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Nos caminhos

da Filosofia
2- Pré-História: o mundo antes da Filosofia
PARTE 1

A origem da Filosofia
Podemos definir a Pré-história como um período anterior
1- Introdução ao aparecimento da escrita, compreendido entre o aparecimento do
homem sobre a Terra (há aproximadamente 2 milhões de anos).
“O Portanto, esse período é anterior a 4 mil anos a.C, pois foi por volta
Pensador”, Entender o deste ano que os sumérios desenvolveram a escrita cuneiforme.
do francês pensamento filosófico A Pré-história foi uma importante fase, pois o homem
Auguste ocidental é, antes de tudo, conseguiu vencer as barreiras impostas pela natureza e prosseguir com o
Rodin
entender o “nascimento” da desenvolvimento da humanidade na Terra. O ser humano foi
(1840-1917)
razão enquanto ferramenta desenvolvendo, aos poucos, solução práticas para os problemas da vida.
para compreensão e Com isso, inventando objetos e soluções a partir das necessidades. Ao
transformação do mundo. mesmo tempo foi desenvolvendo uma cultura muito importante.
Entende-se por mundo tudo Todos os seres humanos descendem do mesmo ancestral
aquilo que está dentro e fora comum, o hominídeo, cujos fósseis mais antigos foram localizados no
do ser humano, ou seja, a continente africano. As primeiras espécies encontradas foram o
realidade física que o Australopithecus e o Homo habilis. O Australopithecus possuía uma arcada
envolve (natural e criada) e dentária e um esqueleto idêntico aos do homem atual. Além disso, já
as abstrações construídas andava sobre dois pés e possuía um cérebro pequeno. Já o Homo habilis
por ele ao longo de sua foi o primeiro a fabricar e utilizar instrumentos para diversos fins, além
história. de já ter domínio sobre o fogo.
Se levarmos em consideração que o nascimento da Segundo indicam os principais estudos arqueológicos, o
Filosofia, propriamente dita, é recente em termos de tempo histórico Homo erectus foi a última escala evolutiva até o homem atual. Foi ele quem
(data de aproximadamente 2.600 anos atrás), é fundamental entender primeiro abandonou a África, com seu nomadismo, espalhando-se pelo
como a humanidade pensava antes disso. Assim, vale a pena recuarmos mundo. Antes de chegar à espécie atual, o Homo sapiens, o homem passou
até a pré-história para, de forma geral, entendermos como a humanidade por uma série de transformações, conforme atestam os fósseis
evoluiu em seu jeito de pensar, de agir e de modificar o meio em que vivia. encontrados em Neanderthal, na Alemanha, e em Cro-Magnon, na
Afinal, muito do que somos e temos hoje teve suas raízes há vários França.
milênios.
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Neolítico (entre 18 mil e 5 mil anos a.C.) - é marcado
pelo processo de sedentarização da espécie humana. A partir do domínio
sobre técnicas agrícolas e da criação de animais se formaram os
primeiros núcleos urbanos (ainda aldeias) e se deu a organização das
tribos, que correspondem a formações sociais mais complexas. O
domínio mais abrangente do fogo foi o maior exemplo disto. Com o
fogo, o ser humano pôde espantar os animais selvagens, cozinhar a carne
e outros alimentos, iluminar sua habitação e obter calor nos momentos
de frio intenso.
Achados arqueológicos de monumentos funerários
mostraram que nossos ancestrais enterravam seus mortos não apenas
A Pré-história pode ser dividida em três períodos: pelos laços afetivos, mas também por já possuírem concepções religiosas
Paleolítico ou Idade da Pedra Lascada, Neolítico ou Idade da rudimentares (que mais tarde se tornariam as bases do politeísmo e do
Pedra Polida e Idade dos Metais. Nessa longa jornada a humanidade monoteísmo). Também no Neolítico os vasos de cerâmica, usados para
deu passos fundamentais para muito do que ainda temos hoje em termos armazenar alimentos, já possuíam enfeites – um forte indício de que o
de conquistas (aperfeiçoadas, é claro!) e de modos de vida. ser humano começava a se aproximar das artes e dos valores estéticos.
Ainda naquele período ocorreu a divisão do trabalho por sexo dentro das
Paleolítico (entre 500 mil e 18 mil anos a.C.) - é comunidades. Enquanto o homem ficou responsável pela proteção e
caracterizado pelo uso de utensílios elaborados a partir da pedra lascada. sustento das famílias, a mulher ficou encarregada de criar os filhos e
Nesse momento o ser humano era genuinamente nômade (embora cuidar da habitação.
também usasse cavernas como abrigos provisórios e tenha, nos milênios
finais, caminhado para um período de mais sedentarismo, devido a um Idade dos Metais (entre 5
grande resfriamento da Terra). Ele sobrevivia a partir da coleta, da caça e mil e 4 mil anos a.C.) - foi o momento em
da pesca, além de já ter conhecimento e um certo domínio do fogo. que o ser humano, aperfeiçoando técnicas de
Usavam instrumentos e ferramentas feitos a partir de pedaços de ossos e metalurgia, conseguiu elaborar instrumentos
pedras. Os bens de produção eram de uso e propriedade coletivas. de trabalho e armas. Com isso, alguns grupos
Nesta fase os seres passaram a deter a hegemonia sobre outros e
humanos se comunicavam com uma as sociedades se dividiram em classes sociais.
linguagem pouco desenvolvida, baseada A produção de excedentes
em pouca quantidade de sons, sem a agrícolas e sua armazenagem garantiam o
elaboração de palavras. Uma das formas alimento necessário para os momentos de
de comunicação eram as pinturas seca ou inundações. Com mais alimentos, as
rupestres. Através deste tipo de arte o comunidades foram crescendo e logo surgiu a
homem trocava idéias e demonstrava necessidade de trocas com outras
sentimentos e preocupações cotidianas. comunidades. Foi nesta época que ocorreu
Para melhor determinar alguns avanços, um intenso intercâmbio entre vilas e
há historiadores que dividem o Paleolítico pequenas cidades. A divisão de trabalho,
Pinturas rupestres achadas em Inferior (entre 500 mil e 30 mil anos dentro destas comunidades, aumentou ainda
a.C.) e Superior (entre 30 mil e 18 mil mais, dando origem ao trabalhador
no Norte da África
anos a.C.). especializado (o artesão).
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2- O nascimento da Filosofia 2.1-OS PRÉ-SOCRÁTICOS (FILÓSOFOS DA NATUREZA)
“Ser ou não ser:
eis a questão”. No século 7 a.C., na Jônia, região dominada pelos gregos,
localizada nas ilhas e na costa continental mediterrânea da Ásia Menor, o
Cena clássica de comércio se intensificava, gerando riquezas que favoreceram importantes
Hamlet, peça de progressos materiais e culturais. Ao mesmo tempo, elaboravam-se
Shakespeare. técnicas mais eficientes para a produção de bens que proporcionaram
Uma busca eterna melhorias no padrão de vida dos cidadãos. Por exemplo, na engenharia
da Filosofia. (represas e poços, desvio de rios), na astronomia (previsão de eclipses) e
na construção naval.
Quando nasceu a filosofia? Estudiosos e pesquisadores Nesse ambiente de grandes avanços e transformações no
apontam o período de 800 a 500 anos a.C. como aquele em que se deu o modo de vida urbano, surgiram questões para as quais as explicações
florescimento e a consolidação dessa prática reflexiva. A filosofia mitológicas soavam cada vez mais insuficientes. Foi nesse cenário que
favoreceu o desenvolvimento da atitude científica e do pensamento surgiram os filósofos pré-socráticos.
abstrato dedicado à busca do princípio e da essência das coisas. A partir Os pensadores gregos pré-socráticos – assim chamados
dela os homens não mais explicariam os fatos e os fenômenos pela sua porque antecederam historicamente a Sócrates, o primeiro dos três
mera aparência, nem precisariam se guiar pelos mitos, preconceitos, grandes filósofos da Grécia antiga (os outros são Platão e Aristóteles) –
superstições. viveram entre os séculos 7 a.C. e 5 a.C.
Há unanimidade em atribuir aos gregos o privilégio da A filosofia floresceu inicialmente nas províncias gregas
originalidade dessa revolução no campo das idéias. Mas por que coube da Jônia e, poucos anos depois, no sul da península Itálica, tanto no
aos gregos esse feito? É sabido que civilizações orientais, como a egípcia, continente quanto nas ilhas, onde os gregos fundaram colônias. Dentre
a chinesa e a indiana, não menos importantes e influentes culturalmente, os principais filósofos pré-socráticos podemos citar, conforme as suas
fizeram incursões no campo da especulação filosófica, capacitando-se, cidades de origem: Tales, Anaxímenes e Anaximandro, de Mileto;
portanto, à criação dessa nova mentalidade. Contudo, a argumentação Pitágoras, de Samos; Heráclito, de Efeso; Xenofonte, de Cólofon;
corrente é a de que teriam desenvolvido noções filosóficas a partir de Parmênides e Zenão, de Eléia; Anaxágoras, de Clazômenas; Empédocles,
questões como a natureza da divindade, a alma humana e a vida pós- de Agrigento; Leucipo e Demócrito, de Ahdera.
morte, por exemplo, conferindo-lhes um caráter religioso.
Os pré-socráticos são também conhecidos como
Durante séculos, ainda na Antiguidade, questionou-se a
filósofos da natureza, e essa primeira fase do pensamento grego é
primazia da Grécia na elaboração dessa nova forma de pensamento,
sugerindo a hipótese da simples assimilação, pelos gregos, de idéias chamada de naturalista, já que a investigação filosófica é dirigida para o
advindas de outros povos, embora lhes fosse reconhecido o mérito do mundo exterior, para a natureza (a palavra grega correspondente é physis),
desenvolvimento e aprimoramento da sabedoria. Apesar disso, e ainda onde se acreditava ser possível encontrar o princípio de todas as coisas,
que a discussão permaneça aberta e subordinada a avanços em estudos, isto é, aquilo que está em todos os seres existentes, que é comum a tudo.
pesquisas e descobertas arqueológicas na área da História antiga, todos Procurava-se esse princípio (a arché) porque, segundo
os historiadores concordam em afirmar que a civilização grega foi a aqueles filósofos, ele seria a chave para conhecer e explicar tudo o que
primeira a elaborar uma forma de pensamento que se desvincula das existe no universo. Essa arché, além de estar presente em todas as coisas,
explicações míticas e religiosas e parte para a investigação científica e também teria uma atividade; seria uma força que, conforme seus
racional do princípio e da natureza das coisas, constituindo uma diferentes modos de ação, daria origem à variedade de fenômenos
disciplina independente da religião. naturais.
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De onde teriam surgido o Sol, as montanhas, os homens 2.2- TALES DE MILETO
etc? Seria possível concluir que as coisas se originam de algum elemento, Os escassos relatos
de algum ser ou substância que sempre existiu? E se esse elemento fosse biográficos sobre Tales (624-546? a.C.)
eterno, seria ele capaz de transformar-se em outros? Por exemplo: afirmam que ele, além de se dedicar à
considerando o ar um elemento eterno, como ele poderia se transformar Filosofia, atuava também na política,
em pássaros ou nuvens? Se fosse o fogo, será que ele poderia se trabalhando para que as cidades da Jônia se
transformar em pedras ou em árvores? Teria a água condições de se unissem em defesa de seus interesses
transformar em peixes? E os homens? De que elemento teriam surgido comuns. Tales foi também um engenheiro
os homens? hábil; realizou, entre outros, projetos para
Os filósofos gregos, observando as constantes desviar o curso de rios, para favorecer a
transformações que ocorrem na natureza, buscavam uma explicação irrigação e a navegação. Dedicou-se, ainda,
racional para os fenômenos naturais, explicação que não era à astronomia: segundo alguns historiadores,
satisfatoriamente oferecida pelos mitos ou pelos deuses. Na verdade, eles ele teria previsto um eclipse solar que
queriam descobrir os princípios eternos. aconteceu em 585 a.C.
Não era apenas uma tentativa de explicar raios e trovões Tales considerava a água o princípio de todo o universo.
ou a chuva e o Sol; não queriam, tampouco, somente entender a noite e Como resposta à pergunta: “Qual é a qualidade ou o ser primordial de
o dia. Buscavam a causa primeira, a origem de tudo o que há no que o mundo é feito?”, ele teria afirmado: “A água é o princípio de tudo”
universo. Pode-se dizer que os filósofos pré-socráticos deram o passo Segundo Simplício (comentador da filosofia grega que
inicial na tentativa de uma forma mais ordenada, mais lógica de pensar, viveu no século 6 a.C.), existem algumas hipóteses para explicar o que
que posteriormente daria origem às ciências naturais que conhecemos, teria levado Tales a escolher a água como o princípio universal. Por
como a Física, a Biologia, a Astronomia e outras. exemplo: a água se apresenta nos três estados em que vemos os corpos
Os escritos desses primeiros filósofos perderam-se quase na natureza: líquido, sólido e gasoso. Portanto, Tales poderia ter
que totalmente. Sobraram apenas alguns fragmentos - pequenos trechos, concluído que ela pode se transformar ilimitadamente.
pedaços de frases que chegaram até nós graças aos filósofos posteriores,
como Aristóteles, que comentaram o pensamento pré-socrático. Ainda
assim, esses fragmentos têm sido discutidos ao longo de toda a história 2.3- ANAXIMANDRO
da filosofia, até a atualidade. Anaximandro (610-546? a.C.)
discorda de Tales quando afirma não ser
As transformações possível explicar o surgimento dos elementos
ocorridas no cotidiano da Grécia, no da natureza por meio de um elemento
século 7 a.C., causaram um grande determinado – a água. Segundo ele, o princípio
impacto no modo como os gregos do universo é o ápeiron, ou princípio
viam o mundo, o que se refletiu na indeterminado, sem fim e em movimento
filosofia pré-socrática. Os primeiros perpétuo. Desse movimento teriam surgido os
pré-socráticos são de Mileto, na elementos visíveis e as primeiras qualidades –
Jônia, região da Ásia Menor. Seus “quente” e “frio” – dando origem ao fogo e
nomes são Tales, Anaximandro e ao ar. Em seguida, viriam as qualidades “seco”
Anaxímenes, e são eles que iniciam a e “úmido”, originando a terra e a água. Os
busca do princípio que explicaria seres vivos teriam nascido da evaporação da
todas as coisas. água submetida à luz e ao calor do sol.
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Divergências à parte, a principal contribuição de Assim, a idéia absolutamente original trazida por
Anaximandro foi ter desenvolvido um processo de abstração, ou seja, Heráclito é a de que o mundo não é um lugar estático, mas um fluxo,
imaginou um princípio gerador do universo que não estivesse visivelmente uma mudança permanente de todas as coisas, um constante vir-a-ser.
presente no mundo sensível. Para ele nada permanece o mesmo, nem por um instante. O que é hoje,
amanhã não mais será. São frases dele: “o Sol é novo a cada dia” e
“ninguém se banha duas vezes na água do mesmo rio”.
2.4- ANAXÍMENES Tudo flui, tudo passa, tudo se move sem cessar. A vida se
Da mesma forma que Tales e transforma em morte, a morte em vida; o úmido seca, o seco umedece; a
Anaximandro, Anaxímenes (585 ?-525? a.C.) noite torna-se dia, o dia torna-se noite; a vigília cede ao sono, o sono
também procurou por um elemento material cede à vigília; o jovem torna-se velho, o velho se faz criança. O mundo é
cósmico que justificasse os processos da um perpétuo renascer e morrer, rejuvenescer e envelhecer. Nada
natureza. Afirmava que o ar, com seus permanece idêntico a si mesmo. Assim, para Heráclito, a essência
atributos, como a infinitude e o movimento
verdadeira está na transformação.
incessante, seria o gerador da multiplicidade
das coisas e que isso se daria por meio da Além disso, tudo tem o seu ser, mas também o não-ser, o
rarefação e da condensação do ar. seu oposto. Assim, tudo no universo está em permanente guerra contra
Segundo Simplício, Anaxímenes afirmava que seu contrário. Os seres vivos morreriam porque já trariam oculta em si a
o ar, “rarefazendo-se, torna-se fogo; morte. Conhecer qualquer coisa só é possível porque existe o seu
condensando-se, vento, depois, nuvem, e contrário; sabemos o que é a alegria porque experimentamos a tristeza, e
ainda mais água, depois terra, depois pedras, e vice-versa. O mesmo, segundo Heráclito, aconteceria com as qualidades
as demais coisas provêm dessas. Também ele de tudo o que existe, sempre aos pares. Por exemplo, a guerra e a paz, o
faz eterno o movimento pelo qual se dá a quente e o frio, o amor e o ódio.
transformação”.

2.6- PITÁGORAS
2.5- HERÁCLITO
Os dados biográficos de
Nascido em Éfeso,
Pitágoras (580?- 500? a.C.) são escassos.
também na Jônia, Heráclito (540?-480?
Sabe-se que ele transmitia seus
a.C.) é considerado por numerosos
ensinamentos oralmente a um círculo
autores da história da filosofia o mais
restrito de discípulos, e que era proibido,
importante dos pré-socráticos, apesar de
para os pitagóricos, divulgar sua doutrina
ter sido conhecido como “o obscuro”,
a pessoas que não pertencessem ao grupo
por apresentar seu pensamento por
de iniciados. Por isso o filósofo não
meio de aforismos (provérbios), com
deixou nenhum escrito. Somente décadas
um estilo propositadamente enigmático.
após sua morte alguns seguidores tardios
Sua idéia mestra é o devir eterno, a
de suas idéias escreveram obras pelas
transformação incessante, pela qual as
quais temos acesso ao pensamento dessa
coisas se constróem e se dissolvem em
escola filosófica.
outras.
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Pitágoras é bem conhecido entre nós por seu famoso Para esse filósofo existem dois caminhos: o da verdade e
teorema. Mas esse matemático e filósofo grego, nascido em Samos, o da opinião. Ao percorrer o caminho da verdade, o homem, guiado pela
também cultivava uma religiosidade profunda e se preocupava com as razão, perceberia que o que é, é e não pode deixar de ser. Ao escolher o
questões morais de seu tempo. De fato, sua obra como pensador está caminho da opinião, o homem se tornaria refém delas, tendo seu
diretamente ligada às suas crenças em relação ao universo e aos homens. pensamento impedido de chegar à verdade.
No lugar das divindades, o pensamento pitagórico coloca a matemática. Através dos sentidos, os homens percebem os mais
A escola fundada por Pitágoras constituía-se, basicamente, diversos fenômenos naturais, constatam mudanças nas pessoas e nos
de um grupo de pessoas cujas atividades tinham uma forte conotação seres vivos em geral; em resumo, testemunham um mundo que está em
religiosa. O filósofo e seus seguidores buscavam desvendar os segredos da constante transformação. Segundo Parmênides, entretanto, o que é
harmonia presente no universo. Segundo Pitágoras, o universo se moveria, percebido pelos sentidos não permite que o homem conheça realmente a
se transformaria segundo uma harmonia precisa, equilibrada e eterna. Não verdade, o ser verdadeiro e universal.
existiria nada no universo que estivesse fora das proporções adequadas. Na concepção desse filósofo, o ser é e o não-ser não é.
O ideal pitagórico de harmonia pode ser entendido mais Em outras palavras, o não-ser simplesmente não existe; é inconcebível
facilmente se analisarmos uma das descobertas mais importantes desse mesmo para o pensamento, pois, se pudesse ser pensado, existiria pelo
pensador. Pitágoras percebeu que o som produzido quando se tocava uma menos como idéia. Para ele os sentidos nos oferecem uma visão
corda esticada variava segundo uma proporção exata. Se uma corda de um enganadora do mundo, diferentemente da razão. A razão humana seria o
determinado tamanho produzia certo som, quando seu comprimento era verdadeiro caminho de conhecimento do mundo, e não os sentidos.
reduzido à metade o som obtido era duas vezes mais agudo. Da mesma
forma, tomando-se uma corda duas vezes maior que a inicial, o som 2.8- DEMÓCRITO
obtido era duas vezes mais grave. Assim, ele concluiu que, exatamente
como na música, tudo no universo deveria se organizar segundo Demócrito (460?-370? a.C.),
proporções equilibradas, regidas pelos números racionais. nascido em Abdera, afirmava que tudo o que
Descobrir a essência de todas as coisas significava para ele existe no universo é formado por átomos,
estudar as relações matemáticas que estariam ocultas em todos os partículas indivisíveis e minúsculas que teriam
fenômenos do universo. É interessante ressaltar que vários historiadores apenas grandezas diferentes. Os átomos estariam
afirmam que Pitágoras foi o primeiro pensador a utilizar a palavra filosofia em constante movimento, em diversas
para designar essa atividade incansável de busca amorosa do saber, da velocidades e, ao chocarem-se uns contra os
verdade (Philhos = amor, amizade; Sophia = saber). outros, agrupando-se ou dispersando-se,
formariam toda a variedade de seres e objetos
existentes.
2.7- PARMÊNIDES No século 19 os cientistas retomaram a palavra grega
átomo (aquilo que não pode ser dividido) para designar a menor
Parmênides (515?-450? a.C.) é, entre partícula da matéria. Aproximavam-se, pois, da idéia defendida por
os eleatas (filósofos nascidos na colônia grega de Demócrito, mais de vinte séculos antes. Mais tarde descobriu-se que a
Eléia), o mais ilustre. Na época os filósofos se partícula modernamente chamada de átomo era, na verdade, formada
depararam com uma grande variedade de explicações por outras subpartículas (prótons, nêutrons e elétrons). O nome ficou.
sobre a physis (a natureza) e a arché (o princípio de
todas as coisas). Esse filósofo aplicou outro método Material adaptado do livro “Vivendo a Filosofia”, de Gabriel Chalita (Editora
de investigação: ele praticamente deu início às Atual), além de informações sobre a pré-história compiladas do site
reflexões sobre a lógica e a ontologia (estudo do ser). “Historianet” (www.historianet.com.br)

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PARTE 2 Em Atenas a
ágora, isto é,
a praça

A Filosofia vai às ruas


pública, é o
símbolo da
democracia:
ali se
decidem os
assuntos de
toda a pólis
(cidade).
Mas, para
isso, os
cidadãos
precisam
saber falar
bem.

A tragédia também era uma reflexão sobre o conflito entre


a liberdade individual e o destino, tema que incomodava os cidadãos da
democracia: afinal de contas, até que ponto eles teriam poder sobre suas
vidas? Como exemplo temos a história de Édipo Rei, escrita por Sófocles
(497?-406 a.C.); baseada num mito, narra como Édipo veio
1- Os Sofistas inadvertidamente a assassinar seu pai e se casar com sua mãe, Jocasta, e as
No século 5 a.C. Atenas vivia o auge de um regime de punições que o destino reservou para ele, sua família e sua cidade por
governo no qual os homens livres decidiam os interesses comuns a todos causa desses crimes.
os cidadãos. Em outras palavras, eles determinavam, em discussões As propostas que os cidadãos atenienses defendiam
públicas, como a cidade devia ser administrada. Era considerado cidadão publicamente eram feitas por meio de discursos proferidos na ágora. Para
o homem que possuísse alguma propriedade (uma casa, pelo menos), que obter a aprovação da maioria, esses pronunciamentos deveriam conter
tivesse escravos, e que não fosse estrangeiro. Ou seja, nem todos argumentos sólidos e persuasivos: falar bem e de modo convincente era
participavam das decisões públicas; as mulheres, por exemplo, eram considerado, portanto, um dom muito valioso. Por isso havia cidadãos que
excluídas. Esse regime de governo era a democracia ateniense, que, procuravam aperfeiçoar sua habilidade de discursar a fim de melhor con-
embora não garantisse os mesmos direitos para todas as pessoas, vencer os outros.
representou uma importante mudança no modo de ver o mundo, pois A necessidade de se expressar bem, juntamente com a
tinha como fundamento a idéia de que o homem tem soberania sobre seu importância que foi dada ao indivíduo, naquele período concebido como
destino. o senhor de seu destino, favoreceu o surgimento de uni grupo de filósofos
No mesmo período se deu o auge da produção de um chamados sofistas, que dominavam a arte da oratória, isto é, o uso
gênero de teatro conhecido como tragédia. Esse gênero dramático habilidoso da palavra. Esses filósofos eram originários de diferentes
tematizava acontecimentos terríveis, muitas vezes míticos, e tinha a cidades e viajavam pelas póleis governadas da mesma forma democrática,
intenção de mostrar as conseqüências de atos imorais e passionais dos especialmente Atenas, onde discursavam em público e ensinavam sua arte
homens. em troca de pagamento.
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Os sofistas, entretanto, não foram somente professores,
mas também estabeleceram uma corrente de pensamento própria. Sua 2- Sócrates
preocupação filosófica se voltava para o homem e a vida em sociedade; as
questões que ocuparam os pré-socráticos, dirigidas para a natureza e a “Só sei que nada sei.”
essência do universo, foram colocadas em segundo plano. Alguns (Sócrates)
pensadores sofistas foram Górgias (483?-376 a.C.), Hípias (século 5 a.C. e
Protágoras (485?-410? a.C.), a quem se atribui uma famosa frase: “o
homem é a medida de todas as coisas”. “Conhece-te a ti mesmo”
Para os sofistas tudo devia ser avaliado segundo os (preceito do Oráculo de Delfos difundido por Sócrates)
interesses do homem e de acordo com a forma como este vê a realidade
social. Isso significava que, segundo as corrente de pensamento, as regras
morais, as posições políticas e os relacionamento sociais deveriam ser Tudo o que sabemos sobre a
guiados conforme a conveniência individual. Para esse fim, qualquer vida e o pensamento de Sócrates (470?-399
pessoa poderia se valer de um discurso convincente, mesmo que falso ou a.C.) é proveniente dos comentários do
sem conteúdo. filósofos que seguiram suas idéias, pois ele não
Os sofistas usavam, de deixou nenhum escrito. Nossas principais
fato, complicados jogos de palavras, fontes são Platão e Xenofonte (431 - 350?
trocadilhos, raciocínios sem lógica, a.C.), pensador ateniense que foi um grande
todos os recursos do discurso para admirador de Sócrates. Também conseguimos
demonstrar a “verdade” daquilo que se algumas informações sobre o filósofo a partir
pretendia alcançar. Esse tipo de de Aristófanes (450? - 388? a.C.), escritor de
argumento ganhou o nome de sofisma. teatro que satirizava os sofistas em suas
Segundo a sofística, o que importava comédias. Sócrates é personagem de uma de
para o ser humano era obter prazer com suas peças, As nuvens, mas aparece ali como
a satisfação de seus instintos, de seus uma caricatura, como se fosse um desatinado.
desejos individuais. Assim, até mesmo Sócrates era filho de
dominar outros cidadãos seria Sofronisco, um escultor, e de Fenareta, uma
justificado, se isso gerasse alguma parteira. Nasceu em Atenas, onde passou toda
vantagem pessoal. a sua viola. Certo dia, seu amigo Querofonte
Em resumo, a sofística testemunha a afirmação, proveniente do
destruía os fundamentos de todo Oráculo de Delfos, de que Sócrates era “o mais
conhecimento, já que tudo seria relativo sábio dos homens”. inicialmente intrigado,
e os valores seriam subjetivos, assim Sócrates procura o sentido de tal afirmação.
como impedia o estabelecimento de um Sendo um homem sem nenhum conhecimento
conjunto de normas de comportamento especializado, deduz que sua sabedoria só
que garantissem os mesmos direitos poderia ser resultado da percepção que tinha
Os sofistas aperfeiçoaram para todos os cidadãos da pólis. Foi nesse da própria ignorância, e, seguindo a indicação
técnicas de discursos contexto que surgiu um pensador cuja do deus ApoIo, passa a questionar todo aquele
persuasivos, mais tarde muito Sócrates incorpora a
usados especialmente por
doutrina se opunha profundamente à que se considerasse dotado de sabedoria. imagem do
políticos e advogados sofística: Sócrates. verdadeiro sábio

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O instrumento adotado por Sócrates para o exercício de Como resultado, em 399 a.C. Sócrates foi levado a
sua atividade filosófica foi o diálogo, dividido em duas etapas sucessivas. julgamento. Diante dos juízes, rebateu os argumentos de seus
Na primeira delas, a que se chamou de ironia, o filósofo, insistindo em acusadores e, apesar de se declarar inocente, foi condenado à morte por
que nada conhece, leva o interlocutor a apresentar suas opiniões para, em envenenamento. Foi, no entanto, concedida a chance de escapar da pena
seguida, envolvê-lo na estrutura confusa de suas próprias afirmações, se renegasse suas idéias diante do tribunal, ao mesmo tempo em que
terminando por trazer à tona toda a ignorância desse interlocutor a respei- alguns amigos arquitetavam um plano para que ele fugisse de Atenas.
to daquilo que até então acreditava ser verdade. Entretanto, Sócrates não aceitou nenhuma das alternativas, ambas
A ironia, no sentido empregado pelo filósofo, era uma desonrosas do seu ponto de vista, e foi morto por meio da ingestão de
dissimulação: Sócrates fingia desconhecer o assunto tratado no diálogo e cicuta, um veneno letal extraído de uma planta de mesmo nome.
fazia perguntas ao interlocutor, supostamente desejando compreender o
tema. A cada resposta o filósofo encontrava uma falha no raciocínio da “A Morte de Sócrates”,
pessoa e formulava outras questões, até o interlocutor chegar a uma quadro do pintor
contradição e demonstrar a sua ignorância. Na segunda fase do diálogo francês Charles-
socrático, denominada maiêutica (“parto das idéias”), o interlocutor era Alphonse Du Fresnoy,
do século 17.
levado a tentar elaborar as próprias idéias, ir ao encontro da própria alma
e adquirir, a partir de então, uma existência autêntica e verdadeiramente Sócrates morreu se
original. mantendo coerente
com as idéias que
Sócrates transmitia seus ensinamentos a qualquer homem, sempre defendeu
tivesse ele um interesse especial pelo debate filosófico ou não. Ele aplicava
o método do “parto das idéias” num sentido amplo, que não se restringia
a sua doutrina específica. Por exemplo, por meio do dialogo, Sócrates teria As atitudes de Sócrates revelam o principal aspecto de sua
levado um escravo – que normalmente era desprovido de qualquer filosofia: a busca pelo bem na vida em sociedade. Em outras palavras, a
instrução e considerado inferior em inteligência – à demonstração do doutrina socrática chama a atenção por ter um notável conteúdo moral. A
teorema de Pitágoras. Sua popularidade em Atenas era decorrente de sua procura pela verdade implicava, para Sócrates, conseguir uma convivência
atitude em relação à filosofia: Sócrates percorria a cidade com freqüência, honesta e digna entre os homens.
dialogando com jovens e adultos nos espaços públicos. Essa atividade, Para o filósofo, conhecer a verdade teria como
aliás, era condizente com a cultura ateniense da época. Afinal, a conseqüência inevitável agir bem; quanto aos maus atos, só seriam
democracia se fundamentava justamente nos debates públicos. cometidos por ignorância. O bem e a verdade estariam intimamente
ligados, seriam inseparáveis: conhecer seria igual a conhecer o bem. Agir
Sua popularidade conforme o bem seria decorrência do conhecimento. Pelo mesmo
Através do diálogo
e do o levou também a uma raciocínio, uma ação danosa a si ou a outros seria decorrência do
questionamento, conseqüência funesta. Alguns desconhecimento.
Sócrates cidadãos de Atenas, enfurecidos De acordo com o pensamento de Sócrates a finalidade da
transmitia seus pela ironia que Sócrates não vida é a felicidade, que estaria na capacidade do ser humano de
ensinamentos.
tinha medo de usar, acusaram-no estabelecer para si mesmo, por meio do saber, suas próprias leis e regras
Ao lado, o filósofo oficialmente de impiedade (por de conduta. Não seria essa, enfim, a condição fundamental do homem
em um afresco
desrespeito aos deuses, à religião) verdadeiramente livre?
encontrado numa
casa em Éfeso. e de induzir os jovens a se
comportar de maneira imprópria. Material adaptado do livro “Vivendo a Filosofia”, de Gabriel Chalita (Editora Atual)

17 18
No quadro
“Scuola di
PARTE 3 Atene”, do pintor
Raffaello Sanzio
(1483-1520), é

A ampliação dos horizontes retratada a


Academia,
fundada por
Platão. Por quase
um milênio ela foi
mantida como um
centro de saber,
por onde
passaram
milhares de
pensadores

A maior parte do pensamento platônico nos foi transmitida por


intermédio da fala de Sócrates, nos diálogos socráticos, escritos por
Platão. São 30 diálogos, entre os quais os mais conhecidos: Apologia de
Sócrates (onde torna público o discurso que Sócrates fez em seu
julgamento); Híppias Maior (diálogo sobre o que é o belo); Eutifron
(diálogo sobre o que é a piedade); Menon (diálogo sobre o que é a
virtude), Teeto (diálogo sobre o que é a ciência); Fédon (sobre a
1- Platão imortalidade da alma, esta obra faz um relato dos últimos dias de
Sócrates), Crátilo (explica a relação entre as coisas e os nomes que lhes
Nascido em Atenas, Platão (427-347a.C.) pertencia a uma das mais são dados), O Banquete (diálogo sobre o amor), Górgias (diálogo sobre
nobres famílias atenienses. Seu nome verdadeiro era Arístocles, mas, a violência, faz a diferença entre a filosofia e a sofística) e, o mais
devido a sua constituição física, recebeu o apelido de Platão, termo grego importante, A República ( um tratado completo, onde expõe um sistema
que significa “de ombros largos”. de governo e modo de vida ideais).
Platão foi discípulo de Sócrates, a quem considerava “o mais sábio e Através dos diálogos Platão vai caracterizando as causas inteligíveis
o mais justo dos homens”. Depois da morte de seu mestre, empreendeu dos objetos físicos que ele chama de idéias ou formas. Elas seriam
inúmeras viagens, num período em que ampliou seus horizontes culturais incorpóreas e invisíveis, mas reais, eternas e sempre idênticas a si mesmas,
e amadureceu suas reflexões filosóficas. escapando à corrosão do tempo, que torna perecíveis os objetos físicos.
Por volta de 387 a.C. retornou a Atenas, Perfeitas e imutáveis, as idéias constituiriam os modelos ou paradigmas
onde fundou sua própria escola filosófica, a dos quais as coisas materiais seriam apenas cópias imperfeitas e
“Academia”, assim chamada por estar no jardim transitórias. Seriam, pois, tipos ideais a transcender o plano mutável dos
do herói grego Academos. Lá ensinava objetos físicos.
Matemática, Ginástica e Filosofia. Ele Um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão é a sua
valorizava muito a matemática, por ela nos dar a teoria das idéias, com a qual procura explicar como se desenvolve o
capacidade de raciocínio abstrato. Essa escola conhecimento humano. Segundo ele, o processo de conhecimento
foi uma das primeiras instituições permanentes humano se dá por meio da passagem progressiva do mundo das sombras
de ensino superior do mundo ocidental. e aparências para o mundo das idéias e essências.
19 20
Se quiséssemos Essa poderosa crítica à condição dos homens, escrita há quase
resumir a filosofia de 2.500 anos, inspirou e ainda inspira inúmeras reflexões. Exemplos disso
Platão em uma palavra, são os filmes da trilogia “Matrix”, sucesso do cinema, e o livro “A
poderíamos dizer que ela Caverna”, do escritor português José Saramago. O desenhista Maurício de
é fundamentalmente um Souza, inclusive, criou uma história com Piteco (um dos tantos
dualismo. Ao admitir a personagens da sua Turma da Mônica) em que ele reproduz exatamente –
existência de dois e com referência – o Mito da Caverna, de Platão.
mundos – o mundo das Em Matrix, o
idéias imutáveis, eternas, e personagem
o mundo das aparências principal – o
sensíveis, mutáveis – hacker Neo – é
tirado de um
Platão concebe ao mundo mundo virtual,
sensível uma certa criado por
realidade, mas ele só máquinas, e
levado a
existe porque participa do conhecer o
mundo das idéias, do qual mundo real. É
é uma cópia, ou, mais como se ele
exatamente, uma sombra. estivesse vivendo
na caverna
A teoria das idéias de Platão representa a tentativa de conciliar descrita no mito
duas correntes anteriores defendidas por dois pré-socráticos: a de Platão, e fosse
concepção do ser eterno e imutável, de Parmênides, e a concepção do levado para o
ser plural e móvel, de Heráclito. Para Platão o ser eterno e universal lado de fora
habita o mundo da luz racional, da essência e da realidade pura. E os
seres individuais e mutáveis moram no mundo das sombras e sensações, 1.1.1. A condição humana
das aparências e ilusões. Platão viu a maioria da humanidade condenada a uma infeliz
Em uma de suas obras mais famosas – “A República” – o filósofo condição. Imaginou todos presos desde a infância no fundo de uma
explica com clareza o que seria o mundo da razão e o mundo dos caverna, imobilizados, obrigados pelas correntes que os atavam a olhar
sentidos. Ele criou uma alegoria (o Mito da Caverna) para explicar como sempre a parede em frente. O que veriam, então? Ele supôs que existiam
o ser humano pode chegar ao verdadeiro conhecimento ou como pode algumas pessoas, uns prisioneiros, que carregavam para lá e para cá, sobre
ficar preso ao mundo das aparências. É o que veremos a seguir. suas cabeças, estatuetas de homens, de animais, vasos, bacias e outros
vasilhames, detrás do muro onde os demais estavam encadeados. Como
só havia naquela caverna uma escassa iluminação vindo do fundo do
1.1. O Mito da Caverna subterrâneo, os habitantes dali só poderiam enxergar o movimento das
sombras daqueles objetos, surgindo e se desfazendo diante deles. Era
O Mito da Caverna narrado por Platão no livro VII de A assim que viviam os homens, na alegoria criada por Platão. Acreditavam
República é, talvez, uma das mais poderosas metáforas imaginadas pela que as imagens fantasmagóricas que apareciam aos seus olhos (que o
filosofia, em qualquer tempo, para descrever a situação geral em que se filósofo chama de ídolos) eram verdadeiras, tomando o espectro pela
encontra a humanidade. Para o filósofo, todos nós estamos condenados realidade. A sua existência era, pois, inteiramente dominada pela
a ver sombras à nossa frente e tomá-las como verdadeiras. ignorância.
21 22
1.1.2. Libertando-se dos grilhões 1.1.4. O visível e o inteligível
Se por um acaso, segue Platão na sua narrativa, alguém resolvesse Há, pois, dois
libertar um daqueles pobres diabos da sua pesarosa ignorância e o mundos. O visível é aquele Platão
levasse, ainda que arrastado, para longe daquela caverna, o que poderia em que a maioria da teorizava que
para tudo que
então suceder-lhe? Num primeiro momento, chegando do lado de fora, humanidade está presa, existe no
ele nada enxergaria, ofuscado pela extrema luminosidade do exuberante condicionada pelo lusco- mundo real
Sol. Mas, depois, aclimatado, ele iria desvendando aos poucos, como se fusco da caverna, crendo há uma
fosse alguém que lentamente recuperasse a visão, as manchas, as iludida que as sombras são espécie de
modelo ideal,
imagens, e, finalmente, uma infinidade de objetos maravilhosos que o a realidade. O outro perfeito
cercavam. mundo, o inteligível, é
Assim, ainda privilégio de alguns
estupefato, ele se poucos; os que conseguem O visível é o império dos sentidos,
depararia com a superar a ignorância em captado pelo olhar e dominado pela
existência de um que nasceram e, rompendo subjetividade; o inteligível é o reino da
outro mundo, com os ferros que os inteligência (nous) percebido pela razão
totalmente oposto prendiam ao subterrâneo, (logos). O primeiro é o território do homem
ao do subterrâneo ergueram-se para a esfera comum (demiurgo), preso às coisas do
em que foi criado. da luz em busca das cotidiano; o outro é a seara do homem sábio
O universo da essências maiores do Bem (filósofo), que se volta para a objetividade,
ciência (gnose) e o e do Belo. descortinando um universo diante de si.
do conhecimento
(episteme), por
inteiro, se 1.2. Amor platônico
escancararia Ilustração do Mito da
perante ele, que Caverna, que ressalta Há na doutrina platônica sobre a compreensão da alma um
poderia, então, as etapas que elemento importante: Eros, o Amor. Platão ensinava que Eros é uma
vislumbrar o envolvem a busca pelo força que instiga a alma para atingir o Bem; ele não cessa de mover a alma
mundo das formas verdadeiro enquanto esta não for satisfeita. O Bem almejado é determinado pela
conhecimento
perfeitas. parte da alma que prevalecer sobre as outras. Se for a sensual, por
exemplo, a alma não busca um Bem verdadeiro, pois procura a satisfação
dos desejos que Platão julgava os mais baixos, como o apetite e a
ganância.
1.1.3. As etapas do saber Segundo o filósofo, o melhor é que a alma seja conduzida por sua
Com essa metáfora - o tão justamente famoso Mito da Caverna - parte racional e que utilize a energia inesgotável do amor para se dirigir ao
Platão quis mostrar muitas coisas. Uma delas é que é sempre doloroso Bem verdadeiro – que compreende a Justiça, a Honra, a Fidelidade; em
se chegar ao conhecimento, tendo-se que percorrer caminhos bem suma, as virtudes supremas.
definidos para alcançá-lo, pois romper com a inércia da ignorância Platão dedicou uma de suas obras exclusivamente ao discurso sobre
(agnosis) requer sacrifícios. A primeira etapa a ser atingida é a da o amor: “O Banquete”. Para Platão, que usa Sócrates como um dos
opinião (doxa), quando o indivíduo que se ergueu das profundezas da personagens, o Amor é a insuficiência de algo e o desejo de conquistar
caverna tem o seu primeiro contanto com as novas e imprecisas imagens aquilo de que sentimos falta. O Amor se dirige para o Bem, cuja aparência
exteriores. Nesse primeiro instante ele não as consegue captar na externa é a beleza. Existiriam muitas formas de beleza, mas a sabedoria
totalidade, vendo apenas algo impressionista flutuar a sua frente. No seria a maior de todas. A filosofia, defende Platão, é o único caminho para
momento seguinte, porém, persistindo em seu olhar inquisidor, ele contemplar essa suprema verdade. Para se realizar, o filósofo é capaz de se
finalmente poderá ver o objeto na sua integralidade, com os seus perfis desligar da paixão por outro indivíduo e se dedicar à pura contemplação
bem definidos. Aí, então, ele atingirá o conhecimento. Essa busca não da beleza.
se limita a descobrir a verdade dos objetos, mas algo bem mais superior: A expressão “amor platônico” ultrapassou os séculos e ganhou o
chegar à contemplação das idéias morais que regem a sociedade - o significado popular de “amor ideal” – aquele que só se pode contemplar,
Bem (agathón), o Belo (to kalón) e a Justiça (dikaiosyne). idealizar, mas nunca ter concretamente.
23 24
2- Aristóteles 2.1. Aluno ilustre
Um dos “alunos” mais ilustres de
É difícil classificar Aristóteles (384- Aristóteles foi Alexandre (o Grande,
322 a.C.), tão rica e multifacetada foi a sua fundador das Alexandrias). Em 335 a.C.,
obra. Nela encontramos uma exaustiva quando ele subiu ao trono, Aristóteles
compilação dos conhecimentos do seu regressou a Atenas (após longa viagem pela
tempo, mas também uma filosofia que Ásia Menor), onde criou a sua própria
ainda hoje influencia a nossa maneira de escola, o Liceu. Foi-lhe dado este nome
pensar. porque estava situada junto ao templo
Ele foi aluno da Academia de dedicado ao deus Apolo Liceano. Os
Platão, era natural da Macedônia e filho de estudos ali se concentravam sobre o que
um médico famoso. Seu projeto filosófico hoje poderíamos denominar "ciências
está no interesse da natureza viva. naturais", ao contrário da Academia, de
Aristóteles foi o último grande filósofo Platão, onde era dada grande importância à
grego e também o primeiro grande geometria. Tinha dois tipos de cursos: os
biólogo da Europa. Utilizava-se da razão e "exotéricos“, para o público, e os No Liceu, Alexandre – um dos
também dos sentidos em seus estudos. "esotéricos“, destinados apenas a alunos maiores conquistadores de toda
Criou uma linguagem técnica usada ainda iniciados nas várias matérias. O Liceu era a história – se revelou um aluno
hoje pela ciência e formulou sua própria um verdadeiro centro de investigação, apaixonado pelos autores
clássicos e manifestou igual
filosofia natural. apoiado por Alexandre. Nele Aristóteles e interesse pelas discussões
Aristóteles discordava em alguns pontos de Platão. Não acreditava os seus discípulos recolhiam informações filosóficas, pela investigação da
que existisse um mundo das idéias abrangedor de tudo existente; achava acerca de tudo, organizando depois estes natureza, pela medicina,
que a realidade está no que percebemos e sentimos com os sentidos, que dados num sistema global. zoologia e botânica.

todas as nossas idéias e pensamentos entram em nossa consciência


através do que vemos e ouvimos e que o homem possui uma razão inata, 2.2. O pai de todas as ciências
mas não idéias inatas (que já vieram com ele).
Para ele tudo na natureza possui a probabilidade de se concretizar Não foi por acaso que Aristóteles ganharia no mundo moderno o
numa realidade que lhe é inerente. Assim, uma pedra de granito poderia título de “pai de todas as ciências”. Afinal, toda a sua filosofia –
se transformar numa estátua, desde que um escultor se dispusesse a construída a partir de uma observação minuciosa da natureza, da
esculpi-la. Da mesma forma, de um ovo de galinha jamais poderia nascer sociedade e dos indivíduos – foi organizada de uma forma
um ganso, pois essa característica não lhe é inerente. verdadeiramente enciclopédica. Todas as disciplinas científicas,
Aristóteles acreditava que na natureza havia uma relação de causa e especialmente as biológicas e as psicossociais foram construídas sobre
efeito e também acreditava na causa da finalidade. Deste modo, não seus fundamentos.
queria saber apenas o porquê das coisas, mas também a intenção, o A sua idéia fundamental era a de tudo classificar, dividindo as coisas
propósito e a finalidade que estavam por trás delas. Para ele, quando segundo a sua semelhança ou diferença, obedecendo a um conjunto de
reconhecemos as coisas, as ordenamos em diferentes grupos ou perguntas muito simples: como é esta coisa? (o gênero); o que é que a
categorias e tudo na natureza pertence a grupos e subgrupos. Ele foi um difere de outras que lhe são semelhantes? (a diferença). A partir daqui
organizador e um homem extremamente meticuloso. Também fundou a começava a hierarquizar todas as coisas, de uma forma tão ordenada que
ciência da lógica. até então nunca ninguém conseguiu fazer.
25 26
2.3. A lógica
Aristóteles criou a lógica, com o seu silogismo, que pode ser
definido como um trio de termos, no qual o último, que é a conclusão,
contém uma verdade que se chega através das outras duas. A é B, C é
A; portanto C é B. O exemplo clássico de silogismo pode ser dado
pelo trio de frases a seguir:

Todos os homens são mortais.


Sócrates é homem.
Logo, Sócrates é mortal.

No Liceu os alunos exercitavam o debate, como mostra o afresco “A Escola de A lógica não faz parte do esquema que Aristóteles dividiu e
Aristóteles”, do pintor Gustav Adolph Spangenberg. No quadro ao lado – do pintor H. sistematizou as ciências. A lógica considera a forma que deve ter
Goell – é mostrado Aristóteles transmitindo seus conhecimentos de história natural. qualquer tipo de discurso que pretenda demonstrar algo, e em geral
queira ser probatório. Ela pretende mostrar como o pensamento
Aristóteles dividia as coisas em inanimadas (precisavam de agentes procede quando pensa, qual é a estrutura do raciocínio, como são feitas
externos para se transformar) e criaturas vivas (possuem dentro de si a demonstrações.
potencialidade de transformação). Achava que o homem estava acima de A lógica é preliminar às ciências, necessária para o modo como
plantas e animais porque, além de crescer e de se alimentar, de possuir estas são desenvolvidas. Mas não tem em vista a produção de algo, nem
sentimentos e capacidade de locomoção, tinha a razão. a ação moral, e não tem um conteúdo determinado, nem teorético. Ela
Sua astronomia não foi muito desenvolvida. Ele acreditava que o é mais um instrumento necessário à produção mental que origina as
mundo era cíclico, e se convenceu de que a infinita variedade da vida ciências.
podia ser disposta numa série contínua, na qual um elo é indistinguível do
segundo. Ainda de acordo com essa sua visão, existe a escada da natureza, 2.4. A metafísica
que evolui dos organismos mais simples para os mais elevados.
Aristóteles acha que o homem usou as mãos para a manipulação Em sua metafísica, que é um desdobramento da biologia, tudo
porque se tornou inteligente, e não o contrário. Sua fisiologia é é movido por uma força para se tornar algo maior, para evoluir. Tudo
no mundo se move para preencher uma necessidade; entre as várias
considerada precária, pois ele acreditava em coisas como “o cérebro é um causas que determinam um acontecimento, a final é a mais importante.
órgão para resfriar sangue” e “o corpo do homem é mais completo que o Por exemplo, a causa final da chuva não é física; chove porque os seres
da mulher”. Aliás, sua visão da mulher não era das melhores. Para ele, na vivos precisam de água.
reprodução a mulher é passiva e recebe, enquanto o homem é ativo e A matéria é potência, ou seja, tem a capacidade de assumir ou
semeia. Dessa forma as características seriam predominantemente do pai. receber a forma. O bronze é a potência para a estátua de bronze, ou a
Apesar disso suas relações com as mulheres eram amistosas. estátua de bronze existe em potência no bronze. A matéria é potência
Por outro lado, o campo da biologia evoluiu muito com as para uma cadeira de madeira e mais diversos outros objetos de madeira,
conclusões que o filósofo chegou observando a natureza. Para ele o e assim por diante. Todas as coisas materiais têm potência. Os seres
imateriais são puro ato. Nesse caso, o ato ou enteléquia é a forma ou
macaco é o intermediário entre o homem e o quadrúpede, e quanto mais a razão que determina a transformação ou a criação de um ser. A alma
altamente desenvolvida for uma espécie, menor será sua prole. Criou os é a enteléquia do corpo. As substâncias sensíveis e Deus são
princípios do que mais tarde viria a ser a embriologia. enteléquias também na versão do filósofo.
27 28
A metafísica aristotélica (que ele 4- causa final - para onde tende o devir do homem. O que é perfeito
chamava de filosofia primeira) tem as (Deus) não muda, pois não necessita de mais nada para ser completo. As
seguintes funções: investigar as causas coisas mudam com aspiração à perfeição.
e princípios primeiros ou supremos, Na definição aristotélica, a alma é todo princípio vital de qualquer
investigar o ser enquanto ser, investigar organismo. No homem é também a força da Razão. É imortal, puro
pensamento, inviolado pela realidade. É independente da memória. A
a substância, investigar Deus e o supra-
alma é, portanto, enteléquia primeira de um corpo natural e orgânico. A
sensível. Quem investiga as causas alma intelectiva, diz Aristóteles, parece ser uma espécie diferente de alma.
primeiras costuma chegar num impasse Para melhor definir a alma, ele a dividiu em três tipos: alma vegetativa,
que só pode ser entendido pela alma sensitiva e a alma racional. A alma racional seria exclusiva do
existência de um Ser Divino, supra- homem; a sensitiva pertenceria também aos animais; e a vegetativa,
sensível, que não é causado por nada, comum a todos os seres vivos.
que é a causa de si mesmo. Para
Aristóteles existe um Deus, não 2.5. Política e Ética
humano. Era contrário, portanto ao
antropomorfismo. “Metafisica”, quadro de Giorgio de Chirico Aristóteles utiliza-se do termo Política para um assunto único: a
ciência da felicidade humana. A felicidade consistiria numa certa maneira
O Deus seria responsável pelos primeiros movimentos, a sua de viver, no meio que circunda o homem, nos costumes e nas instituições
fonte. Ele é pura energia, incorpórea, indivisível, assexuado, sem adotadas pela comunidade à qual pertence. O objetivo da política é,
alteração, eterno e perfeito. É autoconsciente; então, não faz coisa primeiro, descobrir a maneira de viver que leva à felicidade humana, isto é,
alguma. Sua única ocupação e contemplar a essência das coisas, pois ele sua situação material, e, depois, a forma de governo e as instituições
próprio é essência. Ou seja, ele pensa e contempla a si mesmo. Ele não sociais capazes de a assegurarem.
pensa os mortais, pois o conhecimento das vicissitudes mortais seria (se As relações sociais e seus preceitos são tratados pela ética, enquanto
existisse) aos olhos de Aristóteles uma limitação de Deus. Esse Deus que a forma de governo se obtém pelo estudo das constituições das
pensa o mais divino e o mais digno de honra. A existência da metafísica cidades-estados, matéria pertinente à política. Nessa área a sua primeira
é justificada pela admiração que o homem sente diante das coisas; ela preocupação foi elaborar uma listagem tão completa quanto possível
nasce de um amor puro ao saber, da necessidade humana de perguntar sobre os diferentes modelos políticos que existiam no seu tempo.
por um porquê último. Enumerou um total de 158 constituições de cidades ou países diferentes.
Para Aristóteles, a metafísica é a ciência mais elevada, porque não Partindo da sua diversidade procurou depois as suas semelhanças e
tem finalidades práticas e não está ligada a nenhum bem material. A diferenças, pondo em evidência o que constituía a natureza de cada
metafísica busca as causas primeiras. Ele definiu as causas como quatro: regime.
1- causa formal - tanto essa como a segunda são a constituição das No campo da Ética ele pregava a moderação para que se pudesse
coisas. A forma ou essência das coisas. A alma para os animais, ter uma vida equilibrada e harmônica. Achava que a felicidade real era a
as relações formais determinadas para diferentes figuras geométricas. integração de três fatores: prazer, ser cidadão livre e responsável e viver
como pesquisador e filósofo. Acreditava também que devemos ser
2- causa material - a matéria de que é feita uma coisa. Nos animais, por
corajosos e generosos, numa dosagem equilibrada desses dois itens.
exemplo, seria a carne e os ossos. Numa taça de ouro, o ouro etc.
3- causa eficiente ou motora – as coisas foram geradas a partir de uma Texto produzido a partir de compilações dos livros “Vivendo a Filosofia” (Gabriel
causa, a eficiente. Dela provêm a mudança e o movimento das coisas. Os Chalita), “O Mundo de Sofia” (Jostein Gaarder) e “Filosofando” (Maria Lúcia de
pais são a causa eficiente dos filhos, por exemplo. Arruda Aranha e Maria Helena Pires)

29 30
Os castelos
são símbolos
PARTE 4 do estilo de

A razão a serviço da fé
vida que uma
parte
considerável
da
humanidade
tinha na época
medieval. Um
período
marcado pelos
conflitos entre
fé e razão

A época medieval traz mudanças na sociedade. Ocorre o


declínio do Império Romano, a ascensão da Igreja Católica, que passa a
intervir na política e economia. É instaurado o feudalismo, forma de
governo baseada nos feudos, unidades de terra governadas pelo senhor
feudal, o trabalho agora é feito em maior parte pelos servos, que são
1- A Filosofia da Idade Média livres, mas devem contas ao senhor feudal, precisam de suas terras para
A Idade Média teve início na Europa com as invasões produzir, mas entregam parte da produção para ele. A Filosofia medieval
germânicas (bárbaras), no século 5, sobre o Império Romano do está ligada a Igreja Católica. Os escolásticos tentam conciliar a fé cristã
Ocidente. Essa época estende-se até o século XV, com a retomada com a razão. Santo Agostinho é do início dessa era, mais especificamente
comercial e o renascimento urbano. A Idade Média se caracteriza pela do período patrístico (referente à Patrística – ciência que tem por objeto a
economia ruralizada, enfraquecimento comercial, supremacia da Igreja doutrina dos Santos Padres e a história literária dessa doutrina.
Católica, sistema de produção feudal e sociedade hierarquizada.
Esse período da história da humanidade foi marcado pela
desorganização da vida política, econômica e social do Ocidente, agora
1.1. Pensamento Medieval
transformado num mosaico de reinos bárbaros. Depois vieram as guerras, O pensamento na Idade Média foi muito influenciado pela
a fome e as grandes epidemias. O Cristianismo se propagou por diversos Igreja Católica. Desta forma o teocentrismo (Deus como centro de tudo)
povos. A diminuição da atividade cultural transformou o homem comum acabou por definir as formas de sentir, ver e também pensar durante o
num ser dominado por crenças e superstições. período medieval. De acordo com Santo Agostinho, importante teólogo
O período medieval não foi, porém, a "Idade das Trevas", como se romano, o conhecimento e as idéias eram de origem divina.
acreditava. A Filosofia clássica sobrevive, confinada nos mosteiros As verdades sobre o mundo e sobre todas as coisas
religiosos. Sob a influência da Igreja, as especulações se concentram em deviam ser buscadas nas palavras de Deus. Porém, a partir do século 5 até
questões filosófico-teológicas, tentando conciliar a fé e a razão. E é nesse o século 13, uma nova linha de pensamento ganha importância na
esforço que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino trazem à luz Europa. Surge a Escolástica, conjunto de idéias que visava unir a fé com
reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão (estes dois o pensamento racional de Platão e Aristóteles. O principal representante
filósofos serão as referências da Filosofia Medieval nesta disciplina). desta linha de pensamento foi São Tomás de Aquino.
31 32
1.2. Estrutura Política 1.4. Economia Medieval
Prevaleceram na A economia feudal se baseava principalmente na
Idade Média as relações de agricultura. Existiam moedas na Idade Média, porém eram pouco
vassalagem e suserania. O utilizadas. As trocas de produtos e mercadorias eram comuns na
suserano era quem dava economia feudal. O feudo era a base econômica deste período, pois quem
um lote de terra ao tinha a terra possuía mais poder. O artesanato também era praticado na
vassalo, sendo que este Idade Média. A produção era baixa, pois as técnicas de trabalho agrícola
último deveria prestar eram extremamente rudimentares. O arado puxado por bois era muito
fidelidade e ajuda ao seu utilizado na agricultura.
suserano. O vassalo
oferecia ao senhor, ou 1.5. Religião na Idade Média
suserano, fidelidade e
trabalho, em troca de Na Idade Média, a
proteção e um lugar no Igreja Católica dominava o cenário
sistema de produção. As religioso. Detentora do poder
redes de vassalagem se espiritual, a Igreja influenciava o
estendiam por várias modo de pensar, a psicologia e as
regiões, sendo o rei o formas de comportamento na
suserano mais poderoso. Idade Média. A Igreja também
Todos os poderes jurídico, tinha grande poder econômico,
econômico e político se A nobreza feudal (senhores feudais, pois possuía terras em grande
concentravam nas mãos cavaleiros, condes, duques, viscondes) quantidade e até mesmo servos
dos senhores feudais, era detentora de terras e estava sempre no trabalhando. Os monges viviam em
donos de lotes de terras comando, dividindo o poder com o clero. mosteiros e eram responsáveis pela
(feudos). proteção espiritual da sociedade.
Passavam grande parte do tempo
rezando e copiando livros e a
1.3. Sociedade Medieval Bíblia.
A sociedade era estática (com pouca mobilidade social) e Por outro lado, a
hierarquizada. A nobreza feudal (senhores feudais, cavaleiros, condes, guerra na Idade Média era uma das
duques, viscondes) era detentora de terras e arrecadava impostos dos principais formas de se obter
camponeses. O clero (membros da Igreja Católica) tinha um grande poder. Os senhores feudais se
poder, pois era responsável pela proteção espiritual da sociedade. Era envolviam em guerras para A gravura retrata o trabalho dos
isento de impostos e arrecadava o dízimo. A terceira camada da sociedade aumentar suas terras e o poder. Os camponeses no feudo. Eles fazem
era formada pelos servos (camponeses) e pequenos artesãos. Os servos cavaleiros formavam a base dos parte da terceira camada da
deviam pagar várias taxas e tributos aos senhores feudais, tais como: exércitos medievais. Tendo como sociedade, formada pelos servos e
corvéia (trabalho de 3 a 4 dias nas terras do senhor feudal), talha (metade virtudes a coragem e a lealdade, eles pequenos artesãos. Na Idade Média
da produção), banalidades (taxas pagas pela utilização do moinho e forno representavam o que havia de mais havia pouca mobilidade social
do senhor feudal). nobre no período medieval.
33 34
1.6. Educação, artes e cultura 2.1. Santo Agostinho (354-430)
A educação era para O cristianismo estava
poucos, pois só os filhos dos nobres consolidado na época em que Santo Agostinho
estudavam. Esta era marcada pela viveu: embora tivesse apenas quatrocentos
influência da Igreja, ensinando o anos, era considerado a verdade irrefutável.
latim, doutrinas religiosas e táticas Apesar disso, esse filósofo medieval, que
de guerras. Grande parte da nasceu no norte da África, numa cidade
população medieval era analfabeta e chamada Tagarte, nem sempre foi cristão. Fez
não tinha acesso aos livros. os primeiros estudos na cidade natal e, com a
A arte medieval ajuda de um amigo, foi para Cartago (na
também era fortemente marcada Tunísia, Norte da África), aos 16 anos,
pela religiosidade da época. As completar os estudos superiores. Não foi um
pinturas retratavam passagens da bom aluno.
Bíblia e ensinamentos religiosos. As Na juventude, detestava estudar
pinturas medievais e os vitrais das grego. Interessou-se por Filosofia ao ler uma
igrejas eram formas de ensinar à obra de Cícero (filósofo romano que viveu
população um pouco mais sobre a entre 106-43 a.C.). Quando criança era cristão,
religião. Podemos dizer que, no Santo Agostinho teve mas depois passou por outras religiões, como a
geral, a cultura medieval foi um papel fundamental dos maniqueus, que formavam uma seita e
fortemente influenciada pela na Filosofia Medieval, dividiam o mundo entre o bem e o mal, trevas
religião. Na arquitetura destacou-se pois soube equilibrar e luz, espírito e matéria. Acreditavam que com
a construção de castelos, igrejas e Na Idade Média, Estado e Igreja o seu espírito, o homem pode transcender a
razão e fé
catedrais. estavam juntos até nas guerras matéria.
O maniqueísmo contém uma visão dualista radical; bem
e mal são tomados como princípios absolutos. Posteriormente, Santo
2- Filósofos medievais Agostinho combateu essa doutrina. De início ele se recusava a ler a Bíblia,
por considerá-la vulgar. Teve um caso de amor, envolto em paixões
Muitos foram os pensadores que ajudaram a construir o mundanas, da qual nasceu um filho, falecido ainda adolescente. Com 20
que chamamos de Filosofia Medieval. Cada um, a sua maneira contribuiu anos, perdeu o pai e ficou sendo o responsável pelo sustento de duas
de forma significativa para consolidar o que nos foi deixado pelos famílias. Foi professor de Retórica em Cartago, mas depois se mudou para
filósofos gregos, em especial Platão e Aristóteles – expoentes da chamada Roma. Sua mãe foi contra a mudança e Agostinho teve de enganá-la na
Filosofia Clássica. hora da viagem.
O período medieval não foi a "Idade das Trevas", como De Roma foi para Milão, lecionar Retórica. Muito
muitos ainda a chamam. A Filosofia Clássica sobreviveu, confinada nos influenciado por Platão, pelos estóicos (filósofos gregos que defendiam
mosteiros religiosos. Sob a influência da Igreja, as especulações se que a única atitude do sábio deve ser o aniquilamento da paixão, dando
concentram em questões filosófico-teológicas, tentando conciliar a fé e a lugar à razão) e pelo neoplatonismo (pensadores gregos que defendiam
razão. E é nesse esforço que Santo Agostinho e São Tomás de Aquino ser possível unir as preocupações filosóficas com as religiosas), Santo
trazem à luz reflexões fundamentais para a história do pensamento cristão. Agostinho também estava entre os adeptos do ceticismo (a corrente de
pensamento dos céticos, que não aceitam qualquer coisa como verdade).
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Ele abandonou Santo Agostinho ficou conhecido por "cristianizar" Platão,
o maniqueísmo, que criticava. fazendo vários paralelos entre a parte espiritualista dele (que diz existir um
Converteu-se, então, à fé cristã, mundo transcendente) e as Sagradas Escrituras. Faz a distinção entre o
depois de conhecer a palavra corpo, sujeito à sorte do mundo, e a alma, que é atemporal, e com a qual
do apóstolo Paulo, e batizou-se se pode conhecer Deus.
aos 32 anos. Desistiu do cargo Ele ressaltava que antes de Deus ter criado o mundo a
de professor e voltou a partir do nada as idéias eternas já existiam na sua mente. Deus é a
Tagaste, onde fundou uma bondade pura. Ele já conhece o que uma pessoa vai viver antes dela viver.
comunidade monástica, Assim, apesar da humanidade ter sido amaldiçoada depois do pecado
disposto a fundamentar original, alguns alcançarão a verdade divina, a salvação. Isso depende do
racionalmente a fé, como foi uso que fazemos do livre arbítrio – a faculdade que o indivíduo tem de
comum na Idade Média. determinar de acordo com a sua própria consciência a sua conduta, livre
Mostrou que sem a fé a razão da Divina Providência, enquanto está vivo. Seria o ato livre de decisão, de
não é capaz de levar à Cena de uma pregação de São Paulo, opção.
felicidade. A razão, para que influenciou Santo Agostinho Durante um diálogo Santo Agostinho chega à conclusão
Agostinho, serve de auxiliar à de que o mal não provém de Deus, mas sim do mau uso do livre arbítrio.
fé, esclarecendo e tornando De fato, para ele não existe mal; apenas a ausência de Deus. Com isso ele
inteligível aquilo que intuímos. refuta de vez a doutrina dos maniqueus. Essa teoria encontra-se no livro
O filósofo tinha “O Livre Arbítrio”.
tomado contato com o Com uma vida errada a alma fica presa ao corpo, porém a
pensamento neoplatônico, que relação correta é a inversa. Os órgãos sensoriais sentem a ação dos
defende que a natureza elementos exteriores; a alma, não. Deus é a fonte dos conhecimentos
humana contém parte da perfeitos, e não o homem. A experiência mística leva à iluminação divina.
essência divina. Demonstrou Assim se chega às verdades eternas; e o intelecto, então, é capaz de pensar
que há limites para a corretamente a ordem natural divina. A unidade divina é plena e viva, e
racionalidade. Receberemos um guarda a multiplicidade. O amor de Deus é infinito. A graça e a liberdade
saber que está além do natural. se complementam.
Ele chegou a declarar que com Na obra “A Cidade de Deus”, Santo Agostinho faz
o cristianismo uma luz inundou oposição entre sensível e inteligível, alma e corpo, espírito e matéria, bem
seu coração, sua alma e mal e ser e não ser. Acrescenta a história à filosofia, interpretando a
encontrou a paz. Virou vigário A pintura retrata o batismo e a história da humanidade como o conflito entre a Cidade de Deus, inspirada
aos 36 anos, praticando a vida conversão de Santo Agostinho ao no amor a Deus e nos valores que Cristo pregou, presentes na Igreja, e a
ascética. cristianismo Cidade humana, baseada nos valores imediatos e mundanos. Essas cidades
estariam presentes na alma humana, e no final a Cidade de Deus
Santo Agostinho escreveu a obra “Contra os triunfaria.
Acadêmicos”, direcionado à filosofia cética e expôs a teoria de que os Outra obra importante são “As Confissões”, que é
sentidos dizem algo verdadeiro. O erro provém do juízo que fazemos das autobiográfica. Esta obra faz dele um precursor de Descartes, Rousseau e
sensações, e não delas próprias. A sensação não é falsa; o que é falso é o Existencialismo, que foram fortes referências para a Filosofia Moderna.
querer ver nelas uma verdade externa ao próprio sujeito. Virou Bispo de Santo Agostinho acredita na verdade contida nos números, que fazem
Hipona (cidade do norte da África). parte da natureza.
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2.2. São Tomás de Aquino (1227-1274) Para o filósofo
Este filósofo, tido como e religioso
santo pela Igreja Católica, nasceu em um Tomás de
castelo próximo à cidade de Aquino, Aquino, a razão
e a fé
Itália, de uma família nobre. Entrou cedo
caminham
para a ordem Dominicana. Não se sabe
juntas, uma
com precisão os acontecimentos da sua dando
vida. As universidades surgem no século sustentação à
12, e elas começam a ter forte atuação e outra na busca
influência. Cria-se um ambiente cultural, do
nas capitais, em que irão atuar Alberto conhecimento.
Magno e seu discípulo, São Tomás de
Aquino. Há uma miscigenação cultural, Ele dizia que o
pois os sábios da Arábia vêm para a que se absorve
Europa. São Tomás de Aquino entrou através do
para a universidade de Nápoles, onde intelecto não
estudou Filosofia. Sabia, falava e escrevia desfaz as
Tomás de Aquino: fé e razão em latim fluentemente. revelações que
são adquiridas
Quando ainda era jovem escreveu um opúsculo (pequena através da fé
obra escrita acerca de qualquer assunto) intitulado “O Ente e a Essência”, religiosa
entre os anos de 1252 e 1253. Aborda questões metafísicas, explicando o
percurso da consciência humana entre a sensação e a concepção. Tomás de Aquino foi um trabalhador incansável e um
Nesta obra São Tomás diz que o que cai imediatamente no espírito metódico, que se empenhou em ordenar o saber teológico e moral
alcance do saber humano é composto. O homem se eleva do composto ao acumulado na Idade Média. Foi principalmente influenciado por Santo
simples, do posterior ao anterior. A essência existe no intelecto. A
Agostinho e, mais ainda, por Alberto Magno, seu mestre em Paris.
substância composta é matéria e forma. A forma e a matéria, quando
tomadas em si, ou seja, sem o aparato do entendimento racional Em Paris ele viveu intensamente os conflitos intelectuais,
considerando-as, é incognoscível, mas existem caminhos para a típicos de sua época, que opunha o conhecimento pela razão, a teologia à
investigação das possibilidades. O intelecto quando está isento da filosofia, a crença na revelação bíblica às investigações dos filósofos
materialidade, desvela que nada pode ser mais perfeito do que aquilo que gregos.
confere o ser. O mais importante fator de conflitos entre os admiradores
São Tomás é famoso por ter cristianizado Aristóteles, à de Aristóteles e dos defensores da fé residia no fato de a doutrina
semelhança do que fez Santo Agostinho com Platão. Ele transformou o aristotélica apresentar, à primeira vista, um conteúdo muito distinto da
pensamento desse sábio num padrão aceitável pela Igreja Católica, Apesar concepção cristã do mundo.
de Aristóteles não ter conhecido a revelação cristã, como diz São Tomás, e
Segundo Santo Tomás a razão pode provar a existência de
de sua obra ser original, autônoma e independente de dogmas, ele está em
harmonia com o saber contido na Bíblia. E o filósofo aplica o Deus através de cinco vias, todas de fundo realista: considera-se algum
pensamento de Aristóteles na teologia. As observações sobre Aristóteles aspecto da realidade dada pelos sentidos como o efeito do qual se procura
vão permanecer em todas as suas obras. a causa.
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Para Tomás o conhecimento passa por vários graus de
A primeira fundamenta-se na constatação de que no abstração, cujo objetivo é conhecer a imaterialidade. O primeiro esforço
universo existe movimento. Baseado em Aristóteles, São da existência abstrativa consiste em considerar as coisas
Tomás considera que todo o movimento tem uma independentemente dos sentidos e da noção que tiramos dele. O segundo
causa. esforço consiste em considerar as coisas, independente das qualidades
sensíveis. No terceiro esforço têm que ser consideradas as coisas,
A segunda via diz respeito à idéia de causa, em independente do seu valor material. Assim se chega ao objeto metafísico,
geral. Todas as coisas ou são causas ou são efeitos, que é imaterial, espiritual.
não se podendo conceber que alguma coisa seja causa de
si mesma. O conhecimento,
A terceira via se refere aos conceitos de para Tomás de
necessidade e possibilidade. Todos os seres estão em Aquino, consiste
permanente transformação, alguns sendo gerados, outros em se conhecer a
imaterialidade.
se corrompendo e deixando de existir. Para isso se deve
A quarta via para provar a existência de Deus é de abandonar as
índole platônica e se baseia nos graus hierárquicos de qualidades
perfeição observados nas coisas. sensíveis e o
A quinta via se fundamenta na ordem das coisas. valor material
das coisas.
A obra de São Tomás de Aquino é imensa, alguns de seus
trabalhos foram escritos por ele mesmo, outros ditados e outros ainda
A ética na obra de São Tomás é construída a partir do
reportados. Aristóteles disse, e isso foi comentado por São Tomás, que o
conceito de Deus como o criador e o regulador da ordem do mundo. Essa
homem tem a sensação em comum com os animais, que sentem de
ordem divina é chamada de providência, e todas as coisas e seres,
maneira perfeita. A memória nasce pelo acúmulo de lembranças, e a
inclusive o homem, estão sujeitos a ela. Deus, ao estabelecer essa ordem,
lembrança nasce da experiência. Mas o homem se eleva ao raciocínio e
encaminha todas as coisas a si, o sumo bem (bem supremo).
produz a arte.
Isso não significa que o homem não possua liberdade.
A filosofia é um conhecimento das causas dos fenômenos.
Para esse filósofo, em virtude da providência o homem é encaminhado
Assim a filosofia deve considerar o senso comum e tem um aspecto
para a beatitude, porém escolhe seus próprios caminhos. Essa faculdade
coincidente com a teologia: seu saber provém da Sabedoria Divina. Então,
dada ao homem se chama livre arbítrio, e dele se utilizam todos os
em menor grau o saber popular também. Mas a Sabedoria Divina deve ser
homens nas decisões que tomam em suas vidas.
procurada através da fé, dizia Tomás, e isso é comum entre os teólogos.
Por outro lado, a mesma natureza que possui o livre
Ele distingue na natureza o ser real e o ser da razão. O ser
arbítrio possui também a providência, que encaminha os seres para Deus.
real existe independente de qualquer consideração da razão. O ser da
A ética, para Tomás de Aquino, trata da relação entre a justiça e o bem,
razão é aquele que apesar de existir em representação, não pode ser
incutidos na natureza humana, e o livre arbítrio, também natural ao ser
independente do pensamento de quem o concebe. Assim a lógica humana
humano. Os caminhos escolhidos por este ao sumo bem podem,
só existiria no conceito, e não na realidade. Por outro lado, a alma é
portanto, ser percorridos de diferentes maneiras.
imortal, pois é imaterial, e tudo que é imaterial é imortal. Esse argumento,
como outras verdades teológicas, pode ser agora combatido, mas durante
séculos fundamentou o pensamento em que a Igreja se apóia. Material compilado e adaptado do livro “Vivendo a Filosofia”, de Gabriel Chalita

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