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SAPIENS

Inspirado no livro homônimo de


Yuval Noah Harari.
Por Sandro Cocco
“A história começou quando os humanos
inventaram deuses e terminará quando
os humanos se tornarem deuses.”
PARTE I
A REVOLUÇÃO
COGNITIVA
1. A marca de uma mão humana de cerca de 30 mil anos atrás, na parede na caverna
de Chauvet-Pont-d´Arc, no sul da França. Alguém tentou dizer “Estive aqui”.
Matéria, Energia,
1. Um animal insignificante 13,5 bilhões de anos Tempo e Espaço
(Big Bang)
Física

300 mil anos após Átomos Química

Terra (moléculas
3,8 bilhões de anos e organismos) Biologia

Homo Sapiens
70 mil anos (Culturas) História
Muitos antes de haver história, já havia seres
humanos. [...] Não havia nada de especial nos
humanos. [...] Os biólogos classificam os organismo
em espécies... Se eles tendem a acasalar uns com os
outros, gerando descendentes férteis. [...] As espécies
que evoluíram de um mesmo ancestral são agrupadas
em um “gênero”. [...] Os gêneros, por sua vez, são
agrupados em famílias... Todos os membros de uma
família remontam a um mesmo patriarca ou matriarca
original. [...] somos membros de uma família grande e
particularmente ruidosa chamada grandes primatas.
O verdadeiro significado da palavra humano é “animal
pertencente ao gênero Homo”. [...] Os humanos
surgiram na África Oriental há cerca de 2,5 milhões
de anos, a partir de um gênero anterior de primatas
chamado Autralopithecus.(p. 11-13).
Os humanos tem o cérebro extraordinariamente grande;
Isso se torna custoso para o corpo;
O cérebro equivale a 2 ou 3% do peso do corpo, mas consome 25% da
energia do corpo;
Os humanos arcaicos pagaram por seu cérebro grande: I. passaram
mais tempo em busca de comida; II. seus músculos atrofiaram;
Andamos eretos sobre duas pernas; braços liberados para outros
propósitos (realização de tarefas complexas e produção de
ferramentas sofisticadas);
Formação de laços sociais (educação e socialização);
400 mil anos: começaram a caçar animais grandes de maneira regular;
100 mil anos: topo da cadeia alimentar;
Domesticação do fogo: hábito de cozinhar;
Mapa 1. O Homo sapiens conquista o globo. (p. 22)
Há aproximadamente 45 mil anos, (Homo sapiens), conseguiram
2. A árvore do conhecimento atravessar o mar aberto e chegaram à Austrália – um continente até
então intocado por humanos. O período de 70 mil anos atrás a 30 mil
anos atrás testemunhou a invenção de barcos, lâmpadas a óleo,
arcos e flechas e agulhas (essenciais para costurar roupas quentes).
Os primeiros objetos que podem ser chamados de arte e joalheria
datam dessa era, assim como os primeiros indícios incontestáveis de
religião, comércio e estratificação social. [...] O surgimento de novas
formas de pensar e se comunicar, entre 70 mil anos e atrás e 30 mil
anos atrás, constitui a Revolução Cognitiva. [...] mutações genéticas
acidentais mudaram as conexões internas do cérebro dos sapiens,
possibilitando que pensassem de uma maneira sem precedentes e se
comunicassem usando um tipo de linguagem totalmente novo.
(p. 29,30)
Estatueta em marfim de um Homem-Leão da caverna
de Stadel, na Alemanha (c. 32 mil anos atrás).
A Revolução O que há de tão especial em
Cognitiva nossa linguagem?
A teoria mais aceita afirma que A resposta mais comum é que nossa linguagem é incrivelmente
mutações genéticas acidentais versátil;
mudaram as conexões internas do
cérebro dos sapiens, possibilitando Uma segunda teoria concorda que nossa linguagem singular evoluiu
que pensassem de uma maneira como um meio de partilhar informações sobre o mundo;
sem precedentes e se O Homo sapiens é um animal social (sobrevivência e reprodução);
comunicassem usando um tipo de
linguagem totalmente novo. [...] Característica única da nossa linguagem: transmitir informações
Essa não foi a primeira linguagem. sobre coisas que não existem (lendas, mitos, deuses e religiões) –
[...] Tampouco foi a primeira Ficção coletiva;
linguagem vocal.
(p. 30)
Os humanos têm instintos sociais que possibilitaram
aos nossos ancestrais construir amizades e
hierarquias e caçar ou lutar juntos;
Após a Revolução Cognitiva, a “fofoca” ajudou o Homo
sapiens a formar bandos maiores e mais estáveis;
O surgimento da ficção: um grande número de
estranhos pode cooperar de maneira eficaz se
acreditar nos mesmos mitos (construtos sociais ou
realidades imaginadas);
Ex.: a lenda do Leão da Peugeot (empresa de
responsabilidade limitada);
Desde a Revolução Cognitiva, os sapiens vivem em
uma realidade dual (objetiva e imaginada);
O comércio e as técnicas de caça (armadilhas
artificiais e abatedouros);
A capacidade de criar uma realidade imaginada com palavras possibilitou que um grande número de
estranhos coopere de maneira eficaz. Mas também fez algo mais. Uma vez que a cooperação humana
em grande escala é baseada em mitos, a maneira como as pessoas cooperam pode ser alterada
Superando o genoma
(História e Biologia) modificando-se os mitos – contando-se histórias diferentes. [...] Isso abriu uma via expressa na
evolução cultural, contornando os engarrafamentos da evolução genética. Acelerando por essa via
expressa, o Homo sapiens logo ultrapassou todas as outras espécies humanas em sua capacidade de
cooperar. [...] Em geral, mudanças significativas no comportamento social não pode ocorrer sem
mutações genéticas. [...] Até onde sabemos, as mudanças nos padrões sociais, a invenção de novas
tecnologias e a consolidação de novos hábitos decorreram mais de mutações genéticas e pressões
ambientais do que de iniciativas culturais.

A imensa diversidade de realidades imaginadas que os sapiens inventaram e a diversidade resultante


de padrões de comportamento são os principais componentes do que chamamos “culturas”. Desde
que apareceram, as culturas nunca cessaram de se transformar e se desenvolver, e essas
alterações irrefreáveis são o que denominamos “história”. A Revolução Cognitiva é, portanto, o ponto
em que a história declarou independência da biologia. (p. 41-46)
Nova habilidade Benefícios
revolução cognitiva?
O que aconteceu na
• Capacidade de transmitir • Planejamento e realização de
maiores quantidades de ações complexas, como evitar
informação sobre o mundo à leões e caçar bisões;
volta dos Homo sapiens;
• Capacidade de transmitir • Grupos maiores e mais
grandes quantidades sobre as coesos, chegando a 150
relações sociais dos sapiens; indivíduos;
• Capacidade de transmitir • a. Cooperação entre números
grandes quantidades de muito grandes de estranhos;
informações sobre coisas que b. Rápida inovação do
não existem de fato, tais comportamento social;
como espíritos tribais,
nações, cia de
responsabilidade limitada e
direitos humanos;
3. Um dia na vida de Adão e Eva Para entender nossa natureza, nossa história e
nossa psicologia, devemos entrar na cabeça de Idade da Pedra ou
nossos ancestrais caçadores-coletores;
O campo próspero da psicologia evolutiva afirma Idade da Madeira?
que muitas de nossas características psicológicas
Caçadores-coletores tinham pouquíssimos
e sociais do presente foram moldadas durante essa
artefatos, e estes exerciam um papel
longa era pré-agrícola;
comparativamente modesto em suas vidas.
Nossos hábitos alimentares, nossos conflitos e Eles se mudavam todos os meses, toda semana
nossas sexualidade são todos consequência do e, às vezes, todo dia. É razoável presumir,
modo como nossa mente de caçadores-coletores portanto, que a maior pare de sua vida mental,
interage com o meio ambiente pós-industrial de religiosa e emotiva fosse conduzida sem a
nossos dias – (o mundo que, subconscientemente, ajuda de artefatos. (p.52)
ainda habitamos). ex.: alimentos mais doces e mais
gordurosos; teoria do “gene guloso”;
Teoria da “comunidade antiga”;
Uma observação antropológica: uma maneira de remediar é observar as Embora as observações
sociedade caçadoras-coletoras modernas antropológicas dos caçadores-
coletores modernos possam nos
Todas as sociedades caçadoras-coletoras que sobreviveram até nossos
ajudar a entender algumas das
dias foram influenciadas por sociedades agrícolas e industriais possibilidades disponíveis para os
adjacentes; caçadores-coletores antigos, o
As sociedades caçadoras-coletoras modernas sobreviveram horizonte de possibilidades daquela
principalmente em áreas de condições climáticas difíceis e terreno época era muito mais amplo e, em
sua maior parte, é desconhecido por
inóspito, inadequado para a agricultura;
nós. Os debates acalorados sobre o
A característica mais notável das sociedades caçadoras-coletoras é o “estilo de vida natural” do Homo
quanto elas são diferentes umas das outras; sapiens perdem de vista a questão
principal. Desde a Revolução
Cognitiva, não existe um único estilo
É razoável pensar que a variedade étnica e cultural entre os antigos caçadores- de vida natural para os sapiens. Há
coletores fosse igualmente impressionante e que os 5-8 milhões destes que apenas escolhas culturais, dentro de
povoaram o mundo à véspera da Revolução Agrícola se dividissem em milhares de um conjunto assombroso de
tribos com milhares de idiomas e culturas diferentes. (p. 53-54) possibilidades. (p. 54)
A sociedade afluente original
Mundo pré-agrícola: a grande maioria das pessoas vivia em pequenos
bandos compostos de várias dezenas ou, no máximo, várias centenas
de indivíduos e que todos esses indivíduos eram humanos;
Obs.: a maioria dos membros de sociedades agrícolas e industriais são
animais domesticados;
Membros de um mesmo bando se conheciam intimamente e eram
cercados por amigos e parentes durante a vida inteira;
O comércio era basicamente limitado a itens de prestígio (conchas,
âmbar e pigmentos);
As relações sociopolíticas também tendiam a ser esporádicas;
Esqueleto de mulher de 50 anos ao lado do
A maioria dos bandos sapiens vivia se deslocando em busca de esqueleto de um filhote de cachorro. Túmulo
alimentos; de 12 mil anos encontrado no norte de Israel.
Os caçadores-coletores dominaram não só o mundo dos animais, plantas e objetos à sua volta como
também o mundo interno de seu próprio corpo e sensações. [...] em geral, eles pareciam desfrutar de um
estilo de vida mais confortável e compensador. [...] Em quase todos os lugares e em quase todas as
épocas, a atividade caçadora-coletora fornecia a nutrição ideal (dieta variada). [...] eram menos
propensos a sofrer na ausência de uma fonte específica de alimento. [...] também eram menos afetados
por doenças infecciosas. [...] Embora eles tivessem uma vida melhor do que a maioria das pessoas nas
sociedades agrícolas e industriais, seu mundo ainda podia ser cruel e implacável. Períodos de dificuldades
e privação não eram raros, a mortalidade infantil era alta e um acidente que hoje seria pouco significativo
podia facilmente se tornar uma sentença de morte. (p. 59-61)
O mundo do pensamento, da crença e do sentimento é, por definição,
muito mais difícil de decifrar;
O animismo (de “anima”, alma ou espírito, Lt.) é a crença de que
praticamente todo lugar, todo animal, toda planta e todo fenômeno
Espíritos falantes

natural tem consciência e sentimentos, e que pode se comunicar


diretamente com os humanos; acreditam que não existe barreira
entre os humanos e outros seres (fala, música, dança e cerimônias);
As entidades são seres locais;
Não existe uma hierarquia rígida entre os seres;
Não é uma religião específica;
O teísmo (de “theos”, deus, Gr.) é a visão de que a ordem universal
se baseia em uma relação hierárquica entre humanos e um pequeno
grupo de entidades etéreas chamadas deuses;
Qualquer tentativa de descrever as especificidades da
espiritualidade arcaica é mera especulação;
Paz ou Guerra?
O papel da guerra nas sociedades de caçadores-coletores: evidências intrigantes, mas muito problemáticas:
As descobertas arqueológicas são escassas e opacas;
Ossos humanos fossilizados são difíceis de interpretar;
Durante as guerras pré-industriais, mais de 90% das morte ocorriam por fome, frio e doença, e não por armas;

Assim como os caçadores-coletores apresentavam uma ampla gama de religiões e estruturas sociais, também
provavelmente apresentavam diferentes índices de violência. (p. 70).
A cortina de silêncio: se é difícil reconstruir o panorama geral da vida dos antigos caçadores-coletores, os eventos
particulares são quase irrecuperáveis;

Os bandos errantes de sapiens contadores de histórias foram a força mais importante e mais destrutiva que o reino
animal já produziu. (p. 72).
Antes da revolução cognitiva, humanos de todas as espécies viviam exclusivamente no
continente afro-asiático;
Curtas distâncias de água a nado ou em jangadas improvisadas;
A barreira marítima impediu não só os humanos como também muitos outros animais afro-
4. A inundação

asiáticos de chegarem a esse “Mundo Exterior”;


O planeta Terra era dividido em vários ecossistemas distintos (conjunto singular de animais e
de plantas);
Após a Revolução Cognitiva, os sapiens adquiriram a tecnologia, as habilidades organizacionais
e, talvez, até mesmo a visão necessária para sair do continente afro-asiático e povoar o
Mundo Exterior (colonização da Austrália, 45 mil anos);
Os sapiens colonizaram uma série de ilhas isoladas ao norte (Buka e Manus);
Evidências de um comércio marítimo regular entre as ilhas (Nova Irlanda e a Nova Bretanha);
Foi a primeira vez que um humano conseguiu deixar o sistema ecológico afro-asiático;
DECLARADOS CULPADOS
Alguns acadêmicos tentam exonerar nossa espécie, colocando a culpa nas excentricidades do clima;
Há três evidências da extinção da megafauna australiana:
o clima da Terra nunca para. Está em fluxo constante; nosso planeta passou por vários ciclos de resfriamento e
aquecimento. mais de 90% da megafauna australiana desapareceu;
quando a mudança climática causa extinções em massa, as criaturas marinhas normalmente são tão atingidas quanto as
terrestres;
extinções em massa similares a essa dizimação australiana arquetípica ocorreram repetidas vezes nos milênios
seguintes;
Obs.: o registro histórico faz o Homo sapiens parecer um assassino em série da ecologia;
Os animais grandes procriam devagar; não eram muito difíceis de se caçar; os gigantes australianos não tiveram
tempo de aprender a fugir;
quando os sapiens chegaram à Austrália, já tinham dominado a técnica da queimada;
O Homo sapiens foi a primeira e única espécie humana a chegar ao continente no hemisfério ocidental, há cerca de 16
mil anos [...] O ataque-relâmpago dos humanos à América atesta a engenhosidade incomparável e a adaptabilidade
insuperável do Homo sapiens. Nenhum outro animal migrou tão depressa para uma variedade tão grande de habitats
diferentes, usando, em toda parte, praticamente os mesmos genes. [...] Dois mil anos após a chegada dos sapiens, a
maioria dessas espécies singulares havia desaparecido. [...] Somos os culpados. Não há como escapar a essa verdade.
Mesmo que mudanças climáticas tenham nos ajudado, a contribuição humana foi decisiva.
A primeira onda de colonização dos sapiens foi um dos maiores e mais rápidos desastres ecológicos a acometer o
reino animal. [...] O Homo sapiens levou à extinção cerca de metade dos grandes animais do planeta muito antes de os
humanos inventarem a roda, a escrita ou ferramentas de ferro. [...] A Primeira Onda de Extinção, que acompanhou a
disseminação dos caçadores-coletores, foi seguida pela Segunda Onda de Extinção, que acompanhou a disseminação
dos agricultores e nos dá uma perspectiva importante sobre a Terceira Onda de Extinção, que a atividade industrial
está causando hoje.
Talvez se mais pessoas estivessem cientes da Primeira e da Segunda Onda de Extinção, seriam menos indiferentes à
Terceira Onda, da qual fazem parte. [...] De todas as grandes criaturas do mundo, os únicos sobreviventes da
inundação humana serão os próprios humanos e os animais domésticos que servem como escravos nas galés da Arca
de Noé. (p. 79-84)
Esse slide foi desenvolvido a partir das leituras feitas sobre a primeira parte do
livro.

HARARI, Yuval Noah. Sapiens: uma breve história da humanidade. Tradução


Janaína Marcoantonio. – 20ª ed. – Porto Alegre, RS: L&PM, 2017. 464 p.

ISBN 978-85-254-3218-6.

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