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DEBATE MULTICULTURAL
ETAPA 5
CENTRO UNIVERSITÁRIO
LEONARDO DA VINCI
Rodovia BR 470, Km 71, nº 1.040, Bairro Benedito
89130-000 - INDAIAL/SC
www.uniasselvi.com.br
Autora
Luciane da Luz
Pedro Fernandes da Luz
Organização
Fábio Roberto Tavares
Reitor da UNIASSELVI
Prof. Hermínio Kloch
Diagramação e Capa
Letícia Vitorino Jorge
Revisão
Fabiana Lange Brandes
José Roberto Rodrigues
APRESENTAÇÃO
Por fim, falaremos sobre as políticas multiculturais no Brasil, dois dos principais
movimentos multiculturais do pais e o surgimento das primeiras políticas de ação
afirmativa durante o Governo Lula, por meio da criação de secretarias especializadas.
Enfatizaremos alguns elementos fundamentais para a discussão das políticas
multiculturais no país, que são as políticas de cotas nas universidades, o Estatuto
da Igualdade Racial e a criação das comunidades quilombolas e negras com vistas a
assegurar o direito à propriedade da terra e à manutenção da sua cultura.
2 ANTROPOLOGIA GERAL E O DEBATE MULTICULTURAL
1 MULTICULTURALISMO NA EUROPA, CANADÁ E AUSTRÁLIA
Esse debate sobre a questão de uma única identidade na Europa trouxe inúmeros
questionamentos, conforme nos diz Kastoryano (2004, p. 14):
Podemos dizer que a imigração e a situação dos direitos dos cidadãos estrangeiros,
bem como o desenvolvimento de políticas multiculturais, vêm sendo um dos assuntos
de grande destaque e relevância na União Europeia.
O termo multiculturalismo começa a ser usado na Alemanha nos anos 1980, onde
o Estado passa a desenvolver políticas multiculturais devido à crescente imigração no
país, tentando amenizar os conflitos existentes entre nativos e imigrantes e desenvolver
políticas sociais de apoio a esses estrangeiros. Segundo Kastoryano (2004, p. 19):
Recentemente, vimos que tais mecanismos não foram suficientes para conter a
onda de revolta dos estrangeiros em Paris, principalmente dos imigrantes provenientes
de países pobres, que se encontram marginalizados, em situações de pobreza e miséria,
morando nas regiões periféricas de Paris.
Diferente dos demais países apresentados acima, a Suécia não se define como
um país de imigrantes. De acordo com Marques (2003, p. 14), “teve um fenômeno de
emigração relevante no século XIX, no entanto, depois da 2ª Guerra Mundial recebeu
muitos refugiados e, a partir de 1954, a chegada de muitos trabalhadores finlandeses [...]”.
A Suécia passou a ser um país que melhor recebe os imigrantes dentre os países
europeus, segundo um estudo realizado pela Política de Integração Migratória. A
Suécia foi considerada o melhor país para receber imigrantes levando em consideração
Igualdade: dar aos imigrantes o mesmo nível de vida que o resto da população;
Liberdade de escolha: iniciativas políticas que assegurem às minorias étnicas e
culturais na Suécia uma genuína escolha entre manter e desenvolver a identi-
dade cultural sueca; Parceria: promover os benefícios mútuos entre minorias
e população nativas, decorrente do trabalho conjunto. Muitas dessas políticas
resultam de estratégias que são dedicadas a grandes quantidades de refugiados
e envolvem diferentes graus de empenho da população.
Essas políticas proporcionaram aos imigrantes, até o final do século XX, uma
inserção social harmônica na sociedade sueca e os mesmos benefícios existentes para a
população nativa desse país.
Outra questão importante, que tem feito o governo do Canadá investir cada
vez mais em políticas multiculturais, é que os imigrantes trabalham em diversas áreas
de forma autônoma, não dependendo muito do incentivo governamental, e assim
economiza mais recursos, investindo mais na economia do país. Portanto, além da
riqueza cultural que trazem os imigrantes, eles têm contribuído de forma significativa
para a melhoria da economia do país.
Além dos direitos descritos anteriormente, essa agenda prevê os deveres dos
imigrantes, que são:
Essa nova agenda para a Austrália Multicultural, lançada em 1999, traz o conceito
de “diversidade produtiva”, trata da junção do multiculturalismo com a economia,
objetivando os lucros resultantes da diversidade cultural da população australiana,
com a incorporação dos imigrantes no mercado de trabalho do país, reforçando a língua
e a cultura trazidas do seu país de origem, fazendo com que os mesmos possam ter
condições de atender às demandas de um mercado de trabalho cada vez mais exigente
e diversificado.
É diante desse contexto, onde todos os países da América Latina foram colônias
de exploração e continuam sofrendo até hoje as consequências sociais e econômicas,
especificamente para as culturas minoritárias, e ainda diante do processo de ditadura
militar que passou a maioria dos países, a partir de meados do século XX até a década
de 1980, é que temos que analisar as políticas multiculturais nesses países.
Na história das relações raciais na Colômbia, três fases podem ser identificadas:
Apesar dessa lei, ainda existem na Colômbia enormes dificuldades para a sua
implantação, principalmente os objetivos referentes à proteção da cultura dos afro-
colombianos. Mas o maior benefício que ela trouxe para a sociedade colombiana foi
a organização das comunidades negras, que passaram a lutar por seus direitos e a
reconhecê-los enquanto um grupo étnico específico.
País colonizado pela Espanha, o Peru ainda guarda fortes marcas do seu
período colonial e de uma cultura homogeneizadora, como, por exemplo, falar a língua
espanhola, usar roupas ocidentais, morar na capital, são hábitos que fizeram com que
muitos índios se tornassem mestiços para serem reconhecidos na sociedade peruana.
Isso significa dizer que a cultura negra foi incorporada à cultura venezuelana,
mas que ainda existe discriminação entre os negros e demais etnias no país, pois devido
à forma velada de discriminação, ou seja, quando ela é considerada no nível pessoal e
não como um problema social, os governos tendem a fazer de conta que o problema não
existe, e, sendo assim, não desenvolvem políticas públicas de combate à discriminação.
Esse tipo de pensamento é encontrado na maioria dos países da América Latina.
3 MULTICULTURALISMO NO BRASIL
Uma das principais bandeiras do Movimento Indígena no Brasil tem sido a luta
pela terra. Isso porque, desde que os portugueses chegaram ao nosso país, os índios
passaram a ser expulsos dos locais onde habitavam. Como vimos nesta unidade, os
mesmos nunca deixaram de lutar pelo seu território.
Portanto, o papel do SPI não era, de fato, ficar ao lado dos indígenas e protegê-
los, mas sim, conhecê-los melhor para convencê-los a permitirem a ocupação de seus
territórios, ficando do lado das oligarquias rurais que controlavam o país na época.
O SPI foi substituído em meados dos anos 1960 pela FUNAI (Fundação Nacional
do Índio), que tinha praticamente o mesmo objetivo da política anterior, acelerando ainda
mais o processo de integração dos povos indígenas à expansão econômica do Brasil.
A partir da década de 70, com regime militar no país e com a abertura econômica
desenfreada para o capital internacional, a FUNAI passa a adotar uma estratégia
integracionista, para que os índios não atrapalhem o desenvolvimento do Brasil. Neste
período, a Igreja Católica assume um papel importante na defesa dos povos indígenas,
reconhecendo seu erro no período do Brasil Colonial.
Para fazer isso foi criada, em 1980, a União das Nações Indígenas (UNI), que
contou com o apoio de antropólogos, culminando na realização do 1º Seminário
de Estudos Indigenistas do Mato Grosso do Sul. Como a articulação dos diferentes
povos indígenas foi extremamente difícil de ser conseguida pela UNI, eles passaram
a organizar-se novamente de forma local e regional, criando a UNI/ACRE, que reunia
tribos do Acre e do Amazonas, e também a Aty Guasú Guarani, que congrega tribos
guaranis do Mato Grosso do Sul.
A partir daí, os índios perceberam que para conquistar seus objetivos seria
necessário realizar um diálogo com os representantes políticos do país. Atualmente,
os movimentos indígenas espalhados pelo Brasil inteiro congregam mais de 500
organizações locais e regionais, representando 300 tribos indígenas. Essas organizações,
representadas pelos seus líderes, estão procurando estreitar cada vez mais os laços com
a esfera política do país, pois perceberam que só através dela conseguirão conquistar
o direito à diferença, educação escolar própria, demarcação de suas terras e o direito
à saúde.
Mais tarde, nas décadas de 1960 e 1970, período de ditadura militar, o movimento
negro espalhou-se por diversos estados no Brasil. Com a ditadura, as organizações negras
tiveram que transformar-se em entidades de cultura e lazer. Desta forma, formaram-se
grupos de teatro, música e dança que afirmaram a identidade e a cultura negra.
Nos anos 1970, também os negros pobres que moravam nas periferias das grandes
cidades do país foram fortemente influenciados por James Brow, cantor negro norte-
americano. Através da chamada soul music (música típica dos negros estadunidenses),
os bailes nos subúrbios cariocas deram origem ao movimento Black Rio. Este movimento
teve como modelo o Movimento Black Power dos Estados Unidos, conforme estudamos
na Unidade 2 deste caderno.
Um cantor que influenciou bastante a juventude negra da Bahia foi Bob Marley,
que com sua música reggae criou a doutrina rastafári, conscientizando os negros dos
problemas decorrentes da discriminação racial na sociedade.
Outros líderes negros, como Nelson Mandela na África do Sul, Samora Machel
Outra conquista importante do Movimento Negro do Brasil foi lutar para que o
governo brasileiro começasse a adotar medidas políticas de ação afirmativa, combatendo
o racismo e a discriminação racial. Uma dessas medidas adotadas foi a lei de cotas raciais
e sociais nas universidades.
Isso significa dizer que apenas no final do século XX e início do século XXI é que
se iniciam efetivamente alguns investimentos em políticas multiculturais no Brasil e a
cultura passa a ser considerada um dos parâmetros para o desenvolvimento do país,
sendo prevista desde a Constituição Federal de 1988.
• Propor políticas e diretrizes que orientem a promoção dos direitos humanos, criando
ou apoiando projetos, programas e ações com tal finalidade.
Isso não quer dizer que a discriminação por raça, gênero, religião, etnia e classe
social tenha acabado no país, mas são políticas públicas importantes desenvolvidas
através destes ministérios e secretarias, instrumentos eficazes na construção de uma
sociedade brasileira mais justa e que respeite de fato a diversidade existente nesse
imenso país, para que a nossa nova história seja construída com a efetiva participação
de todos e de todas.
PINTO, Viviane Cristina. De Fernando Henrique Cardoso a Lula: uma análise das
políticas públicas de cultura no Brasil. São Paulo, Universidade de São Paulo, 2010.