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INTERIOR1
RESUMO
Neste trabalho apresenta-se uma reflexão teórica sobre a reportagem “Blumengarten: o
resgate da identidade cultural alemã no interior”, desenvolvida como projeto de conclusão de
curso. São apresentados aspectos relacionados a cultura (TYLOR, 1920) e identidade cultural
(HALL, 1999). Além disso, discutem-se características do jornalismo na internet e das
narrativas em formato longform a partir da Baccin (2015). Por fim, são apresentados os
métodos e técnicas adotados para a realização do trabalho, que teve como principal referência
o uso de entrevistas e diário de campo. Conclui se que o trabalho de “Blumengarten: o resgate
da identidade cultural alemã no interior”, contribuiu para que as pessoas conheçam mais sobre
a cultura que levam como sua, e para que a comunidade de Santo Cristo conheça mais sobre o
trabalho do grupo.
1. Introdução
Quando comecei a estudar sobre Jornalismo Cultural não sabia ao certo como defini-
lo, como era veiculado e quais assuntos abordavam. Não sabia dizer se era algo que gostava
ou não. Porém, quando fomos desafiados, no 5º semestre do curso de Jornalismo, fazer uma
reportagem sobre o assunto, comecei a me encantar por essa editoria. Foi isto que me motivou
a fazer o Trabalho de Conclusão de Curso sobre o assunto.
O objetivo deste trabalho é refletir sobre a reportagem multimídia “Blumengarten: o
resgate da identidade cultural alemã no inteiro”, sobre o grupo de Danças Folclóricas, de
Santo Cristo, o Blumengarten. Abordo aspectos da história de Santo Cristo, analisando sobre
o assunto, que tem toda importância quando se fala desse grupo, afinal também foi fundado
por alemães. Analisei e trouxe à tona a ideia de identidade cultural. O que é, como era
antigamente e como está hoje. Busquei referências sobre a compreensão da identidade
1
Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido como requisito parcial para obtenção do grau de
Bacharel em Comunicação Social, habilitação Jornalismo, na Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).
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Acadêmica do Curso de Comunicação Social, habilitação em Jornalismo na Unijuí. E-mail:
berwangerlarissa@gmail.com.
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Professora do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da
Comunicação, orientadora do trabalho. E-mail: lara,nasi@unijui.edu.br.
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cultural. E o fato de adolescentes e jovens hoje não se identificarem tanto com isso é o que me
inspirou a buscar essa compreensão do passado.
Acompanhei, de junho a outubro, ensaios e apresentações do grupo, tanto na cidade
como fora, participando das viagens e eventos que eles mesmos promovem. Sistematizei esse
conteúdo em uma plataforma digital, com uma reportagem em vídeo, foto e texto.
Cultura significa todo aquele complexo que inclui o conhecimento, a arte, as crenças, a
lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano não
somente em família, como também por fazer parte de uma sociedade da qual é membro, como
definia Edward Tylor (1920). Cada país tem a sua própria cultura, que é influenciada por
vários fatores. Desta forma é preciso também definir a identidade cultural, afinal, o Brasil foi
formado por grupos de mais diversas partes. Indígenas, que são os nativos desta terra,
portugueses, que chegaram a partir de 1500, e depois povos de outros países europeus, que
vieram para “colonizar” - povos africanos, que foram trazidos escravizados - hoje compõem o
que se pode chamar de “povo brasileiro”. Nesse vasto leque de referências culturais, que faz
alusão a nossas origens, destaco a cultura alemã, caracterizada pela alegria pelas festas
música, comida e bebida.
A principal característica da cultura é o mecanismo adaptativo, que consiste na
capacidade que os indivíduos têm de responder ao meio de acordo com mudanças de hábitos
(SANTOS, 2006). Ela está em constante desenvolvimento, pois com o passar do tempo ela é
influenciada por novas maneiras de pensar inerentes ao desenvolvimento do ser humano.
Outro conceito importante para a discussão é o de identidade cultural, afinal, o Brasil
foi colonizado por diferentes tipos de culturas, e algumas delas, tem até hoje, presente o que
trouxeram de “fora”. Desta forma, segundo Hall (1999) identidade cultural é o sentimento de
identidade de um grupo, cultura ou indivíduo e ele se caracteriza na medida em que este é
influenciado pela cultura do grupo a que pertence. No caso dos povos que vieram colonizar o
Brasil, é a cultura que trouxeram do seu país de origem. Muitas questões contemporâneas
sobre cultura se relacionam com questões sobre identidade. A discussão sobre a identidade
cultural acaba influenciada por questões sobre lugar, gênero, história, nacionalidade, idioma,
orientação sexual, crença religiosa e etnia.
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No Rio Grande do Sul, os imigrantes alemães colonizaram a região que havia sido
desprezada pelos criadores de gado, nas regiões acidentadas e cobertas de matas (RAMBO,
1999). Acredita-se que os colonos não imaginavam o tipo de vida que teriam no Sul do Brasil.
Chegaram no estado encontraram a floresta e nem sabiam como lidar com ela e preparar um
terreno, com os rudimentares instrumentos de trabalho e iniciar o cultivo da terra para ter o
alimento. O governo provincial não cumpriu a maioria de suas promessas. A falta de dinheiro,
de ferramentas de trabalho, de alimentação, o abandono e o isolamento em que viviam trouxe
muito desespero aos colonos. Aflorava neles um sentimento de saudade da terra natal e não
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existindo a possibilidade de regresso, por causa das condições financeiras, o jeito de melhorar
essa situação era trabalhar e fazer progredir a colônia, como afirma Arthur Rambo (1999).
Os imigrantes vieram de regiões diferentes da Alemanha, portanto tinham costumes
diferentes. Alguns grupos integraram-se e incorporaram hábitos de outros grupos nessas
trocas. A grande maioria se reunia pela mesma religião e adaptaram seus costumes à nova
realidade, tendo a religião como guia e sendo ela a responsável pela preservação do
sentimento de germanismo. Como destaca René Gertz (2003):
Pode-se dizer que os jesuítas constituíam o principal grupo dentro da Igreja Católica
que defendia preceitos básicos da ideologia germanista. Ligada aos jesuítas, a família
Metzier editava um dos principais jornais de língua alemã do Rio Grande do Sul, o
citado Deutsches Volksblatt, cujo emprenho a favor da preservação das
particularidades étnico-raciais e culturais da população de origem alemã foi fervoroso
no período que ia do final do século XIX até na década de 1930. (GERTZ, 2003, p.25)
3. A narrativa jornalística
Para fazer um site sobre o grupo, foi preciso entender mais sobre multimídia e a
prática do jornalismo na web. Para Canavilhas (2007), no início da prática jornalística na web,
há mais de 20 anos, a estrutura narrativa não trazia novidades. A linguagem era a mesma do
jornalismo impresso, apenas era reproduzido o que os jornais já tinham publicada. A
linguagem do jornalismo digital ainda está em transformação, na medida em que os veículos
midiáticos estão percebendo os potenciais do meio e aproveitando as características para criar
novas maneiras de contar histórias. A partir de Canavilhas (2007), se entende que as
tecnologias e as demandas sociais que impulsionaram os movimentos de mudanças podem ser
percebidas em todos os processos jornalísticos, desde a apuração das pautas, passando pela
narrativa, até a distribuição dos produtos midiáticos. O jornalismo, ao longo dos anos,
desenvolveu diferentes maneiras de narrar na web, porém o impresso, rádio e TV ainda se
sobre saem, como define Mielniczuk (2003).
A narrativa jornalística no ambiente digital está cada vez mais dependente de bases de
dados para configurar as histórias contadas nesse meio (BACCIN; TORRES, 2015). A
narrativa hipermídia possibilita mais opções de aprofundamento da informação no jornalismo
no meio digital (MIELNICZUK, 2015). De acordo com Longhi (2009), a “hipermídia atua
para criação de narrativas nas quais o acompanhamento de informações adicionais ao texto
significa, por si só, um elemento fundamental da informação online” (p.192).
Isso levou a que se começasse a explorar formatos de narrativas longas na internet, em
contraposição ao que se acreditava em um primeiro momento do jornalismo na internet, que
as pessoas só iriam ler informações curtas, rápidas. Confome Baccin (2015) o formato de
narrativas longform não é um modelo próprio do ambiente digital, antes já eram feitas
narrativas longas em reportagens impressas, televisivas e também radiofônicas. Mas a
novidade está também no suporte. A reportagem “Snow Fall” do jornal The New York
Times4, publicada em dezembro de 2012, é considerada marco e modelo de longform. Além
de ter inovado na estrutura do fluxo narrativo e na integração das várias modalidades
comunicativas que compõem a história contada, a reportagem fez cair por terra a premissa de
que os leitores não leem notícias, artigos ou reportagens longas no ambiente digital
(BACCIN, 2015).
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http://www.nytimes.com/projects/2012/snow-fall/#/?part=tunnel-creek
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Intitulado como “Vou te Contar”, com um layout simples, como uma estratégia de
aproximar o leitor para uma leitura mais intimista, que transmitisse os sentimentos apurados.
A plataforma escolhida para hospedagem foi o Wix. Na estruturação da reportagem, o texto é
o elemento principal, ao qual se relacionam muitas fotos e vídeos, configurando assim
conteúdo multimídia, para que o leitor não se canse lendo e possa escolher entre dar o play ou
não para ouvir depoimentos de integrantes do grupo, registros das apresentações e viagens.
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Após a apresentação deste trabalho, o objetivo é continuar usando o veículo para contar mais
histórias que as pessoas não conheçam e que levem algo de bom aos que lerem. Que mostre a
realidade com um olhar diferente, sensível, que instigue as pessoas a quererem saber sempre
mais e visitarem o site para ver as novidades. Foi feito neste formato para tornar ele
literalmente mais atrativo. Esta primeira reportagem está disponível no endereço
https://voutecontar017.wixsite.com/voutecontar017
Na reportagem, procurei trazer um assunto que a maioria da população de Santo Cristo
tem certa familiaridade. Por isso, a proposta foi aprofundar, mostrar mais do que se sabe ao
ver as apresentações. Acompanhei o grupo durante cinco meses, desde ensaios até a
apresentação mais esperada e emocionante no ano, que foi na Oktoberfest em Blumenau, a
maior festa germânica do país. Foram meses intensos e de muito trabalho. Para que as pessoas
conhecessem mais desse trabalho do grupo, e o quão importante é o registro jornalístico de
um grupo assim, resolvi registrar tudo em forma de diário, que foi muito útil na hora de
escrever, pois me fazia recordar de tudo com facilidade
No trabalho procurei entrevistar primeiro a coordenadora do grupo, Jacinta Riedell,
que foi quem começou todo o grupo. Depois que resolvi que iria acompanhar a categoria dos
adultos, pensei que precisava ouvir a coordenadora daquela categoria, então conversei com a
Fabiane Freytag, que em virtude de desentendimentos, durante o período de apuração, acabou
saindo no grupo, mas no momento em que a entrevistei, ela ainda estava na coordenação.
Entrevistei também o integrante mais jovem, que é o William Ames, e a dançarina que está há
mais tempo no grupo, que é a Graciele Dillmann. O grupo gosta de dizer que é como uma
família, e como tal também existem casais de dançarinos que tiveram filhos ao longo do
tempo. Hoje, além de seguirem no grupo, seus filhos também participam como integrantes. É
o caso da Clenice Hoss e do Alcindo Meinertz, que tiveram a Natieli. Entrevistei também uma
pessoa que para o grupo neste ano foi muito especial, o Renan Avila, que é cabeleireiro em
Ijuí, e namora um integrante do grupo, o Anderson. Como ele se disponibilizou a maquiar as
dançarinas no baile da Oktoberfest de Santo Cristo, quis saber o que o motivou a fazer isso.
Assim sendo, os depoimentos completaram o que eu havia acompanhado e conhecido nesse
período e permitiram aprofundar as percepções da observação.
Hall (1999) afirma que
E isto se aplicativa a tudo que acompanhei nesses últimos meses, pois em Santo
Cristo, por mais que as pessoas não sejam alemãs, e sim brasileiras, se busca viver elementos
da cultura que vieram de lá, em gerações anteriores. Assim, eles não deixam essa identidade,
que os antepassados trouxeram, cair no esquecimento, por mais que nossa nacionalidade hoje
seja outra.
5. Considerações Finais
Com este trabalho, concluiu-se o quão importante para algumas pessoas é a questão da
identidade cultural. Quando se pesquisa sobre o assunto a primeira resposta que se encontra é
sentimento de identidade com um grupo, cultura ou indivíduo. Mas quando se estuda a fundo
se vê que existe muito mais coisa por trás. Hall (1999) afirma que as culturas produzem
sentidos com os quais podemos nos identificar, e assim constroem suas identidades. Esses
sentidos estão contidos em histórias, memórias e imagens que servem de referências e nexos
para a constituição de uma identidade da nação.
A conclusão que tiro de todo esse estudo feito, primeiro sobre a identidade cultural,
sobre a história de Santo Cristo e, principalmente, sobre o grupo de danças folclóricas
Blumengarten e o quão importante é estar vinculado a um grupo, é que se identificar com uma
cultura é fundamental, porque é através dela que somos quem somos. E isso notamos nos
participantes, que com o grupo mantêm vivo esse sentimento de identidade, de pertencer a um
grupo que leva a outros lugares uma cultura. E é com o grupo que aprendem mais sobre a
cultura, através dos repasses feitos, das trocas, dos aprendizados compartilhados.
Acompanhar este grupo foi não apenas um momento de troca de aprendizados, mas de
conhecer melhor o trabalho cultural, de um grupo que é conhecido há anos em Santo Cristo,
mas geralmente apenas nos palcos, nas apresentações, nos ensaios. Pouco se sabe sobre como
seus integrantes trabalham ao longo do ano, para manter vivo o trabalho, o quanto interagem
com outros grupos, fazem trocas, experimentam outros modos de expressar o germanismo.
Com este trabalho, espero ter conseguido mostrar um pouco do que é esse grupo à
comunidade de Santo Cristo, mas também a outras pessoas, em função das características das
reportagens no ambiente digital. Por ser uma temática que, apesar de focar-se num grupo em
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específico, discute temas mais amplos, como a identidade cultural, pode interessar a outros
leitores, em outras localidades.
Referências bibliográficas
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Coli Gráfica Editora Ltda. 2001.
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São Paulo, p. 18, mar. 2000.
TYLOR, Edward. A ciência da cultura. Rio de Janeiro. Editora Expresso Zahar, 1920.