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Políticas Culturais, Legislação e

Projetos Culturais

Brasília-DF.
Elaboração

Milena Costa de Souza

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................... 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA............................................................... 6

INTRODUÇÃO............................................................................................................................. 8

UNIDADE I
POLÍTICAS CULTURAIS.................................................................................................................... 11

CAPÍTULO 1
POLÍTICAS CULTURAIS: ORIGENS E IMPORTÂNCIA............................................................... 11

CAPÍTULO 2
POLÍTICAS CULTURAIS E A ECONOMIA CRIATIVA................................................................. 36

CAPÍTULO 3
A ANTROPOLOGIA E A SOCIOLOGIA COMO DIMENSÕES DA CULTURA E DAS POLÍTICAS
CULTURAIS........................................................................................................................ 44

UNIDADE II
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL...................................................................................................... 60

CAPÍTULO 1
A HISTÓRIA DAS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA A CULTURA NO BRASIL...................................... 60

CAPÍTULO 2
ESTRATÉGIAS DE APOIO E DIFUSÃO DA CULTURA................................................................ 75

UNIDADE III
CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS............................................................... 81

CAPÍTULO 1
A BUSCA DE INCENTIVO NA INICIATIVA PRIVADA................................................................. 81

CAPÍTULO 2
POR DENTRO DOS EDITAIS PRIVADOS................................................................................ 88

UNIDADE IV
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL.................................................................................... 92

CAPÍTULO 1
MAS AFINAL, O QUE É UM PROJETO?................................................................................ 92
CAPÍTULO 2
COMEÇANDO UM PROJETO............................................................................................. 95

CAPÍTULO 3
ESTRUTURA BÁSICA DE UM PROJETO CULTURAL................................................................. 101

UNIDADE V
ALTERNATIVAS PARA O FINANCIAMENTO DO PROJETO: O PÚBLICO COMO INCENTIVADOR............. 132

CAPÍTULO 1
ALTERNATIVAS PARA FINANCIAMENTO DE PROJETOS......................................................... 132

CAPÍTULO 2
FINANCIAMENTO COLETIVO............................................................................................ 134

REFERÊNCIAS ......................................................................................................................... 139


Apresentação

Caro aluno,

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como
pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia
da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de


modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal
quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno de
Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
Esta disciplina traça um panorama sobre os debates ligados às políticas culturais
formais de uma perspectiva tanto histórica, quanto contemporânea. Nas duas
primeiras unidades nos concentraremos no entendimento histórico e conceitual
das políticas culturais e da legislação para a cultura. O objetivo dessas unidades é
fornecer ferramentas analíticas que possibilitem ao aluno construir uma visão crítica
sobre as políticas culturais e a legislação brasileira.

Na unidade III analisaremos os tipos de fomento para a cultura. Abordaremos


possibilidades de fomento do âmbito público e privado dando atenção para as
suas especificidades e como estão inseridos em políticas públicas específicas.
O objetivo é compreender e reconhecer os editais que melhor se encaixam em
cada tipo de projeto e quais são os caminhos para chegarmos nas informações
sobre os editais disponíveis.

Nas unidades IV e V mergulharemos na construção de um projeto cultural


abordando sua estrutura, etapas e todos os itens que precisam integrar um projeto
de sucesso. A ideia é que você termine essas unidades com um projeto formatado
e que vislumbre alternativas de levantamento de recursos para o seu projeto que
possam ir além dos tradicionais editais.

Esperamos que você adquira novos conhecimentos e ferramentas para que


suas ideias possam deixar o papel e se concretizarem no contexto da economia
criativa.

Objetivos
» Introduzir o leitor no universo das políticas culturais, legislação e
projetos culturais.

» Traçar um panorama histórico das políticas culturais e da legislação


para a cultura no Brasil.

» Fornecer ferramentas analíticas que possibilitem ao aluno construir


uma visão crítica sobre as políticas culturais e a legislação brasileira.

» Destacar e analisar a importância das políticas culturais para a


cultura.

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» Refletir sobre a presença das políticas culturais no nosso cotidiano.

» Conhecer as formas de incentivo a projetos culturais.

» Conhecer os elementos essenciais de um projeto cultural.

» Adquirir ferramentas e conhecimento que capacitem o leitor a


elaborar seus próprios projetos.

» Compreender e reconhecer os editais que melhor se encaixam em


cada tipo de projeto e os caminhos para chegarmos nas informações
sobre os editais disponíveis.

» Conhecer caminhos possíveis de viabilização de projetos culturais


para além de editais e chamadas públicas.

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10
POLÍTICAS CULTURAIS UNIDADE I

CAPÍTULO 1
Políticas culturais: origens e
importância

Como circulam os produtos culturais?

Como vivem os artistas e com quais recursos?

Como a cultura circula?

Quem é o público da cultura?

Políticas culturais: um assunto do nosso


cotidiano
As discussões sobre as políticas culturais fazem parte do nosso cotidiano e
manifestam-se em conversas corriqueiras. Seja por meio de debates políticos
em época de eleição, conversas nas redes sociais sobre a aplicação das verbas
públicas para a cultura ou pela reivindicação de grupos e artistas, falar sobre as
relações entre política e cultura é mais comum do que costumamos notar.

Ainda que seja uma questão central do nosso cotidiano é comum termos
dificuldade em conceituar o que são as políticas culturais e temos poucas
informações acessíveis sobre suas origens e possibilidades.

As próximas páginas têm como objetivo aproximá-lo das políticas culturais


através do conhecimento da sua história, das definições possíveis para este
conceito e das estratégias para a sua ampliação. Vamos explorar o campo das
políticas a partir de referenciais teóricos para que no decorrer dessa disciplina

11
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

aprendamos a reconhecer oportunidades na área da cultura bem como as etapas


da elaboração e envio de um projeto cultural.

É importante notar que as políticas culturais mudam constantemente e que


cada país, estado e munícipio tem diferentes leis, concepções e estratégias de
atuação para a área da cultura. Por isso, é importante que, além de acompanhar
essa unidade, que você tenha curiosidade em pesquisar e se aproximar dos
canais de difusão das políticas culturais vigentes. O campo da cultura é também
lugar do exercício da curiosidade.

Este é um campo em constante transformação e que exige do profissional


que atua na área uma atualização permanente de informações. Tanto no
campo da iniciativa pública, quanto da privada, as ações voltadas para a
cultura têm seu foco relacionado diretamente com as prioridades do tempo
em que vivemos.

Nesse ponto você já deve estar curioso em saber: mas o quê são as
políticas culturais? Abordaremos essa questão a seguir, mas antes tome
alguns minutinhos para refletir sobre a sua rotina como a cultura e suas
manifestações impactam no seu cotidiano.

Você já participou ou acompanhou alguma manifestação pela cultura


na sua cidade ou bairro? Que manifestação foi essa e quando foi a
última vez em que você esteve presente em um desses eventos?

As dificuldades em definir as políticas


culturais
Por se tratar de um campo de estudos recente, a conceituação dos termos
que envolvem a área das políticas culturais estão longe de ser um consenso.
Estamos entrando em um campo de produção de conhecimento que se nutre
de diversas áreas do saber passando pela sociologia, antropologia, economia,
história, dentre tantas outras. Por se tratar de um campo em plena formação, é
comum que as diferenças entre as disciplinas estejam diretamente relacionadas
às nossas dificuldades em tecer afirmações sobre as políticas culturais.

Além disso, as ações que compreendem as políticas culturais estão diretamente


relacionadas ao poder público. Com isso elas mudam de acordo com os grupos
políticos que estão no poder e o entendimento deles sobre as ações no campo

12
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

da cultura. Essa é uma dificuldade adicional que o campo nos apresenta e que
está diretamente relacionada à nossa dificuldade de conceituar esse universo.

É importante destacar que, quando falamos de grupos que estão no poder, nos
referimos às pessoas que ocupam cargos públicos e pensam as políticas para
a cultura no contexto nacional. São aquelas que, trabalhando em espaços de
decisão, darão a linha sobre como os governos compreendem a importância da
cultura na sociedade. Para que você tenha uma ideia, é a partir dessas instâncias
de decisão que são apontadas diretrizes e tomadas decisões para questões
como: a arte de rua e sua ocupação do espaço urbano, gestão e financiamento de
museus, desconto de ingressos para estudantes, reconhecimento e tombamento
de patrimônios históricos entre tantos outros.

Já as pessoas que ocupam cargos de decisão em espaços privados são


influenciadas por um cenário nacional mais amplo, pois devem seguir
regramentos maiores e trabalharão a partir dessas possibilidades. Isso não
quer dizer que os setores público e privado caminhem sempre na mesma
direção, mas que, o setor privado seja regulado pelas decisões do setor público.

Os profissionais do setor privado e os agentes do Estado têm entendimentos


particulares sobre as políticas para a cultura e, por isso, é sempre importante
levarmos em conta quem está ocupando os espaços de decisão para que possamos
compreender por onde caminham as decisões do nosso presente.

Por exemplo, nem sempre são profissionais do campo da arte e da cultura os


tomadores de decisão: administradores de empresa, profissionais do mercado
financeiro entre outros, também estão presentes na área da cultura. Em alguns
estados e municípios, a área da cultura é, por vezes, percebida como uma área
menor, seja pelo fato de ter poucos recursos financeiros a ela destinados, ou
pelos políticos daquele lugar não reconhecerem sua importância para o bem-estar
da população. Nesse segundo caso, cargos importantes podem ser destinados a
pessoas com baixa formação e sem qualquer relação como o campo das artes. Isso
dificulta o desenvolvimento da área da cultura e pode-se até mesmo concluir que
esses políticos não compreendem que a cultura precisa de políticas específicas. Ou
seja, nem mesmo a ideia de uma política cultural é reconhecida.

Profissionais com vivência e/ou proximidade com o campo das artes tendem a
compreender melhor o impacto das políticas culturais para a área e até mesmo
entender a necessidade de que é necessário desenvolver políticas para este
setor. São eles que têm suas vidas diretamente influenciadas pelas instâncias de
poder e podem ajudar a pensar com mais profundidade as necessidades da área.

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UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

Podemos concluir que a construção de políticas culturais influencia diretamente


a vida dos fazedores de cultura, pois regulamenta a atuação deles. A população
também é diretamente influenciada por essas decisões sobretudo no que tange ao
acesso às manifestações culturais. No início do texto apontamos que, desconto no
valor de ingresso para estudantes, uso de espaços públicos como ruas e praças, bem
como manifestações da arte urbana passam diretamente por decisões do poder
público.

É importante notar, portanto, que o conceito de política cultural é cambiante


e relativo ao contexto sociocultural no qual é empregado. Se, por enquanto,
estamos caminhando pelas dificuldades que englobam esse campo, na próxima
sessão nos aproximaremos de definições mais precisas.

O Itaú Cultural, espaço destinado ao fomento da cultura e situado na


cidade de São Paulo, produziu uma webserie sobre políticas culturais que
vai aproximá-lo ainda mais do assunto.

A série é dividida em seis episódios e foi produzida em 2016. Ela aborda


diversos assuntos que iremos estudar ao longo desta disciplina e ajudará
você a ter um panorama amplo sobre as políticas culturais.

Produzida mais especificamente pelo Observatório Itaú Cultural, ela


aborda diversos tópicos e analisa a importância do acompanhamento
das políticas públicas em um país.

Você pode começar a assistir agora e aos pouquinhos ir avançando de


acordo com os tópicos analisados. Se a sua curiosidade falar mais alto
e você quiser ter uma visão mais panorâmica do assunto, faça uma
maratona e fique por dentro dos principais assuntos. Confira:

Episódio 1 – Observatório e Formação.

www.youtube.com/watch?v=HPBAJl_7O0o.

Episódio 2 – Cultura, Cidades e Redes.

www.youtube.com/watch?v=-BK-RDHrQUA.

Episódio 3 – Cultura, Política e Economia.

www.youtube.com/watch?v=IAsCqR2umZU.

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POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Episódio 4 – Educação e Cultura.

www.youtube.com/watch?v=0hDkGHBu_bg.

Episódio 5 – Arte, Espetáculo e Público.

www.youtube.com/watch?v=6w5cRVUPttE.

Encontrando definições

Conforme discutimos anteriormente, o campo das políticas culturais tal como o


conhecemos e analisaremos nas próximas páginas é objeto recente de análise.
Entretanto, muitos pesquisadores argumentam que as políticas culturais têm uma
origem remota que acompanha o desenvolvimento da cultura ocidental.

O pesquisador Teixeira Coelho (1997) afirma que ações tão antigas como
apresentações públicas de teatro na Europa medieval, perpassavam por arranjos
que podem ser considerados precursores de tais políticas.

Afinal, para que uma peça fosse encenada nas praças, eram necessários pedidos
de autorização ao munícipio, contratação de atores, análise de público, entre
outros aspectos. Seguindo o argumento de Coelho (1997), podemos afirmar de
maneira mais ampla que, toda manifestação cultural envolve, em algum nível,
a política pública.

O campo de estudos das políticas culturais baseia-se em referencias e análises


de diversas áreas do saber tais como Economia, Ssociologia, Antropologia,
Arte-educação, Filosofia, Ddireito, História entre outras.

Esses campos de conhecimento fornecem dados, arcabouço teórico, prático


e legal para que pensemos e estruturemos as políticas culturais. Por isso
podemos compreender que, ao mesmo tempo em que é específico, o campo
das políticas culturais é também bastante interdisciplinar, pois alimenta-se
de conhecimentos de diversas áreas do saber. As reflexões sobre as políticas
culturais não teriam como ser diferente já que diversas instâncias da vida
social são acionadas quando pensamos em manifestações culturais. Reflita:
o direito regulamenta as relações de trabalho, os órgãos municipais regula
o uso do espaço, a economia debruça-se sobre a circulação de capital que
envolve essas atividades e os modos de vida de grupos sociais são celebrados.
Você consegue perceber como a cultura aciona diferentes esferas da vida e
áreas de conhecimento?

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UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

De maneira abrangente, as políticas culturais podem ser entendidas como


estratégias definidas pelo poder público, organizações não governamentais,
entidades privadas e agentes produtores de cultura com o objetivo de fomentar
ações e produções no campo da cultura.

Mas qual é a importância das políticas culturais? Como são definidas suas
estratégias e de que maneira são elaboradas? É isso que iremos analisar a
seguir.

Procure compreender como o seu país, estado e munícipio lidam com


as políticas culturais. Eles têm políticas específicas para a cultura?
Se sim, você saberia falar sobre alguma política cultural do lugar em
que você vive? Caso você não saiba responder às questões faça uma
pesquisa e aprenda.

Você sabia que a pesquisa sobre essas políticas pode ser feita de
maneira bastante simples e acessível? Veículos oficiais de difusão de
informação sobre o tema são algumas das principais referências ao seu
alcance. Páginas na internet de secretarias de cultura e demais órgãos
oficiais contêm decretos, leis, editais, relatórios técnicos, entre outras
informações centrais para o seu entendimento. Que tal começar a sua
pesquisa hoje e conhecer as políticas culturais da sua cidade, estado e
país?

Sites oficiais do Governo Federal, das Secretarias de Cultura dos estados


e instituições municipais são o primeiro contato que você terá com as
políticas culturais da atualidade. Navegue por esses espaços, adquira
novos conhecimentos e perceba como diferentes regiões do país têm
prioridades particulares que focam em entendimentos específicos das
políticas culturais.

Secretaria Especial da Cultura (antigo Ministério da Cultura).

www.cultura.gov.br.

Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo.

www.cultura.sp.gov.br.

Secretaria de Cultura do Paraná.

www.cultura.pr.gov.br

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POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Secretaria de Cultura de Pernambuco.

www.cultura.pe.gov.br/secultpe/.

Secretaria da Cultura da Bahia.

www.cultura.ba.gov.br.

Secretaria da Cultura e Economia Criativa do Estado do Rio de Janeiro.

www.cultura.rj.gov.br.

A importância das políticas culturais


O desenvolvimento de políticas públicas para a área da cultura tem sua
importância justificada por diferentes aspectos. Pontuamos alguns deles
para iniciarmos nossas reflexões:

Lazer e entretenimento

Um dos principais pontos que justificam a criação de políticas culturais está


relacionado ao lazer da população. Aqui estamos falando da questão do acesso a
atividades durante o tempo livre, geralmente usufruído depois do expediente de
trabalho.

As pesquisas e discussões que refletem sobre a relação entre trabalho, lazer


e cultura intensificaram-se durante a Revolução Industrial quando as longas
jornadas de trabalho e a vida urbana trouxeram novos desafios (WERNECK,
2000). O tempo livre dos trabalhadores, em parte dedicado às relações de
consumo, passou a ser pensado também enquanto possibilidade de vivência
de novas experiências. O acesso a atividades para além daquelas realizadas no
ambiente de trabalho passou a ser compreendido como crucial para o bem-estar
de uma população.

Com isso, autores como Bertrand Russel, Georges Friedmann e David Riesma
publicaram estudos que questionam a centralidade do trabalho na vida social
e destacaram a importância do ócio e de atividades relacionadas ao lazer e à
cultura.

Ao longo do tempo essas questões penetraram a esfera da Administração


Pública e as cidades passaram a se preocupar em desenvolver atividades e
fomentar espaços para essas atividades.
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UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

Acesso ao conhecimento e o fortalecimento da


educação

O acesso à cultura, à produção e à circulação de produtos culturais também


deve ser entendido mais amplamente enquanto acesso ao conhecimento.
Música, arte, livros e peças de teatro abrem um novo universo. Aqueles
que entram em contato com seus conteúdos participam e criam espaços de
discussão e reflexão.

Relacionado diretamente ao aspecto de produção de conhecimento, as


políticas públicas estão ligadas às políticas para a educação. A compreensão
das manifestações e produções culturais como parte da educação e do processo
de aprendizagem de crianças, jovens e adultos, projeta diversas políticas
públicas para a cultura.

Acesso às fontes da cultura brasileira

A partir do desenvolvimento de políticas culturais entramos em contato


com diferentes esferas da cultura brasileira. Festas populares, exposições,
publicações entre outros formatos nos colocam em diálogo com o amálgama
de povos e costumes que fazem parte do Brasil.

O acesso às fontes da cultura nacional e o exercício dos direitos culturais


são garantidos pela Constituição Brasileira no artigo 215. O artigo destaca a
necessidade do Estado proteger as manifestações culturais do nosso país,
incluindo a proteção às diferentes etnias e a democratização do acesso aos bens
culturais.

Art. 215. O Estado garantirá a todos o pleno exercício dos direitos


culturais e acesso às fontes da cultura nacional, e apoiará e
incentivará a valorização e a difusão das manifestações culturais.

§ 1o O Estado protegerá as manifestações das culturas populares,


indígenas e afro-brasileiras, e das de outros grupos participantes do
processo civilizatório nacional.

§ 2 o A lei disporá sobre a fixação de datas comemorativas de


alta significação para os diferentes segmentos étnicos nacionais.

§ 3o A lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura, de duração


plurianual, visando ao desenvolvimento cultural do País e à
integração das ações do poder público que conduzem à:

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POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

I. defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro;

II. produção, promoção e difusão de bens culturais;

III. formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas


múltiplas dimensões;

IV. democratização do acesso aos bens de cultura;

V. valorização da diversidade étnica e regional.


Fonte: www.senado.leg.br/atividade/const/con1988/con1988_06.06.2017/art_215_.asp.

Ao lermos o artigo 215 da Constituição podemos perceber que diversos aspectos


dele estão presentes na base das leis de incentivo à cultura. Abordaremos as leis
de incentivo mais adiante em nossos estudos, mas, nesse momento, atenha-se
a analisar os diferentes elementos que sustentam a nossa Constituição e reflita
sobre possíveis ações que possam ser desenvolvidas para proteger esses preceitos.

Preservação do patrimônio

As políticas públicas para a cultura também estão relacionadas ao patrimônio


cultural e à preservação de patrimônio histórico e arquitetônico. Está no campo
das políticas culturais, por exemplo, a manutenção de edifícios e centros históricos,
murais públicos e marcos históricos em geral. No Brasil, o órgão que gere essas
questões é o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O Iphan foi criado em 1936, ano em que era conhecido como Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (SPHAN). Seu objetivo era construir um “[...] processo/
projeto de preservação do patrimônio histórico e, consequentemente a criação de
um determinado conceito sobre o mesmo, baseava-se na possibilidade do contar da
história através do construído” (OLIVEIRA, 2019, p. 22).

O projeto do Iphan foi baseado em um anteprojeto do Modernista Mário de


Andrade, qur havia criado o Serviço do Patrimônio Artístico e Nacional (SPAN).
Segundo o pesquisador Almir Félix Batista de Oliveira, “Mário de Andrade,
sendo um modernista, buscava, através deste projeto, além de encontrar
as origens da brasilidade, achava possível e acreditava nisso, abrasileirar os
brasileiros” (2019, p. 23). Focava-se, segundo Oliveira, na “construção de uma
história nacional através dos monumentos históricos onde se privilegiava a
unidade nacional” (2019, p. 24).

Sob o governo de Getúlio Vargas, esse projeto inicial, focava na unidade


em detrimento das especificidades regionais. Vargas também estava preso
19
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

a símbolos de poder e a uma história oficial do país. Essa perspectiva ia na


contramão da proposta inicial de Mário de Andrade, que havia percorrido o
interior do Brasil, com destaque para Minas Gerais, e desejava proteger todo
esse patrimônio até então esquecido. Durante muitos anos, o Sphan sobreviveu
com poucos recursos financeiros e lutando para que sua importância fosse
amplamente reconhecida.

Foi apenas nos anos 1970 que as cidades históricas nacionais foram de fato
reconhecidas. O Programa Integrado de Reconstrução das cidades Históricas
(PCH) atuou inicialmente no Nordeste e, em um segundo momento, se expandiu
para Minas Gerias, Rio de Janeiro e Espírito Santo (OLIVEIRA, 2019, p. 27).

Nas décadas seguintes o Iphan se modernizou e ampliou sua perspectiva


de atuação. Atualmente, os patrimônios a serem preservados levam em
consideração diferentes segmentos da sociedade e descentralizam uma
perspectiva histórica oficial.

Na atualidade, o órgão é o principal braço do Governo Federal para a


preservação do patrimônio nacional e tem sede em diferentes cidades do
território nacional. É importante destacar também que a própria concepção
de patrimônio ampliou-se para além da materialidade física e contempla hoje
a ideia de patrimônio imaterial. Com isso, culturas que ocupam o território
nacional e que não têm suas práticas centradas em grandes e imponentes
construções e obras ganham espaço.

Gestão de coleções e acervos

A gestão de coleções e acervos está diretamente relacionada à preservação do


patrimônio, tal como comentamos nas linhas anteriores. Artistas e pensadores
produzem uma série de materiais e documentação ao longo de suas vidas. Após a
morte deles, esse acervo torna-se uma questão a ser pensada do ponto de vista de
sua gestão e preservação.

É comum que as próprias famílias dessas personalidades façam a administração desses


materiais de maneira informal, ou ainda por meio de fundações e institutos criados
especialmente para este fim. Entretanto, é comum que essas pessoas não tenham
condições para tal e que os materiais fiquem armazenados de maneira inadequada. Em
ambas as situações, as políticas públicas desempenham um papel central. No primeiro
caso, as leis que versam sobre a pessoa jurídica de institutos e fundações determinarão

20
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

a viabilidade deles. No segundo caso, é importante que o Estado tenha capacidade de


reconhecer a relevância histórica desses materiais e tenha interesse em preservá-los.

Assim, quando um importante artista, escritor ou pesquisador falece, o legado


material que produziu, quando de interesse dos órgãos competentes, segue sendo
preservado por meio da criação de centros de estudo, museus, espaços culturais,
dentre outros formatos. Esses materiais também podem ser incorporados por
instituições já existentes, como, por exemplo, um setor especial dentro de uma
biblioteca pública destinado a uma escritora renomada.

A Fundação Casa de Rui Barbosa, situada no Rio de Janeiro, é exemplo de


um espaço fomentado por recursos públicos e doações de pessoas físicas e
jurídicas sobretudo via leis de incentivo fiscal. O espaço é dedicado a preservar
a memória e a obra de Rui Barbosa, o espaço é constituído pelas seguintes
áreas especializadas: museu, arquivo, biblioteca e arquivo-museu de literatura
brasileira.

O espaço também abriga 130 acervos de escritores brasileiros e uma série de


documentos. Acervos de Antonio Sales, Augusto Meyer, Carlos Drummond
de Andrade, Clarice Lispector, Lúcio Cardoso, Manuel Bandeira, Pedro Nava,
Thiers Martins Moreira e Vinícius de Morais. Entre no site da fundação e
conheça melhor a proposta e as atividades do espaço:

www.casaruibarbosa.gov.br.

O Museu Casa Alfredo Andersen, situado na cidade de Curitiba, é dedicado a


preservar a memória desse famoso pintor que migrou da Noruega para o Brasil
no século XIX. A programação do espaço é dedicada à mostra permanente
de parte do acervo do pintor, mas também abriga exposições temporárias de
artistas contemporâneos. Além disso, diversos cursos são ministrados no local
e direcionados para a comunidade. A gestão do espaço é de responsabilidade
do poder público estadual, e é vinculada à Coordenação do Sistema Estadual
de Museus (COSEM) da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (SEEC-PR).
Conheça o museu em:

www.mcaa.pr.gov.br.

Patrimônio imaterial

É comum que nossa ideia de patrimônio foque em bens materiais, mas o


patrimônio cultural vai muito além de coisas físicas. Um outro tipo de
patrimônio cultural, já mencionado ao longo do texto, e que precisa ser
21
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

protegido pelas políticas públicas, é o chamado patrimônio imaterial. Mas,


como definir e reconhecer patrimônios que não são físicos?

De fato, a complexidade de lidarmos como patrimônio imaterial reside já em


seu nome. Por se tratar de algo que, por vezes, olhos não vêm e que, em alguns
momentos, não podemos tocar, é frequente o esquecimento da população e dos
órgãos competentes em relação a esse patrimônio.

Mas o que é o patrimônio imaterial? Segundo o site do Iphan, no Brasil,


patrimônio imaterial é entendido como:

Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas


práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes,
ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas,
plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados,
feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas). A
Constituição Federal de 1988, em seus artigos 215 e 216, ampliou
a noção de patrimônio cultural ao reconhecer a existência de bens
culturais de natureza material e imaterial (portal.iphan.gov.br/).

De fato, em termos mundiais, o patrimônio imaterial começou a ser pensado


de maneira central a partir da II Guerra Mundial quando organismos
internacionais, sobretudo a Unesco, passaram a refletir sobre a importância
de defender o patrimônio mundial que, com os conflitos bélicos, estavam
perdendo-se em certa medida. Naquela época, os países foram instruídos a
criar diretrizes para resguardar seus bens culturais mais preciosos. Mas, foi
ao longo dos anos que o patrimônio imaterial ganhou destaque:

Até então não se pensava especificamente no patrimônio


imaterial, que passou a ser considerado a partir da Convenção
de Estocolmo (1972), da Declaração de Amsterdã (1975), da
Carta de Machu Picchu (1977), da Declaração de Tlaxcala
(1982) e da Declaração do México (1985) (LEITE; CAPONERO,
2010, p.72).

Na América Latina, as discussões sobre patrimônio imaterial ganharam


destaque nas últimas décadas e buscam refletir sobre a diversidade cultural
dos países da região com a preocupação especial de proteger culturas que
não estão calcadas na produção de bens físicos e que fundamentam modos
de viver.

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POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Como é possível observar, patrimônio imaterial está relacionado a aspectos


bastante amplos da vida das pessoas e ligado a uma concepção ampla de cultura
que envolve os nossos modos de fazer e existir em sociedade. Ele percorre
nossas tradições orais, os modos de manipular e preparar alimentos, as festas e
celebrações que unem as pessoas.

As tradicionais feiras livres da sua cidade e as celebrações da sua comunidade


são exemplos de patrimônio imaterial. No caso das celebrações, existe uma
série de saberes transmitidos de geração em geração que mantêm a forma
desses eventos, versam sobre as vestimentas usadas, os cânticos entoados, as
cores entre outros fatores que nos permitem reconhecer aquela manifestação
enquanto tal.

Em Minas Gerais, a tradição de fazer queijo artesanal é considerada um


patrimônio imaterial. A partir de tradições vindas de Portugal e o encontro
das condições climáticas locais, diversas técnicas foram desenvolvidas para
produzir alguns dos queijos mais famosos do nosso país. Na atualidade o Iphan
reconhece o queijo mineiro e seu modo de fazer como um patrimônio imaterial.

No documentário “O Mineiro e o Queijo”, dirigido por Helvécio Ratton, uma


série de produtores artesanais de Minas Gerais foram entrevistados e mostra-
se como o fazer do queijo foi passado de geração em geração e preservado pelas
experiências das pessoas. Você pode assistir um trecho do filme no link: www.
youtube.com/watch?v=lESZqqDkYYc.

As festas regionais que se espalham por todo o Brasil também podem ser
consideradas patrimônio imaterial.

Destaca-se que cada cultura gera seu próprio sistema de valores,


determinando seu patrimônio cultural, através do qual o
povo reconhece-se a si mesmo em sua identidade cultural, em
sua memória coletiva formada pela sua história e nos traços
sociais manifestados na vida cotidiana. Nesse contexto inserem-
se as festas populares como formas particulares de um povo
demonstrar sua fé, sua alegria e confraternização no espaço
público, pois, enquanto práticas culturais, caracterizam uma
sociedade, realçando o sentimento de identidade comum aos
membros de um grupo (LEITE; CAPONERO, 2010, p.72).

A lista de festas populares brasileiras é longa e perpassa manifestações que se


espalham por diversas áreas do território nacional como o Carnaval e as festas

23
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

juninas. É evidente que estados como o Rio de Janeiro e a Bahia destacam-se


por suas manifestações carnavalescas e o Nordeste pelas celebrações juninas. M
mas, cada parte do nosso país tem seus modos de celebrar essas datas, o que cria
diálogos culturais entre as diferentes regiões do Brasil.

Festas como o Boi Bumbá em Parintins têm um caráter mais regional, envolvem
a comunidade e atraem turismo. Já festas de caráter religioso, como o Círio de
Nazaré (Belém do Pará), misturam o universo da crença com outros aspectos da
cultura e, na contemporaneidade, ganham o aspecto de um grande espetáculo.

Como você pode perceber, os exemplos de patrimônio imaterial são diversos e


o reconhecimento dessas manifestações é central para que possamos zelar por
nossas culturas e preservá-las para que as próximas gerações possam conhecer
e aprender com essas manifestações.

Vamos pensar sobre as políticas culturais da região onde você vive?


Responda as perguntas abaixo:

» Você é capaz de identificar manifestações locais que podem ser


entendidas como patrimônio imaterial? Quais são elas?

» A sua comunidade, bairro ou cidade participa de festividades e


ações que podem ser enquadradas no que acabamos de estudar
como patrimônio imaterial?

» De que maneira moradores da sua cidade e da sua comunidade


podem contribuir para a preservação do patrimônio imaterial local?

» De que maneira o Estado poderia ser mais atuante para que essas
manifestações sejam preservadas? Você seria capaz de sugerir
algumas diretrizes nesse sentido?

A proteção da diversidade das expressões


culturais

A proteção da diversidade das expressões culturais é pauta internacional e


de interesse global. A preservação da riqueza cultural da humanidade é vista
como central, pois está relacionada a diversos aspectos da vida, bem como
aos direitos humanos já que as culturas estão relacionadas às identidades e
subjetividades de comunidades e indivíduos.

24
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

É importante destacar que a proteção da diversidade das expressões culturais


está relacionada a diversos aspectos da vida social. Em tempos que muito se
discute sobre a preservação do meio ambiente podemos refletir sobre como
a preservação da riqueza cultural mundial relaciona-se diretamente com a
sustentabilidade.

Diversas práticas culturais nos permitem repensar os modos convencionais de


produção industrial que muitas vezes são nocivos ao meio ambiente. Modos
de produção artesanal como, por exemplo, a produção de tecido pelos povos
Andinos, os quais criam os animais, retiram seus pelos, colorem e produzem os
fios para, em seguida, tear manualmente, causam baixíssimo impacto ao meio
ambiente.

Devido à abrangência da importância das expressões culturais, a pauta é


debatida em encontros entre representantes de diversos estados que buscam
encontrar caminhos e iniciativas comuns. Nesse sentido surgiram ações
de proteção promovidas pela Unesco. A seguir compartilhamos um trecho
da Convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das expressões
culturais organizada pela Unesco. O texto foi ratificado pelo Brasil em 2006 –
ou seja, nosso país é oficialmente um dos apoiadores dessas diretrizes – e, além
de apresentar os valores compartilhados pelas nações signatárias, oferece uma
lista de objetivos que devem ser almejados a fim de promover a diversidade das
expressões culturais. Acompanhe:

Afirmando que a diversidade cultural é uma característica essencial


da humanidade,

Ciente de que a diversidade cultural constitui patrimônio comum


da humanidade, a ser valorizado e cultivado em benefício de todos,

Sabendo que a diversidade cultural cria um mundo rico e variado


que aumenta a gama de possibilidades e nutre as capacidades e
valores humanos, constituindo, assim, um dos principais motores
do desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e nações,

Recordando que a diversidade cultural, ao florescer em um


ambiente de democracia, tolerância, justiça social e mútuo respeito
entre povos e culturas, é indispensável para a paz e a segurança no
plano local, nacional e internacional,

Celebrando a importância da diversidade cultural para a plena


realização dos direitos humanos e das liberdades fundamentais

25
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

proclamadas na Declaração Universal dos Direitos do Homem e


outros instrumentos universalmente reconhecidos,

Destacando a necessidade de incorporar a cultura como


elemento estratégico das políticas de desenvolvimento nacionais
e internacionais, bem como da cooperação internacional para o
desenvolvimento, e tendo igualmente em conta a Declaração do
Milênio das Nações Unidas (2000) com sua ênfase na erradicação
da pobreza (UNESCO, 2006).

Os objetivos da convenção são:

» proteger e promover a diversidade das expressões culturais;

» criar condições para que as culturas floresçam e interajam livremente


em benefício mútuo;

» encorajar o diálogo entre culturas a fim de assegurar intercâmbios


culturais mais amplos e equilibrados no mundo em favor do respeito
intercultural e de uma cultura da paz;

» fomentar a interculturalidade de forma a desenvolver a interação


cultural, no espírito de construir pontes entre os povos;

» promover o respeito pela diversidade das expressões culturais e a


conscientização de seu valor nos planos local, nacional e internacional;

» reafirmar a importância do vínculo entre cultura e desenvolvimento


para todos os países, especialmente para países em desenvolvimento,
e encorajar as ações empreendidas no plano nacional e internacional
para que se reconheça o autêntico valor desse vínculo;

» reconhecer natureza específica das atividades, bens e serviços


culturais enquanto portadores de identidades, valores e significados;

» reafirmar o direito soberano dos Estados de conservar, adotar e


implementar as políticas e medidas que considerem apropriadas
para a proteção e promoção da diversidade das expressões culturais
em seu território;

» fortalecer a cooperação e a solidariedade internacionais em um


espírito de parceria visando, especialmente, o aprimoramento das
capacidades dos países em desenvolvimento de protegerem e de
promoverem a diversidade das expressões culturais (UNESCO,
2006).

26
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Perceba como a Unesco e, por concordância, os países signatários do texto,


afirma que a promoção da diversidade cultural pode ser entendida como um
processo cíclico e interconectado. Convém destacar que a Convenção visa
fomentar as trocas culturais e insere em seus objetivos a necessidade de
ampliação dos diálogos e fomento de intercâmbios culturais. A troca entre as
culturas é percebida como uma oportunidade de aprendizado tanto de novas
estratégias e modos de fazer, quanto de tolerância e exercício do bem coletivo.

É importante destacar também como a convenção enfatiza a responsabilidade e


a capacidade dos Estados em promover as culturas e por elas zelar. Esse ponto
reforça a importância das políticas públicas para a área da cultura, bem como o
papel que o Estado desempenha na promoção da tolerância, do reconhecimento
das diferenças e da proteção plural dos indivíduos independentemente de suas
posições sociais.

O Brasil é signatário da Convenção sobre a proteção e promoção da


diversidade das expressões culturais. Como você percebe as práticas das
nossas políticas para a cultura em relação ao texto que acabamos de ler?
Você acredita que o país realmente protege as expressões culturais? Em
que medida isso ocorre?

Pesquise políticas públicas brasileiras voltadas para a promoção da


diversidade das expressões culturais. Você pode procurar por programas,
prêmios, editais, entre outros mecanismos. Não restrinja a sua pesquisa
às iniciativas do presente. Procure entender como essa questão foi
lidada em outros momentos da nossa história recente. Trabalhe como
um analista e pontue avanços, recuos e questões ainda não resolvidas
nessa área.

Após suas reflexões e pesquisas em âmbito nacional, procure conhecer


iniciativas internacionais bem-sucedidas no sentido de promover os
preceitos da Convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das
expressões culturais organizada pela Unesco. Estude essas ações e sugira
adaptações dela para o contexto nacional.

Avançando na proteção das culturas

Mas, até aqui você deve estar pensando: De que maneira essas convenções
internacionais são monitoradas? Elas produzem resultados concretos? Não
existe uma resposta fácil para essas questões, pois, ainda que o compromisso
seja firmado pelas nações envolvidas, diversas barreiras dificultam o
cumprimento das propostas.
27
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

Um dos principais desafios está relacionado às mudanças de governo. Não há


nenhuma garantia de que o governo seguinte àquele que assinou a convenção,
seguirá as diretrizes acordadas. Outra dificuldade está em definir quem são os
órgãos fiscalizadores dos acordos em cada país.

Procurando responder a essas questões e encontrar caminhos para superar


as dificuldades, em 2018, a Unesco lançou um relatório chamado Re|Pensar
as políticas culturais. Criatividade para o desenvolvimento. O texto parte
da análise de dados e de pesquisa em campo e tem como objetivo analisar
os avanços da Convenção sobre a proteção e promoção da diversidade das
expressões culturais bem como traçar novas estratégias de atuação conjunta
entre países. Ele afirma:

A Organização proporciona aos Estados o apoio necessário para


que exerçam o seu direito soberano de implementar políticas
públicas para o desenvolvimento de setores de indústrias
culturais e criativas que sejam fortes e dinâmicos. A UNESCO
está comprometida com o desenvolvimento de políticas públicas
mais efetivas e sustentáveis nessas áreas (UNESCO, 2018, p.1).

Conforme podemos observar, a Unesco caminha no sentido de estabelecer a


cooperação entre governos e organizações não governamentais. De acordo com o
relatório, quatro áreas devem ter uma atenção especial para que os avanços sigam.
São elas:

1. fortalecimento da governança para a cultura;

2. melhoria das condições de mobilidade dos artistas;

3. integração da cultura nas estratégias de desenvolvimento sustentável;

4. promoção dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.

Esses quatro pontos destacados pelo relatório têm como objetivo melhorar as
condições de artistas e profissionais da área da criatividade ao redor do globo
e, assim como a Convenção analisada, percebe a valorização da cultura como
parte de uma cadeia mais ampla relacionada aos mais diferentes aspectos da
vida cotidiana e às redes de sustentabilidade.

Em relação ao item 1, Fortalecimento da governança para a cultura, um


dos pontos destacados pelo relatório é sobre a necessidade de que sejam
criadas lideranças fortes, com poder e capacidade de atuação e que estejam

28
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

comprometidas com projetos de médio ou longo prazo. Ao mesmo tempo,


o relatório destaca como é importante que essas lideranças surjam a partir
das próprias comunidades e que sejam compostas por pessoas que de fato
compreendem as necessidades locais. É fundamental que as políticas públicas
não sejam definidas de baixo para cima, mas por meio de um diálogo que
tende a ser mais frutífero quando mediado por pessoas que conhecem o campo
através de suas próprias experiências.

Além disso, o relatório destaca a relevância das mídias para a ampliação


do conhecimento e da informação. Ao redor do mundo a televisão e o rádio
continuam sendo os principais meios de comunicação das populações. Rádio
e televisão chegam a lugares remotos e em comunidades carentes que não têm
acesso frequente a computadores e à internet. Com isso, o relatório destaca
que a qualidade de suas programações é fundamental para garantir o acesso
da população às produções culturais:

As políticas de apoio a uma diversidade de conteúdos de mídia


de alta qualidade continuam sendo altamente relevantes para os
objetivos da Convenção, considerando que a televisão e o rádio
continuam sendo as principais formas de atividade cultural para
a maioria das pessoas em todo o mundo (UNESCO, 2018, p.13).

É muito importante a ênfase dada ao segundo ponto que destacamos no início


deste texto: Melhoria das condições de mobilidade dos artistas. Essa é uma
questão complexa que envolve tanto questões financeiras quanto burocráticas.
Diversos países que, na contemporaneidade, são conhecidos como centros de
produção artística e, por isso, detêm grande parte das oportunidades da área
como Estados Unidos, Inglaterra e a União Europeia, impõem restrições rígidas
à circulação das pessoas de outras nações.

O custo de documentos como passaportes e vistos colocam a circulação global


de artistas e fazedores de cultura como uma possibilidade ainda mais distante
para os artistas. A barreira financeira imposta pelos custos da documentação,
além de gastos com deslocamento, deve ser levada em conta.

Ao mesmo tempo, a própria possibilidade de conseguir um visto não está


no horizonte imediato de diversos profissionais. Profissionais residentes em
países que enfrentam crises humanitárias ou com alto número de migrantes,
podem não atender os pré-requisitos extremamente rígidos impostos
a eles. Esses são alguns pontos que dificultam a circulação de artistas,

29
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

sobretudo o trânsito de artistas do sul global para países considerados como


economicamente desenvolvidos. Como bem aponta o relatório:

Embora o Norte global ainda ofereça os principais destinos


de mercado para artistas e praticantes da cultura do Sul
global, o acesso a esses destinos está se tornando cada vez
mais difícil na atual conjuntura da segurança. As normas
para obtenção de vistos continuam a prejudicar os esforços
das instituições culturais e da sociedade civil para enfrentar
as persistentes desigualdades na mobilidade entre o Norte
global e o Sul global. As restrições à liberdade de movimento
e à mobilidade dos artistas são utilizadas como ferramentas
de repressão e censura. O número de oportunidades de
mobilidade proporcionadas por meio do acesso ao mercado
e da colaboração cultural transnacional aumentou, com
um renovado interesse pela mobilidade Sul-Sul. Apesar da
inadequação das estruturas institucionais e de financiamento,
surgiram novas redes regionais, plataformas de intercâmbio
e centros criativos no Sul global, graças a um setor de artes
independente, vibrante e resiliente (UNESCO, 2018, p.4).

Em relação ao item 3: Integração da cultura nas estratégias de desenvolvimento


sustentável, o relatório destaca que: “De modo geral, o impacto ambiental
da produção cultural e da prática artística na sociedade ainda não foi
suficientemente levado em conta” (UNESCO, 2018, p. 29). O relatório também
afirma que “Cidades no mundo todo estão explorando formas inovadoras de
promover o desenvolvimento sustentável por meio de indústrias culturais e
criativas” (UNESCO, 2018, p.29).

Note que nos dois trechos citados, existe uma percepção geral de que a
criatividade e as iniciativas no âmbito da cultura podem contribuir para soluções
que afligem o mundo global, mas que por conta da ausência de estudos focados
na questão, ainda não sabemos como esses pontos de fato se relacionam. Ainda
assim, as indústrias ligadas à cultura e à criatividade são reconhecidas como
criadoras de soluções para o desenvolvimento sustentável, uma das principais
pautas da contemporaneidade.

Por fim chegamos ao item 4 Promoção dos direitos humanos e das liberdades
fundamentais. O relatório da Unesco destaca em seu texto sobretudo a questão
da igualdade de gênero relacionada ao ambiente de trabalho que envolve as
indústrias criativas. Colocada como o maior desafio na área da promoção
30
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

da cultura, a promoção de relações de gênero mais igualitárias constitui um


objetivo ainda a ser alcançado.

O relatório entende como relações de gênero mais igualitárias, um maior


equilíbrio entre homens e mulheres no campo da cultura. Isso desde um ponto
de vista do percentual ocupado por estes sujeitos nos espaços de trabalho,
como também a necessidade de mais mulheres ocuparem cargos de decisão nas
instituições e empresas ligadas ao campo da cultura. Ainda é comum que as
mulheres sejam excluídas dos espaços de decisão de maneira que, quanto mais
elevados os cargos, menor o número de mulheres.

De qualquer maneira, avanços no âmbito da conscientização do problema


podem ser lidos como um sucesso parcial (UNESCO, 2018, p. 31). Se as práticas
ainda não se transformaram, estamos vivendo um momento em que o debate
domina a esfera pública. Ainda assim, na prática, as coisas têm mudado pouco:

Ainda existe uma desigualdade de gênero multifacetada em quase


todos os campos culturais de grande parte do mundo. As mulheres
não apenas sofrem com a sub-representação no ambiente de
trabalho, particularmente nos principais papéis criativos e cargos
de tomada de decisão, mas também têm menos acesso a recursos
e enfrentam grandes diferenças salariais (UNESCO, 2018, p. 33).

Conforme você pode observar, a promoção da cultura é percebida como de


importância global e como pauta central para os avanços das nações. Em um
mundo de mercados globalizados, no qual o encontro entre as culturas nos
coloca desafios, as trocas mediadas por agentes fazedores de cultura são capazes
de construir pontes de diálogo.

A luta das mulheres no campo da arte e da cultura vem de longa data. A


partir dos anos 1960 diversos grupos de mulheres começaram a se organizar,
sobretudo nos países ocidentais, com o objetivo de questionar e conquistar
relações de trabalho mais justas.

No campo das artes visuais, temos o exemplo do coletivo Guerrilla Girls,


formado nos Estados Unidos nos anos 1980. O grupo não revela a sua
verdadeira identidade e as artistas-ativistas usam máscaras de macaco para
não serem reconhecidas em público.

Desde os anos 1980 até a atualidade, as Guerrilla Girls desenvolvem ações


questionadoras das relações de gênero no mundo das artes. Grande

31
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

parte do material por elas produzido são imagéticos e têm o formato


de pôsteres e outdoors. Nesses suportes elas trazem dados estatísticos e
perguntas que fazem com que o expectador se questione sobre o baixo
número de artistas mulheres nas coleções de museus renomados ou o
alto número de corpos femininos nus que ocupam as paredes dessas
instituições.

Para conhecer mais sobre as Guerrillla Girls acesse:

www.guerrillagirls.com.

Cultura e educação

Vamos pensar mais a fundo a relação entre a cultura e a educação? Vivemos em


sociedades multiculturais e compartilhamos de relações sociais complexas que
articulam diferentes experiências e concepções de mundo. A convivência em
sociedades que abrigam diferentes culturas nos traz uma série de desafios bem
como a necessidade constante de sermos capazes de lidar com as diferenças.

Mas o que é multiculturalismo? Você já deve ter ouvido falar desse conceito, ainda
que não saiba exatamente o seu significado. Um dos principais teóricos a abordar
o conceito de multiculturalismo chama-se Stuart Hall (1932-2014). O curioso é
que a própria história de vida do autor exemplifica a experiência multicultural
das sociedades contemporâneas. Por isso vamos acompanhar alguns momentos
de sua trajetória antes de abordarmos o conceito mais diretamente.

Hall nasceu na Jamaica em 1932 em uma família de classe média. Estudou em


uma escola inglesa naquele mesmo país e realizou seus estudos superiores na
Inglaterra. Ao chegar à Europa ele se deparou com uma situação de deslocamento
cultural e passou a lutar junto aos menos favorecidos e vivenciar experiências
com grupos de imigrantes.

Enquanto homem negro em um país majoritariamente branco, ele refletiu sobre as


relações raciais e mais tarde incorporou esses questionamentos em sua pesquisa
acadêmica. Em seu país de origem, a Jamaica, Hall questionou o imperialismo
britânico e lutou pela sua independência. Perceba como sua experiência complexa
articula aspectos de classe social, raça, diáspora, colonização, entre tantos outros. Esses
momentos vividos por Hall, de deslocamento e vivência em contextos socioculturais
diversos, também emolduram muitas de nossas vidas, não é mesmo?

32
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Hall afirma que multicultural e multiculturalismo são dois termos


complementares, mas de significado distinto e que ambos devem ser utilizados
com cuidado, pois não são precisos o suficiente para abarcar a complexidade da
experiência contemporânea. Ele afirma que:

Multicultural é um termo qualificativo. Descreve as características


sociais e os problemas de governabilidade apresentados por
qualquer sociedade na qual diferentes comunidades culturais
convivem e tentam construir uma vida em comum, ao mesmo
tempo em que retêm algo de sua identidade “original”. Em
contrapartida, o termo “multiculturalismo” é substantivo.
Refere-se às estratégias e políticas adotadas para governar ou
administrar problemas de diversidade e multiplicidade gerados
pelas sociedades multiculturais (HALL, 2008, p.50).

Agora que nos familiarizamos com os conceitos, vamos nos aprofundar na


relação entre cultura e educação.

Como falar de cultura em sala de aula e como a educação pode trazer reflexões
sobre as relações entre as culturas na sociedade contemporânea? Essa não é uma
pergunta de respostas fáceis de serem dadas, mas certamente tem sido articulada
por pensadores contemporâneos. Quando adicionamos a essa equação questões
relacionadas ao multiculturalismo, entramos em um território que traz desafios
aos educadores que precisam estar atentos para as diferentes origens e valores
de seus alunos, respeitá-los e somá-los ao processo de aprendizagem em sala
de aula.

Uma autora que aborda essas questões é Vera Maria Ferrão Candau. Candau
(2000, 2002) reconhece a relação intrínseca entre as culturas e as práticas
pedagógicas. Para ela, o ambiente de ensino deve ser inclusivo e receptivo a
todos e com isso entende-se que as culturas dos diferentes alunos devem ser
respeitadas e incluídas no debate em sala de aula. Para Candau (2000, 2002)
a cultura é presente, ativa e reinventada na vida dos seres humanos. Por isso
todos se beneficiam do compartilhamento de diferentes experiências, pontos de
vista e possibilidades de compreender o mundo.

Perceba que o respeito às culturas, bem como o reconhecimento de sua


pluralidade podem trazer uma perspectiva mais abrangente para o ensino. A
relação entre pedagogia e uma visão plural das culturas é capaz de reconhecer
as diferenças ao mesmo tempo em que possibilita a criação de diálogos entre os
aspectos compartilhados entre as culturas.

33
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

Mas por que estamos falando da relação entre pedagogia e cultura em meio
a toda uma conversa sobre políticas culturais? A maneira como a educação
transmite conhecimento sobre as culturas molda o entendimento da sociedade
sobre o assunto e, em médio e longo prazo, fundamenta as ações de proteção e
incentivo às culturas. Esse é um processo circular.

Observe, por exemplo, como os materiais escolares são ferramentas poderosas.


A maneira como cada cultura é retratada e as culturas representadas nas páginas
lidas pelos alunos também podem ser pensadas como parte de estratégias
de políticas culturais. Por isso é fundamental que as políticas educacionais
dialoguem com as culturais, pois fazem parte de um contínuo capaz de fomentar
relações mais humanas e plurais.

Uma iniciativa importante que relaciona cultura e ações educativas a


nível nacional é a atuação do grupo Giramundo. O grupo nasceu em Belo
Horizonte em 1970 a partir da iniciativa dos artistas Álvaro Apocalypse,
Tereza Veloso e Madu. O Giramundo começou sua trajetória enquanto
um grupo desenvolvedor de teatro de bonecos focado na cultura e nas
histórias brasileiras.

Ao longo dos anos, o Giramundo atraiu atenção internacional e na


atualidade seu foco é na tríade museu-teatro-escola. Suas ações
interdisciplinares derrubam as fronteiras entre as escolas e a prática
artística, aproximando educadores e alunos do mundo da arte.

Entre no site e conheça:

giramundo.org.

Neste capítulo vimos que:

» As políticas culturais fazem parte do nosso cotidiano e se


relacionam a aspectos amplos de nossas vidas.

» É por meio das políticas culturais que são definidas estratégias


para a ocupação do espaço urbano, a gestão e a criação de
museus, meia entrada para estudantes, preservação do patrimônio
histórico, entre outros.

» O universo das políticas culturais é complexo e por vezes nos


faltam conceitos e referências para lidar com ele. Trata-se de um
campo de análise e atuação recente e pouco sistematizado.

34
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

» As políticas culturais estão relacionadas com o poder público e por


isso mudam de acordo com os grupos que estão no poder.

» O campo das políticas culturais é interdisciplinar e se alimenta de


referências de áreas como: Sociologia, Antropologia, Economia,
Arte Educação, Direito, etc.

» As políticas culturais são de ampla importância e justificadas


a partir de alguns eixos: lazer e entretenimento; acesso ao
conhecimento e fortalecimento da educação; acesso às fontes da
cultura brasileira; preservação do patrimônio; gestão e coleção de
acervos.

» Quando falamos de preservação de patrimônio não estamos


falando apenas de objetos materiais tais como obras de arte,
objetos históricos e edificações. Parte do patrimônio pode
ser entendido como imaterial, ou seja, formado por difusão da
história oral, modos de fazer e tradições em geral.

» O conceito de patrimônio imaterial começou a ser formulado


a partir da II Guerra Mundial quando da necessidade de se
encontrar caminhos para a preservação das culturas ainda que
em momentos de tensão social.

» Segundo a UNESCO, proteger a diversidade das expressões


culturais é uma característica essencial da humanidade.

» Convenções internacionais como as encabeçadas pela UNESCO,


têm como objetivo criar um diálogo entre as nações e diretrizes a
serem seguidas por todos signatários.

» Educação e cultura caminham lado a lado. Educar para a


diversidade das expressões culturais é uma maneira de preservar
as culturas e a convivência com as diferenças.

» Em sociedades multiculturais como a contemporânea, a relação


entre educação e cultura é de importância central para a
construção de relações de tolerância e respeito.

35
CAPÍTULO 2
Políticas culturais e a economia
criativa

Neste capítulo vamos analisar como a formulação das políticas culturais


se relacionam com questões econômicas. Explorar essa relação nos ajuda a
justificar a importância da criação e manutenção de políticas culturais e o papel
central que o setor criativo ocupa junto às economias locais. Nessa linha de
reflexão é que também surgiu o conceito de economia criativa sobre o qual
aprofundaremos o nosso entendimento a seguir.

Podemos pensar o aspecto econômico das políticas culturais em diversos


sentidos sendo o mais imediato relacionado à disponibilização de recursos
financeiros, privados e públicos, para o campo da cultura. Aqui estamos falando
sobre como países, munícipios e estados fazem a gestão do seu orçamento e
o quanto destinam para a cultura. Desde o ponto de vista privado, também
engloba o investimento realizado por empresários a esse setor como a abertura
de espaços para a cultura – galerias, teatros, livrarias, bibliotecas, salas de
dança, etc.

As políticas culturais estão diretamente relacionadas à geração de renda e


fomento das economias locais. Ainda que o senso comum frequentemente
leve para a ideia de que produção cultural deve ser pensada apenas como
um passatempo, o fato é que esta é uma área com um longo histórico de
profissionalização, fomenta milhões de reais e é responsável por um amplo
número de empregos diretos e indiretos.

Incentivo à cultura gera renda, circulação de dinheiro e contribui para


aspectos mais amplos como a revitalização de espaços urbanos (CANCLINI,
2008). Perceba, por exemplo, como centros históricos vivos, com comércio e
espaços culturais, atraem mais turistas, famílias em momento de lazer, além
de deixarem a população local segura de por ali transitar. Relações como esta
são produzidas em uma grande cadeia de políticas públicas e incentivos que
geram uma maior conservação de imóveis históricos de determinada região,
o resgate da história local e qualidade de vida aos moradores das cidades.

É essa cadeia de relações, de profissionais, sujeitos e de circulação econômica


que chamamos de economia criativa e iremos explorar ao longo deste capítulo.
Como você pode perceber, trata-se da articulação de aspectos que não se

36
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

restringem estritamente ao campo da cultura e que se relacionam com diversas


dimensões da vida social.

Você pode perceber que a economia criativa é um aspecto importante na vida


dos cidadãos e merece atenção especial dos órgãos competentes. Como é que os
governos percebem e fomentam a economia criativa?

O desenvolvimento de políticas públicas para a cultura passa por diversos


questionamentos e demandas que partem tanto de agentes envolvidos
diretamente na área da cultura, mas também pelo público mais amplo. Basta
pensar na cadeia de ações e reações que englobam o conceito de economia
criativa.

Entretanto, nem sempre o poder público entende que a economia criativa


é vital para a sociedade. Mas o que acontece quando governos se eximem
das decisões no âmbito das políticas culturais e estas passam a ser exercidas
pelos setores de marketing de empresas privadas? Quais as consequências
dessa e de outras ações?

São muitas as perguntas a serem respondidas e tópicos a serem abordados


neste capítulo. Por isso iniciaremos com o aprofundamento do conceito de
economia criativa. Vamos lá?

Economia criativa
O conceito de Economia Criativa está sendo amplamente utilizado nos últimos
anos e parte do entendimento de que este setor faz parte da cadeia econômica
mundial. Este conceito vem desmistificar a ideia de que as produções artísticas
devem ser entendidas apenas como hobbies ou entretenimento e as situam
dentro da cadeia produtiva dos locais a que pertencem.

Convém destacar que, no universo de busca de incentivos financeiros e apoio


para projetos, a concepção de economia criativa é capaz de dar força extra
para os produtores culturais já que fornece elementos que corroboram para a
construção de uma justificativa mais sólida e em consonância com o mercado.

Isso não quer dizer que os projetos e produtos culturais devam ser valorizados
apenas a partir do ponto de vista mercadológico e de seu valor monetário,
mas que toda a cadeia produtiva que envolve a cultura deve ser analisada.
De fato, uma das principais críticas ao uso do conceito de economia criativa
está fundamentado na possibilidade dessa visão da área da cultura fortalecer

37
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

o entendimento de que os bens culturais só devem ser valorizados a partir de


uma perspectiva monetária. Tendo esse aspecto em conta é importante nos
relacionarmos com o conceito de economia criativa com cautela e refletirmos
sobre o contexto no qual está sendo evocado.

Levando isso em consideração, é importante ressaltar que o conceito de


Economia Criativa não se refere somente aos produtos culturais, mas a toda
uma cadeia de produção que envolve criatividade e conhecimento. Segundo o
SEBRAE, podemos definir economia criativa como:

o conjunto de negócios baseados no capital intelectual e cultural


e na criatividade que gera valor econômico [...] A Economia
Criativa abrange os ciclos de criação, produção e distribuição de
bens e serviços que usam criatividade, cultura e capital intelectual
como insumos primários (SEBRAE, 2014).

De acordo com essa definição do Sebrae, a economia criativa extrapola os


limites das políticas públicas para a cultura e adentra outros territórios, como
o da ciência e da tecnologia. Mas são todos setores interconectados e partícipes
da cultura, não é mesmo?

O impacto da economia criativa na economia geral tem sido analisado apenas


nos últimos anos. Esse interesse um tanto recente pelo setor deve-se ao fato,
já citado, de as áreas da criatividade e da cultura não receberem atenção
devida do poder público e por vezes serem vistas como externas ou adjacentes
às demais atividades econômicas.

Ainda assim, os dados levantados surpreendem e são capazes de renovar o


interesse pelo setor. Vamos nos aproximar desses números a seguir. Antes
reserve alguns minutos para assistir aos vídeos indicados e aprofunde seus
conhecimentos sobre a economia criativa.

O que é economia criativa?

www.youtube.com/watch?v=KsdjmvCWbH4.

Economia Criativa: Definição e Desafios.

www.youtube.com/watch?v=CUc0XfxhhI4.

O impacto financeiro da economia criativa

A Economia Criativa é responsável pela geração de milhões de empregos em


todo o mundo, movimenta valores altos e conecta profissionais de diferentes
38
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

localidades. Segundo o Mapeamento da Indústria Criativa no Brasil de 2016, o


setor gerou R$155,6 bilhões para o Brasil (FIRJAN, 2016). Naquele momento a
Economia Criativa brasileira passava por um momento de ascensão.

Na atualidade, o relatório da Firjan de 2019, traz uma nova realidade. O setor


da economia criativa – assim como os demais setores da economia local – está
inserido em um quadro de crise econômica. O momento de dificuldade se faz
sentir especialmente pelos profissionais da área.

Além da constatação evidente de que em momentos de crise a circulação


de dinheiro fica restrita, os salários abaixam e as contratações diminuem,
é importante ressaltar que os incentivos para a área da cultura – públicos e
privados - também demonstram uma queda substancial.

Em momentos de recessão econômica é comum que governos entendam essa


área como uma das primeiras que podem sofrer cortes de orçamento em
detrimento de áreas percebidas como de maior importância social. A cultura
ganha o status de atividade supérflua, ainda que, como bem apontam os
dados, seja um setor forte da atividade econômica.

No mesmo caminho, empresas privadas reduzem os recursos destinados para


o fomento da cultura. Valores que antes eram direcionados para apoios diretos
a projetos são cortados e setores de marketing sofrem com a redução de vagas e
de profissionais responsáveis pela supervisão dos projetos aprovados em leis de
incentivo.

Conforme você pode observar, o impacto negativo das crises financeiras


neste setor é particularmente intenso. Uma outra característica que atinge
os profissionais da área é o fato de muitos serem autônomos. Essas pessoas
são particularmente afetadas pela ausência de novos contratos.

Para a sustentabilidade da indústria criativa e um crescimento da área a médio


prazo, seria de extrema importância que o Estado refletisse sobre como esses
profissionais podem seguir atuantes ou serem realocados para outros setores
durante momentos de baixa econômica.

Mesmo após a pequena reversão apontada pelos mapeamentos da Firjan, a área


criativa continua responsável por relevante geração de valor em nossa economia.
Em 2017, o PIB Criativo 1 totalizou R$171,5 bilhões – cifra comparável ao valor
de mercado da marca mais valiosa do mundo, a Samsung, ou à soma de quatro

1 Percentual ocupado pela economia criativa no PIB nacional.

39
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

das maiores instituições financeiras globais (American Express, J.P. Morgan,


Axa e Goldman Sachs) (FIRJAN, 2019).

Outros números que chamam a atenção segundo o relatório da Firjan (2019)


estão relacionados ao impacto da Economia Criativa no PIB dos estados
brasileiros. São Paulo e Rio de Janeiro são os mais impactados pelo setor. São
os seguintes os percentuais de investimento na Economia Criativa em alguns
estados:

» São Paulo – 3,9%.

» Rio de Janeiro2 – 3,8%.

» Distrito Federal – 3,1%.

» Paraná – 1,8%.

Em relação ao Brasil, 2,61% do nosso PIB está ligado à Economia Criativa.

Podemos concluir que o setor da economia criativa é fundamental para o


crescimento econômico dos países como um todo. Dos aspectos relativos a
proteção da diversidade, a sustentabilidade, a construção das subjetividades e
das identidades, a possibilidade de mensurar resultados a partir da circulação
de capitais financeiros, são diversos os aspectos da vida em sociedade que são
tocados pela arte e pela cultura.

Quer conhecer mais detalhes do impacto da economia criativa na


economia? Leia e estude os relatórios que compilam dados sobre a
Economia Criativa no Brasil. Essas análises são recentes, mas ricas
em detalhes. Acompanhe o último relatório da Firjan no link abaixo e
saiba mais sobre como está o setor da Economia Criativa no Brasil
contemporâneo:

www.firjan.com.br/EconomiaCriativa/downloads/
MapeamentoIndustriaCriativa.pdf.

Não é apenas por meio de relatórios e referências acadêmicas que


podemos nos aproximar do setor da economia criativa. Filmes e séries
podem acompanhar seus momentos de lazer ao mesmo tempo em que
te fazem refletir.

40
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Você já conhece a série Abstract? Disponível na plataforma de streaming


Netflix? A série conta com episódios que versam sobre criatividade.
Criadores de diferentes áreas tais como ilustradores, designers, arquitetos
e fotógrafos compartilham suas rotinas, experiências pessoais e processos
criativos.

Algumas das personalidades que participam da série são: Paula Scher 3


(designer gráfica), a designer de interiores Ilse Crawford 4 e o fotógrafo
retratista Platon 5.

Assista ao trailer oficial no link abaixo e acompanhe a série. Inspire-se


e entenda ainda mais como funciona a cadeia da Economia Criativa a
partir de exemplos concretos de profissionais atuantes:

www.youtube.com/watch?v=IEDaZv7TNW0.

Economia criativa e diretrizes internacionais

O fortalecimento da Economia Criativa está calcado em iniciativas globais que


permitem vislumbrarmos o fortalecimento de laços e valores compartilhados
por profissionais de diferentes países. Essas iniciativas de construção de
normas e valores compartilhados internacionalmente vem fortalecendo a
discussão sobre economia criativa.

Na atualidade existe uma preocupação de organizações internacionais em criar


diálogos entre governos de diferentes países com o objetivo de propiciar um
crescimento contínuo da área, o respeito às culturas e facilitar o trânsito de
bens e pessoas pelas fronteiras.

No capítulo anterior vimos como a Unesco tem se preocupado em participar


dessa discussão. Enquanto principal referência global para a preservação da
arte, cultura e patrimônio histórico, a Unesco vem pesquisando e discutindo
com agentes da cultura e governantes em busca de estratégias para a construção
de conceitos e entendimentos comuns sobre o assunto.

3 Consagrada designer gráfica norte-americana, Paula Scher é reconhecida por trabalhar elementos da cultura pop lado a
lado das artes visuais. Ela é vencedora de diversos prêmios e alguns de seus trabalhos estão na coleção do Museu de Arte
Moderna de Nova Iorque (MoMa).
4 A britânica Ilse Crawford é conhecida por trabalhar com elementos humanos, conforto e criar ambientes que fazem com
que as pessoas sintam-se em casa.
5 Fotógrafo publicitário especialista na área de retratos, eternizou dezenas de personalidades da nossa época e trabalha com
empresas globais. Retratou líderes mundiais como Muammar Qaddafi, Barack Obama e George W. Bush.

41
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

A elaboração de diretrizes internacionais colabora também para que os circuitos


culturais tenham uma referência de conduta dos agentes públicos para que possam
cobrar medidas para o setor e o cumprimento das normas caso o país seja signatário
da convenção.

Você conhece a Unesco?

Unesco significa Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência


e a Cultura. Ela está subordinada à Organização das Nações Unidas (ONU) e
é o braço da organização que cuida das questões relacionadas à cooperação
intelectual e cultural entre as nações.

A Unesco surgiu em 1945, logo após o fim da II Guerra Mundial. Em


um cenário de desolação e muita destruição, a organização veio com
o objetivo de cultivar a paz e celebrar as culturas. Na atualidade, 193
países são membros da UNESCO.

Nos anos 1960, a representação da UNESCO chegou ao Brasil e, na


atualidade, sua sede no país fica em Brasília. Suas áreas de atuação
são: Educação, Ciências Naturais, Ciências Humanas e Sociais, Cultura,
Comunicação e Informação.

A Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das


Expressões Culturais (2005) é um instrumento internacional em cultura
criado pela Unesco. O texto foi ratificado por 146 Estados-membros
incluindo o Brasil que, por meio do Decreto Legislativo 485/2006,
afirmou sua participação.

O texto foca sobretudo na importância da diversidade cultural para a


humanidade e defende que essa diversidade só é possível se for semeada
em um ambiente democrático e aberto ao diálogo. Além disso, a convenção
zela particularmente pelas culturas tradicionais, tanto aquelas ameaçadas
por processos de colonização quanto pelas que enfrentam dificuldades por
conta da ampliação da exploração capitalista.

A criação de convenções como a acima mencionada alinham o foco dos


países em torno de pontos em comum e permitem que diagnósticos sejam
elaborados levando em conta as situações específicas de cada região.

Conheça o texto na íntegra:

www.ibermuseus.org/wp-content/uploads/2014/07/convencao-sobre-a-
diversidade-das-expressoes-culturais-unesco-2005.pdf.

42
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

Além do exemplo das convenções e diretrizes criadas pela Unesco,


temos outros exemplos de iniciativas de mapeamento e análise da
Economia Criativa ao redor do globo que são realizadas por meio
de parcerias transnacionais. Esse é o caso do relatório The Brazilian
Creative Economy (em inglês), desenvolvido pela Tom Fleming Creative
Consultancy 6 , por meio de uma parceria entre o British Council 7 , o Fundo
Newton 8 e o Sebrae. O documento tem como objetivo compreender as
especificidades da Economia Criativa no Brasil, ao mesmo tempo em
que analisa iniciativas do British Council no país. Você também pode
acessar esse documento na íntegra. Basta clicar em:

www.britishcouncil.org.br/sites/default/files/brazilian_creative_economy_
online_sem4_new.pdf.

Neste capítulo focamos no conceito de economia criativa e como as


áreas da cultura e da criatividade relacionam-se com a economia. Vimos:

» Economia criativa é o setor que abrange a criação, circulação e


recepção dos produtos culturais e das áreas relacionadas com a
criatividade.

» As políticas culturais também devem ser pensadas a partir do seu


aspecto econômico que inclui o fomento de agências públicas e
a estruturação de condições para que o empreendedor atue com
segurança.

» A economia criativa cria empregos ao redor do mundo, movimenta


valores altos e tem grande impacto no PIB brasileiro.

43
CAPÍTULO 3
A antropologia e a sociologia como
dimensões da cultura e das políticas
culturais

A Sociologia e a Antropologia são campos de produção de conhecimento que


contribuem diretamente para o mapeamento e a formulação de políticas
culturais. Essas áreas das ciências sociais nos fornecem referências e
ferramentas para analisarmos o conceito de cultura, além de contribuírem
para a construção de uma visão crítica do mundo que nos rodeia.

A Antropologia pode ser entendida enquanto uma ciência que

[...] visa o conhecimento completo do homem, o que torna suas


expectativas muito mais abrangentes. Dessa forma, uma conceituação
mais ampla a define como a ciência que estuda o homem, suas
produções e seu comportamento. O seu interesse está no homem
como um todo – ser biológico e ser cultural – preocupando-se em
revelar os fatos da natureza e da cultura. Tenta compreender a
existência humana em todos os seus aspectos, no espaço e no tempo,
partindo do princípio da estrutura biopsísiquica. Busca também a
compreensão das manifestações culturais, do comportamento e da
vida social (MARCONI e PRESOTTO, 2010, p.2).

A Antropologia nos capacita para o entendimento de uma ampla concepção de


cultura que envolve as relações e produções de significado do nosso cotidiano.
O ser humano vive na cultura e a produz de maneira que todos os nossos
atos tenham uma dimensão cultural. Desde a maneira que dormimos, ao que
comemos, como preparamos nossos alimentos, os livros que lemos, àquilo que
conceituamos como arte, a cultura é intrínseca ao nosso ser.

Já a perspectiva sociológica de cultura nos situa em um panorama relacionado


à modernidade. A Sociologia é uma ciência moderna, ou seja, suas análises
focam no desenvolvimento social e desafios das sociedades sobretudo a
partir do século XVIII. “A investigação sociológica constitui um dos meios
pelo qual a modernidade tomou consciência de si mesma” (SELL, 2009,
p.15). Nascida no contexto de uma série de transformações socioculturais
encabeçadas por fenômenos como as revoluções industrial, cultural e
científica, a perspectiva sociológica contribuiu para o entendimento de

44
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

uma nova realidade marcada por “[...] novas relações econômicas, novas
formas de organização política e ainda novas concepções e representações
culturais” (SELL, 2009, p.16).

A concepção sociológica de cultura concentra-se em compreender as


produções materiais e simbólicas da vida humana e de que maneira os
indivíduos se constituem em relação e na criação desses aspectos. No que
tange à formulação de políticas culturais e ao entendimento das indústrias
criativas locais, a perspectiva sociológica nos fornece ferramentas
para analisarmos como as produções e objetos culturais circulam, são
distribuídos, produzidos e recebidos pelo público.

Essas duas abordagens nos levam a caminhos distintos, ainda que


complementares, do desenvolvimento de políticas culturais. Segundo Isaura
Botelho (2001) essas duas concepções de cultura são determinantes para a
criação de estratégias políticas:

A distinção entre as duas dimensões é fundamental, pois tem


determinado o tipo de investimento governamental em diversos
países, alguns trabalhando com um conceito abrangente de
cultura e outros delimitando o universo específico das artes como
objeto de sua atuação (BOTELHO, 2001, p. 74).

Note como um conceito mais abrangente de cultura permite que sejamos


inclusivos e capazes de relativizar nossas próprias práticas culturais.
Assim, as produções de nossa cultura não são percebidas como superiores
ou exclusivas. Quando percebemos o mundo apenas a partir da nossa
perspectiva cultural somos etnocêntricos, que é o oposto de uma posição
relativista, a qual nos permite suspender nossos valores e costumes com o
objetivo de nos relacionarmos com mais proximidade do outro: “O conceito de
etnocentrismo acha-se intimamente relacionado ao de relativismo cultural.
A posição relativista liberta o indivíduo das perspectivas deturpadoras do
etnocentrismo, que significa a supervalorização da própria cultura em
detrimento das demais” (MARCONI; PRESOTTO, 2010, p.32).

Para exemplificar as questões apontadas, adentremos o mundo da música.


Muitos são os estilos musicais e nos identificamos com eles tanto pelas melodias
quanto por questões de estilo de vida. Os sons e as letras têm significados
subjetivos, mas também comunitários. Fazem parte de modismos, ao mesmo
tempo em que marcam gerações ou são passados de pais para filhos. Entretanto,
é comum que no dia a dia comentários como: “isso não é música de verdade”

45
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

sejam emitidos. Ao passo que esse tipo de fala pode expressar tão somente uma
questão de gosto musical, também pode revelar um sentimento de superioridade
ou de desprezo em relação às práticas culturais do Outro. Nesse caso estamos
falando de uma posição etnocêntrica. Já uma perspectiva relativista resulta em
uma aproximação curiosa da diferença: “Não conheço esse tipo de música, mas
quero compreende-la”. Você pode até concluir que um determinado estilo não
te agrada em termos de gosto musical, mas não estará proferindo um juízo de
valor.

Ainda focando na dimensão Antropológica de cultura, Botelho entende que:

Na dimensão antropológica, a cultura se produz através da interação


social dos indivíduos, que elaboram seus modos de pensar e sentir,
constroem seus valores, manejam suas identidades e diferenças
e estabelecem suas rotinas. Desta forma, cada indivíduo ergue à
sua volta, e em função de determinações de tipo diverso, pequenos
mundos de sentido que lhe permitem uma relativa estabilidade
(BOTELHO, 2001, p. 74).

Podemos compreender que a perspectiva antropológica da cultura nos ajuda a


entender as manifestações culturais de uma maneira abrangente que leva em
consideração ações que não se restringem ao universo formal e institucional.
Estamos falando de um universo simbólico que media relações entre as
pessoas e constitui comunidades.

Tomemos como exemplo o Brasil e sua ampla dimensão territorial. É evidente


que em cada parte do país temos manifestações culturais distintas, muitas das
quais são conhecidas através das festas populares. No Norte temos o Bumba
Meu Boi 9, no Nordeste danças como o Frevo 10 e o Coco 11, no Sul o Fandango
Caiçara 12. Todas as manifestações mencionadas têm momentos de festividade,
mas estruturam sobretudo um universo de costumes, símbolos e trocas entre
gerações. Por isso, a construção de políticas públicas para a cultura precisa
abranger diversos momentos da vida social das comunidades. Perceba como
a dimensão antropológica da cultura é fundamental para o entendimento e a
pluralidade de culturas que temos no Brasil.

9 As festas do Bumba Meu Boi, conhecidas também como Boi-bumbá, espalham-se por diferentes regiões do país e giram
em torno de danças e apresentações. A história central dessas festividades, que tem suas particularidades de acordo com a
região em que ocorre, envolve personagens humanos sendo o principal o boi. A manifestação vem sendo registrada desde
o século XIX, mas pode ter origens ainda mais remotas.
10 Estilo musical que estrutura diversas festividades sobretudo na região de Pernambuco. Em 2012, a UNESCO declarou o
frevo Patrimônio Imaterial da Humanidade.
11 Dança criada a partir do encontro das culturas africana e indígena. É embalada por cantos simples que relatam o dia a dia
da população. Surgiu no contexto das fazendas de açúcar do Nordeste brasileiro.
12 O Fandango Caiçara concentra-se na região Norte do litoral paranaense e sul do estado de São Paulo. As festas são
conhecidas como bailes durante os quais toca-se o fandango composto por sons de instrumentos locais como a rabeca. Em
2012, o Fandango foi declarado Patrimônio Imaterial da Humanidade.

46
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

A dimensão sociológica da cultura traz uma perspectiva complementar à


antropológica, mas concentra-se, conforme mencionamos, na circulação e
distribuição dos bens culturais. Portanto, é a perspectiva sociológica que
nos aproxima de questões como acesso do público aos espaços de produção
de cultura, valoração das produções culturais, formação de plateia, formação
institucional, entre outros.

O sociólogo franco-argelino Pierre Bourdieu (1930-2002) dedicou grande parte das


suas pesquisas ao universo das artes visuais. Lembra de que nas páginas anteriores
falamos sobre o pesquisador Stuart Hall e como sua história de vida relacionou-se
diretamente aos seus escritos e reflexões acadêmicas? Pois bem, a vida de Bourdieu
também serviu de base para seus escritos. O autor, de origem humilde, escolheu
a Filosofia e a Sociologia como foco de seus estudos, mas enfrentou dificuldades
relacionadas à rígida hierarquia acadêmica de sua época.

Um dos estudos mais conhecidos do autor analisou a frequência das pessoas aos
museus de arte europeus. Ele procurou entender quem é o público desses espaços,
como ele chegou até ali e quais fatores sociais contribuem para que tenha apreço
pela arte. Bourdieu também focou em como as origens sociais dos frequentadores
dos museus relaciona-se ao acesso que eles têm a esses espaços.

Uma das áreas que o pesquisador dedicou atenção especial é o


campo das artes visuais. Em o Amor pela Arte (2003), pesquisa
realizada com Alan Darbel e publicada originalmente em 1966,
Bourdieu investigou os hábitos de visitação aos museus com
base em uma intensa investigação teórica e empírica em cinco
países europeus: Espanha, França, Holanda e Polônia. Os
pesquisadores buscaram entender como ocorre e quais são as
condições de acesso às práticas culturais. Na apresentação da
edição brasileira, Afrânio Catani (Bourdieu; Darbel, 2003, p.9)
afirma: “Em ‘O Amor pela arte’, Bourdieu pondera que os museus
abrigam tesouros artísticos que se encontram, ao mesmo tempo
(e paradoxalmente), abertos a todos e interditados à maioria das
pessoas” (SOUZA, 2017, p. 112).

Diversos museus e espaços culturais têm acesso gratuito contínuo ou


programado, mas, assim mesmo, é comum que grupos sociais e sobretudo
a classe trabalhadora sintam-se excluídos desses locais. A visibilização
dessas dinâmicas de exclusão é essencial para que estratégias de ampliação
de acesso aos espaços dedicados às artes sejam construídas. Note como a
47
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

Sociologia nos ajuda a entender a relação com o campo da cultura através


de uma perspectiva que visibiliza suas estruturas e dinâmicas.

Podemos concluir que a Sociologia e a Antropologia são ciências


complementares que muito contribuem para o aprofundamento das nossas
análises e o desenvolvimento de políticas públicas para a cultura. Esses
campos de conhecimento nos fornecem ferramentas de análise para navegar
no complexo mar das diferenças e da sociedade contemporânea.

Temos diversos museus dedicados às artes visuais espalhados pelo


Brasil. Cada um tem uma linha de atuação e dedica-se a coleções com
focos distintos. O Museu de Arte de São Paulo (MASP) concentra-se
na exibição de arte moderna e contemporânea. Já o Museu Nacional
de Belas Artes, situado no Rio de Janeiro, possui um grande acervo de
arte do século XIX.

As instituições museológicas preocupam-se com o acesso do público aos


seus espaços. Por isso, desenvolvem programas educativos para receber
escolas e fornecer informações aos professores. Além disso, os museus
dedicam algum momento de suas agendas para visitas gratuitas.

Quais museus brasileiros você já conhece? Vamos visitar alguns deles


virtualmente:

MASP – Foi fundado em 1947 pelo empresário e apoiador das artes Assis
Chateaubriand (1892-1968). Foi o primeiro museu de arte moderna do
Brasil e possui o maior acervo de arte europeia do hemisfério sul.

Site: masp.org.br.

Museu Nacional de Belas Artes – Criado em 1937 durante o governo de


Getúlio Vargas, o museu ocupa um imponente edifício no centro do Rio
de Janeiro. Além de possuir uma vasta coleção dedicada à arte do século
XIX, o museu é parte da história das artes visuais brasileira, pois foi sede
da Escola Nacional de Belas Artes.

Site: mnba.gov.br/portal/.

Museu Oscar Niemeyer – Situado na cidade de Curitiba, o museu foi


inaugurado em 2002 e tem projeto do famoso arquiteto que leva o seu
nome. A coleção foca em arte contemporânea, além de dedicar-se à
arquitetura e ao design.

Site: www.museuoscarniemeyer.org.br/home.

48
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

As publicações que versam sobre o conceito antropológico de cultura


são vastas. Seus autores nos ajudam a compreender a cultura no sentido
amplo do termo e a abrirmos nossa percepção para aspectos do nosso
cotidiano. Que tal entender um pouco mais sobre a Antropologia
enquanto área do saber?

O livro Aprender Antropologia, de François Laplantine, editado


pela editora Brasiliense, nos guia por um recorrido sobre aspectos
abrangentes do campo da Antropologia e funciona com um contato
inicial com a área. A publicação é dividida em três partes: marcos para
uma história do pensamento Antropológico; as principais tendências do
pensamento Antropológico contemporâneo e a especificidade da prática
antropológica. Vale a leitura!

A cultura popular

Cultura popular é um dos conceitos mais controvertidos que conheço.


Existe, sem dúvida, desde o final do século XVIII; foi utilizado com
objetivos e em contextos muito variados, quase sempre envolvidos
com juízos de valor, idealizações, homogeneizações e disputas teóricas
e políticas. Para muitos, está (ou sempre esteve) em crise, tanto em
termos de seus limites para expressar uma dada realidade cultural,
como em termos práticos, pelo chamado avanço da globalização,
responsabilizada, em geral, pela internacionalização e homogeneização
das culturas (ABREU, p.1, 2003).

Conceituar cultura popular é um grande desafio, pois trata-se de um conceito


cambiante e controverso. Conforme o texto acima revela, o conceito também
nos coloca o problema de vivermos em uma sociedade de rápida troca de
informações na qual os mercados globais intensificam a homogeneização das
culturas. Essa realidade vivida pelos cidadãos do mundo e sobretudo pelos
habitantes das grandes cidades faz com que se tenha a falsa percepção de que
as culturas são homogêneas. Ou seja, as culturas tradicionais e a diversidade
cultural são, por vezes, percebidas como algo do passado ou distantes da vida
cotidiana.

O fato é que as nossas vidas são um imbricado de referências e práticas culturais


que perpassam pelo complexo conceito de cultura popular e misturam-se a
práticas percebidas como globais.

49
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

A palavra popular nos liga diretamente a algo que vem do povo e relaciona-se
à ideia de um grande número de pessoas. Popular também nos remete a uma
pessoa de sucesso, conhecida, a um artista ou produto aceito e reconhecido por
ampla parcela da população. Por outro lado, a palavra também nos liga a uma
noção de cultura produzida pelo povo e que deste origina.

Diversos historiadores ocidentais preocuparam-se em compreender e


construir um conceito de cultura popular sobretudo ao observarem as rápidas
mudanças causadas pela modernização das cidades durante o final século
XIX e início do século XX. Havia uma ideia difundida entre pensadores da
época de que muitos dos conhecimentos das populações que até então viviam
em pequenas comunidades e na região do campo, poderia se perder em meio
às transformações sociais causadas pela ampliação da vida urbana.

Os pesquisadores já haviam percebido que a vida urbana era tanto uma


nova forma de cultura em desenvolvimento, quanto uma realidade que
homogeneizava as práticas de pessoas de origens mais diversas. Como
relacionar-se analiticamente com esse universo novo que se coloca no
horizonte? Como preservar técnicas, práticas e expressões relacionadas a
culturas que já não se configuravam da mesma forma? Essas foram algumas
questões que surgiram então e que seguem fazendo parte de estudos voltados
para a cultura popular.

Foi nesse contexto descrito que o conceito de cultura popular auxiliou diversas
pesquisas. Foram produzidos inúmeros documentos, descrições e registros das
manifestações culturais que estavam ameaçadas pela rápida transformação. Ao
mesmo tempo em que essa concepção contribuiu para o registro histórico de
atividades culturais como músicas e peças teatrais, se popularizou uma ideia de
que essas manifestações estavam isoladas daquelas que surgiam e se consolidavam
nos grandes centros urbanos.

Um dos pensadores que dedicou grande parte das suas pesquisas para
compreender as culturas populares foi Roger Chartier. Para ele, falar em cultura
popular pode ser entendido como uma tentativa de delimitar a cultura do povo
já que se trata de uma categoria erudita direcionada para toda a produção que
foge do escopo dessa mesma cultura.

Chartier trouxe questionamentos importantes para o campo sobre como o


conceito de cultura popular cria direta e indiretamente uma falsa dicotomia.
Quer dizer, para que uma cultura “popular” exista, se faz necessário a construção
de um conceito de cultura erudita. Essa relação entre popular e erudito fortalece

50
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

uma percepção hierárquica e nos faz perguntar: “Mas Afinal, não seria toda a
produção cultural em algum sentido popular?”

Segundo o autor, duas grandes ideias sobre cultura popular prevaleceram em


meio aos escritos da área:

Assumindo o risco de simplificar ao extremo, é possível reduzir as


inúmeras definições da cultura popular a dois grandes modelos
de descrição e interpretação. O primeiro, no intuito de abolir
toda forma de etnocentrismo cultural, concebe a cultura popular
como um sistema simbólico coerente e autônomo, que funciona
segundo uma lógica absolutamente alheia e irredutível à da
cultura letrada. O segundo, preocupado em lembrar a existência
das relações de dominação que organizam o mundo social,
percebe a cultura popular em suas dependências e carências em
relação à cultura dos dominantes. Temos, então, de um lado,
uma cultura popular que constitui um mundo à parte, encerrado
em si mesmo, independente, e, de outro, uma cultura popular
totalmente definida pela sua distância da legitimidade cultural
da qual ela é privada (CHARTIER, 1995, p.180).

Para Chartier essas duas linhas: cultura popular enquanto um sistema


simbólico coerente e autônomo; cultura popular enquanto dependente da
cultura dos dominantes embasaram muitas das concepções difundidas sobre
cultura popular, mas são espécies de extremos que devemos evitar para que
possamos compreender as culturas de maneira mais fluida. Afinal, a cultura
popular não é nem subordinada à cultura erudita nem isolada dela.

O que queremos que você compreenda, caro aluno, é que as práticas culturais e
nossas relações com a cultura ocorrem de maneira reflexiva. A cultura popular e
a cultura erudita – se é que podemos ser rígidos quanto a esses termos, nutrem-
se uma da outra, podem ou não ter origens próximas e não devem ser concebidas
de maneira hierárquica. Lembram-se dos conceitos de etnocentrismo e de
relativismo cultural que analisamos anteriormente? Pensar em cultura popular
nos exige um posicionamento de constante relativização e cuidado para não
fortalecermos relações desiguais de poder.

A recepção da cultura e seus produtos se dá de maneira subjetiva, imbricada


em atos de assimilação e de resistência. Não vamos nos estender nesse
debate nesse momento, pois, nas próximas páginas, vamos analisar com mais
profundidade como a cultura é recebida. Por enquanto nos concentraremos

51
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

em debater a ideia de cultura popular. Mas, desde já, é importante


refletirmos sobre o fato de que a cultura também é feita por aqueles que
entram em contato com os seus produtos e seu universo simbólico: ela é
reflexiva.

Mas se a cultura popular é um conceito formado em relações de extrema


complexidade, como criar políticas públicas para as manifestações populares
sem cairmos em conceitos que engessem e isolem essas manifestações e as
coloquem em um polo extremo ao da cultura erudita?

Esse é um debate que envolve diversos profissionais de Organizações Não


Governamentais (ONGs) e departamentos governamentais. No Brasil, o
Plano Nacional de Cultura (PNC) é o documento que orienta os princípios
da gestão da cultura em território nacional. O PNC reforça a necessidade de
iniciativas do Estado para a proteção das culturas populares.

Como forma de incentivar, proteger e divulgar as culturas populares, temos o


Prêmio Culturas Populares, oferecido a mestres da cultura popular e pontos
de cultura. Mestres são pessoas que se dedicam a ensinar, estudar e difundir
as manifestações culturais em suas comunidades e pontos de cultura são os
espaços difusores de ações na área.

Organizações internacionais como a Unesco, empenham-se em encontrar


caminhos que permitam que profissionais e pesquisadores de diferentes
localidades possam dialogar a partir de um vocabulário comum. A cultura
popular é um dos aspectos abordados pelas conferências da Organização. Na
25ª Conferência Geral da Unesco em 1989 foi acordado um entendimento
comum para o conceito de cultura popular:

Em âmbito internacional, a Recomendação sobre a Salvaguarda


da Cultura Tradicional e Popular, documento gerado na 25ª
Conferência Geral da Unesco em 1989, define a cultura tradicional
e popular como “o conjunto de criações que emanam de uma
comunidade cultural, fundadas na tradição, expressas por um
grupo ou por indivíduos e que reconhecidamente respondem às
expectativas da comunidade enquanto expressões de sua identidade
cultural e social: as normas e os valores se transmitem oralmente,
por imitação ou de outras maneiras” (COSTA, 2015).

Perceba que a definição da Unesco é bastante abrangente e está relacionada


diretamente à ideia de identidade, ou seja, à possibilidade das pessoas se verem e se

52
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

identificarem com o outro. Cultura Popular gera, segundo a UNESCO, senso


de comunidade.

Perceba como a concepção de cultura popular aqui colocada liga-se a


outro tópico por nós estudado anteriormente: o de patrimônio imaterial. A
concepção de cultura popular ligada a transmissão oral ou por imitação pode
ser pensada enquanto um aspecto imaterial dessa cultura. Nesse sentido,
podemos compreender que a cultura popular tem dimensões imateriais que
devem ser preservadas e que estão intimamente ligadas ao cotidiano das
comunidades às quais pertencem.

Podemos concluir que, ao mesmo tempo que é problemático, o conceito


de cultura popular é fundamental para o desenvolvimento de políticas
públicas. Em um país tão vasto quanto o Brasil, e com um amplo número de
manifestações culturais que estão intrínsecas aos modos de viver de nossas
comunidades, se faz necessário o reconhecimento da importância dessa
dimensão da cultura alinhado a propostas de fomento e proteção dela.

Você conhece ar tistas ligados ao universo da cultura popular?


Lembra-se dos nomes de alguns deles? Nem todos esses ar tistas
frequentam os meios de comunicação, as paradas musicais e os
programas de televisão, mas em suas regiões de atuação são
considerados verdadeiros mestres detentores de um amplo
conhecimento sobre a vida.

Separamos alguns artistas que merecem ser conhecidos e são eles


mesmos um verdadeiro patrimônio do nosso país. Além dos artistas que
listamos aqui, faça uma pesquisa para descobrir tantos outros nomes.
Conheça alguns dos artistas da cultura popular brasileira:

Selma do Coco.

Nascida em 1929 em Pernambuco, Selma Ferreira da Silva é uma das


responsáveis por difundir a música e a cultura do Coco por todo o país.

culturaspopulares.cultura.gov.br/homenageados-edicoes-anteriores/.

Leandro Gomes de Barros.

O Paraibano Leandro nasceu em 1865 no interior do estado e foi um dos


maiores poetas populares da sua época.

www.casaruibarbosa.gov.br/cordel/leandro.html.

53
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

Mestre Humberto de Maracanã.

Difusor da cultura do Bumba Meu Boi no Maranhão.

www.itaucultural.org.br/rumos-2015-2016-guriata-boi-de-maracana.

Recepção da cultura
A distribuição e a circulação dos produtos e projetos culturais é um aspecto
central da economia criativa. Entretanto, é comum deixarmos as análises que
envolvem essa questão em segundo plano. Raramente paramos para refletir
sobre quem acessa os produtos culturais. Mas afinal, quem são os visitantes
dos museus? Quem são as pessoas que frequentam a ópera? E o show de rap?
Qual é a idade e escolaridade dos frequentadores de teatro na sua cidade?
Você já parou para pensar nesses aspectos e como a formação de público está
relacionada às políticas públicas?

Nas próximas linhas vamos refletir sobre a importância de compreendermos o


público da cultura e como as informações sobre este público podem contribuir
para a elaboração de políticas culturais. Também vamos analisar como os
produtos culturais chegam ao público e como esses mesmos produtos são
entendidos e significados por ele.

A recepção dos produtos culturais por parte do público não ocorre de maneira
completamente passiva, ou seja, as informações são absorvidas a partir das
referências daquele que as recebe. Somos seres munidos de experiências
pessoais, valores e gostos. Esses aspectos permitem que tenhamos interações
particulares com os produtos culturais que chegam até nós.

Durante muito tempo os estudos da recepção trabalharam com a ideia de uma


audiência passiva que lidava com uma mídia ativa e o objetivo das pesquisas
era compreender os efeitos da mensagem. Naquele contexto, o espectador
tinha pouquíssima autonomia em relação à mensagem recebida. Os aspectos
subjetivos do espectador não eram levados em conta em sua profundidade.

A partir dos anos 1980, e por meio da influência dos estudos culturais que
trouxeram para campo as construções socioculturais dos sujeitos e a maneira
como estas influenciam as nossas percepções da realidade, as pesquisas
voltaram-se para uma audiência ativa que faz uso e interpreta as mensagens
(WHITE, 1998, p. 58). Essa virada de interpretação focou na capacidade dos
sujeitos de ressignificarem a informação recebida e trazê-la para suas próprias

54
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

realidades. Assim, as escolhas do público, como este transita pelo mundo e


pelo universo dos produtos culturais, passou a ser central junto aos estudos de
recepção.

Concluiu-se que não somos meros receptáculos de estímulo e informação.


Mesmo aquela música que gruda em nossas mentes e que cantamos de maneira
automática, passa por uma rede de significados e experiências pessoais para
que seja aceita e reproduzida por nós. Enquanto sujeitos damos um significado
específico a essa ação – a de cantar a música – que pode estar relacionado a
experiências mais variadas. Esse significado não é necessariamente igual ao
de uma pessoa que acompanha a canção junto conosco, enquanto caminha
pelos corredores de uma loja no centro da cidade. A fonte da mensagem pode
ser a mesma, mas a relação estabelecida e a experiência vivida a partir da
relação com determinado produto cultural não.

A partir do reconhecimento que a audiência não responde aos produtos


culturais apenas por meio da persuasão e coerção, mas que se relaciona com
esses de maneira múltipla e subjetiva, percebemos que as políticas culturais
não podem ser pensadas de maneira totalitária. Quer dizer, é preciso que se
leve em conta o alcance das iniciativas culturais, que se reconheça, respeite
e dialogue com o público.

Falar de recepção da cultura é uma tarefa complexa, pois não temos dados
suficientes que nos propiciem uma ampla análise científica de cada setor. Nas
últimas décadas a preocupação em compreender o público vem se ampliado, mas
permanece desafiadora. Espaços de fomento artístico têm dedicado orçamento
à pesquisa de público ao mesmo tempo em que o entendimento desse segmento
é central para o desenvolvimento da indústria criativa.

Segundo a pesquisadora Isaura Botelho é preciso criarmos estratégias para


ampliar as análises do público da área da cultura. Por isso se fazem necessários
“[...] mecanismos capazes de mapear não só o universo da produção (tarefa
mais fácil), mas também o da recepção nesse terreno, o que recomenda uma
consideração do problema das pesquisas socioeconômicas na área da cultura”
(BOTELHO, 2001, p.16).

Um melhor entendimento sobre como os produtos culturais circulam e são


recebidos pelo público nos ajuda a criar novas políticas culturais, bem como
analisar o alcance das atuais políticas e eventos da área da cultura.

55
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

É com essa preocupação que a Bienal de São Paulo, que ocorre no Parque do
Ibirapuera, e é um evento gratuito, vem realizando a cada edição a produção
de uma pesquisa sobre o perfil do público frequentador. Lembra-se de Pierre
Bourdieu, o sociólogo que mencionamos anteriormente? Pois bem, Bourdieu
concluiu que o acesso às instituições do mundo da arte não está condicionado
apenas a fatores financeiros, mas também a questões simbólicas, de formação
acadêmica e classe social. Os relatórios da atualidade operam no mesmo
sentido.

Retomando o exemplo da Bienal de São Paulo, podemos observar que os dados


ajudam a compreender o aumento ou a queda do público entre uma edição e
outra e qual o perfil dos frequentadores a cada edição. No site da Fundação
Bienal você encontra os relatórios e também outras informações pertinentes
sobre esse grande evento do mundo arte. Confira:

www.bienal.org.br

Na próxima visita a um espaço cultural, ou quando estiver decidindo onde ir,


faça um exercício, observe ao seu redor, procure informações sobre o local ou
evento que frequentará e pergunte-se:

» Qual é o perfil dos frequentadores dos museus e galerias de arte?

» Quem frequenta espetáculos de dança?

» Quem são as pessoas que têm acesso ao teatro?

» Quais fatores distanciam o público do acesso à cultura?

Transite pelas cidades e pelos espaços de cultura com essas questões em mente e
trace um perfil dos frequentadores dos lugares que visita. Essa prática trará uma
visão mais crítica sobre a formação de público.

O público e a descentralização da cultura

Um dos fatores que contribui para a restrição do público nas cidades e regiões
do país é o fato de que as ações culturais ocorrem com frequência no mesmo
eixo geográfico. É comum que o centro das cidades seja privilegiado para o
desenvolvimento de atividades culturais e que grandes cidades promovam
mais atividades ligadas à cultura em detrimento de cidades menores.

Diversos motivos fazem com que a região central das cidades e os centros
urbanos sejam escolhidos para ações no campo da cultura. Um dos principais

56
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

é que grande parte da estrutura: salas de exposição, teatros, espaços para


shows, parques etc, estão situados em cidades maiores, nos bairros de maior
circulação de pessoas e de maior poder aquisitivo. A baixa estrutura para a
realização de eventos culturais nas áreas periféricas das cidades cria barreiras
para os produtores culturais. O mesmo acontece em cidades pequenas que
muitas vezes não contam com essa estrutura.

Outro motivo que corrobora para essa realidade é que o centro da cidade é um
espaço de mais fácil acesso via transporte público se comparado com bairros
mais afastados. Entretanto, mesmo as ações em espaços públicos centrais e que
não visam a cobrança de ingressos podem não ser tão acessíveis quanto parecem
em um primeiro momento. Precisamos considerar que tal acesso depende de
uma boa divulgação da programação, ou seja, acesso à informação. A questão do
acesso ao transporte, mesmo que as redes públicas se intensifiquem nas áreas
centrais, distancia pessoas em condições de precariedade econômica, para as
quais o preço do transporte público é uma barreira de acesso.

Do ponto de vista da divisão geográfica do país, as regiões Sudeste e Sul, respectivamente,


são as que mais concentram atividades e instituições culturais. Durante a gestão de
Gilberto Gil13 no Ministério da Cultura (2003-2008), foram realizados esforços para
democratizar a distribuição de recursos públicos para regiões menos privilegiadas.
Esse esforço histórico da gestão de Gil estava estruturado em medidas de curto,
médio e longo prazo. Por isso, medidas como editais para as áreas menos favorecidas
e distribuição de pontuação diferente14 em editais federais, foram adotadas.

Entretanto, para que as políticas iniciadas por Gil se efetivassem, seriam


necessários anos de investimento e foco nesse processo de descentralização. Dada
a descontinuidade de nossas políticas públicas para a área da cultura, bem como a
diminuição de recursos federais para a área, o projeto perdeu fôlego ao longo dos
últimos anos.

A falta de investimentos na área da cultura em cidades pequenas é histórica.


Nesses municípios a cultura ganha pouquíssima atenção em detrimento de
investimentos considerados mais importantes:

A maior parte das cidades brasileiras, que são pequenas e de


baixo índice de desenvolvimento social, mantém as práticas de
13 Gilberto Gil é um cantor, instrumentista e produtor cultural nascido em Salvador. Além do reconhecimento de sua obra
no Brasil e no exterior, Gil exerceu uma série de cargos políticos: foi vereador da cidade de Salvador de janeiro de 1989
até janeiro de 1993 e Ministro da Cultura de janeiro de 2003 até julho de 2008. Mesmo nos períodos em que teve cargo
político, Gil seguiu produzindo arte.
14 Aqui me refiro ao fato de que projetos de e para serem executados em munícipios e cidades fora do eixo Sul-Sudeste
passaram a receber uma pontuação maior do que aqueles dentro do eixo. Isso ocorreu para compensar o baixo acesso de
projetos dessas áreas ao fomento público.

57
UNIDADE I │ POLÍTICAS CULTURAIS

valorizar áreas que recebem mais recursos financeiros (como a


educação e a saúde) do governo federal estabelecidos por leis,
relegando o tema de cultura a segundo ou terceiro plano [...]
(SANTIAGO, 2018).

O baixo investimento de cultura dos pequenos munícipios e os poucos


projetos nacionais e estaduais para fomentar essas práticas dificultam a
descentralização das ações culturais. Por isso, é necessário um empenho
coletivo envolto em um plano nacional de cultura para que as áreas com
menores investimentos ganhem atenção.

Como pudemos observar ao longo desta unidade, pensar sobre


políticas culturais envolve reflexões interdisciplinares, estudos na área e
entendimento de diretrizes nacionais e internacionais. A pluralidade das
manifestações culturais nos exige uma postura aberta para a diversidade,
pois só assim as falsas dicotomias entre cultura erudita e popular poderão
ser superadas.

Os desafios que envolvem o campo da política cultural são muitos.


Falta um entendimento de sua importância por parte de governantes e
cargos de liderança. Seus efeitos positivos como inclusão social, geração
de conhecimento, de renda e de entretenimento, se fazem sentir com
maior ênfase nos grandes centros urbanos. É necessário que as políticas
culturais sejam descentralizadas e ganhem espaço nos munícipios mais
longínquos.

Neste último capítulo da Unidade I estudamos os seguintes aspectos:

» A área das políticas públicas é interdisciplinar e duas das ciências


que mais a alimentam são a Sociologia e a Antropologia.

» Dois conceitos antropológicos nos chamam para a reflexão


crítica sobre as culturas. O primeiro é o etnocentrismo – quando
uma cultura é colocada como superior a outra. O segundo é o
relativismo cultural, quando as culturas não são entendidas por
meio de hierarquias e juízos de valor, as diferenças são vistas
como parte da humanidade e somos capazes de nos colocarmos
no lugar do outro, ainda que façamos parte de culturas distintas.

58
POLÍTICAS CULTURAIS │ UNIDADE I

» A dimensão sociológica da cultura nos aproxima de questões


que envolvem o acesso do público aos produtos culturais, sua
circulação, a formação de plateia, dentre outros aspectos.

» Cultura popular é um conceito que articula as dimensões


sociológica e antropológica da cultura. O conceito refere-se às
culturas intimamente ligadas às suas comunidades de origem e
que engendram a formação da identidade local.

» O Brasil conta com muitos artistas ligados à cultura popular


espalhados por todas as regiões do país. Eles são conhecidos
como mestres e têm como meta preservar e difundir as culturas
das suas comunidades.

» Quando falamos de recepção da cultura precisamos compreender


que o espectador não é um mero receptáculo de informações,
mas um sujeito que interpreta a mensagem a partir de sua rede
de valor e referências pessoais.

» A descentralização da cultura é um dos maiores desafios que


enfrentamos na atualidade. As cidades grandes continuam sendo
as maiores produtoras e receptoras de projetos culturais. Já dentro
das próprias cidades, são os bairros centrais e com maior poder
aquisitivo os que centralizam as atividades ligadas à cultura.

59
POLÍTICA CULTURAL UNIDADE II
NO BRASIL

CAPÍTULO 1
A história das políticas públicas para a
cultura no Brasil

Até aqui analisamos a importância das políticas culturais e buscamos ferramentas


conceituais para balizar nossas reflexões. Nesta unidade nosso foco é compreender
como vem se dando o desenvolvimento das políticas culturais no Brasil desde um
ponto de vista histórico como também de uma perspectiva crítica.

Vamos percorrer os principais momentos em que o cenário político brasileiro


permitiu que políticas públicas e a legislação para a cultura fossem criadas.
Analisaremos como as mudanças impactaram a economia criativa e quais foram
os principais desafios da área em diferentes momentos históricos.

A década de 1930
A história das políticas públicas para a cultura no Brasil tem como um de seus
principais marcos a década de 1930, período em que diversos órgãos do Governo
Federal foram criados.

Em 1934, o então presidente Getúlio Vargas criou o Ministério da Educação e da


Saúde, o qual tinha como uma de suas agendas a institucionalização de políticas
para a cultura. Ainda que a cultura não tivesse o seu próprio ministério 15, como
veio a ocorrer anos depois, a institucionalização de políticas para a área foi um
avanço importante e significou a importância da cultura no contexto da política
nacional.

No âmbito municipal, no ano seguinte, em 1935, foi criado o Departamento


de Cultura e Recreação da cidade de São Paulo que mais tarde se tornaria a

60
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

Secretaria Municipal de Cultura. O departamento foi pioneiro e importante


para outras cidades que procuravam exemplos de iniciativas na área.

Foi o escritor e pesquisador Mário de Andrade que assumiu esse importante


cargo que viria a ser disseminado nos anos seguintes para outras cidades
brasileiras. Andrade foi uma figura central para o desenvolvimento das artes e
da cultura no Brasil. Participou da Semana de Arte Moderna de 1922 16 e publicou
o livro Paulicéia Desvairada, de 1922. Enquanto artista e pesquisador ele tinha
uma visão especializada sobre as necessidades e possibilidades para a área da
cultura no país.

Em 1936, Andrade auxiliou Gustavo Capanema, ministro do governo de


Getúlio Vargas a desenvolver e implementar o Serviço do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Sphan) (DIAS DA SILVA, 2014). Andrade fez
parte, junto com Tarsila do Amaral e o escritor francês Blaise Cedrars de uma
viagem por Minas Gerais que veio a ser conhecida como a redescoberta do
Brasil por conta do seu caráter investigativo e de registro do patrimônio da
arte Barroca (CORTEZ, 2010). Naquele período, por conta da valorização de
obras acadêmicas ligadas à tradição do Neoclassicismo europeu, o Barroco
mineiro estava esquecido e necessitava de políticas de preservação. A partir
de uma série de viagens de Mário de Andrade, artistas e pesquisadores da
época, o Barroco ganhou destaque e foram criadas políticas específicas para
a sua preservação.

Hoje o Sphan que Mário de Andrade ajudou a idealizar é o Iphan (Instituto


do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), responsável pela preservação
do patrimônio histórico e artístico nacional. Ao longo de toda a sua vida o
artista e pesquisador teve uma relação profunda com o órgão e acompanhou o
seu desenvolvimento. Andrade ficou para a história como um grande artista,
mas também como um hábil político e articulador que transformou a cena
nacional.

As instituições aqui mencionadas se modernizaram nos anos seguintes e


incorporaram novas demandas. Grande parte das iniciativas públicas para a
cultura no século XX estiveram relacionadas ao crescimento das cidades e à
elaboração de políticas de conservação e restauração de patrimônio cultural.
À medida que as cidades se modernizavam e se expandiam fazia-se necessário

16 A Semana de Arte Moderna de 1922 foi criada no contexto do crescimento do capitalismo no Brasil e a grande influência
que a arte modernista produzida na Europa exercia junto aos artistas brasileiros. Na época, a arte do século XIX era
valorizada no Brasil e o grupo de artistas da Semana tinha como objetivo transformar essa realidade e abrir caminho para
um novo senso estético. Participaram do evento: Manuel de Barros, Villa-Lobos, Graça Aranha, Mário de Andrade, Anita
Malfatti, entre outros.

61
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

também a criar de uma estrutura que representasse essa amplitude. Com isso
veio a construção de teatros locais, salas de cinema e museus.

Segundo Dias da Silva (2014), entre as décadas de 1930 e 1980, entre


continuidades e rupturas, é possível notar uma tendência de responsabilização
do Estado perante os mais diversos âmbitos culturais brasileiros e com isso
a criação de instâncias públicas gestoras da cultura nacional. Ou seja, houve
uma preocupação por parte do governo em encontrar formas de fomentar,
regulamentar, proteger e compreender as culturas do nosso país. Podemos
dizer também que entre as décadas de 1930 e 1980 houve um trabalho em
direção de alinhar as políticas culturais à criação e difusão de identidades
nacionais e locais.

É no final do século e no período de redemocratização do Brasil que políticas


mais amplas de incentivo à cultura e a expansão dessas iniciativas em território
nacional, ocorreram. A partir dos anos 1980 entramos em uma outra fase,
ligada à criação de leis e ao estreitamento da relação público-privado.

Os anos de 1980
Demos um salto para a década de 1980, pois esta foi palco da reestruturação
das políticas nacionais para a cultura e uma maior profissionalização da área.
Durante anos, profissionais ligados à área da cultura lutaram para que esta
tivesse maior protagonismo no governo federal e, foi durante o governo de José
Sarney 17, que obtiveram essa conquista.

O Ministério da Cultura (MinC) foi criado durante o Governo Sarney (1985-1989). A


criação do ministério, durante o período de redemocratização do Brasil, foi importante
por reconhecer a importância das mais diversas áreas da cultura em um país que
procurava se reconstruir ao deixar para trás anos de uma ditatura militar18. Além
disso, simbolicamente, foi significativo o posicionamento da cultura enquanto um
setor independente da educação já que durante muitos anos essas duas áreas foram
percebidas como análogas.

A criação de um ministério específico para a cultura foi um marco importante em


nosso país, pois, além dos pontos levantados acima, podemos compreender que
o foco na cultura é também a busca por uma identidade nacional que se percebe
17 José Sarney foi o primeiro presidente civil após anos de ditadura militar no Brasil. Ele assumiu o governo interinamente
em 1985 devido à doença de Tancredo Neves. Após a morte de Tancredo Neves, assumiu o cargo em definitivo, no qual
permaneceu até 1990.
18 Regime iniciado em 1964 e perpetuado até 1985, composto por uma série de golpes que resultaram em um governo
liderado por militares e estruturado sem eleições livres. No que tange a produção cultural, foi uma época marcada pela
censura a qual causava uma série de restrições criativas.

62
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

nas mais variadas manifestações e linguagens. Portanto, o fortalecimento da


área em um momento em que o país saía de um período de ditadura militar,
foi significativo e representou um passo rumo à liberdade de criação de nossos
artistas.

Se na atualidade ouvimos falar constantemente de leis destinadas à área da


cultura, foi nos anos 1980 que a primeira lei de incentivo fiscal à cultura foi
criada. A Lei Federal n o 7505, conhecida como Lei Sarney, tinha como objetivo
incentivar os investimentos do empresariado no setor cultural.

A Lei Sarney era um mecanismo de financiamento das atividades


culturais por meio da concessão de incentivos fiscais aos
contribuintes do Imposto de Renda que decidissem incentivar
projetos culturais mediante doação, patrocínio ou investimento.
Apesar de seus resultados quantitativos não terem sido divulgados
devidamente nem avaliados com rigor, de acordo com Santa Rosa
(1991), ela foi fundamental para o processo de reaquecimento
cultural do País no período de sua existência (1986- 1989), apesar
de todas as suas imperfeições. Estima-se que foram gastos cerca
de US$ 450 milhões em apoio à arte e à cultura no País, dos quais
US$ 112 milhões correspondem ao incentivo fiscal e o restante à
contrapartida dos patrocinadores (SESI, 2007, p.18).

A lei foi pioneira e sustentou propostas similares nos anos seguintes tal
como a lei Rouanet e a atual Lei de Incentivo à Cultura. Apesar dos seus
pontos positivos e pioneirismo, sua principal falha era de não demandar
análise técnica dos projetos antes da sua aprovação. Ou seja, os produtores
e patrocinadores decidiam diretamente qual projeto seria aplicado e como
os procedimentos seriam realizados sem a necessidade de que os projetos
passassem por qualquer banca ou curadoria. Com isso, as fraudes, emissões
de notas fiscais fraudulentas e a não realização completa de projetos poderiam
acontecer (SESI, 2007, p.18).

Por conta dos problemas citados, a Lei Sarney foi revogada nos anos 1990 pelo
governo de Fernando Collor de Mello 19 (1990-1992) em meios às suspeitas
que nela recaíam por conta da fragilidade de seu sistema. Naquele contexto,
um cenário cada vez mais crítico de crise econômica de expandia, fator que
contribuía para que a área da cultura fosse colocada em segundo plano. Com

19 Fernando Collor de Mello foi eleito presidente do Brasil em 1990. Renunciou dois anos depois em meio a um pedido de
Impeachment e manifestações das ruas que se espalharam por todo o Brasil. Nos anos seguinte sua carreira política teve
continuidade sendo eleito senador por Alagoas por diversos mandatos.

63
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

isso, a década de 1990 foi um período de perdas para a cultura, mas também de
amadurecimento e reflexão.

A década de 1990
Durante a década de 1990 temos o início de um novo ciclo caracterizado
pelo desmonte de diversas estruturas governamentais formadas em anos
anteriores. Parte da estruturada criada para a cultura foi dissolvida em meio
ao entendimento de que o Estado deveria se distanciar das questões culturais.
Imperava o entendimento de que o Estado não deveria gerir a área, ainda que
a Constituição Federal deixasse claro a importância da atuação do Estado
para a proteção das culturas nacionais. Um fato simbólico desse período foi
a dissolução do Ministério da Cultura, ação que retirou a cultura do primeiro
escalão do governo federal.

Conforme mencionado anteriormente, o presidente Fernando Collor havia


acabado com a Lei Sarney e com isso, os incentivos para a cultura a partir do
apoio do governo federal ficaram escassos. Coube aos estados e municípios
encontrarem meios de suprir algumas das demandas para a área. Esse momento
de crise veio com a criação de soluções e iniciativas locais.

Em 1991, a cidade de São Paulo criou a Lei Mendonça (Lei n o 10.923/1990), a


qual se tornou referência para que outras cidades desenvolvessem suas próprias
leis. A Lei Mendonça funcionava a partir de deduções do Imposto sobre a
Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU) e do Imposto sobre Serviços
(ISS). A iniciativa consolidou a cidade de São Paulo como referência para a
cultura em território nacional.

A ausência de mecanismos de incentivo vindos do governo federal e as pressões dos


agentes da cultura fizeram com que o governo Collor criasse também, no início dos
anos 1990, a lei Rouanet (Lei no 8.313/1991).

Criada pelo diplomata Sergio Paulo Rouanet que, na época ocupava o cargo de
Secretário de Cultura da Presidência da República, a lei resolveu os problemas da
Lei Sarney e estabeleceu instrumentos mais rigorosos e modernos:

Esta lei introduziu a aprovação prévia de projetos por parte de uma


comissão formada por representantes do governo e de entidades
culturais. Criou um conjunto de ações na área federal, chamado
de Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), que recuperou

64
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

e ampliou alguns mecanismos da Lei Sarney, ao estabelecer os


seguintes instrumentos de fomento a projetos culturais: Fundo
Nacional da Cultura (FNC), Fundos de Investimento Cultural e
Artístico (Ficart) e Incentivo a Projetos Culturais (Mecenato) (SESI,
2007, p.19).

Conforme você pode perceber, a Lei Rouanet tinha uma estrutura complexa que
conectava estruturas com prerrogativas distintas. Vamos nos aprofundar no
significado de cada uma das instâncias e siglas citadas acima?

Fundo Nacional da Cultura (FNC) – Segundo o site do governo federal para


as leis de incentivo à cultura:

O Fundo Nacional da Cultura representa o investimento direto


do Estado no fomento à Cultura. Nele, o apoio a projetos é feito
mediante a aplicação direta de recursos do orçamento da União
em projetos específicos, selecionados, principalmente, por meio de
editais. O apoio via FNC promove uma distribuição dos recursos
de forma mais equilibrada entre as diferentes regiões do país. A
parcela do orçamento destinada ao Fundo, entretanto, é alvo de
constantes contingenciamentos (quando a destinação de recursos
para determinado Fundo ou setor é adiada ou deixa de acontecer por
conta da insuficiência de receita ou da destinação da mesma para
outra área estratégica) (fonte: leideincentivoacultura.cultura.gov.
br/o-que-e/).

Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) – Segundo o site do


governo federal para as leis de incentivo à cultura:

Os Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) são fundos


de captação no mercado, idealizados para apoiar projetos culturais
de alta viabilidade econômica e reputacional. No mecanismo, o
financiamento do projeto cultural prevê lucro para o investidor. O
Ficart, apesar de previsto na legislação que instituiu o Pronac, não
foi implementado (fonte: leideincentivoacultura.cultura.gov.br/o-
que-e/).

Incentivo a Projetos Culturais (Mecenato) – O IPEA define mecenato como:

O mecenato é definido como apoio econômico, por parte de


pessoas ou instituições, particulares ou públicas, a produtores
culturais, para a produção de obra ou atividade cultural. Pode ser
total ou parcial, pode custear as necessidades vitais do artista ou

65
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

produtor, ou mesmo ter como objeto a produção de obra, sistema


de obras ou eventos (IPEA, 2007, p. 202).

Uma das principais críticas de agentes do campo da cultura à Lei Rouanet é sobre
o fato dela nunca ter sido completamente empregada e, ainda sim, ter sofrido
transformações ao longo dos anos. Ou seja, antes mesmo de ter sido colocada
completamente em prática já foi reformulada.

A parte que mais conhecemos da Lei Rouanet é a que se refere ao Mecenato,


ou seja, relacionada ao apoio direto do setor privado. Os fundos que foram
previstos com ela não foram constituídos em sua integralidade e sofrem
constante contingenciamento. Com isso, uma lei tão importante para a
cultura e a economia criativa acabou não sendo implementada em sua
totalidade de maneira que muitas das críticas que recaem sobre ela estão
de fato relacionadas a sua fragmentação. Ainda assim, sua importância é
amplamente exaltada conforme nos explica Sergio Ajzenberg, fundador da
produtora cultural Divina Comédia:

É uma lei que teve uma importância enorme no desenvolvimento


da cultura no Brasil nos últimos anos, de maneira clara e
incisiva, pois criou uma indústria cultural; uma indústria
do cinema, de musicais, um mercado de técnicos, músicos e
orquestras extraordinárias. Formalizou milhares, talvez milhões
de empregos. Possibilitou que a cultura saísse do patamar do
holístico, do pertencimento da população e fizesse parte da
economia, com participação nos PIBs das cidades, dos estados
e do Brasil – o que chamamos de economia criativa. Isso com
um benefício fiscal razoavelmente baixo, em relação a todos os
benefícios fiscais no Brasil. Temos R$ 312 bilhões de renúncia
fiscal e o volume da Lei Rouanet varia entre 900 milhões e R$1,2
bilhão (ROCHA, 2019).

Embora a Rouanet tenha ampliado o campo da cultura e gerado inúmeros


benefícios ao longo das últimas décadas, o fato dela seguir calcada no mecenato
fez com que os projetos apoiados estreitassem sua relação com o marketing
cultural. Cultura e marketing têm uma longa história que foi solidificada a
partir dos anos 90. Vamos acompanhar essa trajetória?

66
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

A popularização do marketing cultural nos anos


1990

A partir de sua criação no Governo Collor, a Lei Rouanet se consolidou ao


longo dos anos como o principal mecanismo para fomento da cultura no Brasil.
Uma das soluções encontradas durante o governado do presidente Fernando
Henrique Cardoso (FHC) para fomentar a área da cultura foi fortalecer
investimentos de grandes empresas no setor. Por isso o governo federal deu
grande foco para as leis de incentivo fiscal, as quais, como pudemos observar,
relacionam-se com estratégias de marketing cultural.

Não coincidentemente, foi no mandato de FHC que o conceito de marketing


cultural se popularizou (DIAS DA SILVA, 2014). O marketing cultural, ou
seja, a divulgação de empresas via ações e produtos do campo da cultura, se
tornou um dos principais mecanismos de divulgação de empresas brasileiras
que encontraram nas ações do campo da cultura uma boa oportunidade para
fortalecer suas marcas.

Por isso, durante os anos 1990 e início dos anos 2000, muitas empresas
brasileiras criaram setores exclusivos para lidar com esse aspecto. Todos
queriam dedicar parte de seus impostos para a área da cultura, já que dessa
maneira ganhavam atenção do público de forma bastante positiva, aliada a
artistas reconhecidos e projetos de interesse de grande parte da população.

Ao mesmo tempo em que essas ações ganharam grandes dimensões, a


popularização da estratégia do marketing cultural via lei de incentivo fiscal
criou alguns problemas para o campo da cultura. Um dos principais foi a
relação direta estabelecida entre produção cultural e propaganda, ou melhor,
entre produtos culturais e empresas privadas. Mas você deve estar pensando:
se as empresas querem incentivar a cultura de que maneira essa relação pode
ser prejudicial?

É evidente que, para ser patrocinado por uma empresa privada, o projeto precisa
ter apelo direto aos interesses dela ao mesmo tempo em que deve demonstrar
grande capacidade de abrangência de público. Quanto mais popular o projeto,
mais facilmente a empresa consegue divulgar a sua marca.

Por isso, uma das principais críticas desse mecanismo de fomento de produção
cultural é que por vezes perde-se a dimensão da cultura enquanto conhecimento
e a concepção enquanto entretenimento impera.

67
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

Explicando um pouco melhor, essa estratégia de fomento tende a beneficiar


projetos de leitura mais fácil e ampla pelo público deixando de lado projetos
complexos e que lidam com temas difíceis de serem debatidos em nossa
sociedade. Você já pode imaginar como essa relação restringe as possibilidades
dos artistas e produtores culturais, não é mesmo?

Um segundo ponto que é pensado de maneira crítica é o fato do Estado terceirizar a


responsabilidade pelo fomento à cultura. Ainda que as leis de incentivo fiscal tenham
acompanhamento por parte do Estado já que é este que recebe, faz a triagem e seleciona
os projetos que podem ser apoiados, a execução deles passa a ser de responsabilidade
de interesses privados.

Com isso, o Estado é eximido da criação mais direta e objetiva de políticas


para a cultura assumindo o papel de uma espécie de facilitador. Em um certo
sentido é possível afirmar que as empresas privadas passaram a construir
parte das políticas culturais do país tendo o Estado como um dos seus
principais financiadores. Também é possível afirmar que, a longo prazo, esse
tipo de ação impede que políticas de longa duração e de continuidade sejam
elaboradas. Projetos mais relacionados às comunidades e intimamente ligados
à cultura popular, bem como aqueles que debatem questões polêmicas e de
justiça social seguiram demandando atenção do poder público e, com essa
relação consolidada entre empresas privadas e agentes da cultura, ficaram
em segundo plano.

Conforme você pôde observar, o marketing cultural está imerso em


relações conflituosas que demandam atenção constante dos envolvidos.
Quer aprender um pouco mais sobre esse setor? Acesse o portal Marketing
cultural reúne artigos, dicas e oportunidades do setor. É uma excelente
fonte de informação e atualização:

marketingcultural.com.br.

O Sebrae acompanha empreendedores de diferentes áreas em suas


jornadas. A área do marketing cultural é abordada pelo órgão na forma
de cursos, textos críticos, entre outros. Confira uma matéria cheia de
dicas elaborada por eles:

www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/bis/50-dicas-de-marketing-cultural,4
79b43f87dc17410VgnVCM1000003b74010aRCRD.

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POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

Os anos 2000 e o ministério de Gilberto Gil


Os anos 2000 são cenário de uma série de altos e baixos relacionados ao
desenvolvimento e à ampliação das políticas culturais brasileiras. Durante o
primeiro mandato do governo de Luiz Inácio Lula da Silva, o então ministro
Gilberto Gil traçou uma série de políticas que visavam ampliar o campo de
alcance dos projetos culturais e das políticas públicas para a cultura.

Algumas das principais preocupações da gestão do ministro foi a de atingir


lugares até então esquecidos pelo Estado ao mesmo tempo em que questões
de políticas identitárias passaram a fazer parte das pautas do Ministério
da Cultura. Você se lembra que na primeira unidade discutimos sobre a
importância da descentralização das ações no campo da cultura? Esse foi um
tópico central da gestão.

O MinC passou a pensar seus editais e ações nacionais para atingir os mais
diferentes estados brasileiros, valorizando a cultura de cada uma dessas áreas e
também tendo a consciência que grandes centros urbanos e sobretudo a região
Sudeste do Brasil havia tido, até então, grandes privilégios na captação de
recursos para a cultura.

O fato do Sudeste ter historicamente mais acesso a esses recursos financeiros


está relacionado ao fato de ser a região mais industrializada do país e por isso
contar com um grande número de empresas privadas, estrutura adequada,
concentração de capital e um público com poder aquisitivo capaz de consumir e
fomentar a cultura. O Minc entendeu que todos esses privilégios da região não
poderiam ser naturalizados, mas deviam ser vistos de maneira ponderada e em
direção da criação de estratégias de transformação.

Quando falamos que o MinC passou a se preocupar com questões identitárias


quer dizer que a percepção de cultura do ministério foi bastante ampliada se
comparada com governos anteriores. Questões como as identidades culturais
locais, raça, etnia, produção das mulheres, de povos indígenas, foram pensadas
como parte de uma reflexão urgente que precisava ser feita em relação a nossa
cultura.

Com isso, na gestão de Gilberto Gil foram criadas diversas áreas no MinC
que tinham como objetivo construir políticas culturais específicas. Algumas
das secretarias criadas foram: a de Políticas Culturais, Fomento e Incentivo
à Cultura, Programa e Projetos Culturais, Audiovisual e de Identidade e
Diversidade (DIAS DA SILVA, 2014). Essas secretarias desenvolveram

69
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

projetos em consonância aos seus interesses os quais foram mediados por


meio de editais, prêmios, entre outros.

Durante o período em que Gil foi ministro, o Ministério da Cultura procurou


diversificar a sua atuação e criar mecanismos de fomento alternativos às leis de
incentivo fiscal. Por isso, naquele período pudemos observar uma profusão de
editais de financiamento direto para projetos, ou seja, editais que não dependiam
da captação de recursos junto à iniciativa privada, mas que tinham recursos
advindos de Fundos de Cultura.

Qual é a vantagem e a importância de fomentos financeiros diretos para a cultura


(via fundos) e que não precisam de captação de recursos junto à iniciativa
privada? O fato é que esse é o principal caminho para que projetos que lidam
com questões não comerciais e de jovens criadores ganhem apoio e incentivo já
que, tradicionalmente, não são capazes de atrair a atenção de grandes empresas.
Conforme foi argumentado anteriormente, dificilmente uma empresa de grande
porte vai apostar suas fichas e relacionar sua marca com profissionais em início
de carreira.

De acordo com o que estudamos até aqui, os caminhos do desenvolvimento


de políticas para a cultura são complexos e tortuosos. Entre governos que se
comprometem menos ou mais com a área e crises financeiras que jogam o
campo da cultura para segundo plano, temos uma série de descontinuidades que
enfraquecem a profissionalização e a ampliação da economia criativa. Em anos
recentes, a área vem enfrentando novos desafios sobre os quais falaremos mais
adiante. Antes disso analisaremos a construção do Plano Nacional de Cultura
(PNC) criado a partir de 2010.

A construção do Plano Nacional de Cultura

A construção do Plano Nacional de Cultura (PNC) foi realizada entre 2003 e 2010.
Inicialmente, seminários sobre cultura foram encabeçados pelo governo federal
e em seguida foi dado início às Conferências de Cultura. As conferências – que
ocorreram ao longo dos anos – foram organizadas em nível municipal, estadual
e nacional. Em cada encontro representantes de diversas áreas da cultura eram
escolhidos e textos coletivos sobre o resultado dos debates redigidos.

A partir dos encontros das Conferências de Cultura e ações como a realização de


pesquisa sobre a área da cultura e mapeamentos, foi construído o Plano Nacional
de Cultura o qual foi oficializado pela Lei 12.343/2010.

70
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

É a partir do Plano que, em tese, os governos encontram diretrizes


para uma política de Estado na área cultural. Reconhecer e
valorizar a diversidade cultural, étnica e regional brasileira;
proteger e promover o patrimônio histórico e artístico, material
e imaterial; valorizar e difundir as criações artísticas e os bens
culturais estão entre os 16 objetivos do PNC (SEGANFREDO,
2019).

O PNC oferece diretrizes e metas para que governos locais construam suas
políticas para a cultura. O objetivo é que os interesses regionais se conectem a
partir de um eixo nacional e que estados e municípios componham estruturas
de organização da administração pública da cultura que dialoguem entre si.

Diversas metas foram construídas para serem atingidas em 10 anos, limite da


validade do plano que, após dezembro de 2020 poderá sofrer alterações. Essas
metas são monitoradas pelo governo federal ao passo que todas as instâncias
governamentais devem construir caminhos para que elas sejam atingidas.
Algumas das metas são:

» Sistema Nacional de Cultura institucionalizado e implementado, com


100% das unidades da federação (UF) e 60% dos municípios com
sistemas de cultura institucionalizados e implementados.

Para que essa meta seja alcançada os estados e municípios devem


assinar um Acordo de Cooperação Federativa e construir um sistema
de cultura constituído pelas seguintes partes: secretaria de cultura ou
órgão equivalente; conselho de política cultural; conferência de cultura;
plano de cultura; e sistema de financiamento à cultura com existência
obrigatória do fundo de cultura.

» Política Nacional de proteção e valorização dos conhecimentos e


expressões das culturas populares e tradicionais implantadas.

Isso significa que estados e municípios precisam criar leis de proteção


à cultura popular e tradicional.

» Aumento de 95% de emprego formal no setor.

Nos próximos anos, o monitoramento das metas do PNC, a revisão


delee uma nova Conferência de Cultura fornecerão as ferramentas
para que este seja rediscutido.

71
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

Acompanhe o PNC a partir de suas diretrizes, estratégias, metas e


monitoramento. Neste site você encontra todas essas informações:

pnc.cultura.gov.br.

Desafios contemporâneos para as políticas


culturais
Após um período de estruturação e avanços no campo da cultura tivemos,
durante o primeiro mandato do governo de Dilma Rousseff 20 (2011-2016),
a manutenção e continuidade das políticas culturais dos anos anteriores.
Entretanto, no seu segundo mandato, em um contexto de aprofundamento
da polarização do país e agravamento da crise financeira, os instrumentos
de incentivo tiveram uma rarefação de recursos. Com o impeachment de
Rousseff e o início do governo de Michel Temer 21 (2016-2019), grande parte
dos projetos federais realizados via fundos de cultura não foram renovados.

No início de 2019, o governo federal, encabeçado pelo presidente Jair


Bolsonaro 22 , anunciou o fim do Ministério da Cultura (Minc), incorporado
ao recém criado Ministério da Cidadania. A decisão, tomada em meio a uma
série de protestos, colocou mais uma vez a área da cultura em um espaço de
pouca visibilidade e prioridade.

Ainda em 2019, Bolsonaro publicou uma Instrução Normativa que alterou a


Lei Rouanet. A primeira mudança foi em seu nome que passou a ser Lei de
Incentivo à Cultura. O teto dos valores a serem captados foi reduzido de 60
milhões para 1 milhão por projeto. A área mais afetada por essa mudança foi o
teatro, mais especificamente o teatro musical. As demais áreas não sofreram
um grande impacto e diversos tipos de projeto como aqueles voltados para a
criação de programação de instituições, para museus, equipamentos culturais,
entre outros, não foram alterados (ROCHA, 2019).

Agentes do mundo da cultura criticaram algumas das alterações, como o fato


de agora ser exigido um percentual de gratuidade para 40% dos ingressos. Eles
afirmam que somado aos ingressos de meia entrada, o percentual distribuído
a patrocinadores e à imprensa, essa mudança vai gerar um aumento do valor
da entrada cheia.

Outros destacam a mudança positiva que envolve o fato de a nova lei


preocupar-se ainda mais com a formação de plateia, essencial em um
país com pouca tradição de consumo de cultura como o Brasil (ROCHA,
2019). As mudanças nas leis são recentes e, por isso, seu impacto não pode

72
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

ser determinado no momento. Enquanto isso, profissionais da cultura


adaptam-se às mudanças e criam estratégias para lidar com o novo cenário.

Muitas são as incertezas para a cultura e a economia criativa que, mesmo


ocupando um espaço importante na economia brasileira, não gozam de amplo
reconhecimento da sociedade e dos governos. Ainda assim, a área segue
atuante e luta pela manutenção dos avanços conquistados no decorrer dos
anos. Paralelo às políticas públicas, a profissionalização da área da cultura é
um dos principais caminhos a serem seguidos para que o campo se fortaleça.

A importância da profissionalização da cultura na


contemporaneidade

Profissionalizar a cultura traz diversos benefícios sociais. Considerando


que o universo da cultura envolve agentes culturais, gera renda, movimenta
a economia, cria laços e significados, alguns dos benefícios de uma maior
profissionalização da área são:

» Fim da política de balcão. Conhecida pelo estabelecimento de


relações pessoais entre aqueles que buscam recursos para projetos
e agentes do governo. A maior profissionalização da cultura
estabelece relações que passam por editais transparentes por meio
dos quais é possível acompanhar os valores e a distribuição dos
recursos públicos.

» Distribuição de gestores adequados para suas áreas de atuação.


Com uma percepção de que cultura é uma área de segundo plano,
é comum que governos dirijam profissionais pouco adequados
para ocuparem cargos na área. Não é incomum vermos alocados
para a área da cultura funcionários públicos que não se adaptaram
em outros setores. A profissionalização da atuação na área da
cultura traz em seu bojo uma maior exigência em relação à atuação
profissional dos agentes envolvidos.

» Organização da administração pública da cultura visando uma boa


gestão e distribuição responsável dos recursos. Uma gestão feita
por profissionais experientes também significa a melhor gestão de
recursos financeiros.

» Organização de conselhos de cultura em nível municipal, estadual


e federal capazes de produzir informação e direcionamento para a

73
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

criação de políticas públicas para a área da cultura. Os conselhos


são ferramentas que profissionalizam a gestão pública da cultura,
pois são estruturados ao redor de debates amplos e democráticos a
partir da vivência, experiência e conhecimento do campo das artes
dos agentes envolvidos.

74
CAPÍTULO 2
Estratégias de apoio e difusão da
cultura

Leis de incentivo fiscal


As Leis de Incentivo Fiscal trabalham a partir dos impostos devidos por pessoas
físicas e jurídicas. Essas podem optar por destinar parte desses impostos para
projetos culturais previamente aprovados por bancas formadas por profissionais
da área. De uma maneira geral, leis de incentivo podem ser entendidas como:

As Leis de Incentivo são uma espécie de renúncia fiscal criada pelo


poder público. Isto é, tem o objetivo de estimular o investimento,
crescimento ou geração de empregos de um determinado
setor, promovendo seu desenvolvimento social e econômico.
Em resumo, o governo abre mão de recursos que receberia por
meio de impostos. Dessa forma gera incentivos para a cultura, o
esporte, a saúde e o desenvolvimento social (ASID, 2019).

As Leis de Incentivo, como o próprio nome já diz, funcionam como


incentivadoras de projetos. Elas não são o único recurso desses projetos e
a cadeia econômica que geram vai muito além do valor movimentado pelos
impostos. Assim, como outros setores da economia fazem uso de benefícios
econômicos governamentais, as leis de incentivo são ferramentas importantes
para respaldar as produções culturais.

Ainda que a escolha sobre o destino de parte dos impostos devidos parta
diretamente dos apoiadores, os projetos não podem ser escolhidos aleatoriamente
por eles e precisam estar aprovados previamente junto aos órgãos competentes.
Conforme estudamos ao longo deste texto, existem comissões julgadoras que
emitem pareceres e aprovam os projetos. Elas analisam as propostas do ponto
de vista do seu conteúdo como também da sua formatação técnica.

Toda lei de incentivo fiscal tem uma equipe fiscalizadora que, em um segundo
momento, na etapa da prestação de contas do projeto, verifica se todas as
etapas do projeto foram devidamente seguidas durante a sua execução e se o
dinheiro foi gasto de forma responsável e dentro das regras estipuladas em
edital.

75
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

As leis de incentivo fiscal existem no âmbito municipal, estadual e federal.


Isso não quer dizer que todo estado e município tenham suas próprias leis
já que isso depende do interesse político e da possibilidade de cada local.
Conforme apresentado na primeira unidade, munícipios pequenos e de porte
médio muitas vezes não contam com políticas públicas próprias para a área
da cultura. Ainda assim, o Sistema Nacional de Cultura vem trabalhando para
que planos de incentivo à cultura sejam desenvolvidos em um maior número
de munícios e as leis de incentivo podem ser um dos caminhos adotados.

O fato é que todo estado e município pode criar seus próprios mecanismos
de fomento à cultura baseados na conversão de parte de seus impostos para
projetos culturais que serão beneficiados via leis, editais, chamadas abertas
etc. É importante notar que, por isso, estados e municípios com mais estrutura
e que recolhem mais impostos são os que encontram mais facilidade em criar
suas próprias estratégias de fomento.

No âmbito federal temos um marco importante no que concerne os programas


de incentivo à cultura. A Lei n o 8.313, de 23 de dezembro de 1991, instituiu o
Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac). O Pronac é responsável por
três linhas de atuação: Incentivo à Cultura, Fundo Nacional de Cultura (FNC)
e os Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficarts). Cada um desses
mecanismos do Pronac tem a sua própria razão de ser e especificidades. Nessa
sessão focaremos na Lei de Incentivo à Cultura. Discutiremos o FNC e o Fincarts
na próxima sessão, quando focaremos mais especificamente nos fundos de
incentivo à cultura.

A Lei de Incentivo à Cultura (antiga Lei Rouanet) é uma das mais amplamente
reconhecidas pois apoia uma série de projetos nacionais e de grande
circulação. Ainda que envolta em polêmicas, muitas das quais causadas pelo
desconhecimento do público sobre o seu funcionamento 23, na atualidade, a Lei
de Incentivo à Cultura é uma das principais responsáveis pela existência das
produções culturais brasileiras.

Como você pode observar, o acesso a recursos via Lei de Incentivo à Cultura é
feito de maneira bastante complexa, controlada e fiscalizada. É por conta da
série de especificidades que circundam a elaboração, envio, execução e prestação
de contas desses projetos que temos a profissionalização dos trabalhadores
especializados nesse tipo de incentivo.

A Secretaria Especial da Cultura do governo federal tem um site que


explica em detalhes o funcionamento da Lei de Incentivo à Cultura

76
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

federal. Explore as abas e fique mais informado sobre esse universo.


Acesse:

leideincentivoacultura.cultura.gov.br.

Fundos de incentivo à cultura


Os fundos de incentivo à cultura são fundos financeiros cujos recursos são
destinados à área da cultura. Esses fundos, que também podem ser municipais,
estaduais ou federais, trabalham de maneira diversa ao modelo de mecenato
das leis de incentivo fiscal, pois não dependem da captação de recursos de
empresas privadas.

Os fundos funcionam a partir de verbas destinadas diretamente para a cultura,


as quais são disponibilizadas diretamente aos proponentes dos projetos
classificados e selecionados. Essas verbas são oriundas do orçamento anual dos
governos federal, municipal ou estadual. Por isso, os fundos de cultura existem
apenas quando as instâncias governamentais acreditam que a cultura é um
espaço de investimento importante por parte do Estado.

Em âmbito federal, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) é responsável pela


destinação direta de recursos.

é o fundo que repassa recursos de forma direta para projetos que


foram selecionados por meio de diversos editais, a exemplo dos
prêmios oferecidos pela Funarte (Fundação Nacional das Artes),
o edital de intercâmbio do Ministério da Cultura, dentre outros
(SEBRAE, 2014, p.96)

A distribuição dessas verbas é mais comumente realizada a partir de editais


públicos de ampla concorrência, redigidos por comissões e aprovados em
audiências públicas. Os editais estabelecem os critérios de seleção e o formato
que o projeto deve seguir e ser apresentado. Após enviados pelos proponentes,
os projetos são julgados por uma banca formada por profissionais da área que
os analisam por meio de critérios técnicos e de mérito.

Essas bancas observam diversos aspectos do projeto que vão desde a forma
do projeto, que deve estar de acordo com as normas especificadas pelo edital,
até a relevância dos temas abordados e a viabilidade da sua execução. Aqui é
importante que a pessoa que está propondo o projeto esteja atenta a tudo o
que está escrito no edital, como cada área do formulário deve ser preenchida,

77
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

quais informações não podem faltar etc. Na Unidade IV vamos abordar todas as
etapas de execução de um projeto cultural em detalhes. Por hora, nos deteremos
em uma visão mais geral desse processo.

O conteúdo, a ideia central, a relevância para as discussões contemporâneas e a


criatividade dos projetos também são avaliados pela banca. Neste caso estamos
falando de uma análise mais subjetiva, mas também de uma análise sobre o
fato da proposta estar relacionada com temas de relevância sociocultural e/ou
aquelas apontadas pelo texto do edital. Note como chamadas de projetos via
fundos de cultura são poderosas no sentido de que podem trazer à tona questões
contemporâneas e de interesse social.

Outro ponto analisado pelas comissões julgadoras é a parte de documentação.


Para que proponentes de projetos e produtores culturais tenham acesso a
recursos públicos de fundos de cultura, eles precisam estar em dia com as suas
obrigações enquanto cidadãos. Isso significa, via de regra, que não podem estar
devendo impostos ou ter qualquer dívida junto aos órgãos competentes.

As duas fases de análise documental mais tradicionais são: 1) relacionada


com a fase da inscrição, verifica-se se todos os documentos pedidos no edital
estão anexos ao projeto. Alguns dos documentos mais comuns nessa fase são
os currículos dos participantes da equipe principal do projeto, documento de
identidade, entre outros; 2) documentos do responsável pelo projeto que, como
mencionado, precisa estar com todos os seus impostos regularizados. Qualquer
pendência pode significar a desclassificação do projeto.

Como você pode observar, assim como as leis de incentivo fiscal, os fundos de
cultura trabalham de maneira bastante rígida e o profissional que deseja obter
seus recursos precisa trabalhar de maneira organizada e com profissionalismo.

Leis, fundos, editais e transparência


Tendo em vista que estamos falando de dinheiro público, o acesso e,
posteriormente, a prestação de contas do projeto precisam ser realizados de
maneira transparente. Por isso é que os editais públicos demandam que sejam
seguidas diversas etapas e que em todas elas as informações sejam encontradas
e difundidas de maneira clara. O objetivo é que todo o processo seja o mais
transparente possível e que, no transcurso dele, as documentações sejam
organizadas para futuramente estarem disponíveis para consulta.

78
POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL │ UNIDADE II

Assim, algumas das etapas mais comuns que são seguidas durante o andamento
de um edital são:

» publicação do edital;

» divulgação da relação de inscritos;

» divulgação da relação dos habilitados;

» divulgação das notas dos projetos;

» convocação dos classificados; e

» convocação para a assinatura do contrato.

Em todas as etapas citadas as informações são públicas, disponibilizadas nos


veículos oficiais de comunicação dos órgãos responsáveis e passíveis de serem
acessadas por toda a população. Para uma pessoa que está iniciando nesse
mundo de fundos e leis de incentivo à cultura, essa grande quantidade de etapas
pode parecer uma barreira. Entretanto, com um pouco de conhecimento da
área e dos lugares onde obter as informações, fica claro que esses passos são
importantes para trazer clareza e transparência ao processo.

Nas últimas linha temos insistido na questão de que o acesso a recursos


financeiros via leis de incentivo e fundos de cultura trazem uma grande
responsabilidade para o proponente de um projeto cultural. Isso porque é
importante destacar também que, ao acessar o valor desejado para a execução
do projeto, o proponente e sua equipe precisam fazer a gestão dos recursos de
maneira rígida e seguindo a tabela orçamentária apresentada na inscrição do
projeto.

Todo gasto precisa ser justificado a partir de um recibo ou nota fiscal e a


movimentação na conta-corrente – que deve ser aberta especificamente para o
projeto – deve ser compatível com o orçamento e as notas apresentadas.

Analisaremos essas questões com mais profundidade nas próximas unidades,


quando iremos aprender o passo a passo da elaboração de um projeto cultural.

Nessa unidade nos aproximamos das políticas culturais brasileiras.

No Capítulo I vimos:

79
UNIDADE II │ POLÍTICA CULTURAL NO BRASIL

» A história das políticas públicas para a cultura no Brasil: da


década de 1930 quando os primeiros passos da estruturação
das políticas para a cultura foram dados até os desafios do
presente.

» 1930 – Governo de Getúlio Vargas: criação do Sphan (atual Iphan)


e criação do Departamento de Cultura da cidade de São Paulo
(pioneiro dentre os municípios).

» 1930-70 – Preocupação sobretudo com a estruturação da proteção


e restauração do patrimônio cultural.

» 1980 – Criação do Ministério da Cultura durante o Governo Sarney.


Elaboração da primeira lei de incentivo fiscal, a Lei Sarney.

» 1990 – Criação da Lei Mendonça na cidade de São Paulo. Criação


da Lei Rouanet durante o Governo Collor. Ampliação do marketing
cultural em todo o território nacional.

» Início dos anos 2000 – Políticas de ampliação do alcance das


estratégias de incentivo à cultura (ministério de Gilberto Gil).
Descentralização das políticas culturais. Ampliação dos fundos de
cultura.

» 2019 – Extinção do Ministério da Cultura. Mudanças na Lei


Rouanet (agora Lei de Incentivo à Cultura).

No capítulo II abordamos duas das principais estratégias de apoio e difusão


da cultura:

» Leis de Incentivo Fiscal.

» Fundos de Incentivo à cultura.

» Também vimos quais são as etapas que fundos de cultura seguem


para garantir a transparência do processo de seleção dos projetos
e da gestão dos seus recursos.

80
CHAMADAS
PÚBLICAS E APOIO UNIDADE III
DE INICIATIVAS
PRIVADAS

CAPÍTULO 1
A busca de incentivo na iniciativa
privada

Diversas iniciativas de fomento à cultura partem de instituições e empresas


privadas. Elas agem tanto a partir do patrocínio direto e ações de marketing
cultural quanto na criação de bolsas de pesquisa, concursos e prêmios.

Nas próximas páginas analisaremos os apoios à cultura advindos da iniciativa


privada a partir de dois eixos principais:

» apoio direto a projetos via apresentação do projeto para o setor


competente: patrocínio direto;

» envio do projeto para editais publicados por iniciativas privadas.

Vamos conhecer essas possibilidades?

Apoio direto
O apoio direto é conhecido como patrocínio, ou seja, a destinação de recursos por
parte de uma organização ou empresa para um projeto ou evento. Esses recursos
podem ser financeiros, de pessoal, cessão de equipamentos etc.

O patrocínio é uma estratégia de marketing que estabelece uma relação de


troca entre a empresa e o projeto e que gera retorno financeiro, simbólico e
institucional para o patrocinador (MACHADO, 2005).

O exercício do patrocínio pode acontecer diretamente, sem o intermédio de leis


de incentivo à cultura. Nesse caso, o mais usual é que o setor de marketing da

81
UNIDADE III │ CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS

empresa seja o responsável pela escolha dos projetos e quais recursos serão
nele empregados. O setor pode tanto receber propostas e agendar reuniões via
fluxo contínuo, isto é, relacionar-se com os proponentes de projetos quando
houver demanda, quanto estabelecer um calendário fixo para o recebimento e
análise das propostas.

É comum que grandes empresas destinem parte da verba do marketing para


apoio direto a projetos culturais. Essas verbas podem corresponder ao valor
total ou parcial dos projetos. Em um contexto de grande competitividade entre
empresas, a necessidade de se destacar vem gerando a busca de novas estratégias
e o patrocínio de projetos culturais é uma delas:

Em um mercado onde a diferenciação entre produtos e serviços


é cada vez menor, torna-se parte das discussões diárias dos
departamentos de marketing das grandes empresas a busca
de alternativas de comunicação para chamar a atenção dos
consumidores. Assim, estas empresas têm investido em ações
que possam estabelecer laços e ganhar sua fidelidade. Uma
alternativa à propaganda tradicional tem sido o investimento
em patrocínios, ou realização de atividades culturais, já que
estas geram um maior contato da marca com o consumidor e,
assim, auxiliam as empresas a atingirem seus objetivos tanto de
comunicação quanto de construção de identidade e imagem de
marca. Estas ações vêm sendo chamadas de Marketing Cultural
(REICHELT e BOLLER, 2016, p. 622).

Para acessar esses valores é preciso que antes de procurar a empresa você
estude como ela está estruturada e se o seu projeto adota valores comuns ao
da marca que eventualmente irá patrocinar a sua proposta.

Assim como buscar apoio via editais, é importante chegar com um projeto bem
estruturado. No apoio direto, as ações de contrapartida terão um peso ainda
maior, sobretudo no momento de cativar o apoiador através da apresentação
do projeto. O seu potencial patrocinador/apoiador estará se perguntando: O
que eu ganharei em troca se apoiar/patrocinar esse projeto? É importante ter
uma resposta estruturada que cative o potencial parceiro.

Construa uma proposta coerente e que seja de fato atrativa. Lembre-se que os
setores que lidam com projetos recebem propostas o tempo inteiro e que você
precisa marcar o seu diferencial. Ainda que não exista um formato rígido para
a apresentação do projeto junto às empresas, elas esperam uma proposta bem

82
CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS │ UNIDADE III

estrutura e que, via de regra, siga a mesma estrutura de projetos enviados para
a captação de recursos públicos.

Apoios diretos também podem ser realizados pelo fornecimento de itens


requisitados no projeto como: passagem aérea, diárias de hotel, equipamentos
eletrônicos, cessão de espaço, entre outros. Nesse caso, quanto mais próximos
os itens do seu projeto estiverem dos recursos da empresa na qual se busca
apoio e patrocínio, maiores são as chances dessa relação ser bem sucedida.

Reuniões presenciais com pessoas chave que representam potenciais


patrocinadores são momentos de mostrar a que o seu projeto veio.
Prepare-se, leve uma ou mais cópias do projeto impresso, monte uma
apresentação bem diagramada no seu computador que resuma os
principais pontos da sua proposta.

Ilustre a sua apresentação de maneira que o potencial parceiro do seu


projeto consiga visualizar aquilo que você deseja realizar. Esse contato
presencial é a oportunidade que você terá de impressionar e demonstrar
o seu profissionalismo.

Seja breve e objetivo. Estude o seu projeto, tenha tudo na ponta da língua
e prepare-se para possíveis questões.

Apoio via edital


Organizações e empresas também utilizam os recursos de editais e chamadas
públicas para chegarem aos artistas e produtores. Formatos como prêmios e
concursos são recursos bastante utilizados. Concursos de literatura, prêmios
para a melhor fotografia, prêmio por trajetória profissional, concurso de
pintura, entre outros, são caminhos bastante utilizados.

Outro formato bastante empregado é o da empresa abrir um edital para que


produtores culturais apresentem projetos que já estejam aprovados em leis de
incentivo à cultura e estejam aguardando a captação de recursos:

Além das leis e fundos de incentivo que vimos até agora, ainda
contamos com vários editais privados. Hoje em dia, muitas empresas,
após aprovarem os projetos nesses editais privados, solicitam que
o proponente aprove o seu projeto também na Lei Rouanet ou nas
leis estaduais e/ou municipais de incentivo à cultura, o que também
possibilita o benefício da isenção fiscal para esses patrocinadores.

83
UNIDADE III │ CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS

Nestes casos, a captação não precisará ser feita, uma vez que a própria
empresa autora do edital será a patrocinadora, evidentemente
(SEBRAE, 2014, p. 99).

Conforme você pode perceber, os editais abertos por instituições privadas são
organizados de duas maneiras principais:

» a partir de recursos diretos da instituição destinados para o setor de


marketing ou qualquer outro setor que tenha a capacidade de gerir
projetos;

» a partir de recursos captados via lei de renúncia fiscal.

Diferentemente das informações de órgãos públicos que estão centralizadas


nas suas páginas oficiais, editais e oportunidades advindas do setor privado
estão espalhadas pelos canais de comunicação das empresas e instituições.

Para encontrar esses editais e informações você precisa saber quais são os
espaços culturais que desenvolvem atividades culturais do seu interesse e
buscar diretamente seus canais de comunicação. É importante observar também
quais empresas da sua região aparecem com suas logomarcas em materiais
de divulgação de eventos culturais e consultar se elas têm um programa de
patrocínio.

Alguns sites são agregadores de informação sobre oportunidades e


programação da área da cultura, publicam as informações pertinentes ou te
direcionam para as páginas dos espaços. Grupos formados em redes sociais
e perfis de pessoas da área são caminhos igualmente importantes para que
você acesse as informações.

O site Canal Contemporâneo é um dos principais espaços de difusão de


informação para produtores e artistas que trabalham com a área das
visualidades.

www.canalcontemporaneo.art.br.

O Editais e Afins compila informações de diferentes áreas.

www.editaiseafins.com.br.

O site Cultura e Mercado existe desde a década de 90 e além de trazer


informações sobre editais e oportunidades, compartilha informações e
análises do setor cultural brasileiro.

www.culturaemercado.com.br.

84
CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS │ UNIDADE III

É importante notar que os editais de instituições privadas costumam trabalhar


com uma linguagem mais simples e objetiva quando comparados com editais
públicos. Isso porque os espaços têm liberdade e suas próprias condições para
gerir os recursos financeiros. Ainda assim, as condições de participação são
especificadas em detalhes e devem ser acompanhadas com atenção. A ausência
de informações cruciais também acarreta a desclassificação.

Algumas das instituições e empresas notoriamente reconhecidas por sua


forte atuação no apoio e patrocínio da cultura mantêm seus próprios espaços
culturais. Algumas delas são:

» Oi Futuro.

oifuturo.org.br.

O Oi Futuro atua em três eixos principais: educação, inovação social,


esporte e cultura. O instituto tem um centro cultural no Rio de
Janeiro que desenvolve uma programação ativa com apresentações
teatrais, música e artes visuais. O foco principal é na relação entre arte
contemporânea e tecnologia. O Programa Oi de Patrocínios Culturais
Incentivados seleciona projetos por todo o país via edital público. O Oi
Futuro também faz gestão do Museu de Telecomunicações.

» Itaú Cultural.

www.itaucultural.org.br.

O Itaú Cultural tem um espaço em São Paulo, na Avenida Paulista. A


programação inclui artes visuais, cultura popular, mostra de filmes,
espetáculos teatrais, de música, entre outros. O instituto preza por
atividades interativas que coloquem as pessoas em contato com novas
experiências culturais.

O instituto investe em pesquisa e produção crítica sobre as


manifestações culturais brasileiras. A enciclopédia Itaú Cultural reúne
uma ampla gama de informações sobre pessoas, grupos, obras, eventos,
instituições, termos e conceitos. Você pode navegar através de temas e
também há um espaço destinado a professores e educadores. Confira:

enciclopedia.itaucultural.org.br.

O programa Rumos, seleciona, via edital, a cada dois anos projetos que
serão patrocinados pelo instituto. Entenda o programa em:

www.itaucultural.org.br.

85
UNIDADE III │ CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS

» Instituto Moreira Salles.

ims.com.br.

O Instituto Moreira Salles é um espaço que promove e mantém um


grande acervo em quatro áreas principais: fotografia, música, literatura
e iconografia. O Instituto fomenta pesquisa, exposições e eventos com
foco nas áreas citadas além de conservar e adquirir um amplo acervo
nessas áreas de conhecimento.

Três cidades do Brasil têm sedes do Instituto: São Paulo, Rio de Janeiro
e Poços de Caldas. Todas as sedes são abertas para visitação do público
e promovem iniciativas do campo da artes. Elas têm programação
contínua com eventos e exposições que merecem uma visita.

O IMS publica duas revistas periodicamente. A primeira é a Serrote,


dedicada a ensaios de literatura e reflexão acadêmica. A revista pode ser
encontrada em bancas e livrarias. Algumas das matérias e informações
complementares estão no site: revistaserrote.com.br.

A segunda é a Zum, especialista na área da linguagem fotográfica e


discussão sobre imagem. Assim como a Serrote é uma revista com alta
qualidade de impressão: revistazum.com.br.

A revista Zum promove anualmente um edital que premia dois projetos


inéditos de fotografia que, por meio de uma bolsa, são desenvolvidos
e seus resultados passam a integrar o acervo do IMS: revistazum.com.
br/bolsa/.

» Porto Seguro.

www.espacoculturalportoseguro.com.br.

A Porto Seguro tem se tornado referência no fomento da cultura nas


últimas décadas com o prêmio Porto Seguro de Fotografia e, mais
recentemente com o Espaço Cultural Porto Seguro, situado em São
Paulo. O local recebe exposições, projetos artísticos variados e diversas
atividades voltadas para o público infantil.

O setor de educação destaca-se no projeto, e duas atividades/espaços


experimentais, convidam a população a interagir com diferentes
linguagens. O Ateliê Experimental é um laboratório de linguagens

86
CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS │ UNIDADE III

gráficas manuais que desenvolve atividades de desenho e gravura. Já o


Porto Fablab é um laboratório de fabricação digital focado na produção
artística.

Agora que você já tem todas as informações e caminhos para começar


uma pesquisa com os editais privados brasileiros, navegue pelos links
disponibilizados no texto e estude a estrutura desses editais.

87
CAPÍTULO 2
Por dentro dos editais privados

Vamos nos aproximar do formato dos editais privados? Vimos que os editais: 1)
partem da distribuição de recursos destinados para ações culturais24 e 2) selecionam
projetos pré-aprovados em leis de incentivo.

A diferença entre esses dois estilos de editais privados é que, no primeiro, a relação
se dá estritamente entre o proponente do projeto e a instituição cultural que está
gerindo os recursos e, no segundo, a instituição é uma patrocinadora do projeto, mas
a responsabilidade da gestão do recurso é do proponente do projeto.

1) Distribuição direta de recursos destinados para ações culturais – A Bolsa Zum


de Fotografia do IMS é distribuída anualmente para dois artistas selecionados
via edital. Repare como a linguagem do edital é acessível e que o fomento está
condicionado a uma contrapartida que é de aquisição de obras para o acervo do
instituto.

Abaixo o trecho do edital Bolsa Zum de Fotografia 2019 promovido pelo


Instituto Moreira Salles:

Do objeto

Constitui objeto do presente edital a seleção de dois projetos de


criação fotográfica inéditos. O objetivo da Bolsa de Fotografia
do Instituto Moreira Salles é permitir que artistas e fotógrafos
desenvolvam e aprofundem sua produção no campo da fotografia,
nas mais variadas vertentes, sem restrição de tema, perfil ou suporte.
Entende-se por projeto inédito aquele que ainda não foi apresentado
publicamente, por meio de exposições, publicações, sites ou outros
meios de exibição e divulgação, e/ou que não tenha sido premiado em
outro edital, concurso ou competição, nem tenha recebido qualquer
menção honrosa.

Como contrapartida, o resultado final dos projetos selecionados


será incorporado permanentemente à Coleção de Fotografia
Contemporânea do Instituto Moreira Salles. Caberá ao fotógrafo, no
momento da inscrição, definir quantas fotografias, em que suporte
e de que formato, integrarão o resultado final do projeto [...] (IMS,
2019).

88
CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS │ UNIDADE III

Conforme é possível observar, o edital citado tem como objetivo promover a


pesquisa e a realização de projetos no campo da fotografia ao mesmo tempo em
que amplia o acervo do renomado Instituto Moreira Salles. Note como é o artista
que estipula as balizas de seu próprio projeto como, por exemplo, a quantidade de
obras que serão incorporadas ao acervo.

2) Seleção de projetos pré-aprovados em leis de incentivo – O Programa Oi


de Patrocínios Culturais Incentivados seleciona apenas projetos de pessoa
jurídica e que já estejam aprovados em leis de incentivo à cultura. Observe o
trecho do edital abaixo:

[...] Os projetos selecionados deverão ser inscritos sob o mesmo


CNPJ nas devidas Leis de Incentivo à Cultura.

3.3.1. As inscrições deverão ser feitas pelo representante legal do


Proponente ou por alguém por ele expressamente autorizado.

3.3.2. Para a Seleção Nacional de Projetos Culturais 2019, os


projetos não precisam estar previamente aprovados nas Leis de
Incentivo à Cultura (OI FUTURO, 2019).

Neste formato de edital, a seleção não implica a contratação ou a destinação


completa dos recursos necessários para execução do projeto. É possível que o
proponente ainda tenha que captar recursos de outras fontes para completar o
orçamento proposto.

A vantagem de participar de editais de seleção de projetos para patrocínio em


relação a procurar captar diretamente os recursos é que essa fase do projeto
pode ser bastante cansativa e frustrante (nos aprofundaremos nessa questão na
próxima unidade) e a abertura do edital já demonstra um interesse prévio da
empresa em patrocinar ações culturais.

Os editais privados que destinam verba diretamente para os projetos


selecionados podem estipular as condições de participação da maneira que
julgarem pertinente. Ou seja, o rigor burocrático seguido pelos mecanismos
de incentivo públicos não precisa ser o mesmo.

É a instituição promotora que decide, por exemplo, se será exigida prestação


de contas, se deixará pública todas as etapas de seleção dos projetos e
se liberará as notas dos projetos selecionados e não selecionados. Nesses
projetos não cabe recurso ou contestação do resultado final.

» Projetos culturais podem ser financiados por iniciativas privadas, as


quais estipulam seus próprios mecanismos de seleção.

89
UNIDADE III │ CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS

» Em geral, a iniciativa privada também seleciona projetos por meio


da publicação de editais.

» Os editais não têm a obrigação de ser tão rigorosos quanto os


editais públicos. As condições de participação variam de empresa
para empresa.

» Esses projetos podem ser inéditos e ter sido formatados


especificamente para o edital em questão ou, estar aprovados em
leis de incentivo e necessitar de patrocínio.

» Para acessar as oportunidades de editais privados é preciso estar


bem informado e conhecer o meio cultural do qual se faz parte.

» Algumas empresas, por se relacionarem de longa data com o


circuito cultural, têm seus próprios institutos e espaços culturais,
responsáveis por criar programação própria e fazer a gestão de
projetos.

» Os sites desses espaços devem ser consultados com frequência para


que os agentes culturais saibam das oportunidades abertas.

Que tal se aprofundar na história dos espaços culturais brasileiros? Você


já havia ouvido falar do Instituto Moreira Salles (IMS) antes desse texto?
Conhecer a trajetória das instituições de cultura é uma oportunidade para
entender ainda melhor as políticas públicas nacionais, o gerenciamento de
acervos e coleções e a construção de programação e de plateia.

O Instituto Moreira Salles (IMS) é de extrema importância para o apoio


e difusão das artes no Brasil. No Rio de Janeiro ele ocupa um complexo
modernista situado no bairro da Gavea e que foi residência de Walther
Moreira Salles, que foi um poderoso empresário e banqueiro brasileiro.
Além das atividades relacionadas aos negócios, Walther Moreira Salles foi
embaixador brasileiro em Washington durante o governo de Getúlio Vargas.

A residência do IMS no Rio de Janeiro foi projetada pelo arquiteto Olavo


Redig de Campos, importante representante da arquitetura moderna no
Brasil. Em São Paulo, um edifício situado na Avenida Paulista abriga uma
das maiores bibliotecas de fotolivro do mundo.

90
CHAMADAS PÚBLICAS E APOIO DE INICIATIVAS PRIVADAS │ UNIDADE III

O IMS possui mais de 2 milhões de imagens fotográficas que retratam a


história da humanidade, do Brasil e da própria fotografia. Além disso,
nos últimos anos o Instituto vem ampliando sua coleção de fotografia
contemporânea e a bolsa ZUM de fotografia é uma das suas mais
importantes iniciativas.

Grande parte da história da música brasileira é protegida pelo Instituto


que abriga milhares de discos e fonogramas. Três grandes artistas da
música brasileira têm seus acervos no IMS: Chiquinha Gonzaga, Ernesto
Nazareth e Pixinguinha. São horas e horas de som, música, entrevistas
além de escritos, partituras e documentos.

O acervo dedicado à literatura abrigado pelo IMS vai muito além do


ordenamento de livros. Cartas, escritos e documentos de nomes como Erico
Verissimo, Clarice Lispector e Carlos Drummond de Andrade podem ser
encontrados lá.

Se você não vive em uma das cidades em que o IMS tem sede, programe
uma visita quando estiver em uma dessas cidades.

91
COMO ELABORAR
UM PROJETO UNIDADE IV
CULTURAL

CAPÍTULO 1
Mas afinal, o que é um projeto?

Até aqui falamos inúmeras vezes em projeto cultural, mas ainda não tivemos a
oportunidade de conceituá-lo. Um projeto cultural é mais do que a organização de
ideias, é um documento que reúne textos descritivos, explicativos e informações
técnicas que viabilizam a avaliação e o acompanhamento da proposta por uma
comissão.

Segundo a cartilha produzida pelo Instituto Alvorada Brasil, projeto cultural


é um “instrumento técnico e estratégico, amplamente utilizado no meio
empresarial, que possui características próprias que o define como tal,
independentemente de tamanho, complexidade ou duração” (2014, p. 19).

Elaborar um projeto cultural é uma tarefa complexa que exige prática. Em


termos gerais, é como organizar um plano de negócios. A particularidade é que
a escala de um projeto é menor, pois tem uma duração pré-estipulada e um
orçamento fechado.

É importante que o gestor do projeto tenha consciência de que sua elaboração


passa por escolhas técnicas. A criatividade e o domínio do assunto são
fundamentais, mas a capacidade administrativa e de planejamento do
proponente do projeto e de sua equipe são igualmente importantes.

Nessa unidade vamos explorar as características de um projeto cultural e


aprender sobre todas as suas etapas.

Características de um projeto cultural


Um projeto cultural sempre resulta em um produto cultural não importa a
linguagem no qual é focado. Produtos culturais são entendidos não apenas

92
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

como objetos, mas enquanto feitos resultantes. Projetos em artes visuais


podem resultar em exposições de arte e bienais; projetos de música na gravação
de um álbum ou um show; projetos de literatura em saraus e publicações
impressas. Enfim, as possibilidades são imensuráveis e os resultados materiais
e imateriais devem estar previstos no projeto apresentado.

As diferentes etapas de um projeto


Todo projeto passa por diferentes etapas que vão desde a sua concepção até a
prestação de contas e avaliação dos resultados. Vamos percorrer em linhas gerais
todas essas etapas.

» ETAPA CONCEITUAL – Todo projeto nasce de uma ideia, de um


encontro e de uma inspiração. A etapa conceitual é o momento
de colocar os pensamentos no papel, deixar claro ao que seu
projeto veio, esboçar caminhos e começar a organizar a equipe. É
a etapa em que tudo parece e é possível, mas também é o momento
de começar a fazer escolhas que deixem seu projeto com uma
forma organizada e sequencial. Esse processo de detalhamento é
o momento que temos para “cair na realidade” e começarmos a
entender as demandas que o projeto está nos colocando.

» ETAPA DE PLANEJAMENTO – Hora de efetivamente organizar


a casa, planejar todas as etapas de execução do projeto, prever
os gastos e formatar as ideias. É na etapa do planejamento que
montamos o orçamento do projeto, um dos itens mais temidos
e que exige objetividade. No planejamento você já precisa saber
quem são seus principais parceiros e quais profissionais serão
contratados após a aprovação do projeto.

» EXECUÇÃO – Enfim chegou o momento de colocar as ideias em


prática e seguir todo o planejamento realizado anteriormente.
Esse é também o momento em que nos deparamos com a realidade
prática e durante o qual fazemos os ajustes necessários para que
tudo saia conforme conceituamos. A execução sempre traz desafios
inesperados e que podem ser amenizados se tivermos feito um bom
planejamento.

» PRESTAÇÃO DE CONTAS – Momento de organizar os comprovantes


dos gastos e a planilha das despesas. A prestação de contas

93
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

acontece na maioria dos projetos, mas não em todos, já que muitas


instituições privadas não demandam essas especificações. Nos
projetos que pedem prestação de contas é necessário comprovar
todo e qualquer gasto. Isso é feito a partir de notas fiscais e recibos,
que devem ser cuidadosamente guardados.

» AVALIAÇÃO – É a fase de refletirmos sobre o sucesso do nosso


projeto, se todos os objetivos foram alcançados, se o público que
esperávamos respondeu ou não ao nosso chamado e quais aspectos
podem ser melhorados em ações futuras. A avaliação consiste
também na elaboração de relatórios e na apresentação deles junto
aos órgãos apoiadores. Reunir a equipe para um momento de
avaliação conjunta pode ser uma boa estratégia para estreitar os
laços do grupo e analisar o desdobramento de possíveis projetos
futuros.

94
CAPÍTULO 2
Começando um projeto

Para começar a tirar da mente e colocar as suas ideias no papel procure


responder algumas perguntinhas básicas. Ao responder essas questões você
terá um esboço do seu projeto já que por meio dessas respostas será capaz de
preencher diversos formulários de projetos culturais. Vamos juntos?

No que consiste o meu projeto?


Procure sintetizar as suas ideias em algumas frases objetivas que delimitem
o escopo do seu interesse e aquilo que você quer desenvolver. Ex.: Quero
desenvolver um festival de música na cidade histórica de Ouro Preto; pretendo
organizar uma exposição de arte universitária para fomentar a produção de
jovens nos anos finais de sua formação acadêmica. Seja conciso e construa
entre uma e três frases que resumam seu turbilhão de ideias.

Por que quero realizar esse projeto?


Reflita sobre a importância do seu projeto, qual impacto ele terá na sua
comunidade a curto, médio e longo prazo. Você vai revitalizar uma área esquecida
da cidade? Vai facilitar o acesso à cultura em regiões pouco privilegiadas?
Tocará em assuntos urgentes e educativos? Como o seu projeto se relaciona
ao cenário mais amplo de produção artística? Esse é o momento de pensar em
todos os motivos que te trouxeram até aqui e de destacar os pontos positivos
que a realização da ação cultural trará para a sociedade.

Quem é o meu público?


Analise quais camadas da população o seu projeto atingirá e qual é a faixa etária
dessas pessoas. Um projeto sem público não é capaz de existir. Certifique-se de
que existe um público para o seu projeto. Lembre-se que esse público incorpora
tanto as pessoas imediatamente atingidas pelo seu projeto quanto aquelas que
entrarão em contato com os produtos gerados por ele.

95
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Quem trabalhará no projeto?


Organize uma lista de profissionais necessários para o desenvolvimento do
seu projeto. Você conhece pessoas aptas para realizar essas funções? Terá
que entrar em contato com profissionais até então desconhecidos para você?
Parte deles deverá compor a equipe principal do seu projeto, por isso é
importante saber como contatá-los e que o seu projeto esteja esboçado para
que os apresente a eles a fim de convidá-los. Esses profissionais contribuirão
com seus currículos para a construção do projeto e você, como proponente,
será avaliado pela equipe.

Quanto preciso para desenvolver o projeto?


Faça um esboço dos principais gastos do seu projeto para ter uma ideia
inicial de quanto será necessário para realizá-la. Ainda que essa seja uma
primeira análise, é também uma oportunidade de colocar os pés no chão e ser
mais específico. Além disso, terá referências de valores que permitirão a você
selecionar os editais em que seu projeto se encaixa.

Quando e onde o projeto será realizado?


Projetos culturais devem ser sempre pensados a médio e longo prazo. Ao
escolher uma data ou período de realização é importante levar em conta as
condições climáticas, a existência de eventos parecidos em datas similares, o
calendário escolar etc.

O local deve ser pensado desde a cidade na qual o projeto será realizado até o
bairro e a instituição que poderão abrigá-lo. Leve em consideração a relevância
do seu projeto para o local escolhido.

Que tal começar a testar sua capacidade de criar um projeto? Pegue


aquela ideia que você já pensou em realizar e responda o roteiro de
perguntas acima. Esse exercício o ajudará a compreender alguns dos
conteúdos que iremos desenvolver nas próximas páginas. Use a sua
criatividade e boa sorte!

A estrutura de um projeto cultural nos remete a outras metodologias de


organização e planejamento, sendo a principal delas o Plano de Negócios.

96
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

O Plano de Negócios consiste na organização conceitual e financeira do


empreendedor que deseja iniciar ou expandir um negócio. O Projeto
Cultural deve ser tratado da mesma maneira, pois ainda que de curta ou
média duração, trata-se de um primeiro passo rumo à organização geral
de um empreendimento cultural.

Por isso, informações da área da administração, marketing e


empreendedorismo podem ajudá-lo a montar o seu projeto. Um livro
introdutório a esse universo, de leitura prazerosa e com inúmeras
informações técnicas é O Segredo de Luísa de Fernando Dolabela.

A publicação conta a história de Luísa, uma jovem que começa um


negócio em sua cidade baseado na experiência e história de sua própria
família. Sem capital, sede e com pouco conhecimento técnico, a jovem vai
se estruturando rumo à realização do sonho de ter seu próprio negócio.
Ao acompanharmos sua trajetória vamos aprendendo junto com ela.

O livro aborda uma técnica pouco difundida no Brasil:


o Plano de Negócios. O empreendedor – suas emoções,
comportamentos, atitudes e reações – é flagrado durante
o processo de elaboração do seu Plano de Negócios, e isso
constitui um exemplo completo à disposição do leitor.

Conteúdos de marketing, finanças, organização e


gerenciamento são apresentados de forma simples e
cara, de modo a fazer compreender que, na concepção e
no lançamento da empresa, as análises mercadológica e
financeira são indelegáveis. O empreendedor iniciante terá
que assumi-las (DOLABELA, 2008, p. 17).

O autor é criador de programas de ensino de empreendedorismo no


Brasil, palestrante, professor e consultor.

Lendo o edital
Leia o edital antes de começar a escrever o seu projeto. Parece redundante,
mas muitas pessoas não leem o edital com atenção e acabam cometendo erros
simples, que poderiam ser facilmente evitados e que custam a desclassificação
dos seus projetos. Outras começam a montar o projeto dentro das normas e
só depois percebem que o edital não é o adequado e não fornece aquilo que o
projeto necessita.

97
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

O edital é a sua referência de organização do projeto, do começo ao fim.


Utilize-o como documento guia.

Todo edital é diferente um do outro e, por vezes, editais de uma mesma


instituição mudam ano após ano. Por isso, ler e reler os editais nunca é
demais. Ao iniciar a leitura, é recomendado fazer anotações paralelas sobre
alguns dos principais pontos do texto, tais como:

» Data final de envio do projeto.

» Informações sobre como o projeto dever ser enviado. Neste caso


observe se o projeto deve ser enviado impresso e por correio, ser
entregue pessoalmente, via formulário eletrônico, via site específico
ou por e-mail.

» Detalhes sobre o envio devem ser considerados como: horário


limite para envio de projetos pela internet, endereço da entrega e
data limite da postagem do projeto no correio.

» Faça uma lista dos documentos a serem anexados tais como:


documento de identidade, comprovante de endereço, currículo,
portfólio, etc. Monte essa lista no formato de uma checklist e, na
medida em que for anexando os materiais requisitados, dê baixa
na sua lista.

» Faça uma lista dos documentos que deverão ser entregues caso
o seu projeto seja aprovado. Sim, você ainda não sabe se o seu
projeto passará na seleção, mas deverá estar preparado para essa
possibilidade. Alguns documentos como as certidões negativas de
débitos (estadual, municipal e/ou federal) devem ser solicitadas
antes do resultado final, pois é comum que a convocação para a
etapa de análise documental dure poucos dias. No caso das certidões
negativas nunca deixe para solicitá-las de última hora, pois, se
houver alguma pendência em seu nome, você pode não ter tempo
para resolver a situação e perderá o recurso conquistado.

Anote tudo o que você julgar importante para não perder nenhum detalhe
ou informação. Essas anotações podem ser transformadas em um checklist,
em um mapa de notas e guiarão você para que todas as etapas da inscrição
contenham todos as informações necessárias.

98
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

Uma dica para você não perder a data final da inscrição é programar o seu
calendário para que o projeto seja enviado com um dia de antecedência.
Essas 24 horas “extras” devem ser reservadas para a solução de algum
problema inesperado. Acredite, eles podem acontecer.

Nunca deixe para enviar um projeto no último dia, pois tudo pode ocorrer:
os correios podem estar em greve, o sistema de envio de inscrições
ficar sobrecarregado com a demanda, o seu computador pode falhar, a
impressora quebrar. Só de imaginar o tanto de coisa que pode sair mal
gera uma fadiga.

Organize-se, pois a pior frustração é ter um projeto incrível engavetado


pela falta de atenção com a data limite da inscrição ou pela falta de uma
informação esquecida.

O checklist é uma ferreamente básica que o acompanhará ao longo


de todas as etapas do projeto. Ele ajuda na organização de todo tipo
de evento e projeto, pois são muitos os detalhes a serem lembrados e
executados. Algumas dicas para elaborar um checklist eficiente são:

» anote tarefas simplificadas e pequenas;

» organize as tarefas na ordem que devem ser executadas;

» determine prazos para a realização das tarefas;

» comece e termine as tarefas, não deixe nada inacabado;

» organize diferentes listas para cada etapa do projeto;

» subdivida tarefas complexas em diferentes tópicos.

Ao trabalhar com equipes grandes ou para melhorar a sua eficiência, você


pode criar essas listas em plataformas online que podem ser acessadas de
qualquer lugar e por todos os participantes do projeto:

» As ferramentas do Google são de fácil acesso e uso por


equipes. Por meio do Google Docs, Sheets, Slides e Forms
você pode criar e compartilhar documentos, organizar tabelas

99
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

de orçamento e cronograma; montar slides de apresentação e


criar fichas de inscrição para as atividades que serão realizadas
no seu projeto.

» O Trello (trello.com) é uma ferramenta que trabalha a partir de


três eixos centrais: quadros, listas e cartas. A interface é fácil e
você pode compartilhar as ações com os demais membros da
equipe.

100
CAPÍTULO 3
Estrutura básica de um projeto cultural

Os conteúdos de um projeto variam de acordo com o edital. Algumas etapas são


bastante comuns a todas as chamadas e ainda que o edital não as apresente com
a mesma nomenclatura que iremos trabalhar a seguir, esses conteúdos estarão
presentes em todo projeto que você elaborar. São eles:

» apresentação;

» objetivos;

» justificativa;

» público-alvo;

» equipe;

» cronograma;

» orçamento;

» estratégia de divulgação;

» estratégia de distribuição;

» contrapartida.

Apresentação
A apresentação de um projeto cultural é o momento em que você tem para
segurar a atenção do leitor. Lembre-se que o leitor é o avaliador do seu projeto.
Essa pessoa está procurando informações claras que permitam um rápido
entendimento do conteúdo que será detalhado nas demais etapas.

É importante destacar que grande parte dos editais que você pleiteará são
bastante concorridos e que a apresentação é o primeiro contato e um resumo das
suas principais ideias. Um texto de apresentação bem escrito cativa o avaliador
que desejará saber mais sobre a sua proposta e percorrerá seu projeto com um
olhar positivo.

101
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Confira o texto de apresentação do projeto A Distância Entre Nós


aprovado em 2019 no edital 011/2019 na categoria de Artes Visuais
(fotografia, artes plásticas, design e artes gráficas e tecnológicas) na
Fundação Cultural de Curitiba (FCC). O texto foi escrito por esta autora
que vos fala.

O projeto propõe a realização de uma exposição no Museu da Fotografia


da cidade de Curitiba. Ao longo da apresentação do texto serão
comentados pontos para os quais você deve dar atenção especial.

Parágrafo 1:

“A distância entre nós” consiste na realização de exposição


fotográfica com os artistas Eduardo Macarios (Curitiba) e
Tanya Traboulsi (Líbano/Austria). Com curadoria de Milena
Costa, o projeto apresentará 20 trabalhos divididos entre
fotografias e instalações. O projeto foca em discussões sobre
a linguagem fotográfica relacionada a aspectos culturais e
filosóficos mais amplos como: memória, migração, arquivos
de família e a condição de estrangeiro. Por isso, além da
exposição fotográfica, estão planejadas conversas com os
artistas, visitas guiadas e duas rodas de conversa com os
temas: “Diáspora, fotografia e migração” e “Processo criativo
em fotografia contemporânea” (SOUZA, 2019).

Você consegue notar como já no primeiro parágrafo sabemos tudo


o que precisamos? Temos informações de quem são os artistas, a
curadora, a quantidade de trabalhos e as técnicas utilizadas. Também
são apresentados os contornos conceituais do projeto, que estão
sintonizados com discussões contemporâneas. Por fim, as atividades
extras que apoiam a exposição são destacadas.

Parágrafo 2:

Macarios e Traboulsi desenvolvem seus projetos a partir


de arquivos e experiências pessoais. Os artistas investigam
e reorganizam arquivos das vidas de seus familiares em
busca de pistas e imagens que conectem suas experiências
contemporâneas às trajetórias de seus antepassados. Ao
passo que essa investigação arquivista ocorre, eles também
criam novas imagens que nos permitem refletir sobre como
os processos migratórios continuam sendo centrais na
constituição das subjetividades e dos imaginários coletivos
(SOUZA, 2019)

Nesse momento temos a oportunidade de nos aproximarmos do universo


dos artistas. Se iniciamos com contornos gerais do projeto, agora é uma

102
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

oportunidade de compreendermos os motivos desses dois trabalhos


estarem sendo apresentados lado a lado e comporem um único projeto.

Parágrafo 3:

Ambos os artistas publicaram fotolivros que abordam as


questões acima mencionadas. Em “Lost Strange Things” -
cujas imagens embasam o presente projeto de exposição
- Tanya Traboulsi investiga sua condição de eterna
estrangeira a partir de suas vivências entre o Líbano e a
Europa Ocidental. Combinando imagens do arquivo de sua
família e fotografias contemporâneas, a artista resignifica
o passado e pensa o presente. O movimento diaspórico de
seus familiares em busca de condições de sobrevivência,
tem continuidade na experiência da própria artista que
repete na contemporaneidade a experiência de diáspora
vivida por seus pais e avós. Se as imagens antigas deixam
claro o movimento migratório dos corpos ali retratados,
no presente, a jovem que vive entre o Líbano e a Áustria,
encontra em seus movimentos pelo mundo fontes de
reflexão que constituem sua poética artística. Já na
publicação “Wadad”, Eduardo Macarios busca organizar as
imagens fotográficas dos álbuns de sua avó no qual as cenas
do cotidiano, de celebrações familiares e paisagens dos
lugares em que residiram, narram o processo migratório da
família do Líbano para Curitiba. A edição desse material foi
acompanhada do retorno do artista ao Líbano onde buscou,
retratando a paisagem e na arquitetura do local, aproximar-
se desse universo tão distante quanto familiar. (SOUZA,
2019)

É mais um momento de nos aproximarmos das especificidades dos


trabalhos. Podemos perceber como ambos os artistas lidam com o
mesmo tema e que ambos escolheram metodologias de criação similares
além de terem publicado livros que aliam fotos de arquivo com imagens
contemporâneas.

Parágrafo 4

A partir das publicações e imagens que extrapolam o


espaço de seus livros, a exposição “A distância entre nós”,
tece diálogos entre as produções de Traboulsi e Macarios
no Museu da Fotografia de Curitiba. Em uma cidade como
Curitiba, formada por processos de deslocamento tal como
os apresentados pelos artistas, a exposição visa aproximar
o público de discussões contemporâneas do campo da
fotografia e das diásporas contemporâneas (SOUZA, 2019).

103
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

O texto destaca a importância do projeto ser realizado na cidade de Curitiba e


sua capacidade de abordar questões atuais. Ainda que a etapa da justificativa
esteja por vir, começar a falar sobre a importância do seu projeto é uma
maneira de valorizá-lo logo no início.

A apresentação do seu projeto pode ser escrita no final ou no decorrer dele, em


paralelo às demais etapas. Isso porque, como ele deve sintetizar as ideias, alguns
aspectos podem vir à tona apenas depois de cumpridas etapas futuras. Por isso não
se surpreenda se essa etapa se mostrar mais difícil do que você imaginava.

Objetivos
Os objetivos de um projeto são divididos entre Objetivo Principal e Objetivos
Específicos.

O objetivo principal sintetiza a proposta do projeto e os específicos focam nas


ações que serão desenvolvidas ao longo dele.

Ao escrever os objetivos do seu projeto certifique-se de que eles estão


conectados com as demais etapas que serão desenvolvidas, bem como com o
texto de apresentação e a justificativa. Quer dizer, todo o objetivo deve estar
desenvolvido em outras partes do seu texto.

A escrita dos objetivos também pede o uso de verbos de ação e a clareza do uso
das palavras. Alguns verbos comumente utilizados na escrita de objetivos de
projetos culturais são:

» definir;

» analisar;

» realizar;

» compreender;

» criar;

» pensar;

» fomentar;

» aproximar;

» interpretar;

104
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

» reconhecer;

» ouvir;

» conhecer;

» compor;

» produzir;

» reconstruir;

» traduzir.

Um erro comum cometido nos objetivos de um projeto é a inserção de


tópicos que não estão presentes no corpo descritivo do projeto.

O objetivo deve estabelecer relação com as demais etapas do seu texto.


Cuidado para não criar listas de objetivos que pouco se relacionam com
a sua proposta central.

Lemos e analisamos o texto de apresentação do projeto “A Distância


entre Nós”. Que tal conhecer seus objetivos e refletir sobre como esses
estão conectados com o texto que introduz o projeto?

OBJETIVO PRINCIPAL

Realizar exposição fotográfica dos artistas Tanya Traboulsi e Eduardo


Macarios no Museu da Fotografia de Curitiba.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

» Fomentar a discussão e apreciação da fotografia contemporânea.

» Construir e fortalecer uma rede de contatos entre a comunidade


artística curitibana e libanesa.

» Aproximar o público curitibano da história migratória libanesa e


estabelecer conexões com a comunidade local.

» Estabelecer diálogos e fornecer informações sobre temas da


contemporaneidade para o público em geral.

» Realizar atividade paralela de palestras sobre temas pertinentes ao


projeto de exposição fotográfica.

105
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

» Realizar proposta de contrapartida composta por visitas guiadas,


conversas com a artista e com a curadora.

» Realizar divulgação do projeto nas redes sociais e espaços educativos


via posts e distribuição de cartazes.

» Fomentar a visitação de público estimado em 2.500 pessoas (SOUZA,


2019).

Note como os objetivos perpassam diferentes aspectos do projeto que


vão desde a fomentação da fotografia contemporânea, até a construção
de redes de contato, a aproximação do público da realidade da migração
e a realização de palestras e atividades de contrapartida. Todos os
objetivos estão relacionados a uma etapa específica do projeto e é
assim que devem ser apresentados para que as ações neles previstas
demonstrem viabilidade de execução.

Justificativa
A justificativa é o momento que você tem para defender seu projeto. Destaque
os motivos que fundamentem a sua importância. Procure contextualizar
o projeto junto à cena artística do qual faz parte. Por exemplo, se for
um projeto de dança contemporânea destaque a importância da dança
contemporânea na cena cultural e como o seu projeto pode contribuir para
fortalecer essa cena. Você pode sustentar seu argumento a partir de textos
de autores especializados na área.

É importante que, assim como o texto de apresentação, a justificativa seja


clara, atrativa e que se conecte com outras etapas do seu projeto, sobretudo
com o seu público-alvo. Afinal, uma das maiores importâncias do seu projeto
está relacionada às pessoas às quais ele é destinado.

A justificativa gira ao redor de alguns porquês. Procure respondê-los:

» por que você escolheu esse projeto;

» por que ele deve ser realizado;

» por que deve ser realizado no local escolhido;

» por que deve ser realizado para o grupo de pessoas determinado no


projeto;

» por que ele é importante no contexto da linguagem artística escolhida.

106
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

Agora que você já leu a apresentação e os objetivos do projeto expositivo


A Distância Entre Nós, que tal elaborar uma justificativa para ele? Escreva
um texto entre 3 e 4 parágrafos defendendo a importância da sua
realização. Os objetivos aqui mencionados podem ser um excelente guia
para você seguir e elaborar seu texto. Mãos à obra!

Público-alvo
Quem é o público do seu projeto? Qual a faixa etária dessas pessoas? Quantas
pessoas o seu projeto deve atingir? Essas são algumas das questões que precisam
ser respondidas na etapa de delimitação do público-alvo.

É importante que você tenha clareza do perfil que o seu projeto pretende
alcançar para que possa estabelecer a classificação indicativa correta e
estratégias de divulgação pertinentes. Além disso, o orçamento do seu projeto
será analisado levando isso em consideração, ou seja, o valor total que será
gasto deve ser compatível também com a dimensão do público do projeto.
Alguns exemplos de segmentos sociais que representam público-alvo são:

» jovens em situação de vulnerabilidade social;

» estudantes da rede municipal de ensino;

» habitantes de comunidades indígenas;

» fotógrafos amadores;

» idosos moradores de bairros periféricos;

» crianças entre 6 e 10 anos de idade;

» artistas profissionais.

Perceba como são muitas as possibilidades de delimitar o público-alvo do seu


projeto cultural. Ao defini-lo alinhe-se pelas características da sua proposta,
mas também se atenha a eventuais especificidades contidas no edital e no
perfil do potencial apoiador da proposta.

Equipe
A equipe principal do projeto é constituída pelos profissionais que são
imprescindíveis para a sua realização. A quantidade de profissionais que

107
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

integram essa equipe varia de projeto para projeto e, se o edital permitir, um


mesmo profissional pode executar mais de uma função.

Um projeto de exposição de artes visuais, por exemplo, deve ter ao menos


um artista, um curador e um produtor na formação da equipe principal.
Profissionais que não sejam essenciais para o projeto não precisam estar
presentes na equipe principal e podem ser contratados após a aprovação do
projeto.

Ainda que os currículos das pessoas que serão contratadas futuramente


não estejam anexados ao projeto inicial, é imprescindível que seus cargos,
funções e cachês sejam previstos no projeto.

Certifique-se de montar uma equipe forte e comprometida. Opte sempre por


profissionais com algum tipo de experiência em projetos culturais e mantenha
um bom equilíbrio entre profissionais com menos e mais experiência. O seu
projeto será pontuado de acordo com a qualidade e experiência da equipe
principal, a qual deve demonstrar capacidade para o exercício das funções a
ela atribuídas.

No caso de grupos e coletivos é comum que seja enviado um currículo coletivo,


mas, via de regra, currículos individuais também devem ser anexados. Atente
para esse detalhe.

Itens que devem estar presentes em um currículo da área da cultura são:

» dados pessoais;

» formação principal e complementar. é comum que agentes da


cultura tenham na formação complementar seus principais
destaques;

» experiência profissional (atente para as experiências relevantes na


área da cultura;

» prêmios e aprovações em editais anteriores;

» participação em residências artísticas (quando houver);

» experiência internacional (quando houver);

» demais informações que julgar relevante de acordo com a sua


atividade artística.

108
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

Cronograma
Você precisará deixar claro no seu projeto qual é a ordem das atividades que serão
realizadas. Todas as etapas devem ser previstas e atividades como a contratação
da equipe, ensaios, compra de equipamentos, montagem do espetáculo ou da
exposição, impressão dos materiais de divulgação, entre outras, devem estar
organizadas de forma sequencial.

Tabela 1. Cronograma de projeto.

Pré-produção
Julho’19 Agosto’19 Setembro’19 Outubro’19 Novembro’19 Dezembro’19
Concepção do projeto editorial, edição e design
Contato com os participantes, envio das autorizações de uso de imagem e coleta das
assinaturas
Redação de texto crítico
Contato com os festivais de fotografia para a
organização do lançamento
Produção
Novembro’19 Dezembro’19 Janeiro’20 Fevereiro’20 Março’20 Abril’20
Impressão das peças
Encadernação
Divulgação e distribuição
Fevereiro’20 Março’20 Abril’20 Maio’20 Junho’20 Julho’20
Elaboração
do material de
divulgação
Divulgação na mídia e nas redes sociais
Lançamento – festivais de fotografia
Envio dos livros para bibliotecas e para os
participantes do projeto
Pós- Produção
Julho’20
Fechamento de contas e entrega do relatório
Fonte: A Autora.

Mais adiante vamos estudar as etapas de um projeto. Essas etapas contribuirão


para a organização do seu cronograma, pois as atividades previstas devem estar
sequenciadas de acordo com elas.

Estratégias de divulgação
Como o público ficará sabendo sobre as ações do seu projeto? Quais estratégias de
divulgação serão utilizadas? Redes sociais, cartazes, folders, propaganda no rádio
e na televisão, todos esses caminhos são possíveis para que o seu projeto ganhe o
mundo.
109
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Cada meio de comunicação atinge uma parcela da população e deve ser escolhido
de acordo com o número de pessoas ao qual o projeto se destina e o orçamento
disponível para essas ações.

Uma das estratégias mais comuns, econômicas e eficazes é a distribuição de


cartazes e folders. Além disso, na atualidade, muitas pessoas se informam
pelas redes sociais e, por isso, grande parte das ações de divulgação de
projetos culturais acontecem on-line. Por isso é importante prever no seu
orçamento a confecção de peças gráficas para circularem nesses meios.

É importante lembrar que nem todo acesso a informação nas redes sociais
ocorre de maneira orgânica (sem impulsionamento/pagamento de anúncios).
Lembre-se de prever no seu orçamento valores específicos para essas ações.

Um aspecto importante que deve ser levado em consideração é a qualidade


dos materiais informativos. A escolha de um bom designer, bom acabamento
e uma linguagem compatível com o público-alvo determinam o sucesso e
alcance dos seus objetivos.

Em relação às redes sociais, alguns itens que devem estar previstos no seu
projeto cultural são:

» produção das peças de divulgação;

» criação de páginas nas principais redes sociais tais como facebook e


Instagram;

» alimentação e divulgação das páginas ao longo de toda a duração


do projeto.

Abaixo temos um exemplo de previsão de cartazes contido em um projeto de


divulgação:

» CARTAZES

A3

110
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

» Informações contidas na peça: Data de abertura da exposição;


data dos eventos da contrapartida; data das rodas de conversa;
contato; local.

» Cartazes A3.

» Quantidade: 60 unidades.

» Local de fixação: Espaços culturais, pontos de circulação, escolas


e universidades.

Orçamento
O orçamento é um dos principais itens de um projeto. Ele define sua viabilidade
considerando o valor máximo estipulado por um edital.

Todas as etapas do projeto devem estar presentes no orçamento bem como


todos os itens. É comum que o orçamento seja dividido de acordo com a etapa à
qual se refere: pré-produção, produção, divulgação e pós-produção.

Você decidirá em qual etapa agrupará os itens do seu orçamento. Em alguns


casos é difícil decidir de maneira precisa a etapa à qual o item se refere. Não se
desespere, mas procure sempre manter uma coerência entre as suas decisões.

É fundamental que nada seja esquecido. Por exemplo, se um dos profissionais do


projeto precisa viajar para realizar suas atividades, o valor das passagens deve
estar orçado. Caso não esteja, a banca de avaliação pode descontar parte da nota
da avaliação, pois significa que gastos importantes não foram previstos.

Abaixo disponibilizamos uma tabela de projeto cultural relacionada às duas


primeiras etapas de realização. Observe como foram feitas as escolhas de onde
gastar e a distribuição dos valores.

Tabela 2. Etapas de realização..

Pré-produção/ Preparação
Item Quantidade Valor unitário Total
Produtor 1 R$1.500,00 R$1.500,00
Curador 1 R$2.000,00 R$2.000,00
Material de expediente 1 R$350,00 R$350,00
Assistente de produção 1 R$1.000,00 R$1.000,00
Técnico de tratamento de imagem 1 R$500,00 R$500,00
Artista 2 R$1.000,00 R$1.000,00

111
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Produção/Execução
Item Quantidade Valor unitário Total
Hospedagem 1 R$ 1.200,00 R$ 1.200,00
Impressão gráfica em plotagem 1 R$ 600,00 R$ 600,00
Plotagem de texto em parede 1 R$ 200,00 R$ 200,00
Assistente de montagem 1 R$ 500,00 R$ 500,00
Molduras 1 R$ 3.500,00 R$ 3.500,00
Palestrantes 2 R$ 600,00 R$ 1.200,00
Transporte (passagens aéreas) 1 R$ 4.000,00 R$ 4.000,00
Impressões fotográficas fine art 1 R$ 3.800,00 R$ 3.800,00
Equipamento de iluminação 1 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00
Mobiliário 1 R$ 1.200,00 R$ 1.200,00
Locação de projetor 1 R$ 1.000,00 R$ 1.000,00
Fonte: A Autora.

O orçamento do projeto precisa ser realista e todos os valores de gasto estipulados


precisam estar em consonância com os valores aplicados pelo mercado. Mas qual
mercado e quais valores considerar?

Para ter uma base de valores sobretudo de cachês, você pode consultar
entidades que representam os profissionais que serão contratados tais como
sindicatos e associações que costumam ter tabelas de valores considerados
mínimos a serem cobrados.

Outra dica é pesquisar na internet por projetos atuais que estejam abertos para
consulta. Veja quais os valores que seus colegas estão praticando no momento
e atente às especificidades do local em que o projeto será realizado. É evidente
que um cachê praticado em grandes centros urbanos como São Paulo e Rio de
Janeiro não será o mesmo para projetos propostos e executados em cidades do
interior. Por isso sempre mantenha o equilíbrio.

Valores muito acima ou muito abaixo da realidade podem ser corrigidos pela
banca de avaliação do projeto e um orçamento discrepante pode tanto resultar
em desconto na pontuação quanto na reprovação do projeto.

Leia sempre o edital com calma e certifique-se de colocar no seu orçamento


apenas os itens cobertos por ele. Alguns editais por exemplo, não cobrem taxas
de transação bancária, outros não cobrem a compra de equipamentos passíveis
de serem alugados. Adicionar no orçamento itens proibidos pelo edital também
influencia diretamente na possibilidade de aprovação do seu projeto.

Observe como a tabela de exemplo que utilizamos acima prevê a locação de um


projetor multimídia. A escolha pela locação em detrimento da compra foi feita
pelo fato do edital para o qual a tabela foi preparada não prever a compra de
equipamentos.

112
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

A tabela que utilizamos neste capítulo está relacionada a um edital para


exposição fotográfica que tinha disponível R$30.000,00. Observe como a
restrição da verba fez com que os cachês dos profissionais envolvidos ficassem
consideravelmente baixos, mas a solução encontrada para superar essa questão
foi escolher profissionais que possam exercer mais de uma função.

Uma outra possibilidade para que os cachês do projeto venham a ter valores
mais realistas é procurar outras fontes de apoio financeiro, permitidas por uma
ampla gama de editais.

Alguns erros comuns na elaboração de um projeto cultural são:

» Falhas no orçamento – esquecer de algum item importante ou


não prever o cachê de um profissional são falhas comuns na
elaboração de projetos. Quando isso ocorre e o projeto é aprovado,
ajustes serão necessários e, em um orçamento exato esse
remanejamento pode ser complexo. Além disso, as possibilidades
de remanejamento de recursos estão previstas nos editais e por
vezes são bastante burocráticas e, em alguns casos, proibidas.

» Contratação de equipe pouco experiente – É importante que a


maior parte dos profissionais de um projeto tenha experiência
na realização de atividades similares às propostas. Como você
pode ver, a redação e realização de projetos culturais envolve
etapas complexas e todos os participantes devem ter ciência de
suas responsabilidades e comprometimento com a realização do
projeto.

A montagem de um orçamento pode gerar uma série de dúvidas em


relação aos valores de serviço e mão de obra. Como referência você pode
consultar algumas tabelas e boletins tais como:

Sindicato de atores (procure pelo seu estado):

satedpr.org.br.

www.satedsp.org.br.

Sindicato de jornalistas (procure pelo seu estado):

www.jornalistas-rs.org.br.

www.sinjope.org.br.

Sindicato de trabalhadores da indústria cinematográfica.

www.sindcine.com.br/site/Pagina/10/Tabelas.

113
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Contrapartida
Existem diferentes tipos de contrapartida sendo as principais:

» contrapartida de imagem;

» contrapartida social;

» contrapartida ambiental;

» contrapartida negocial;

» contrapartida financeira.

Mas, como montar um plano de contrapartida? Esse plano não se restringe


apenas à divulgação da marca dos patrocinadores e apoiadores e pode ganhar
uma série de formatos:

O plano de contrapartida deve apresentar informação detalhada


sobre todo retorno concreto previsto para patrocinadores e
parceiros do projeto, bem como para a comunidade onde este
projeto será desenvolvido. Vai além da simples veiculação da marca
das empresas patrocinadoras no material de divulgação do projeto,
que é a forma de contrapartida mais comum, porém, não é a única
(SEBRAE, 2014, p. 72).

Você se lembra que comentamos, em unidades anteriores, que hoje as empresas


querem se destacar e pensam o marketing cultural aliado à experiência de
seus clientes e posicionamento da marca? Pois bem, uma contrapartida que se
restringe a afirmar que a marca ganhará visibilidade pode não ser suficiente
para atrair atenção para o seu projeto. Seja criativo e pense fora da caixa. A
seguir analisaremos cada um dos modelos de contrapartida citados e suas
especificidades.

Contrapartida de imagem
A contrapartida de imagem é a aplicação da marca do patrocinador e do apoiador
nas peças de divulgação do seu projeto. Essa modalidade de contrapartida é
praticamente mandatória e não deve ser encarada como a única possibilidade
de reconhecer o apoio recebido. Ainda assim ela deve estar prevista no seu
projeto.

Ações complementares de contrapartida de imagem podem ser:

» Leitura de texto de agradecimento durante a apresentação ou


encerramento de apresentações e cujo conteúdo reconhece todos

114
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

os apoiadores e patrocinadores do projeto. Essa modalidade é


mais comumente utilizada em apresentações de peças de teatro e
espetáculos de dança. Solenidades de abertura de eventos também
são momentos propícios para esse tipo de ação.

» Nas aparições de membros da equipe do projeto na mídia, o


profissional menciona também seus apoiadores e patrocinadores.
Essas menções são mais frequentemente realizadas durante
entrevistas.

» Aplicação da marca dos patrocinadores e apoiadores em


camisetas, bonés e demais objetos que possam ser utilizados
mesmo após a realização do projeto.

Contrapartida social

Devem ser pensadas como o desenvolvimento de ações que causem algum tipo
de impacto junto à comunidade local. São ações que expandem os limites dos
projetos e convidam o público mais amplo a dialogar com a proposta. Algumas das
ações possíveis são:

» workshops e oficinas gratuitas;

» palestras abertas ao público;

» visita de membros da equipe a escolas;

» distribuição de uma cota de ingressos para grupos em situação de


vulnerabilidade social e/ou com carência de recursos financeiros;

» realização de apresentação exclusiva para moradores da região e/ou


grupo escolhido.

Detecte pontos que possam ser explorados e desenvolvidos junto à


comunidade na qual o projeto se insere. Você pode fazer uma pesquisa
prévia com espaços culturais, diretores de escola e líderes comunitários
para encontrar estratégias que tornem seu projeto ainda mais interessante.
A ideia de uma ação pode surgir da própria comunidade com a qual você
pretende trabalhar. Por isso, ainda durante a elaboração do seu projeto,
você pode encontrar momentos estratégicos para iniciar um contato mais
estreito com as pessoas que farão parte desta etapa.

115
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Contrapartida negocial

São ações que buscam criar experiências de exclusividade junto ao público-alvo


do projeto. De acordo com o manual de projetos culturais do SEBRAE, alguns
exemplos são:

Cessão de espaço para ações promocionais do patrocinador;


cota de exemplares ou ingressos; lugares reservados para os
convidados do patrocinador; cessão de espaço para colocação
de banner do patrocinador; participação de representante da
empresa patrocinadora na abertura do evento; visita ao camarim
dos artistas participantes do projeto; acesso a espaço exclusivo
(sala vip) (SEBRAE, 2014, p. 73).

Este modelo de contrapartida está diretamente relacionado à ideia de experiência


de marca. Neste caso, trabalhe com ações que fomentem uma experiência de
exclusividade para o cliente da marca que está te patrocinando ou apoiando.

Contrapartida financeira ou econômica


É um tipo de contrapartida em que o proponente do projeto participa com algum
tipo de investimento como recurso financeiro, estrutura, serviço. Esse tipo de
contrapartida é mais comum para editais voltados para a pessoa jurídica.

É importante destacar que algumas fontes de financiamento exigem


uma contrapartida financeira por parte do executante do projeto,
como forma de complementar o valor global do orçamento proposto
e, inclusive, demonstrar a capacidade financeira do proponente
(SEBRAE, 2014, p. 73).

Este modelo de contrapartida tem como um dos seus objetivos verificar se a


produtora responsável pelo projeto tem condições mínimas para manejar valores
altos e estruturas amplas.

Os anexos de um projeto
É usual que os editais aceitem e demandem materiais anexos. Alguns
desses materiais são obrigatórios dependendo da modalidade em que se
está inscrevendo. Em outros casos fica a critério do proponente anexar as
informações que julgar importantes para a compreensão do projeto.

Preparamos uma lista dos anexos mais usuais e algumas dicas de formatação
de cada um deles.

116
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

Portfólio

O portfólio é um documento que pode ser físico ou digital e que deve ser
anexado a projetos que o exigem ou que possam contribuir para a sua
compreensão. Áreas como as artes visuais e a fotografia sempre pedem
portfólio. Ele precisa conter as principais realizações da equipe principal
e/ou do proponente do projeto. É importante que o portfólio não seja
demasiadamente extenso, que represente trabalhos atuais e que, de
preferência, tenha materiais que se relacionam de alguma maneira com o
projeto que será executado.

Em geral, todo edital coloca regras para a apresentação de portfólio tais


como quais documentos são esperados, número máximo de imagens e
formato. Para apresentação de portfólio digital é importante que seja dada
atenção para o tamanho do arquivo que pode ser anexado bem como para
as especificidades de formatação das imagens. Na atualidade, é comum que
portfólios apresentados em formato digital contenham links e atalhos para
lugares onde informações mais completas estão disponíveis.

Dicas para um portfólio de sucesso:

» Escolha boas imagens – reproduções bem feitas e fotografias


profissionais trarão confiança para o seu trabalho.

» Diagramação – Organize de maneira clara as informações do seu


portfólio. Diversos programas podem ajudá-lo a alcançar uma boa
apresentação. Caso essa área não seja o seu forte, contrate um
profissional para realizar o serviço.

» Faça o upload de materiais adicionais em plataformas on-line e


disponibilize o link no documento de portfólio.

» O portfólio deve ser enviado em um documento fechado (não


passível de edição). Escolha formatos como o PDF.

» Profissionais com muitos anos de profissão devem selecionar


materiais condizentes com o projeto apresentado para serem
anexados ao portfólio. Em geral os portfólios devem ser enviados
com até 10 páginas ou imagens.

117
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

» Para aqueles que estão entrando na área, apostem na versatilidade


de trabalhos.

» Em caso de envio de material impresso, certifique-se que os arquivos


de imagem estão com uma boa qualidade para que a impressão fique
com um bom acabamento.

As informações específicas e que contribuem para a compreensão do


projeto devem ser escolhidas pelo proponente e não seguem uma regra
rígida.

Reflita sobre as especificidades do seu projeto e que tipos de informação


extra precisam estar contidas nele.

O projeto precisa ser completo ao ponto de prever as dúvidas da banca


durante a avaliação. Cabe a você fazer essa análise.

Planta baixa

Projetos de exposição de artes visuais ou de objetos históricos, que incluem


uma cenografia específica ou algum tipo de instalação de objetos, demandam a
inclusão de planta baixa com um plano de montagem. A planta do local pode ser
adquirida junto à instituição que receberá o seu projeto e normalmente pode
ser encontrada nos sites institucionais.

Cabe ao proponente do projeto organizar as informações visuais de maneira


clara. Não existe um formato fechado para tal, mas o ideal é que o projeto da
planta baixa seja montado digitalmente. Para isso você pode contar com a ajuda
de arquitetos e designers ou se aventurar pelos programas de computador e
plataformas on-line.

A construção de uma planta baixa pode ser facilmente realizada em sites


e plataformas de arquitetura, decoração e design. Ainda que seja um
trabalho técnico, com um pouco de prática você pode executá-lo.

Muitos desses sites liberam o acesso de maneira restrita para não


assinantes, mas de maneira geral as funções são suficientes para esta
atividade. Uma dessas ferramentas é o Lucidchart. Conheça:

118
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

www.lucidchart.com.

Você precisará das medidas do local para a montagem da sua planta


baixa. Certifique-se da existência desse documento junto aos órgãos
competentes e lembre-se de solicitar essa informação com a antecedência
necessária.

Projeto expográfico

Assim como a planta baixa, o projeto expográfico faz parte sobretudo de projetos
de exposição visual. Ele consiste na organização de informações como o número de
obras, em quais salas/lugares elas serão expostas, especificações de montagem de
instalações visuais etc.

Planta baixa e projeto expográfico são informações complementares que podem


ou não ser apresentadas enquanto itens separados no projeto.

Complementar a essas etapas é importante pensar no projeto de iluminação,


sobretudo para espaços não convencionais ou que não tenham uma boa
estrutura de iluminação prévia. A elaboração de um bom projeto de exposição
e iluminação o ajudará a prever gastos no orçamento com itens de montagem.

Roteiro

O roteiro é um item requisitado em projetos que preveem produção


audiovisual. Seja um filme de curta, média ou longa-metragem, é por meio
da qualidade do roteiro que grande parte da sua avaliação será feita.

Existem editais que visam fomentar e apoiar justamente a escrita do roteiro,


mas não são tão comuns quanto aqueles que apoiam a sua produção.

Existem diversas publicações que nos introduzem ao mundo da escrita


de roteiros. O livro Da Criação ao Roteiro, de Doc Comparato é um deles.
Seguem alguns trechos iniciais da obra para que o seu interesse sobre o
tema cresça:

Existem diferentes formas de definir um roteiro. Uma, simples,


e direta seria: como a forma escrita de qualquer projeto
audiovisual. Atualmente o audiovisual abarca o teatro, o
cinema, o vídeo, a televisão e o rádio. Syd Field define-o
como uma “história contada em imagens, diálogo e descrição,

119
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

dentro do contexto de uma estrutura dramática”. Para outros


é simplesmente a “elaboração do argumento” onde “os
elementos acrescentados são diálogo e descrição do drama,
e narração no documental.

A especificidade do roteiro no que respeita a outros tipos


de escrita é a referencia diferenciada a códigos distintos
que, no produto final, comunicarão a mensagem de maneira
simultânea ou alternada. Neste aspecto tem pontos em
comum com a escrita dramática – que também combina
códigos - , uma vez que não alcança sua plena funcionalidade
até ter sido representado. A “representação” do roteiro,
no entanto, será perdurável, em função da tecnologia da
gravação (COMPARATO, 2000 p.19)

Boneco de livro

Em geral, para que projetos de publicação sejam inscritos em editais, você


precisará de um boneco do seu livro. Nem sempre uma ideia bem explicada é
o suficiente e o projeto gráfico já precisa ser enviado com os demais materiais.

Os bonecos podem ser pedidos e aceitos em diferentes modelos. O mais


comum é que um boneco físico do livro seja pedido em editais e prêmios que
contemplem publicações. Por isso, reserve tempo extra para fazer a impressão
e os acabamentos necessários. Em alguns casos, dado o custo de produção do
boneco e o seu envio, são aceitos projetos gráficos finalizados.

O boneco do livro consiste basicamente na produção de uma unidade modelo


que será reproduzida em maior escala depois de sua aprovação. Para projetos
de incentivo é importante que os materiais utilizados em sua produção estejam
de acordo com aqueles presentes no orçamento.

A produção de bonecos de livros tende a ser custosa. Selecione bem os


editais que têm maior o perfil da sua futura publicação e verifique as
chamadas que pedem na primeira etapa apenas o projeto gráfico digital.

Documentos específicos

No ato de inscrição do projeto, alguns dos documentos são obrigatórios, outros


são específicos e dependem das características do seu projeto. Mais uma vez
chamamos a sua atenção para a necessidade do edital ser lido com calma e

120
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

atenção. Lembra da dica que demos anteriormente sobre a produção de listas


de atividades? Um checklist para organizar o fluxo de envios de documentos é
altamente recomendado.

Dois documentos muito comuns que devem ser enviados já no ato da inscrição
do projeto são: termo de cessão de espaço e termo de cessão de direitos autorais.
A seguir explicaremos cada um deles.

Termo de cessão de espaço


Um dos itens obrigatórios mais comuns em projetos culturais é a
especificação do espaço onde será realizado. Em inscrições de projetos via
edital é de praxe que se especifique os locais da realização das atividades
já que este item ajuda a compreender quem é o público-alvo do projeto e a
sua viabilidade.

Se houver a necessidade de indicação por parte do proponente de um espaço


específico, ele deve se certificar junto ao local desejado sobre a possibilidade
de realização do projeto.

Para isso, além de conversar com o gestor do espaço e pedir uma autorização
verbal, você precisará de um Termo de Cessão do Espaço ou Carta de Anuência.

Esse termo deve ser assinado pelo responsável pelo espaço e precisa atestar que
você está autorizado a realizar seu projeto naquele local caso seja aprovado.

Em geral esse é um procedimento bastante simples, mas lugares muito


requisitados farão uma triagem mais rigorosa dos projetos que desejam receber.
Neste caso, você deverá enviar um pré-projeto para análise.

Esse é mais um item que precisa ser resolvido com antecedência, pois
nos últimos dias de inscrição do edital não será apenas você que estará
procurando de última hora um lugar para sediar sua ação cultural. Organize-
se com antecedência, pois um espaço reconhecido também contribuirá para a
avaliação da proposta.

Informações que devem estar presentes no Termo de Cessão do Espaço:

» nome do projeto;

» nome do proponente do projeto;

» local com endereço completo onde o projeto será realizado;

121
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

» período do ano em que o evento deve acontecer;

» assinatura em papel timbrado da instituição que receberá o projeto.

Termo de cessão de direitos autorais


Ao propor um projeto certifique-se de que você não está infringindo direitos
autorais e de que você tem as devidas autorizações relacionadas ao direito de
autor.

Em alguns projetos as questões relativas aos direitos autorais devem ser


resolvidas antes mesmo da inscrição no edital, e a prova da possibilidade de
realização dos objetivos propostos deve ser anexada ao projeto na forma de um
Termo de Ccessão de Direitos Autorais. Esse item está relacionado à viabilidade
do projeto e uma proposta que não apresenta os consentimentos necessários
pode ser considerada inviável.

Alguns dos casos mais comuns de necessidade de cessão de direitos autorais são:

» traduções;

» publicações literárias;

» uso de imagens produzidas por terceiros;

» uso de imagens históricas pertencentes a arquivos;

» peças teatrais que usam textos de autores contemporâneos e que não


estão em domínio público;

» gravação de álbum musical com músicas compostas por terceiros.

A facilidade para a obtenção do Termo de Cessão de Direitos Autorais varia de


projeto para projeto e cabe ao proponente observar essas questões para que toda
a documentação seja reunida com a antecedência necessária.

Os direitos autorais podem ser cedidos ou adquiridos. No primeiro caso o


autor ou gestor da obra cedem o direito de uso para aquele projeto específico.
Por vezes não é cobrada nenhuma taxa e o autor ou gestor da obra entendem
a relação como um apoio ou parceria.

É possível também comprar o direito da obra como um todo ou parcialmente,


para que a obra ou a peça desejada seja utilizada em um momento específico.
Esses valores podem ser incluídos no orçamento do seu projeto.

122
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

Os profissionais envolvidos em um projeto


A equipe que compõe o projeto é formada por uma lista de profissionais que
segue uma nomenclatura comum. É fundamental o uso da terminologia da
área para que a sua proposta fique clara. Os detalhes das funções atribuídas
a cada um desses profissionais poderão ser decididos pelo coordenador ou
proponente do projeto.

Nas artes visuais alguns dos profissionais envolvidos são: curador, crítico de
arte, artista, designer, arquiteto etc.

No teatro: iluminador, diretor, ator, cenógrafo, contrarregra, sonoplasta etc.

Na dança: bailarinos, coreógrafo, preparador corporal, cenógrafo, costureiro etc.

No cinema: diretor, ator, atriz, cinegrafista, diretor de fotografia, figurinista,


continuísta etc.

Como você pode perceber, cada área da cultura tem sua rede de profissionais
envolvidos, mas existem três funções que extrapolam os limites entre as
áreas e estão diretamente relacionadas à realização do projeto em si mesmo:
proponente do projeto, produtor cultural e captador de recursos. Vamos
conhecer cada uma delas?

O proponente de projeto

O proponente de um projeto cultural pode ser uma pessoa física ou jurídica.


Ele não precisa assumir necessariamente alguma das funções do projeto, mas
é comum que assuma alguns dos cargos diretamente relacionados à tomada de
decisões e coordenação do projeto. Além disso, seu currículo, portfólio e demais
informações relevantes serão avaliadas pela banca do edital.

O proponente pode se enquadrar na categoria de iniciante ou de profissional,


mas é fundamental a comprovação de algum tipo de experiência na área seja
como estudante, estagiário etc. É o proponente do projeto o responsável
direto pela gestão dos seus recursos, a contratação da equipe e o pleno
desenvolvimento do projeto apresentado. Juridicamente é ele que responde
por eventuais problemas no transcurso das atividades previstas e na
prestação de contas.

123
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Nem todo edital é dividido entre as categorias iniciante e não iniciante. Ainda
que o proponente não tenha uma ampla experiência, ele pode articular uma
equipe de excelência e mais experiente na realização de projetos.

Na maior parte dos editais e chamadas públicas o proponente deve


integrar a equipe principal do projeto. Ou seja, a pessoa que apresenta
o projeto deve fazer parte da lista principal de profissionais que atuarão
nele.

O proponente deve estar com a documentação em dia e apto a comprovar


sua regularidade. Para projetos inscritos em leis de incentivo, haverá uma
etapa de análise documental do proponente seja ele pessoa física ou
jurídica. Em geral, no momento em que for publicada a chamada para a
apresentação dos documentos, não será cedido nenhum tempo adicional
para a regularização da situação documental caso esta esteja com algum
problema. Por isso o proponente deve checar antecipadamente como
está sua situação documental.

O produtor cultural

O produtor cultural é o profissional responsável pela organização geral do


projeto. Ele acompanha todas as etapas junto ao proponente. É o produtor que
verifica se tudo está em ordem, se todo o equipamento necessário está disponível
e contratado, organiza os horários da equipe entre outros fatores. Em projetos
de médio e grande porte, é possível contratar mais de um produtor para dividir
a ampla gama de funções. A função de produtor assistente também é comum.

Produtores culturais também podem ser responsáveis pela elaboração do


projeto. Neste caso, duas formas de atuação são as mais comuns: 1) o produtor
é o proponente do projeto inscrito; 2) o produtor é contratado por terceiros
para escrever o projeto mas não o executa.

No primeiro caso o profissional precisa figurar na lista da equipe principal do


projeto e ficará responsável pela organização e andamento geral dele.

No segundo caso trata-se da contratação de tal profissional por uma pessoa


interessada em ver seu projeto se tornar realidade. Em geral pessoas que não
têm experiência na redação de projetos ou que não tenham tempo hábil para
tal contratam um produtor para a etapa de elaboração. Com isso, é comum
que, próximo às datas limites dos principais editais, os produtores culturais

124
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

estejam todos muito ocupados, pois estão finalizando a inscrição de um


número grande projetos.

Assim como o proponente, o produtor pode ser uma pessoa física ou jurídica
organizada em uma produtora. As produtoras culturais costumam gerir mais de
um projeto ao mesmo tempo e algumas são especializadas em áreas específicas
da cultura.

Captador de recursos
Como vimos nas páginas anteriores, projetos inscritos em leis de incentivo
fiscal na modalidade de mecenato demandam que, após aprovados, tenham os
recursos necessários captados junto às empresas privadas. A pessoa que visita
as empresas, apresenta o projeto e o divulga é o captador de recursos.

Esse profissional precisa ser comunicativo e bem relacionado. Precisa ter


conhecimento sobre possíveis apoiadores e quais departamentos procurar
para que o projeto gere interesse e ganhe a atenção necessária.

O captador de recursos não precisa fazer parte da equipe principal do projeto


e é comum que trabalhe a partir de uma porcentagem dos valores captados.

Uma equipe principal bem estruturada pode garantir a aprovação do seu


projeto. Isso porque os currículos dos integrantes do projeto principal
devem ser sempre anexados ao projeto, sendo que bons currículos
significam uma pontuação mais alta.

Ainda que parte da equipe do seu projeto seja composta por profissionais
em início de carreira, certifique-se de que profissionais mais experientes
também participem da sua equipe principal.

Além disso, é importante que a equipe seja formada por profissionais


que de fato trabalharão no projeto. Ou seja, pessoas que assumam um
compromisso com a proposta. A troca de profissionais da equipe principal
de um projeto cultural passa por uma série de análises documentais e
pode ou não ser aprovada.

Etapas de um projeto

Todo projeto tem um começo, um meio e um fim. Essa sequência de


acontecimentos é organizada em um projeto cultural como: pré-produção,

125
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

produção e pós-produção. A seguir vamos conhecer cada uma dessas etapas


– bem como etapas intermediárias – e quais são as atividades que estão
relacionadas a elas. É importante destacar, desde já, que as atividades
realizadas em cada um desses momentos podem ser organizadas da maneira
que for mais adequada para o projeto. É o coordenador e/ou proponente do
projeto quem decide a ordem das atividades e como elas vão fluir.

Pré-produção

Envolve todos os itens que antecedem a execução do projeto. É basicamente


tudo o que ocorre fora do olhar do público. Por isso, em alguns projetos, a
etapa de pré-produção é mais trabalhosa do que a própria execução do projeto.
Isso ocorre, por exemplo, com projetos expositivos durante os quais o ápice
é o dia de abertura. Imagine todas as etapas que envolvem a organização de
uma exposição! Já projetos que envolvem apresentações e espetáculos como
dança e teatro, pré-produção e execução costumam ter etapas igualmente
trabalhosas, pois a sequência de apresentações dos espetáculos exige uma
produção contínua.

Como você pode ver, cada projeto tem suas especificidades e é importante que
você as entenda e seja capaz de demonstrá-las de maneira clara e objetiva na
redação do seu projeto.

Basicamente, para elencar os itens das etapas do projeto e sobretudo da


pré-produção, você precisará organizar listas de atividades necessárias e
organizá-las na sequência em que serão realizadas.

Listamos alguns itens comuns à pré-produção para que você se familiarize com
esta etapa:

» agendamento de passagens;

» reserva de hotel;

» preparação de figurino;

» organização de ensaios;

» serviços de molduraria, impressão e acabamento em geral;

» contratação de profissionais;

» requerimento de autorizações;

126
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

» agendamento dos locais de realização das ações do projeto e suas datas;

» contratação de seguros;

» organização e agendamento das atividades relacionadas às atividades


de contrapartida.

Divulgação/comercialização

Depois que seu projeto está devidamente organizado e com todos os detalhes
previstos, é necessário começar a divulgar as atividades que o compõem. Para tanto
pergunte-se:

» Quais etapas envolvem a divulgação do projeto?

» Como elas serão organizadas?

» Qual a melhor maneira de me comunicar com o público alvo do


meu projeto?

» Como eu alcanço esse público?

» No caso da venda de ingressos, onde eles serão vendidos? Serão


doados? Se sim, como serão distribuídos?

Todos os itens que vão desde o preparo das peças gráficas, à materialização
delas e à circulação devem ser apontados no plano de divulgação.

Nesta etapa, entra o tempo de execução das peças pelo designer, a quantidade
e quais itens serão impressos. E, quando impressos, como serão distribuídos ao
público-alvo.

Já mencionamos ao longo do texto que é importante prever gastos com a


divulgação on-line. Além da elaboração de peças específicas para esse meio, pode
ser interessante contabilizar gastos com um gestor de mídias sociais, além das
ações de impulsionamento das publicações principais.

Produção/execução

A etapa de produção/execução envolve tudo o que vai acontecer durante


a realização do projeto. A produção pode se resumir a uma única ação

127
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

principal, mas você também pode prever nessa etapa as ações relacionadas à
contrapartida do seu projeto e toda ação complementar.

Em projetos de temporada de companhias de teatro e dança é preciso prever


quantas apresentações serão realizadas, com qual periodicidade e em quais
cidades. Períodos de deslocamento também entram nessa etapa.

Projetos de artes visuais precisam apresentar a data da abertura da mostra,


como serão realizados os eventos paralelos e as visitas guiadas. São itens
comuns aos mais variados projetos:

» período de estreia ou abertura;

» previsão das ações complementares;

» contrapartida social: workshops, palestras, apresentações para


grupo escolhido pelo patrocinador etc.;

» visitas guiadas e ações afins.

Pós-produção

Finalizar um projeto também dá trabalho e a equipe deve seguir mobilizada


até que todos os detalhes estejam acertados. A etapa da pós-produção precisa
ser pensada com cuidado, pois muitas das atividades que a envolvem são
essenciais para que o proponente do projeto não tenha pendências futuras
com os seus patrocinadores e os órgãos de fiscalização.

Após prever todas as etapas de realização do projeto, pergunte-se: Quais são


as etapas finais que o meu projeto deverá seguir? Será preciso fazer o envio de
obras para artistas? Haverá alguma etapa de desmontagem e armazenamento
de itens? Como será o dia seguinte do projeto e o que precisarei fazer enquanto
gestor?

Além disso é preciso olhar algumas exigências do edital sobre os recursos do


projeto para verificar se existem itens de pós-produção obrigatórios. Mesmo
esses itens já previstos em edital devem ser contemplados no seu cronograma.

Alguns itens comuns à etapa de pós-produção de projetos são:

» elaboração e entrega de relatórios;

» finalização e entrega da prestação de contas;

128
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

» transporte de obras e itens de cenografia;

» entrega de itens de doação;

» envio de publicações para instituições públicas e bibliotecas;

» confecção de certificados para participantes das atividades do projeto.

Nem sempre a pós-produção do projeto é geradora de custos extras, mas esta


é certamente uma etapa que pode ter custos não previstos inicialmente. Um
exemplo de gasto frequente são os custos com correio. Além disso, esse é o
momento de fazer alguns fechamentos obrigatórios e previstos no edital.

É sempre bom lembrar que as etapas de trabalho não seguem um


modelo rígido e os produtores devem encontrar o caminho que melhor
funcione para o seu projeto:

Não há um modelo único para a construção das etapas de


trabalho. Cada produtor deverá elaborar esse item da forma
mais apropriada para comunicar, a todos os interessados,
como pretende realizar o seu projeto. Porém, não podemos
esquecer que quando estruturamos adequadamente as
etapas de trabalho, demonstramos nossa capacidade
de planejar e conhecer o nosso próprio projeto cultural
(SEBRAE, 2014, p.48).

Depois da realização do projeto: a prestação


de contas

A prestação de contas é uma etapa essencial em todo projeto. Projetos de lei


de incentivo demandam uma complexa prestação de contas que deve reunir os
comprovantes de todos os gastos realizados durante o projeto.

Além da etapa administrativa e financeira, é comum que a equipe tenha


que escrever relatórios além de apresentar comprovantes das atividades
realizadas como a assinatura de declarações de participação.

Os itens obrigatórios de cada prestação de contas estão previstos em edital e


devem ser observados antes mesmo do início do projeto para que os erros não
se acumulem e fique cada vez mais difícil corrigi-los. Vamos entender melhor
essa etapa?

129
UNIDADE IV │ COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL

Fechando as contas

Ao longo da realização do projeto é fundamental manter toda a documentação


e comprovantes organizados para que, na etapa da prestação de contas, você
não enfrente problemas e inconsistência de documentos.

Na teoria, a prestação de contas ocorre apenas no final do projeto, mas, na


prática, ao longo de toda a execução você precisa se preocupar com o andamento
da prestação de contas, pois existem regras sobre como as movimentações
bancárias devem ser feitas e em qual formato os comprovantes de gastos
devem ser apresentados.

Algumas dicas para o sucesso da prestação de contas são:

» Leia o edital com atenção e siga as orientações de gastos e


pagamentos estabelecidas. É comum, por exemplo, que todo
pagamento de cachê seja realizado via transferência bancária ou
cheque, sendo vetado o pagamento em dinheiro. Isso acontece
porque toda movimentação na conta do projeto deve ser compatível
com o seu comprovante específico.

» Guarde notas fiscais e recibos em uma pasta única. Certifique-se


dos valores limite para a emissão de recibos já que gastos maiores
devem ser comprovados apenas por notas fiscais (essas informações
estarão estabelecidas no edital).

» Ao pedir a nota fiscal ou o recibo não se esqueça de requisitar a


inclusão do seu CPF ou CNPJ no documento.

» Confira quais impostos são de sua responsabilidade direta e


devem ser pagos pelo proponente. O não pagamento de impostos
obrigatórios pode acarretar uma conta inesperada no final do
projeto.

» A equipe principal deve assinar os recibos referentes aos


seus pagamentos. Não deixe para o final do projeto, e reúna
esses documentos na primeira oportunidade. Caso alguns dos
participantes não residam na cidade de realização do projeto, será
necessário solicitar o documento por correio.

130
COMO ELABORAR UM PROJETO CULTURAL │ UNIDADE IV

» Em alguns editais todas as pessoas que trabalharam no projeto


também precisam assinar uma declaração de participação que ateste
que participaram efetivamente do projeto.

» Alimente a planilha de gastos ao longo de todo o projeto. Não deixe


para o final! Tudo deve ser anotado e nada pode ser esquecido.

Em relação à comprovação de realização do projeto:

» Documente as etapas de realização do seu projeto em vídeo e


fotografia (mesmo que não seja item obrigatório do edital). Ainda
que não exista no orçamento um valor destinado especificamente
para essa atividade, esses registros trazem segurança e podem
ser utilizados para integrar o seu portfólio ou comprovar algo no
futuro.

» Todos os materiais gráficos do projeto devem ser reunidos para


a prestação de contas: folders, cartazes, peças de divulgação
veiculadas nas redes sociais, entre outros.

» Prepare o relatório seguindo as normas determinadas pelo edital.


Em projetos com muitas atividades e ações você pode reservar
um caderno de anotações para ir registrando itens que julgar
importante para compor o relatório.

Inconsistência, erros e falta de informação na prestação de contas


acarretarão na sua revisão e será necessário refazê-la. Em alguns casos,
se o comprovante do gasto não for aceito, o valor deverá ser ressarcido
pelo proponente.

131
ALTERNATIVAS PARA
O FINANCIAMENTO
DO PROJETO: O UNIDADE V
PÚBLICO COMO
INCENTIVADOR

CAPÍTULO 1
Alternativas para financiamento de
projetos

Até aqui tratamos de projetos e financiamentos relacionados às leis de incentivo


e patrocínio de empresas. Neste ponto você deve estar se perguntando: o único
caminho para a realização de projetos culturais é via edital? A resposta é não.
Existem outros caminhos para retirar um projeto do papel, muitos dos quais
são conhecidos como “alternativos”.

Por alternativos nos referimos a todas as possibilidades de financiamento que


não estão institucionalizadas e que não passam diretamente por instituições de
promoção e fomento à cultura.

Aqui, a criatividade é que impera e uma boa rede de contatos dos organizadores
também ajuda muito. As estratégias para viabilizar um projeto cultural são as
mais variadas e ações inovadoras atraem a atenção do público. Tudo o que você
fizer para levantar fundos para um projeto terá o sucesso diretamente atrelado
à sua capacidade de engajamento de pessoas que acreditem na sua proposta
bem como da sua capacidade em criar eventos e ações capazes de conectar
apoiadores.

Vejamos, um caminho comumente usado por quem deseja levantar fundos


para projetos, mas não se reconhece nesses formatos mais tradicionais ou tem
projetos que não se encaixam nos moldes das chamadas abertas, é a realização
de eventos, jantares e rifas.

132
ALTERNATIVAS PARA O FINANCIAMENTO DO PROJETO: O PÚBLICO COMO INCENTIVADOR │ UNIDADE IV

Esses modelos podem soar antigos e pouco eficazes, mas podem ser
poderosos. Além disso, são facilmente reconhecidos pelo público que vê
essas ações como uma troca interessante já que a compra de um ingresso
lhe dá o direito de usufruir de algum serviço ou a compra de um bilhete
pode lhe brindar com a sorte.

Mas você pode ir além das ações mais tradicionais e encontrar caminhos
próprios para que as pessoas se identifiquem com o seu projeto. Um exemplo
vem de Curitiba, Paraná. No centro da cidade existe um espaço cultural chamado
Galeria Ponto de Fuga. A Ponto de Fuga dedica-se ao fomento das artes em
geral com foco principal na linguagem fotográfica.

O local realiza um projeto chamado “Fome de quê”. Durante uma noite é


ofertado um jantar para o qual apoiadores podem adquirir convites e todo o
lucro do evento é repassado para o artista que está sendo apoiado na noite. O
interessante é que, para ser apoiado, o artista precisa dizer ao público qual é o
projeto dele: uma exposição, uma viagem para apresentar uma peça, a construção
de um trabalho, entre tantas possibilidades. Assim, o público se engaja com
uma necessidade específica do artista e sente-se parte de sua realização.

Como estratégia de divulgação a Ponto de Fuga e os artistas participantes


utilizam sobretudo as redes sociais. Nesses espaços, artistas e produtores
compartilham vídeos convidando o público, flyers e postagens. Perceba como
este é um evento bastante local e ligado diretamente à comunidade à qual
faz parte já que a rede de participantes está muito ligada aos contatos dos
organizadores.

Em todo o país iniciativas “alternativas” e criativas como esta são realizadas,


pois são relativamente simples de serem organizadas e trabalham com o apoio
direto da rede mais próxima de amigos e conhecidos do artista ou grupo que
está procurando apoio financeiro.

133
CAPÍTULO 2
Financiamento coletivo

Um formato popularmente utilizado nos últimos anos para angariar apoio para
projetos são as plataformas de financiamento coletivo, também conhecidas por
crowdfunding. O termo em inglês vem da união das palavras crowd, multidão, e
funding, financiamento.

Crowdfunding é um método de coleta de pequenas contribuições financeiras


de muitos contribuintes. A soma desses pequenos valores resulta no montante
necessário para a realização do projeto. Popular nos Estados Unidos e na Europa,
essa modalidade vem ganhando cada vez mais destaque na vida dos brasileiros.

Nos Estados Unidos o método ganhou força em 2003 quando o músico Brian
Camelio criou a plataforma ArtistShare, destinada a patrocinar projetos musicais
por meio da contribuição de fãs. Os fãs de músicos e bandas famosas podiam
apoiar seus ídolos fazendo a compra antecipada de um ingresso ou álbum musical,
além de outras modalidades de apoio.

A plataforma fez muito sucesso e a partir do sistema de recompensas, isto é, quando


uma contribuição financeira resulta em algum tipo de ganho material ou simbólico
relacionado ao projeto, outras plataformas começaram a surgir. Foi assim que
em 2008 foi lançado o site Indiegogo e, em 2009, o Kickstarter (FREEDMAN e
NUTTING, 2015).

Esses sites, além de intermediarem o financiamento de projetos ligados às


artes em geral, também lançaram projetos ligados à inovação tecnológica. Essa
versatilidade das plataformas permite que elas dialoguem e atinjam um público
amplo e com interesses diversificados.

No Brasil, o site Catarse foi pioneiro no financiamento coletivo e se consolidou


como referência na área. A dimensão do financiamento coletivo no Brasil foi
tomando tanta força que pesquisas sobre a área foram sendo demandadas.

Em 2013, o Catarse entrevistou 3336 pessoas com o objetivo de compreender como


elas se relacionam com o financiamento coletivo e qual o perfil dos usuários dessas
plataformas. Diversos dados foram coletados permitindo traçar um perfil dos
usuários dessas plataformas, bem como do impacto financeiro que o financiamento
coletivo exerce na economia criativa.

134
ALTERNATIVAS PARA O FINANCIAMENTO DO PROJETO: O PÚBLICO COMO INCENTIVADOR │ UNIDADE IV

Na ocasião, foi constatado que 59% dos usuários desses sites são homens e 41%
mulheres. 56% dos usuários têm entre 25 e 40 anos. As regiões Sudeste e Sul
concentram a grande maioria dos usuários (CATARSE, 2014).

Que tal conhecermos um projeto bem-sucedido e financiado por uma plataforma


de financiamento coletivo?

O fotolivro Folie à Deux do fotografo Felipe Abreu foi financiando por meio do
Catarse. O projeto contou com 123 apoiadores cujas colaborações permitiram
que o livro fosse publicado. Enquanto você lê esse texto você pode abrir o site
do Catarse (http://www.catarse.me), procurar o projeto e acompanhá-lo pelo
seu celular ou computador. No Catarse, os projetos mais antigos permanecem na
plataforma, permitindo a consulta constante.

As cotas de contribuição de projetos de crowdfunding são bastante diversificadas


visando atrair apoiadores igualmente diversos. Esses valores devem ser definidos
a partir de uma análise do proponente do projeto no Cartase junto a sua rede de
contatos e eventual base de fãs.

No projeto Folie à Deux temos uma cota de contribuição inicial de apenas R$25,00.
Na sequência, a contribuição passa a ser o dobro, R$50,00. Como você pode
observar, o financiando coletivo é para todos e deve ser pensado de maneira que
as pessoas que chegarem no seu projeto sintam-se capazes de participar.

O sucesso desse modelo de financiamento depende sobretudo de dois fatores


principais: a qualidade da proposta, o apelo do projeto no cenário contemporâneo
e a amplitude da rede de contatos do proponente.

Conhecer pessoas que acreditem no seu trabalho certamente contribuirá para o


sucesso do levantamento de recursos. Tendo elas condições de contribuir com
valores mais altos ou mais baixos, o crowdfunding funciona de grão e grão e todo
valor é bem-vindo.

A rede de apoiadores pode ajudar no sucesso do projeto para muito além das
contribuições financeiras. Tendo possibilidade de contribuir financeiramente ou
não com o projeto, essa rede pode compartilhar a proposta por e-mail e pelas redes
sociais chamando novos apoiadores e dando visibilidade para a sua proposta. Por
isso, no sistema de financiamento coletivo toda a ajuda é válida.

O financiamento coletivo não funciona como doação, mas trabalha com o já


mencionado sistema de recompensas no qual cada cota de contribuição gera um
retorno material ou simbólico. As recompensas, ou seja, os mimos e produtos que os

135
UNIDADE IV │ ALTERNATIVAS PARA O FINANCIAMENTO DO PROJETO: O PÚBLICO COMO INCENTIVADOR

apoiadores receberão ao apoiar o projeto também precisam ser atrativos sobretudo


para apoiadores que não conhecem o proponente do projeto pessoalmente.

No projeto Folie à Deux, a cota de contribuição de R$25,00 gerava a inclusão


do nome do apoiador no livro e não um objeto material. Já uma contribuição de
R$50,00 tinha como retorno uma fotografia e aqueles que fizessem um aporte de
R$100,00 tinham o livro como recompensa.

Conforme já mencionamos, o sucesso de um projeto de financiamento depende


da pertinência do tema, e do seu apelo junto ao público em geral. Temas que
estão sendo amplamente discutidos nas mídias ou que têm um nicho, chamam a
atenção. Projetos de proponentes presentes e atuantes nas redes sociais, com um
número significativo de seguidores estão um passo adiante dos demais já que a
maior parte da divulgação do projeto acontece justamente nas redes.

Isso não significa que você precise estourar nas redes antes de iniciar o seu projeto,
mas é importante que crie estratégias de divulgação para esses espaços.

Outra questão importante é que os apoiadores do seu projeto se sintam seguros


em contribuir e saibam como os valores levantados serão utilizados. Por
isso, é fundamental que o orçamento seja bem estruturado e, de preferência,
compartilhado com os apoiadores. Quanto mais transparência, mais a sua rede se
sentirá como parte integral do processo.

Visite os sites de financiamento coletivo e saiba como eles funcionam. Você


ainda pode aproveitar a oportunidade para apoiar um projeto com o qual
se identifique ou planejar suas futuras ações. Existem diversos sites de
financiamento coletivo no Brasil sendo os três mais populares:

Catarse – http://www.catarse.me. Segundo informações do próprio site:

Nascemos para incentivar a criatividade, a arte, a ciência e o


empreendedorismo. Gostamos de projetos que trazem novas
perspectivas, são disruptivos, geram diversidade e promovem
debates saudáveis para a sociedade (www.catarse.me).

Os números publicados impressionam. Segundo os responsáveis pelo site:


598.590 pessoas já apoiaram pelo menos um projeto no Catarse; R$101
milhões foram direcionados a projetos publicados no Catarse e 9903
projetos já foram financiados na plataforma (Catarse).

Kickante - www.kickante.com.br.

Benfeitoria - benfeitoria.com.

136
ALTERNATIVAS PARA O FINANCIAMENTO DO PROJETO: O PÚBLICO COMO INCENTIVADOR │ UNIDADE IV

Considerações finais

O entendimento do universo dos projetos culturais e das políticas públicas para


a cultura compreende o acesso a uma série de informações interdisciplinares,
além de um olhar atento para a realidade contemporânea.

Como pudemos observar ao longo desta disciplina, as políticas culturais


brasileiras enquanto projeto nacional são recentes, e a descontinuidade que
enfrentam impede que tenhamos avanços mais consistentes na área. Ainda
assim, a economia criativa continua sendo parte central da economia do país,
cria empregos, oportunidades e amplia o acesso à cultura.

As transformações no campo das políticas públicas dependem do interesse


dos governantes, mas também da inserção de profissionais qualificados nos
cargos de poder em instituições públicas e privadas. Como você pode observar,
conhecimentos de áreas como a sociologia, a antropologia, a história da arte e
a administração pública, contribuem para o aprofundamento das reflexões e a
criação de diretrizes consistentes. Por isso, gestores que dominam a articulação
entre diferentes áreas de conhecimento e com vivência no campo das artes,
podem acrescentar muito para o desenvolvimento da economia criativa.

As políticas públicas para a cultura beneficiam muito mais do que projetos


específicos. Elas fomentam a cultura de uma nação e nosso autoconhecimento
como cultura. Além da proteção e fomento de culturas populares que integram
os nossos imaginários e práticas, temos a proteção ao patrimônio histórico.
Cultura também é história, identidade e nos permite caminhar para o futuro
com conhecimento e visão crítica da realidade que nos cerca.

Como você pôde observar, nos últimos capítulos, imaginar propostas, escrever
projetos, aprová-los e executá-los são atividades complexas e gratificantes. Trata-
se de uma oportunidade de realizar ideias e articular redes de profissionais. O
acesso a recursos financeiros que viabilizem essas propostas segue etapas claras
que exigem do proponente organização e capacidade de exprimir suas ideias de
maneira concisa e eficiente. Esse é um trabalho técnico que se profissionaliza
com o passar do tempo.

Editais públicos e privados são a porta de entrada para um mundo de


realizações. A profissionalização dos profissionais que trabalham a partir dos
seus recursos é um passo importante neste universo cada vez mais competitivo.

137
UNIDADE IV │ ALTERNATIVAS PARA O FINANCIAMENTO DO PROJETO: O PÚBLICO COMO INCENTIVADOR

Esperamos que você tenha concluído esta disciplina com mais informações
e segurança para enfrentar o mundo da economia criativa. Seja escrevendo,
participando de projetos da cultura ou seguindo na posição de espectador,
desejamos que, após esse curso, você passe a se relacionar com esse universo
de maneira crítica e contribua com ideias para que a cultura brasileira se
fortaleça.

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