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UNIVERSIDADE DE BELAS

FACULDADE DE CIÊNCIAS SOCIAIS E ECÓNÓMICAS

FILOSOFIA GERAL
PLANO DE ESTUDO

PROGRAMA E CONTEÚDO PARA CURSOS DE GRADUAÇÃO

Docente

Daniel Soma,Msc

LUANDA, 2017
PROGRAMA SEMESTRAL DE FILOSOFIA GERAL

01 Módulo Filosofia Geral


02 Curso Licenciatura em Psicologia e Relações Internacionais Iº ou 2º
Ano
03 Semestre Iº ou 2º Semestre
04 Carga 24 tempos
Horária
05 Tipos de Aula Teoria 06
horas
Teórico-prática 12
horas
Prática 06
horas

RESUMO DE CAPÍTULOS:
O estudo da Filosifia tem tamanha relevância, na medida em que todo
homem lhe solicitado a pensar , reflectir e agir. Significa que todo o
homem tem uma concepção do mundo, uma linha de conduta moral ou
política; no entanto, deve actuar no sentido de manter ou modificar as
maneiras de pensar e agir do seu tempo.
Assim, quatro capítulos constituem a presente postila: no primeiro
capítulo far-se-à menção das origens da filosofia e o problema da
natureza. Neste contexto debruçar-se-à sobre a etimologia da palavra
filosofia e seu percurso histórico na Grécia Antiga. desde os pré-
socráticos, Sócrates, Platão e Aristóteles. Ter-se-ão ideias patentes nas
épocas e periodização da filosofia grega. Em seguida, no segundo capítulo
far-se-à viagem sobre as etapas da filosofia; isto é, filosofia antiga,
filosofia medieval, filosofia moderna e filosofia contemporânea; no
terceiro capítulo far-se-á a chega sobre o contexto da filosofia africana ;
remontando em torno das principais correntes da filosofia africana.

No quarto capítulo tratar-se-ão dos aspectos pontuais ligados a


convivência política entre os homens, dos quais, os tratados da: ética,
política, cidadão, globalização, democracia e cidadania; democracia e
cultura, necessidade de conversão da mentalidade para a reconciliação
nacional; assim, respectivamente.
O programa de filosofia reporta a abordagem e selecção de conteúdos a
serem ministrados e que pela sua pertinência, se aproximam ao
quotidiano e permitirão ao grupo alvo confrontar com as deiferentes
perspectivas filosóficas.
Assim este plano de estudo não pode ser considerado produto acabado e
definitivo; pois só através da sua aplicação prática e sugestões dos seus
utilizadores, serão criadas condições para se ter um projecto definitivo.

OBJECTIVOS GERAIS:
 Assegurar a educação e a formação da consciência humana;
 Ter capacidade para desenvolver o raciocínio e reflexão adequada;
 Fomentar o interesse pela resolução dos problemas sociais;
 Promover acções em favor da justiça, do respeito pela vida, da
solidariedade, da tolerância e da paz;
 Promover um espírito crítico que permita a análise fundamentada
do vivido e do pensado.
OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:
 Fornecer instrumentos intelectuais de análise, reflexão metódica,
argumentação e expressão;
 Descrever as competências cognitivas
 Compreender o surgimento e o desenvolvimento da reflexão
filosófica e dos principais problemas filosóficos;
 Demonstrar como a Filosofia é reflexo e interpretação crítica do
seu tempo;
 Desenvolver a capacidade de articulação de saberes parcelares
numa síntese pessoal, aberta e construtiva;
 Ter hábitos de pesquisa para o trabalho individual e colectivo;
METODOLOGIA DE ENSINO/APRENDIZAGEM:
No decurso das sessões e seminários pretender-se-à dar noções prévias
sobre a cadeira, sua importância e finalidade na cultura da humanidade.
Outrossim, primar-se-à dar suporte aos diversos saberes, a fim de se ter
uma cosmovisão capaz de dar solução a vários problemas que se
levantam. Dar primazia o aguçamento da inteligência e espevitar a
memória.

 INTRODUÇÃO
CAPÍTULOS E SUBTEMAS DIDÁCTICOS:

CAPÍTULO I. AS ORIGENS DA FILOSOFIA E O PROBLEMA DA NATUREZA


1.1. Etimologia da Palavra Filosofia e seu Percurso Histórico na Grécia Antiga
1.2. A Filosofia como o Problema Filosófico
1.3. Objecto e Método de Estudo da Filosofia
1.4. Contexto Social, Político e Económico da Filosofia Grega
1.4.1. Condições político-ecnómica que favoreceram o surgimento da filosofia grega
1.5. Diferença Entre Mito e Filosofia
1.6. Características da Religião Grega e Filosofia
1.6.1. Traços Essenciais da Religião Pública
1.6.1.1. O Orfismo e Suas Crenças Essenciais
1.7. Períodos da História da Filosofia Antiga Grega
1.8. Génese da Filosofia Antiga Entre Os Gregos
1.8.1. Os Pré-socráticos: Modelos de Explicação da Natureza

1.8.1.1. TALES DE MILETO


1.8.1.2. ANAXIMANDRO
1.8.1.3. ANAXÍMENES
1.8.1.4. PITÁGORAS
1.8.1.5. HERÁCLITO
1.8.1.6. PARMÉNIDES
1.8.1.7. EMPÉDOCLES
1.8.1.8. DEMÓCRITO
1.8.1.9. ANAXÁGORAS
1.8.2. OS SOFISTAS, SÓCRATES E PLATÃO
1.8.2.1. OS SOFISTAS
1.8.2.1. ENSINAMENTO DOS SOFISTAS
1.8.2.2. OS EXPOENTES DA SOFISTICA
1.9. VIDA E ENSINAMENTOS DE SÓCRATES
1.9.1. MISSÃO DE SÓCRATES
1.9.2. MÉTODO SOCRÁTICO
1.9.3. SÓCRATES E OS SOFISTAS
1.9.4. ENSINAMENTOS FILOSÓFICOS DE SÓCRTES
1.9.5. ESCOLAS SOCRÁTICAS
1.10. PLATÃO:VIDA, OBRA E SUA FILOSOFIA
1.10.1. OBRAS DE PLATÃO
1.10.2.TEORIA DAS IDEIAS DE PLATÃO
1.10.3. DUALISMO ANTROPOLÓGICO DE PLATÃO SOBRE A ALMA E O CORPO
1.10.4. A ORDEM MORAL
1.10.5. A ORDEM POLÍTICA
1.11. ARISTÓTELES. A FILOSOFIA DO PERÍODO HELENÍSTICO

CAPITULO II. SÍNTESE SOBRE ETAPAS DA FILOSOFIA


2.1. FILOSOFIA ANTIGA
2.2. FILOSOFIA MEDIEVAL
2.3. FILOSOFIA MODERNA
2.4. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

CAPÍTULO III. O CONTEXTO DA FILOSOFIA AFRICANA


3.1. NOÇÕES DA FILOSOFIA AFRICANA
3.3. AS PRINCIPAIS CORRENTES DA FILOSOFIA AFRICANA
3.3.1. NEGRITUDE
3.3.2. PANAFRICANISMO
3.3.3. SURREALISMO
3.3.4.ETNOFILOSOFIA
3.3.5. POLÍTICA DA RACIONALIDADE
3.4. CRIADORES DO RENASCIMENTO DE HARLEM
3.4.1. DEFENSORES DA RAÇA NEGRA
3.5. OPOSITORES DA RAÇA NEGRA

CAPITULO IV. CONVIVÊNCIA POLÍTICA ENTRE OS HOMENS


4.1. NOÇÃO DE POLÍTICA EM SENTIDO LATO
4.2. ÉTICA E POLÍTICA (noção prévias)
4.3. O CIDADÃO E A POLÍTICA
4.4. A POLÍTICA E A GLOBALIZAÇÃO
4.5. DEMOCRACIA E CIDADANIA
4.6. DEMOCRACIA E CULTURA
4.7. CONVERSÃO DA MENTALIDADE PARA A RECONCILIAÇÃO NACIONAL

 CONSIDERAÇÕES FINAIS
 BIBLIOGRAFIA

INTRODUÇÃO

A Filosofia nasce do nosso espanto sobre os fenómenos que ocorrem no


mundo e a respeito da nossa prória existência. Um espanto que se impõe
ao nosso intelecto como um enigma, cuja solução nunca deixou de
preocupar a humanidade desde os seus primórdios. ela está em toda a
parte, e, é uma constante na vida do homem.

A etimologia da palavre filosofia remete-nos para verificação de que no


homem há uma motivação, há uma intenção para um bem e para um
valor. o desejo de saber, nasce com o homem e apresenta-se instável e
flutuante como o seu pensamento. A filosofia não é um saber como os
outros, de fácil definição, cujo conteúdo se possa traduzir em fórmulas
mais ou menos rígidas e precisas. Ela é um pôr de questões acerca de
todas as coisas, uma inquietação na tentativa de explicar tudo o que nos
rodeia, incluindo os problemas do homem; uma atitude de dúvida que
exige esclarecimentos cada vez mais rigorosos; em fim, um confessar
humilde, mas lúcido da própria ignorância. Foi esta ignorância que levou
Sócrates dizer ´´ sei apenas uma coisa; é que nada sei``.
O estudo da filosofia é essencial porque não se pode pensar em nenhum
homem sem que seja solocitado a reflectir. Isso significa que todo homem
tem uma concepção do mundo, uma linha de conduta moral ou política e
deveria actuar de modo a manter ou modificar as maneiras de pensar, e
agir do seu tempo. A filosofia fornece condições teóricas para a superação
da consciência ingénua e o desenvolvimento da consciência crítica, pela
qual a experiência vivida é transformada em experiência compreendida.

Sob o ponto de vista pedagógico, a filosofia é muito importante para a


formação integral, porque ao estimular a elaboração do pensamento
abstrato, ela ajuda a promover a passagem do empísmo para o científico.
é imperiosa a reflexão filosófica para o alargamento da consciência crítica,
para o exercício da capacidade humana de se interrogar, a fim de
participar activamente na comunidade em que vive.

CAP.I- AS ORIGENS DA FILOSOFIA E O PROBLEMA DA NATUREZA


1.1-A ETIMOLOGIA DA PALAVRA FILOSOFIA E SEU PERCURSO HISTÓRICO NA

GRÉCIA ANTIGA

A etimologia da palavra Filosofia remonta duas raízes gregas e/ou latinas:

 Philos, quer dizer, amor, amigo, amante ou paixão;


 Sophia, quer dizer, sabedoria.

A partir das raízes gregas, Filosofia significa amor ou amigo da sabedoria; a


quem se sente amante da sabedoria e paixão pelo saber. O termo foi
inventado por Pitágoras que, certa vez ouvindo alguém chamá-lo sábio e
considerando este nome muito elevado para si mesmo, pediu que o
chamassem filósofo; isto é, amante da sabedoria.

A Filosofia é um conhecimento e uma forma de saber; como tal tem a


esfera própria de competência a respeito da qual procura adquirir
informações, precisas e ordenadas.

Enquanto a botânica estuda as plantas, a geografia estuda os lugares, a


história estuda os factos, a medicina estuda as doenças, etc; no dizer do
filósofo, a Filosofia estuda todas as coisas. Assim, para Aristóteles a
Filosofia estuda as causas últimas de todas as coisas. Cícero define a
Filosofia como o estudo das causas humanas e divinas das coisas. Para
Descartes a Filosofia ensina a raciocinar bem. Hegel entende por Filosofia
como sendo o saber absoluto. Para Witehead, o ppapel da Filosofia é o de
fornecer uma explicação orgânica do universo.

Sem descartar a noção que outros filósofos tinham, a Filosofia é o estudo


do valor do conhecimento; é a indagação do fim último do homem; é o
estudo da linguagem, do ser, da história, da arte, da cultura, da política,
etc.

A Filosofia estuda tudo, mas por duas razões:

* Em primeiro lugar porque todas as coisas podem ser examinada no nível


científico e filosófico. Assim, o homem, os animais, as coisas, os objectos,
as plantas, etc; estudados por muitas ciências e sob ponto de vista dessas,
podem ser objecto de indagação filosófica.

* Em segundo lugar, enquanto as ciências estudam esta ou aquela


dimensão da realidade, a Filosofia estuda o todo; a totalidade; o universo
tomado globalmente.

A Filosofia Antiga surgiu na Grécia Antiga, século VI a.C; cujos expoentes


máximos da época eram os filósofos pré-socráticos, Sócrates, Platão e
Aristóteles.

1.2- A FILOSOFIA COMO O PROBLEMA FILOSÓFICO

Conforme já exposto nos textos anteriores, tanto a Filosofia como a sua


definição, são um problema filosófico. No dizer de vários pensadores ela
estuda tudo; isto é, a totalidade do universo, dando resposta a vários
problemas do cosmos. Ela não estuda somente uma parte da realidade,
mas toda ela do mundo circundante. A filosofia é capaz de dar resposta a
múltiplos casos que as outras ciências carecem; porque problematiza o
assunto a partir dos porquês e para quês?

Não é fácil, não é pacífica, nem é consensual a noção ou conceito de


filosofia. Muitos preferem falar de filosofias, no plural. Como reconhece G.
Simmel, é a própria definição de Filosofia que se constitui em todos os
sistemas filosóficos como o primeiro dos seus problemas. O que a filosofia
é, só dentro dela própria e só com os seus conceitos e meios pode
realmente determinar-se. É ela mesmo o primeiro dos seus problemas.

Segundo Aristóteles, a filosofia estuda as últimas causas de todas as


coisas. Para Descartes, a filosofia ensina a raciocinar bem. Pra Cícero, a
filosofia estuda as causas humanas e divinas das coisas. Na óptica de
Withead, a filosofia fornece a explicação orgânica do universo. Segundo L.
Wittgenstein, um dos filósofos mais representativos da filosofia analítica;
o objectivo da Filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos; a Filosofia
não é uma doutrina, mas actividade; um trabalho filosófico consiste
essencialmente em elucidações; o resultado da filosofia não são
proposições filosóficas, mas sim o esclarecimento dessas proposições; a
Filosofia deve tornar claros e delimitar rigorosamente os pensamentos,
que de outro modo são como que turvos e vagos. Várias linhas de
pensamento que dão roupagem o conceito da filosofia e nisto, ela
constitui um problema filosófico.

1.3- OBJECTO E MÉTODO DE ESTUDO DA FILOSOFIA

A Filosofia é uma arte porque desenvolve as faculdades racionais


humanas; e é uma ciência porque possui requisitos para tal; como por
exemplo: finalidade ou objectivo, objecto e método de estudo.

A Filosofia tem como objectivo, o conhecimento, pelo facto de que ela


procura a verdade pela verdade, prescindindo de eventuais utilizações
práticas. A Filosofia tem uma finalidade puramente teorética, ou seja,
contemplativa; segundo Aristóteles, ela é livre enquanto não se destina a
nenhum uso da ordem prática, realizando-se na pura contemplação da
verdade.

A Filosofia tem como objecto de estudo, o todo, a totalidade que constitui


o universo. Quanto ao método, ele é o caminho, o percurso, o itinerário, a
via que permite atingir o fim. Assim, o método de estudo da Filosofia é o
da justificação lógica racional; porque das coisas que estuda, a Filosofia
deseja fornecer uma explicação conclusiva dos fenómenos e para o efeito,
ela se serve somente da razão; isto é, da quilo que os gregos chamam de
´´logos´´

1.4- CONTEXTO SOCIAL, POLÍTICO E ECONÓMICO DA FILOSOFIA


GREGA

Primeiro viver depois filosofar, assim diz o célebre provérbio latino


(primum vivere deinde philosophare). O sentido é que sem determinadas
condições sociais, políticas e económicas, torna-se impossível qualquer
especulação filosófica. Quando o homem é atormentado pela fome ou
pela miséria; é oprimido pela escravidão ou pela ignorância, não tem
tranquilidade, nem tempo, nem disposições mentais para formular
hipóteses filosóficas rigorosas e sistemáticas sobre a finalidade da sua
existência, sobre a origem das coisas, sobre os fundamentos da ordem
social e moral.

De facto, entre os povos primitivos ou subdesenvolvidos, observa-se a


ausência total de especulação filosófica sistemática. É lógico, por isso
supor que, se a primeira produção filosófica aparecida na Grécia data do
século VI a.C., isto se deu graças a condições sociais, económicas e
políticas particulares. No decorrer do século VI, a Grécia encaminha-se
para uma relativa estabilidade política. Encerrados finalmente os grandes
movimentos migratórios, a vida da cidade (pólis) organiza-se sobre a base
de disposições bem-definidas, sob o controle de grupos aristocráticos
reduzidos, também a vida económica intensifica-se e os intercâmbios
entre cidades tornam-se mais frequentes. Este intenso ritmo de iniciativas
e actividades atinge o seu ponto mais alto nas colónias jónias da Ásia
Menor ( Mileto, Éfeso, Colofao, Clazómena, Focéia) e nas colónias gregas
da Itália meridional ( Eléia, Régio, Metaponto, Gela, Agrigento,
Catánia).Tanto as primeiras como as segundas, os colonos provenientes da
Grécia entregaram-se, principalmente ao comércio, o que trouxe para as
novas comunidades riqueza e prosperidade, proporcionando a estas
populações elevados níveis culturais atestados ainda hoje pelos
numerosos restos de templos, túmulos e estátuas.
1.4.1. AS CONDIÇÕES SOCIOPOLÍTICAS-ECONÓMICAS QUE
FAVORECERAM O SURGIMENTO DA FILOSOFIA

Para além dos aspectos culturais e religiosos ora definidos os estudiosos


têm igualmente a liberdade política de que os gregos se beneficiaram em
relação ao povo oriental. o homem oriental era obrigado a uma cega
obediência, não só ao poder religioso, mas também ao político, enquanto
que ao grego a este respeito gozou de uma situação privilegiada, pois,
pela primeira vez na história, conseguiu construir instituições políticas
livres.

Antes do surgimento da filosofia, a Grécia era assolada por seguintes


circunstâncias:

a)- em primeiro lugar era uma sociedade aristocrática, agricola e guerreira


(cada reino defendia a sua riqueza e a dos vizinhos). isto implicava definir
uma estrutura social e determinadas ideias morais. A estrutura social é a
de uma colectividade dividida em duas classes:

a)- a nobreza, que vive despreocupadamente em tempo de paz e que


conduz o povo em tempo de guerra;

b)- o povo, dedicado, fundamentalmente à agricultura e à criação de


gado.

No que respeita à moralidade, os nobres são os depositários únicos da


virtude, sendo os valores supremos os seguintes:

a)- a linhagem (bom é o de linhagem nobre, mau e vulgar o de linhagem


plebeia);

b)- o êxito ( fracassar é vergonhoso; é ser castigado, não por ter agido mal
no sentido actual do termo, mas por se ter fracassado);

c)- a fama; é facilmente compreensível que, numa sociedade assim


estruturada, não haja lugar para as ideias de justiça e direito, que
implicam uma certa igualdade. Em segundo lugar, a cultura grega de
época carece de livros sagrados e de um sistema educativo organizado.
Esta circunstância é extremamente importante, já que caberá aos poetas e
a do papel educativo ( e do modo muito particular, a Homero).

Homero era para os gregos algo muito diferente do que é, hoje, para nós.
Os gregos aprendiam de Homero. A sua obra era como que o livro de
leitura em que secessivas gerações aprendiam:

 a moral; o conjunto dos valores descritos;


 a teologia; a organização social dos deuses – com Zeus como rei
supremo – e as suas formas de comportamento descritas por
Homero correspondem totalmente à organização social e ao código
moral da sociedade grega da época. A conduta dos deuses (roubos,
adultérios, dolos, etc), que, viria a ser considerada imoral pelos
filósofos, está conforme a moral aristocrática do tempo.
 além da moral e da teologia, os gregos aprendiam de Homero tudo
o que na realidade, sabiam ( ou julgavam saber), sobre história,
geografia, navegação, arte militar, cosmologia, etc.

Desde já, chega-se ao ponto culminante seguinte: em primeiro lugar, a


filosofia surge na Grécia, como uma crítica da sabedoria popular e
rotineira, que pretende suplantar. Em segundo lugar, que a crítica ao mito
se efectua-se em todas as frentes (moaral, sociologia, teologia,
astronomia e cosmologia). Trata-se, portanto de uma nova visão da
realidade em toda a sua complexidade, visão que se esforça por eliminar
os pressupostos irracionais do mito.

1.5. DIFERENÇA ENTRE MITO E FILOSOFIA

A mente humana conhece as razoes das coisas. Uma criança ao fazer


perguntas aos pais; as mesmas, podem ser dadas diversas respostas
míticas, científicas e filosóficas. As respostas míticas são explicações que
podem contentar a fantasia, embora não sejam verdadeiras. Como por
exemplo quanto a pergunta da criança: por que o carro se move?
Responde-se porque uma fada o empurra. Já as respostas científicas
procuram satisfazer a razão, mas são sempre explicações incompletas,
parciais, fragmentadas; dizem apenas alguns fenómenos, não atingem
toda a realidade. As respostas filosóficas propõem-se oferecer uma
explicação completa de todas as coisas.

A humanidade primitiva contentava-se com explicações míticas para


qualquer problema.

Para Turchi, o mito é animação dos fenómenos da natureza e da vida;


animação devida a alguma forma primordial e intuitiva do conhecimento
humano, em virtude da qual o homem projecta a si mesmo nas coisas; isto
é, anima-as e personifica-as, dando-lhes figuras e comportamentos
sugeridos pela sua imaginação. O mito é uma representação fantástica da
realidade, delineada espontaneamente pelo mecanismo mental do
homem, a fim de dar uma interpretação e uma explicação aos fenómenos
da natureza e da vida.

A função do mito era fornecer uma explicação para os acontecimentos


da natureza e da existência humana.

Entre todas as mitologias, a grega é a que mais se destaca pela riqueza,


ordem e humanidade . Portanto, a Filosofia desenvolveu-se justamente da
mitologia grega.

Do mito, foram dadas diversas interpretações, das quais as principais são:


mito-verdade, aquele que pretende exprimir uma verdade;neste sentido,
o mito é a única explicação das coisas que a humanidade, nos seus
primórdios estava em condições de fornecer e nas quais ela acreditava
firmemente; mito-fábula, é uma narração imaginosa sem pretensão
teórica; e é uma representação fantasiosa na qual ninguém jamais
acreditou, muito menos seus criadores.

Os primeiros que consideraram os mitos como simples fábulas foram os


filósofos gregos. A eles se juntaram mais tarde os Padres da Igreja, os
escolásticos e a maoir parte dos filósofos modernos.

A partir do começo do nosso século, vários estudiosos da história das


religiões (Eliade), da psicologia ( Freud), da Filosofia ( Heiddeger), da
antropologia ( lévi-Strauss), da teologia ( Bultmann), começaram a apoiar
a interpretação mito-verdade, argumentando que a humanidade
primitiva, embora não possa dar uma explicação racional e metódica do
universo, deve explicar para si mesma fenómenos como a vida, a morte, o
bem, o mal, etc; fenómenosestes que atraem a atenção de qualquer
observador, mesmo que dotado de pouca instrução.

Na opinião de muitos estudiosos contemporâneos, os mitos escondem,


sob a capa de imagens mais ou menos eloquentes, a resposta dada pela
humanidade primitiva a estes grandes problemas. Das análises feitas pelos
estudiosos do nosso tempo , é que o mito exerceu, entre os povos antigos,
três funções principais: religiosa, social e filosófica.

O mito como função religiosa é o primeiro degrau degrau no processo de


compreensão dos sentimentos religiosos mais profundos do homem e o
protótipo da Teologia. O mito como função social, garante a pertença de
cada um num grupo social e não a outro. O mito é como função filosófica,
enquanto representa o modo de auto-compreender-se dos povos
primitivos.

Embora tenha fundamentalmente o mesmo objectivo que o mito, o de


fornecer uma explicação exaustiva das coisas, a Filosofia procura atingir
esse seu objectivo de modo diferente. O mito procede mediante a
representação fantástica, a imaginação poética, a intuição de analogias
sugeridas pela experiencia sensível, permanece aquém do logos. Ao
contrário, a Filosofia trabalha só com a razão, com o rigor lógico, com o
espírito crítico, com motivações racionais, com argumentações rigorosas,
baseadas em princípios cujo valor foi prévia e firmemente estabelecido de
forma explícita.

1.6. CARACTERÍSTICAS DA RELIGIÃO GREGA E FILOSOFIA

A religião é o acto que liga o homem a Deus; livremente o ser humano


religa-se ao sobrenatural, a fim de obter resposta. Por meio da fé, a
religião tende a alcançar certos objectivos que a filosofia procura atingir
com os conceitos e com a razão.

Sobre a religião pública e os mistérios órficos. É comum ouvir em nossa


época que o conhecimento humano se desenvolveu em três fases
diferentes: a primeira é religiosa, a segunda é filosófica e terceira é
científica. É também muito difundida a opnião segundo a qual a fase
religiosa se identifica com a fase mítica da humanidade. A tendência a dar
uma estruração mítica ao pensamento, não é exclusiva da religião, mas
acompanha todas as outras expressões e dimensões do agir humano, e
que semelhante tendência para a mitificação não desapareceu na época
moderna, porque em nossos dias a ciência, a tecnologia, a política, a
religião, o desporto, forjam seus mitos.

Apesar disso, não deixa de ser verdade que a interpretação mítica


constitua um aspecto característico dos povos antigos e que mesmo na
Grécia, berço da filosofia, a primeira explicação das coisas foi
essencialmente mítica e ao mesmo tempo genuinamente religiosa. Isto
nos oferece a oportunidade de dizer uma palavra sobre a religião grega e
sobre as mitologias de Homero e Hesíodo.

A religião grega distingue-se da religião pública que tem o seu modelo na


representação dos deuses e do culto, que nos foi dada por Homero, a dos
mistérios. Há inúmeros elementos comuns entre as duas formas de
religiosidades; por exemplo, a concepção de base politeista, mas também
importantes diferenças que, em alguns pontos de destaque ; como por
exemplo na concepção do homem, do sentido de sua vida e de seu
destino último, tornaram-se verdadeiras antíteses. As duas formas de
religião são muito importantes para explicar, em alguns aspectos, o
surgimento da filosofia.

1.6.1. TRAÇOS ESSENCIAIS DA RELIGIÃO PÚBLICA

A religião pública, que tem a sua mais bela expressão em Homero e


Hesíodo, é essencialmente hierofânica, antrpomófica e naturalista.

 Hierofânica vê em qualquer evento cósmico uma manifestação do


divino. Em primeiro lugar, tudo é divino; pois, tudo o que acontece
é obra dos deuses; isto é, tudo é explicado em função de
intervenções dos deuses. Em segundo lugar, todos os fenómenos
naturais são provocados por numes: os trovões e os raios são
arremessados por Zeus do alto do Olimpo, asz ondas do mar são
lavantadas pelo Tridente de Poseidon, os ventos são impelidos por
Éolos, o sol é levado por áureo, carro de Apolo; assim,
respectivamente.

A vida social dos homens, a sorte das cidades, as guerras, e a paz são
imaginadas como vinculadas aos deuses, de modo não acidental e, por
vezes, até de modo essencial.

 Antropomórfica; enquanto esses deuses são forças naturais


personificadas e calcadas em formas humanas idealizadas, ou então
são forças e aspectos do homem sublimados, fixados e cristalizados
em belíssima formas ou figuras antropomórficas. Recordando, na
verdade que, Zeus é a personificação da justiça; Atena, da
inteligência; Afrodite, do amor, respectivamente. Os deuses da
religião naturalsão homens amplificados e idealizados, e, portanto,
diferentes do homem comum, apenas por quantidade e não por
qualidade.

Por essa razão, os estudiosos classificam a religião pública dos gregos


como uma forma de naturalismo, uma vez que ela pede ao homem que
siga a sua própria natureza. Fazer em honra dos deuses tudo quanto
estiver em conformidade com a própria natureza é tudo o que se pede ao
homem. Da mesma forma que a religião pública, grega foi naturalista,
também a própria filosofia grega foi naturalista. A referência à natureza
continuou sendo uma constante do pensamento grego ao longo de todo o
seu desenvolvimento histórico.

 Naturalista; a religião pública grega não é revelada, mas natural. Os


gregos, ao contrários dos hebreus, dos povos do Oriente e dos
egípcios, não tinham livros sagrados ou tidos como fruto de
revelação divina. Em seguida, não tiveram uma dogmática fixa e
imutável. Os próprios poetas constituiram-se o veículo de difusão
de suas crenças religiosas.

Na Grécia não pode subsistir uma casta sacerdotal encarregada da guarda


do dogma. Nesta ausência de dogmas e de encarregado de sua guarda, os
sacerdotes tiveram escassa relevância e escassíssimo poder, porque não
tiveram a prerrogativa de conservar dogmas, nem a exclusividade dfe
receber oferendas religiosas e oficiar sacrfícios. Essa inexistência de
dogmas e de guardiões dos mesmos deixou ampla liberdade à
especulação e pensamento filosófico, que não se deparou com obstáculo
que teria encontrado em países orientais, onde a livre especulação
enfrentaria resistência e restriçóes dificilmente superáveis.

Por esse motivo, os estudiosos destacaram com razão essa circunstância


favorãvel ao aparecimento e o desenvolvimento da filosofia que se
verificou entre os gregos, a qual não tem paralelo na antiguidade.
Inegavelmente, a religião pública, com o seu imenso quadro mitológico
exerceu grande influência sobre as reflexões filosóficas dos pensadores
gregos. Mas eles não foram menos sensíveis as solicitações da religiºao
dos mistérios, a qual atingiu seu maior brilho na Grécia, juntamente
quando a filosofia começava a florescer.

1.6.1.1. O ORFISMO E SUAS CRENÇAS ESSENCIAIS

Nem todos os gregos consideravam suficiente a religião pública e, por isso,


em círculos restritos desenvolveram-se os mistérios, com as próprias
crenças específicas (inseridas no quadro geral do politeísmo) e com as
próprias práticas práticas. Entre os mistérios os que mais influiram na
filosofia grega foram os mistérios órficos.

O Orfismo e os Órficos derivam seu nome do poeta Tárcio Orfeu, seu


suposto fundador, cujos traços históricos são inteiramente cobertos pela
névoa do mito. O orfismo é importante porque introduz na civilização
grega novo esquema de crenças e nova interpretação da existência
humana. Enquanto a concepção grega tradicional, a partir de Homero,
considerava o homem como mortal, pondo na morte o fim total de sua
existência, o Orfismo proclama a imortalidade da alma e concebe o
homem conforme o esquema dualista que contrapõe o corpo à alma.

O núcleo das crenças da religião dos mistérios resume-se nos seguintes


pressupostos:

a)- no homem reside um princípio divino, um demônio(alma), unido a um


corpo por causa de uma culpa original;
b)- este demónio é imortal e, por isso, nºao morre com o corpo, mas está
destinado e reencarna-se em corpos sucessivos, a fim de expiar
completamente aquela culpa original;

c)- a vida órfica, como os seus ritos e práticas de purificação, é a única que
pode pôr fim ao ciclo de reencarnações e de, assim, libertar a alma do
corpo;

d)- por isso, quem vive a vida órfica entrrá, depois desta existência, no
estado de felicidade perfeita, ao passo que quem vive outro tipo de vida
será condenado a ulteriores reencarnações.

Com esse novo esquema de crenças, o homem via pela primeira vez a
contraposição em si de dois princípios em contraste e luta: a
alma(demônio) e o corpo (como tumba, ou lugar de expiação da alma).
Rompe-se assim a visão naturalista; o homem compreende que algumas
tendências ligadas ao corpo devem ser reprimidas, ao passo que a
purificação do elemento divino em relação ao elemento corpóreo torna-se
o objectivo do viver.

Sem o Orfismo, não se explicaria Pitágoras, nem Heráclito, nem


Empédocles e, sobretudo, não se explicaria uma parte essencial do
pensamento de Platão e, de toda a tradição que deriva de Platão, ou seja
não se explicaria grande parte da filosofia antiga.

Como se pode constatar, a diferença principal entre a religião pública e a


dos mistérios diz respeito às relações entre a alma e o corpo. Enquanto a
religião pública tem uma concepção unitária da alma e do corpo, a dos
mistérios professa uma concepção dualista. As consequências éticas
destas duas concepções antitéticas são as seguintes: na religião pública
não se impõe nenhuma asces, mas se encoraja força e paixão. Na religião
dos mistérios , ao contrário, se impõe uma ascese muito rigorosa.

Vários ensinamento antropológicos e éticos,como a imortalidade da alma,


a condenação do prazer, o culto da virtude, etc. de Pitágoras, Sócrates,
Platão, Zenão, Plotino, são tirados directamente da religião dos mistérios.
e isto demonstra a sua importância para o desenvolvimento da filosofia
grega. Homero E Hesíodo têm o mérito de terem fornecido uma
codificação quase oficial da mitologia da religião pública grega. nota-se em
Homero um esforço, típico do filósofo, voltado para as motivações e para
as razões dos acontecimentos narrados.

1.7. PERÍODOS DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA ANTIGA GREGA

A filosofia antiga grega e greco-romana tem uma história mais que


milenar. parte do século VI a. C e chega até o ano 529 d.C. ano em que o
imperador Justiniano mandou fechar as escolas pagãs e dispersar seus
seguidores. Nesse espaço de tempo, podemos distinguir os seguintes
períodos:

1. Período naturalista (pré-socrático) – séculos VI a V a.C. – nesse


período, o interesse filosófico é levado para o mundo exterior,
material e ai é procurado o princípio metafísico das coisas.
Portanto, caracteriza-se pelo problema da physis ( natureza) e do
cosmo, e que, entre os séculos VI e V a.C viu sucederem-se os
Jônios, os Pitagóricos, os Eleatas, os Pluralistas e os físicos
ecléticos. Com a crise sofista e a crítica socrática, que puseram
em focoos valores humanos e espirituais, determina-se a ideia
áurea da filosofia grega, período sistemático (antropológico).
2. Período sistemático (antropológico) – séculos V-IV a.C; período
em que se concretizam as grandes sínteses e os máximos
sistemas do pensamento de Platão e de Aristóteles. esse período
coincide com o século IV a.C. e caracteriza-se sobretudo pela
descoberta do supra-sensível e pela explicação e formulação
orgânica de vários problemas da filosofia. É nesse período em que
culmina o pensamento grego. Depois de Aristóteles, o interesse
filosófico do pensamento gregoé voltado para o problema moral,
cuja solução pressupõe logicamente a solução dos problemas
metafísicos.
3. Período Ético ( séculos IV-I a.C) – Esse período é caracterizado
pelas Escolas Helenísticas e vai da conquista de Alexandre Magno
até o fim da era pagã e que, além do florescimento do Cinismo,
vê surgirem também os grandes movimentos do Epicurismo, do
Estoicismo, do Cepticismo e a posterior difusão do Eclecticismo.
Não se parte, porém, da grande matafísica do período precedente, mas
retorna-se a metafísica pré-socrática, naturalista, tendo lugar um regresso
especulativo evidente, que caracteriza o pensamento da idade helenista,
juntamente com o seu interesse pelos problemas morais e religiosos. Essa
mudança metafísica deveu-se, eventualmente, ao facto de que aquela
grande sistematização racionalista não estava em condições de resolver
integralmente o problema da vida , o qual angustiava os pensadores desse
período: os estóicos e os epicuros.

4. Período Religioso (séculos I – III d.C) – O período religioso do


pensamento véteropagão desenvolve-se, quase, inteiramente,
em época cristã, caracterizando-se sobretudo por um grande
renascimento do platonismo, que culminará com o movimento
neoplatônico. O reflorescimentodas outras escolas será
condicionado de vários modos pelo mesmo platonismo.
Considerando que a filosofia em geral e a razão se mostravam
incapazes de dar uma solução adequada a esse imprescindível
problema humano, o pensamento grego envida todos os esforços
para resolvê-los: tenta superar e transportar o clássico dualismo
grego para o panteismo (neoplatônico) e integrar a filosofia, que
tinha criticamente demolido a religião positiva grega da pólis,
com as religiões positivas orientais, misteriosóficas. dai o nome
de período religioso, dado a essa última etapa do pensamento
grego, em que domina o neoplatonismo e, neste, a figura de
Plotino.

Com o neoplatonismo finda, mesmo oficialmente, o penamento grego, no


tempo da queda do império romano, após doze (12) séculos de vida,
tendo o Justiniano, imperador do Oriente, mandado fechar a escola
neoplatônica de Atenas (529 d.C). Entretanto, os valores eternos de
verdade, descobertos por esta tradição filosófica, que é a maior da
humanidade, não podiam perecer: serão eles conservados e valorizados
no pensamento cristão, bem como os grandes valores práticos, jurídicos,
descobertos pela civilização romana.

A antiguidade é o período mais longo da História, que remonta ao IV


milénio antes da nossa era e termina no século V d.C. Portanto, a
antigudade termina quando cai o Império Romano do Ocidente, no final
do século V d.C.

1.8. GENESE DA FILOSOFIA ANTIGA ENTRE OS GREGOS

1.8.1. OS PRÉ-SOCRÁTICOS: MODELOS DE EXPLICAÇÃO DA NATUREZA

O problema da existência de um princípio unitário para todas as coisas já


está contido implicitamente da Teogonia de Hesíodo. Nesta obra o poeta
procura coordenar toda a realidade, estabelecendo que uma coisa
procede de outra. A construção de Hesíodo permanece porém
impregnada de elementos míticos ( todo o mundo mitológico da religião
grega está presente nela) e não chega ao princípio supremo de todas as
coisas porque, porque segundo o autor, tudo está sujeito ao vir-a-ser, a
geração e a corrupção.

Os primeiros pensadores que dão expressão filosófica ao problema da


existência de uma causa suprema de todas as coisas são os filósofos
jónios: Tales, Anaximandro e Anaxímenes, todos eles de Mileto, na Ásia
Menor, as margens do mar Egeu. Todos eles vieram entre os séculos VII e
V a.C.

A Filosofia nasceu nas colónias gregas do Oriente e do Ocidente; isto é, na


Jónia e na Magna Grécia.

1.8.1.1. TALES DE MILETO

Cerca de 624 a.C., em Mileto, nasceu Tales, o pai da Filosofia Grega e de


toda a Filosofia Ocidental. Matemático e Astrónomo, atribuem-se a
elemuitas descobertas. Tales foi considerado um dos sete sábios da
antiguidade . Diógenes Laércionarra que ele morreu ao cair em uma
cisterna enquanto observava os astros, aproximadamente em 562 a.C.

Tales foi o primeiro filósofo que se pôs expressa e sistematicamente a


pergunta: Qual é a causa última, o princípio supremo de todas as coisas? A
pergunta justificava-se pelo facto de que apesar da aparente diversidade,
há em todas as coisas algo de comum: em todas as coisas observáveis
encontra-se água, terra, ar e fogo.

Certamente a religião oferecia a Tales uma explicação sobre a origem das


coisas, mas não se tratava de um dado racional no qual ele pudesse crer
firmemente, de um dado mítico.

A problemática de Tales é de natureza filosófica e metafísica. Para ele,


entre os quatro elementos( água, terra, ar e fogo ), o primeiro tem
prioridade sobre os outros. A água é o princípio do qual se surgem todas
as Coisas. Da água deriva por condensação a terra; por rarefacção o ar e o
fogo; por isso, a terra está apoiada sobre a água. nesta argumento, ainda
está o elemento mítico: a mitologia enchera de divindades as águas do
mar e dos rios, da espuma do mar fizera sair a Afrodite, a deusa do mar e
da vida.

Tales descobriu que os eclipses solares são causados pela lua quando se
coloca entre o sol e a terra; descobriu a Ursa Menor e os Salstícios e
determinou antes dos gregos a superfície e a natureza do sol. Sustentava
também que as coisas inanimadas tem almas, baseando-se na observação
do magnetismo e no ímã.

1.8.1.2. ANAXIMANDRO

Nasceu em Mileto pouco depois de Tales. Anaximando, matemático,


astrónomo e filósofo, filho de Praxíades, interroga-se sobre a unidade do
princípio. Mas, dá a esta questão uma resposta surpreendente, muito
mais satisfatória do que a do mestre: o princípio de todas as coisas, o
elemento primordial não pode ser uma coisa determinada como a água, a
terra, o fogo e o ar, porque o que se quer explicar é a origem destas coisas
determinadas.

Assim, o princípio primeiro deve ser a coisa indeterminada(ápeiron), o


ilimitado, outra natureza infinito; da qual proveem todos os céus e os
mundos que neles existem.
Para Anaximandro, a geração não se dá por uma transformação do
princípio primordial, mas pela separação dos contrários causada pelo
eterno movimento. Ainda afirma que os contrários já contidos no
substrato ilimitado, que é um corpo, se separam e são os primeiros a dar o
substrato o nome de princípio. Estes contrários são o quente e o frio, o
seco e o úmido (humidade).

1.8.1.3. ANAXÍMENES

Discípulo de Anaximandro e terceiro célebre filósofo de Mileto.


Anaxímenes põe como princípio primordial de todas as coisas o ar. Do ar
procedem todos os outros elementos e, por consequência, todas as
coisas. É oportuno notar que para os antigos, o ar tinha um significado
mítico. Para eles o espírito e a alma não era mais do que o ar quente.

Para Anaxímenes o ar diferencia-se nas várias substancias segundo o grau


de rarefacção e condensação, ditando-se, dá origem ao vento e depois as
nuvens; em grau maior de densidade forma a água, depois a terra e as
pedras; outras coisas procedem destas.

A sua escolha do ar entre os vários princípios determinados possíveis,


parece motivada por três razões fundamentais:

* em primeiro lugar pela verificação de que o ar é essencial para o homem


e para os outros seres vivos. Assim Aécio disse que como a nossa
alma(oar), nos sustém e nos governa, do mesmo modo o vento e o ar
abarcam todo o cosmo inteiro;

* em segundo lugar pela observação de que do céu caem a chuva e os


raios e de que para o céu sobem os vapores e as exalações;

* pela condensação de que o ar se presta melhor do que qualquer outra


coisa, as variações e, por isso, também a ser pensado como o princípio
capaz de gerar tudo;

Segundo Giovanni Reale ´´ não se pode desconhecer que, introduzindo o


processo de condensação e rarefacção Anaxímenes fornece a causa
dinâmica que faz todas as coisas procederem do princípio, causa da qual
Tales não faltara e que Anaximandro tinha determinado, inspirando-se em
concepções órficas. Com isso, ele estabelece uma causa em perfeita
harmonia com o princípio, tornando assim o naturalismo jónico
plenamente coerente com suas premissas. Quando a Filosofia renascer
com Diógenes de Apolónia, partirá de Anaxímenes.

1.8.1.4. PITÁGORAS

Pitágoras pertence ao grupo restrito dos grandes mestres da


humanidade.Génio multiforme, cultivava a matemática, a geometria, a
astronomia, a filosofia, a ascese e a mística.

Segundo os testemunhos, o fundador da escola pitagórica nasceu em


Samos a 571 a. C. ainda jovem, viajou para longe da pátria e se iniciou em
todos os mistérios gregos e bárbaros. No tempo de Polícrates, esteve no
Egipto e viu os lugares sagrados e aprendeu as mais secretas doutrinas
sobre os deuses…

Pitágoras levou a geometria, cujos fundamentos foram descobertos por


Mérides, ao seu máximo desenvolvimento. Mas Pitágoras ocupou-se de
aritmética e descobriu monocórdio. Não negligenciou a medicina. O
matemático Apolodoro narra que Pitágoras sacrificou o número de bois
para celebrar descoberta de que no triangulo rectângulo o quadrado da
hipotenusa é igual a soma do quadrado dos catetos.

Filosofia de Pitágoras:

O princípio de todas as coisas é a mónada, dela procede a díada


indeterminada, que serve de substrato material amónada que é a sua
causa. Da mónada e da díada nascem os números, dos números nascem
os pontos e destes, as linhas, das quais procedem as figuras planas ; delas,
as figuras sólidas e destas, os corpos sensíveis; cujos elementos são
quatro: fogo, água, terra e ar. Estes elementos mudam-se e transformam-
se uns nos outros, originando-se deles universo dotado de alma e de
razão, de forma esférica, em cujo ponto central está a terra, esférica e
habitada.
Natureza da alma

Para Pitágoras, a alma é essencialmente imortal porque se origina do


éter(substancia incorruptível). Na alma do homem Pitágoras distingue três
partes: a inteligência, a razão e o impulso passional. A sede da alma
estende-se do coração até ao cérebro; a parte que reside no coração é o
impulso passional, ao passo que a inteligência e a razão estão i no cérebro.
Imortal é somente a parte racional, as outras duas são mortais.

Psicologia ética

Para Pitágoras, a coisa mais importante é na vida humana é converter a


alma para o bem ou para o mal. Os homens são felizes quando tem uma
alma boa, mas ela não permanece sempre no mesmo estado de repouso e
nele a situação não é sempre a mesma. A virtude é harmonia, como o são
também a saúde, o bem e a divindade.As coisas são formadas segundo a
harmonia. A amizade é uma igualdade harmónica...

De Pitágoras surgiu a escola pitagórica ou itálica; entre seus expoentes


contam-se Filolau e Arquita, contemporâneos de Sócrates e de Platão. A
escola teve carácter, além de filosófico, também científico, político, ético e
religioso; mantinha entre seus seguidores uma perfeita comunidade de
vida.
1.8.1.5. HERÁCLITO

Nasceu em Éfeso na Ásia Menor, no século VI a. C. Espírito altivo e


desdenhoso, aristocrata de nascimento e engenho. Desprezava a multidão
e falso sábios, não poupava em suas cristas, nem mesmo a grande
tradição literária e a religiosa. Não fundou escola filosófica, mas os
estóicos aprenderam muito de seus ensinamentos.

Filosofia de Heráclito

A sua Filosofia baseia-se na experiencia do devir: tudo é vir-a-ser, tudo


muda, tudo se transforma. O mundo, o homem e as coisas estão em
constante transformação. As coisas são como um rio, não há nada
permanente.
Heraclito lhe dá como princípio o fogo, o qual , existindo pela consumação
de outras coisas, é o tipo mais apropriado do devir. Do fogo, mediante os
movimentos ascendente e descendente procedem todas as coisas. No
movimento descendente o fogo condensa-se e torna-se ar, água e terra.
No movimento ascendente estes elementos se rarefazem e voltam a ser
fogo.

A lei que regula os movimentos ascendente e descendente e que causa a


ordem e harmonia das coisas é a razão universal (logos). Segundo
Heraclito, o logos não é uma realidade transcendente, nem uma
inteligência ordenadora existente fora do mundo, mas algo de imanente,
uma lei intrínseca, existente nas coisas. Para Heráclito, esta lei imanente
nas coisas é o Deus único.

Heraclito julgando que o homem tem dois instrumentos para o


conhecimento da verdade ( sensação e razão ), considerou que a primeira
não é digna de fé, fazendo, por isso da razão o critério da verdade. Rejeita
a sensação dizendo literalmente: olhos e ouvidos são más testemunhas
para os homens ; isto é semelhante ao dito( confiar nas sensações é
próprio daquele que tem uma alma de bárbaro. Prosseguindo, ele mostra
que a razão é o juiz da verdade, não uma razão qualquer, mas a razão que
é comum a todos e divina. O nosso físico pensa que o que nos cerca é
lógico e racional.

Heraclito funda a moral directamente sobre o logos. O homem pode


tornar-se bom, sábio e feliz se procurar unir-se ao logos. O meio principal
para se conseguir isto é o conhecimento de si mesmo, porque esse, o leva
ao logos que age na alma. Pelo conhecimento do logos o homem
compreende que as tensões da vida são contrabalançadas pela harmonia
geral das coisas ( suprema virtude). O homem aproxima-se do logos
percorrendo a via ascendente da verdade e não a via descendente do
prazer.

Em conformidade com a mentalidade já consolidada no povo grego,


Heráclito situa o fulcro da vida moral participando na vida da polis, onde
os interesses individuais se fundem com os interesses colectivos. A base
da unidade é sempre o logos porque todas as leis humanas são
alimentadas pelo ser divino, que governa como quer e basta a tudo.

1.8.1.6. PARMÉNIDES

Nasceu em Eleia, nos finais do século VI a.C. Viveu na primeira metade do


século V a.C seu mestre era Xenófones, recordado na história da filosofia
por sua severa crítica ou antropomorfismo religioso. Parménides foi
filósofo e poeta de altíssimo engenho. A sua obra principal intitula-se de:
poma sobre a natureza; dividida em duas partes (da verdade e da
opinião). Resta-nos dele apenas alguns fragmentos.

Parménides deduz que o que existe deverá ser o único; isto é, uma única
realidade. As consequências dessas duas afirmações (realidade e
pluralidade), são peremptórias e iniludíveis: se, por um lado, de uma única
realidade não pode surgir a pluralidade e se, por outro, a razão nos força a
aceitar a existência de uma só realidade, não haverá outro remédio senão
declarar que o movimento e a pluralidade são irracionais e ininteligíveis.

O núcleo central do pensamento de Parménides é constituido pela


definição radical entre o ser e o não-ser e pela afirmação da exclusiva
realidade do ser. Para Parménideso o ser está pegado ao ser; este ser é
imóvel e indivisível, obrigado aos limites de cadeias imensas. É o ser sem
princípio, nem fim; não pode não ser compelto.

Para Parménides, ou uma coisa é, ou não é. Se é, não pode vir-a-ser


porque já é. Se não é, não pode vir-a-ser poque do nada não se tira nada.
Com a sua doutrina ele releva a correcção entre o ser e o pensamento; na
necessidade de pensar o ser e somente o ser. Neste sentido, o ser e o
pensar são a mesma coisa; sem o ser no qual o pensar se encontra
expresso, não há pensamento. Em virtude da sua filosofia, parménides
conclui que o objecto do nosso pensamento é o ser e que o não ser não é
pensável.
Parménides é considerado universalmente como o primeiro grande
metafísico da história, porque foi o primeiro filósofo que procurou
esclarecer a noção fundamental do ser, o primeiro a mostrar o princípio
de não-contradição, pressuposto básico para a validade de qualquer
raciocínio. Foi o primeiro a insistir na distinção entre razão e sentidos,
dizendo que os sentidos nos enganam, porque nos dão a impressão de
que as coisas são sujeitas ao vir-a-ser, ao passo que a razão nos revela o
absurdo desta impressão.

1.8.1.7. EMPÉDOCLES

Nasceu em Agrigento, foi filósofo, médico e mago; teve participação activa


na vida política de sua cidade. Morreu no fim do século V a.C., atirando-se
na cratera do vulcão Etna para fazer crer aos seus concidadãos que subira
aos céus. Escreveu um poema, sobre a natureza e um Hino Lustral, dos
quais restam numerosos fragmentos.

Ensinou uma Filosofia eclética na qual é evidente o esforço para conciliar o


monismo dos primeiros pensadores Jónicos e de Parménides com as
exigências pluralistas, aproximadamente defendidas por Heráclito com a
teoria do devir.

Os principais ensinamentos de sua Filosofia dizem respeito a causa última


das coisas a qual é colocada nos quatro elementos e ao processo do
conhecimento que é explicado com a teoria da analogia. Para Empédocles,
o ser é imutável, porque se não o fosse, o mundo já teria deixado de
existir. O devir é possível, não pela transformação dos elementos, mas
pela formação de seres diferentes mediante a diversa combinação dos
elementos . O devir é causado pela luta entre duas forças primordiais: o
Amor e o Ódio. O Amor une os elementos e mantém sua unidade; o Ódio
os separa e os divide.

O princípio básico da doutrina do conhecimento de Empédocles é o de


que as coisas são conhecidas mediante as coisas que lhes são semelhantes
( similesimilidignoscitur; isto é, o semelhante é conhecido pelo meio do
semelhante). Pela terra vemos a terra, pelo vento vemos o vento, pela
água vemos a água.
Empédocles fixa um princípio da analogia ( semelhança ) entre a estrutura
epistemológica e a estrutura física da realidade extramental.
1.8.1.8. DEMÓCRITO

O atomismo representa o extremo desenvolvimento do pluralismo físico


ensinado por Empédocles. Segundo a atomismo, o elemento primordial é
constituído pelos átomos. Demócrito de Abdera, contemporâneo de
Sócrates; viveu entre 460 e 360 a.C. Escreveu muitas obras, mas todas se
perderam.

Demócrito sustenta a imutabilidade do ser e a realidade do vir-a-ser. O ser


é constituído por partículas indivisíveis e invisíveis, eternas e imutáveis ;
não tem qualidades; excepto a impenetrabilidade; diferem entre si apenas
pela figura e pela dimensão. A terra é constituída de átomos mais
volumosos, os quais, no turbilhão do movimento, se reuniram no centro
do universo, constituindo a massa homogénea que chamamos terra. A
alma humana é formada de átomos leves e sutis, os quais são ingénuos;
isto é, semelhantes aos que constituem o fogo.

Para Demócrito, o conhecimento é captação que os órgãos sensitivos


fazem dos átomos irradiados pelos corpos. Demócrito foi o primeiro
filósofo a dar atenção a origem da linguagem, dizendo que no começo os
homens emitiam sons não articulados e destituídos de significado; mais
tarde aos poucos começaram a articular palavras e estabeleceram entre
eles expressões convencionais para designarem os objectos e assim
criaram a linguagem.

Quanto à moral, Demócrito não coloca a felicidade no prazer dos sentidos,


mas na harmonia da razão e na paz da alma ( tranquilitasanimi ). A ética
de Demócrito tem é nobre e interior porque surpreende a quem
esperasse outras consequências de suas premissas físicas e gnosiológicas.

1.8.1.9. ANAXÁGORAS

Com Anaxágoras de Clazómenas( 500-428 a.C. ) a Filosofia parte das


colónias Jónicas e da Magna Gréciae penetra na Ática. O pensador, foi
acusado de impiedade por causa de suas opiniões que abalavam a
mitologia tradicional e foi atirado na prisão. A semelhança de Demócrito,
para Anaxágoras o ser é constituído de átomos que são corpúsculos, não
qualitativamente iguais, mas qualitativamente diferentes, chamados
homeomerias.

O termo homeomerias significa parte qualitativamente semelhante. As


homeomerias são infinitas e formam uma variedade infinita de tipos
elementos de seres. Os corpos compõem-se de homeomerias de diversas
natureza: tudo está em tudo.

Para Anaxágoras o devir é possível porque cada corpo contem elementos


de outros corpos. Por isso, um corpo dá origem a outros corpos pela
separação das homeomerias que prevalecem em sua composição

A causa do devir é dupla: o movimento giratório e a mente suprema.


Desta última, dependem a harmonia e a ordem das coisas. A mente
suprema ( nous ) é a grande descoberta de Anaxágoras e é realidade de
ordem superior, independente dos corpos infinitos.
2. OS SOFISTAS, SÓCRATES E PLATÃO

2.1. OS SOFISTAS

Com a Sofistica, a Filosofia pré-socrática chega ao seu termo; cujo


movimento de ideias se desenvolveu no mundo grego, durante o século V
a.C. A Sofistica desperta um interesse geral, não só nas Jónias, como
também na mãe pátria, principalmente em Atenas, que depois das duas
vitórias de maratona sobre os persas (490-475) se impõe como o maior
centro político e cultural da Grécia.

1- O aparecimento da Sofistica deve-se a razoes de ordem filosófica


porque as mentes mais esclarecidas tinham pesquisado a causa
primeira das coisas, mas as conclusões a que tinham chegado eram
totalmente contrastantes: alguns filósofos tinham identificado a
causa primeira com um dos quatro elementos; outros com
elementos mais sutis, chamados átomos ou homeomerias. Diante
deste quadro, os pensadores do século V, julgaram inútil insistir na
pesquisa metafísica, sem antes estudar o homem em profundidade
e determinar com exactidão o valor e o alcance de sua capacidade
cognitiva. Em relação a matemática, surge a Sofistica como
exigência de uma verificação de capacidade cognitiva do homem. O
seu interesse é essencialmente humanístico e gnosiológico.
2- O aparecimento da Sofistica deve-se a razões de ordem política,
típica da cidade grega deste período. Assim, a vida na polis exigia de
todos os cidadãos a se dedicarem em actividade política. Outrossim,
a figura do sofista se atribui o cargo de instruir os filhos da
aristocracia na gramática, na literatura, na filosofia, na religião e na
retórica; que segundo Platão é o entendimento das coisas da
família, de modo que se possa administrar optimamente a própria
casa e das coisas da cidade, de modo que se alcance o poder de
realizar e discorrer.

2.1.1 ENSINAMENTO DOS SOFISTAS

Os Sofistas foram os primeiros a levantar estas questões e responderam


que a realidade e a lei moral, ultrapassam a capacidade cognitiva do
homem; ele não pode conhece-las. Sendo assim, tudo o que o homem
conhece na filosofia e na ética é arquitetado por ele mesmo. Dai, os
Sofistas dizerem que o homem seja a medida de todas as coisas.

Os Sofistas ensinavam aos seus discípulos que não pode haver


conhecimento verdadeiro, mas só um conhecimento provável, por causa
da sua origem sensível e que não existe uma lei moral absoluta, mas
somente leis convencionais. O fim supremo da vida é o prazer, esta é a
única meta apropriada à dimensão rigorosamente empírica do
conhecimento humano.

2.1.2. OS EXPOENTES DA SOFISTICA

Desses, trataremos apenas de dois grandes representes: Protágoras e


Górgias.

PROTÁGORAS, Nasceu em Abdera a 481 a.C. ainda jovem transferiu-se


para Atenas, onde ensinou a densa multidão de alunos entusiastas. De
suas obras pouco nos resta. Seu pensamento foi-nos conservado por
Platão.
A sua doutrina a respeito do conhecimento resume-se no dito famoso: o
homem é a medida de todas as coisas; das que são enquanto são, das que
não são enquanto não são. Significado dessas palavras ainda é muito
discutido no teeteto. Protágoras entende por homem o indivíduo. Para si,
o conhecimento varia como os indivíduos. Mas no Protágoras, ele parece
entender por homem, não o indivíduo, mas a humanidade em geral

É inegável o significado antropocêntrico da doutrina de Protágoras: não


existe verdade absoluta, o homem interpreta os dados dos sentidos a seu
modo e de acordo com os seus interesses(…)

GÓRGIAS, nasceu em Leôncio, na Sicília a 484 a.C, chefiou uma delegação


a Atenas em 427, para conseguir a interferência ateniense contra a
Siracusa que ameaçava a independência das cidade vizinhas; obteve um
grande triunfo discursando ao povo.

Para Górgias, nada existe; se existisse alguma coisa não poderíamos


conhece-la; se podéssemosconhece-la, não poderíamos comunicar nossos
conhecimentos aos outros.

Assim, o seu argumento reflecte-se nos três pontos seguintes:

 O ser não existe seja ele gerado ou não gerado. Se é não gerado,
então é eterno e infinito. Se é gerado, admite-se sequencialmente
retrógrada a existência dos seus progenitores, sem se chegar ao ser.
 Uma coisa é o pensar e outra é o ser. Pode se pensar em coisas
existentes como a quimera. Logo, o pensamento é diferente do ser,
o qual se fosse admitido como existente, não poderia ser pensado.
 A palavra dita é diferente da coisa significada, deste modo, se a
realidade fosse admitida, não poderia ser traduzida em palavras,
nem ser transmitida aos outros. Com isto, Górgias concluiu que não
pode haver conhecimento certo das coisas; é necessário esforçar-se
por persuadir os homens da probabilidade do que aparece: daqui o
interesse pela retórica enquanto arte de persuadir, coisa muito
diferente da Filosofia que é a procura da verdade.

2.2. VIDA E ENSINAMENTOS DE SÓCRATES


Sócrates nasceu em Atenas, a 469 a.C. filho de Sofronisco, escultor e de
Fenareta, parteira. Sócrates cresceu forte e robusto, mas a sua aparência
não primava pela beleza. Era dotado de grande resistência física, não se
abatia,nem com o trabalho, nem com as dificuldades. Andava descalço
tanto no verão como no inverno e se vestia do mesmo modo em todas as
estações do ano. Era moderado no comer e beber.

Sócrates começou o estudo da Filosofia ainda jovem. O Oráculo de Delfo,


revelou a um seu amigo de que, nenhum homem era mais sábio do que
ele. Ao interpretar o significado do Oráculo, concluiu que ele era o mais
sábio porque tinha a consciência da sua ignorância. O Oráculo colocou
Sócrates no caminho da sua vocação: ensinar a verdade aos homens.

Em 400 a.C Sócrates foi acusado de impiedade e de corromper a


juventude. Os acusadores pediram a pena de morte, esperando que se
salvasse indo para o exílio antes de instauração do processo. Mas ele
enfrentou o processo e serenamente fez a sua própria defesa. Foi
condenado à morte. Podendo propor uma pena alternativa, sugeriu uma
pequena importância em dinheiro. Irritado, o Tribunal confirmou a
sentença de morte que o próprio Sócrates executou bebendo a cicuta.

O ensinamento filosófico de Sócrates reflecte-se na moral porque ele


preocupou-se com a formação dos bons cidadãos; na metafísica porque
Sócrates se interessou não só com os problemas da moral quotidiana,
como também pelos problemas mais difíceis do ser.

2.2.1. MISSÃO DE SÓCRATES

Sócrates se sentiu chamado pelo Oráculo de Delfo: incitar os a se


preocuparem com os interesses da própria alma, procurando adquirir a
sabedoria e a virtude.

2.2.2. MÉTODO SOCRÁTICO

Sócrates, durante as suas intervenções considerou pertinente usar a ironia


e a maiêutica. A ironia é uma espécie de simulação; para Sócrates a ironia
tem finalidade de pôr a descoberta a vaidade, desmascarar a impostura e
seguir a verdade. Na verdade, Sócrates considera a ironia como o método
de análise crítica e pedagógica. A maiêutica é uma arte educativa
comparada com a de sua mãe parteira. Com este método Sócrates
ajudava nos partos do espírito dos homens; isto é, fazia com que as
pessoas por si só descobrissem a verdade.

2.2.3. SÓCRATES E OS SOFISTAS

 Enquanto Sócrates buscava a verdade e incitava os seus discípulos a


descobri-la; os Sofistas buscavam o sucesso e ensinavam com
consegui-lo.
 Segundo Sócrates, para se chegar a verdade é necessário
desapegar-se das riquezas, das honras, dos prazeres, reentrar no
próprio espírito e conhecer a verdade. Ao passo que os Sofistas, é
necessário fazer carreira a fim de ter sucesso.
 Para Sócrates ninguém pode ser mestre de outro. Tanto mais é que
ele não se considera mestre, mas obstetra(maieuta ); não ensina a
verdade, mas ajuda os seus mestres a descobri-la nelesmesmos.
Não lecciona , mas conversa, discute e orienta-os para descobrir a
verdade. Aos passo que os Sofistas se gabam em saber tudo e
ensinar a todos.
 Para Sócrates aprender não é coisa fácil porque muitos diálogos
terminam sem conclusão, sem definição da verdade, da bondade,
da beleza e da justiça. Ao passo que para os Sofistas, aprender é
coisa facílima; por um preço módico, podem garantir os discípulos o
conhecimento da retórica e arte de governar.

2.2.4. ENSINAMENTOS FILOSÓFICOS DE SÓCRTES

Os principais ensinamentos de Sócrates situam-se no âmbito da


Psicologia, Epistemologia e Moral.

 Quanto a Psicologia, Sócrates fundamenta sobre a imortalidade da


alma. Para ele, a alma é superior ao corpo e encontra-se presa nele.
A morte liberta a alma desta prisão e lhe abre a porta de uma vida
melhor.
 A respeito da Epistemologia, Sócrates faz uma clara distinção entre
opinião e verdade. E realça que o conhecimento por si só, não nos
pode fazer compreender a verdade.
 Concernente a moralidade, Sócrates realça que ela se identifica com
o conhecimento: a sabedoria é virtude e a virtude identifica-se com
a sabedoria. Se o homem peca, é por ignorância, porque não é
admissível que , conhecendo o bem e o mal, escolha o mal e não o
bem, ou ainda não saber que o que escolheu é mau.
2.2.5. ESCOLAS SOCRÁTICAS

Em vida, Sócrates teve muitos discípulos e que depois da morte de seu


mestre, estes se dividiram para várias escolas das quais as mais
importantes são: Cínica, Cirenaica e Megárica.

 A Escola Cínica foi fundada por ateniense Antistenes, ele viveu


entre os séculos VI a V a.C. Em oposição aos desenvolvimentos
lógico-metafísicos realizados por Platão, Antístenes concentrou-se
essencialmente nos problemas éticos. Ele sustentava
socraticamente que, ´´ o fim do filosofar é alcançar e praticar a
virtude ´´ e a mesma é suficiente para a felicidade. A virtude está
nas acções; não tem necessidade de muitas palavras nem de muitos
conhecimentos.
Para Antístenes, duas dificuldades supõem supõem a obtenção da
sabedoria: o orgulho e o prazer. O orgulho é um obstáculo para a
consecução da sabedoria porque impede o homem conhecer-se a si
mesmo e conhecer os próprios limites e defeitos. O prazer opõe-se
à sabedoria porque impede a autarquia do sábio.
 A Escola Cirenaica foi fundada pelo Aristipo de Cirene. Ele viveu
entre os últimos decénios do século V a.C e os primeiros do século
IV a.C. Para Aristipo e Sofistas, as sensações são o critério da
verdade; apesar de serem consideradas estádios subjectivos, elas
são verdadeiras porque produzem prazer e dor.
 A Escola Megárica foi fundada por Euclides de Mégara, fiel amigo
de Sócrates; segundo o qual ´´ a única realidade é o bem. Por isso, o
que não tem razão de bem não existe. De seu conhecimento
dependem logicamente a virtude e a felicidade. Euclides identificou
o bem socrático com oum eleático. Ele sustentou que o sumo bem é
um só, mesmo sendo chamado com muitos nomes, tais como:
Prudência, Deus, Mente, etc.
2.3. PLATÃO:VIDA, OBRA E SUA FILOSOFIA

Platão, é uma das maiores figuras de todos tempos; nasceu em


Atenas, 427 a.C. seus pais eram Aristão e Perizona, ambos
descendentes das mais famílias nobres da Grécia.
Discípulo de Sócrates (407-399 a.C), enquanto ouvia as lições de
Cratilo, Platão já frequentara a escola de seu mestre, Sócrates;
assim, este exerceu muita influencia na formação de personalidade
seu discípulo, Platão.

Pela Apologia de Sócrates, Platão foi um dos amigos que


aconselhou Sócrates a aumentar a multa de uma para trinta minas,
garantindo pessoalmente o pagamento da soma. Mas Sócrates não
aceitou o conselho e foi condenado.
Pelo Fédon, na hora da morte do mestre, Platão estava ausente por
motivo de saúde. Depois do fim trágico de Sócrates, seus amigos e
protestores, inclusive Platão, temendo que o fraccionismo se
voltasse também contra eles, deixaram Atenas com destino a
Mégara. Enquanto viajante (398-387 a.C) e em breve permanência
em Mégara, Platão começou uma série de viagens, visitando várias
cidades da Grécia e da Itália e permaneceu um longo tempo em
Siracusa na corte do Dionísio
Em 387-367 a.C era fundador e Reitor da Academia; a época
constituiu como sendo a mais importante da vida de Platão e um
dos mais importantes acontecimentos da história da ciência. A
Academia, era de facto a primeira universidade e a estrutura do seu
programa foi constituída pela matemática e pela geometria.
Durante séculos a Academia foi um centro de atracção para todos
os estudiosos. Até o grande matemático Eudóxio de Cnido
transferiu-se para ela com todos os seus alunos.

2.3.1. OBRAS DE PLATÃO


Platão escreveu as suas obras em dois períodos, umas na juventude
e outras na velhice; porém, elas são divididas em quatro grupos.
Quanto ao tempo de composição, elas corresponderiam aos quatro
períodos da vida do filósofo:
 Nos diálogos socráticos, Platão expõe a doutrina de Sócrates; cujos
principais são: apologia de Sócrates ( defesa de Sócrates durante o
processo); criton( obrigação de obedecer as leis ); Ion( sobre a
inspiração poética ); Listas ( sobre a amizade ); Eutífron( sobre a
santidade ).
 Nos diálogos políticos Platão combate os sofistas; os principais são:
Protágoras ( virtude e conhecimento são a mesma coisa);
Górgias( sobre a retórica ); Cratilo( sobre a linguagem);
Ménon( sobre a virtude ); Hipius Maior ( sobre a beleza ).
 Nos diálogos da maturidade, Platão fala sobre: banquete ( amor );
Fédon ( sobre a imortalidade da alma ); Fédro( sobre a retórica );
República ( sobre o estado ideal ).
 Nos diálogos da velhice, Platão faz uma revisão crítica da doutrina
das Idéias e do Estado. Os principais são: Teeteto(sobre o
conhecimento); Parménides( defesa da teoria das ideias); Sofistas
( sobre a relação entre ser e não ser e outras ideias); Política(o
verdadeiro estadista é o filósofo); Filebo(relação sobre o prazer e o
bem); Timeu(cosmologia e demiurgo); Lei( legislação do Estado
ideal).

2.3.2.TEORIA DAS IDEIAS DE PLATÃO

A doutrina central da filosofia platônica é a teoria das ideias. Esta


doutrina consiste na afirmação de que existem entidades imateriais,
absolutas, imutáveis e universais independentes do mundo físico;
por exemplo: a justiça em si; bondade em si; o homem em si; as
entidades e proporções matemáticas em si mesma. Uma coisa é
bela porque participa da beleza; é verdadeira porque participa da
verdade; é boa porque participa da bondade; é humana porque
participa da humanidade; é esférica porque participa da
esfericidade. Esta é a causa do mundo sensível: a sua participação
no mundo intelectual. Significa que, existindo o mundo sensível,
deve existir também o mundo inteligível. Existem bancos porque
existe a parte do banco; existem homens porque existe o homem;
existem coisas belas, verdadeiras e iguais porque existe a beleza, a
bondade, a verdade, a verdade e igualdade.

O MUNDO DAS IDEIAS: para demonstrar a existência do mundo


inteligível; isto é, do mundo das ideias, Platão aduz três
argumentos:
 Argumento da reminiscência( ideias de verdade, de bondade, de
igualdade e a ideia universal do homem). Estas ideias não são
tiradas da experiencia, mas do conhecimento actual e recordação
de uma intuição que se deu em outra vida.
 Argumento do verdadeiro conhecimento (a verdade exige
correspondência entre o conhecimento e a realidade, mas o único
conhecimento humano que merece o nome de ciência é o que diz
respeito aos conceitos universais).
 Argumento da contingência (deve existir a ideia necessária e
estática para que se explique o nascer e o perecer das coisas: uma
coisa bela é bela, não por certa combinação de cores, mas porque é
uma aparição terrena do belo em si; o dois é dois, não pala adição
de duas unidades, mas pela participação da dualidade)

O uniforme e constante é o ensinamento de Platão sobre a propriedade


das ideias. Elas são sempre descritas como realidades simples,
incorpóreas, imateriais, não sensíveis, incorruptíveis, eternas, divinas,
imutáveis, auto-suficientes e transcendentes.Para Platão, Deus é uma das
ideias soberanas ( Bondade, Beleza, Unidade, Ser ).

O MUNDO SENSÍVEL: para Platão, o mundo sensível é constituído por


coisas reais e as imagens que o homem tem delas. A relação, é entendida
por ele, ora como imitação(mímesis), ora como uma
participação(méthekis) do sensível no ideal.

CONHECIMENTO: o problema do conhecimento em Platão, é


acompanhado de exigências ontológicas. Na metafísica há lugar, não só
para o ser estático, como também dinâmico. A realidade é constituída de
dois estratos: um estático e o outro dinâmico. Na epistemologia, Platão dá
valor tanto ao conhecimento intelectivo, quanto ao sensitivo. Ao
intelectivo para o mundo das ideias, ao sensitivo para o mundo sensível.

Segundo Platão a distinção radical existente no mundo da realidade entre


as coisas e as ideias corresponde, no mundo do conhecimento uma
distinção igualmente radical entre sensação e intelecção. Em primeiro
lugar porque os sentidos e o intelecto tem objecto próprio: o objecto dos
sentidos é o mundo sensível e do intelecto, o mundo ideal. Em segundo
lugar, porque os sentidos podem, no máximo, chegar a formar uma
opinião(dóxa) sobre seu objecto; ao passo que o intelecto produz um
verdadeiro conhecimento(episteme), um conhecimento universal.

Platão distingue dois graus no conhecimento sensitivo ( eikasia e pistis) e


dois no conhecimento intelectivo(diánoia e nóesis). Eikasia é apreensão
das imagens. Pistis é a percepção das coisas sensíveis, acompanhada da
confiança na realidade dos objectos apreendidos pelos sentidos.Diánoia é
conhecimento das entidades matemáticas mediante um processo
raciocinativo. Nóesis é o conhecimento directo e intuitivo da ideia pura.

Para ilustrar a passagem dos graus inferiores de conhecimento aos


superiores, Platão recorre ao célebre mito da caverna. O mito mostra que
a passagem de um grau para outro, se dá muito lentamente e com grande
esforço e que exige uma conversão e mudança de mentalidade. A Filosofia
procura conduzir os homens à conversão, de um grau ao outro, até ao
grau supremo, único no qual é possível o verdadeiro conhecimento da
realidade.

DOUTRINA DA REMINISCÊNCIA:-O nosso conhecer é recordar; as coisas


deste mundo são cópias das ideias; a reminiscência desperta na alma a
recordação das Ideias.

Na economia geral do sistema platónico, a doutrina da reminiscência


exerce três funções: fornecer uma prova da preexistência da
espiritualidade e da imortalidade da alma; estabelecer uma ponte entre a
vida antecedente e a vida presente, finalmente dar valor ao conhecimento
sensitivo, reconhecendo-lhe o mérito de despertar a recordação das
ideias.
PSICOLOGIA PLATÓNICA: o homem não tem somente uma alma, mas três:
a alma racional, a alma irascível e a alma concupiscível. Elas se
encontram respectivamente na cabeça, no peito e no ventre. A alma
racional é como o cocheiro, as outras são os dois cavalos que puxam o
coche, guiado pelo cocheiro.

A alma, simples, espiritual, no início habitava junto com as ideias no


hiperuránio. A sua felicidade consistia na contemplação das ideias; mas a
certa altura a alma não foi mais capaz de manter o esforço necessário
para a contemplação e não conseguindo mais ver as ideias, por uma
obscura eventualidade, se tornou pesada, cheia de esquecimento e
perversidade e caiu sobre a terra

2.3.3. DUALISMO ANTROPOLÓGICO DE PLATÃO SOBRE A ALMA E O


CORPO

A concepção platônica da alma como princípio do conhecimento racional


está estritamente relacionada com a teoria das ideias. Devido a sua
própria natureza, a alma é afim das ideias, ao passo que o corpo pertence
ao mundo dos seres físicos. É na contemplação e no conhecimento das
ideias que adequadamente se cumpre o destino das nossas almas. Acerca
da alma, o dualismo constitui a base fundamental da doutrina platónica.
Assim:

 A alma, afim das ideias e como ela imaterial e simples é por


natureza imortal;
 A união da alma com o corpo não é o estado essencial da alma, mas
um estado acidental e transitório;
 Enquanto permanece unida ao corpo, a tarefa fundamental da alma
é purificar-se e preparar-se para a contemplação das ideias.

Platão teve consciência deste facto e nas suas obras maduras (República,
Fedro) adoptou uma concepção mais complexa da alma, distinguindo nela
três partes da alma: a razão (alma racional); o ânimo(alma irascível) e o
apetite (alma concupiscível).
No apetite residem os desejos irracionais e a procura do prazer, que se
opõem à razão. A razão cabe controlar e ordenar o apetite. O ânimo é a
coragem ou força, que por sua vez cede às exigências do apetite na tarefa
de julgar e controlar esses apetites.

2.3.4. A ORDEM MORAL

Platão atribuiu a estes conceitos ético-políticos o estatuto de ideias ( a


justiça em si, a bondade em si...), ideias, cuja realidade e validade
objectiva é independente das opiões que cada um possa ter acerca delas.

2.3.5. A ORDEM POLÍTICA

Platão é antes de mais um pensador político. A sua obra mais importante


e mais conhecida, a República, debruça-se sobre o sistema político ideal.
No tocante a justiça no Estado; a teoria política de Platão centra-se em
dois princípios seguintes:

 A correlação estrutural entre a alma e o Estado se fuda na ideia de


que no Estado há três classes sociais; a dos produtores, a dos
guardiães e a dos governantes.
 No princípio de especialização funcional, Platão releva a ideia de
que cada indivíduo e cada grupo socia deve dedicar-se à tarefa que
lhe é própria.

Da conjunção destes dois princípios resulta a concepão platônica da


justiça que é a mesma para o Estado e para a alma individual. De facto, a
justiça no Estado realiza-se quando cada um dos grupos sociais realiza a
função que lhe corresponde e a realiza de modo adequado; pois, possui a
virtude que lhe é própria: prudência, no caso dos governantes; fortaleza,
no caso dos guardiães e auxiliares; moderação ou temperança, no caso
dos produtores e grupos sociais.

A utopia platônica da República tem as medidas politicamente


tradicionais, cuja finalidade é de carácter moral. Assim, Platão proclama a
igualdade absoluta entre homens e mulheres, ambos terão a mesma
educção e as mesmas oportunidades de chegar a guardiães, auxiliares e
governantes.

Sobre o governo do sábio, Platão afirma que a razão cabe por natureza
governar, tanto no indivíduo, como no Estado. As outras partes (apetite e
ânimo na alma, produtores e guardiãs auxiliares) devem submeter-se aos
seus ditames de acordo com as exigências da justiça. Sob o ponto de vista
político, isto configura um Estado ideal, utópico, que pode ser definido
como o governo dos sábios. Por conseguinte, o governo deve ser entregue
aos que sabem, aos sábios, aos filósofos. Este princípio basea-se numa
identificação discutível entre o saber teórico e o saber prático. O primeiro
(o saber teórico) tem a ver com o cnhecimento do bem que possibilita a
captação da ordem e da estrutura de toda a realidade; ao passo que o
segundo (o saber prático) resulta o conhecimento do bem que
proporciona as normas de toda a ordenação moral e política.

O sábio platónico é homem de ciência e homem de Estado e sob o seu


governo não há necessidade de leis, porque o seu saber permite-lhe
adoptar as disposições mais adequadas para cada caso.

Sobre a educação, Platão realça que a finalidade do Estado é de carácter


moral, a de promover a justiça e a virtude, tanto individual, como social;
só deste modo será possível uma vida feliz. A educaçáo é da competência
exclusiva do Estado. No nível primário, comum a todos os cidadadãos, a
educaçáo consiste na ginástica e na música. Por meio de ambas as
disciplinas pretende-se educar, não só o corpo, mas também o carácter,
incluíndo nos cidadãos hábitos e opiniões correctos. O segundo nível,
reservado aos futuros governantes, vai dos vinte aos trinta e cinco anos.
Numa primeira fase consiste num estudo pormenorizado e progressivo
dos vários ramos das matemáticas, de modo a que na sua fase definitiva
se possa abordar a dialéctica, que culminará no conhecimento do bem.

3.1. ARISTÓTELES. A FILOSOFIA DO PERÍODO HELENÍSTICO

Aristóteles foi discípulo de Platão e mestre de Alexandre Magno, nasceu


em Estagira (Trácia) no ano 384 a. C. em cuja Academia permaneceu
durante 20 anos, até a morte do seu mestre. Posteriormente, em 335 a.C
funda a sua própria escola, o Liceu. Aristóteles foi um dissidente que
rejeitou importantes elementos da filosofia de seu mestre. rejeitou a
teroria das ideias subsistentes e rejeitou a distinção entre os saberes
teórico e prático.

Diferenças entre Aristóteles e Platão não são apenas doutrinais, mas


também de forma e de estilo. Platão não escreveu tratados, mas diálogos
que abordavam múltiplas questões. Aristóteles escreveu tratados em que
expôs sistematicamente cada um dos ramos do saber, e neste sentido
apresenta um aspecto mais rigoroso e mais escolar que Platão.

Conservam-se alguns fragmentos dos seus escritos de juventude (diálogos


de conteúdo e estilo platónico), bem como um número considerável de
tratados completos cujo conjunto se denomina corpus aristotelicum. Os
tratados mais importantes são dedicados a questões de lógica, de filosofia
da natureza e biologia( os mais importantes deste grupo são a Física e
acerca da alma), de Ética ( Ética anicómaco) e de Política ( Política). A
Metafísica é a obra mais interessante de Aristóteles, obra dedicada a
questões de Ontologia e Teologia.

Em Aristóteles, a Ontologia trata sobre o ser enquanto tal, cujo objecto de


estudo é o real enquanto tal, « ente enquanto ente e as propriedades que
por si lhe conferem». Ao passo que a Teologia é a ciência que estuda a
suprema realidade de todas as coisa: Deus. Sobre a Ética, a Aristóteles
parte do princípio de que o fim último, a meta última de todos os seres
humanos é a felicidade.

Na sua reflexão sobre a virtude, Aristóteles distingue dois tipos de virtude


no ser humano: as virtudes intelectuais, as que aperfeiçoam o
conhecimento e as virtudes morais, as que aperfeiçoam o carácter, o
modo de ser e de se comportar. Sobre a justiça, ela passa a ser um lugar
de destaque; da qual depende toda a actividade prático-moral. Confere a
justiça legal, a que consiste no cumprimento das leis. A justiça aritmética
exige que quem estiver em causa receba exactamente o mesmo; isto é, a
justiça contratual que rege as trocas. Ao passo que a justiça geométrica
exige que os implicados recebam proporcionalmente aos seus méritos,
regendo a distribuição social de honras e prémios.
Sobre a política, a grande contribuição de Aristóteles para o pensamento
político constitui precisamente na sua insistência em que a natureza
humana é essencialmente social. O Estado é algo produzido pela natureza
e o homem é por natureza um animal político. A vida comunitária ocorre
em níveis distintos: na família, na aldeia, e, por fim, no Estado. O Estado (a
polis) é a forma mais perfeita de comunidade e só nele o homem pode
alcançar a sua perfeição e viver numa vida plenamente humana.

Sobre os regimes políticos, Aristóteles é um dos timoneiros que profere o


seguinte: a finalidade do Estado é facilitar aos cidadãos e a comunidade
política, o desenvolvimento de uma vida excelente, feliz, digna e virtuosa.
Qualquer regime político deve orientar-se para a realização da justiça e
não para o benefício particular, injusto, dos que exercem o poder.

Tendo em conta o número de cidadãos que governam, Aristóteles


distingue três tipos de constituição, três classes de regimes políticos:

 a monarquia (governo absoluto, que concentra tudo em suas


mãos);
 a aristocracia (o governo dos melhores);
 a democracia (o governo de todos os cidadãos). A democracia
correcta aproxima-se do ideal da justiça aritmética, ao passo que a
aristocracia e a monarquia tendem mais para ajustiça geométrica;
pois, trata-se de governo de melhor ou melhores de entre os
cidadãos.

As três formas de governo podem perverter-se, isso acontece quando o


poder não se orienta para a realização da justiça, mas sim para o proveito
de quem governa, Estas três formas injustas de governo são,
respectivamente, a tirania (forma de governo em que, o chefe, embora
com o poder ilimitado deveria servir e representar a vontade do povo), a
oligarquia (forma de governo em que predomina uma família poderosa) e
a demagogia(abuso da democracia; submissão excessiva da actuação
política, ao agrado das massas populares).

CAPITULO II. SÍNTESE SOBRE ETAPAS DA FILOSOFIA


2.1. FILOSOFIA ANTIGA

2.2. FILOSOFIA MEDIEVAL

2.3. FILOSOFIA MODERNA

2.4. FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA

Obs: por descrever os demais capítulos...

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