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Resumo:
Este artigo pretende fazer uma análise sobre a Peste Negra. Inicialmente discutiremos
o próprio conceito de peste e pestilência no medievo e a doença de fato, hoje conhecida com
maior exatidão. Em seguida, julgamos necessário abordar os fatores que levaram ao
reaparecimento da doença em sua forma epidêmica e sobre o momento histórico que
possibilitou que se espalhasse por muitas regiões da Europa. Depois, trataremos do impacto
que ela teve na sociedade medieval no próprio momento da culminância da epidemia (1348-
1350) e alguns de seus desdobramentos imediatamente posteriores. Por fim, vamos procurar
fazer uma análise mais aproximada sob o ponto de vista de três sociedades específicas,
França, Inglaterra e Portugal. A pesquisa se fundamenta em uma base bibliográfica, utilizando
um contato dialético entre autores que atuam na pesquisa do medievo.
Abstract:
This paper aims at the analysis of the Black Death. Initially we will discuss the
medieval concept of plague and pestilence and the disease itself, now known more
accuratelly. Then we deem necessary to adress the factors that led to the reappeareance of the
disease in its epidemic form and on the historical moment wich enabled it to spread over
many parts of Europe. After it we will talk about the impact it had on medieval society in the
culminancy of the epidemie (1348-1350) and some of the developments immediatelly
posterior. Finally, we will look more accutelly into three especific societies: France, England
and Portugal. The research is grounded in a bibliographic base, using a dialectical contact
between authors that works in the research of Middle Ages.
Versão 2: This paper will analyze the Black Death in its European context. Initially
will be discussed the medieval concept of plague and pestilence as well the plague as a
disease itself, nowadays more accurately known. It will be also studies the factors that led to
the reappearance of the disease in its epidemic form at that specific historical moment and its
spread over many parts of Europe; will be included in this article the impact it had on
medieval society in the very period of the contagion’s culmination (1348-1350) and some of
the immediate posterior developments on medieval mentality. Finally, we will look more
accurately into three specific areas: France, England and Portugal. The research is grounded
in a bibliographical base, using a dialectical contact between researchers of the Middle Ages.
Domingues e Ferraz2 ressaltam que termos tais como peste e pestilência eram usados
de forma não rigorosa, sendo associados também a surtos de tifo, disenteria ou gripe
pneumônica. Em outras palavras, uma gama de doenças potencialmente fatais e
desconhecidas do homem medieval eram catalogadas por ele como peste, até mesmo algumas Commented [D1]: Aqui acho que é singular pra concordar com
gama, não¿
fomes mais severas eram assim chamadas. Há, porém, formas para haver hoje diferenciação Commented [D2]: Muito haver perto.
entre as “pestes”, o XVI (688) e XVII (693) Concílios de Toledo, por exemplo, citam a Commented [D3]: Aqui não ficaria melhor : ou ; ¿ De qualquer
forma acho que o período ficou grande.
eclosão da peste ignal na Espanha, dando algumas de suas características, muitos séculos
antes do momento aqui discutido, qual seja, a epidemia que teve seu auge entre os anos de
1348 e 1350 e atingiu toda a Europa. Tais características permitem identificá-la como a peste
bubônica3.
Ainda assim, entretanto, a doença em seu ressurgimento no século XIV era novidade.
O surto que iniciou no século VI foi relatado por alguns autores, mas a leitura não era uma
prática comum, logo as bibliotecas, e o acesso a tais relatos, eram pouco difundidos.4
1 FREUND, Guill. Grand dictionnaire de la langue latine. Paris, Libraire de Firmin-Didot e Cie. 1883.
2 DOMINGUES, Maria João Monteiro; FERRAZ, Francisco Manuel Teixeira. Notas sobre a peste na cidade do
Porto na segunda metade do século XV. Revista da Faculdade de Letras História, Porto, s. 3, v. 5, 2004, p.
155-166. Disponível em: < http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/2381.pdf>. Acesso em: 16 jul. 2012. P. 156.
3 LACERDA, Nathália Cardoso Rachid de. Balanço bibliográfico acerca do discurso eclesiástico sobre a
peste de Justiniano. Rio de Janeiro, UFRJ, 18 nov. 2011. IX SEM. (não entendi)
4 WOLFF, Philippe. Outono da Idade Média ou primavera dos novos tempos? Lisboa: Edições 70, 1988, p.
15.
5 Ibidem.
Patrística6 determina que o pecado é uma falha humana que indubitavelmente receberá uma
resposta divina: o castigo, sendo a confissão e a penitência as formas de se salvar de suas
consequências, no caso a peste. Este foi o discurso eclesiástico, com poucas alterações entre
um momento e outro, tanto na primeira grande epidemia do século VI quanto no período da
Peste Negra, que aqui discutimos. A principal diferença entre o discurso de um momento e
outro é que no século XIV já se tinha alguma noção de que a doença era provocada por causas
naturais, porém era permitida por Deus devido aos pecados dos homens.
Esse medo do contágio foi retratado por Boccaccio10 em sua obra Decameron, que
narra a história de dez jovens florentinos, sete moças e três rapazes, que se isolam para fugir
do contágio da Peste. O livro é um conjunto de cem contos que os jovens contam uns para os
outros durante o período de quarentena autoimposta. Nos intervalos entre os contos o autor Commented [D4]: Aqui é junto.
Commented [D5]: Aqui não tem vírgula depois de contos não¿
fala sobre a situação dos personagens principais e sobre a visão destes a respeito da Peste. Não sei... eu gosto de virgulas.
Simoni nos diz que “essa obra é considerada pela crítica um dos exemplos mais Commented [D6]: Carol não gosta muito de “diz”.
6
“Indica-se com este nome a filosofia cristã dos primeiros séculos. Consiste na elaboração doutrinal das crenças
religiosas do cristianismo e na sua defesa contra os ataques pagãos e contra as heresias”, cf. ABBAGNANO, N.
Dicionário de Filosofia. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. P. 746. A maior parte das obras da Patrística foi
escrita em grego ou latim, embora haja também escritos doutrinários em aramaico entre outras línguas orientais.
7 VELLOSO, Marta Pimenta. Os restos na história: percepções sobre resíduos. Ciência & Saúde Coletiva, Rio
Alighieri. Sua obra é considerada mais verossímil que de seus contemporâneos por fugir às regras e padrões de
construção de personagem e desenvolvimento da narrativa comuns nas obras do mesmo período.
representativos do choque e da síntese de valores morais e sociais ocorridos no “outono” da
Idade Média”.11
Esta peste foi de extrema violência; pois ela atirava-se contra os sãos, a partir dos
doentes, sempre que doentes e sãos estivessem juntos. Ela agia assim de modo igual
àquele pelo qual procede o fogo: passa às coisas secas, ou untadas, estando elas
muito próximas dele. A enfermidade ainda fez mais. Não apenas o conversar e o
cuidar dos enfermos contagiavam os sãos com esta doença, por causa da morte
comum, porém mesmo o ato de mexer nas roupas, ou em qualquer outra coisa que
tivesse sido tocada, ou utilizada por aqueles enfermos, parecia transferir, ao que
bulisse, a doença referida. (BOCCACCIO, s/d)12.
Neste contexto de caos, o homem também via a peste como uma forma de
purificação, isto é, o doente que alcançava a cura normalmente mudava sua visão de mundo,
deixando de temer a doença13.
Velloso14 afirma que a doença era percebida como algo além do plano do humano ou
‘profano’, tornando-se algo não palpável, fugindo do domínio do homem, coisa do destino.
As vítimas da peste eram pecadoras e deviam sofrer. As medidas contra a Peste se baseavam
em princípios morais e não médicos: eram censurados os prazeres sexuais e gustativos do
corpo, associados ao pecado, indignos do divino. Os miasmas eram o meio de contágio das
enfermidades que por sua vez estavam relacionadas aos fenômenos da natureza: as estações
do ano, o clima quente ou frio, os ventos, as tempestades, passíveis às mudanças naturais. Commented [D7]: Achei estranho esse “passíveis [...]” aí nessa
frase. Ficou confuso.
São Sebastião foi considerado o principal santo protetor dos que sofriam com a peste.
Essa associação se deu por uma alegoria da peste com flechas que vinham do céu para
castigar os homens. De acordo com a Legenda Áurea, São Sebastião foi condenado pelo Commented [D8]: Não cabe aqui uma nota para explicar a
Legenda Áurea, não¿ Igual você fez com a patrística...
Imperador Diocleciano à morte e deixado em um campo “com seu corpo tão cheio de flechas
quanto um porco espinho é cheio de espinhos”15. O santo sobreviveu, portanto poderia
interceder por aqueles que buscavam se livrar das “flechadas” da peste. Marshall levanta a Commented [Me09]: Eu imaginei que esse parágrafo sobre a
Legenda Áurea seria suficiente para deixar ficar a imagem, pois a
hipótese de que a ligação de São Sebastião à Peste seria uma transferência do culto a Apolo, imagem que que eu coloquei aqui embaixo é a página que diz o que
eu descrevo aqui e mais alguns outros fatos da vida de São
Sebastião.
11 SIMONI, Karine. De peste e literatura: imagens do Decameron de Giovanni Boccaccio. Anuário de Commented [D10]: Ok. Ficou bom.
Literatura, Florianópolis, n. 12, pp. 31-40, 2007. Disponível em
< http://periodicos.ufsc.br/index.php/literatura/article/view/5447/4882>. Acesso em: 16 jul. 2012. P. 32.
12 BOCCACCIO, G. Decameron. São Paulo: Abril Cultural, s/d.
13 VELLOSO, Marta Pimenta. Os restos na história: percepções sobre resíduos. Ciência & Saúde Coletiva, Rio
16
MARSHALL, Louise. Manipulating the Sacred: Image and Plague in Renaissance Italy. Renaissance
Quarterly, Chicago, Vol. 47, Nº 3, pp. 485-532, 1994. p. 493.
17 Disponível em: <
A Doença
A Peste Negra, cujo bacilo foi descoberto somente em 1894 e tem como vetores
pulgas pretas transportadas por ratos, pode se apresentar de duas formas: bubônica ou
pneumônica. A primeira caracteriza-se por inchações ou ínguas nas axilas ou virilhas, levando
à morte em cerca de seis dias. A segunda é mais incomum, sendo transmitida de pessoa a
pessoa, e leva à morte em cerca de três dias.19
Contexto
Europa Ocidental passou por uma fase de crescimento econômico. Devido principalmente ao
aumento demográfico, houve a passagem da agricultura dominial para a senhorial, isto é, a
diminuição dos lotes camponeses. Porém os lotes senhoriais também foram diminuídos, para
que pudessem ser estabelecidas novas relações de vassalagem, na qual o senhor poderia ceder
as terras em forma de feudo.
terrenos baldios passaram a ser utilizados. Essa grande produção gerou excedentes agrícolas,
fortalecendo o comércio, que passou a ter um papel central na vida do Ocidente 21.
18 MARSHALL, Louise. Manipulating the Sacred: Image and Plague in Renaissance Italy. Renaissance
Quarterly, Chicago, Vol. 47, Nº 3, pp. 485-532, 1994. p. 510.
19 LOYN, H. R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. P. 698.
20 FRANCO JÚNIOR., Hilário. Idade Média: o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2003. P. 49.
21 FRANCO JÚNIOR., Hilário. Idade Média: o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2003. P. 49.
produção e rápida circulação. Após essa fase de crescimento econômico, compreendida entre
1200 e 1316, para Franco Júnior22, a Europa ocidental entrou em uma fase depressiva, que se
estenderia até o final do século XV. Neste período ocorreram várias crises, resultantes da
própria economia extensiva da fase anterior.
Diante deste cenário, podemos afirmar que até o final do século XIII não faltava
alimento para a população da Europa ocidental. Mas a partir de 1300 iniciam-se longas fases
de fome, tanto na cidade como nos campos, devido principalmente a duas razões: mudanças
climáticas e esgotamento da economia, uma vez que as técnicas de exploração agrária e
organização urbana não davam mais conta do aumento populacional, conforme o Dicionário
da Idade Média, organizado por Henry Loyn23. A fome fazia grande quantidade de vítimas, Commented [D13]: Aqui tá ok... pode colocar só o título do
livro em itálico.
estimulando a prática do canibalismo e fazendo com que as pessoas vagassem em busca de
alimento, levando consigo doenças e desordem. Este início de século foi apenas uma prévia
da crise demográfica que estava por vir24.
Em meados do século XIV, a Peste Negra contribuiu para piorar este cenário de crise
que ocasionou, entre outras coisas, uma diminuição populacional no Ocidente. Desta forma,
Franco Júnior25 afirma que o final da Idade Média foi um período de declínio demográfico
acentuado, devido principalmente às consequências das alterações climáticas, que afetavam a
agricultura e às devastações causadas pela epidemia citada.
A Peste Negra foi epidêmica na Europa medieval nos séculos VI e XIV. A primeira
pandemia propagou-se da Etiópia e atingiu as Ilhas Britânicas entre 541 e 546. Durante o
século VII propagou-se extensamente pelas cidades islâmicas e na Europa ocidental,
desaparecendo a partir de 750 em sua forma epidêmica.
Porém, em 1340 a peste ressurge, desta vez a partir da Ásia central, atingindo
primeiramente a colônia genovesa de Caffa, na Criméia. Nesta ocasião, os tártaros teriam
arremessado cadáveres infectados com a doença por cima das muralhas e posteriormente
os genoveses doentes teriam se deslocado para Constantinopla, Messina, Genova e
22 Ibidem.
23 LOYN, H. R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
24 Ibidem.
25 FRANCO JÚNIOR., Hilário. Idade Média: o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2003.
Marselha levando consigo o bacilo, alastrando a epidemia por toda Europa 26. Diante da
hipótese levantada por Franco Júnior27, acredita-se que a peste foi propagada em sua forma
pneumônica e, por isso, a alta densidade demográfica herdada da Idade Média Central teria de
certa forma contribuído para sua disseminação.
Estima-se que o primeiro lugar de contágio tenha sido na Ásia Central, onde houve
súbito aumento na mortalidade no ano de 1339, conforme fica comprovado pela data das
sepulturas nestorianas lá presentes. 29
Segundo Franco Júnior 30, a delimitação temporal do período crítico das epidemias
de peste é entre os anos de 1348 e 1350. Ainda segundo o autor, neste curto espaço de
tempo, a Peste provocou mais mortes que a Primeira Guerra Mundial em termos absolutos
e mais que a Segunda Guerra Mundial em termos relativos, levando-se em conta a
população européia nos dois momentos. Estima-se que cerca de 30% da população foi
dizimada pela peste, sendo que tais perdas variavam entre um oitavo e dois terços da
população conforme a localidade.
26 LOYN, H. R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
27 Ibidem.
28 ROQUE, Mario da Costa. As pestes medievais européias e o “Regimento proueytoso contra ha
pestenença”, Lisboa, Valentim Fernandes (1495-1496): tentativa de interpretação à luz dos conhecimentos
pestológicos actuais. Paris: Fundação Calouste Gulbekian/Centro cultural português, 1979.
29
LOYN, H. R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990. P. 696.
30 Ibidem.
O despovoamento de regiões inteiras pela Peste Negra, aliado à diminuição de
famílias nobres, favoreceu a formação de uma elite camponesa, uma vez que se tornou
possível a obtenção de terras próprias. Em contrapartida, em algumas regiões, em especial
a Inglaterra, o trabalhador rural precisou lidar com uma reação senhorial cujo objetivo era
a retomada dos laços de dependência. Nas cidades não se formou uma elite trabalhadora
como no campo, ao contrário, uma vez que o poder da alta burguesia foi reforçado 31.
Segundo Loyn, no Dicionário da Idade Média, a peste foi pouco representada na arte
antes de 140033 e Richards34 percebe que a preocupação medieval com questões
extraterrenas – morte, juízo, paraíso, inferno – influenciou a arte e a literatura do período,
que passam a utilizar constantemente imagens de dor e morte.
31 FRANCO JÚNIOR., Hilário. Idade Média: o nascimento do Ocidente. São Paulo: Brasiliense, 2003.
32 BOECKL, Christine M. Images of Plague and Pestilence: Iconography and Iconology. Missouri: Truman
State Univ Press, 2000. P. 69.
33 LOYN, H. R. (org.). Dicionário da Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1990.
34 RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993.
35 BASTOS, Mario Jorge da Motta. O Poder nos Tempos da Peste (Portugal – Séculos XIV/XVI). Niterói:
Eduff, 2009.
de bruxos e hereges, que, por sua vez, eram acusados de organizar orgias homossexuais,
conforme Jeffrey Richards.36 Portanto, culpar os judeus era uma tendência e seria uma
questão de tempo.
36 RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993.
37 RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993.
38 TUCHMAN, Barbara. A peste devasta a Europa. História Viva: arquivos 3. São Paulo, n. 3, 2008, p. 53.
39 RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993.
40 TUCHMAN, Barbara. A peste devasta a Europa. História Viva: arquivos 3. São Paulo, n. 3, 2008, p. 53.
41
BOECKL, Christine M. Images of Plague and Pestilence: Iconography and Iconology. Missouri: Truman
State Univ Press, 2000. P. 73.
A Peste também atingiu a vida intelectual, com cerca de vinte universidades
desaparecendo entre 1350 e 1400, uma vez que pessoas altamente qualificadas morreram e
não puderam ser substituídas 42.
Considerações finais
Conforme todo o exposto, concluímos que a Peste Negra foi um dos fatores, o mais
importante talvez, de modificação demográfica na Europa do século XIV e,
consequentemente alterou as relações sociais existentes de forma irreversível, agravando
ainda outros inúmeros problemas pré-existentes por ter dizimado a mão de obra que produzia
os víveres necessários à sobrevivência, os homens do campo.
Esta doença atingia a todos sem distinção, ricos ou pobres, homens ou mulheres,
clérigos ou leigos, por mais que aqueles que tinham condições tentassem fugir a ela. Ela levou
reis, arcebispos, nobres damas e infantes à morte, juntamente com artesãos, lavradores e
comerciantes.
E foi além, modificou a visão de mundo do homem medieval, que passou a ver a
morte de forma diferenciada, parte do seu cotidiano, mas fora do ciclo natural, como uma
coisa quase irônica e sem ordem, atendendo a meros caprichos, o que refletiu na arte, ao
mesmo tempo em que viu a doença como um castigo aos pecados comuns e desígnio divino,
uma visão paradoxal, mas que faz sentido dentro do contexto ao qual nos referimos, a Idade
Média.
Não pretendíamos aqui calcular todo o impacto que a Peste Negra teve sobre o mundo
medieval, mas apenas esboçar uma parte deste quadro. Essa epidemia e seus desdobramentos
42RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor,
1993.
43 RICHARDS, Jeffrey. Sexo, desvio e danação: as minorias na Idade Média. Rio de Janeiro: Jorge Zahar
Editor, 1993.
poderiam levar, como vêm levando ao longo do tempo, à inúmeras pesquisas em diferentes
campos históricos.
Referências
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