção de toda a economia.
Menés ( Narmer, Men ou Meni), do Alto Egito
conquistou o Baixo Egito, unificando o território

sob um único governo.
Menés identificou-se com a di-
vindade de seu clã, Hórus, dando
origem a uma monarquia despóti-
ca (autoritária) e teocrática, em que o
faraó-soberano, era considerado
um deus vivo na Terra, e detinha o
controle da vida da população.
Os antigos nomos foram transformados em
províncias, e os nomarcas passaram a ser no-

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trução das famosas pirâmides de
OS ESCRIBAS Quéopps, Quéfren e Miquerinos, constru-
ídas nas proximidades de Ménfis, então, a
Os escribas ou sesh possuíam grande capital do Egito.
destaque na sociedade egípcia. Eles eram Durante o Antigo Império, o poder do
responsáveis pela arte da escrita. Usavam faraó foi fortalecido, gerando conflitos
tanto a escrita hieróglifa e hierática como internos imediatos com os nomarcas e
a escrita demótica. Era papel dos escribas grandes proprietários de terra, que bus-
realizar o registro de todos os aconteci- cavam a redução deste poder.
mentos do Império egípcio. Entre outras
funções, estava a de arquivista, copista, Os nomarcas buscavam desestabilizar
contador ou secretário. a autoridade do faraó, que inicialmente
chegou a perder força diante dos nomar-
cas, que imediatamente reforçaram seus
poderes nas províncias.
SAIBA MAIS SOBRE OS ESCRIBAS:
Também foi neste período que ocorre-
ram diversas revoltas de camponeses e
de escravos contra as péssimas condições
em que viviam. Ao final deste período, o
poder do faraó estava enfraquecido.

PERÍODOS DA HISTÓRIA EGÍPCIA


Podemos dividir a História da civiliza-
ção egípcia em quatro períodos: o Antigo
Império (de 3000 a 2300 a .C .), Médio Im-
pério (de 2050 a 1750 a .C .), Novo Império
(de 1580 a 1080 a .C .) e o Baixo Império
As pirâmides de Gizé são um dos monumentos mais famosos do mundo. Foram
(de 1080 a 525 a .C .) . As datas são apro- construídas para serem tumbas reais dos reis Quéops (Kufu), Quéfren e Miquerinos
ximadas e os períodos de intervalo foram (Menkaure) - pai, filho e neto.
marcados por invasões externas .
Podemos citar como principais caracte- SAIBA MAIS SOBRE AS PIRÂMIDES DE GIZÉ:
rísticas de cada um destes períodos

ANTIGO IMPÉRIO (3200 A.C. -2300A.C.)


O Antigo Império esteve marcado
pela construção de obras de drenagem e
irrigação, que permitiram a expansão da
agricultura no Egito Antigo. Outras im-
portantes construções datam ainda deste
período, como a construção de grandes FAÇA UMA VISITA VIRTUAL AO EGITO
pirâmides, que serviam como tumbas
para os faraós, que buscavam se eternizar
após a morte.
É deste período também a cons-

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os egípcios passaram a escravizar os he-
breus, que se libertaram do domínio egíp-
cio, com o evento histórico conhecido por
Êxodo, em 1250 a.C.
As conquistas egípcias se ampliaram e
durante o governo de Tutmés II (1480 a.C.

a 1448 a.C.), que foi o responsável pela
maior expansão territorial da História do
Egito Antigo. O império egípcio estendeu
MÉDIO IMPÉRIO seus domínios em direção à Núbia e ao
Oriente Médio.
(2050 A.C. A 1750 A.C.) No governo de Ramsés II (1292-1225
a.C.), houve importante vitória do Egito
O início deste período esteve marcado
sobre os Hititas e sua expansão ampliou-
pelo período de instabilidade causada pela
-se para as regiões da Palestina e da Síria.
disputa entre os nomarcas e o faraó. Pas-
Por seu caráter expansionista e militarista,
sadas essas movimentações sociais, o fa-
o Egito se tornou o primeiro império mun-
raó conseguiu fortalecer o seu poder e foi
dial da História.
possível recuperar a estabilidade, iniciando
um novo ciclo de prosperidade política e Durante o governo do faraó Amenófis
econômica no Egito. IV, foi implementada uma reforma religiosa
que unificou a religião egípcia e fez de
Amenhemet I foi coroado imperador,
Aton o deus de todos os egípcios.
inaugurando a XII dinastia egípcia. Du-
rante o seu governo, as agitações sociais O principal objetivo da reforma estava
foram contidas e houve uma reestru- em fortalecer o poder do faraó. Esta ten-
turação do Império. A capital do Egito tativa de criar uma religião monoteísta
foi transferida para Iti-taui, ao norte do esbarrou na reação da maior parte da po-
Egito, e o faraó, também ordenou a cons- pulação, que não aceitou abandonar seus
trução de fortalezas no delta do Rio Nilo, antigos deuses.
evitando ataques estrangeiros.
Os nomarcas tiveram seus poderes
locais reduzidos, enquanto o faraó resta-
belecia-se como autoridade soberana.

NOVO IMPÉRIO (1580A.C-1080A.C.)

Este período foi originado da vitória


egípcia na luta contra os Hicsos e marca-
do, também, por inúmeras conquistas ter-

ritoriais. Este momento assistiu à formação
de uma nova aristocracia que substituiu os
antigos nomarcas, formada pelos chefes Amenofis IV também chamado de Akhenaton (“aquele que adora a Aton”)
realizou a construção da cidade de Akhetaton (“horizonte do disco solar”), então
militares responsáveis pela expulsão dos
transformada em capital de todo o Império Egípcio.
invasores.
O retorno do poder dos faraós, após o
período de dominação militar dos Hicsos,
fez com que o império egípcio voltasse a
prosperar. Durante o governo de Amósis,

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historiador Heródoto: “Primeiro com um
gancho de ferro extraem o cérebro pelas
narina, mas só retiram uma parte; o resto
é deslocado com o auxílio de drogas. Em
seguida, servindo-se de uma pedra cortan-
te, fazem uma incisão ao longo do flanco
e esvaziam o corpo das vísceras. Na parte
interior, já limpa, passam vinho de palmeira
e pulverizam substâncias aromáticas; de-
pois enchem o ventre com mirra triturada,
cassia e outros aromas conhecidos, com
exceção do incenso; finalmente,, voltam
Amenhat I
a cosê-lo. Impregnam o cadáver de sal e
mergulham-no em natrão durante setenta
dias. Decorrido esse período, lavam a
BAIXO IMPÉRIO múmia e a envolvem completamente com
(1080 A.C A 525 A. C) tiras de gaze muito finas, embebidas em
uma goma que os egípcios usam como
alternativa à cola.”
Foi o período caracterizado pela perda
de poder político do faraó e por diversas
crises internas e externas. Com as perdas Os egípcios também mumificavam o
dos territórios anteriormente ocupados, os coração, que era devolvido ao seu lugar
grupos que controlavam o Estado aumen- original antes do enfaixamento do ca-
taram a exploração sobre camponeses e dáver. As vísceras recebiam tratamento
escravos para compensar a diminuição da igualmente diferenciado e eram acondi-
arrecadação de tributos do exterior. cionados em vasos canópicos, na câmara
funerária.
As revoltas camponesas facilitaram as in-
vasões externas. Derrotados pelos persas, No rito da morte, havia diferença en-
os egípcios perderam a sua independência. tre os faraós e seus súditos. Os súditos
eram sepultados em covas escavadas
no deserto, nas quais eram depositadas
algumas peças de louça e adornos hu-
O FIM DO IMPÉRIO EGÍPCIO mildes. O processo de mumificação da
população era menos sofisticado do que
aquele realizado nos cadáveres dos reis.
O império egípcio caiu sob o domínio do A tumba do faraó ostentava uma opu-
império romano, após a derrota de Cleópa- lência, uma engenhosidade arquitetônica,
tra, na batalha de Alexandria, tornando-se localização privilegiada e dimensões co-
uma província romana. lossais.
Com a morte da rainha Cleópatra em 30 De acordo com a doutrina heliopolitana,
a.C, o milenar império egípcio chegou ao fim. a morte conduzia o faraó ao encontro do
deus sol Rá. Aos súditos, assegurava-se
apenas, a ressurreição em seus próprios
O PROCESSO DE MUMIFICAÇÃO túmulos, nos quais viveriam uma segunda
existência.
Os egípcios eram mestres na arte do
embalsamamento. A mumificação ocorria
em diversas etapas, assim descritas pelo

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A religião foi um fator determinante
para a organização da sociedade egípcia.
Cada nomos tinha o seu próprio deus, ge-
ralmente representado por um animal, ao
qual cultuavam. Os egípcios acreditavam
na vida após a morte, o que justificava o
processo de mumificação e da colocação
de objetos e alimentos no túmulo dos
mortos.
Processo de mumificação - Luiz Iria

SAIBA MAIS SOBRE A MITOLOGIA EGÍPCIA:

SAIBA MAIS SOBRE O PROCESSO DE MUMIFICAÇÃO A Arqueólogos do Egito descobriram mais de 80 sarcófagos no dia 19/10/2020 na
DO EGITO: necrópole de Saqqara, um cemitério que também abriga uma das pirâmides mais
antigas do mundo.

atividades
1. A expressão Revolução Neolítica designa: E) a transformação política que encerrou o período do
chamado “comunismo primitivo.
A) o processo de transformação da relação do homem com
os animais e as plantas que proporcionou maior controle 2. Sobre a reforma religiosa promovida pelo faraó
das fontes de alimentação. Amenófis IV, podemos afirmar que:
B) a transformação política resultante da ascensão dos grupos
guerreiros nas sociedades agrícolas do Crescente Fértil. A) tinha por objetivo fortalecer o poder dos sacerdotes.
C) a transformação técnica ocorrida com o desenvolvimento B) desenvolveu o politeísmo, pois garantiu a liberdade de
de artefatos de pedra polida. culto aos diversos nomos.
D) as rebeliões camponesas desencadeadas pelo desenvol- C) atrasou o avanço do monoteísmo, desejado pelos sacerdotes.
vimento da sociedade de classes.

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D) buscou implantar o monoteísmo para reforçar o poder do B) facilidade de navegação no rio, o que permitia uma
faraó. ligação comercial com o mundo grego.
E) eliminou completamente o poder dos sacerdotes na C) exigência dos ritos religiosos egípcios, que tinham como
sociedade egípcia. principal cerimônia a purificação da alma em águas
profundas.
3. No Egito Antigo as várias formas de organização D) possibilidade de usar a água do rio para atividades agrí-
política tinham como característica predominante: colas e pastoris, o que permitiu a formação de núcleos
urbanos.
A) a organização teocrática do poder e os constantes confli- E) abundância de peixes no rio, o que garantiu o desen-
tos entre o poder central e os poderes locais. volvimento da pesca, principal atividade econômica no
Egito antigo.
B) a ausência de ligação entre religião e política e o despres-
tígio social dos sacerdotes.
C) o expansionismo e a política imperialista responsável 7. As terras no Egito Antigo pertenciam, de direito:
pelo aumento da escravidão.
D) a preocupação com a igualdade social do povo através da A) aos camponeses, que as cultivavam em regime de traba-
posse coletiva da terra. lho coletivo.
E) a grande mobilidade social e um poder central acentua- B) ao faraó, como representante do Estado.
damente fraco. C) aos sacerdotes, que as exploravam em benefício da
religião.
4. Assinale a alternativa que indica a sequência D) aos nomarcas, que delas retiravam o sustento de seus
habitual do aparecimento das principais fases da nomos.
evolução sociocultural do homem: E) aos escravos, que efetivamente nela produzissem.

A) Idade dos Metais, Neolítico e Paleolítico.


8. “Funcionário típico da administração egípcia,
B) Paleolítico, Neolítico, Idade dos Metais.
podendo ocupar elevados cargos. Dominava a
C) Neolítico, Paleolítico e Idade dos Metais. leitura e a escrita.” Esta definição se refere ao:
D) Idade dos Metais, Paleolítico e Neolítico.
E) Paleolítico, Idade dos Metais e Neolítico. A) sacerdote. D) escravo.
B) faraó. E) escriba.
5. A chamada Revolução Neolítica teve como uma C) felá.
de suas características básicas:
9. Na época da pré-história o mundo todo era
A) o modo itinerante de vida, característico dos caçadores formado por enormes florestas, rios, desertos e
primitivos. regiões geladas. Os homens viviam em contato
B) o controle da produção de alimentos baseado na coleta direto com a natureza.
de frutos, grãos e raízes. Sobre esse período, responda:
C) o abandono da vida sedentária e a expansão da vida
nômade.
A) Como foi possível proteger a sobrevivência dos homens
D) a progressiva adoção das atividades agrícolas e pastoris, durante o Paleolítico?
levando ao processo de sedentarização.
_________________________________________
E) o controle do fogo, que permitiu o desenvolvimento da _________________________________________
metalurgia. _________________________________________
_________________________________________
6. O desenvolvimento da civilização egípcia ao lon- B) Explique por que o fogo foi um dos principais achados do
go do rio Nilo pode ser explicada pela: Paleolítico?
_________________________________________
A) existência de grandes quantidades de metais preciosos _________________________________________
no leito do rio, o que enriquecia o Estado. _________________________________________

HISTÓRIA | VOLUME 1 181


10. Um dos mais antigos registros escritos conhecidos Sobre o material arqueológico proveniente do
surgiu no Egito. A região foi também berço do Antigo Egito, é correto afirmar que:
Estado e da diferenciação social. Escrever requeria
anos de aprendizado e apenas alguns poucos, A) sua destruição afetaria a economia do Egito, mas não
como os escribas, dedicavam-se a essa tarefa. Nos traria consequências sérias para a ciência e para a história,
dias atuais, o conceito de analfabetismo mudou. que já estudaram esse material.
A Unesco adota a noção de analfabeto funcional:
pessoa capaz de escrever e de ler frases simples, B) grande parte dele foi destruído pelos próprios egípcios
mas que não consegue usar informações escritas, ainda na Antiguidade, como estratégia para proteger os
para satisfazer suas necessidades diárias e para segredos de sua cultura dos invasores.
desenvolver seu conhecimento. C) foi uma das causas dos protestos contra o governo, que
Explique para que servia a escrita no Egito antigo pagou grandes somas para reaver objetos em poder de
e relacione o conceito contemporâneo de analfa- países europeus .
betismo com a ideia de exclusão social. D) permitiu compreender a importância dos rituais fúnebres,
como atestam os sarcófagos do Vale dos Reis.
__________________________________________ E) tem grande valor artístico e confirmou o que já se sabia
__________________________________________ dos antigos egípcios por meio de documentos escritos.
__________________________________________
12. Há cerca de 2000 anos, os sítios superficiais e sem
__________________________________________ cerâmica dos caçadores antigos foram substituídos
__________________________________________ por conjuntos que evidenciam uma forte mudança
na tecnologia e nos hábitos. Ao mesmo tempo que
__________________________________________ aparecem a cerâmica chamada Itararé (no Paraná)
__________________________________________ ou Taquara (no Rio Grande do Sul) e o consumo de
vegetais cultivados, encontram-se novas estruturas
__________________________________________ de habitações.
__________________________________________
(Adaptado de André Prous . O Brasil antes dos
__________________________________________ brasileiros . A pré-história do nosso país . Rio de Janeiro:
Zahar, 2007, p .49.)
__________________________________________

O texto associa o desenvolvimento da agricultura


11. Em janeiro de 2011, os jornais noticiaram que os
com o da cerâmica entre os habitantes do atual
protestos contra o governo do Egito poderiam ter
território do Brasil, há 2000 anos. Isso se deve ao
um efeito colateral muito sério: a destruição ou
fato de que a agricultura:
dano de várias relíquias, obras e sítios arqueológi-
cos da antiga civilização egípcia . De acordo com
as agências de notícias, houve várias tentativas de A) favoreceu a ampliação das trocas comerciais com povos
saquear o museu do Cairo. Numa delas, indivíduos andinos, que dominavam as técnicas de produção de
quebraram pouco mais de uma dezena de está- cerâmica e as transmitiram aos guaranis.
tuas e decapitaram duas múmias, recentemente B) possibilitou que os povos que a praticavam se tornassem
identificadas como avós do faraó Tutankhamon. sedentários e pudessem armazenar alimentos, criando a
Alguns saqueadores pareciam procurar apenas necessidade de fabricação de recipientes para guardá-los.
por ouro. C) proliferou, sobretudo, entre os povos dos sambaquis, que
conciliaram a produção de objetos de cerâmica com a
utilização de conchas e ossos na elaboração de armas e
ferramentas.
D) difundiu-se, originalmente, na ilha de Fernando de No-
ronha, região de caça e coleta restritas, o que forçava as
populações locais a desenvolver o cultivo de alimentos .
E) era praticada, prioritariamente, por grupos que viviam nas
áreas litorâneas e que estavam, portanto, mais sujeitos as
influências culturais de povos residentes fora da América.

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13. Entre os nômades, o trabalho não tem o mesmo valor C) indicam o predomínio da técnica sobre as forças da
que nas sociedades agrárias. Os índios ianomâmis, da natureza.
Amazônia, desenvolvem suas atividades, em média, D) atestam as relações entre registros gráficos e mitos de
três horas por dia e não valorizam o trabalho nem origem.
o progresso tecnológico. Os guaiaquis, caçadores
E) registram a supremacia do indivíduo sobre os membros
nômades da floresta paraguaia, passam, pelo menos,
de seu grupo.
metade do dia em completa ociosidade. Quanto ao
desenvolvimento social, do pensar e do fazer dos
primeiros humanos, é correto afirmar que a: 15. O Egito é visitado anualmente por milhões de
turistas de todos os quadrantes do planeta,
desejosos de ver com os próprios olhos a grandio-
A) produção de novas ferramentas de pedra polida foi a
sidade do poder esculpida em pedra há milênios:
transformação mais importante ocorrida nesse período.
as pirâmides de Gizé, as tumbas do Vale dos Reis
B) fabricação de ferramentas e a utilização do fogo eviden- e os numerosos templos construídos ao longo do
ciam que a sobrevivência humana não está diretamente Nilo. O que hoje se transformou em atração turís-
relacionada à adaptação cultural do homem. tica era, no passado, interpretado de forma muito
C) abundância de recursos animais e vegetais promoveu a diferente, pois:
sedentarização do homem.
D) capacidade de conseguir mais alimentos deu ao homem A) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós
menor controle sobre o meio ambiente. tinham para escravizar grandes contingentes populacio-
E) troca da caça e da coleta pela agricultura ocorreu de nais que trabalhavam nesses monumentos.
maneira súbita. B) representava para as populações do Alto Egito a possi-
bilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos
14. As pinturas rupestres são evidências materiais do canteiros faraônicos.
desenvolvimento intelectual dos seres humanos. C) significava a solução para os problemas econômicos, uma
Embora tradicionalmente estudadas pela Arque- vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas riquezas,
ologia, elas ajudaram a redefinir a concepção de construindo templos.
que a História se inicia com a escrita, pois: D) representava a possibilidade de o faraó ordenar a socie-
dade, obrigando os desocupados a trabalharem em obras
A) funcionam como códices velados de uma comunidade à públicas, que engrandeceram o próprio Egito.
espera de decifração. E) significava um peso para a população egípcia, que con-
B) expressam uma concepção de tempo marcada pela denava o luxo faraônico e a religião baseada em crenças e
cronologia. superstições.

HISTÓRIA | VOLUME 1 183


módulo 02
HISTÓRIA

ANTIGUIDADE
CLÁSSICA GREGA

APRESENTAÇÃO

A civilização grega pode ser considerada um dos fundamentos da cultu-


ra ocidental. Na política, suas contribuições foram o ponto de partida para
o desenvolvimento da noção de cidadania. Na filosofia, o desenvolvimento
do racionalismo foi fundamental para o avanço do conhecimento sobre a
natureza. Nas artes, a valorização da estética deu origem a uma busca de
formas baseadas no equilíbrio e na beleza raramente ultrapassada. Assim
sendo, devemos ter bastante atenção no estudo desta civilização.

FORMAÇÃO DO POVO GREGO

184 1? ANO | ENSINO MÉDIO


O período pré-homérico teve como
LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA principal característica as invasões de
diversos povos indo-europeus à região,
Podemos localizar a Hélade (Grécia sendo destes os mais importantes:
Antiga) em um território que englobava
o Sul da Península dos Bálcãs, as ilhas do
Mar Egeu e a costa da Ásia Menor. Na fase • os aqueus, que por volta do ano
de maior expansão, podemos incluir o Sul 2000 a.C. invadiram Creta e funda-
da Itália (Magna Grécia) e a costa egeia da ram Micenas. Apesar de serem os
Ásia Menor. conquistadores, assimilaram parte
da cultura cretense, dando origem à
A existência de um território insular e Civilização creto-micênica;
um continental (Península Balcânica) fa-
cilitou a fragmentação política do mundo • os jônios, que, aproximadamente
grego. Nesta área, o relevo montanhoso e em 1700 a.C., fundaram Atenas,
a existência de poucas terras férteis tam- expandindo-se, mais tarde, para a
bém dificultaram a integração das diversas Ásia Menor.
comunidades.
Assim cada região ou cidade-estado Aqueus e jônios eram povos seminô-
criou formas de organização política e mades e se organizavam em clãs patriar-
estruturas sociais diversas, cada qual com cais denominados genos. Liderados por
as suas próprias características, o que difi- patriarcas, os genos eram formados por
culta uma periodização única para toda a famílias originadas de um único ancestral
Grécia Antiga. e que adoravam a um mesmo deus. A
reunião de alguns desses genos para fins
militares dava origem às fratrias, que, uma
vez unidas, constituíam uma tribo e eram
UMA PROPOSTA DE PERIODIZAÇÃO comandadas pelo basileu, que detinha os
poderes militar, religioso e jurídico.
Os genos se baseavam na propriedade
Podemos dividir a História da Grécia coletiva dos bens e buscava a autossufici-
Antiga em cinco períodos: o Pré-Homérico ência econômica. O trabalho de todos os
(de 2000 a.C a 1200a.C); Micênico ou Ho- seus membros era a exigência para a par-
mérico (de 1200 a.C a 800 a .C .); o Arcaico ticipação nos frutos da produção coletiva.
(de 800 a.C. a 500 a .C .); o Clássico (de
500a.C. a 336 a .C .) e o Helenístico (de 336
a.C a 146 a .C .)
PERÍODO MICÊNICO OU
HOMÉRICO
PERÍODO PRÉ-HOMÉRICO
O Período Micênico ou Homérico foi
Os povos indo-europeus (arianos) foram marcado pela invasão dos dórios, que,
responsáveis pela fundação de grandes em torno a 1200 a.C., fundaram a cidade
civilizações da Europa, como também, de de Esparta. Militarmente poderosos, pois
parte da Ásia. Esses povos caracterizavam- já dominavam o ferro, destruíram grande
-se pelas intensas levas migratórias e pela parte da civilização creto-micênica.
subsequente formação de cidades. As Aos poucos, esses grupos foram
cidades gregas de Atenas, Esparta e Tebas se sedentarizando, e, embora ainda
foram fundadas por povos indo-europeus, preservassem por um longo tempo as
tais como os dórios, os jônios, os aqueus e antigas estruturas comunitárias, estas
os eólios. foram sendo abandonadas à medida

HISTÓRIA | VOLUME 1 185


que se desenvolveu uma divisão social Homero teria sido um poeta grego a quem
complexa, com a formação de uma no- é atribuída a autoria de duas grandes obras
breza hereditária, originada do estabe- clássicas da Antiguidade: Os poemas épicos:
lecimento do direito de herança paterna A Ilíada e a Odisseia. Ainda hoje não há uma
para o filho mais velho. Desenvolveu-se, prova concreta de que Homero realmente teria
assim, a propriedade privada e, com ela, existido.
a acumulação individual da riqueza. No Heródoto, historiador grego, considerou Ho-
Período Arcaico, este processo foi con- mero um dos principais formuladores de toda
solidado, com a formação das cidades- mitologia grega.
Estado.
Aqueles que, na comunidade não ti-
nham acesso à terra (denominados tetas), SAIBA MAIS SOBRE HOMERO:
passaram a trabalhar para esta aristo-
cracia. Nesse período também se origina
uma escravidão doméstica ou patriarcal,
estabelecendo relações de escravidão
entre um homem livre (proprietário) e um
escravo (que trabalhava lado a lado de seu
dono, ajudando-o na produção de bens e
habitando na mesma casa).
A desagregação dos genos e a dissemi-
nação da propriedade privada foram, len-
tamente, retirando o poder do basileus e
fortalecendo a aristocracia fundiária. Esta,
organizada no Conselho de Anciãos, minou A ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE GREGA NO
a influência do governante até que ela se PERÍODO HOMÉRICO
restringisse apenas ao aspecto religioso.
A Assembleia Popular, composta apenas
por guerreiros, referendava as decisões Os membros dos genos eram chamados
tomadas. de gens e eram dependentes da unidade
familiar. Possuíam grande independência
Desta maneira, formou-se na Grécia
econômica. Os genos conquistaram auto-
Antiga o Estado, cujos objetivos eram:
nomia política, mesmo a organização so-
garantir o domínio da aristocracia (pro-
cial sendo de base familiar, toda população
prietários) sobre as classes populares
era favorecida. O trabalho desenvolvido na
e os escravos, ampliar os territórios e
nova sociedade era de cunho individual,
defendê-los de ataques externos.
mas o bem da comunidade era sempre
almejado. Havia um chefe que determinava
o papel de cada um, tudo que era produzi-
do era dividido igualmente entre os gens.
A estrutura garantia que nenhum genos se
desenvolvesse mais que outros, as famílias
que tinham dificuldade na produção eram
livres para utilizar escravos ou o trabalho
de artesãos.

QUEM FOI HOMERO? .

186 1? ANO | ENSINO MÉDIO


PERÍODO ARCAICO
Nele se deu a formação da pólis grega e
sua definitiva afirmação em cidades-estado.
O desenvolvimento do artesanato e do co-
mércio foi determinante para o nascimento
da pólis.
A escravidão possibilitou a separação
das tarefas de produção de bens. A es-
pecialização do trabalho do artesão e do
agricultor aumentou a necessidade das
trocas, uma vez que não era mais possível
a autossuficiência familiar.
Com o passar dos anos, o próprio genos
se tornou incapaz de garantir a completa
SAIBA MAIS SOBRE A LITERATURA DE HOMERO: autonomia na produção de bens, obrigan-
do ao abandono da economia de subsis-
Audiobook: A Odisseia tência e à busca de colônias fornecedoras
de produtos agrícolas e matérias-primas.
As poleis (núcleos urbanos) eram os
locais onde se realizavam as trocas comer-
ciais e o artesanato se desenvolvia mais
rapidamente.
Desta forma a pólis, que englobava o
centro urbano e a região agrícola ao seu
Audiobook: A Ilíada redor, se tornou a base da sociedade na
Grécia Antiga. A sociedade das cidades-
Estado era marcada pela existência destes
dois grupos sociais conflitantes: de uma
parte, os proprietários de terras e de es-
cravos e, de outra, os escravos.
No nível intermediário, encontramos os
homens livres – artesãos e comerciantes,
na área urbana, e pequenos proprietários,
na área rural.
Além desses conflitos internos, as
cidades-estado gregas tiveram a sua exis-
tência marcada por constantes lutas entre
si – a mais importante delas foi a Guerra do
Peloponeso. O expansionismo territorial,
tanto dentro da própria Grécia quanto fora
dela – a expansão colonialista – fazia parte
da dinâmica deste tipo de organização
social.
As principais cidades-estado foram:
Esparta e Atenas.

Obra representando o Cavalo de Troia de Giovanni Domenico Tiepolo: Procissão do


Cavalo de Troia, 1733.

HISTÓRIA | VOLUME 1 187


os periecos, populações livres que viviam
na cidade, mas sem direitos políticos, ad-
ministravam comunidades fora do centro
urbano; e os hilotas, que eram os escravos
do Estado, obrigados a trabalhar a terra
dos espartanos, da qual retiravam também
o seu sustento.
A cultura espartana era voltada para a
guerra, cabendo ao Estado a educação da
elite dirigente.

Esparta – localizada no território con-


tinental da Grécia, a cidade foi fundada
pelos dórios, por volta de 900 a.C., com-
preendendo cinco aldeias. Tendo como
base a organização gentílica (em genos),
dividiram as terras em lotes (kleros) fami-
liares.
O crescimento populacional logo deter-
minou a necessidade de busca de novos
territórios para garantir a sobrevivência
material, levando a um expansionismo EDUCAÇÃO ESPARTANA
colonialista, mas também à guerra contra
outras comunidades vizinhas. A educação espartana privilegiava a
Assim, a sociedade espartana se ca- disciplina e a formação militar. A edu-
racterizou por um forte militarismo, e as cação das mulheres era rigorosa para
estruturas sociais não puderam deixar de o desenvolvimento físico e psicológico,
refletir este aspecto. já que seriam elas a gerar os soldados
de Esparta. Os homens eram educados
Os grupos sociais eram três: espartanos
para a carreira militar, para se tornarem
ou esparciatas, que só poderiam se dedicar
cidadãos-soldados.
à guerra, formavam a classe dominante;

188 1? ANO | ENSINO MÉDIO


SAIBA MAIS SOBRE A EDUCAÇÃO MILITAR DOS Embora o movimento, liderado por Cí-
ESPARTANOS: lon, fracassasse, suas repercussões obriga-
ram os eupátridas a aceitarem a realização
de mudanças políticas.
Em 621 a.C. foram publicadas as primei-
ras leis escritas (promulgadas por Drácon),
que permitiram um maior controle popular
sobre as decisões dos tribunais, antes to-
madas com base na tradição oral.

Atenas – Atenas é considerada o berço da


democracia ocidental. Localizada na região da
Ática, foi fundada a partir da miscigenação dos
jônios com povos indo-europeus, em torno ao
ano 1000a.C., a partir da reunião de uma série
de comunidades organizadas em genos.
Sua estrutura social dividia a população
livre em três grupos: os eupátridas, que
eram os proprietários das melhores terras e
rebanhos da região; os geomores, pequenos
proprietários de terra, que podiam se tornar
Drácon e Sólon: responsáveis pelas transformações políticas de Atenas.
escravos por dívidas; os demiurgos, que eram
os atenienses ligados ao comércio e ao arte-
sanato. Ao criar o primeiro conjunto de leis
escritas atenienses, Drácon transferiu para
Com o desenvolvimento do comércio, o Estado a administração da justiça, que
a cidade atraiu muitos estrangeiros, deno- antes era feita pela aristocracia.
minados metecos, que, embora livres, não
tinham direitos políticos e civis. Os filhos A partir de 594 a.C., dando continuida-
de metecos, nascidos em Atenas, mantive- de ao movimento contra o domínio dos
ram a mesma condição social de seus pais, eupátridas, foram realizadas as Reformas
isto é, apesar de livres, permaneceram sem de Sólon. Por elas foi extinta a servidão
cidadania. por dívidas e libertados todos os que se
encontravam na condição de escravizados.
Os escravizados foram se tornando
cada vez mais necessários devido ao cres- O artesanato e o comércio foram favo-
cimento das atividades comercial e artesa- recidos, com o estímulo às exportações
nal. Muitos geomores se tornaram clientes de alimentos, e suprimido o direito de
(servos) ou escravizados dos eupátridas, primogenitura. Foi estabelecido o voto
uma vez que se endividavam para com censitário, condicionado este direito não à
estes e não conseguiam pagar os emprés- propriedade fundiária, e sim à renda anual
timos, sobre os quais eram cobrados juros de qualquer atividade.
muito altos. Outros escravizados seriam Tais reformas criaram um sistema deno-
os estrangeiros capturados em guerras e minado Plutocracia ou Timocracia (gover-
ações de pirataria . no dos ricos). Devemos ter claro que foram
O conflito entre os eupátridas e o povo libertados apenas os escravizados por
ganhou força em torno ao século VII a.C., dívida, que na origem eram geomores, não
com o apogeu do processo de colonização se tratando, de forma alguma da libertação
. Uma primeira expressão destas lutas foi a dos estrangeiros escravizados.
tentativa de derrubar o regime aristocráti- Ao contrário, houve um estímulo às ati-
co e substituí-lo pela tirania. vidades de captura de não atenienses para
suprir a falta dos escravizados por dívida.

HISTÓRIA | VOLUME 1 189


As reformas de Sólon deram origem à A divisão da região em demos (circuns-
constituição de três correntes políticas entre crições administrativas), em substituição
os cidadãos (homens livres que gozavam às tribos, enfraqueceu o poder tradicional
da plenitude dos direitos civis e políticos), . Cada demos seria governado por um De-
de acordo com os seus interesses materiais: marca, eleito para o período de um ano. O
a dos Pedianos, organizada pelos eupá- sistema eleitoral foi modificado, diminuindo
tridas; a dos Paralianos, que era integrada o poder da aristocracia fundiária.A demo-
pelos ricos comerciantes e armadores, além cracia ateniense excluía a participação de
dos proprietários das oficinas artesanais; e homens livres sem cidadania, estrangeiros,
a dos Diacranos, formada por camponeses mulheres e escravizados.
e trabalhadores assalariados (thetas).
Em 561 a C., Pisístrato, liderou a corrente
dos Diacranos e estabeleceu a tirania em
Atenas. Em seu governo, baseado no poder
PERÍODO CLÁSSICO
pessoal, contando com tropas mercenárias
Um movimento expansionista persa,
e com o apoio popular, Pisístrato confiscou
iniciado em meados do século VI a.C., deu
a maior parte das terras dos eupátridas,
origem a uma série de guerras entre per-
entregando-as aos camponeses, criou
sas e gregos, também conhecidos como
um sistema de crédito público, evitando o
Guerras Médicas, uma vez que os gregos
endividamento dos camponeses para com
chamavam os persas de medos. Essas
os eupátridas.
guerras terminaram com a vitória dos gre-
Realizou grandes obras públicas na cida- gos e consequente expulsão dos persas de
de de Atenas, garantindo emprego para um todas as regiões controladas pelos gregos.
número considerável de indivíduos, além de
estimular comércio externo, o que lhe garan-
tiu o apoio dos Paralianos. Na verdade seu
governo enfraqueceu a aristocracia agrária
(eupátridas). Após sua morte, o sistema da
tirania foi derrubado por uma insurreição
aristocrática, que contou com o apoio dos
espartanos. Contra este regime oligárquico,
se iniciou uma revolta que uniu Diacranos e
Paralianos, sob a liderança de Clístenes, que
levou Atenas a um novo patamar político: a
Democracia escravista .
O regime democrático foi estabelecido
por Clístenes, que chegou ao poder em
506 a.C., realizando uma série de reformas Durante estas guerras se formaram di-
político-administrativas. versas coligações entre as cidades-estado
gregas, sendo as duas mais importantes
a Liga de Delos, formada pelas cidades
marítimas e liderada por Atenas, e a Liga
do Peloponeso, que tinha em Esparta a sua
principal força.
A vitória, fundamentalmente marítima,
fortaleceu Atenas, que baseava o seu po-
derio no comércio marítimo e em sua força
naval. Apesar disso, os atenienses não con-
seguiram dominar toda a Grécia, uma vez
que os espartanos se negavam a aceitar a
hegemonia da rival.

190 1? ANO | ENSINO MÉDIO


Após a assinatura da Trégua dos Trinta para os cargos públicos, que seriam pre-
Anos com Esparta (455 a.C.), Atenas viveu enchidos através de sorteio, o que impedia
o chamado Século de Ouro, durante o o controle dos mesmos por um único
governo de Péricles (461 a 431 a.C.). Esta grupo social. Também iniciou uma série
fase foi marcada por um grande progresso de grandes obras públicas (a construção
econômico e cultural, tendo a Democracia do Partenon, por exemplo), diminuindo as
escravista chegado ao seu apogeu. tensões sociais na cidade com o aumento
O discurso ideal da democracia atenien- do número de empregos. Os espetáculos
se afirmava a predominância do indivíduo artísticos e as diversões públicas foram
sobre o grupo ao qual pertencia, tendo por incentivados. A escravidão permanecia
base o mérito e a capacidade de prestar como relação social de trabalho básica
serviços à cidade, porém, na realidade, esta para a produção de riqueza.
democracia era restrita aos grupos dom- O projeto expansionista ateniense se
inantes, uma vez que metecos, mulheres, chocou com os interesses de outras cidades
homens pobres e pessoas escravizadas gregas levando à Guerra do Peloponeso
continuaram a não ter garantidos direitos (431 a 404 a.C.) Em linhas gerais, o choque
políticos, como, por exemplo, o de votar. entre as ligas de Delos e do Peloponeso
representava o conflito que opunha ate-
nienses e espartanos (aos quais se aliaram
aos persas. A consequência principal da
guerra foi o fim da hegemonia de Atenas,
derrotada ao final das hostilidades.
A vitória de Esparta deu origem a uma
hegemonia desta cidade, mas a grande
beneficiária da Guerra do Peloponeso foi
a Pérsia, que manteve uma política de não
permitir o completo domínio de qualquer
das duas cidades sobre a Grécia. Em 386
a .C., depois da derrota frente aos persas,
agora rivais, encerrou-se a hegemonia es-
partana . Após um breve período de hege-
SAIBA MAIS: SOBRE A HISTÓRIA DA DEMOCRACIA monia de uma outra cidade-estado, Tebas,
a Grécia devastada e exausta se tornou
alvo fácil para a expansão da Macedônia .
A vitória de Filipe II, da Macedônia, so-
bre as tropas tebanas e atenienses, em 338
a.C., levou à realização de um Congresso
das cidades gregas, em Corinto, convoca-
do pelo próprio Filipe II. Nele foi selada a
paz entre as cidades gregas e declarada
SAIBA MAIS SOBRE: A DEMOCRACIA ATENIENSE: a guerra contra a Pérsia. A partir deste
momento, a Macedônia passou a exercer a
hegemonia na região.

PERÍODO HELENÍSTICO
Com a morte de Filipe II, assumiu o trono,
em 336 a .C ., seu filho, Alexandre, que teve
como preceptor o filósofo grego Aristóteles,
Péricles estabeleceu a remuneração

HISTÓRIA | VOLUME 1 191


o que lhe permitiu um vasto conhecimento humanos, tendo as lendas relativas a eles
da cultura clássica grega. Alexandre deu dado origem à Mitologia grega. Templos,
continuidade à política expansionista de seu festas e sacrifícios de animais foram de-
pai, dominou a Fenícia, a Palestina, o Egito, dicados a estes deuses.
e derrotou os persas, formando o Império As principais obras de arquitetura,
Helenístico. escultura e pintura tinham um fundo
Sua política sobre as regiões conquis- religioso. A Literatura e o Teatro foram
tadas baseava-se na preservação das outras das mais brilhantes contribuições
instituições políticas e religiosas locais, da Grécia Antiga à cultura mundial. Os
incentivando a miscigenação entre os poemas de Homero – a Ilíada e a Odisseia
macedônios e a população local e incor- –, bem como a Teogonia de Hesíodo, es-
porando jovens das diversas áreas con- tão entre os mais representativos desta
quistadas ao exército macedônio. Estes cultura, estendendo sua influência até os
jovens eram educados na língua e nos dias de hoje. As Tragédias de teatro de
costumes gregos. Ésquilo, Sóflocles e Eurípides, até hoje
A fusão dos elementos culturais gregos são representadas com muita aceitação.
aos orientais deu origem à denominada
cultura helenística.
A morte de Alexandre (323 a.C.) iniciou
uma disputa entre seus generais por sua
sucessão. Estas lutas fracionaram o im-
pério Macedônico e deram origem a um
grande número de Reinos Helenísticos,
que se estruturavam de forma centraliza-
da, sendo os governantes considerados
deuses, governando de forma despótica.

A CULTURA GREGA
SOBRE A DEMOCRACIA
Uma das principais contribuições da
cultura grega para a cultura ocidental A democracia ateniense se diferencia
moderna foi a passagem do pensamento da democracia moderna. Somente os cida-
mítico para o pensamento racional. Ou dãos atenienses, ou seja, pessoas do sexo
seja, das explicações mágico-religiosas masculino, nascidos em Atenas, com pais
para a busca de leis que regem a nature- atenienses e maiores de dezoito anos, par-
za e as relações humanas. Neste sentido, ticipavam das questões políticas da pólis.
a pólis grega foi fundamental, ao permitir Hoje, como seria impossível reunir toda
a divisão do trabalho e a acumulação de a população de um país em um único
riqueza, e, com isto, dar origem a um local, temos a democracia representativa,
grupo de pessoas que desenvolvesse o através da qual o povo é representado por
aspeto intelectual e reflexivo do ser hu- membros da sociedade, eleitos através do
mano. sufrágio universal, municipal, estadual e
A religião grega era politeísta, existin- federal.
do uma hierarquia entre os deuses. Estes
tinham sentimentos e comportamentos

192 1? ANO | ENSINO MÉDIO


Esferas
A mitologia grega é a base de muitas
políticas do Legislativo Executivo aventuras e epopeias fantásticas que se
Brasil tornaram verdadeiros mitos gregos . A
Vereadores verdade é que a Grécia Antiga com os
Municipal
se organizam
Prefeito
seus deuses e deusas, as lendas, a histó-
nas Câmaras ria, religião e sociedade avançada sem-
Municipais
pre fascinaram muitos. Muitos são os que
Deputados passam a vida a estudar as instituições
Estaduais
políticas e religiosas da Grécia antiga,
Estadual participam das Governadores
Assembleias com a esperança de ajudar a desvendar
Legislativas mais algum mistério desta fantástica ci-
Deputados vilização.
Federais e
Senadores Presidente da
Federal
formam o República Os doze principais deuses da mitologia
Congresso grega, também conhecidos por Deuses
Nacional. Olímpicos, eram:

• Zeus é considerado como os deus


dos deuses, do céu e do mundo dos
vivos era também o senhor do Olim-
po e dos raios.
• Hera é esposa de Zeus, deusa da
família, do lar e protetora do casa-
mento.
• Poseidon é o deus dos oceanos e
mares.
• Hades era o deus do mundo inferior.
• Atena era a deusa da guerra justa, da
“…Pelo voto não se serve a um amigo, não justiça, da sabedoria.
se combate um inimigo, não se presta ato de • Apolo era tido como o deus do Sol,
obediência a um chefe, não se satisfaz uma sim- das artes e das profecias.
patia. Pelo voto a gente escolhe, de maneira defi- • Artemis era vista como a deusa da
nitiva e irrecorrível, o indivíduo ou grupo de indiví- luz da lua, da castidade e da caça
duos que nos vão governor por determinado prazo noturna.
de tempo.” • Afrodite vinha a ser a deusa do amor
Rachel de Queiroz, Crônica ‘Votar’, publicada na
revista O Cruzeiro de 1947.
e da beleza.
• Ares era o deus da guerra.
• Hefesto era o deus do fogo e da
SAIBA MAIS SOBRE: metalurgia .
• Deméter considerada a deusa da
Como funcionam as eleições no Brasil
natureza e da agricultura.
• Dionísio era visto como o deus do
teatro, do vinho e das festas.
• Para a historiadora francesa J. Ro-
millys, a Guerra do Peloponeso foi
o “suicídio profundo da Grécia das
cidades”.

HISTÓRIA | VOLUME 1 193


EXERCÍCIO
RESOLVIDO
EXERCÍCIO RESOLVIDO

A) O que foi a Guerra do Peloponeso?


A Guerra do Peloponeso foi entre os próprios gre-
gos . A Liga do Peloponeso, liderada por Esparta,
contrapunha-se à Confederação de Delos, liderada por
Atenas. Esparta, militarista e aristocrática, sentia-se
ameaçada pelo crescimento da influência de Atenas, a
cidade democrática.
B) Por que a autora afirma que a guerra foi o “suicídio” das
cidades-estado gregas?
Essa guerra levou ao enfraquecimento e à decadên-
Helena de Troia e Paris . No imaginário da antiguidade grega esta mulher foi a
cia geral das cidades gregas, abrindo caminho para
responsável pela Guerra de Tróia.
o domínio macedônico.

Na Filosofia bastaria lembrar os nomes


de Sócrates, Aristóteles e Platão para veri-
ficar a importância do pensamento grego
neste campo do conhecimento.

atividades
1. Com o advento da democracia na pólis grega E) adaptados aos antigos ideais aristocráticos e de autarquia
durante o período clássico, foram: (do período homérico e arcaico) aos novos ideais de
economia de mercado do período clássico.
A) abandonados completamente os ideais de autarquia
da pólis, de glorificação da guerra e a visão aristocrática 2. "Usamos a riqueza mais como uma oportunidade
da sociedade e da política, que haviam caracterizado os para agir que como motivo de vanglória; entre
períodos anteriores. nós não há vergonha na pobreza, mas maior
B) introduzidos novos ideais baseados na economia de vergonha é não fazer o possível para evitá-la,
mercado, na condenação da guerra e na valorização olhamos o homem alheio às atividades públicas
da democracia, mais condizentes com a igualdade não como alguém que cuida apenas dos seus
vigente. próprios interesses, mas como um inútil decidi-
C) preservados os antigos ideais de autarquia, da guerra, mos as questões públicas por nós mesmos, ou
da propriedade da terra, do ócio, como valores positi- pelo menos nos esforçamos para compreendê-las
vos. claramente, na crença de que não é o debate que
é empecilho à ação e sim o fato de não se estar
D) recuperadas antigas práticas do período homérico
esclarecido pelo debate antes de se chegar a hora
abandonadas no período arcaico – como a escravidão
da ação.”
em grande escala e o imperialismo econômico .

194 1? ANO | ENSINO MÉDIO


Esta passagem de um discurso de Péricles, repro-
SAIBA MAIS: MULHERES DE ATENAS
duzida por Tucídides, expressa:

A) Os valores ético-políticos que caracterizaram a democra-


cia ateniense no período clássico.
B) Os valores ético-militares que caracterizaram a vida
política espartana em toda a sua história.
C) A admiração pela frugalidade e pela pobreza que carac-
terizou Atenas na fase democrática.
D) O desprezo que a aristocracia espartana devotou ao luxo A letra da música “Mulheres de Atenas” esboça
e à riqueza ao longo de toda a sua história. o papel da mulher na sociedade ateniense. Que
E) Os valores ético-políticos de todas as cidades gregas, papel é esse e no que se diferencia do papel exer-
independentemente da sua forma de governo. cido pela mulher espartana?

_________________________________________
3. A decadência da Grécia, que teve início a partir _________________________________________
do século IV a.C., é explicada, entre outros fatores,
pela: _________________________________________
_________________________________________
A) ausência de unidade política e pelas lutas entre as
cidades-estado. 5. “Então Alexandre aproximou-se ainda mais dos
B) invasão cretense na cidade de Troia e pela destruição da costumes bárbaros que ele também se esforçou em
civilização micênica. modificar mediante a introdução de hábitos gregos,
com a ideia de que essa mistura e essa comunicação
C) evolução da pólis que colaborou para o desenvolvimento
recíproca de costumes dos dois povos, contribuiria
do ideal de democracia na região do Peloponeso.
mais do que a força para solidificar o seu poder.”
D) organização social das cidades-estado de Atenas e (Plutarco, Vidas Paralelas)
Esparta estruturada no trabalho escravo dos indivíduos
oriundos da Messênia. O texto trata da política de conquista de Alexan-
dre, o Grande.
E) postura isolacionista desenvolvida pelas cidades-estado
sem condições de participar do comércio marítimo e,
logicamente, sem oportunidades de desenvolvimento A) Quem eram os bárbaros?
econômico.
_________________________________________

4. Leia o texto abaixo: _________________________________________


_________________________________________
“Mirem-se no exemplo daquelas mulheres de _________________________________________
Atenas. Geram pros seus maridos os novos filhos de
Atenas Elas não têm gosto ou vontade B) No que consistiu a sua política de conquista?
Nem defeitos nem qualidades
_________________________________________
Não têm sonhos, só presságios
O seu homem, mares, _________________________________________
naufrágios Lindas sirenas _________________________________________
morenas”. _________________________________________

(Chico Buarque de Holanda e Augusto Boal) _________________________________________

HISTÓRIA | VOLUME 1 195


6. “O escravo torna possível o jogo social, não porque
garanta a totalidade do trabalho material (isso O trecho acima faz parte do discurso feito por Pé-
jamais será verdade), mas porque seu estatuto de ricles em homenagem aos atenienses mortos na
anticidadão, de estrangeiro absoluto, permite que guerra do Peloponeso. Por esse discurso é correto
o estatuto de cidadão se desenvolva; porque o co- afirmar que:
mércio de escravos e o comércio simplesmente, a
economia monetária, permitem que um número
A) a guerra do Peloponeso foi injusta e trouxe muitas mortes
bem excepcional de atenienses sejam cidadãos.”
tanto para os atenienses como para os espartanos, que
(Pierre Vidal-Naquet, Trabalho e escravidão na
Grécia Antiga) lutavam em lados opostos pela hegemonia da Grécia.
B) Péricles se orgulhava da cidade de Atenas por ser ela uma
Esse desenvolvimento paralelo da escravidão e da cidade democrática, que não imitava o sistema político
cidadania obrigou os atenienses a realizar suces- de outras cidades-estado, mas era imitada por elas.
sivas reformas políticas. Discorra sobre o papel de C) Atenas e Esparta possuíam o mesmo sistema político
Clístenes nesse processo. descrito por Péricles, a democracia, mas divergiam sobre
como implantá-lo nas demais cidades-estado gregas.
__________________________________________ D) Atenas, por não partilhar do sistema político democrático
__________________________________________ de Esparta, criou a Liga de Delos e declarou Guerra à Liga
do Peloponeso.
__________________________________________
E) Esparta era a única cidade-estado democrática em toda
a Grécia antiga e desejava implantar esse sistema nas
7. “É preciso dizer que, com a superioridade excessiva cidades-Estado gregas.
que proporcionam a força, a riqueza, [ ... ] [os muito
ricos] não sabem e nem mesmo querem obedecer 9. “No caso da Grécia, a evolução intelectual que vai
aos magistrados [ ... ] Ao contrário, aqueles que de Hesíodo [séc . VIII a.C.] a Aristóteles [séc. IV a
vivem em extrema penúria desses benefícios .C .] pareceu-nos seguir, no essencial, duas orien-
tornam-se demasiados humildes e rasteiros. Disso tações: em primeiro lugar, estabelece-se uma dis-
resulta que uns, incapazes de mandar, só sabem tinção clara entre o mundo da natureza, o mundo
mostrar uma obediência servil e que outros, inca- humano, o mundo das forças sagradas, sempre
pazes de se submeter a qualquer poder legítimo, mais ou menos mesclados ou aproximados pela
só sabem exercer uma autoridade despótica.” imaginação mítica, que às vezes confunde esses
(Aristóteles, “A Política” .) diversos domínios (...)”.

Segundo Aristóteles (384-322 a.C.), que viveu em


(Jean-Pierre Vernant. Mito e pensamento entre os
Atenas e em outras cidades gregas, o bom exercí- gregos . Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1990, p 17)
cio do poder político pressupõe:
A partir da citação anterior e de seus conhecimentos,
A) o confronto social entre ricos e pobres. pode-se afirmar que, no período indicado, os gregos.
B) a coragem e a bondade dos cidadãos.
C) uma eficiente organização militar do Estado. A) separavam completamente a razão do mito, diferencian-
do a experiência humana de suas crenças irracionais.
D) a atenuação das desigualdades entre cidadãos.
B) acreditavam em seus mitos, relacionando-os com acon-
E) um pequeno número de habitantes na cidade.
tecimentos reais e usando-os para entender o mundo
humano.
8. C) definiram o caráter irracional do ser humano, garantindo
“Vivemos sob uma forma de governo que não plena liberdade de culto e crença religiosa.
se baseia nas instituições de nossos vizinhos; ao D) privilegiavam o mundo sagrado em relação ao humano e
contrário, servimos de modelo a alguns ao invés ao natural, recusando-se a misturar um ao outro.
de imitar outros. Seu nome é democracia, pois a
E) defendiam a natureza como um reino intocável, tomando
administração serve aos interesses da maioria e
o homem como um risco para o bem-estar do mundo.
não de uma minoria.”

(Adaptado de Tucídides, História da Guerra do Peloponeso.)

196 1? ANO | ENSINO MÉDIO


10. Segundo Aristóteles, “na cidade com o melhor
conjunto de normas e naquela dotada de homens
absolutamente justos, os cidadãos não devem
viver uma vida de trabalho trivial ou de negócios
– esses tipos de vida são desprezíveis e incom-
patíveis com as qualidades morais –, tampouco
devem ser agricultores os aspirantes à cidadania,
pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento
das qualidades morais e à prática das atividades
políticas.”
(VAN ACKER, T . Grécia . A vida cotidiana na
cidade-Estado . São Paulo: Atual, 1994 .)
12. Por volta de 2500 a.C., os gregos realizavam festivais
O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, esportivos em homenagem a Zeus, que reuniam
permite compreender que a cidadania: representantes de várias cidades-estado. Por se
realizarem no santuário da cidade de Olímpia,
receberam o nome de Olimpíadas. Apenas cidadãos
A) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada,
livres participavam das competições, e elas tinham
pois é condenável que os políticos de qualquer época
uma enorme importância religiosa, tanto que as
fiquem entregues à ociosidade, enquanto o resto dos
guerras paravam. Quando os romanos passaram a
cidadãos tem de trabalhar.
dominar a Grécia (século II a.C.), esses jogos foram
B) era entendida como uma dignidade própria dos grupos perdendo importância até serem proibidos.
sociais superiores, fruto de uma concepção política
Em 1894, o nobre francês Pierre de Coubertin consti-
profundamente hierarquizada da sociedade.
tuiu o Comitê Olímpico Internacional que promoveu
C) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção as Olimpíadas Modernas. Os novos princípios olím-
política democrática, que levava todos os habitantes da picos traziam uma dimensão política: “O objetivo do
pólis a participarem da vida cívica. movimento olímpico é colocar o esporte a serviço
D) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual do desenvolvimento harmonioso da humanidade,
o tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às ativi- visando promover uma sociedade pacífica, empe-
dades vinculadas aos tribunais. nhada em preservar a dignidade humana”.
E) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que (Adaptado de Revista Guia do Estudante/ Atualida-
des Vestibular 1º semestre/ 2008.)
se dedicavam à política e que tinham tempo para resolver
os problemas da cidade.
Sobre as Olimpíadas, é válido afirmar que:
11. O Templo da Concórdia foi construído no sul da
Sicília, no século V a.C., e é um marco da: A) as divergências políticas e alguns conflitos armados entre
as nações passaram a ser resolvidos pelo incentivo ao
A) arte românica, caracterizada pelos arcos de meia volta e esporte.
pela inspiração religiosa politeísta. B) os jogos da Antiguidade apresentavam um caráter
B) arquitetura clássica, imposta pelos macedônios à ilha no sagrado que permitia a ligação entre a divindade e os
processo de helenização empreendido por Alexandre, o participantes.
Grande. C) os jogos em Olímpia evidenciavam a igualdade social
C) arte etrusca, oriunda do norte da península itálica e que havia entre os cidadãos livres e os não livres.
desenvolvida no Mediterrâneo durante o período de D) os princípios criados em 1894, por Pierre de Coubertin,
hegemonia romana. fizeram do esporte uma estratégia para confirmar a
D) arquitetura dórica, levada à ilha pelos gregos na expansão supremacia de algumas nações.
e colonização mediterrânea da chamada Magna Grécia. E) o Comitê Olímpico Internacional, em 1894, decidiu
E) arte gótica, marcada pela verticalização das construções manter a importância religiosa que era característica dos
e pela sugestão de ascese dos homens ao reino dos céus. jogos da Grécia Antiga.

HISTÓRIA | VOLUME 1 197


13. “Na cidade grega antiga, ser cidadão não significa- 15. Observe a imagem a seguir.
va apenas fazer parte de uma entidade ‘nacional’,
mas também participar numa vida comum.”
(MOSSÉ, Claude . O cidadão na Grécia antiga .
Lisboa: Edições 70, 1999, p . 51 .)

Tomando por base a afirmativa acima, pode-se


compreender corretamente que a vida na pólis,
para o cidadão, significava:

A) romper com a religião e os mitos e adotar o modo de vida


proposto pelos filósofos, o de disseminar a filosofia e a
democracia para todas as cidades-estado gregas.
B) realizar o ideal grego de unificação política, militar,
geográfica, econômica, religiosa e cultural de todas as
cidades-estados e assim suprimir as tiranias e as oligar-
quias.
C) exercer obrigatoriamente uma magistratura ao longo da
vida, pois o aprendizado político por todos representava
a garantia do bem-estar social e da manutenção da
A personagem Mafalda do cartunista Quino está
democracia.
reagindo à primeira definição de democracia nes-
D) formar um corpo de súditos cujas decisões políticas se sa charge. Tal reação é oportuna pela diversidade
orientavam para a manutenção do poder econômico e de desdobramentos e pelos usos que a democra-
religioso das famílias detentoras de frotas que comerciali- cia foi e está sendo utilizada ao longo dos séculos.
zavam pelo Mediterrâneo. Mesmo passando tanto tempo desde a primeira
E) integrar uma comunidade que visava ao seu bem comum definição de democracia, algumas afirmações
por meio de decisões políticas, da adoção de uma defesa permanecem válidas.
militar e de práticas religiosas que buscavam benefícios e
proteção dos deuses da cidade.
Assinale a alternativa correta.

14. A sociedade humana constrói sua história, bus-


A) A democracia deve ser estabelecida pela igualdade
cando superar suas dificuldades e refletindo sobre
jurídica nas eleições, uma segurança pública militarizada
seus problemas. O teatro é uma representação
e o nacionalismo integral ou ultranacionalismo.
artística de grande valor no mundo ocidental, co-
laborando para conhecer as angústias humanas e B) Em um sistema democrático, o poder pode ser atribuído
as possibilidades de criação. Na Grécia Antiga, as com base em eleições livres em que ocorra a participação
tragédias, como produção artística, tinham como política ampla e a concorrência justa pelos cargos eleti-
objetivo: vos.
A) divertir a população mais velha e educá-la para a vida C) Em uma democracia liberal, o governo eleito expressa a
democrática na política e no cotidiano familiar. vontade do povo e, para isso ser possível, esse governo
deve possuir poderes ilimitados sem regulações.
B) redefinir o valor da religião, destruindo o significado dos
mitos e inventando deuses mais astuciosos. D) A democracia deve ser estabelecida com o braço forte
do Estado para permitir a uma pessoa ou a um grupo
C) exaltar o poder da aristocracia, criticando a desigualdade
o poder político necessário para se conduzir o país ao
social e defendendo a coragem dos heróis militares.
progresso.
D) refletir sobre os problemas humanos, com preocupações
educativas, para pensar nos limites existenciais de cada
um.
E) enaltecer o povo grego, consagrando Homero e Sófocles
como seus poetas épicos, construtores de personagens
imortais.

198 1? ANO | ENSINO MÉDIO


módulo 03
HISTÓRIA

ANTIGUIDADE
CLÁSSICA ROMANA

APRESENTAÇÃO

A importância da civilização romana para a cultura ocidental é


inegável. Do mesmo modo que os gregos, os romanos influenciaram
as instituições, os costumes, a filosofia, as artes, enfim, uma série de
componentes das sociedades ocidentais atuais. Na verdade, é co-
mum encontrar a expressão cultura greco-romana para indicar uma
das principais vertentes do mundo ocidental, ou do mundo ‘clássico’.
Prestemos, portanto, muita atenção ao estudo desta civilização.
A Cidade de Roma foi fundada em 753a.C, na Planície do Lácio, na
região central da Península Itálica. A Península estava habitada por
gauleses, etruscos, italiotas- nas planícies centrais, e pelos gregos, ao
sul. Os latinos, que habitavam a planície do Lácio, na época da funda-
ção de Roma, destacaram-se entre as tribos indo-europeias.

LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA

A Civilização romana tem como origem a expansão da cidade de


Roma, localizada próxima ao litoral tirrênico da Península Itálica. Em
sua expansão, primeiro conquistou toda a península, submetendo os
povos da região. Durante a fase imperial, seus domínios se estenderam
da atual Inglaterra, ao Norte, ao Egito, ao Sul. Do atual Portugal, a
Oeste, à atual Síria, a Leste.
A Península Itálica, berço da civilização romana, possuía um solo
bastante fértil, dando origem a comunidades que tinham na agricultura
a sua principal atividade. No caso de Roma, o Rio Tibre, às margens do

HISTÓRIA | VOLUME 1 199


qual a cidade foi fundada, era importante
fator de fertilidade do solo, além de ser A MONARQUIA
completamente navegável.
Durante o período monárquico, o mun-
do romano se organizava com base nas
gens (famílias com um ancestral comum
e os mesmos deuses). Desde o início, po-
rém, a gens romana se constituiu em uma
organização aristocrática, pois desde cedo
imperou o direito paterno e de transmis-
são de herança. Os patrícios formavam a
aristocracia agrária proprietária de terras,
e seus parentes pobres, pertencentes às
gens, eram chamados clientes. Estes de-
viam tributos e prestação de trabalho em
troca de um pedaço de terra que lhes era
concedido por um patrício. Note-se a rela-
ção de dependência pessoal dos clientes
em relação aos patrícios. Somente estes
dois grupos eram considerados romanos.
ANTECEDENTES Os homens livres que não pertenciam
a uma gens romana, membros de popu-
Diversos povos ocupavam a Península lações dominadas pelos romanos, eram
Itálica antes da fundação de Roma. Des- denominados plebeus. Eram súditos de
tes, os mais importantes para o nosso Roma, isto é, não tinham o direito de cida-
estudo foram os latinos, que ocupavam dania, reservado apenas aos romanos.
o curso inferior do Tibre, e os etruscos,
ao Norte de Roma, na atual região da
Toscana. Por volta do século VII a.C., os
etruscos formavam uma Liga, que con- A LENDA DE RÔMULO E REMO
gregava diversas cidades-Estado por
eles fundadas. Tinham como atividades A fundação de Roma está rodeada de
principais a agricultura, a criação de lendas, que foram unificadas principalmente
gado, a manufatura (têxtil e metalurgia) pela Eneida, de Virgilio, reunindo em uma
e o comércio marítimo. Estabeleceram história coerente, versões diferentes.
contatos com colônia fenícia de Car- Segundo a versão da Eneida, Roma foi
tago, e através dos cartagineses e das fundada entre 754 a C. e 753 a.C., embora a
colônias gregas estabelecidas no Sul data de fundação de Roma seja comemo-
da Península, (Magna Grécia), seus pro- rada, por tradição, em 21 de abril, por isso
dutos chegavam a todo o Oriente e ao também chamado de “Natal de Roma”. Seus
mundo grego. fundadores foram os irmãos Rômulo e Remo.
A fundação de Roma é contada na Esses irmãos gêmeos foram fruto do relacio-
lenda dos irmãos Rômulo e Remo, que namento entre o Deus Marte e a sacerdotisa
no século VIII a.C. teriam fundado a ci- mortal Rhea Silvia, sobrinha de Amúlio, Rei de
dade . Alba Longa, e filha de Numitor que havia sido
Podemos dividir a História de Roma deposto pelo irmão.
em três períodos, segundo seus diversos Temendo perder o trono para os sobrinhos,
regimes políticos: Monarquia (753 a.C. a Amúlio prende Rhea Silvia e coloca os gême-
509 a.C.); República (509a.C a 27 a .C.); os, Rômulo e Remo, dentro de um cesto e os
Império (27 a .C . a 476 d C.) joga no rio Tibre pouco depois de nascerem.

200 1? ANO | ENSINO MÉDIO


Foram milagrosamente salvos por uma
loba saída dos bosques e enviada pelo Deus MONARQUIA ROMANA
Marte para salvá-los, e por ela amamentados.
Posteriormente foram recolhidos por um A tendência geral no período da Monar-
pastor de ovelhas, Fáustulo e por sua mulher quia foi o fortalecimento do patriciado
Acca Larentia, que os cria como pastores da e o agravamento da situação da plebe. A
região. Quando se tornam adultos e desco- estrutura de poder baseada no rei, que
brem a sua verdadeira história, voltam para reunia em si os poderes político, religioso,
se vingar de Amúlio e devolver o poder a militar e jurídico, tinha no Senado (Conselho
Numitor. Tempos depois resolvem fundar uma de Anciãos) um órgão de assessoramento.
cidade e, como divergem sobre o nome e o Do Senado só podiam fazer parte patrícios,
local, Rômulo acaba matando Remo, fundan- tendo preferência as famílias mais ricas e
do Roma e se tornando seu primeiro monarca. poderosas.
No século IV a.C., o rei Sérvio Túlio re-
alizou uma importante reforma social, ao
permitir aos plebeus o acesso ao serviço
militar. Esta tendência de aproximação
dos reis à plebe levou à derrubada da
monarquia, por uma revolta da aristocracia
patrícia contra o rei Tarquínio, que tentara
impor uma tirania, em 509 a.C.

SAIBA MAIS SOBRE A LENDA DE RÔMULO E REMO:

SOCIEDADE ROMANA
Patrícios: grandes proprietários de terra;
ocupavam os maiores cargos políticos.
Plebeus: pequenos proprietários, comer-
ciantes e artesãos, pequena participação
política (conquistada com anos de luta).
Clientes:  sem propriedades e sem par-
ticipação política; ex-escravos e filhos de
escravos livres; prestavam serviços para os
patrícios.

A loba do Capitólio.

HISTÓRIA | VOLUME 1 201


Escravizados:  sem propriedades (eles comunidade, porém os patrícios se be-
mesmos eram propriedade de outrem) e neficiavam da política de distribuição
sem participação política; base do trabalho. das terras públicas, uma vez que esta era
determinada pelas instituições políticas
controladas pelo patriciado.
Com a participação dos plebeus no
exército, a questão da propriedade da
terra se agravou, uma vez que, enquanto
as propriedades patrícias eram aumenta-
das pelas novas conquistas, o abandono
das terras pelos homens da plebe criava
dificuldades para a manutenção da sua
(www.enciclopedia.com.pt – Capturado em propriedade.
07/01/2010.)
Durante a República, os patrícios consolidaram seu poder através do Senado, As lutas sociais, entre patrícios e ple-
principal órgão republicano. beus, tenderam à radicalização. Estes
últimos conquistaram, sucessivamente: o
direito de elegerem um tribuno da plebe,
A REPÚBLICA que poderia vetar as leis contrárias aos
interesses daquela classe (exceto em caso
de guerra); a Lei das XII Tábuas, conjunto
Para prevenir outras tentativas de de leis escritas válidas tanto para patrícios
concentração excessiva do poder nas como para plebeus; a Lei Canuleia, que
mãos de um só governante, o patriciado permitiu o casamento entre membros
colocou no lugar do rei dois magistrados, das duas classes, levando à associação
cônsules, que eram eleitos por um ano. entre as famílias plebeias mais ricas e
Um deles detinha o poder militar fora de os patrícios, dando origem a uma nova
Roma, enquanto o outro era responsável aristocracia (nobilitas); a lei que proibiu a
pelas questões internas. Em caso de grave escravidão por dívidas; a lei que permitiu
ameaça à ordem pública seriam substi- o acesso de plebeus aos antigos e aos
tuídos, por seis meses, por um ditador. novos cargos públicos, dentre outras.
Abaixo deles, questores, cobradores de
No primeiro momento, este expan-
impostos (publicanos) e pretores manti-
sionismo atendeu aos interesses do
nham o controle sobre a plebe a partir da
patriciado na obtenção de novas terras
legislação que beneficiava o patriciado.
cultiváveis – ager publicus, na busca de
O Senado romano, que mantivera as alianças políticas e no lucrativo negócio
mesmas características quanto aos seus dos fornecimentos ao exército . Foi a fase
membros, passara a ser o órgão máximo em que a expansão se dirigiu para a Pe-
da República. O mandato dos senadores nínsula Itálica .
era vitalício.
Na fase republicana da História de
A plebe tinha seus representantes na Roma, uma das principais questões sociais
Assembleia Popular, que, no entanto, ape- entre patrícios e plebeus foi à disputa pelo
nas votava leis preparadas pelo Senado. controle do ager publicus, isto é das ter-
A agricultura era a principal atividade ras incorporadas ao Estado pela expansão
econômica durante o período republi- territorial militar.
cano. Predominavam numericamente as
Até 202 a .C., quando terminou a
pequenas propriedades, cultivadas pelos
Segunda Guerra Púnica, Roma ainda
próprios donos, algumas vezes utilizando
não havia se interessado pelo o Oriente.
escravos. Com a tendência expansionis-
Naquele momento, os domínios romanos
ta, aumentaram as terras pertencentes
limitavam-se ao Ocidente, que, em com-
ao Estado – ager publicus. Estas terras
paração com o antigo Império de Ale-
deveriam ser cedidas aos membros da

202 1? ANO | ENSINO MÉDIO


xandre Magno, era pouco desenvolvido e concentração de terras nas mãos dos
bastante empobrecido. patrícios.
Vale, no entanto, lembrar que os povos Mas não foram apenas as terras con-
do Ocidente – Itália, sul da Gália e parte quistadas aos povos do Ocidente que
da Península Ibérica – tinham uma riqueza fizeram a fortuna e o poder dos patrícios.
que despertava a cobiça dos patrícios: Com a conquista do Oriente e a imposi-
suas terras. Tais terras foram confiscadas ção da administração romana, um imenso
e convertidas em terras públicas, o cha- volume de dinheiro começou a fluir para
mado ager publicus. as mãos dos patrícios e para os cofres do
Apesar de públicas, foram vendidas Estado, a ponto de este se dar ao luxo de
ou arrendadas aos patrícios, os únicos abrir mão do imposto fundiário e do tribu-
que, na prática, tinham acesso a elas. Foi to cobrado do povo em tempo de guerra.
justamente essa privatização das terras
públicas que impulsionou o processo de

ROMA

509 A.C. 27 A.C.


Grupos REPÚBLICA Instituições
Sociais

Lei das
Latifundiários Votar leis

Aristocratas Patrícios Doze Tábuas Eleições

Eleger
Magistrado
Governantes Lutas por
igualdade

Tribunal da Governo da
Pebleus Magistrado
peble Cidade

Artesãos Comerciantes
Senado
Sem direitos
Camponeses
politicos
Ratificar Política
Política
as leis exterior
econômica

HISTÓRIA | VOLUME 1 203


SAIBA MAIS SOBRE A LEI DAS XII TÁBUAS

A EXPANSÃO TERRITORIAL
ROMANA

Quando a expansão se voltou para


territórios além da Península Itálica, os

A CRISE DA REPÚBLICA
interesses se voltaram para o controle do
comércio do Mediterrâneo, a cobrança de
tributos, o pagamento de indenizações
de guerra, a exclusividade na exploração
ROMANA
de minas e, fundamentalmente, o recru-
tamento de escravos entre a população Com a expansão além da Península
dominada. Itálica e a incorporação de vários territó-
rios sob a forma de províncias tributárias,
A conquista da Península Itálica se ini- a economia romana foi profundamente
ciou no século V a.C., tendo os romanos alterada.
derrotados todos os povos que domina-
vam a região – sabinos, volscos, etruscos, A atividade comercial ganhou um enor-
latinos samnitas e gregos. Quando uma re- me dinamismo, superando em importância
gião era conquistada, um terço das terras a atividade agrícola. Tal fato deu origem à
se tornava ager publicus e era distribuída classe dos équites ou cavaleiros, formada
aos cidadãos romanos. por aqueles que enriqueceram com as
atividades comerciais, embora fossem
A segunda fase da expansão levou a discriminados pela aristocracia tradicional.
dominação romana da Península Ibérica
à Síria, e da Gália ao Norte da África. Seu Por outro lado, houve um enfraqueci-
momento inicial foi marcado pelas guerras mento dos pequenos e médios proprietá-
contra a colônia fenícia de Cartago (Guer- rios rurais, que, como vimos, eram obriga-
ras Púnicas), pelo controle da Sícilia e do dos a participar das campanhas militares,
comércio do Mediterrâneo. afastando-se de suas propriedades, que
tinham a sua produção declinante.
A expansão romana teve inúmeras con-
sequências para Roma, e elas levaram à Esses proprietários passaram a ter que
crise ao regime republicano. enfrentar a concorrência com os produtos
vindos das províncias a preços mais baixos.
Tudo isto os obrigou, em um bom número,
a vender suas terras para os grandes pro-
prietários, fazendo com que o latifúndio
dominasse o campo romano.

204 1? ANO | ENSINO MÉDIO


Abandonando o campo, parte deles se além de ampliar os direitos de plebeus e
dirigiu para Roma (êxodo da plebe). Para cavaleiros. Foram assassinados.
evitar maiores problemas sociais pela pre-
sença dessa massa de plebeus sem função

em Roma, foi colocada, posteriormente,
em prática a política do pão e circo, que
tinha como objetivo alimentar e divertir a
população para mantê-la fiel à ordem es-
tabelecida. Outros, entretanto, passaram a
trabalhar como camponeses contratados
pelos grandes proprietários, transforman-
do-se em colonos, que compunham o
sistema de colonato.
Apesar disso, a mão de obra essencial
para a exploração dos latifúndios vinha
dos prisioneiros de guerra escravizados.
Os escravizados pelos romanos, eram con-
siderados instrumentos de produção, isto
é, não eram vistos como seres humanos
e realizavam todos os tipos de trabalhos
necessários.
Existiram dois tipos de escravizados na
Roma Antiga: escravizados pertencentes
ao Estado, que trabalhavam nas grandes
obras públicas (estradas, aquedutos, edifí-
cios) ou em serviços burocráticos; e escra-
vizados os particulares, que cultivavam os
campos, trabalhavam no artesanato e nas
atividades domésticas.
A disseminação do trabalho escravo
praticamente acabou com o trabalho livre
em Roma, o que trouxe consequências no-
civas para a sociedade, como a estagnação
das forças produtivas, a desvalorização do
trabalho e a baixa produtividade da eco-
nomia.
As instituições republicanas não davam
respostas adequadas para a nova reali-
dade – poder econômico nas mãos dos
Visão externa e interna do Coliseu de Roma ou Amphitheatrum Flavium, local onde
cavaleiros, que não tinham participação no eram realizados diversos espetáculos, dentro da política de “pão e circo”, instituído
poder politico. Esta classe buscou o apoio pelos governos de Roma . Hoje é um dos templos mais visitados da “Cidade Eterna”.
da plebe e do exército contra o patriciado
e o Senado.
A importância do exército também gerou
Entre estas tentativas temos a proposta
um efeito colateral, ou seja, a possibilidade
de reforma elaborada pelos irmãos Tibério
de um general exercer a liderança política
e Caio Graco, tribunos da plebe que pro-
em Roma. Foi este o caso de Mário e Sila,
curaram instaurar uma reforma agrária,
que disputaram o poder através de uma
baseada na distribuição das terras desocu-
guerra civil. Sila se tornou ditador em 82 a.C.
padas entre os plebeus. Tentaram, ainda, a
diminuição do preço do trigo para a plebe, Com abdicação de Sila (79 a.C), as lutas

HISTÓRIA | VOLUME 1 205


entre as diferentes facções políticas se agra-
varam. A desorganização provocada por O IMPÉRIO ROMANO
estes conflitos no interior das elites romanas
facilitou rebeliões, inclusive de escravos,
como demonstrou aquela ocorrida, no ano
70 a.C., no Sul da península e liderada por
Espártaco.
Em 60 a.C., assumiu o poder um Triunvi-
rato, formado por Crasso, Pompeu e Júlio
César. A disputa entre os dois últimos, após
a morte de Crasso, gerou uma nova guerra
civil, na qual triunfou Júlio César, que se
tornou ditador. Este, na luta contra o Sena-
do, apoiou-se na plebe e nos veteranos do
exército das províncias ocidentais, à frente
dos quais conquistara imensos territórios
para Roma. Foi assassinado em 44 a.C., por Imperador Otávio
uma conspiração da facção republicana do
Senado. No período das guerras civis se forma-
Seguiu-se à formação de um novo Triun- ram grandes fortunas em Roma. A falta
virato, formado por Lépido, Marco Antônio de controle sobre as províncias facilitara o
e Otávio. Ocorreram choques entre eles, os enriquecimento de generais e governado-
quais terminaram com a vitória de Otávio e res. Estes e os cavaleiros passaram a fazer
a instauração de um Império. parte do Senado.
As riquezas do Oriente enriqueceram
as classes dominantes romanas. A cidade
AS CONQUISTAS DE JULIO CESAR se tornara o maior centro comercial e
financeiro do mundo e houve um grande
No ano 58 a. C., Julio César comandou desenvolvimento do setor manufatureiro.
a vitória contra a resistência gaulesa, o que Enquanto isso, os pequenos proprietários
lhe rendeu fama duradoura e lhe permitiu o seguiam o caminho da ruína, com a impor-
rompimento com Pompeu. Júlio César as- tação de cereais a baixo preço.
sumiu o papel de ditador de Roma, em um Ao contrário, a situação das províncias
momento de grave crise social. No ano de era de decadência, uma vez que gover-
47 a. C, Júlio César comandou a expedição nadores e cavaleiros as exploravam ao
de Conquista do Egito, onde negociou com máximo.
Cleópatra o domínio sobre a economia Ora, essa situação potencialmente
mais importante do Mediterrâneo. Em 46 explosiva deveria ser modificada. Todas
a.C, saiu vitorioso na conquista da região as classes dirigentes romanas sentiram a
do Norte da África. necessidade de reorganizar a dominação
deste enorme território, mantendo a paz
e o progresso interno. Coube a Otávio ser
o intérprete deste projeto, estabelecendo
um governo centralizado e autocrático – o
Principado.
Suas principais medidas foram: a libe-
ração dos camponeses do serviço militar
obrigatório; a profissionalização do exérci-
to; a distribuição de lotes de terras entre
os soldados desmobilizados; a alteração

206 1? ANO | ENSINO MÉDIO


do sistema de cobrança de impostos nas portantes imperadores desta fase foram
províncias, com a nomeação de funcioná- Adriano e Marco Aurélio.
rios estatais para controlar a arrecadação Porém, a estabilização das fronteiras
dos tributos devidos . criou uma contradição nas relações so-
Apesar de ter recebido os títulos de ciais de produção do Império. Com o fim
Augusto (divino) e Imperador (este em da expansão, começou a faltar escravos, o
27a.C.), Otávio (que passou a ser conheci- que diminuiu a produção interna de modo
do pelo seu título de Augusto) manteve a alarmante. Sem as fontes externas de
aparência republicana, uma vez que as an- abastecimento de mão de obra, o preço
tigas instituições continuaram funcionan- do escravizado aumentou, elevando os
do. A composição do Senado foi alterada custos de produção dos produtos. A taxa
com a entrada de membros das famílias de natalidade dos escravizados sempre foi
mais poderosas das províncias. muito baixa, devido às próprias condições
A política de Augusto para as províncias de vida desta população.
de fronteira buscava a estabilidade. Estas Estavam dadas as condições para o de-
províncias ficavam sob administração dire- clínio do Império Romano. Além do pro-
ta do imperador, tendo ali a presença de blema da mão de obra escrava, as fontes
tropas romanas aquarteladas. Foi criada a de metais preciosos diminuíram, levando
guarda pretoriana para proteger o impe- a uma retração do comércio por falta de
rado. A partir deste governo se iniciou um moeda.
período de desenvolvimento, denominado Sem poder manter seus escravizados,
pax romana . os grandes proprietários passaram a divi-
Após a morte de Augusto (14 d.C.) o dir suas propriedades em pequenos lotes,
Império passou por uma série de governos arrendando-os para colonos (pequenos
cujas marcas foram as conspirações pala- produtores dependentes dos proprie-
cianas e a corrupção, como os de Nero e tários). Muitos escravos também foram
Calígula. O cristianismo, que começou a transformados em colonos.
se propagar pelo Império, foi perseguido, Os impostos cobrados pelo Estado au-
uma vez que pregava a igualdade entre mentaram, criando uma pressão tributária
todos os homens diante de Deus, o que sobre os colonos, que, endividados, não
minava as bases do escravismo romano. podiam deixar a terra arrendada. Revoltas
camponesas e invasões nas fronteiras
desorganizaram mais ainda a produção e
SAIBA MAIS SOBRE A VIDA DE CAIO OTÁVIO: o próprio Império. O sistema fiscal deixou
O PRIMEIRO IMPERADOR ROMANO de ser eficaz, a desvalorização da moeda
aumentou a forma de pagamento em
espécie, e todo o Império passou por um
processo de ruralização.
Alguns imperadores, durante o século
III, tentaram frear este processo, intro-
duzindo formas orientais de concepção
política, como, por exemplo, a divinização
da figura do imperador. Formas de des-
potismo teocrático foram incorporadas às
A dinastia dos Antoninos (96-192 d.C.) instituições imperiais. O Senado deixou de
conseguiu recolocar o projeto de Augusto ter funções políticas e a burocracia, ligada
em curso, sendo o momento em que o Im- ao Imperador, reforçou o seu poder. Com
pério atingiu o seu apogeu, incorporando Diocleciano, foi estabelecida a divisão do
novos territórios e vivendo uma fase de Império, inicialmente em duas partes (Diar-
prosperidade econômica. Os mais im- quia) e depois em quatro (Tetrarquia).

HISTÓRIA | VOLUME 1 207


Povos estrangeiros (bárbaros) foram
admitidos e incorporados ao exército.

Os imperadores do Ocidente e do Oriente.

Imperador Constantino. FAÇA UM TOUR VIRTUAL PELO MUSEU DO


VATICANO
Estas medidas acentuaram a contra-
dição entre uma estrutura econômica
cada vez menos produtiva e uma estru-
tura administrativa cada vez mais cus-
tosa, o que aumentava a pressão fiscal
sobre seus súditos. Estes tentaram fugir
às obrigações fiscais abandonando seus
domicílios e ocupações, o que levou o
governo imperial a proibir tal saída,

A CULTURA
transformando estes trabalhadores em
servos do Estado.
Constantino, que reunificou o Império,
foi o Imperador que deu liberdade de Desde o princípio houve uma forte
culto aos cristãos (Édito de Milão, no influência de outras culturas sobre os ro-
ano 313) e transformou a Igreja Cristã em manos. As culturas etrusca, inicialmente,
uma das bases de seu poder . A outra era e grega, posteriormente, exerceram forte
o exército, cuja maioria dos soldados ti- influência sobre a cultura romana. Embora
nha se convertido ao cristianismo, o que as concepções filosóficas e estéticas fos-
explica o abandono da política anterior sem influenciadas por outras culturas, os
de perseguição aos cristãos. Em 380, romanos sempre mantiveram uma forte
Teodósio I fez do cristianismo a religião finalidade prática em suas obras. Outro
oficial do Império Romano. objetivo era a glorificação do Estado. As
maiores obras foram realizadas no campo
Em 395, após a morte de Teodósio
do Direito, da Engenharia, da Arquitetura
I, o Império foi novamente dividido em
e da Administração Pública.
duas partes: o do Oriente, cuja capital
era Constantinopla, e o do Ocidente, O cristianismo nasceu durante o reina-
com capital em Milão. A separação deu do de Augusto. Primeiramente foi a po-
origem a dois Impérios que caminharam pulação pobre que cultuava essa religião
distintamente. O do Ocidente, devido à monoteísta, reuniam-se em catacumbas,
situação analisada anteriormente, não e eram perseguidos. Com o passar do
resistiu às invasões bárbaras do século tempo, o cristianismo, ganhou liberda-
V. de religiosa (Édito de Milão - 313), e se
tornou a religião oficial do Estado (391),
transformando-se em um dos aparatos de
controle social.

208 1? ANO | ENSINO MÉDIO


das colônias romanas que foram no passado.
Se, em linhas gerais, a arte romana não foi
original, Roma teve o mérito de ter sabido
transmitir à posteridade os feitos dos artistas
gregos.

Basílica de São Pedro, no /vaticano. Roma é o epicentro da Igreja Católica no


mundo.

SAIBA MAIS SOBRE A CULTURA ROMANA E OS


GRANDES FEITOS DESSA SOCIEDADE.:

Os poucos vestígios que sobreviveram da


pintura romana mostram que as tradições
gregas continuavam vivas. Os temas indicam
a crescente preocupação religiosa, a serviço
dos imperadores divinizados; referem-se,
principalmente, à imortalidade da alma e à
O legado romano vida de além-túmulo.
A religião, inicialmente politeísta, pas-
A civilização romana foi original e criadora
sou por diversas transformações, com a
em vários campos: o Direito Romano, codi-
influência de cultos orientais e, finalmente,
ficado no século VI, ao tempo do imperador
com a introdução do cristianismo, em um
Justinianus, constituiu um corpo jurídico sem
primeiro momento perseguido e, depois,
igual nos tempos antigos e forneceu as bases
permitido e transformado em religião ofi-
do direito da Europa medieval, além de ter
cial do Império. O cristianismo se valeu do
conservado sua vigência, em muitas legisla-
Império Romano para sua expansão e organi-
ções, até os tempos modernos.
zação, e depois de vinte séculos de existência,
As estradas romanas, perfeitamente são evidentes as marcas por ele deixadas no
pavimentadas, uniam todas as províncias do mundo romano. O latim, idioma que a expan-
império e continuaram a facilitar os desloca- são romana tornou universal, está na origem
mentos por terra dos povos que se radicaram das atuais línguas românicas, tais como o
nas antigas terras imperiais ao longo dos espanhol, o italiano, o português, o francês, o
séculos, apesar de seu estado de abandono. catalão e o romeno. Depois de quase dois mil
Conservaram-se delas grandes trechos e seu anos, pode-se ainda falar de um mundo latino
traçado foi seguido, em linhas gerais, por de características bem diferenciadas.
muitas das grandes vias modernas de comu-
Os arquitetos romanos usaram as formas
nicação.
gregas, mas desenvolveram novas técnicas
As obras públicas, tais como pontes, re- de construção, como o arco, que abrange
presas e aquedutos ainda causam impressão uma distância maior que o sistema de pilar e
pelo domínio da técnica e o poderio que dintel (dois postes verticais suportando uma
revelam. Muitas cidades europeias mostram trave horizontal). O concreto permitiu proje-
ainda em seu conjunto urbano os vestígios tos mais flexíveis, como o teto abobadado e
imensas áreas circulares com teto encimado
por domo.

HISTÓRIA | VOLUME 1 209


Na Literatura, Ovídio, Virgílio (autor do
poema Eneida), Cícero e Tito Lívio podem
ser considerados seus maiores expoentes.

Mosaico romano: Fonte: 620 × 452 (google.com.br)


A construção de aquedutos mostra toda a perícia e eficácia romana em relação às

Exercício
obras públicas. O uso do arco é um traço característico da arquitetura de Roma.

resolvido
patrícios enriqueceram ainda mais, pois ocupavam
os principais cargos públicos, os mais altos postos
“A república conquistara para Roma o
do exército e passaram a governar as províncias
seu Império: as suas próprias vitórias a incorporadas ao território romano.
tornaram anacrônica.”
A classe plebeia, base do exército romano, entrou
(Perry Anderson, Passagens da Antiguidade ao
Feudalismo, 1982.) em um processo de pauperização. Os plebeus foram
acumulando dívidas, visto que suas pequenas
propriedades não conseguiam competir com a
Com base na sua leitura da frase acima, explique produção importada das províncias anexadas.
de que maneira as conquistas da República Roma- Também não conseguiam concorrer com a pro-
na levaram à sua própria crise. dução do grande latifúndio, pois não possuíam
recursos para aquisição de escravos. Com isso mui-
tos plebeus vendiam suas terras e migravam para
Solução:
Roma. Sem ocupação, engrossavam o proletariado
A política expansionista de Roma transformou-a na urbano dependente dos poderosos e do Estado ro-
maior potência imperialista da Antiguidade. Essas mano. O aumento do número de escravos, por sua
conquistas, porém, trouxeram-lhe vários problemas vez, provocou uma série de revoltas na península.
internos. A expansão acentuou as desigualdades
Esse conjunto de fatores produziu conflitos que
sociais, gerando conflitos que culminaram em ver-
determinaram, durante o século I a.C., a crise repu-
dadeiras guerras civis. Isso abalou a ordem republi-
blicana: rebelião escrava de Espártaco, tentativas
cana. Uma nova forma de governo se fez necessária
de reforma agrária dos irmãos Gracos, guerra civil
para se restabelecer a “paz social”.
entre os generais Mário e Sila. Essa crise culminou
O produto das conquistas não foi distribuído de com o fim da República, em 27 a C., e inaugurou
forma equitativa. Com o espólio dos vencidos, os uma nova forma de governo, o Império.

atividades
A) intenção romana de fundar colônias agrícolas em solo
1. Dentre as várias guerras enfrentadas pelos cartaginês.
romanos, destacaram-se as efetuadas contra os B) a luta pela posse da Grécia.
cartagineses, cujo principal fator causador foi: C) a necessidade de escravos para abastecer o setor manu-
fatureiro.

210 1? ANO | ENSINO MÉDIO


D) o choque de imperialismos na luta pela dominação da B) Qual foi a sua importância na expansão do império?
Sicília.
_________________________________________
E) a defesa das fronteiras romanas, já que Cartago, situada
ao norte da Península Itálica, ameaçava se expandir. _________________________________________
_________________________________________
2. O expansionismo romano teve várias consequên-
cias, dentre elas:
6. Os princípios do cristianismo chocaram-se com
os valores romanos, em especial a partir do mo-
A) o aumento do poder dos pequenos proprietários rurais. mento em que os imperadores passaram a ser
B) o emprego para toda a população urbana. vistos como divindades. Entre os séculos I e III, as
C) o aumento da mão de obra escrava. perseguições aos cristãos foram constantes.
D) o êxodo urbano, incentivado pela reforma agrária.
E) a tomada de Roma pelos turcos otomanos. A) Cite três características do Cristianismo naquele período.

3. Podem-se destacar como características da con- _________________________________________


cepção cristã, que facilitaram a aliança da Igreja _________________________________________
com o Estado imperial romano, no século IV:
_________________________________________

A) o dogma da transcendência e a moral celibatária. B) Explique por que os princípios cristãos eram uma ameaça
B) a estrutura hierárquica e o missionarismo universalista . ao poder político dos imperadores romanos.
C) a noção de culpa dos homens e o perdão divino .
_________________________________________
D) a visão de inferno e o reino dos céus.
E) o dogma da criação e o juízo final. _________________________________________
_________________________________________
4. A relação de fidelidade mútua entre o chefe militar e
seus guerreiros, o poder não centralizado e o direito
7. Na Roma antiga, o escravo era considerado um
consuetudinário, características presentes no siste-
animal de trabalho sobre o qual o senhor detinha
ma feudal, faziam parte dos costumes dos povos:
o direito de vida e de morte.
A) gregos. B) árabes.
C) latinos. D) germanos.
A) Em quais condições alguém se tornava escravo na Roma
E) bizantinos. antiga?

5. “Os jovens eram educados para serem fortes para _________________________________________


a guerra. No Campo de Marte, perto de Roma, _________________________________________
aprendiam a manejar a espada, a lançar o disco e
as lanças, a correr, saltar, e cavalgar. Aprendiam a _________________________________________
obedecer para depois saberem mandar.” _________________________________________
(Bruna R . Cantele, História Dinâmica
Antiga e Medieval) _________________________________________

Com base no texto acima, responda: _________________________________________


A) Qual era a função da educação romana?
B) Relacione três das principais atividades em que a mão de
_________________________________________ obra escrava era utilizada.
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________
_________________________________________

HISTÓRIA | VOLUME 1 211


8. Cesarismo/cesarista são termos utilizados para 11. "Ao chegar ao século III, toda essa situação de
caracterizar governantes atuais que, à maneira expansão deu uma freada, e isso se deve ao fato
de Júlio César (de onde o nome), na antiga Roma, de suas dimensões territoriais serem gigantescas,
exercem um poder: pelo alto custo que envolvia a realização de outras
A) teocrático. anexações e as constantes invasões exercidas
pelas civilizações vizinhas.
B) democrático.
Assim, Roma deu uma “pausa” em sua expansão
C) aristocrático.
territorial, pois o império já estava muito grande,
D) burocrático. não havia populações e nem territórios próximos
E) autocrático. para serem conquistados. Dessa maneira, sem
dominação, não havia obtenção de novos es-
cravos, limitando-se apenas a fortalecer as suas
9. Durante a República Romana, a escravidão au-
mentou consideravelmente sua importância na fronteiras.".
sociedade e na economia, contribuindo para a (RODRIGUES, Pedro Augusto Rezende . A Crise
no Império Romano. Encontrado em www .infoescola
crescente dependência da República Romana em .com, acessado em 13/10/2012 .)
relação à mão de obra escrava.
A crise do Império Romano ganhou visibilidade a
partir do século III, sendo aspectos característicos
A dependência da mão de obra escrava na Repú-
dessa crise:
blica Romana devia-se:

A) O excedente de mão de obra escrava, que pesava sobre


A) à expansão das grandes propriedades e ao aniquilamento
os custos de produção, não era acompanhado pelo
da pequena propriedade rural.
aumento da produtividade.
B) às guerras de conquista empreendidas por Roma, as quais
B) O elevado custo de manutenção da máquina burocrática
contribuíram decisivamente para predomínio dessa relação
e do exército, que asfixiava as finanças do Império.
de trabalho.
C) O enfraquecimento do Cristianismo, diante da incompa-
C) à inexistência de mão de obra livre e ao desinteresse da
tibilidade entre as suas ideias e as necessidades do povo
população pelos trabalhos manuais.
romano.
D) aos conflitos entre patrícios e plebeus na luta pela terra.
D) O choque entre patrícios e plebeus, estes últimos exigin-
E) à necessidade de ampliação da oferta de mão de obra do cidadania e representação política.
para o desenvolvimento do artesanato.
E) A ocorrência das Guerras Púnicas, que fragilizaram as
fronteiras e permitiram invasões bárbaras e exauriram os
10. "A escravatura [na Roma antiga] foi praticada cofres públicos.
desde os tempos mais remotos dos reis, mas seu
desenvolvimento em grande escala foi conse-
quência das guerras de conquista […].". 12. O assassinato de César abalou a sociedade roma-
(Patrick Le Roux . Império Romano, 2010.) na e forçou a organização do segundo triunvirato.
Sobre a escravidão na Roma antiga, é correto Havia muitas intrigas políticas e dificuldades de
afirmar que: administrar culturas de grande diversidade. César,
que havia sido ditador perpétuo, conseguiu po-
pularidade e:
A) assemelhava-se à escravidão ocorrida no Brasil colonial,
pois era determinada pela procedência e pela raça.
A) deu importância à reestruturação das finanças romanas,
B) aumentou significativamente durante a expansão roma-
preocupando-se em construir obras públicas, para apro-
na pelo Mar Mediterrâneo.
veitar os trabalhadores desempregados.
C) atingiu o auge com a ocupação romana da Germânia e
B) fez reformas eleitorais significativas, diminuindo o poder
de territórios na Europa Central.
do Senado e seguindo exemplo dos governos democrá-
D) diminuiu bastante após a implantação do Império e foi ticos gregos.
abolida pelos imperadores cristãos.
C) inibiu as muitas rebeliões que havia no exército, concen-
E) diferenciava-se da escravidão ocorrida no Brasil colonial, trou poderes no Senado mas não controlou o problema
pois os escravos romanos nunca podiam se tornar livres. do desemprego.

212 1? ANO | ENSINO MÉDIO


D) efetivou reformas administrativas para evitar crises políticas D) A associação entre os cristãos e os inimigos bárbaros que
e proibiu a escravidão nas províncias romanas mais popu- punha em risco a estabilidade política e religiosa interna
losas. do mundo imperial romano.
E) ampliou a cidadania, transformando hábitos religiosos e E) A necessidade de oferecer à população de Roma “pão
respeitando as culturas dos povos dominados com suas e circo”, com os cristãos sendo sacrificados na arena do
crenças politeístas. Coliseu para minimizar a ameaça de revoltas populares
contra as autoridades imperiais.
13. "O Coliseu, construído entre os anos 70 e 82 d.C., tornou-
-se um dos grandes símbolos da Roma Antiga. Podia 15. Os combates de gladiadores surgiram no sul da Itá-
abrigar 45 mil espectadores. Ocorriam ali combates de lia, chegaram a Roma no meio século III a.C. e foram
gladiadores, execuções de criminosos por animais selva- oficializados pelo Senado, em 105 a .C. Inicialmente
gens e encenação de batalhas históricas e mitológicas." realizados durante as cerimônias fúnebres, pouco
(Adaptado de Flavio Campos, A Escrita da História. a pouco eles foram perdendo seu caráter sagrado
São Paulo, Escala Educacional, 2009.) e se transformaram em manifestações laicas, no
início da era cristã . Apesar de escravos, os gladia-
dores eram esportistas de alto nível, pois cabia aos
Para essa construção, foi preponderante o trabalho:
promotores das lutas oferecerem um espetáculo
de qualidade. Esses combates representavam, para
A) de um enorme contingente de escravos, na sua maioria, os gladiadores, cair nas graças da multidão, fato
prisioneiros de guerras . que os levava à fama.
B) livre e assalariado dos plebeus romanos.
C) dos patrícios romanos empobrecidos pelas conquistas. Para conquistar o reconhecimento do povo,
D) dos milhares de vassalos dos suseranos romanos. cidadãos importantes, desde líderes locais até o
E) escravo da plebe romana empobrecida após o êxito das próprio imperador, ofereciam esses espetáculos
invasões bárbaras. ao público .O governo de Otávio Augusto (30
a.C. – 14 d .C .), visando aumentar a popularidade
e diminuir as revoltas dos pobres da cidade de
14. O cristianismo católico tornou-se religião oficial Roma, ampliou a “política do pão e circo” .
do Império Romano no ano de 380 d.C., data da (Adaptado de Revista História Viva, ano V, nº 56 .)
edição do famoso édito de Tessalônica, outorgado

pelo Imperador Teodósio. Desde a sua criação até
este momento, a caminhada foi dura e difícil para Sobre esse momento da história romana, é válido
os seguidores de Cristo. Exemplo disso foram as afirmar que:
perseguições movidas por alguns imperadores
romanos, eternizadas pelos relatos fantásticos A) esses espetáculos públicos tinham um caráter puramente
e emotivos de vários escritores e historiadores religioso e evitavam as revoltas sociais, pois os romanos
cristãos. Podemos apontar como principais causas temiam a ira de seus deuses.
dessas perseguições:
B) a “política do pão e circo”, no fim da era cristã, manteve
o caráter sagrado dos combates de gladiadores, pois
A) O ódio e a intolerância tanto das autoridades como da muitos desses participantes ofereciam sua vida ao deus
população pagã do mundo romano, que viam na figura cristãos.
de Cristo e na comunidade cristã uma ameaça ao poder C) a política do “pão e circo”, ampliada por Otávio Augusto,
do Imperador. pôs fim às desigualdades sociais entre patrícios e plebeus.
B) A constante penetração de elementos cristãos tanto D) os combates entre gladiadores, promovidos nos estádios,
nas filas do exército imperial romano como em cargos serviam para diminuir a insatisfação popular contra os
administrativos de elevada importância, que poderiam governantes.
servir de “mau exemplo” tanto em termos políticos como
E) as lutas de gladiadores surgiram no sul da Itália para pôr
ideológicos .
fim a revoltas sociais ocorridas no governo de Otávio
C) Aspectos de índole moral, na medida em que os cristãos Augusto, no século III a.C.
eram acusados pelos pagãos de realizarem orgias e
assassinatos de crianças em seus rituais.

HISTÓRIA | VOLUME 1 213


módulo 04
HISTÓRIA

O OCIDENTE
MEDIEVAL

ANTECEDENTES
A queda de Roma representou em tese, o fim da Antiguidade e o
início, na Europa, do período conhecido como Idade Média. Embora
esses marcos sejam arbitrários, pode-se dizer que essa fase apre-
sentou características determinantes, dentre as quais destacamos: a
ruralização da Europa, a fusão da cultura dos povos bárbaros com a
cultura romana e o predomínio da religião cristã na interpretação da
realidade.
As instituições feudais da Europa têm, portanto, suas raízes no
mundo romano em decadência e nos costumes dos bárbaros que
invadiram e acabaram se estabelecendo em seu território.
As relações de suserania e vassalagem, próprias do feudalismo, têm
raízes germânicas.
O comitatus era o costume de distribuir terras (beneficium) entre
os guerreiros pelo chefe germânico, em reconhecimento aos serviços
militares prestados. Isso criava laços de fidelidade e de deveres recí-
procos, contribuindo, assim, para dar origem a senhores poderosos
com base no domínio sobre a terra (o feudo).

O SISTEMA FEUDAL
A Idade Média compreende duas fases de periodização:
• Alta Idade Média _ do século V ao X, caracterizada pelo auge do
sistema feudal e pelas invasões bárbaras.
• Baixa Idade Média _ compreendida entre os séculos XI e XV, pe-
ríodo em que a Europa passou por uma série de transformações
estruturais (economia, sociedade, cultura e política), caracteri-

214 1? ANO | ENSINO MÉDIO


zando a desintegração do sistema reestruturação, marcada pela descentrali-
feudal e a gradativa evolução das zação do poder, ruralização e emprego de
atividades comerciais. mão de obra servil .
O feudalismo se caracterizou pela con-
A chamada Idade Média é um período cessão de feudos, quase sempre em forma
que se estende entre os séculos V e XV, de terras e trabalho, em troca de proteção
e pode ser dividido em duas fases: A Alta política e militar.
Idade Média e a Baixa Idade Média. Veja-
mos de forma esquemática esse processo:

Alta
ORIGENS
(séc. V a X)
As origens do feudalismo remontam a
quando o sistema escravista de produção
• Invasões bárbaras
no Império Romano entrou em crise no
ANTIGA • Descentralização política século IV. Diante das invasões germânicas
Queda de Roma • Ruralização da sociedade e da crise econômica, muitos dos grandes
476 d. C. • Formação do feudalismo senhores romanos abandonaram as cida-
• Consolidação da igreja des e foram morar nas suas propriedades
no campo. Essas áreas rurais, conhecidas

Idade Média
como vilas romanas, deram origem aos
feudos medievais.
Vários romanos sem grandes posses
buscaram proteção e trabalho nas terras
• Cruzadas desses grandes senhores. Para poder uti-
MODERNA lizar as terras, no entanto, eles eram obri-
• Renascimento comercial
Queda de
• Ressurgimento urbano gados a entregar ao proprietário parte do
Constantinopla
• Crise do feudalismo que produziam, ficando instituído assim o
1453 colonato. Aos poucos, o sistema escravista
• Surgimento da burguesia
de produção no Império Romano ia sendo
substituído pelo sistema servil de produ-
Baixa
ção, que iria predominar na Europa feudal.
(séc. X a XV)
Nascia o regime de servidão, em que o
trabalhador rural é o servo do grande pro-
prietário (o senhor feudal).
CIVILIZAÇÃO ÁRABE (séc. VII: Império Islâmico)

DEFINIÇÃO
Feudalismo é o sistema de organização
econômica, política e social baseado em
um sistema contratual de relações políticas
e militares entre os membros da nobreza
da Europa Ocidental durante a Alta Idade
Média.
Com as invasões bárbaras e a desa-
gregação do Império Romano, a partir do
século V, a Europa inicia uma profunda

HISTÓRIA | VOLUME 1 215


Não se sabe ao certo o tamanho médio
A ESTRUTURA ECONÔMICA desses feudos, parece que os menores ti-
nham pelo menos 150 hectares. Cada feudo
O feudo era a principal unidade produ- compreendia uma ou mais aldeias, as terras
tora da economia feudal . Tinha um caráter cultivadas pelos camponeses, as florestas e
autossuficiente, ou seja, procurava produ- as pastagens comuns, a terra pertencente à
zir praticamente tudo o que necessitava igreja paroquial e a casa senhorial, que ficava
para o consumo interno: roupas, cereais, na melhor terra cultivável, as terras senho-
leite, carnes e utensílios domésticos. Al- riais.
guns poucos produtos vinham de fora, As terras dos feudos eram divididas em
como os metais, utilizados na confecção três grandes partes:
de ferramentas, o sal etc.
Reserva senhorial ou terras senhoriais -
As atividades econômicas predominan- terras que pertenciam exclusivamente ao
tes nos feudos eram ligadas à terra, como senhor feudal. Tudo o que fosse produzido
a criação de animais (bois, carneiros, cava- na reserva senhorial era propriedade privada
los etc.) e a agricultura (centeio, trigo, uva, do senhor.
cevada, ervilha etc).
Campos abertos ou terras comunais -
terras de uso comum, de onde os servos
recolhiam a madeira e utilizavam trechos
para soltar os animais. Nesses campos, que
O SISTEMA FEUDAL compreendiam bosques e pastos, a posse
de terra era coletiva.
Manso servil ou terras servis - terras utili-
zadas pelos servos, das quais eles retiravam
recursos para cumprir as obrigações feudais
e seu próprio sustento.
Em consequência do caráter autossufi-
ciente dos feudos, a economia feudal reduziu
sua produtividade, limitando-a às necessida-
des básicas e imediatas do consumo.
O intercâmbio comercial sofreu um
atrofiamento, sobrevivendo, apenas, como
atividade marginal e semiclandestina dos
que negociavam com árabes, judeus e sírios,
que por não serem cristãos, não temiam as
proibições da Igreja referentes ao lucro e à
usura.
Pastos, prados e bosques eram usados
em comum e a terra arável, dividida em duas
partes, sendo: uma, em geral a terça parte
do todo, pertencia ao senhor; e a outra ficava
em poder dos camponeses.

216 1? ANO | ENSINO MÉDIO


As banalidades eram os pagamentos
que os servos faziam aos senhores pelo
uso da destilaria, do forno, do moinho, do
celeiro etc.
A talha era a obrigação de o servo dar
a seu senhor uma parte do que produzia.
Essa parte, em geral, correspondia à me-
tade.
A corveia era a obrigação que o servo
tinha de trabalhar de graça alguns dias por
semana no manso senhorial.
Além disso, uma parte da sua produção
era destinada à Igreja. Tudo isso levava a
um baixíssimo índice de produtividade,
pois, além de as técnicas serem rudimen-
tares, os servos não tinham a menor moti-
Nos campos dos feudos plantavam-se vação para desenvolvê-las porque sabiam
principalmente cereais (cevada, trigo, cen- que, quanto mais produzissem, mais os
teio e aveia). Cultivavam-se também favas, senhores lhes tomariam.
ervilhas e videiras.
O fator que mais contribuiu para o declí-
Os utensílios da lavoura eram rudimen- nio do sistema feudal foi o ressurgimento
tares e eram usados a charrua ou arado, a das cidades e do comércio. Com o ressur-
enxada, a pá, a foice, a grade e o podão. gimento das cidades, os camponeses pas-
Nos feudos criavam-se carneiros, que for- saram a vender mais produtos e, em troca,
neciam lã, bovinos, o leite, e cavalos, para a conseguir mais dinheiro. Com o dinheiro
guerra e transporte. alguns puderam comprar a liberdade. Ou-
A base do sistema feudal eram as rela- tros simplesmente fugiram para as cidades
ções servis de produção. Os servos viviam em busca de melhores condições de vida.
em extrema miséria, pois, deviam aos se-
nhores obrigações como:

• as banalidades.
• a talha;
• a corveia;

HISTÓRIA | VOLUME 1 217


SAIBA MAIS SOBRE A VIDA NO FEUDO: resultou, para estes, rápida e considerável
ampliação de poderes. Com o tempo, os
beneficiários alcançaram a hereditariedade
de seus domínios e, depois, a das suas fun-
ções. Continuavam, porém, obrigados ao
cumprimento de certos deveres para com
o senhor, isto é, o cessionário, em troca das
vantagens obtidas. A partir de um deter-
minado momento, os reis não mais tiveram
autoridade sobre esses funcionários, não
podendo sequer demiti-los.
Já a recomendação era o ato pelo qual
um homem se colocava sob a proteção
de certos serviços, principalmente militar.
Entregava o recomendado suas terras
ao senhor mais poderoso, a quem pedia
proteção, e este imediatamente as desen-
volvia, conservado apenas o senhorio.
Assim, o vínculo feudal era pessoal por-
que, decorrendo da recomendação, unia
o vassalo a seu suserano; e real porque,
devido do benefício, unia as terras de um e
outro. A partir do século X, combinavam-se
ESTRUTURA SOCIOPOLÍTICA no sistema feudal: a propriedade territorial,
a recomendação, o serviço militar e a ideia
de fidelidade. Com o tempo, uma rede de
O feudalismo foi o regime predominante
feudos cobriu a Europa, pois cada susera-
na ordem política e social de grande parte
no se tornava vassalo de outro, mais forte,
da Europa, na Idade Média, e caracterizou-
sendo o rei o suserano dos suseranos. Po-
-se principalmente pela limitação do poder
dia o vassalo transferir a outros parte do
central, com o maior estreitamento da
feudo recebido e, assim, tornar-se, por sua
autoridade e da propriedade da terra, em
vez, suserano.
uma relação, assim, de grande dependên-
cia entre vassalos e suseranos.
Muito se discute a origem das institui-
ções feudais: germânica ou celta para uns;
romana para outros, viria, ainda, a decorrer
de influxo combinado de uns e de outros
elementos. Entende-se por feudo, no en-
tanto, a concessão recebida por vassalo
nobre de um suserano, também nobre,
mediante o cumprimento de certas obriga-
ções. Originou-se, principalmente, de duas
instituições: o benefício e a recomendação.
O benefício inicialmente era outorgado A sociedade feudal era dividida em
sem qualquer garantia. Dada a escassez estamentos, isto é, uma sociedade
de moeda, os reis costumavam conceder composta por camadas estanques, em
um benefício a determinados funcionários, que a passagem de uma camada social
em troca de serviços tais como adminis- para a outra era praticamente impossí-
tração de territórios, recrutamento de vel. De acordo com a função específica
soldados, cobrança de impostos, de que de cada camada, alguns historiadores

218 1? ANO | ENSINO MÉDIO


classificam-na como uma sociedade for- mulheres e crianças. Transmitia-se por
mada por aqueles que lutam (nobres), sucessão ao mais velho dos descenden-
aqueles que rezam (clero) e aqueles tes masculinos e, na falta destes, aos
que trabalham (servos). Os servos não colaterais. Não podiam ser alienados
tinham a propriedade da terra e estavam sem o consentimento do suserano. Os
presos a ela. Não podiam ser vendidos casamentos e as heranças complicaram
como se fazia com os escravos, nem enormemente os contratos feudais.
tinham liberdade de abandonar as terras Observou-se crescente descentrali-
onde nasceram. Nas camadas pobres, zação administrativa e diminuição da
havia também os vilões. Os vilões eram autoridade real: o vassalo obedecia ao
homens livres que viviam no feudo, de- suserano, a quem jurara fidelidade, antes
viam algumas obrigações aos senhores, de obedecer ao rei, a quem não prestara
como, por exemplo, as banalidades, mas juramento, e só por intermédio daquele
não estavam presos à terra, podendo obedecia a este. Tornou-se a realeza
sair dela quando o desejassem. apenas o centro, em torno do qual se
A nobreza e o clero compunham a ca- agrupavam os feudos. Contribuiu a Igre-
mada dominante dos senhores feudais, ja para a disseminação do feudalismo,
ou seja, aqueles que tinham a posse que lhe garantia segurança e facilidade
legal da terra e do servo e que domina- de administração de seu patrimônio ter-
vam o poder político, militar e jurídico. O ritorial inalienável.
alto clero era composto pelos seguintes O sistema não foi o mesmo em todos
membros: papa, arcebispos e bispos. O os países da Europa ocidental, tendo
baixo clero era composto pelos padres e sido mais amplamente desenvolvido
monges. A nobreza era também hierar- na França. Entre as causas da gradual
quizada estando dividida em alta e baixa modificação do sistema, citam-se as
nobreza. Alta nobreza: duque, marquês cruzadas, que obrigaram muitos senho-
e conde. Baixa nobreza: visconde, barão res a ceder suas prerrogativas em troca
e cavaleiro. do dinheiro necessário ao custeio des-
sas expedições; criação dos exércitos
permanentes; o fortalecimento do poder
real e consequente centralização admi-
nistrativa.

Momentos da vida no feudo.

A posse do feudo era limitada à nobre- A agricultura era a mais importante atividade econômica da Idade Média.
za, excetuando-se, entretanto, sacerdotes,

HISTÓRIA | VOLUME 1 219


Para sistematizar o capítulo, vamos ler Documento III
alguns documentos de época que tratam
da questão da terra e das relações feudais. APÓSTROFE DO CAMPONÊS AO
Documento I
NOBRE (1422)
O trabalho de minhas mãos alimenta os
CONCESSÃO DE UM FEUDO AO covardes e os ociosos; eles me perseguem
BISPO DE BEAUVAIS (1167) com a fome e o gládio. Sustento-lhes a
vida com meu suor e meu trabalho e eles
combatem a minha com seus ultrajes: eles
“Eu, Louis, pela graça de Deus rei de
vivem de mim e eu morro por eles. Deve-
França, torno público a todos os presentes,
riam resguardar-me de meus inimigos e
bem como aos que virão, que em Mante,
só me impedem de comer meu pão. Às
em nossa presença, o Conde Henry de
minhas perseguições só se pode acrescen-
Champagne concedeu o feudo de Savigny
tar a morte. A guerra não passa de uma
a Bartolomeu, Bispo de Beauvais, e seus
pilhagem privada, um roubo reconhecido,
sucessores. E por aquele feudo o mencio-
uma força pública desencadeada debaixo
nado bispo empenhou a palavra e assumiu
das armas e da rapina.
o compromisso de cavaleiro de servir com
(APUD CHARTIER, ALAIN . LE QUADRILOGE
justiça ao Conde Henry; e também concor- INVECTIF . IN: SÃO PAULO (ESTADO) . SECRETARIA
dou em que os bispos que lhe sucederem DA EDUCAÇÃO COORDENADORIA DE ESTUDOS E
NORMAS PEDAGÓGICAS . COLETÂNEA DE DOCUMEN-
procederão igualmente .”
TOS HISTÓRICOS PARA O 1º GRAU: 5ª A 8ª SÉRIE SÃO
(ROBINSON, J . H . “READINGS IN EUROPEAN PAULO: SE, CENP, 1985 . P .70 )
HISTORY .” IN: HUBERMAN, LEO. HISTÓRIA DA RIQUEZA
DO HOMEM . 19A .ED . RIO DE JANEIRO: ZAHAR, 1983 . P
.22-3 . BIBLIOTECA DE CIÊNCIAS SOCIAIS .)

Documento II
MUDANÇAS NAS RELAÇÕES SERVIS
Promovendo revoltas, os servos
conseguiram aliviar o peso de algumas
OBRIGAÇÕES DOS COLONOS obrigações feudais, como a talha e a
corveia. Em outros lugares, os senhores
Walafredus, colono e mordomo, . . . e foram levados a modificar as obrigações
sua mulher, colona, homens de S . Germain, pagas em dinheiro. Devido ao processo
têm dois filhos. Ele detém dois mansos inflacionário, esse dinheiro se desvaloriza,
livres (….) de terra arável, seis acres (240 fazendo diminuir a renda dos senhores e
ares) de vinha e quatro (160 ares) de pra- beneficiando os servos. Com o tempo, os
dos. Deve por cada manso uma vaca num senhores também foram obrigados a des-
ano, um porco no seguinte, quatro dinhei- fazer a relação servil, transformando-a em
ros pelo direito de utilizar o bosque, dois uma relação estabelecida em contrato. Os
módios (40 litros) de vinho pelo direito servos tornavam-se, então, arrendatários,
de utilizar as pastagens, uma ovelha e um cujas obrigações perante o dono da terra
Cordeiro. Deve corveias, corretos, trabalho estavam devidamente estipuladas no con-
manual, cortes de árvores, quando para trato de arrendamento.
isso receber ordens, três galinhas e quinze
ovos . . .
(POLÍTICO DA ABADIA DE ST . GERMAIN . IN:
FREITAS, GUSTAVO DE . 900 TEXTOS E DOCUMENTOS
RENASCIMENTO COMERCIAL
DE HISTÓRIA LISBOA: PLÁTANO, 1975, V .L . P . 145 )
Nessa fase que estamos examinando,
a Europa desfrutou de um período de

220 1? ANO | ENSINO MÉDIO


relativa paz, pois haviam cessado as in- Hanseática, chegou a reunir mercadores
vasões externas e o espírito guerreiro da de aproximadamente 80 cidades, sob a
nobreza era canalizado para a luta contra liderança de Lübeck, cidade alemã. A Liga
os infiéis, através de movimentos como as Hanseática possuía representação em to-
cruzadas. Nesse cenário, subiam os índices dos os grandes centros comerciais, desde
de crescimento demográfico, enquanto o Londres, no Ocidente, até o Oriente.
comércio ganhava significativo impulso, Suas atividades, fundamentadas nas
apoiado pela melhoria dos meios de trans- concepções de lucro e de capitalização,
porte, pelo desenvolvimento com os povos prenunciavam a Revolução Comercial dos
orientais. séculos XV e XVI, tendo sido as hansas
responsáveis pela dinamização das cida-
des e dos mercados e o desenvolvimento
econômico tipicamente capitalista nesta
etapa.

Roteiro das principais Cruzadas.

Merece especial atenção, nesse período


de renascimento comercial, o estabeleci-
mento de movimentadas rotas mercantis
em nível internacional. Dessas rotas de
comércio internacional destacam-se:
ROTA COMERCIAL DO SUL
ROTA COMERCIAL DO NORTE
Desenvolvida principalmente através
Desenvolvida através do Mar do Norte e do Mar Mediterrâneo, tendo como portos
de cidades como Dantzig Lubeck, Bremen, mais importantes os de Barcelona, Marse-
Hamburgo, Bruges, Londres e Bordéus. lha, Gênova, Veneza, Túnis, Trípoli e Cons-
A partir do século XII, surgem as ligas ou tantinopla. Os comerciantes mais atuantes
hansas, que congregavam os interesses de nessa rota comercial eram os de Gênova
diversas cidades e eram formadas por as- e Veneza, que se dedicaram sobretudo à
sociações de comerciantes que realizavam importação de especiarias e de artigos de
o comércio em grande escala. luxo do Oriente.
Dentre as diversas ligas surgidas nesta Interligando as grandes rotas comer-
época, destacam-se as que controlavam ciais, havia uma extensa rede de comuni-
a importação de mercadorias de várias cações terrestres, sendo organizadas, nos
cidades flamengas e a exportação de lã pontos mais importantes, grandes feiras
da Inglaterra. Muito influente era a Hansa comerciais, como as de Champagne, na
Teutônica, constituída por uma associação França.
de comerciantes alemães, que negociavam Com o aumento do comércio, ganhou
seus produtos nos mares Báltico e do Norte. nova força o artesanato urbano, organi-
Posteriormente transformada na Liga zado em corporações de ofícios, também

HISTÓRIA | VOLUME 1 221


conhecidas como guildas ou grêmios. defendê-las durante as guerras. Tinham de
5 a 10 mil habitantes, não possuíam infraes-
AS CORPORAÇÕES DE OFÍCIO trutura nem havia qualquer planejamento
urbano.
As corporações tinham como objetivo
essencial regulamentar o exercício da pro-
fissão artesanal e controlar o profissional CRISE ECONÔMICA E SOCIAL
e o fornecimento do produto. Essas cor-
porações dirigiam o ensino da profissão Na Idade Média, a exploração agrícola
artesanal, que era dividida em três está- era predatória, isto é, explorava-se a terra até
gios: aprendiz, oficial e mestre. Somente sua total exaustão: na prática, não havia mais
este último podia estabelecer-se por conta terras férteis. Por isso a produção agrícola caiu
própria, montando sua oficina de trabalho. bastante. O resultado imediato foi a subida dos
O desenvolvimento do grande comér- preços dos cereais, tornando quase impossível
cio, do século XI ao século XIII, provocou a compra de trigo, alimento básico dos euro-
a ampliação do uso de moedas, estimulou peus dessa época. A falta de dinheiro por causa
o surgimento de novas atividades artesa- da paralisação do mercado agrícola agravou-se
nais e permitiu a formação de uma nova ainda mais quando as minas de ouro e prata,
mentalidade, influenciada pela dinâmica esgotadas, deixaram de produzir metais. A
da vida mercantil. circulação das mercadorias e as atividades
bancárias ficaram prejudicadas.
A taxa de mortalidade aumentou, enquanto
A CRISE FEUDAL a de natalidade diminuiu.
Em um grupo de 1 .000 pessoas morriam, a
Como vimos, o feudalismo foi um fenô- cada ano, mais de 100. Com a queda da taxa de
meno histórico restrito ao continente euro- crescimento da população, diminuiu a procura
peu, onde assumiu diversas formas durante de trigo e outros cereais. Com isso ocorreu um
a Idade Média. Essa estrutura econômico- fenômeno oposto ao momento anterior: os
social foi produto de elementos presentes preços destes produtos baixaram.
na decadência do Império Romano e nas Enquanto os preços dos cereais baixavam,
sociedades bárbaras germânicas. A Igreja os preços dos produtos manufaturados de luxo
Católica exerceu papel preponderante na subiam vertiginosamente. Estes dois fatos pre-
síntese produzida por esses dois tipos de judicavam os nobres: por um lado, seus ganhos
sociedade. Vejamos agora as razões da diminuíram, uma vez que vinham dos produtos
crise feudal: da terra; por outro lado, tinham dificuldades de
comprar produtos de luxo, por causa da alta
O RENASCIMENTO URBANO dos preços. Por isso, a nobreza recorria à vi-
dência e ao banditismo, para roubar e saquear,
O surgimento de uma vida urbana na garantindo assim recursos para a compra de
Baixa Idade Média estava relacionado produtos de luxo.
com o desenvolvimento do comércio na
Europa: os maiores centros urbanos desta
época estavam localizados próximos às O SURGIMENTO DA BURGUESIA
grandes rotas do comércio internacional
europeu. As cidades também eram centros Uma das principais transformações sociais
de produções artesanais. decorrentes da crise do sistema feudal foi a
As cidades medievais eram cercadas por consolidação de uma nova classe social – a
altas muralhas protetoras que ajudavam a burguesia (habitantes do burgo-cidade). Esta

222 1? ANO | ENSINO MÉDIO


classe nasceu dentro do próprio feudalismo os ratos, animais que eram uma praga
e cresceu com sua expansão econômica. comum para a época e tinham em grande
Dominava as atividades comerciais, artesanais quantidade, vivendo nos porões das em-
e bancárias. Com o empobrecimento da no- barcações.
breza, os burgueses passaram a comprar terras Assim que atracavam os  navios  no
dos senhores feudais, dedicando-se também à Mediterrâneo, os roedores espalhavam a
agricultura. Esta classe foi muito importante na doença pelos portos que chegavam.  Em-
desagregação do feudalismo, pois começou a bora que no começo, a disseminação fosse
deslocar, lentamente, o eixo da economia agrá- contida, se mantendo apenas área costeira
ria para economia das atividades comerciais dos países, no momento que começou a
urbanas. ser propagada pelo ar, a enfermidade se
A escassez de mão de obra posterior à pes- espalhou extremamente rápido entre os
te negra levou os servos a fazer exigências por humanos, e no pico da pandemia, dizia-se
melhores condições e diminuição de impostos. que não havia humanos vivos suficientes
Estas mudanças de pagamento de taxas para enterrar os casos fatais.
transformaram as relações dos produtos feu- Os sintomas incluíam: febre altíssima,
dais. Muitos servos conseguiram comprar sua vômitos, náuseas, tosse com sangue, dor
liberdade, prática incentivada pelos senhores de cabeça, cansaço extremo, calafrios e
feudais para aumentar suas rendas. Enfim, os convulsão, além de matar muito depressa
senhores feudais incentivaram uma prática que, os contaminados.’
contraditoriamente, acabaria com o próprio
feudalismo. Em algumas regiões, os senhores SAIBA MAIS SOBRE A PESTE NEGRA
feudais aumentavam ainda mais as pressões e
os laços de servidão sobre os camponeses.

PESTE NEGRA- CRISE DO SÉCULO XIV

SAIBA MAIS SOBRE O SURGIMENTO DA BURGUESIA.

‘A  peste negra, que teve origem no


continente asiático, foi a mais letal das epi-
demias até os dias atuais. Apesar de haver
uma convergência entre os dados sobre a
quantidade letal de atingidos, estima-se
que o número de vítimas fica em torno de
75 a 200 milhões de mortes.
A bactéria causadora, a  Yersina pes-
tis  teve como origem a  China  ou a Ásia
Central — a rota da seda —, viajou alojada
nos intestinos das pulgas que parasitavam

HISTÓRIA | VOLUME 1 223


manufatura da lã.
A Guerra dos Cem Anos teve uma
sequência de combates com várias inter-
rupções. Em períodos diferentes, ingleses e
franceses obtiveram, uns contra os outros,
vitórias significativas. Joana D'Arc foi uma
importante figura entre os famosos persona-
gens envolvidos nessa guerra, participando
ativamente do lado francês. Depois de ser
condenada à fogueira e queimada, em 1431,
tornou-se verdadeira heroína dos exércitos
franceses. Após sua morte, os exércitos fran-
ceses expulsaram os ingleses de praticamen-
te todos os territórios da França ocupados
pela Inglaterra.
CRISE POLÍTICA
As cruzadas e outras lutas contra os mu-
çulmanos funcionaram, durante muito tem-
po, como instrumentos capazes de canalizar
o espírito guerreiro da nobreza feudal contra
inimigos externos. Terminado o período das
cruzadas, em fins do século XIII, obstruía-se,
em grande parte, a válvula de escape que
desviava a agressividade senhorial. Sem SAIBA MAIS SOBRE A HISTÓRIA DE JOANA
um inimigo externo comum, a cristandade
D’ARC
ocidental passou, então, a defrontar-se com
um número cada vez maior de conflitos
internos. Tais conflitos cresceram em escala
de violência, na medida em que os exércitos
tinham aumentado suas quantidades de
combatentes profissionais (mercenários) e
tendiam a se tornar forças permanentes, que
se mantinham unidas pelo desejo da tropa
de saquear seus inimigos a fim de dividir os
lucros das pilhagens. A longa guerra entre França e Inglaterra
Assim, os séculos XIV e XV foram mar- prejudicou a vida econômica dos dois países,
cados por uma série de guerras feudais de empobrecendo grande parcela da nobreza
consequências devastadoras sobre cidades feudal. Ao final da guerra, a autoridade do rei
e terras cultivadas, gerando crises agudas de encontrou espaço para se fortalecer, permi-
abastecimento. O clima de insegurança pro- tindo a construção de monarquias absolutas.
vocado pelas guerras também prejudicava a A Guerra dos Cem Anos (1337-1453), en-
realização normal das atividades comerciais, tre França e Inglaterra, foi um conflito longo,
sobretudo a movimentação das rotas mer- mas não contínuo. Os combates entre os
cantis terrestres. exércitos franceses e ingleses foram inter-
Entre os conflitos desse período, mere- rompidos por largos períodos de tréguas.
ce especial destaque a chamada Guerra Terminada a guerra, com a expulsão das tro-
dos Cem Anos (1337-1453) entre França pas inglesas do território francês, a França
e Inglaterra, ocasionada por motivos de despertava para um período de crescimento
sucessão dinástica e pela disputa da rica da consciência nacional e fortalecimento do
região de Flandres, onde se desenvolvia a poder real.

224 1? ANO | ENSINO MÉDIO


Exercício
resolvido
B) Identifique as formas de divulgação da fé católica durante
1. A igreja era, com frequência, o único edifício de a Idade Média.
pedra em toda a redondeza . Era a única grande Solução:
construção em muitas léguas e seu campanário
era um ponto de referência. Aos domingos e
A) De acordo com o que pede a questão, trata-se de igrejas
durante o culto, todos os habitantes podiam
em estilo gótico, caracterizado, pela verticalização da
encontrar-se ali, e o contraste entre o edifício
construção, pela existência de grandes vitrais coloridos e
grandioso, com suas pinturas, talhas e esculturas,
inúmeras esculturas tanto no interior como na fachada
e as casas humildes em que as pessoas viviam, era
dos edifícios, particularmente pelo uso do arco ogival nas
esmagador.
janelas, nos nichos decorativos e nos portais.
(ADAPTADO DE E .H . GOMBRICH, HISTÓRIA DA
ARTE . RIO DE JANEIRO: LTC EDITORA, 1993, P . 126 .)
B) As inúmeras imagens no interior das igrejas tinham
finalidade didática, pois serviam como instrumento de
A) Com base no texto, indique três características do edifício
evangelização. A produção cultural monástica, as ordens
da igreja na cidade medieval.
de cavaleiros e atuação das cruzadas, também constituí-
am meios de divulgação da fé católica.

atividades
1. Na sociedade feudal, os servos tinham a obrigação de:
A) a existência de uma forte concentração de poder nas
A) prestar juramento de fidelidade ao senhor das terras e mãos dos monarcas.
defendê-lo em caso de guerras. B) uma forte monetarização das relações econômicas,
B) pagar tributos ao rei e a todos os nobres que atravessas- favorecendo o crescimento dos núcleos urbanos .
sem as terras em que viviam. C) a terra não tinha valor, sendo inúmeras vezes concedida
C) aceitar a decisão de seu proprietário de vendê-los a aos servos para que cultivassem a agricultura livremente .
outros senhores ou reis. D) a existência de uma sociedade estamental, formada por
D) participar de torneios militares e de exibições de cavala- grupos sociais com status fixo, os senhores e os servos,
ria. em que os servos eram presos à terra e obrigados a
prestar serviços e pagar impostos aos senhores.
E) trabalhar nas terras do senhor ou dar uma parte de sua
produção a ele. E) uma base econômica voltada ao comércio entre os vários
feudos existentes.

2. Entre as características do feudalismo, sistema po-


lítico, social e econômico estruturado na Europa 3. No século XIII, os barões ingleses, contando com o
medieval, estão: apoio de alguns mercadores e religiosos, subleva-

HISTÓRIA | VOLUME 1 225


ram-se contra as pesadas taxas e outros abusos. O 6. A razão de ser dos carneiros é fornecer leite e lã;
rei João Sem-Terra acabou aceitando as exigências a dos bois é lavrar a terra; e a dos cães é defender
dos vassalos sublevados e assinou a Magna Carta. os carneiros e os bois dos ataques dos lobos. Se
Pode-se afirmar que o documento apresenta im- cada uma destas espécies de animais cumprir
portante legado do mundo medieval porque: a sua missão, Deus protegê-la-á. Deste modo,
fez ordens, que instituiu em vista das diversas
missões a realizar neste mundo . Instituiu uns – os
A) reafirmava o princípio do poder ilimitado dos monarcas
clérigos e os monges – para que rezassem pelos
para fixar novos tributos.
outros e, cheios de doçura, como as ovelhas,
B) freou as lutas entre os cavaleiros e instituiu o Parlamento, sobre eles derramassem o leite da pregação e
subdividido em duas Câmaras. com a lã dos bons exemplos lhes inspirassem um
C) assegurava antigas garantias a uma minoria privilegiada, ardente amor a Deus. Instituiu os camponeses
mas veiculava princípios de liberdade política. para que eles – como fazem os bois, com o seu
D) limitou as ambições políticas dos papas, mesmo se trabalho – assegurassem a sua própria subsistên-
tratando de um contrato feudal. cia e a dos outros.A outros, por fim – os guerreiros
–, instituiu-os para que mostrassem a força na
E) proclamava os direitos e as liberdades do homem do
medida do necessário e para que defendessem
povo, através de 63 artigos.
dos inimigos, semelhantes a lobos, os que oram e
os que cultivam a terra.
4. A dissolução do feudalismo foi apressada, no final
da Idade Média, por uma sucessão de aconteci- A) Identifique o contexto histórico no qual as ideias defendi-
mentos que geraram a chamada crise do séc.XIV. das pelo autor desse documento se inserem.
Entre esses acontecimentos é correto citar:
_________________________________________
A) epidemias, como a peste negra, originadas principal- _________________________________________
mente da falta de estrutura das cidades para suportar o _________________________________________
aumento populacional e enfrentar o problema da fome.
B) grande fome, manifestada neste século, devido ao gran- _________________________________________
de número de pragas que destruíram as plantações.
C) guerra dos Cem Anos, envolvendo, de um lado, França e B) Justifique a relação do documento com o contexto
Espanha e, do outro, Inglaterra e Portugal, e que gerou histórico especificado.
inúmeras mortes.
D) revolta dos camponeses; estes, sem ter o que comer, _________________________________________
abandonaram os campos e causaram muitas mortes nas _________________________________________
cidades.
_________________________________________
E) Epidemias, como a Peste Bubônica, que matou cerca de
2/3 de toda a população da Europa. _________________________________________
_________________________________________
5. Dos séculos XI ao XIII, as cruzadas, que partiam Eu- _________________________________________
ropa em direção ao Oriente, provocaram grandes
transformações políticas e econômicas, dentre as
7. “A Igreja, durante toda a Idade Média, guiava todos
quais pode-se destacar:
os movimentos do homem, do batismo ao serviço
fúnebre . A Igreja educava as crianças; o sermão do
A) a dominação europeia de todos os territórios islâmicos. pároco era a principal fonte de informação sobre os
B) a hegemonia muçulmana do comércio no Mar Mediter- acontecimentos e problemas comuns . A paróquia
râneo. constituía uma importante unidade de governo
C) a integração comercial entre Veneza e Constantinopla. local, coletando e distribuindo as esmolas que os
pobres recebiam . Como os homens ficavam aten-
D) o fortalecimento do poder do papado no mundo cristão
tos aos sermões era frequente o governo dizer aos
ocidental.
pregadores exatamente o que deviam pregar.”
E) a destruição do Sacro Império Romano-Germânico. (ADAPTADO DE CHRISTOPHER HILL. A REV-
OLUÇÃO INGLESA DE 1640. 1977.)

226 1? ANO | ENSINO MÉDIO


A partir do texto acima escreva quais eram as funções A) produzir um saber singular, que se diferenciasse da
sociais e políticas da Igreja Católica na Idade Média. tradição clássica.
B) desenvolver a tradição por meio do comentário dos
__________________________________________
textos herdados da cultura antiga.
__________________________________________ C) utilizar instrumentos científicos, que permitissem alcan-
__________________________________________ çar a verdade.
D) observar os fenômenos naturais para encontrar as leis
__________________________________________
que regiam seu funcionamento.
__________________________________________ E) cultivar o espírito racional por meio da refutação da
autoridade dos textos teológicos.
8. O Mediterrâneo e os mares Báltico e do Norte, ao final
da Idade Média, eram rotas comerciais importantes. 10. As transformações socioeconômicas iniciadas
na Baixa Idade Média, que culminaram com o
desenvolvimento comercial na Idade Moderna,
A) Quem desenvolvia as atividades comerciais nesses mares?
afetaram todos os setores da sociedade, ocasio-
__________________________________________ nando mudanças culturais . É uma característica
destas mudanças:
__________________________________________
__________________________________________ A) teocentrismo.
B) predomínio da filosofia escolástica.
B) Por que essas atividades contribuíram para a destruição C) humanismo.
da ordem feudal? D) Despotismo esclarecido.
__________________________________________ E) geocentrismo.

__________________________________________
11. Se a mania de fechar, verdadeiro habitus da men-
__________________________________________ talidade medieval nascido talvez de um profundo
__________________________________________ sentimento de insegurança, estava difundida no
mundo rural, estava do mesmo modo no meio ur-
__________________________________________ bano, pois que uma das características da cidade
__________________________________________ era de ser limitada por portas e por uma muralha.
(ADAPTADO DEDUBY, G . ET AL . “SÉCULOS
XIV-XV” . IN: ARIÈS, P .; DUBY, G . HISTÓRIA DA VIDA
PRIVADA DA EUROPA FEUDAL À RENASCENÇA . SÃO
9. Leia o texto. PAULO: CIA . DAS LETRAS, 1990 .)
“Somos anões carregados nos ombros de gigan-
tes. Assim vemos mais, e vemos mais longe do
que eles, não porque nossa visão seja mais aguda As práticas e os usos das muralhas sofreram
ou nossa estatura mais elevada, mas porque eles importantes mudanças no final da Idade Média,
nos carregam no alto e nos levantam acima de sua quando elas assumiram a função de pontos de
altura gigantesca”. passagem ou pórticos. Esse processo está direta-
(LE GOFF, JACQUES . OS INTELECTUAIS NA mente relacionado com:
IDADE MÉDIA . RIO DE JANEIRO: JOSÉ OLÍMPIO,
2003. P . 36.)
A) o crescimento das atividades comerciais e urbanas.
As Universidades nasceram no Ocidente, nos séculos B) a migração de camponeses e artesãos.
XII e XIII, no cenário do renascimento urbano, ligadas
ao desenvolvimento da escolástica e sob o peso da C) a expansão dos parques industriais e fabris.
contribuição greco-árabe. O texto apresentado acima é D) o aumento do número de castelos e feudos.
uma citação do mestre Bernard, professor do principal
centro científico do século XII, a Escola de Chartres, e E) a contenção das epidemias e doenças.
expressa uma nova concepção do que é a ciência e o
conhecimento. Nesse período, conhecer significava:

HISTÓRIA | VOLUME 1 227


12. A Idade Média é um extenso período da História 14. A Peste Negra dizimou boa parte da população eu-
do Ocidente cuja memória é construída e re- ropeia, com efeitos sobre o crescimento das cidades.
construída segundo as circunstâncias das épocas O conhecimento médico da época não foi suficiente
posteriores. Assim, desde o Renascimento, esse para conter a epidemia. Na cidade de Siena, Agnolo
período vem sendo alvo de diversas interpreta- di Tura escreveu: “As pessoas morriam às centenas,
ções que dizem mais sobre o contexto histórico de dia e de noite, e todas eram jogadas em fossas
em que são produzidas do que propriamente cobertas com terra e, assim que essas fossas ficavam
sobre o medievo. cheias, cavavam-se mais. E eu enterrei meus cinco
filhos com minhas próprias mãos (...) E morreram
Um exemplo acerca do que está exposto no texto tantos que todos achavam que era o fim do mundo.”
(ADAPTADO DEAGNOLO DI TURA . THE PLAGUE
acima é:
IN SIENA: AN ITALIAN CHRONICLE . IN: WILLIAM M .
BOWSKY, THE BLACK DEATH: A TURNING POINT IN
HISTORY? NEW YORK: HRW, 1971 )
A) a associação que Hitler estabeleceu entre o III Reich e o
Sacro Império Romano Germânico.
O testemunho de Agnolo di Tura, um sobreviven-
B) o retorno dos valores cristãos medievais, presentes nos te da Peste Negra que assolou a Europa durante
documentos do Concílio Vaticano II. parte do século XIV, sugere que:
C) a luta dos negros sul-africanos contra o apartheid inspira-
da por valores dos primeiros cristãos. A) o flagelo da Peste Negra foi associado ao fim dos tempos.
D) o fortalecimento político de Napoleão Bonaparte, que se B) a Igreja buscou conter o medo, disseminando o saber médico.
justificava na amplitude de poderes que tivera Carlos Magno.
C) a impressão causada pelo número de mortos não foi tão
E) a tradição heroica da cavalaria medieval, que foi afetada forte, porque as vítimas eram poucas e identificáveis .
negativamente pelas produções cinematográficas de
Hollywood. D) houve substancial queda demográfica na Europa no
período anterior à peste.
E) o drama vivido pelos sobreviventes era causado pelo fato
13. A lei dos lombardos (Edictus Rothari), povo que se de os cadáveres não serem enterrados.
instalou na Itália no século VII e era considerado
bárbaro pelos romanos, estabelecia uma série de
reparações pecuniárias (composições) para punir 15. Considere o texto a seguir.
aqueles que matassem, ferissem ou aleijassem os (...) de modo particular, quero encorajar os crentes
homens livres. A lei dizia: “para todas estas chagas empenhados no campo da filosofia para que iluminem
e feridas estabelecemos uma composição maior os diversos âmbitos da atividade humana, graças ao
do que a de nossos antepassados, para que a exercício de uma razão que se torna mais segura e
vingança que é inimizade seja relegada depois de perspicaz com o apoio que recebe da fé.
aceita a dita composição e não seja mais exigida (PAPA JOÃO PAULO II CARTA ENCÍCLICA FIDES
nem permaneça o desgosto, mas dê-se a causa ET RATIO AOS BISPOS DA IGREJA CATÓLICA SOBRE
por terminada e mantenha-se a amizade.” AS RELAÇÕES ENTRE FÉ E RAZÃO, 1998)
(ADAPTADO DE ESPINOSA, F . ANTOLOGIA DE TEXTOS
HISTÓRICOS MEDIEVAIS . LISBOA: SÁ DA COSTA, 1976 .) As verdades da razão natural não contradizem as
verdades da fé cristã.
(SÃO TOMÁS DE AQUINO-PENSADOR MEDIEVAL)
A justificativa da lei evidencia que:
A) a encíclica papal está em contradição com o pensamento
A) se procurava acabar com o flagelo das guerras e dos de São Tomás de Aquino, refletindo a diferença de épocas.
mutilados. B) a encíclica papal procura complementar São Tomás de
B) se pretendia reparar as injustiças causadas por seus Aquino, pois este colocava a razão natural acima da fé.
antepassados. C) a Igreja medieval valorizava a razão mais do que a encícli-
C) se pretendia transformar velhas práticas que perturba- ca de João Paulo II.
vam a coesão social. D) o pensamento teológico teve sua importância na Idade
D) havia um desejo dos lombardos de se civilizarem, Média, mas, em nossos dias, não tem relação com o
igualando-se aos romanos. pensamento filosófico.
E) se instituía uma organização social baseada na classifica- E) tanto a encíclica papal como a frase de São Tomás de Aqui-
ção de justos e injustos. no procuram conciliar os pensamentos sobre fé e razão.

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