Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Étnico-Racial
Brasília-DF.
Elaboração
Paulo Lima
Produção
APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4
INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7
UNIDADE I
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO.......................................................................................................... 9
CAPÍTULO 1
NOÇÕES INICIAIS...................................................................................................................... 9
CAPÍTULO 2
ROMANTISMO E LITERATURA NO BRASIL................................................................................... 12
CAPÍTULO 3
O PAPEL DOS JESUÍTAS............................................................................................................ 18
CAPÍTULO 4
UMA BREVE HISTÓRIA DA LITERATURA BRASILEIRA...................................................................... 23
CAPÍTULO 5
DEMAIS FIGURAS DA LITERATURA EM DIFERENTES ESTILOS ........................................................ 32
UNIDADE II
QUESTÕES
ÉTNICO-RACIAIS................................................................................................................................... 37
CAPÍTULO 1
CIDADANIA (DIREITO) PARA TODOS.......................................................................................... 37
CAPÍTULO 2
MINORIAS E AS MUDANÇAS CULTURAIS................................................................................... 42
CAPÍTULO 3
O UNICEF, A CULTURA E A IDENTIDADE PARA A IGUALDADE ÉTNICO-RACIAL............................. 50
REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 59
ANEXO I........................................................................................................................................... 60
ANEXO II.......................................................................................................................................... 62
ANEXO III......................................................................................................................................... 70
ANEXO IV......................................................................................................................................... 90
Apresentação
Caro aluno
Conselho Editorial
4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de
Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.
Para refletir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.
Praticando
5
Atenção
Saiba mais
Sintetizando
6
Introdução
Como cidadãos brasileiros, temos sempre o direito de seguir o próprio senso cultural,
dado a conquista da democratização e laicização do Estado brasileiro. Desta forma,
fatores étnicos estão profundamente arraigados em nossa sociedade, dado que de onde
viemos, a cultura já estava consolidada, contudo, por diversos motivos que veremos,
perdeu-se a originalidade desta cultura primária em grande medida.
A ascendência indígena e africana do Brasil tem papel crucial neste contexto, e por
este motivo estudaremos alguns princípios e contextos étnico-raciais, para que assim
compreendamos de onde saímos, porque saímos e aonde chegamos.
Veremos as principais fontes de influências, assim como se pede atenção especial para
cada mente literária que deu vazão aos sentimentos e influência da época.
Objetivos
»» Discernir as diferentes eras literárias pós século XIX.
7
PANORAMA
LITERÁRIO UNIDADE I
BRASILEIRO
Nesta unidade você terá contado com informações importantes para os Direitos
Humanos dos Brasileiros que é o acesso ao contexto literário da formação linguística e
cultural. Verá algumas eras de assuntos relacionados à Literatura Brasileira a partir do
século XIX.
CAPÍTULO 1
Noções iniciais
Seria loucura pensar que podemos esgotar um assunto tão vasto como este, portanto,
estudaremos brevemente dentro de um entendimento sempre focado nos direitos
humanos aos acessos a estas informações, bem como de entender como se desenrolou
o sentimento de liberdade de direito no contexto literário, o qual abrangia entornos
políticos, econômicos e religiosos.
9
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Por não se entender muito bem com Tiradentes, Gonzaga era visto como a mente mais
proeminente para dirigir a Inconfidência, no entanto, pela figura de Tiradentes, não
o foi. Suas obras demonstram sinais expressivos da transição para o Romantismo,
supervalorizando em praticamente todas elas o amor.
Contudo, veremos mais a frente, no quadro específico que trata de cada figura importante
na literatura, inclusive Alvarenga Peixoto, proeminente figura árcade.
O autor tenta buscar uma explicação plausível para este sentido se apegando ao fato de
vermos no hibridismo cultural e ideológico nesse período (em termos de século XIX),
10
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
a carência que havia mormente capaz de organizar um estilo “forte e duradouro”. Todo
o processo então da Independência (de 1808 a 1831) fez-se por intermédio das classes
que dominavam o país, as quais herdaram da vida colonial mais recente uma série de
ambiguidades. Ele cita a:
»» ilustração-reação;
Liberalismo de centro
O liberalismo de centro é representado pelos publicistas da época Hipólito da Costa
Pereira e Evaristo da Veiga. Ambos criaram o molde brasileiro de prosa jornalística
de ideias, não superado durante o século XIX. Segundo Bosi (2004), a liberdade para
ambos é:
»» possibilidade de expressão;
»» de informação;
»» de crítica.
Era dotado de um talento mais viril que Evaristo; tendo passado boa parte da vida na Inglaterra, pôde absorver
uma cultura política muito mais complexa que a do redator apressado da Aurora Fluminense. Diferem também
pelas próprias circunstâncias de tempo em que atuaram. Hipólito foi analista lúcido que viu do alto do seu
Hipólito da Costa observatório londrino o Brasil de D. João VI; feita a Independência, calou-se o Correio Brasiliense dando por
cumprida a sua missão.
A prosa de Hipólito é a do ensaísmo ilustrado.
Evaristo da Veiga A prosa de Evaristo cinge-se à crônica política que tempera como pode as reações do imprevisto.
Muito embora ambas as visões fossem indispensáveis à formação de um público ledor em um país que mal nascera para a vida política; uma
e outra repisaram temas liberais de que tanto careciam as elites recém-saídas do arbítrio colonial. Todavia deixando um legado na primeira
geração romântica, não chegaram a influir na consciência literária que estava por nascer.
11
CAPÍTULO 2
Romantismo e literatura no Brasil
Desta maneira, muito embora existam diferenças de situação material, é possível dizer
que se formaram nos homens de letras configurações mentais paralelas às respostas
que a inteligência europeia dava a seus conflitos ideológicos. Importantes exemplos
originam-se dos melhores escritores. O romance colonial de Alencar e a poesia indianista
de Gonçalves Dias veem da aspiração de fundar um passado mítico a nobreza recente
do país.
Dentro das situações dos vários romantismos, Bosi (1994, pp.93-95) nos informa que:
12
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
No Brasil
Em nosso país, o romantismo aparece a partir de 1830, o qual foi diretamente
influenciado pela Independência do Brasil (1822). Temas ligados ao meio ambiente e
questões político-sociais, o romantismo é conhecido por sua própria linguagem.
Bosi (1994, pp. 97-98) afirma que a “relevância histórica reside no fato de Magalhães não
ter operado sozinho como imitador de Lamarti e Manzoni, mas de ter produzido junto
a um grupo, visando a uma reforma da Literatura Brasileira”. Para ele João Caetano
compôs a primeira tragédia escrita por um brasileiro e único de assunto nacional.
O marco inicial é a publicação de Suspiros Poéticos e Saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães (1811-1882). A produção literária
passa por quatro fases.
De Gonçalves de Magalhães, Porto-Alegre, Torres Homem. A poesia lírica ainda está presa a certos aspectos do
(1836-1840)
Neoclassicismo, embora já rompendo para o Romantismo.
Indianismo
Assim designado o movimento de valorização do indígena, seus costumes, cosmologia, figuras, feitos, como a
expressão mais adequada ao procurado meio de dar caráter brasileiro à literatura. Foram seus maiores cultores e
2a Fase expressões as figuras máximas de José de Alencar (1829-1877) e Gonçalves Dias (1823-1864), o primeiro na
prosa de ficção e o segundo na poesia lírica e épica.
(1840-1850)
Alencar foi o centro da revolução romântica, incentivando pela doutrina e pelo exemplo a autonomia literária
nacional, graças à incorporação às letras da paisagem física, temas e motivos locais, fatos históricos, linguagem
brasileira. Pela sua extraordinária figura e pela obra notável que realizou, Alencar é o patriarca da Literatura
Brasileira.
4a Fase É admirável, pela grandeza do estro e caráter brasileiro, a plêiade de líricos do Romantismo. Além de Alencar, a
prosa de ficção teve cultores em Bernardo Guimarães (1825-1884), Joaquim Manuel de Macedo (1820-1882),
(1860-1880) Manuel Antônio de Almeida (1831-1861), Visconde de Taunay (1843-1899), e o teatro contou com Martins
Pena (1815-1848). Depois do Romantismo, com a autonomia assegurada, a literatura poderia caminhar por si,
com a natureza tropical incorporada, os costumes e linguagem locais valorizados, um público ledor garantido.
13
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
14
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Caracterizou-se pelo predomínio da poesia, destacando-se os nome de Mário de Andrade (1893-1845), Manuel
Bandeira (1886-1968), Menotti del Picchia (1892-1988), Oswald de Andrade (1890-1954), Cassiano Ricardo
1a Fase (1895-1974), Guilherme de Almeida (1890-1969), Ribeiro Couto (1898-1963), Ronald de Carvalho (1893-1935);
(1922-1930) o grupo carioca da revista Festa, entre outros. Teve cunho nacionalista, com os grupos de Antropofagia, da Anta, do
Manifesto Regionalista do Recife, o grupo da revista Verde de Cataguases (Minas Gerais), o grupo da Arco e Flexa, da
Bahia.
Foi predominantemente de prosa ficção, com o movimento do nordeste, em que se destacaram José Américo de
Almeida (1887-1980), José Lins do Rego (1901-1957), Jorge Amado (1912-2001), Amando Fontes (1879-
2a Fase 1967), de características regionalistas e sociais, moldadas pelo ambiente social e econômico da região (ciclo da
(1930-1945) cana-de-açúcar, ciclo da seca e do cangaço, ciclo do cacau etc.). Ao lado desse grupo, desenvolveu-se outro no
centro-sul do país, mais preocupado com os problemas da alma humana e da convivência social, e a arma principal é
a introspecção e a análise psicológica. Seus inspiradores foram Machado de Assis e Raul Pompeia.
Inaugurada após a Segunda Guerra Mundial, pôs ênfase na busca de novas disciplinas para opor à tarefa libertária e
demolidora da primeira fase do movimento. Desta maneira, surgiu uma geração preocupada com o problema formal
e verbal, empreendendo uma pesquisa no domínio da linguagem, não somente na poesia como especialmente no
domínio da prosa de ficção.
Poesia Lírica
Surgem figuras como João Cabral de Melo Neto (1920-1999), Péricles Eugênio da Silva Ramos (1919-1992), José
3a Fase Paulo Moreira da Fonseca (1922-2004), Ledo Ivo (1924-2012), Geir Campos (1924-1999), Domingos Carvalho da
Silva (1915-2004), Bueno de Rivera (1911-1982), Darcy Damasceno (1922-1988 ) e outros.
(1945-1960)
Crítica Literária
Teve nessa fase um momento de grande importância com a polêmica em torno da renovação da crítica contra o
impressionismo e historicismo característicos da geração anterior. Destacaram-se nesse ponto Afrânio Coutinho
(1911-2000), Eduardo Portela (1932), Eugênio Gomes (1897-1972), Franklin de Oliveira (1916), Fausto Cunha
(1923), a que se juntaram depois Fábio Lucas (1931), Maria Luísa Ramos (1926), Rui Mourão (1929), Afonso Ávila
(1928), José Lino Grunewald (1931-2000), José Guilherme Merquior (1941-1991), Haroldo de Campos (1929-
2003), Augusto de Campos (1931) Décio Pignatari (1927-2012), Mário Chamie (1933-2011) e outros.
15
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
16
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
17
CAPÍTULO 3
O papel dos jesuítas
18
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
O ecletismo, portanto, teve sua origem nos gêneros públicos e na poesia retórica a sua
melhor expressão; por poesia retórica o entendimento de Bosi (1994) é que trata do
“verso que se propõe abertamente ensinar, persuadir, moralizar; em suma, incutir um
complexo de ideias e sentimentos”. Ainda continua:
19
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Dentro de um contexto iluminista ainda enxergando através dos olhos jesuítas, eles:
Desde o começo, ano de Pe. Manuel da Nóbrega no Brasil, o negro aparece como escravo
dos jesuítas. De cara eles já enxergavam que os índios não cabiam no papel de escravos,
desta forma captaram cada vez mais a simpatia dos silvícolas, os quais necessitavam de
proteção contra as investidas escravizantes ou exterminadoras dos portugueses. Desta
maneira, o negro, o qual imediatamente chegava como escravo estava incerto em seu
futuro. Os jesuítas eram por sua vez, aliados do Rei na “catequização” do escravo negro,
ou seja, no ensinar a língua falada no Brasil por meio de orações e frases do dia a dia
(COUTINHO, 2004).
20
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
21
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Todavia, não é nosso objetivo aqui tratar em detalhes, mas sim entender sua importância
e influência na literatura e no mundo; uma vez também que os “jesuítas resistiram
com determinação e orgulho ao processo de sua exclusão da cena política e cultural”
(COUTINHO, 2004, p.320); desta maneira, finalizamos esse contexto nas palavras de
Wright (2006):
22
CAPÍTULO 4
Uma breve história da literatura
brasileira
ORIGEM
Originou-se a Literatura Brasileira da “situação” nova criada pelo descobrimento e colonização da nova terra. Nasceu após as grandes descobertas de
um novo mundo, um novo homem. Todo esse complexo cultural novo tinha de dar lugar a uma nova arte, a uma nova poesia, a uma nova literatura, a
uma nova dança, a um novo canto, a novas lendas e mitos populares. Para estudar a história literária brasileira, em vez de um critério político, deve-se
adotar uma filosofia estética compreendendo-a como um valor literário. Em consequência, o estudo da Literatura Brasileira é feito pelos grandes estilos
em que se expressou: Barroquismo, Arcadismo, Neoclassícismo, Romantismo, Realismo, Naturalismo, Parnasianismo, Simbolismo, Impressionismo,
Modernismo.
Os primeiros documentos escritos produzidos no Brasil não pertencem à literatura, mas à história e à sociologia. Desses
motivos saíram as “primeiras letras” escritas na colônia acerca de fatos, coisas e homens: a obra dos jesuítas, seja a parte
tipicamente literária, lírica ou dramática, seja o acervo de cartas e informes em torno das condições da colônia.
Barroco Na segunda metade XVIII, porém, o ciclo do ouro já daria um substrato material à arquitetura, à escultura e à vida musical,
de sorte que parece lícito falar de um “Barroco Brasileiro” e, até mesmo, mineiro. Alguns trabalhos do Aleijadinho, de Manuel
da Costa Ataíde, e composições sacras de Lobo de Mesquita. A poesia coetânea delas já não é, senão residualmente,
barroca, mas rococó, arcádica e neoclássica, havendo portanto uma discronia entre as formas expressivas.
Foi pela voz barroca dos jesuítas que a Literatura Brasileira teve início. Descontada a literatura de conhecimento da terra,
a primeira manifestação de sentido estético foi a literatura jesuítica, sobretudo produzida por Anchieta, o fundador da
Literatura Brasileira, em que se encontra o ponto alto da estética barroca em prosa.
Literatura jesuítica O Barroco, assim, contamina a produção cultural da época colonial, informando as origens da Literatura Brasileira, pois
além dos gêneros propriamente literários, poesia e drama, ela marca os panegíricos, a oratória, os escritos políticos,
históricos, jurídicos, militares. É, pois, do maior interesse o seu conhecimento pela luz que pode fornecer ao estudo da
formação Literária Brasileira.
A tendência classicista penetrou o século XVIII criando focos de Neoclassicismo nas literaturas ocidentais. Ao gosto
barroco grandioso e da ostentação, sem que haja completa libertação, pois o Barroco continua sob formas degeneradas
e decadentes, sucede uma procura das qualidades clássicas da medida, correção, conveniência, disciplina, simplicidade,
delicadeza, que vão dar no Rococó e Arcadismo.
O ideal neoclassista dominou até o final do século XVIII e início dos XIX. De todos os árcades, o único a ter pertencido
a uma corporação dessa natureza foi Basílio da Gama, filiado à Arcádia Romana. A reação clássica para o Arcadismo
Neoclassicismo
significava uma volta à simplicidade e pureza dos antigos, sobretudo segundo os modelos anacreôntico e pindárico, e
Arcadismo Rococó
realizando-se por meio do verso solto, em odes e elegias, numa identificação com a natureza, onde pensava-se residir todo
o bem e o belo. Daí a valorização da vida pastoril, simples, pura e pacífica.
O arcadismo confunde-se com o que hoje se chama o Rococó literário: culto sensual da beleza, afetação, refinamento,
frivolidade, elegância, linguagem melodiosa e graciosa, sentimentalismo, lascívia, gosto da natureza, intimismo, valorização
da vida pastoril e bucólica. Passa-se com ele da época cortês para o subjetivismo da era da classe média. Gonzaga, vate
de Marília, é o modelo brasileiro da literatura arcádica e rococó.
23
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
O espírito autonômico e nativista desde cedo veio conduzindo a Literatura Brasileira para a diferenciação cada vez maior,
distanciando-se da portuguesa, consolidando-se os ideais nativistas e a consciência comum, crescendo em importância a
figura do mestiço de sangue e alma, aprofundando-se a diferenciação linguística, num processo de adaptação ao ambiente
Nativismo físico, à nova situação histórica, ao homem novo que se foi criando e desenvolvendo.
De Bento Teixeira a Gregório de Matos, a Botelho de Oliveira, ao movimento academicista do século XVIII, ao Rococó
arcádico, o processo autonômico e de descolonização se foi configurando, para se consolidar com o Romantismo, no
século XIX. Tendo-se formado no século XVI, a Literatura Brasileira tornou-se autônoma com o Romantismo.
O nativismo transforma-se em nacionalismo. O processo de adaptação da literatura ao meio físico social, histórico, ao
novo homem que se formara no território americano, encontrou no Romantismo o ambiente mais propício. O foco de
Romantismo
influência cultural passou à França, em vez de Lisboa e Coimbra. O espírito brasileiro tornou-se autônomo. O Romantismo é
composto por quatro fases que você verá mais à frente neste material.
A partir de 1870, processa-se radical transformação literária, em reação contra o Romantismo. Sob a influência da reforma
filosófica produzida na Europa, com as novas doutrinas positivistas, materialistas, deterministas, evolucionistas, cientificistas,
Realismo-Naturalismo a geração que se iniciava na vida intelectual na década de 1870 deixou-se impregnar por esse espírito, tornando-se a
geração materialista. Assim foi empreendida uma verdadeira revolução da vida cultural do país. A objetividade passou a ser
a regra fundamental da criação artística.
Em poesia, o movimento que correspondeu ao Realismo-Naturalismo foi o Parnasianismo, à imagem de igual escola da
França. Suas figuras foram:
Parnasianismo a) Alberto de Oliveira (1857-1937); Raimundo Correia (1859-1911); Olavo Bilac (1865-1918); Vicente de Carvalho
(1866-1924).
b) O Parnasianismo teve numerosos cultores muito além de sua época criadora.
Mas, na década de 1890, produziu-se uma reação antiparnasiana, também de influência francesa, com o movimento
Simbolista. Consistiu numa revanche do espírito subjetivista, individualista, de interiorização, de espiritualidade, contra o
Simbolismo objetivismo, o realismo, a exteriorização, quando o símbolo como recurso poético.
Seus principais representantes foram Cruz e Souza (1861-1898), Alphonsus de Guimaraens (1870-1921), Emiliano
Perneta (1860-1921) e B. Lopes (1859-1916).
A tendência regionalista na Literatura Brasileira é de longa tradição, mergulhando suas raízes nos movimentos nativistas
e de busca do caráter brasileiro para a literatura que tiveram manifestações no indianismo, no sertanismo, no caboclismo,
e que vieram a desaguar no Regionalismo, sob suas diversas formas ou ciclos: o ciclo do cangaço e da seca, o da
mineração, o praieiro, o do gado, o nortista, o nordestino, o baiano, o central, o gaúcho e outros.
Regionalismo
Destacam-se Afonso Arinos (1868-1916), Simões Lopes Neto (1865-1947), Valdomiro Silveira (1873-1941), Coelho
Neto, Afrânio Peixoto (1876-1947), Xavier Marques (1861-1942), Lindolfo Rocha (1862-1911), Domingos Olímpio
(1860-1906), José do Patrocínio, Monteiro Lobato (1882-1948), Hugo de Carvalho Ramos (1895-1921), Gustavo
Barroso (1888-1959), Mário Sete (1886-1950), Lucílio Varejão (1892-1922) e alguns outros.
As duas primeiras décadas do século XX foram marcadas pela decadência dos estilos anteriores, ou a sua mistura.
Época de transição, o sincretismo a caracterizou, sincretismo, sobretudo manifesto na poesia lírica, em que as heranças
simbolistas e parnasianas se intercomunicaram por meio de epígonos ou indefinidos. São assim as figuras de Mário
Sincretismo e Transição
Pederneiras (1867-1915), Augusto dos Anjos (1884-1914), Raul de Leoni (1895-1926), José Albano (1882-1914),
e numerosos outros, todos caracterizados pelo uso de elementos formais ou conteudísticos do Parnasianismo e do
Simbolismo.
Em 1922, preparado pelos movimentos de vanguarda da Europa pós-guerra, e pela situação brasileira, desencadeou-se
a renovação literária e artística denominada Modernismo, a partir da Semana de Arte Moderna, realizada em fevereiro de
Modernismo 1922 em São Paulo. Se o Romantismo foi a autonomia literária, o Modernismo foi a maioridade. Seu principal objetivo
foi destruir as formas obsoletas, instaurando uma nova ordem literária. A princípio, usaram-se as armas do escândalo, da
piada, da destruição. Depois, passou-se à reconstrução.
O Modernismo arejou tudo, beneficiando também a crítica literária que, continuava a ser, em plena década de 1920, uma
fortaleza do academismo neoparnasiano.
Crítica Dentre os novos críticos encontram-se nomes como Tristão de Ataíde, Álvaro Lins, Afrânio Coutinho. Antônio Cândido de
Mello e Souza, além de Otto Maria Carpeaux que aparece hoje como divisor de águas entre modos de ler menores e,
não raro, provincianos, e uma consciência crítica poderosa da literatura como sistema enraizado na vida e na história da
sociedade.
24
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Cultivados no Brasil, ao longo dos quatro séculos e meio de produção literária, foram:
a) a poesia lírica, a epopeia, a ficção (romance e conto), o teatro, a crônica, as memórias e diários, as cartas. Os mais
importantes foram o lirismo, o romance, o conto e a crônica.
Gêneros literários
No que concerne aos gêneros em que se expressou a Literatura Brasileira por meio dos estilos apontados acima, é
necessário considerar a fase inicial, em que não se estabeleciam com nitidez os limites do literário em relação à religião, à
política e à história, nem mesmo se fazia uma distinção de fronteiras entre os gêneros.
A poesia lírica nasceu com os primeiros europeus que trabalharam na colonização e que encontraram nos indígenas suas
expressões elementares de poesia. Sempre houve, desde o início, acentuada inclinação pelo lirismo, herança medieval
das mais significativas. É um lirismo sentimental, de exaltação amorosa, de confissão pessoal e íntima, de melancolia,
subjetivismo, saudade, e de êxtase ante a natureza, é tão forte que impregna outros gêneros. Assim, é riquíssima a
Lirismo produção lírica brasileira.
O Pe. José de Anchieta foi o primeiro poeta, sendo desta maneira o fundador da Literatura Brasileira.
O Lirismo, a partir daí, desenvolveu-se de conformidade com os cânones estéticos dos diversos estilos da época.
A ficção começou na Literatura Brasileira praticamente com o Romantismo. Antes tinha havido um livro bastante significativo
da estética barroca em prosa, o Compêndio narrativo do peregrino da América (1728), de Nuno Marques Pereira.
Também é precursor a narrativa Aventuras de Diófanes (1752), de Teresa Margarida da Silva e Horta. Mas, na realidade,
com técnica narrativa moderna, só com o Romantismo é que a ficção se firmaria. Vários autores lhe deram início: Lucas
José de Alvarenga (1768-1831), Pereira da Silva (1819-1898), Justiniano José da Rocha (1812-1862), Francisco
Adolfo de Varnhagen (1816-1878), Joaquim Noberto de Souza e Silva (1820-1891), Teixeira de Souza (1812-1861).
Em meados do século, no apogeu do Romantismo, J.M. Macedo (1820-1862), José de Alencar (1829-1877), Bernardo
Guimarães (1825-1884), Franklin Távora (1842-1888), Visconde de Taunay (1843-1899), Manuel Antônio de Almeida
(1830-1861), ora na fórmula indianista, ora na sertanista, ora na regionalista, ora na urbana, deram forma definitiva ao
Ficção romance brasileiro. Deveu-se a Alencar a fixação definitiva do gênero, nos seus aspectos estrutural e temático.
A ficção brasileira atingiu um alto grau de força e representatividade em relação ao ambiente brasileiro, com Machado de
Assis a sua figura máxima.
O Realismo ficcional aprofunda a narração de costumes contemporâneos da primeira metade do século XIX e de todo o
século XVIII. Aguçam-se os dons de observação. A configuração do típico foi uma conquista do Realismo.
Em termos de construção, houve descarnamento do processo expressivo. O determinismo reflete-se na perspectiva
em que se movem os narradores ao trabalhar as suas personagens. Assim, do Romantismo ao Realismo, houve uma
passagem do vago ao típico, do idealizante ao factual.
Em termos de valor, deve-se distinguir um teatro Romântico menor, preocupado com a nacionalização da nova literatura.
Durante o Realismo, outros autores tiveram intensa atuação no teatro, como França Júnior (1838-1890), Artur Azevedo
(1855-1908), Machado de Assis (1839-1908), Roberto Gomes (1882-1922). No século XX, Cláudio de Souza (1876-
Teatro 1954), Viriato Correia (1884-1967), Oduvaldo Viana (1892-1972), Joraci Camargo (1898-1973).
Aliando técnicas do expressionismo e da psicanálise a preocupações sociais, o movimento teatral da década de 1860
mostra intensa efervescência, com as experiências vigorosas inclusive na cenarização e execução, a que um grupo de
excelentes atores dá grande relevo. É o teatro brasileiro consolidado.
Extremamente móvel e individual, a crônica é de grande popularidade e tem sido das mais ricas em contribuições originais.
Aparentado com o ensaio familiar dos ingleses, encontra o gênero enorme ressonância, ocupando colunas regulares de
jornais e revistas. Tem a forma de pequena exposição em prosa, leve, informal, impessoal, bisbilhoteira, em linguagem
Crônica coloquial, a propósito de fatos, cenas ou pessoas. Grandes nomes da Literatura Brasileira cultivam ou cultivaram a crônica.
São alguns deles: José de Alencar, Machado de Assis, Raul Pompéia, Araripe Júnior, Humberto de Campos, Henrique
Pongetti, Álvaro Moreira, Manuel Bandeira, Raquel de Queirós, Eneida, Carlos Drummond de Andrade, Rubem Braga,
Fernando Sabino.
No que concerne a outros gêneros, não tem sido igualmente importante a contribuição brasileira. Quanto ao épico, só
apareceram tentativas com Basílio de Gama, Santa Rita Durão e Gonçalves de Magalhães, ficando o espírito épico para
Outros Gêneros contaminar em certos momentos o lirismo, como em Castro Alves, ou a ficção, como no Macunaíma, de Mário de Andrade.
Quanto às memórias, diários, epistolografia, máximas, tem sido escassa a produção brasileira, excetuando-se nos últimos
tempos e memorialismo.
25
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Recapitulação metodológica
É desta maneira que chega-se uma conclusão, a qual Coutinho (2004) afirma ter feito
pela primeira vez na história dos estudos sobre a realidade linguística brasileira, e que
de forma rigorosa fora feito um levantamento dos fatores históricos e socioculturais
que estiveram presentes no processo de formação da língua nacional brasileira. Por
isso, indicamos a leitura (para o aluno que tiver interesse de se aprofundar neste campo
de assunto, o livro de Afrânio Coutinho intitulado A Literatura no Brasil – Introdução
Geral). Vejamos, portanto, suas considerações:
1 – A aproximação pelos europeus de povos desconhecidos se fazia, em fins do século XV, segundo táticas sociais e psicológicas assimiladas
praticamente dos turgimões orientais.
2 – No Brasil, a primeira interação linguística se fez com o primeiro português aqui deixado solitariamente, chamado esse português de língua em
semelhança funcional com o turgimão, já que estabelecia pontes culturais com o nativo.
3 – Os jesuítas disseminaram em todo o território brasileiro a prática das pontes culturais, acrescentando, porém, a elas, deliberadamente, o hábito
linguístico de falar arremedando o português tal como era realizado pelo nativo, método do grande evangelizador São Francisco Xavier, segundo a
opinião corrente da época.
4 – Tanto essa prática quando esse hábito, em contraste com a ausência de qualquer política educacional da parte dos portugueses durante dois
séculos e meio, levaram à formação de uma realidade linguística brasileira inteiramente independente daquela que correspondia a processos
linguísticos em desenvolvimento no solo português.
5 – Levada a coroa lusitana a assumir oficialmente, em pleno século XVIII, a língua portuguesa como língua nacional, em repúdio à língua instintiva,
de uso até então, defrontou-se com a existência concreta de uma realidade linguística brasileira diversa na América, classificando-a automaticamente
como dialeto dentro, na época, do sentido dessa palavra, dependente do de língua nacional.
6 – Por razões de Estado, foram os jesuítas expulsos do Brasil, deixando um vácuo no ensino público e na política indigenista, logo ocupado
autoritariamente pelo governo em face do peso econômico do Brasil e de seu potencial de libertação.
7 – Implantada a língua nacional portuguesa em contradição com a realidade da língua oral brasileira, única existente, criou-se uma tensão linguística
não claramente conscientizada pelos brasileiros, a qual aflorou, pela primeira vez, no primeiro ano de funcionamento da Câmara dos Deputados.
8 – A solução implantada pelos portugueses de um regime monárquico no país conduzido de acordo com a índole portuguesa, correspondeu uma
política de achatamento e desprestígio da realidade linguística brasileira.
9 – A reação à política linguística da monarquia foi primeiro promovida por escritores românticos que precisavam de temas nacionais.
10 – A questão da língua do Brasil, posta inicialmente como questão dependente da literatura nacional, desprendeu-se desta e passou a existir
autonomamente à medida que se precipitavam os ideais republicanos.
11 – Proclamada a República, a língua continuou dependente, agora à distância, do dirigismo cultural lusitano por força do ambiente de liberdade
espontânea que se criou após a queda da monarquia, gerando uma contradição que forçava uma solução.
12 – O movimento modernista encaminhou esta solução, consagrando a língua brasileira como instrumento expressional por excelência repudiando a
persistente norma lusitana de língua escrita e de língua literária.
13 – Contra o movimento modernista na língua reagiu um grupo de intelectuais, solidário com a política linguística salazarista, o qual usou, para a
consecução de seus propósitos, o problema ortográfico que sensibilizava a Academia Brasileira e a política universitária de ensino do vernáculo, tudo
sob o apoio ostensivo do regime ditatorial brasileiro.
14 – Nas duas oportunidades de reconhecimento público da língua brasileira na Assembleia Constituinte (1934 e 1946), foram seus defensores
neutralizados por manobras inspiradas pelos lusófilos da linha filológico-gramatical.
15 – Consolidada a língua literária do Modernismo, os adversários da língua brasileira foram, por sua vez, neutralizados pela introdução no país da
descrição linguística estruturalista, com o consequente banimento da gramática clássica e promoção generalizada da língua oral, reforçada pelos meios
de comunicação modernos em revistas, jornais e telenovelas.
26
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
16 – A partir da promoção da pronúncia-padrão, no Brasil, por meio de congressos, encontros e projetos previamente direcionados, os lusófilos
passaram a propagar a necessidade do estabelecimento de uma norma culta, ponto de apoio para nova unificação ortográfica e gramatical, bem
como para a retomada da política linguística salazarista. Neste estado se encontra, pois, agora, a questão da língua do Brasil: tentativa, pelo lusófilos,
de recobrar o terreno perdido para os linguistas depois de terem tirado de cena os defensores da língua brasileira. Estes, porém, estão prontos para
voltar com sua proposta de produção do ato político de denominar a língua nacional como língua brasileira.
A literatura em geral, bem como as ciências sociais, desde o século XIX representaram
um importante sentido na formação da identidade cultural brasileira. Quando pensamos
em Gonçalves Dias e José de Alencar, logo nos remetemos ao romantismo, importante
base da literatura e identidade brasileira.
ARCÁDIA E ILUSTRAÇÃO
Cláudio estreou como cultista e, sem dúvida, ecos do Barroco eram os versos que se produziam na Coimbra. Datam desse
Cláudio Manuel período coimbrão o Munúsculo Métrico, romance heroico, o Epicédio em Memória de Frei Gaspar da Encarnação, o Labirinto de
da Costa Amor, o Culto Métrico e os Números Haermônicos, todos escritos entre 1751 e 1753.
(1729-1789) Cláudio tentou com menor êxito a poesia narrativa e compôs a Fábula do Ribeirão do Carmo e o poemeto épico Vila Rica.
Ambos são curiosos documentos da oscilação que sofria o escritor entre o prestígio da Arcádia e as suas montanhas mineiras.
A mesma ambivalência e o mesmo esforço para resolvê-la no trato com a palavra encontra-se em José Basílio da Gama. O seu
Uraguai (1769), poemeto épico, tenta conciliar a louvação de Pombal e o heroísmo do indígena; e o jeito foi fazer recair sobre o
jesuíta a pecha de vilão, inimigo de um, enganador do outro.
Basílio da Gama O Uraguai lê-se ainda hoje com agrado, pois Basílio era poeta de veia fácil que aprendeu na Arcádia menos artifício dos temas
(1741-1795) que o desempenho da linguagem e do metro.
A natureza é colhida por imagens densas e rápidas; não são já mero arcadismo, mas caminho para o paisagismo romântico. Esse
móvel pano de fundo, que às vezes vale por si próprio deslocando-se para o primeiro plano da tessitura narrativa, é a novidade
de Basílio no trato da epopeia.
Também Caramuru de Fr. José de Santa Rita Durão o índio é matéria prima para exemplificar certos padrões ideológicos. Mas
será uma corrente oposta à de Basílio, voltada para o passado jesuítico colonial.
Santa Rita Durão Se, pela cópia de alusões à flora brasileira e aos costumes indígenas, o Caramuru parece dotado de índole mais nativista do
que o Uruguai, no cerne das intenções e na estrutura, a epopeia de Durão está mais distante do homem americano do que o
(1722 - 1784) poemeto de Basílio.
No conjunto, porém, a sua extrema fidelidade aos módulos clássicos e às hierarquias mentais da Contrarreforma insere-o de
pleno direito na linguagem conservadora que em Portugal resistiu à maré iluminista.
27
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Gonzaga é conaturalmente árcade. Para os românticos, que levariam o processo ao limite, a natureza era o lugar sagrado da
paixão, o cenário divino dos seus próprios sonhos de liberdade e de glória. Mas para o árcade ela ainda é pano de fundo. Nas
liras compostas no cárcere, o desejo de temperar as próprias dores com novas galanterias e torneios mitológicos é prova de um
caráter incapaz de extremos.
Escreveu Cartas Chilenas no intuito de satirizar seu desafeto político.
Gonzaga, Silva
Alvarenga, Nas obras de Alvarenga Peixoto encontram-se traços esparsos, mas fortes, de nativismo. Em geral, combina a loa do
Alvarenga progressismo com a aceitação do governo forte: é o déspota ilustrando o seu ideal, tirano a quem se rende a Colônia na pessoa
Peixoto do nativo. Quanto ao juízo estético sobre a lírica de Alvarenga Peixoto, está pendente de poucas composições, sendo algumas de
autoria discutível.
Silva Alvarenga dá-nos a imagem cabal do militante ilustrado. Mas a atenção do leitor amante da poesia logo se voltará para a
coerência formal de sua obra, Glaura, composta de rondós e madrigais. Último dos neoclássicos de relevo, já foi considerado,
no entanto “o elo que prende os clássicos aos românticos”. É verdade também que jogar com as linhas e as cores da paisagem
para exprimir os próprios afetos é ser pré-romântico em sentido lato.
ROMANTISMO
Mestiço de origem humílima a quem se deve a autoria do primeiro romance brasileiro, O Filho do Pescador (1843). Marca a
Teixeira e Sousa ficção subliterária de Teixeira Souza o aspecto mecânico que nela assume a intriga.
(1812-1861) O culto da peripécia em todos os seus romances produz sempre a justaposição, único modo de levar adiante o romance:
acidentes, reconhecimentos, avanços e retornos, até que o processo sature o autor e o leitor e dê por encerrado o passatempo.
Foi o primeiro poeta autêntico a emergir no Romantismo. Manteve-se com a literatura do grupo de Magalhães mais de um
contato, a sua personalidade de artista soube transformar os temas comuns em obras poéticas duradouras que o situam muito
acima dos predecessores.
Gonçalves Dias Um dos caracteres da poesia americana de Gonçalves Dias, e que as distancia da frouxidão das experiências anteriores, é a
(1823-1864) entrada súbita de vigor de selvagem desejado.
O exemplo de Gonçalves Dias artífice do verso sobrevive aos românticos e toca os parnasianos. Ele é clássico do romantismo. A
sua lírica singulariza-se no conjunto da poesia romântica brasileira como a mais literária, isto é, a que melhor exprimiu o caráter
mediador entre os polos da expressão e da construção.
Foi o escritor mais bem dotado de usa geração. Em vários níveis se apreendem as suas tendências para a evasão e para
o sonho. A camada dos sonhos compõe ritmos frouxos, melodias lânguidas e fáceis que se prestam antes à sugestão de
Álvares de atmosferas que o recorte nítido de ambientes.
Azevedo As comparações e as metáforas traduzem no concreto das imagens naturais os mesmos sentimentos básicos: a flor desfolhada
(1831-1852) lembra a juventude sem viço; o sussurro da brisa semelha o suspiro do amante; e “as ondas são anjos que dormem no mar”.
Nessa literatura a fusão de libido e instinto de morte caminhava na esteira de um Romantismo em progresso enquanto trazia à luz
da contemplação poética os domínios obscuros do inconsciente.
É precisamente esse convívio tenso entre eros e thanatos que sela a personalidade do religioso e do artista malogrado.
Junqueira Freire
(1832-1855) Cria um estilo viril que nada deve aos clássicos em rigor e precisão: essa era a art romantique rica de sons e de imagens, de
movimento e de tensão, que Baudelaire cultuava como fonte de seu próprio estilo. Dela nada existia em Junqueira Freire.
As fontes populares estavam presentes no “poeta lagartixa” e “poeta de salão”. Por isso mesmo representativo do gosto
romântico médio do Brasil Império.
Laurindo Rabelo A trova, os redondilhos, as rimas emparelhadas são os seus meios de expressão congenitais, e, na mesma linha de simplicidade,
(1826-1864) são as flores que lhe oferecem material copioso para enumerações e metáforas.
Sua obra pode ser uma das balizas para um estudo que a nossa cultura reclama: o das relações entre a linguagem do povo, da
classe média e dos grupos de prestígio nos meios urbanos.
Operou uma descida de tom em relação à poesia dos anteriores. O que singulariza o poeta é o modo de compor, que remonta,
em última análise, ao seu modo de conhecer a realidade na linguagem e pela linguagem.
Casimiro de
Abreu Reduzia a natureza e o próximo a um ângulo menor: o do seu temperamento sensual e menineiro que o aproxima bastante dos
literatos fluminenses coevos.
(1837-1860)
Em tudo Casimiro é menor. Os seus versos agradaram, e creio que ainda possam agradar aos que pedem pouco à literatura: um
ritmo cantante, uma expressão fácil, uma palavra brejeira.
28
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
O epígono por excelência foi, sem dúvida, Fagundes Varela. O único nome de relevo na poesia da década de 1860.
Fagundes Varela Mais que os seus modelos, sensível à lira patriótica de filiação liberal: índice de uma tendência que inverteu, a partir de 1860,
(1841-1875) aquele signo áulico manifesto no coro dos contentes.
Varela foi, mais que os seus modelos, sensível à lira patriótica de filiação liberal.
Preferia que o chamassem de Sousândrade. Um espírito originalíssimo para seu tempo. Romântico da segunda geração notava-
Joaquim de se nele um maior cuidado na escolha do léxico e no meneio sintático.
Souza Andrade
Mas o pedantismo ainda acerbo das Harpas não significava, nesse talento dinâmico, apenas um resquício purista: era prenúncio
(1833 - 1902) do escritor atento às técnicas de dicção, e que seria capaz de manejar com a mesma ductibilidade as fontes e os compostos do
jargão yankee.
FICÇÃO
A cronologia manda começar pelo Romance de Joaquim Manuel de Macedo. Autor de A Moreninha diluí-las em mais dezessete
romances. Em todos eles o gosto do puro romanesco é importado, mas são nossos os ambientes, as cenas, os costumes, os
Joaquim Manuel tipos, em suma, o documento.
de Macedo Percebe-se nele uma carência de realidade moral não compensada pela cópia de traços pitorescos e pelas digressões
(1820-1882) sentimentais.
Subromancista pela pobreza da fantasia, subromântico pela míngua do sentimento. Faltava a Macedo o senso vivo do ridículo em
que as convenções enredam o homem comum.
No outros polos, Memórias de um Sargento de Milícias estão isentas de qualquer traço idealizante e procuram despregar-se
da matéria romanceada graças ao método objetivo de composição, próximo do que seria uma crônica histórica cujo autor se
Manuel Antônio divertisse em resenhar as andanças e os pecadilhos do uomo qualunque.
de Almeida Em Manuel, o compromisso é mais alto e legítimo, porque se faz entre o relato de um momento histórico e uma visão
(1831-1861) desenganada da existência, fonte de humor difuso no seu único romance.
O seu valor reside principalmente em ter captado, pelo fluxo narrativo, uma das marcas da vida na pobreza, que é perpétua
sujeição à necessidade, sentida de modo fatalista como o destino de cada um.
Merece o lugar de centre pela natureza e expressão de sua obra. Em Sonhos d’Ouro, traçou um quadro retrospectivo da sua
ficção, onde se mostrara consciente de ter abraçado todas as etapas da vida brasileira.
Essas linhas indicam que pretendia cobrir com sua obra narrativa passado e presente, cidade e campo, litoral e sertão, e compor
uma espécie de suma romanesca do Brasil. No entanto, seus vinte e um romances possuem traços visceralmente românticos.
Manuel Antônio O Romantismo de Alencar é, no fundo, ressentido e regressivo, o que lhe dá sentido na história da nossa cultura e ajuda a
de Alencar explicar muitas das suas opções estéticas.
(1830-1861) O Brasil ideal, para ele, seria urna espécie de cenário selvagem, onde expulsos os portugueses, reinariam capitães altivos,
senhores de baraço e cutelo rodeados de sertanejos e peões, livres sim, mas fiéis até a morte.
O escritor que idealizara heróis míticos no coração da floresta é o mesmo que sabe recortar as figuras gentis de donzelas e
mancebos nos salões da Corte e nos passeios da Tijuca. Ao descrever a natureza e os ambientes internos, é tão preciso como
qualquer prosador do fim do século.
29
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
São regionalistas. As várias formas de sertanismo que têm sulcado as nossas letras desde meados do século passado, nasceram
do contato com de uma cultura citadina e letrada com a matéria bruta do Brasil rural, provinciano e arcaico.
As obras mais lidas de Bernardo, O seminarista e A Escrava Isaura, devem a sua popularidade menos a um progresso na fabulação
ou no traçado das personagens do que à garra dos problemas explícitos: o celibato no primeiro e a escravidão no segundo.
O Seminarista está na linha do romance passional. Já A Escrava Isaura, foi chamado A Cabana do pai Tomás nacional.
Visconde de Taunay tinha condições de dar ao regionalismo romântico a sua versão mais sóbria. Foi capaz de enquadrar a
Sertanistas. história de Inocência em um cenário e em um conjunto de costumes sertanejos onde tudo é verossímil. Sabia explorar na
Bernardo medida justa o cômico dos tipos. No âmbito de nosso regionalismo, romântico ou realista, nada há que supere Inocência em
Guimarães, simplicidade e bom gosto.
Taunay, Távora Com a obra O gaúcho, Franklin Távora quis introduzir, já no apagar das luzes da ficção romântica, um critério mais rigoroso de
verossimilhança.
Não cumpriu com O Cabeleira sua promessa de uma literatura nordestina. Literariamente, é uma sofrível mistura de crônica do
cangaço e expedientes melodramáticos.
Os manifestos e os prólogos de Távora podem ser lidos como sinal avançado dos riscos que o provincianismo traz para a literatura;
ou, num plano histórico, como sintoma dos fundos desequilibrados que já no século XIX sofria o Brasil como nação desintegrada,
incapaz de resolver os contrastes regionais e à deriva de uma política de preferências econômicas fatalmente injusta.
TEATRO
Assinou os primeiros textos teatrais, numa linguagem coloquial que, no gênero, não foi superada por nenhum outro comediógrafo
do século passado. O tom passa do cômico ao bufo, e a representação pode virar farsa a qualquer tempo.
Luís Carlos
Seu modo de sentir o social já era bem menos conservador que do primeiro grupo romântico. O eixo de sua comédia é o
Martins Pena
crescendo da urbanização, que desintegra o velho artesanato da Corte.
(1815-1848)
São diálogos que valem como excelente testemunho da língua coloquial brasileira tal como se apresentava em meados do
século XIX.
Sua melhor obra teatral, Leonor de Mendonça, tinha linha europeia do drama histórico. Compôs o drama com os olhos postos
Gonçalves Dias na restauração do teatro português. A consciência do novo, do não mais clássico, também se revela pela justificação da prosa
(1823-1864) em lugar do verso, bem como pela apologia de um modelo shakesperiano de tragédia onde prosa e verso se revezariam
segundo o tom e o ritmo dos afetos que movem os personagens.
Caberia a Alencar insistir na dose de “brasilidade” que esse drama de costumes deveria conter. Para tanto, compôs Verso e
José de Alencar Reverso. O Demônio Familiar, comédia em que os vaivéns da intriga são obra de um escravo.
(1829-1877)
Em Mãe, Alencar entroniza no centro do drama a figura de uma escrava.
Agrário de
Os dois jovens dramaturgos, meio esquecidos pela crítica moderna, trabalharam o tema da escravidão de modo mais direto e
Meneses, Paulo
cortante que Alencar.
Eiró
REALISMO
O ponto mais alto e equilibrado da nossa ficção. O seu equilíbrio era o dos homens que, sensíveis à mesquinhez humana e à
Joaquim Maria sorte precária do indivíduo, aceitam por fim uma e outra como herança inalienável, e fazem de sua reflexão cotidiana.
Machado de Menos do que pessimismo sistemático, melhor seria ver como suma da filosofia machadiana um sentido agudo ao relativo: nada
Assis valendo como absoluto, nada merece o empenho do ódio ou do amor.
(1839-1880) A sua ficção constitui, pelo equilíbrio formal que atingiu um dos caminhos permanentes da prosa brasileira na direção da
profundidade e da universalidade.
Autor de um livro só: O Ateneu, possuía dom de memorialista finura de observação moral. Em sua obra, a captação dos
Raul Pompéia ambientes e das pessoas não dispensa o expressionismo da imagem. As aproximações são, em geral, violentas e, no caso das
pessoas, depressivas.
(1863-1895)
Não fora o seu talento excepcional de artista, Raul Pompéia teria naufragado no puro romance de tese.
30
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Júlio Afrânio
Peixoto Não deixou uma obra de ficção tão volumosa, dadas as suas múltiplas curiosidades de divulgador e erudito. Escreveu romances
de costumes rurais. Seu realismo sertanejo e, portanto, de extração romântica. No entanto, aquele seu mundanismo diplomático
(1876-1947) que lhe desvirilizara os primeiros romances o impediu aqui de ascender à epicidade bronca que o argumento propiciava.
Xavier Marques Francisco Xavier Ferreira Marques – idílico marinista, povoou sua novela Jana e Joel com os gênios e as sereias da Ilha Itaparica.
(1861-1942) O regionalismo de Xavier Marques está permeado de tons românticos.
Afonso Arinos Afonso Arinos de Melo Franco é o primeiro regionalista de real importância a considerar nesse período. Histórias e quadros
(1868-1916) sertanejos constituem o grosso de seu livro Pelo Sertão.
Compartilha com Afoso Arinos o mérito de ter iniciado em nossas letras uma prosa regional ao mesmo tempo patética e veraz.
Valdomiro
Silveira Arinos temperava a transcrição da linguagem mineira com um sensível comprazimento de prosa clássica; já em Valdomiro
predomina o gosto da fala regional em si mesma: sintaxe, modismos, léxico, fonética, quase tudo se acha colado à vivência dos
(1873-1941) homens e das coisas do interior.
Simões Lopes
Neto João Simões é o patriarca das letras gaúchas.
(1865-1916)
Alcides Maya Alcides Castilho Maya tomava uma direção aparentemente igual à Simões Lopes, mas em substância diversa, pois para ele o
(1878-1944) gaúcho representa o regionalismo artificioso dentro de um estilo entre parnasiano e decante.
Hugo de A vida dos tropeiros goianos encontrou seu narrador no malogrado Hugo de Carvalho Ramos, jovem suicida que morreu aos 26
Carvalho Ramos anos. Seus contos, reunidos em Tropas e Boiadas, revelam plena aderência aos mais variados aspectos da natureza e da vida
(1895-1921) social goiana que reponta vigorosa em toda parte, não obstante certa estilização preciosa.
José Bento Monteiro Lobato exerceu na cultura nacional um papel que transcende de muito a sua inclusão entre os contistas
regionalistas. Moralista e doutrinador aguerrido, de acentuadas tendências para uma concepção racionalista e pragmática
Monteiro Lobato do homem, Lobato assumiu posição ambivalente dentro do Pré-Modernismo. O Pré-Modernismo no Brasil é algo bastante
complexo e contraditório, que só pode ser feito com extrema cautela.
(1882-1948)
A indicação dos limites da arte lobatiana parece colidir com a relevância da figura humana que vive na História Brasileira em que
já assumiu um papel simbólico.
31
CAPÍTULO 5
Demais figuras da literatura em
diferentes estilos
O REALISMO
POESIA
Antônio Mariano Alberto de Oliveira encetou o seu longo roteiro poético parecendo um romântico retardatário. E embora, a
Alberto de Oliveira partir do segundo livro, Meridionais (1884), já se afirmasse o “culto da forma” com que ele próprio definiria a natureza do
(1859-1937) Parnaso, a nota intimista da estreia repontaria esparsamente até os últimos poemas, provando que não fora possível, nem
ao primeiro dos mestres parnasianos, a impassibilidade que a escola preconizava.
Raimundo da Mota Azevedo Correia esbateu os tons demasiados claros do Parnasianismo e deu exemplo de uma poesia
Raimundo Correia de sombras e luares que inflectia amiúde em meditações desenganadas.
(1859-1911) Estreou com uma coleção de versos em que Machado de Assis sentiu “o cheiro romântico da decadência”, os Primeiros
Sonhos, versos de adolescente que o autor não incluiria na edição definitiva das Poesias.
Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, o mais antológico dos poetas, potencia-se a tendência parnasiana de cifrar no
Olavo Bilac brilho da frase isolada e na chave de ouro de um soneto a mensagem toda da poesia.
(1865-1918) Hoje parece consenso da melhor crítica reconhecer em Bilac não um grande poeta, mas um poeta eloquente, capaz de
dizer com fluência as coisas mais díspares, que o tocam de leve, mas o bastante para se fazerem, em suas mãos, literatura.
TEATRO
Capistrano de João Capistrano de Abreu esboçou uma teoria da literatura nacional em termos puramente taineanos: do clima, do solo e
Abreu da mestiçagem adviriam os traços negativos do homem brasileiro, a indolência, a labilidade nervosa, a exaltação súbita, mas
(1853-1927) efêmera, presentes, segundo ele, nos vários momentos da nossa poesia.
Sílvio Vasconcelos das Silveira Ramos Romero tinha gosto da pesquisa e da mais variada leitura, mas ao contrário do
cearense, o crítico sergipano amava apaixonadamente as ideias gerais e não fazia história do documento isolado senão
para ilustrar as grandes leis étnicas e sociais que aprendera junto a seus mestres determinados. Ele é a consciência ativa e
vigilante da Escola do Recife.
As linhas de força do pensamento romeriano no que toca às letras brasileiras podem resumir-se nas seguintes premissas:
Sílvio Romero
a) A literatura – como as demais artes e o folclore – exprime diretamente fatores naturais e sociais: o clima, o solo, as raças
(1851-1914) e seu processo de mestiçagem (determinismo biossociológico).
b) A sequência dos fatos na História ilustra a interação dos fatores mencionados; mas ela não é cega, tem um sentido: o
progresso da humanidade (evolucionismo).
c) A melhor crítica literária será, portanto, genética e não formalista. Os critérios de juízo darão valor ao poder que a obra
deve possuir de espelhar o meio, e não a seus caracteres de estilo (crítica externa X crítica retórica).
32
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
Tristão de Alencar Araripe Jr., apesar de ter recebido a mesma formação teórica de Sílvio Romero, revelou-se desde
Araripe Jr. os seus primeiros ensaios um leitor mais sensível aos aspectos propriamente artísticos da literatura. Devemos-lhe boas
(1848-1911) monografias sobre Alencar, Raul Pompéia, Gregório de Matos e uma longa série de resenhas e artigos, compilados
postumamente, em que acompanhou de perto as estreias dos romancistas do fim do século e dos poetas simbolistas.
Com José Veríssimo Dias de Matos a ênfase nos fatores externos cede a um tipo de apreciação eclética que, à falta de
melhor termo, poderia ser definida humanística. A arte é signo das eternas emoções do homem. Expressão articulada visa a
José Veríssimo provocar o prazer do belo.
(1857-1916) Reintegrando a literatura na esfera das belas-artes, Veríssimo opera nos Estudos e na história da Literatura Brasileira uma
seleção de autores bem mais rigorosa que a de Sílvio Romero. Ao crítico paraense interessava, de um lado o lavor da
forma, de outro a projeção de constantes psicológicas como a imaginação, a sensibilidade e a fantasia.
SIMBOLISMO
Medeiros de
Albuquerque (1867-
1934) e Wenceslau Tais figuras costumam ser lembradas como os precursores do Simbolismo. Ambos conheceram, de fato, as novas literárias
de Queirós francesas desde o decênio de 1880.
(1865-1921)
Cruz e Souza Nada se compara a originalidade e força à irrupção dos Broquéis com que Cruz e Souza renova a expressão poética
em língua portuguesa. Os Simples, de Guerra Junqueiro, e o Só, de Antônio Nobre, ambos de 1892, no fundo, obras
(1861-1898) neorromânticas, signos do saudosismo que iria vincar a poesia em Portugal antes dos anos modernistas.
Alphonsus de
Guimaraens A poesia no autor de Kyriale nos aparece iluminada por uma luz igual e suave, constante no seu nível, quase sem supressas
na sua temática. Alphonsus de Guimaraes foi poeta de um só tema: a natureza, a arte, a crença religiosa.
(1870-1921)
Foi um poeta de um livro só, Eu, cuja fortuna, extraordinária para uma obra poética, atestam as trinta edições vinda à luz.
Esta popularidade deve-se ao caráter original, paradoxal, até mesmo chocante, da sua linguagem, tecida de vocábulos
Augusto dos Anjos esdrúxulos e animada de uma virulência pessimista sem igual em nossas letras.
(1884-1914) Trata-se de um poeta poderoso, que deve ser mensurado por um critério estético extremamente aberto que possa
reconhecer, além do “mau gosto” do vocabulário rebuscado e científico, a dimensão cósmica e a angústia moral da sua
poesia.
PRÉ-MODERNISMO
O engenheiro Euclides Rodrigues Pimenta da Cunha deteve o olhar na matéria e nos determinismos raciais que o século
dezenove lhe ensinara aceitar sem reservas. Desse esforço aturado de colher o sal, emergiu outra face da nação: face
Euclides da Cunha trágica que contemplamos em Os Sertões.
(1866-1909) A personalidade de Euclides inclinava-se naturalmente para os conflitos violentos, para os aflitos extremos. É moderna nele
a ânsia de ir além dos esquemas e desvendar o mistério da terra e do homem brasileiro com as armas todas da ciência e
da sensibilidade.
João Ribeiro Um crítico independente João Batista Ribeiro de Andrade Fernandes representa em sua longa parábola, que vai de poeta
parnasiano a crítico literário, de filólogo a historiador, o tipo exemplar do humanista moderno, a quem não falta nunca o grão
(1860-1934) de sal de heresia.
Lima Barreto Afonso Henrique de Lima Barreto aparece o romance social. Sua biografia explica o húmus ideológico da sua obra: a
origem humilde, a cor, a vida penosa de jornalista pobre e de pobre amanuense, aliadas à vida consciência da própria
(1881-1922) situação social, motivaram aquele seu socialismo maximalista, tão emotivo nas raízes quanto penetrante nas análises.
Graça Aranha Tanto José Pereira da Graça Aranha quanto Lima Barreto são os dois vultos mais importantes da ficção pré-modernista e
(1868-1931) provieram de camadas sociais opostas, palmilharam existências diferentes e chegaram a diferentes opções estéticas.
Manuel Carneiro de Souza Bandeira Filho chamou-se um dia “poeta menor”. Fez por certo uma injustiça a si próprio,
Manuel Bandeira mas deu, com essa notação crítica, mostras de reconhecer as origens psicológicas da sua arte; aquela atitude intimista
dos crepusculares do começo do século que ajudaram a dissolver toda a eloquência pós-romântica, pela prática de um
(1886-1968) lirismo confidencial, auto irônico, talvez incapaz de empenhar-se num projeto histórico, mas, por isso mesmo, distante das
tentações pseudo-ideológicos, alheio a descaídas retóricas.
Cassiano Ricardo Cassiano Ricardo Leite pagou, como os demais modernistas históricos antes de aderir ao movimento, tributo à medida
(1895-1974) velha: neossimbolista é Dentro da Noite, neoparnasiana A Frauta de Pã.
Menotti del Picchia Paulo Menotti Del Picchia tenaz divulgador das novas tendências estéticas, construiu obra singular no contexto modernista,
no sentido de uma descida de tom que lhe permitiu aproximar-se do leitor médio e roçar pela cultura de massa que hoje
(1892-1988) ocupa mais de um ideológico perplexo.
33
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Raul Bopp Na trilha de Verde-amarelíssimo de Menotti, Cassiano e Plínio Salgado, mas bem cedo convertido aos chamados
Antropofagia de Oswald e Tarsila, está Raul Bopp, cuja rapsódia amazônica, Cobra Norato, é o necessário complemento do
(1898-1984) Manifesto Antropófago.
Costuma-se distinguir um primeiro momento de interesse pela nova ficção e pela literatura, em geral (ex.: o romance
Plínio Salgado O Estrangeiro, de prosa solta e impressionista), da carreira ideológica e política que se lhe seguiu. Mas a verdade está
(1901-1975) no todo: o indianismo mítico dos escritos iniciais e a xenofobia do Manifesto da Anta não estavam infensos aos ideais
reacionários que selariam o homem público na década de 1930.
Guilherme de Pertenceu só episodicamente ao movimento de 22. Não havendo partido do espírito que o animava, também não
Almeida encontrou nele pontos definitivos de referência estética.
(1890-1969) Sua cultura, seu virtuosismo, suas aspirações morais vinham do passado e lá permaneceram.
Antônio Castilho de Alcântara Machado D´Oliveira, o prosador do Modernismo paulista, soube ver e exprimir as alterações
que trouxera à realidade urbana um novo personagem: o imigrante. O enxerto que o estrangeiro, sobretudo o italiano,
Alcântara Machado significava para o tronco luso-tupi da antiga São Paulo produziria mudanças de costumes, de reações psicológicas e,
naturalmente, uma fala nova a espelhar os novos conteúdos.
(1901-1935)
É nos contos de Brás, Bexiga e Barra Funda que se vão encontrar exemplos de uma ágil literatura citadina, realista (aqui e
ali impressionista), que já não se via desde os romances e as sátiras cariocas de Lima Barreto.
Sérgio Milliet Milliet estreou como poeta de formação e língua. Integrado no grupo da Semana, continuou a escrever versos sobre temas
cotidianos, um lirismo de tons menores, mas fortemente afetado pela ironia do puro intelectual dividido entre as solicitações
(1898-1966) da paisagem paulista e as nostalgias de uma Europa saturada de cultura.
e
Já Paulo Prado deve-se, em parte, a própria realização da Semana, que ele apoiou não só material como espiritualmente.
Paulo Prado Aproveitando de modo muito pessoal as fontes dos jesuítas e dos viajantes estrangeiros, ensombra de cores tristes a
interpretação do nosso povo. No subtítulo do Retrato do Brasil (1928), lê-se: ensaio sobre a tristeza brasileira.
(1869-1943)
TENDÊNCIAS CONTEMPORÂNEAS
A FICÇÃO
José Américo de O romance de estreia A Bagaceira, passou a marco da literatura social nordestina. Creio que isso se deva não tanto aos
Almeida seus méritos intrínsecos quanto por ter definido uma direção formal (realista) a um veio temático: a vida nos engenhos, a
(1887-1980) seca, o retirante, o jagunço.
Raquel de Queirós Na esteira do regionalismo, ela compôs dois romances de ambientação cearense, O Quinze e João Miguel. Em ambos
(1910-2003) revela notar uma prosa enxuta e viva que seria depois tão estimável na cronista Raquel de Queirós.
José Lins do Rego José Lins do Rego Cavalcanti soube fundir numa linguagem de forte e poética oralidade as recordações da infância e da
adolescência com o registro intenso da vida nordestina colhida por dentro, através dos processos mentais de homens e
(1901-1957) mulheres que representavam a gama étnica e social da região.
Jorge Amado de Faria, fecundo contador de histórias regionais, definiu-se certa vez “apenas um baiano romântico e
Jorge Amado sensual”. Definição justa, pois presume o caráter de um romancista voltado para as marginais, os pescadores e os
marinheiros de sua terra que lhe interessam enquanto exemplos de atitudes “vitais”: romântica e sensuais.
(1912-2001) Cronista de tensão mínima soube esboçar largos painéis coloridos e facilmente comunicáveis que lhe franqueariam um
grande e nunca desmentido êxito junto ao público.
Só há um romancista brasileiro que partilha com Jorge Amado o êxito maciço junto ao público, ele mesmo, Érico Veríssimo.
Érico Veríssimo E, apesar disso, ou por isso mesmo, a sua obra tem conhecido amiúde reservas da crítica mais sofisticada.
Nos livros mais recentes, O Prisioneiro e O Senhor Embaixador, Veríssimo afasta-se da temática sulina e volta-se para um
(1905-1975) tipo novo de romance, político-internacional, mantendo, porém intacto aquele seu cálido liberalismo socializante, que é a
suma ideológica da relação que sempre estabeleceu com o próximo.
José Geraldo Manuel Germano Correia Vieira Machado da Costa também de extração urbana é a obra ficcional de José
José Geraldo Vieira Geraldo Vieira, mas num sentido oposto ao de Marques Rebelo.
(1897-1977) No romancista de A Quadragésima Porta sentimos o homem fascinado pela atmosfera da cidade grande enquanto lugar
geométrico das angústias e das experiência intelectuais mais refinadas da civilização contemporânea.
Lúcio Cardoso
Revela pendor para a criação de atmosferas de pesadelo.
(1913-1968)
Cornélio Pena Mais tarde de seus escritos, Cornélio de Oliveira Pena optaria pelo caminho da evocação miúda e determinada. A Menina
(1896-1958) Morta é um romance de atmosfera mas, ao mesmo tempo, um conjunto absolutamente coeso e verossímil.
34
PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO │ UNIDADE I
A ucraniana se manteria fiel às suas primeiras conquistas formais. O uso intensivo de metáfora insólita, a entrega ao fluxo da
Clarice Lispector consciência, a ruptura com o enredo factual têm sido constantes do seu estilo de narrar que, na sua manifesta heterodoxia.
(1926-1977) Os analistas à caça de estruturas não deixarão tão cedo em paz os textos complexos e abstratos de Clarice que parecem
às vezes escritos adrede para provocar esse gênero de deleitação crítica.
João Guimarães O regionalismo, que deu algumas das formas menos tensas de escritura (a crônica, o conto folclórico, a reportagem), estava
Rosa destinado a sofrer, nas mãos de um artista-demiurgo, a metamorfose que o traria de novo ao centro da ficção brasileira. A
alquimia, operada por João Guimarães Rosa, tem sido o grande tema da nossa crítica desde o aparecimento dessa obra
(1908-1967) espantosa que é Grande Sertão: Veredas.
A POESIA
O primeiro grande poeta que se afirmou depois das estreias modernistas. A prática do distanciamento abriu ao poeta
mineiro as portas de uma expressão que remete ora a um arsenal concretíssimo de coisas, ora à atividade lúdica da razão,
Carlos Drummond solta, entregue a si mesma, armando e desarmando dúvidas.
de Andrade Os polos coisa-razão, que fazem de Carlos Drummond um poeta reclamado pela vanguarda tecnista, não se acham nele
(1902-1987) divididos por força de um programa. Há um tecido conjuntivo a uni-los e a sustê-los, o sentimento do mundo do poeta,
também negativo na medida em que se ensombra com os tons cinzentos da acídia, do desprezo e do tédio, que tudo
resulta na irrisão da existência.
Com Drummond de Andrade tem em comum o também mineiro Murilo Mendes a recusa às formas batidas e o senso
vivíssimo da modernidade como libertação. Mas o seu pensamento trilha veredas opostas às do enxuto minerador de
Murilo Mendes Claro Enigma. É pensamento que não rói o real, mas multiplica-o, exalta-o e, com materiais tomados à fantasia, opera uma
potenciação das imagens cotidianas.
(1901-1975) Murilo é poeta de aderência ao ser, poeta cósmico e social que aceita a fruição dos valores primordiais. Tendo mantido
firme a sua ânsia libertária, ânsia que partilhou com o Modernismo anterior a 1930, jamais cai em formas antiquadas de
apologética.
Jorge de Lima Este poeta, que, a certa altura da sua história espiritual, partilhou com Murilo Mendes o projeto de “restaurar a poesia em
Cristo”, conheceu uma acidentada evolução literária. Começou como sonetista neoparnasiano e chegou até o “príncipe dos
(1895-1953) poetas de Alagoas”.
Augusto Frederico Schmidt também foi poeta de inspiração bíblica, mas, diversamente de Jorge Lima, não assistia nele o dom do verso nítido
Schmidt ou o encanto da imagem plástica. Era difusa a sua fala, romântica a melodia, derramado o estilo. Lidos isoladamente, alguns
dos seus poemas sabem mesmo a retórica anacrônica; mas o conjunto é uno e deixa a impressão de que seus temas
(1906-1965) centrais (morte, solidão, angústia, fuga) não poderiam ser tratados fora aquela dicção intensiva que o poeta lhes deu.
Marcus Vinícius de Melo Moraes em seus primeiros livros que foram também escritos sob o signo da religiosidade
Vinícius de Moraes neossimbolista que marcou o roteiro de Schmidt; mas a urgência biográfica logo descolocou o eixo dos temas desse poeta
lírico por excelência para a intimidade dos afetos e para a vivência erótica.
(1913-1980)
Vinícius será talvez, depois de Bandeira, o mais intenso poeta erótico da poesia brasileira moderna.
Com ela a vertente intimista, comum aos poetas, afina-se ao extremo e toca os limites da música abstrata. Mas, enquanto
Cecília Meireles Murilo, Jorge de Lima, Schmidt e Vinícius são líricos do ser e da presença (religiosa, erótica ou social), o poeta da Solombra
(1901-1964) parte de certo distanciamento do real imediato e norteia os processos imagéticos para a sombra, o indefinido, quando não
para o sentimento da ausência e do mata.
Vimos, portanto, as principais mentes por trás da Literatura Brasileira, bem como
os estilos que dela fazem parte. Como foi afirmado, não temos a intenção de nos
aprofundarmos demasiadamente no assunto, mas sim adquirir conhecimentos
suficientes do panorama geral literário para que com isso facilite o entendimento
dos direitos conquistados no Brasil provindo de uma área (a literatura) que não pode
ser descartada parcialmente, tampouco por completo, do cenário social, político e
econômico do país.
É certo que todas as épocas literárias tiveram fundamental importância para a formação
da identidade nacional, no entanto, ressaltamos, como já exposto em certa medida
anteriormente, o modernismo e o regionalismo.
35
UNIDADE I │ PANORAMA LITERÁRIO BRASILEIRO
Todas as bases e moldes da identidade que em larga escala se formou e tem se formado
está inteiramente ligada à composição religiosa e suas respectivas tradições, mitos
e tradições orais da língua portuguesa, bem como ditos e crendices populares, e
obviamente em caráter secular as festas em geral, tradições folclóricas, artes e esportes
etc.
36
QUESTÕES UNIDADE II
ÉTNICO-RACIAIS
Nesta unidade, diferente do apanhado geral literário que fizemos na última unidade,
veremos dentro uma visão de minorias étnicas, voltando-nos a principalmente a
indígena e afro-descendência brasileira. Procure não negligenciar as propostas de
pesquisas e estudos complementares, uma vez que, por meio deles você terá um grau
maior de profundidade no assunto.
CAPÍTULO 1
Cidadania (direito) para todos
A forte quantidade de movimento por parte das minorias em prol de seus direitos
vem tomando conta dos noticiários das mais diversas formas e fins. Muitos assuntos
fortemente controversos, haja vista às cotas para negros nas universidades. Por um
lado uns expressam sua opinião favorável devido à falta de oportunidades de muitos
encontram no mercado de trabalho e no mundo acadêmico simplesmente pelo fato de
serem afrodescendentes.
Por outro lado, alguns da própria minoria tratam essa questão como escandalosamente
preconceituosa, já que intelectualmente não há sentido de tratar os que não possuem pele
clara com maior favorecimento, sendo que terão que estudar de maneiras semelhantes e
vestibulares nos seus mais diversos fins não solicita foto ou algum tipo de identidade física.
37
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
Geralmente são assuntos polêmicos que geram no mínimo reflexão. Provocam dezenas
de debates em todos os campos do conhecimento, inclusive o da religião quando se
trata da causa gay e algumas concepções do feminismo, dado que a Bíblia proíbe
ambas as práticas (não as pessoas em si, mas as práticas por elas não combatidas
assim como qualquer outro instinto. Quanto ao feminismo, não há mal em sua maior
parte, mas a insubmissão ao homem fere um princípio religioso cristão, obviamente
demasiadamente distorcido até por quem nele acredita).
Assuntos que achávamos já não ter mais que se preocupar como fundamentalismo,
racismos, patriotismo excessivo que geram ataque e não apenas defesa, nacionalismos
em geral, regionalismos, chauvinismos e muitos outros têm se transformado em
assuntos mais que atuais.
38
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
»» Classe social trabalhadora: composta pelos demais, que por não terem
tais posses subsistem com os ganhos do exército de atividade remunerada.
Só os membros da classe trabalhadora são sujeitos dos direitos sociais.
Esses direitos só se aplicam àqueles cuja situação torna necessário o seu
uso.
39
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
Veja o texto a seguir encontrado na página virtual da UNESCO sobre suas ações
da valorização à manutenção da cultura africana no Brasil:
40
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
Assim, o trabalho com esses tópicos nas escolas e nos sistemas de ensino
proposto pela legislação nacional, em última instância, leva os alunos e a
sociedade a valorizar o direito à cidadania de cada um dos povos.
Tudo isso encontra uma forte convergência com o trabalho da UNESCO, que
atua em todo o mundo declarando que conhecer melhor outras civilizações e
culturas permite tanto compreender a segregação e os conflitos raciais como
afirmar direitos humanos.
41
CAPÍTULO 2
Minorias e as mudanças culturais
42
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
Muitos deles de tão falados se tornam tão “triviais” a nossos ouvidos que de fato
olvidamos a importância de conhecê-los (ou no melhor termo, relembrá-los)
com uma simples pesquisa na Web.
Não há dúvida, portanto, que o século XIX foi marcado por uma série de conquistas,
avanços e retrocessos no que se refere ao direito humano de viver em sociedade sem ser
discriminado apenas por fazer parte de alguma minoria, seja ela qual for.
Etnologia
O que significa então etnologia, bem como a diferença entre etnologia e etnografia, sua
separação da antropologia é vista a seguir de acordo com Baldus (op. cit., p.1):
43
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
44
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
Entre as diversas causas de cultura em nosso país, podemos distinguir as que vêm
de “dentro”, ou seja, da própria unidade cultural, e aqueles que vêm de “fora”, ou
seja, são razidas de outra unidade a unidade cultural no caso em questão. Tais causas
apresentam-se sob na forma de necessidades ou de indivíduos condutores (BALDUS,
1979).
45
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
Para nos aprofundarmos apenas um pouco, veja o que Baldus (1979, pp.178-179), o
qual esteve pessoalmente presente em muitos aspectos de suas pesquisas e entrevistas,
nos traz sobre a receptividade de algumas tribos frente às culturas de origem estranha
(inclusive religiosas):
E continua:
46
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
O autor Herbert Baldus trata bastante das experiências pessoais que teve
com as tribos Kaingan, Bororo, Karajá, Tapirapé... Enfim, o aluno que desejar se
aprofundar, indicamos a leitura de sua obra Ensaios de Etnologia Brasileira.
Cohn (2001) afirma que na notoriedade da visível “explosão étnica” que se vivencia
atualmente no Brasil, populações e indivíduos que negavam sua identidade e origem
indígena, se encontram em outro cenário, onde a figura de ser descendente de índio
não é mais motivo de vergonha, principalmente após a Constituição Federal de 1988.
Cenário extremamente diferente do passado. Hoje, segundo as concepções da autora,
é que se constrói uma nova identidade cultural, muito embora a identidade étnica
esteja juridicamente definida a partir do conceito de autoidentificação e adscrição,
apropriando-se do estereótipo que nossa sociedade criou para os índios através da
expectativa da população brasileira de que os índios “pareçam índios”.
Segundo Gilberto Freyre, citado por Schaden, em a Casa-Grande e Senzala, ele examina
a catequese como processo aculturativo, registrando:
47
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
Jonathan Wright (2010) nos alerta, com uma fonte bibliográfica riquíssima (obra já
tratada no início deste material) que os jesuítas poderiam ser quem quer que precisassem
ser. As armas de conquista e conversa se davam de forma diversa. Utilizam da própria
ciência e química para forjar milagres, enganavam pessoas cultas, quanto mais os índios
quando no Brasil.
Havia também àqueles que estavam dispostos a ajudar de fato, embora muitos deles,
de acordo com Baldus (1979) tinham asco dos índios, mas os tratava bem em prol de
sua causa.
2 Veja Sublimus Dei promulgada em 1537 pelo Papa Paulo III. Disponível em inglês em: <http://www.papalencyclicals.net/
Paul03/p3subli.htm>.
Para mais informações em português veja em: <http://darwinedeus.blogfolha.uol.com.br/2013/08/27/a-igreja-declarou-que-
indios-e-negros-nao-tinham-alma/>.
48
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
iniciando-se a partir do momento que a Coroa portuguesa iria estabelecer sua estratégia
de política de relacionamento interétnico (PINSK; PINSK, 2005).
Marquês de Pombal, sendo inimigo assíduo dos jesuítas, objetivou expulsá-los através
da elaboração do “Diretório dos Índios”, também conhecido como “Diretório de
Pombal”, elaborou e promulgou em 1757 um conjunto de 95 artigos normativos com
força de lei, na esperança de fazer com que os índios alcançassem modos civilizados
como os portugueses.
É certo então que a figura do índio no Brasil bem como o espaço que ele ocupa na
sociedade brasileira tem sido concebido também de modo mutante, como afirma
Cohn (2001). A autora pontua que em um primeiro instante, pensa-se o índio como
parte da formação da sociedade brasileira, e com isto tratando-o, como importante, no
passado, para a constituição, da qual ela chama de singularidade nacional. Cita ainda
que o foco está deste modo, no índio como nosso antepassado, nas heranças que deles
recebemos, seja genética, seja cultural, e também pela importância que eles tiveram
para a adaptação do colonizador europeu ao novo meio.
49
CAPÍTULO 3
O UNICEF, a cultura e a identidade para
a igualdade étnico-racial
De acordo com o Fundo das Nações Unidas para a Infância – UNICEF (<www.unicef.
com.br>) todas as crianças e adolescentes têm o direito de conhecer a parte da história
e a cultura dos povos indígenas e africanos, e pouco tempo atrás a grade escolar dava
sempre maior importâncias às histórias e cultura europeias. Deste modo, criou-se a
Lei no 10.639/2003 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional –
LBD, declarando com isso obrigatório o ensino da história e da cultura afro-brasileira e
africana em todos os sistemas e modalidades de ensino.
Em 2008, a LDB ocorreu outra mudança: a Lei no 11.645 obrigou o ensino da história e
da cultura indígena em todas as escolas do país. Esse é um dos temas do UNICEF para
os municípios inscritos no Selo UNICEF Município Aprovado. A ideia com isto foi a
de fortalecer a política de educação para a igualdade étnico-racial e também promover
ações que estimulem crianças e adolescentes a reconhecer, valorizar e preservar as
culturas afro-brasileiras, africana e indígena.
Para dar apoio a essas ações, o UNICEF lançou o Guia de Orientação Cultura e
Identidade: Comunicação para a Igualdade Étnico-Racial.
50
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
Certamente que em muitos pontos estamos bem aquém do ideal, mas muito mais
avançados do que com relação ao passado. Onde, por conta própria, muitos índios (a
maior parte deles) possuem opções de escolha em muitos sentidos. O guia traz consigo
também os importantes aspectos da busca pela igualdade étnico-racial.
As culturas de origem africana e indígena possuem uma diversidade enorme. De maneira geral, identificam-se características bastante semelhantes entre
elas, pois são povos que:
a) organizam-se por meio da participação coletiva e valorizam a presença de crianças, jovens, adultos e idosos em todos os processos sociais;
b) preservam a vida natural e social, isto é, juntam-se em torno de objetivos comuns;
c) consideram o território patrimônio de gerações e gerações;
d) definem seus territórios não somente pela extensão e recursos naturais neles existentes, mas também pelo trabalho, símbolos, vivências,
cemitérios, habitações, plantações, roças comunitárias, caminhos, rios, riachos, praias, mar, lagos, montanhas, florestas, córregos, mitos,
histórias e muito mais;
e) foram atingidos por diversas formas de violência física e cultural, ameaças de dissolução e, por isso, entendem como fundamental a
transmissão entre as gerações de suas histórias e culturas, nem sempre respeitadas no contexto em que vivem atualmente;
f) elaboram visões de mundo, a partir de suas vivências e sentimentos, valorizam as experiências de pessoas de mais idade e das envolvidas
nas religiões – sejam de matriz africana ou indígena;
g) tratam tudo isso (vivências, sentimentos, experiências dos mais velhos e dos líderes religiosos) como legado, herança, bens de família – uma
memória que se perpetua oralmente.
Fonte: Cultura e Identidade: Comunicação para igualdade étnico-racial. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/
br_cultura_guia_sab.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015.
51
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
Atos públicos, festas e celebrações, como Sairé, Quarup, Boi de Parintins, Círio de Nazaré, festejos do Divino Espírito Santo,
apresentações teatrais, de dança, recitais poéticos, exposições de artes plásticas, bumba-meu-boi, tambores, reinados do
Eventos
congo, maculelê, ternos e folias de reis, tambor de crioula, cantos de trabalho, ritos de passagem, cantorias, quadrilhas
juninas, sambas, que tenham a cultura negra e/ou indígena evidenciada.
Marcos do nascimento, da passagem da infância/adolescência para a vida adulta, do casamento, da morte etc. São
Rituais
exemplos: Moça Nova, Tucandeira e rituais sagrados, como ocorrem nas religiões de matriz africana.
Processos de trabalho e produtos obtidos, próprios do município ou da região, e que são característicos do viver, celebrar,
conviver, cuja origem e história se baseiam nas civilizações indígenas e/ou africanas. Essas expressões culturais podem
Ofícios e modos de
ser encontradas nas artes e no artesanato, na fabricação de instrumentos e de outros objetos de uso religioso, na culinária,
fazer na medicina tradicional. Alguns exemplos: cerâmica, cestaria, cocares, pinturas corporais, ferramentas de orixás, carranca,
panos-da-costa, penteados, trançados, tear, navegações, comidas (tapioca, acarajé etc.), entre outros.
Espaços construídos ou naturais, como as aldeias, as reservas indígenas, territórios quilombolas, terreiros, mercados, feiras,
Lugares e construções rios, cachoeiras, praias, beira-rio, beiradão, mangues, igarapés, igapós, lagos, paranás, várzeas, furos, montanhas, florestas.
Eles testemunham passagens importantes da história local e traduzem a experiência indígena e afro-brasileira no município.
Contados, geralmente, pelas pessoas mais velhas. Elas conhecem a história e a cultura e têm prazer de repassá-las aos
mais jovens, que, ao conhecê-las, começam a se orgulhar de seu pertencimento étnico-racial. A memória cultural de uma
localidade é o maior bem que ela possui. E a tradição oral faz esse bem circular, ganhar mundo, organizando a vida, as
Mitos, contos, histórias ideias, mantendo a riqueza cultural de um povo. Isso tudo compõe a cultura de cada localidade, mostrando o jeito como
as pessoas se relacionam, se vinculam ao passado e à tradição, dando continuidade à existência. Nas culturas indígenas e
afro-brasileiras, as histórias são a forma principal de transmissão e preservação do conhecimento e da cultura em si. Dessa
forma é que têm resistido, com o passar do tempo, à massificação, que tende a ditar um padrão cultural uniformizante.
Pessoas com um trabalho e uma vivência reconhecidos por grande parte da população. Geralmente, são líderes
comunitários, artistas, pessoas com conhecimentos relevantes da região e com bastante experiência de vida. Gente que se
Lideranças e
incumbe de representar e cuidar de seu povo e repassar os modos de celebração e de cura aprendidos de seus ancestrais,
personalidades como caciques, tuxauas, líderes quilombolas, benzedeiras, mães e pais de santo, pajés, guerreiros, cantadores, mestres de
manifestações culturais.
Expressões e vocábulos Expressões linguísticas de origem indígena e africana que permanecem no falar cotidiano do povo, sua linguagem específica
locais e regionais e seus mais diversos significados. Muitos nomes de rios, povoados, comidas e objetos carregam essa herança.
Narrativas que contam um pouco da vida do município e/ou de uma comunidade específica, resgatando suas origens, como
Histórias dos locais e
surgiu, se existe há muito tempo, quem foram seus pioneiros, se já foi maior, se pertenceu a outro município, etc. Valem as
dos territórios explanações sobre como o município se encontra atualmente, a história de seus bairros, comunidades e distritos.
Entidades locais representativas da população indígena e afro-brasileira do município, como associações e grupos culturais
ou comunitários (ordens religiosas, grupos de capoeira e de danças populares), terreiros, organizações não governamentais,
Instituições movimentos de luta pela terra – a exemplo de seringueiros, Movimento Cabano ou Cabanagem (1835-1840) etc. Esse
aspecto permite perceber o grau de organização popular no município, quem são suas lideranças e o reconhecimento dos
trabalhos realizados pelas organizações.
Fonte: Cultura e Identidade: Comunicação para igualdade étnico-racial. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/
br_cultura_guia_sab.pdf>. Acesso em: 23 out. 2015.
52
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
53
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
O autor ainda nos informa, conforme falamos da figura do índio em meio ao contexto
escravista e adaptações territoriais que:
Contudo, como nosso intuito aqui é o de fazer com que haja pensamento e posicionamento
frente à cediça abordagem da formação da identidade cultural brasileira, bem como
os principais aspectos que contribuíram para seu desenvolvimento, vale-nos caber de
diferentes óticas e visões sobre a discrepância da realidade que aprendemos X a factual:
Com efeito, até recentemente o destino dos índios vinha sendo traçado
por antropólogos e historiadores, sem falar sobre o pensamento desejoso
da elite dominante, como inexoravelmente condenado ao desfecho de
“fim de raça”. Por esse modo, estaria se confirmando todo um conjunto
de concepções e sentimentos, teorias, hipóteses, e elucubrações em
torno da ideia de que os índios iriam se acabar. Isso constitui o que
chamamos de “paradigma da aculturação”, o qual se pode dizer que
designa o processo histórico de destruição das populações autóctones e
domínio do Novo Mundo, analisado e interpretado como se isso fosse
um evento natural, próprio do confronto entre civilização e barbárie.
A sobrevivência dos povos indígenas atuais, no Brasil, nas Américas e
no resto do mundo não europeu significa que o paradigma tinha fortes
tinturas ideológicas. Estamos assim diante da necessidade de repensar
54
QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS │ UNIDADE II
55
UNIDADE II │ QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS
56
Para (não) Finalizar
Para o aluno dedicado, principalmente àqueles que viram neste material seu formato
de prosseguimento de carreira; sugerimos a pesquisa e leitura/aprofundamento do que
se segue:
»» Era Barroca.
»» Era Neoclássica.
»» Romantismo e Regionalismo.
»» Realismo.
»» Era de Transição.
»» Era Modernista.
<www.ceafro.ufba.br>
<www.cimi.org.br>
57
PARA (NÃO) FINALIZAR
<www.funai.gov.br>
<www.isa.org.br>
Mazza Edições
<www.mazzaedicoes.com.br>
Pallas Editora
<www.pallaseditora.com.br>
<www.portaldaigualdade.gov.br>
<www.acordacultura.org.br>
<www.djweb.com.br/historia>
<http://www.unesco.org/culture/ich/doc/src/00096-PT.pdf>
58
Referências
BALDUS, Herbert. Ensaio de etnologia brasileira. 2. ed. São Paulo: INL, 1979.
BOSI, Alfredo. História concisa da literatura brasileira. 37. ed. São Paulo:
Cultrix, 2004.
COUTINHO, Afrânio dos S. A literatura no Brasil. 7. ed. São Paulo: Global, 2004.
FREYRE, Gilberto. Casa grande e senzala. 4. ed. Rio de Janeiro, 1943, pp.217,280.
PINSK, Jaime; PINSK, Carla B. História da cidadania. São Paulo: Contexto, 2005.
59
ANEXO I
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes
arts. 26-A, 79-A e 79-B:
§ 3o (VETADO)”
“Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da
Consciência Negra’.”
60
ANEXOS
61
ANEXO II
A Conferência Geral,
Reafirmando seu compromisso com a plena realização dos direitos humanos e das
liberdades fundamentais proclamadas na Declaração Universal dos Direitos Humanos
e em outros instrumentos universalmente reconhecidos, como os dois Pactos
Internacionais de 1966 relativos respectivamente, aos direitos civis e políticos e aos
direitos econômicos, sociais e culturais,
Recordando também seu Artigo primeiro, que designa à UNESCO, entre outros
objetivos, o de recomendar “os acordos internacionais que se façam necessários para
facilitar a livre circulação das idéias por meio da palavra e da imagem”,
Reafirmando que a cultura deve ser considerada como o conjunto dos traços distintivos
espirituais e materiais, intelectuais e afetivos que caracterizam uma sociedade ou um
grupo social e que abrange, além das artes e das letras, os modos de vida, as maneiras
de viver juntos, os sistemas de valores, as tradições e as crenças[2],
62
ANEXOS
Considerando que o processo de globalização, facilitado pela rápida evolução das novas
tecnologias da informação e da comunicação, apesar de constituir um desafio para
a diversidade cultural, cria condições de um diálogo renovado entre as culturas e as
civilizações,
63
ANEXOS
Os direitos culturais são parte integrante dos direitos humanos, que são universais,
indissociáveis e interdependentes. O desenvolvimento de uma diversidade criativa exige
a plena realização dos direitos culturais, tal como os define o Artigo 27 da Declaração
Universal de Direitos Humanos e os artigos 13 e 15 do Pacto Internacional de Direitos
Econômicos, Sociais e Culturais. Toda pessoa deve, assim, poder expressar-se, criar
e difundir suas obras na língua que deseje e, em partícular, na sua língua materna;
toda pessoa tem direito a uma educação e uma formação de qualidade que respeite
plenamente sua identidade cultural; toda pessoa deve poder participar na vida cultural
que escolha e exercer suas próprias práticas culturais, dentro dos limites que impõe o
respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais.
Enquanto se garanta a livre circulação das idéias mediante a palavra e a imagem, deve-se
cuidar para que todas as culturas possam se expressar e se fazer conhecidas. A liberdade
de expressão, o pluralismo dos meios de comunicação, o multilingüismo, a igualdade
de acesso às expressões artísticas, ao conhecimento científico e tecnológico - inclusive
64
ANEXOS
Toda criação tem suas origens nas tradições culturais, porém se desenvolve plenamente
em contato com outras. Essa é a razão pela qual o patrimônio, em todas suas formas,
deve ser preservado, valorizado e transmitido às gerações futuras como testemunho
da experiência e das aspirações humanas, a fim de nutrir a criatividade em toda sua
diversidade e estabelecer um verdadeiro diálogo entre as culturas.
As políticas culturais, enquanto assegurem a livre circulação das ideias e das obras,
devem criar condições propícias para a produção e a difusão de bens e serviços
culturais diversificados, por meio de indústrias culturais que disponham de meios
para desenvolver-se nos planos local e mundial. Cada Estado deve, respeitando suas
obrigações internacionais, definir sua política cultural e aplicá-la, utilizando-se dos
meios de ação que julgue mais adequados, seja na forma de apoios concretos ou de
marcos reguladores apropriados.
65
ANEXOS
A UNESCO, por virtude de seu mandato e de suas funções, tem a responsabilidade de:
66
ANEXOS
68
ANEXOS
16. Garantir a proteção dos direitos de autor e dos direitos conexos, de modo
a fomentar o desenvolvimento da criatividade contemporânea e uma
remuneração justa do trabalho criativo, defendendo, ao mesmo tempo,
o direito público de acesso à cultura, conforme o Artigo 27 da Declaração
Universal de Direitos Humanos.
69
ANEXO III
Sabendo que a diversidade cultural cria um mundo rico e variado que aumenta a gama
de possibilidades e nutre as capacidades e valores humanos, constituindo, assim, um
dos principais motores do desenvolvimento sustentável das comunidades, povos e
nações,
Considerando que a cultura assume formas diversas através do tempo e do espaço, e que
esta diversidade se manifesta na originalidade e na pluralidade das identidades, assim
como nas expressões culturais dos povos e das sociedades que formam a humanidade,
70
ANEXOS
71
ANEXOS
Artigo 1o – OBJETIVOS
72
ANEXOS
2. Princípio da soberania
De acordo com a Carta das Nações Unidas e com os princípios do direito internacional,
os Estados têm o direito soberano de adotar medidas e políticas para a proteção e
promoção da diversidade das expressões culturais em seus respectivos territórios.
73
ANEXOS
III. Definições
Artigo 4o – DEFINIÇÕES
74
ANEXOS
1. Diversidade Cultural
2. Conteúdo Cultural
3. Expressões culturais
5. Indústrias culturais
75
ANEXOS
7. Proteção
8. Interculturalidade
2. Quando uma Parte implementar políticas e adotar medidas para proteger e promover
a diversidade das expressões culturais em seu território, tais políticas e medidas deverão
ser compatíveis com as disposições da presente Convenção.
1. No marco de suas políticas e medidas culturais, tais como definidas no artigo 4.6,
e levando em consideração as circunstâncias e necessidades que lhe são particulares,
cada Parte poderá adotar medidas destinadas a proteger e promover a diversidade das
expressões culturais em seu território.
76
ANEXOS
77
ANEXOS
1. Sem prejuízo das disposições dos artigos 5 e 6, uma Parte poderá diagnosticar a
existência de situações especiais em que expressões culturais em seu território estejam
em risco de extinção, sob séria ameaça ou necessitando de urgente salvaguarda.
As Partes:
As Partes deverão:
78
ANEXOS
As Partes envidarão esforços para integrar a cultura nas suas políticas de desenvolvimento,
em todos os níveis, a fim de criar condições propícias ao desenvolvimento sustentável
e, nesse marco, fomentar os aspectos ligados à proteção e promoção da diversidade das
expressões culturais.
79
ANEXOS
80
ANEXOS
81
ANEXOS
82
ANEXOS
1. Fica estabelecida uma Conferência das Partes. A Conferência das Partes é o órgão
plenário e supremo da presente Convenção.
2. A Conferência das Partes se reune em sessão ordinária a cada dois anos, sempre que
possível no âmbito da Conferência-Geral da UNESCO. A Conferência das Partes poderá
reunir-se em sessão extraordinária, se assim o decidir, ou se solicitação for dirigida ao
Comitê Intergovernamental por ao menos um terço das Partes.
83
ANEXOS
f. realizar qualquer outra tarefa que lhe possa solicitar a Conferência das
Partes.
84
ANEXOS
3. Se os bons ofícios ou a mediação não forem adotados, ou se não for possível superar
a controvérsia pela negociação, bons ofícios ou mediação, uma Parte poderá recorrer
à conciliação, em conformidade com o procedimento constante do Anexo à presente
Convenção. As Partes considerarão de boa-fé a proposta de solução da controvérsia
apresentada pela Comissão de Conciliação.
85
ANEXOS
Artigo 27 – ADESÃO
86
ANEXOS
87
ANEXOS
Artigo 31 - DENÚNCIA
88
ANEXOS
Artigo 33 – EMENDAS
1. Toda Parte poderá, por comunicação escrita dirigida ao Diretor-Geral, propor emendas
à presente Convenção. O Diretor-Geral transmitirá essa comunicação às demais Partes.
Se, no prazo de seis meses a partir da data da transmissão da comunicação, pelo
menos metade dos Estados responder favoravelmente a essa demanda, o Diretor-Geral
apresentará a proposta à próxima sessão da Conferência das Partes para discussão e
eventual adoção.
2. As emendas serão adotadas por uma maioria de dois terços das Partes presentes e
votantes.
3. Uma vez adotadas, as emendas à presente Convenção serão submetidas às Partes
para ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.
4. Para as Partes que as tenham ratificado, aceitado, aprovado ou a elas aderido,
as emendas à presente Convenção entrarão em vigor três meses após o depósito
dos instrumentos referidos no parágrafo 3 deste Artigo por dois terços das Partes.
Subseqüentemente, para cada Parte que a ratifique, aceite, aprove ou a ela adira, a
emenda entrará em vigor três meses após a data do depósito por essa Parte do respectivo
instrumento de ratificação, aceitação, aprovação ou adesão.
5. O procedimento estabelecido nos parágrafos 3 e 4 não se aplicarão às emendas
ao artigo 23 relativas ao número de membros do Comitê Intergovernamental. Tais
emendas entrarão em vigor no momento em que forem adotadas.
6. Um Estado, ou uma organização regional de integração econômica definda no artigo
27, que se torne Parte da presente Convenção após a entrada em vigor de emendas
conforme o parágrafo 4 do presente Artigo, e que não manifeste uma intenção diferente,
será considerado:
A presente Convenção está redigida em árabe, chinês, espanhol, francês, inglês e russo,
sendo os seis textos igualmente autênticos.
Artigo 35 – REGISTRO
89
Anexo IV
Procedimento de conciliação
Por solicitação de uma das Partes da controvérsia, uma Comissão de Conciliação será
criada. Salvo se as Partes decidirem de outra maneira, a Comissão será composta de
5 membros, sendo que cada uma das Partes envolvidas indicará dois membros e o
Presidente será escolhido de comum acordo pelos 4 membros assim designados.
Em caso de controvérsia entre mais de duas Partes, as Partes que tenham o mesmo
interesse designarão seus membros da Comissão em comum acordo. Se ao menos duas
Partes tiverem interesses independentes ou houver desacordo sobre a questão de saber
se têm os mesmos interesses, elas indicarão seus membros separadamente.
Artigo 3o – NOMEAÇÕES
Se nenhuma indicação tiver sido feita pelas Partes dentro do prazo de dois meses a
partir da data de pedido de criação da Comissão de Conciliação, o Diretor-Geral da
UNESCO fará as indicações dentro de um novo prazo de dois meses, caso solicitado
pela Parte que apresentou o pedido.
Se o Presidente da Comissão não tiver sido escolhido no prazo de dois meses após a
designação do último membro da Comissão, o Diretor-Geral da UNESCO designará o
Presidente dentro de um novo prazo de dois meses, caso solicitado por uma das Partes.
Artigo 5o – DECISÕES
90
ANEXOS
Artigo 6o – DISCORDÂNCIA
91