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História do Jornalismo
Prof. Marcel J. Cheida
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característica era de um ativo artesão de rudes ferramentas), o homo neanderthalensis,
todas elas originárias de uma espécie comum, o australopthecus (“macaco do Sul”),
cujos ossos foram encontrados na África Oriental, com datação de 2,5 milhões de anos.
Essa espécie é a primeira a desenvolver rudimentares ferramentas de pedra.
No período entre 35 mil a 30 mil anos, ocorreu um afunilamento dramático dessas
espécies. O homo sapiens, altamente competitivo e agressivo, sobrevive no continente
Europeu, que assiste à extinção do neandertal (“homem do vale do Neander”, região
quase ao Norte da Alemanha, próximo a Dusseldorf, onde foram encontrados os
fósseis). O sapiens, com as características biológicas e cognitivas que começaram a ser
desenvolvidas entre 150 a 200 mil anos, se tornou predominante. Ou seja, somos uma
espécie muito nova e, muito rapidamente, ocupamos o planeta física e simbolicamente.
A teoria mais aceita que explica o desenvolvimento do homo sapiens relata que a
espécie desenvolveu uma capacidade cognitiva superior a outras, pois conseguiu usar
o fogo para cozinhar o alimento. Nenhuma outra espécie desenvolveu essa técnica. O
fogo começa a ser usado, rotineiramente, há cerca de 300 mil anos. Mas, o sapiens é que
vai empregá-lo para cozer os duros cereais (trigo, cevada), raízes e tubérculos (batata,
beterraba) e os tipos de carne. Assim, conseguiu esterilizar os alimentos, ao mesmo
tempo que os tornou digestivos. Prova disse é que o nosso intestino é mais curto que
outras espécies primatas, p. ex., cujo intestino mais longo é apto a digerir alimentos
crus por tempo maior, mas com baixo aproveitamento nutricional. Outra importante
vantagem é que, segundo as pesquisas, o organismo humano absorve muito melhor e
de forma eficaz os nutrientes do alimento cozido, o que afetou diretamente a formação
estrutural do cérebro. Para se ter uma ideia comparativa, os antepassados coletores e
caçadores, há cerca de 2,5 milhões de anos, tinham um cérebro de apenas 600
centímetros cúbicos. O volume era metade do cérebro da espécie nos dias de hoje, entre
1200 e 1400 centímetros cúbicos. Essas medidas humanas superam outras espécies
vivas, mamíferos ou primatas. E mais: o cérebro humano ocupa de 2 a 3% do peso
corporal, mas consome 25% da energia produzida organicamente. Os grandes
primatas, nossos primos genéticos, dispõem de cérebros que consomem menos de 8%
da energia que produzem por meio dos alimentos crus.
É exatamente esse órgão extraordinário, o cérebro, que abriga nossa capacidade
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cognitiva. Entre 80 a 70 mil anos atrás, houve uma transformação comportamental
drástica na espécie. Começamos a enterrar os mortos. E a fala, organizada
gramaticalmente, se expande. Os antepassados foram desenvolvendo a linguagem num
lento processo de experiência, por milhares de anos. Até então, a espécie emitia ruídos,
de baixa expressividade, e gestos para indicar as mais diversas coisas e situações. Nesse
período, um processo toma conta do ser humano: a oralidade. Nossos antepassados
começam a dar sentido vigorosos aos ruídos, tornando-os mais complexos. É o início
do processo da criação da linguagem ficcional, que se intensifica de modo a substituir
a predominante relação biológica com o mundo. Primeiramente, os sons emitidos pela
boca indicavam coisas objetivas, um animal que se aproximava, uma árvore com doces
frutos, uma caverna, enfim. A linguagem tratava dos objetos que apresentavam certa
importância no dia a dia. Ao longo do tempo, são elaborados os verbos, os adjetivos, os
advérbios.
Há cerca de 35 mil anos, o sapiens começa a desenvolver técnicas para registros das
ideias. As primeiras estatuetas, os desenhos nas paredes das cavernas e inúmeros
objetos de enfeites indicam um comportamento no qual o significado expressa ideias
por meio de objetos criados artificiosamente. A ficção é registrada em narrativas
diversas sobre o cotidiano.
É o passo decisivo para a espécie ampliar a capacidade de abstração. Ou seja, de
imaginar e transportar as ideias para as formas materiais.
O desenvolvimento das características humanas encontra nos processos de criação
e produção simbólica (oralidades, artefatos, ferramentas diversas, desenhos, estatuas,
escrita e os suportes de registros) define o atributo de maior relevância da espécie, pois
mediante a abstração e a capacidade imaginária foram estabelecidos os pressupostos
para o planeta ser dominado. E agora, também, o espaço em torno da Terra.
A linguagem
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força ou graças à capacidade de abstrair é que “o ser humano se libertou da escravidão
ao mundo material a que vivem presos todos os outros animais”. Essa capacidade
singular da espécie humana a fez dar outro (s) sentido (s) às coisas que não aquele (s)
original (is). Ou seja, o homem criou os signos, os símbolos e, então, construiu o que
chamamos de cultura.
A abstração (essa capacidade de pensar e imaginar, numa constante de criação
de ideias sobre o mundo, as coisas e sobre si mesmo) constitui um complexo processo
mental que permite ao homem dotar o mundo à sua volta de significações e sentidos
que não aqueles originários nos objetos. Por exemplo, entre os povos primitivos, as
forças da natureza são expressões de vontades sobrenaturais, acima da capacidade
humana em compreendê-las e dominá-las. Então, o homem abstrai (imagina) essas
forças dando-lhes outro significado: de deus ou deuses.
Mas, as pesquisas paleolinguísticas, arqueológicas e históricas ao longo do século
XX apontaram e evidenciaram outras características da linguagem escrita. Boa parte
dos artefatos encontrados em escavações no Iraque, milhares de peças em argila,
equivalente às dimensões de um livro de bolso, registravam cálculos matemáticos
diversos. Essas peças foram produzidas por volta de 3.000 a. C., na Mesopotânia, na
cidade de Uruk, berço do herói Gilgamesh, que dá título à primeira grande narrativa
conhecida e escrita em sinais cuneiformes. Porém, acerca de 500 mil peças em argila
registravam outra linguagem: a matemática. E esse campo do conhecimento é de
elevada abstração. Os números e os cálculos são, fundamentalmente, expressões de
ideias, de raciocínio. Expressam medidas, proporções, volumes etc. e assim revelam a
capacidade da espécie humana em conhecer e transformar os objetos em ferramentas
úteis para a sobrevivência.
Desde então, o ser humano desenvolveu uma habilidade cognitiva, intelectual, e
criou um artefato que nos dá uma identidade como seres sociais, como seres da
comunicação interpessoal e social.
“A palavra escrita é o mecanismo por meio do qual sabemos aquilo que sabemos.
Ela organiza o nosso pensamento. Podemos ter o desejo de compreender a ascensão
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da escrita tanto histórica como logicamente, mas história e lógica são elas mesmas
produtos do pensamento alfabetizado.” (ver nota de pé de página1)
Tabela cronológica
5.000 a 3.000 1000 a 500 a. 1.400 a. C. 600 a 500 a. C. 400 a 300 a. C.
a. C. C.
Os primeiros Invenção da Os fenícios Evolução da Rabinos e
reinos, moeda de sintetizam as geometria, gregos
elaboração metal como 28 letras que como eruditos dão
dos sistemas elemento suportam o expressão de nova versão e
de escrita, valorativo de alfabeto medidas traduzem os
surge o troca fonético. variadas. esparsos e
conceito de universal. Euclides, na polissêmicos
dinheiro Império Grécia, textos
(objeto com Persa é rico consolida e hebraicos e
valor de em sistematiza a aramaicos que
troca). narrativas. disciplina resultam no
Expansão das criada pelos Antigo
religiões egípcios e Testamento.
politeístas. persas.
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GLEICK, James. A informação: uma história, uma teoria uma enxurrada. SP: Cia das Letras, 2013, p. 39. Obra
fundamental para entender a escrita e a informação como artefatos que identificam a condição humana e social.
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que novas gerações tomem conhecimento da experiência acumulada no passado
distante e recente. Costella (2002, 14) afirma que a linguagem percorreu “itinerário
impressionante”, por meio do qual tornou a vida um pouco mais eficiente: “Misteriosa
quanto a suas origens, que reconstituímos apenas por meio de conjecturas, ela (a
linguagem) permitiu a eficiente transmissão de conhecimentos de uma geração para
outra, fazendo surgir grupos humanos estáveis sob um acervo cultural comum e
assegurando, assim, as raízes iniciais de todas as culturas.”
A linguagem pictórica, a mais primitiva da espécie, é encontrada em cavernas em
registros datados há mais de 10 mil anos a.C. Supõe-se que as inscrições rupestres
tinham muito mais um valor expressivo do que comunicativo (pragmático). Ou seja,
nossos antepassados descreviam cenas cotidianas que experimentavam e
emocionalmente se expressavam em formas nas quais as técnicas rudimentares já
eram dominadas. O esforço para a abstração resultou na elaboração cada vez mais
simples das regras (gramaticais) que orientavam a composição dos sinais gráficos.
Mas antes que isso ocorresse, um longo caminho foi percorrido por diversas
civilizações e povos.
De acordo com os estudos sobre essa “trajetória”, a formação histórica da
linguagem se dá em três dimensões: a linguagem pictórica, a ideogramática e a
logográfica (logos, em grego, que dizer palavra, discurso, verbo, razão, pensar; para os
gregos, o ato de pensar só era possível se transformado em discurso, e vice-versa; é
inventado o alfabeto) fonética (o som emitido oralmente se relaciona com a letra e a
palavra escrita). Cada uma cumpriu e cumpre funções pragmáticas, ou seja, são
funcionais, úteis ao dia a dia das pessoas. Mas os momentos em que surgem são
distintos em razão de vários fatores e causas. A invenção do alfabeto foi crucial para a
formação do pensamento que nos caracteriza, ou seja, essa capacidade de raciocinar
sobre o mundo. O texto escrito foi base para a Filosofia e todas as outras disciplinas
que resultaram na ciência. A Astronomia, a Economia, a Medicina, o Direito, a Biologia,
a Física etc. só foram possíveis em razão da permanência do texto escrito, que poderia
e pode ser debatido por outros escritos, numa permanência de registro que permitiu
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aos gregos desenvolver o conceito de verdade sobre os objetos e ideias.
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das relações sociais. A troca de informações gera a notícia, que é um relato sobre fatos
cotidianos. A notícia é um relato que reúne novidades sobre o tempo presente, de modo
a oferecer aos indivíduos e grupos de indivíduos informações úteis para planejarem as
atividades cotidianas.
Um bom exemplo dessa função pragmática da informação é o comércio. As trocas
de mercadorias dependiam de informações sobre os produtos, sobre preços, sobre
fornecimento, sobre compradores. Sem tais informações não seria possível a
comercialização. Aliás, a palavra comércio tem origem no termo latino commercium,
que por sua vez deriva do adjetivo commúnis, que significa “pertencente a todos ou a
muitos” (CUNHA, 1986). A troca comercial, portanto, implicava em troca de
informação previamente.
No âmbito religioso, reis, faraós e outros dignitários eram respeitados e
considerados como deuses ou filhos de deuses. Em torno deles, sacerdotes realizavam
rituais de louvação e honra aos deuses, de modo a obter deles as graças pedidas. Para
tanto, eram tributados aos seres divinos bens materiais. A palavra tributo significa na
sua origem reverenciar, honrar aos deuses. A oferta de um bem material evidenciava,
publicamente e à vista da autoridade sacerdotal, a submissão do povo à ordem política
e religiosa. Como os príncipes eram considerados deuses, os povos entregavam a eles
na forma de tributos bens como alimentos, armas, ferramentas etc. Cabia aos
sacerdotes administrar esses tributos. Armazéns e depósitos eram construídos para
guardar esses bens e à medida que maiores quantidades eram tributadas os
sacerdotes iniciam um procedimento de registro por meio da escrita. As quantidades
e destinação dos bens tributados ao rei, ao príncipe, ao faraó entre outros eram
registradas inicialmente em argila e pedras, depois em pergaminhos e papiro.
Para que isso fosse possível, os sacerdotes escolhiam entre escravos aqueles que
podiam desenvolver o domínio da técnica de escrever e ler. Surgem então os escribas
responsáveis pelo registro na forma de escrita das informações de caráter religioso.
Os hieróglifos são um exemplo dessa “escrita sagrada”, a qual guarda as informações
sobre os tributos aos deuses.
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Por meio dos sinais gravados nos diversos suportes (argila, pedra, papiro,
pergaminho, papel etc), a experiência humana configurada em fatos cotidianos é
transportada à distância bem como transmitida de geração a geração. Assim nasce um
modelo de comunicação bastante útil, a notícia. A transmissão, oral ou gráfica, de um
conjunto de informações sobre um determinado fato torna-se um hábito destinado à
formação das mais diversas ações, desde as de interesse pessoal como as de interesse
coletivo. E o jornalismo tem a notícia como seu objeto fundamental.
Numa visão geral sobre datas e criações linguísticas, pode-se considerar a seguinte
tabela:
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Alfabética ou Os fenícios que habitavam onde hoje é a
logográfica Sardenha, na ilha da Sicília, Itália, e norte da
África, são os responsáveis pela invenção da
escrita alfabética, por volta de 1.000 a.C. O
objetivo maior dessa forma de escrita era o de
atribuir a cada som falado um sinal escrito.
Assim, ao inventarem os 23 sinais (alfabéticos),
deram como herança uma forma sofisticada de
linguagem, mais tarde adotada pelos gregos e
latinos. Se os gregos e os latinos herdaram o
alfabeto fenício, os árabes e hebreus herdaram o
alfabeto semítico. Mas coube aos gregos levarem
o alfabeto para a península itálica até a região Letras maiúsculas gregas: alfa, beta, gama,
francesa de Marselha, onde foi transportada delta, épsilon, zeta, eta, teta, iota, kapa,
para os latinos. lâmbda, mi, ni, xi, ômicron, pi, rô, sigma, tau,
úpsilon, fi, qui, psi, ômega.
Referência bibliográfica
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