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Sobre Psicologia Sexual: Histórico e

Abordagens Terapêuticas

Brasília-DF.
Elaboração

Murilo de Assis Alfaix Melo

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 5

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 7

UNIDADE I
SEXUALIDADE......................................................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA SEXUALIDADE ............................................................................ 9

UNIDADE II
PSICOPATOLOGIAS............................................................................................................................... 31

CAPÍTULO 1
PSICOPATOLOGIAS DA SEXUALIDADE ...................................................................................... 31

UNIDADE III
MANEJO DA SEXUALIDADE................................................................................................................... 63

CAPÍTULO 1
AS PSICOTERAPIAS E SUAS DIFERENTES ABORDAGENS.............................................................. 63

UNIDADE IV
PSICOTERAPIA SEXUAL.......................................................................................................................... 74

CAPÍTULO 1
CASOS CLÍNICOS................................................................................................................... 74

PARA (NÃO) FINALIZAR...................................................................................................................... 83

REFERÊNCIAS................................................................................................................................... 84
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

4
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

5
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
A sexualidade humana apresenta modificações ao longo da história e das mudanças
nas práticas culturais. A visão sobre o que é sexualidade, suas manifestações, interação
com o corpo, a relação entre sexualidade e gênero são todas dependentes do aspecto
cultural.

Compreender o gênero é de fundamental importância para um pleno conhecimento da


sexualidade em toda sua amplitude. Nas últimas duas décadas o debate sobre gênero e
sexualidade tem aumentado consideravelmente. Conceitos passaram por reformulações
e novas pesquisas e interpretações foram adotadas.

É sabido que o papel do gênero representa uma função meramente social. A roupa
que o indivíduo veste, os brinquedos fornecidos à criança, o que o indivíduo pode ou
não gostar, entre outros, são itens impostos pela sociedade e pode mudar dependendo
do aspecto histórico e/ou cultural. Em contrapartida o aspecto identitário de gênero
depende de quanto o indivíduo se identifica ou não com o seu sexo de origem, ou seja,
se ele se considera ou não pertecente ao seu sexo.

Diferentemente do papel e identidade de gênero, encontra-se a orientação sexual.

Quando se fala em orientação sexual, refere-se a qual será o objeto de prazer do


indivíduo. Para onde o interesse sexual é conduzido. Aspectos importantes sobre a
sexualidade referem-se ao aspecto psíquico e, também, ao aspecto físico. A anatomia e
a fisiologia do indivíduo afetam a atividade sexual e podem influenciar a maneira pela
qual as respostas sexuais ocorrem.

É importante ressaltar que da mesma maneira que a sexualidade humana sofre


modificações ao longo dos anos, o indivíduo também se modifica ao longo da vida.
Ele passa por um desenvolvimento psicossexual, alterações anatômicas, fisiológicas
e psíquicas que influenciam a forma de manifestação da sexualidade. Esse aspecto
referente à história de vida do indivíduo pode conduzir às psicopatologias sexuais,
levando-o a apresentar desde disfunções sexuais a perversões.

O presente trabalho tem como objetivo geral a compreensão da sexualidade humana


e os fatores correlatos e, como objetivos específicos, analisar a história da sexualidade
humana, identificar a diferença entre gênero e orientação sexual, verificar o
desenvolvimento psicossexual e identificar as psicopatologias sexuais.

Os temas supracitados serão trabalhados ao longo do material, tentar-se-á, demonstrar


alguns aspectos complexos e subjetivos referentes à sexualidade humana.

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Objetivos
» Compreender a sexualidade humana e os fatores correlatos.

» Analisar a história da sexualidade humana.

» Identificar a diferença entre gênero e orientação sexual.

» Verificar os aspectos biopsicossociais correlatos.

» Identificar as psicopatologias sexuais.

» Identificar como as psicoterapias lidam com o aspecto da sexualidade.

» Apresentar casos clínicos sobre a sexualidade.

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SEXUALIDADE UNIDADE I

Para Foucault (1988), a sexualidade é um dispositivo histórico. Em outras palavras, ela


é uma invenção social, uma vez que se constitui, historicamente, a partir de múltiplos
discursos sobre o sexo: discursos que regulam, que normatizam, que instauram saberes,
que produzem “verdades”.

CAPÍTULO 1
Introdução ao Estudo da Sexualidade

A história da sexualidade humana

Figura 1.

Fonte: <https://lh3.googleusercontent.com/wOlKpBzfUqmiqI6j22Ed3zrblR6hKGqGTq0IOEAYqeDSgxGwfqq3tn-
s7xxd1GA29qpDiA=s170>.

Os primeiros registros referentes à sexualidade humana estão presentes no Período


Paleolítico. Segundo Spitzner (2005), por meio de pinturas, esculturas e demais
artefatos, identificou-se uma exaltação ao corpo feminino. A vagina ganhava destaque
no corpo da mulher, representada sempre por um triangulo. Para Spitzner (2005), a
exaltação era em relação à fertilidade feminina. Durante esse período, o Matriarcalismo
predominava e as tribos eram comandadas por mulheres.

9
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Spitzner (2005) afirmou que a sexualidade e, consequentemente, o ato sexual eram


percebidos como algo natural e a função sexual visava meramente à satisfação física.
Durante o fim do Período Paleolítico a segurança e a estabilidade na vida das cavernas
possibilitaram um maior contato entre as diferentes tribos. Relações de trocas e
cooperação eram muito comuns e estabeleceu-se o fim do incesto, em decorrência
da consanguinidade e da possibilidade de práticas sexuais entre pessoas que não
eram pertencentes à mesma tribo. Foi instituído, assim, o primeiro tabu sexual da
humanidade, bem como a formação do grupo social denominado família.

Nunes (1987) apresentou modificações que ocorreram no Período Neolítico. Durante


esse período os homens dominavam os meios de produção e passaram a ter função
de chefes dentro de seu grupo social. Inicia-se assim, o denominado Patriarcalismo.
Ocorre a delimitação de terras, em decorrência do fim do processo nômade e o homem
começa a sobreviver da agricultura e da pecuária. A mulher passa a ser compreendida
como propriedade do homem.

Realizando um salto histórico e analisando a formação do povo Hebreu, segundo


Nunes (1987), percebe-se que o sexo era visto única e exclusivamente para procriação.
As normas e dogmas religiosos começam a serem impostos para a atividade sexual. A
procriação era bem vista, uma vez que se estava multiplicando os filhos de Deus, sendo
assim, o aborto passou a ser visto como algo inadmissível por infringir os desígnios
divinos.

Figura 2.

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-npyWsPJ_9vM/UJGWoKAeS4I/AAAAAAAACS8/TFj_5YGiUd0/s1600/
homossesuais+na+antiguidade.jpg>.

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SEXUALIDADE│ UNIDADE I

Nunes (1987) apresenta também uma análise da prática sexual entre os gregos. Na
comunidade grega o Patriarcalismo predominava. Ocorria forte repressão para a
sexualidade feminina e liberação para a sexualidade masculina. Os homens podiam
apresentar relações extraconjugais tanto com outras mulheres, quanto com outros
homens.

Figura 3.

Fonte: <https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/6/6a/Komos_Staatliche_Antikensammlungen_1432.
jpg/1280px-Komos_Staatliche_Antikensammlungen_1432.jpg>.

Para Nunes (1987), durante a Idade Média o pensamento predominante era o da


Igreja Católica. A sexualidade passou a ser vista como algo pecaminoso, impuro, sujo.
Manifestações públicas de sexualidade eram duramente punidas, podendo infligir
queimaduras na região genital ou mesmo a morte para quem não respeitasse as normas
vigentes. O Cristianismo, então, pregava uma forte repressão sexual, em oposição ao
Paganismo.

Figura 4.

Fonte: <http://www.mamaculpable.com/wp-content/uploads/2016/07/13730841_10153906593004482_732264617129509331
9_o.jpg>.

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UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Ainda sob a ótica do autor, durante a Idade Moderna, buscou-se a desconstrução dos
argumentos da Igreja Católica. Iniciou-se a tentativa de um mundo crítico e liberal
onde ocorreria a rejeição dos dogmas impostos durante a Idade Média. É importante
ressaltar que a repressão sexual ainda estava presente na Igreja e em grande parte da
sociedade. Ao final da Idade Moderna e início da Idade Contemporânea, os movimentos
sociais, entre eles o feminismo, ganharam força e pregaram a libertação sexual para
as mulheres. O Capitalismo incorporou a atividade sexual na tentativa de obter lucro.
A mulher passou a ser vista como um objeto sexual pelo meio midiático e o acesso à
prática sexual, muitas vezes, perpassava pela questão monetária. Pode-se perceber que
a visão sobre a sexualidade não é imutável, muda tanto do ponto de vista histórico,
quanto do ponto de vista cultural.

É importante destacar que fora o aspecto histórico, as mudanças culturais contam


muito. Na Nigéria, por exemplo, mulheres com sobrepeso são mais desejadas que as
demais mulheres. O sobrepeso é uma característica que desperta o interesse sexual
dos homens. Existem relatos de que as mulheres chegam a ganhar peso para casar.
Na Samoa, o umbigo é objeto sexual. As mulheres andam sempre com umbigo tampado,
pelo fato sexualizado que ele apresenta. Na Indonésia o joelho é considerado um órgão
de atração sexual, muitas pessoas se excitam somente de ver o joelho.

Em Nilotes é comum a extração de no mínimo dois dentes para ficar mais atrativo,
essa extração ocorre, geralmente, antes do casamento. Em Bostuana, a proeminência
dos pequenos lábios da vagina é considerada com uma característica extremamente
libidinosa. Muitas mulheres utilizam diversos procedimentos para que os pequenos
lábios fiquem proeminentes. Em Uganda, o pênis grande é muito bem visto pela
sociedade e apresenta grande valor durante o ato sexual. Alguns homens chegam a
utilizar de diversas ferramentas e procedimentos na tentativa de aumentar o tamanho
peniano.

Os mulçumanos tendem a cortar o clitóris das mulheres, a medida é realizada para que a
mulher não sinta prazer durante o ato sexual. Segundo a cultura supracitada, o sexo não
foi feito para proporcionar prazer para as mulheres, pessoas do sexo feminino podem
se engajar em atividades sexuais somente com a finalidade de procriação. (SPITZNER,
2005)

12
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

Figura 5.

Fonte: <https://lh3.googleusercontent.com/EJ9d8W0jTpOYaVcKW2znT3tDgi4kFa2Pg5Ywk4GK-Wva9UqJb_tIavxu_
RltCGJO6UL8jrg=s139>.

Atualmente, no Brasil, existem ritos para o preparo frente à atividade sexual.


Esses ritos são ditos como normais. Entre os ritos destaca-se a depilação. Mulheres
depilam-se há muitos anos no Brasil, a depilação geral é bem vista para o ato sexual,
passa uma imagem de “cuidado” e “higiene”. Nos últimos anos, a depilação tem
sido apresentada aos homens também, com as mesmas representações sociais que
apresentavam para as mulheres, ou seja, passando a imagem de “cuidado” e “higiene”.

É importante ressaltar que a pressão social para depilar-se é muito mais forte para as
mulheres do que para os homens. Na nossa cultura também existe o controle social
no que se refere ao tamanho do pênis. É pregado que somente um pênis grande pode
produzir uma relação sexual de fato prazerosa. O aspecto supracitado é alimentado,
inclusive, pela indústria pornográfica, onde se coloca somente atores com o pênis
grande para atuar. Vale lembrar, que a grande parte dos adolescentes são expostos e
influenciados pela indústria de filmes pornográficos. (SPITZNER, 2005)

Outro aspecto de grande relevância é que dado os movimentos sociais (em especial
o feminismo) a mulher pouco a pouco vem adquirindo seu espaço. Antigamente,
importava somente o prazer masculino, a mulher devia prestar-se ao “serviço de
satisfazer” seu parceiro. Atualmente, o sexo é visto como um processo interacional, ou
seja, tanto o homem quanto a mulher devem sentir prazer. Muitos homens já passam a
preocupar-se com tal fato e muitas mulheres trocam de parceiros, ou tecem críticas,
caso a relação sexual não seja satisfatória. (SPITZNER, 2005)

Vale ressaltar que no Brasil, assim como em grande parte do mundo ocidental, o
Capitalismo de fato tomou conta da atividade sexual. Produtos eróticos, que prometem
maximizar o prazer, medicamentos que visam a um melhor desempenho sexual,
sabonete e desodorante íntimos, camisinhas de diversas cores, sabores e funções, em
suma, o Capitalismo também se apropriou do que tem um forte caráter filogenético: a
atividade sexual. (SPITZNER, 2005)

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UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Gênero e sexualidade

Papel de gênero

Primeiramente, é importante apresentar a diferença entre sexo, gênero e sexualidade.

O sexo refere-se tanto à parte anatômica quanto à parte fisiológica de cada indivíduo.
Em outras palavras, quando se fala em sexo alude-se ao órgão genital e às diferenças
hormonais.

O gênero envolve a representação social do sexo, ou seja, os órgãos genitais masculinos


e femininos são representados socialmente e culturalmente. O gênero seria, então, uma
definição social do que é o masculino e do que é o feminino.
A sexualidade envolve um conjunto de relações erótico-sexuais. (LAQUEUR, 2001)

Figura 6.

Fonte: <https://lh3.googleusercontent.com/es7BHRp27ntJ-6kqu5JTX7JN7FlZb7B5llJw84vyvbHbsu2w83Cd7pLFxvPJtkcFRF1Dzg
=s96>.

A sexualidade abrange, também, o desejo e a atração sexual, podendo ou não, ser


expressa em público. Vejamos como Freud, de maneira admirável e concisa, define o
conceito clássico de sexualidade:

A opinião popular tem ideias muito precisas a respeito da natureza


e das características do instinto sexual. A concepção geral é de que
está ausente na infância, que se manifesta por ocasião na puberdade
em relação ao processo de chegada da maturidade, e se revela nas
manifestações de uma atração irresistível exercida por um sexo sobre
o outro; quanto ao seu objetivo, presume-se que seja a união sexual, ou
pelo menos atos que conduzam nessa direção.
(FREUD, 1977, p. 135 apud AQUINO, 1997, p.12)

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SEXUALIDADE│ UNIDADE I

O papel do gênero é construído socialmente, o masculino e o feminino apresentam


papeis definidos em cada sociedade e cultura. Em uma análise sociocultural,
percebe-se que o masculino, em nossa sociedade, apresenta uma visibilidade e um
conjunto de privilégios. Por exemplo, quando se trata de sexualidade, a permissividade
para os atos sexuais dos homens é muito mais aceita que a permissividade para os
atos sexuais das mulheres. Os homens recebem uma liberdade sexual muito maior
que as mulheres. O homem que fica com várias mulheres é bem visto socialmente, em
contrapartida, a mulher que tem relações sexuais com várias pessoas, é vista de maneira
extremamente negativa. (LAQUEUR, 2001)

Segundo Laqueur (2001), a nossa sociedade é machista e patriarcal, o que a priori já


trás um conjunto de benefícios para pessoas pertencentes ao gênero masculino e um
conjunto de malefícios para pessoas pertencentes ao gênero feminino. É uma sociedade
dominada por homens, e isso, reflete no aspecto social, econômico, político, entre
outros.

Laqueur (2001) aponta para o fato que o papel de gênero envolverá a função social de
pessoas do sexo masculino e a função social de pessoas do sexo feminino. Esse papel
social ocorre antes mesmo que os pais saibam o sexo do bebê. Desde o momento que se
descobre a gravidez, já se cria uma expectativa em relação ao sexo do bebê, expectativa
essa, que muitas vezes é influenciada pelo aspecto cultural. Quando descobre qual é o
sexo, o papel de gênero torna-se ainda mais atuante. Na compra do enxoval já existe
uma definição muito clara de qual enxoval é para o “menino” e qual é para “menina”. A
escolha é definida pelas cores, desenhos, entre outros.

Quando a criança começa a se desenvolver os papeis continuam muito bem definidos,


por exemplo, existem os tipos de desenhos animados televisivos que são estabelecidos
para “meninos” e os desenhos animados estabelecidos para “meninas”. A mesma coisa
ocorre com as brincadeiras, existem as brincadeiras de “meninos” e as brincadeiras
de “meninas”. Aos meninos, geralmente, ensina-se que devem ser fortes, sem
sentimentos, racionais, “pegadores”, entre outros adjetivos. As “meninas” ensina-se que
devem ser delicadas, recatadas, recebem constantemente a ordem “feche as pernas”,
deve-se comportar como uma “princesa” na espera do prometido “príncipe encantado”.
Os meninos, muitas vezes, são inseridos em contextos sexuais precocemente, sendo
expostos a vídeos e imagens pornográficas e muitas vezes aprendem que mulheres são
objetos sexuais. (LAQUEUR, 2001)

Quando essa criança atinge o final da infância e início da adolescência, o papel fica
presente em outros contextos, espera-se que o menino tenha logo relações sexuais,
enquanto que a menina só pode realizar a atividade sexual após o casamento. Para os

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UNIDADE I │ SEXUALIDADE

“meninos” a masturbação é esperada e bem vista, em contrapartida para as “meninas”


existe uma clara proibição em relação à masturbação. Quando os adolescentes começam
a relacionar-se, os problemas em decorrências desses papeis sociais oriundos de uma
sociedade machista ficam mais evidentes.

As meninas foram criadas para serem “princesas” e aguardarem o “príncipe encantado”,


já os meninos foram criados para tratar as mulheres como simples “objeto sexual”. Outro
problema frequente é que as meninas foram ensinadas a demonstrar seus sentimentos
e a serem “sentimentais”, em contrapartida os meninos foram ensinados a negligenciar
as emoções e a serem “racionais”. Esses problemas comumente se estendem para a vida
adulta, levando a um conjunto de prejuízos conjugais. (LAQUEUR, 2001)

Existe também a divisão de trabalhos, o trabalho que é do homem e o trabalho que é da


mulher. Sem contar que, muitas vezes, pessoas com a mesma função ganham diferente
por pertencerem a sexos diferentes. (LAQUEUR, 2001)

Para Laqueur (2001), o papel de gênero enrijece as pessoas e as tornam prisioneiras


de funções totalmente arbitrárias. Os prejuízos do machismo são evidentes na nossa
sociedade e, infelizmente, a violência contra a mulher ainda é muito comum. Os papeis
de gênero, geralmente, acompanham as pessoas durante toda a vida, até porque, eles
existem antes do nascimento dos indivíduos e as pessoas são ensinadas a comportar-se
de determinada maneira, simplesmente, por pertencer a determinado sexo.

A Identidade de Gênero

Figura 7.

Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/-0mnHjX0c5tQ/VXc145F61eI/AAAAAAAABgg/WzaaWcWms6k/s1600/7-Reproduc%25CC%25A7
a%25CC%2583o41.jpg>.

Antes de iniciarmos a discussão sobre a identidade de gênero, é importante apresentar


novamente as diferenças entre sexo, gênero e orientação sexual.

» O sexo se refere à parte anatômica de cada indivíduo, ou seja, refere-se


aos órgãos genitais (pênis e vagina).

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SEXUALIDADE│ UNIDADE I

» O gênero envolverá a representação social do sexo, ou seja, o que a


sociedade impõe e qual sua perspectiva sobre o masculino e o feminino.

» A orientação sexual diz respeito a qual é o objeto sexual do indivíduo, por


quais pessoas esse indivíduo sente atração e excitação sexual.

Nas sociedades onde a definição do gênero feminino tradicionalmente


é referida à esfera familiar e à maternidade, a referência fundamental
da construção social do gênero masculino é sua atividade na esfera
pública, concentrador dos valores materiais, o que faz dele o provedor e
protetor da família. Enquanto nessas mesmas sociedades, atualmente,
as mulheres estão maciçamente presentes na força de trabalho e no
mundo público, a distribuição social da violência reflete a tradicional
divisão dos espaços: o homem é vítima da violência na esfera pública, e
a violência contra a mulher é perpetuada no âmbito doméstico, onde o
agressor é, mais frequentemente, o próprio parceiro.

Heise afirma que a violência é “um fenômeno extremamente complexo,


com raízes profundas nas relações de poder baseadas no gênero,
na sexualidade, na autoidentidade e nas instituições sociais” e que
“em muitas sociedades, o direito (masculino) a dominar a mulher é
considerado a essência da masculinidade”. Abordar a violência exige,
portanto, confrontar essas definições de gênero e aumentar o poder e
os recursos das mulheres.
(GIFFIN, 1994)

Antes de falarmos sobre a identidade de gênero é relevante abordarmos sobre o papel


de gênero. O papel de gênero, como relatado anteriormente, abrange a função social do
sexo, ou seja, por nascer menino ou menina, um conjunto de papeis já são estabelecidos,
como, por exemplo: a cor do enxoval, do quarto da criança, os tipos de brinquedos, os
tipos de brincadeiras, o que se deve ou não gostar. (LIMA, 2011)

Para os homens, cuja identidade de gênero também exige a identificação


com a razão, não só sua identidade social mais ampla, mas também
sua identidade sexual, exigiriam o afastamento (ou a não identificação)
do seu lado emocional, para manter sua diferença/superioridade em
relação às mulheres. A razão e o controle são a base da identidade
masculina nessa tradição; o corpo é uma ameaça constante à razão, ao
controle e à própria identidade masculina.
(SEIDLER, 1987)

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UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Por sua vez, Jesus (2012) argumenta que a identidade de gênero per se não é determinada
socialmente, como é, por exemplo, o papel de gênero. A identidade de gênero se
refere a um aspecto totalmente idiossincrático, dependendo do próprio indivíduo.
Compreende-se por identidade de gênero, a identificação ou não que o indivíduo
apresenta com o corpo ao qual pertence. Refere-se à forma que o indivíduo se enxerga.
Para ilustrar melhor, tomamos o seguinte exemplo: Arthur nasceu com o sexo
masculino, ou seja, nasceu com o órgão genital masculino. Desde pequeno, Arthur
recebeu um conjunto de imposições, como: essa brincadeira é de menino, homem não
chora, homem não pode falar, homem tem que gostar disso e daquilo, entre outros.
Com o passar do tempo, Arthur incorporou o papel social, ou seja, agia conforme era
o esperado, vestia-se da maneira que impunham que ele se vestisse e brincava com os
brinquedos que impunham que ele brincasse.

Entretanto, desde muito cedo, Arthur percebeu que não se identificava com seu corpo,
olhava no espelho e via uma mulher e se sentia como mulher. Sempre sentiu atração por
acessórios femininos e sempre se enxergou como uma mulher, como se estivesse nascido
no “corpo errado”. No caso supracitado, Arthur poderia até portar-se de acordo com o
papel de gênero estabelecido, mas sua identidade de gênero permaneceria imutável.
É importante destacar que identidade de gênero e orientação sexual não podem ser
compreendidas como sinônimos.

Lima (2011) aborda outra questão de extrema relevância, quando o indivíduo apresenta
uma identidade de gênero que não corresponde ao seu sexo, a identidade supracitada
não se trata de um desvio, uma psicopatologia ou uma disfunção psicológica. Essa
mudança na identidade de gênero refere-se única e exclusivamente a uma diferença de
identificação e não a um caráter patológico. Outro ponto extremamente relevante é que
a identidade de gênero não depende de nenhum nível da criação, do ambiente familiar,
ou algo assim.

Estudos recentes demonstram que a identidade de gênero se manifesta muito


precocemente. Muitas vezes manifesta-se tão precocemente que o próprio indivíduo
não sabe relatar desde quando percebeu que não se identifica com seu próprio corpo.

Jesus (2012) aponta a existência de diferentes nomenclaturas para se referir ao aspecto


da identidade de gênero. Quando o indivíduo nasce com um sexo e sua identidade de
gênero é correspondente ao sexo biológico, dizemos que esse indivíduo é um cisgênero.
Por exemplo: João nasceu com o sexo biológico masculino e se identifica com o sexo de
origem, logo, podemos afirmar que João é cisgênero.

Lima (2011) relata que nem sempre o indivíduo se identifica com o seu sexo biológico.
Quando o indivíduo não se identifica com o seu sexo de origem, afirma-se que o

18
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

indivíduo é transgênero. Por exemplo: João nasceu com o sexo biológico masculino
e não se identifica com seu corpo, identifica-se com o sexo oposto, dizemos então,
que esse é um caso de transgênero. Caso esse transgênero futuramente passe por um
procedimento cirúrgico para mudança de sexo, a pessoa passa a ser transexual (pois
envolveu procedimento cirúrgico para mudança de sexo) e transgênero (por não se
identificar com o seu sexo de origem).

Jesus (2012) aponta que o indivíduo pode identificar-se tanto com o masculino quanto
com o feminino, quando o indivíduo se identifica com ambos, é denominado bigênero.
Por exemplo: João nasceu com o sexo biológico masculino e identifica-se tanto com o
feminino, quanto com o masculino.

Lima (2011) disserta sobre outro ponto de grande relevância, pois nem sempre papel e
identidade de gênero andam juntos, a pessoa pode ser transgênero, mas pode utilizar
o papel de gênero convencional. Por exemplo: João é transgênero, logo é considerado
como Maria, entretanto, por uma questão de controle social ela se veste como João.
Transgeneridade e o papel de gênero também podem andar juntos. Maria (que é um
transgênero, pode vestir-se como mulher).

19
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Figura 8.

Fonte: <https://www.shutterstock.com/pt/pic-156353741/stock-vector-vector-symbols-of-sexual-orientation-and-gender.
html?src=undefined-1-0>.

Outro aspecto relevante é que nem todas as pessoas que não se enquadram no papel
social são consideradas como transgêneros. A seguinte situação elucida melhor esse
fato: João se identifica com o seu sexo de origem, ou seja, é transgênero. Entretanto,
João não se enquadra nos papéis de gênero ditados socialmente, não gosta de futebol,
usa roupa de mulheres sempre que tem a possibilidade, por exemplo, em atividades
festivas. Logo, pode-se afirmar que embora João não se enquadre nos papéis sociais
impostos pela sociedade, mesmo assim, ele é considerado como um cisgênero, pois se
identifica com seu sexo de origem.

Jesus (2012) relata que o indivíduo deve ser identificado pela sua identidade de gênero
e não pelo sexo biológico ao qual pertence. Estabelecer esse tipo de relação facilita o
bem-estar da pessoa e diminui a probabilidade de preconceitos. Possibilita aceitar o
outro como ele é e desenvolve, obviamente, a empatia. O psicólogo não vai trabalhar a
“cura” da identidade de gênero, até por não se tratar de uma psicopatologia e, sim, um
evento normal. O psicólogo vai trabalhar na aceitação dessa identidade de gênero e do
ponto de vista social, lutará contra os preconceitos existentes.

A orientação sexual
Antes de iniciarmos o debate sobre a orientação sexual, é importante afirmar que, assim
como no caso da identidade de gênero, a orientação sexual também não é definida pelo
sujeito. Ou seja, não é o sujeito que define a sua orientação sexual, o sujeito é definido
via a orientação, não o oposto. (UZIEL, 2002)

20
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

Em outras palavras, orientação sexual não se trata de uma escolha e, sim, de um estado
específico do indivíduo.

A orientação ou educação sexual ocorre, na verdade, desde o nascimento.


É predominantemente no ambiente familiar, da intimidade, que são
transmitidas à criança as primeiras noções e valores associados à
sexualidade, em geral não explicitamente. O comportamento dos pais
entre si, na relação com os filhos, nos tipos de recomendações, nas
expressões, gestos e proibições que estabelecem, tudo isso transmite
os valores que a criança incorpora. O fato de a família possuir valores
conservadores, liberais ou progressistas, professar alguma crença
religiosa ou não, e a forma como a faz, determina em grande parte a
educação das crianças.

Há ainda a influência de muitas outras fontes: pessoas significativas


do círculo familiar, livros, produção artístico-cultural e ainda, nos dias
de hoje, assumindo um grande espaço, a mídia e a escola. A televisão
veicula novelas, filmes e propagandas intensamente erotizadas,
revistas e jornais, não raras vezes, estampam material fotográfico (em
propaganda principalmente) aludindo à sexualidade.
(AQUINO, 1997, p.112)

Segundo Zambrano (2003) as pesquisas recentes mostram que relatos sobre a


orientação sexual iniciam-se muito cedo na vida dos indivíduos. Esse tipo de afirmação
acende o debate de que o indivíduo não se torna homossexual, ele é homossexual. Isto
é, a orientação sexual existe e o indivíduo se definirá via essa orientação sexual.

[...] nos últimos anos, pesquisadores começaram a apontar novos – e


surpreendentes – caminhos. As maiores novidades vêm dos estudos
biológicos. Eles indicam que a formação da sexualidade acontece
antes do nascimento em parte pelos genes, mas também por fatores
que atuam no desenvolvimento do feto. Não há nada comprovado e
ainda falta muito a ser desvendado, especialmente sobre a influência do
ambiente onde a criança é criada em sua sexualidade. Mas as evidências
estão causando uma revolução no pensamento científico... Cientistas,
no entanto, defendem a necessidade de pesquisa, argumentando que
elas podem acabar – ou pelo menos diminuir – preconceitos.
(Revista Super Interessante <http://super.abril.com.br/ciencia/por-que-os-gays-sao-gays/>).

Rio (2002) destaca que a orientação sexual, em nenhum momento, pode ser
compreendida como um caráter psicopatológico. Independentemente dela, o indivíduo

21
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

pode ou não apresentar psicopatologias, mas as psicopatologias não são oriundas da


orientação sexual per se.

Outro aspecto de extrema relevância apontado por Stephens (2003) é que a orientação
sexual refere-se ao objeto sexual de desejo pertencente ou não ao mesmo gênero. Por
exemplo: no senso comum, as pessoas afirmam que um homem homossexual é aquele
indivíduo que apresenta desejo/excitação sexual por outro homem. Em contrapartida,
a psicologia analisa que um homem/mulher homossexual seria aquele que apresenta
desejo/atração sexual por pessoas do mesmo gênero. Ou seja, a definição irá referir-se
ao gênero do sujeito e não ao seu sexo. O sexo biológico, por si só, não é relevante. O que
verdadeiramente importa é o gênero do indivíduo.

Vale ressaltar, então, que o indivíduo que é considerado homossexual, apresenta


como objeto de desejo/atração sexual, pessoas do mesmo gênero. O indivíduo que é
considerado como bissexual, apresenta como objeto de desejo/atração sexual, pessoas
de ambos os gêneros. Existem ainda, indivíduos que relatam não sentir atração sexual
por nenhum dos gêneros.

Essas pessoas não conseguem sentir excitação sexual por outros indivíduos e muitas
vezes podem chegar a nunca ter parceiros sexuais. Esses indivíduos são denominados
como assexuais. É importante destacar que do ponto de vista biológico, não existe ser
humano assexual, esse termo foi empregado apenas para identificar pessoas que não
sentem atração sexual por indivíduos de nenhum gênero. (UZIEL, 2002; ZAMBRANO,
2003)

Identidade de gênero e orientação sexual

A compreensão da identidade de gênero e da orientação sexual é de plena importância


para entender a sexualidade humana. Por exemplo, o indivíduo pode ser pertencente
ao sexo masculino e identificar-se com o seu corpo, mas pode se interessar sexualmente
por pessoas do gênero masculino. Nesse caso falamos de um cisgênero homossexual.
(STEPHENS, 2003)

Segundo Zambrano (2003), por outro lado, podemos pensar em um indivíduo que
nasceu com o sexo biológico masculino, porém essa pessoa nunca se identificou com
seu corpo, logo, é considerada transgênero. Com o passar do tempo ela passou por
cirurgias de modificação de sexo, então nesse caso falamos de um transgênero e um
transexual. E essa pessoa se interessa sexualmente por pessoas do gênero masculino,
logo, afirmamos que se trata de uma pessoa: transgênero, transexual e heterossexual.
As tabelas a seguir visam elucidar melhor as relações supracitadas.

22
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

Quadro 1.

Sexo biológico Identidade de gênero Papel de gênero Gênero


Enquadra-se ao papel imposto
Masculino Masculino Cisgênero
socialmente
Não se enquadra ao papel imposto
Masculino Feminino Transgênero
socialmente.
Não se enquadra ao papel imposto
Feminino Masculino e Feminino Bigênero
socialmente.
Não se enquadra ao papel imposto
Feminino ____________ Andrógino
socialmente.
Não se enquadra ao papel
imposto socialmente. Passou
Masculino Feminino Transgênero e Transexual
por procedimento cirúrgico para
mudança de sexo

Fonte: Tabela retirada das aulas do professor Murilo Alfaix.

Como se pode perceber na tabela acima, é a relação entre o sexo biológico e a identidade
de gênero que determinará o gênero ao qual o indivíduo será pertencente. Ou seja,
dependerá se o indivíduo se identificará ou não com o sexo biológico em que nasceu.

Na tabela que segue, podemos observar claramente a relação entre gênero, identidade de
gênero e orientação sexual. É importante ressaltar que embora esses componentes sejam
independentes, eles auxiliam na nomenclatura e compreensão atribuídas ao fenômeno
da complexa sexualidade humana. Por exemplo, o indivíduo pode ser cisgênero e ser
homossexual, como pode ser transgênero e ser heterossexual. A tabela a seguir ilustrará
melhor as diferentes relações referentes à complexa sexualidade humana. Nota-se, que
sempre iremos referir-nos à identidade de gênero do indivíduo e não ao sexo biológico.

23
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Quadro 2.

Sexo Identidade de gênero Orientação sexual Nomenclatura

Masculino Feminino Homossexual Mulher Homossexual

Feminino Feminino Homossexual Mulher Homossexual

Feminino Masculino Heterossexual Homem Heterossexual

Masculino Masculino Bissexual Homem Bissexual

Fonte: Tabela retirada das aulas do professor Murilo Alfaix

Histórias Reais

Figura 9.

Fonte: <http://www.portalcostanorte.com/v1/thumbnail.php?file=gravido2_7d2b58111b952b178b17869c1f985bf3_979928458.
jpg&size=article_medium>.

O indivíduo da foto nasceu com o órgão sexual feminino. Desde os primeiros relatos
se identificou com o gênero oposto ao seu sexo. Atualmente leva uma vida normal e é
casado com uma mulher. Do ponto de vista da teoria do gênero, pode-se afirmar que se
trata de um transgênero heterossexual.

24
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

Figura 10.

Fonte: <https://static01.nyt.com/packages/images/sports/year_in_sports/photos/08.27.jpg>.

A tenista da imagem acima, era um transgênero, não se lembra quando iniciou a


identificação com o gênero oposto ao seu sexo biológico. Realizou um procedimento
cirúrgico para modificação do órgão genital em 1975, sentia-se atraída por pessoas do
gênero masculino. Pode se afirmar que ela é: transgênero, transexual e heterossexual.

Figura 11.

Fonte: <http://4.bp.blogspot.com/-7U5-VS8ui5Y/Ue3o07JvvwI/AAAAAAAA-3Q/VhAba6uMmLM/s1600/21.jpg>.

25
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

O casal acima, a pessoa da esquerda nasceu com o sexo feminino e a pessoa da direita
nasceu com o sexo masculino. Ambos são transgêneros, ou seja, se identificaram com
o gênero oposto ao sexo biológico. Ambos passaram por procedimento cirúrgico, o que
os torna transexuais. A orientação sexual dos dois é heterossexual.

Aspectos biopsicossociais correlatos

Figura 12.

Fonte: <http://sapatomica.com/wp-content/uploads/2016/08/destaque-1.jpg>.

Grande parte das pessoas que apresentam orientação sexual ou identidade de gênero
diferente do tradicional sofrem inúmeros preconceitos. Preconceitos esses que são
passados para todos os indivíduos desde que são crianças. Como frases que desde já
“determinam” a orientação sexual e a identidade de gênero do indivíduo. Pensaremos na
seguinte relação, desde quando o menino nasce e durante todo o seu desenvolvimento
ele escuta relatos como: “isso é coisa de bicha”, “homem não chora”, “você vai pegar
muitas mulheres”, “olha que gatinha”, entre outros. O mesmo ocorre para as meninas:
“meninas não devem sentar assim”, “meninas devem ser delicadas”, “meninas devem
se dar o valor e só podem transar após o casamento” e a mais comum, que ocorre tanto
para meninos como para meninas “existe mulher para transar e mulher para casar”. Ou
seja, a mulher para casar é aquela que se enquadra perfeitamente dentro das normas
sociais, enquanto, a mulher para ficar é aquela que dita as normas sobre seu próprio
corpo. (FERREIRA, 2011)

Ferreira (2010) relata que como nossa sociedade é extremamente machista, tanto os
papeis de gênero quanto a identidade de gênero e orientação sexual “devem” seguir
um padrão estabelecido a priori por normas sociais, torna-se demasiadamente difícil o
indivíduo assumir sua orientação sexual ou assumir sua identidade de gênero.

26
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

Segundo Lewis (2009), existem pessoas que relatam que nunca assumiram sua
homossexualidade em decorrência do forte preconceito sofrido dentro dos meios
sociais.

A repressão sexual para pessoas que não são cisgêneros e heterossexuais é muito forte
e leva indivíduos que apresentam uma identificação de gênero e orientação sexual
diferentes a um enorme sofrimento psíquico. Em decorrência dos fatores supracitados,
os indivíduos podem demorar muito tempo para assumirem sua orientação e
identificação, ou simplesmente não assumir.

Muitas vezes, quando crianças e adolescentes começam a apresentar comportamentos


que demonstram que a orientação sexual e a identidade de gênero são diferentes do
previsto, essas crianças logo recebem repressão social. Repressão essa, que afirma que
o indivíduo não deve comportar-se daquela maneira, que aquele jeito é “afeminado”
ou “masculinizado” e deve ser corrigido. Alguns pais tentam diversas intervenções,
procurando uma possível “cura” para seu filho(a), as intervenções são: farmacológicas,
religiosas, psiquiatras, psicoterapeuticas, castigos, surras, entre outros.

Vale ressaltar que não existe “cura gay” ou “cura” de identidade de gênero, pois não
há o que ser curado, não existe nenhuma doença ou quadro psicopatológico. Uma das
funções sociais do psicólogo é justamente desmistificar essas crenças enrijecidas a
respeito da identidade e orientação sexual.

Ferreira (2008) aponta, ainda, que o próprio meio científico trabalhou durante muitas
décadas afirmando que orientação sexual e identidade de gênero poderiam sim ser
consideradas transtornos psiquiátricos. Nos primórdios da Psicanálise os psicanalistas
declaravam que era algum tipo de perversão sexual, a própria psiquiatria alegou durante
décadas que a orientação sexual que diferia do heterossexual, e, a identidade de gênero,
que diferia do cisgênero poderiam ser considerados como psicopatológicos.

O Manual Estatístico de Doenças Mentais (DSM) abria uma sessão específica para esse
tipo de “transtorno”. Esses problemas históricos levaram indivíduos a procurar a “cura”
e tratar como problema sua condição no mundo. Como se pode perceber, o preconceito
em relação a indivíduos que não são cisgêneros e não são homossexuais é fortissímo. A
falta de conhecimento da comunidade em geral leva esses indivíduos a apresentarem
inúmeros problemas de ordem psicológica.

É importante lembrar que os problemas de ordem psicológica não ocorrem em


decorrência da orientação sexual ou do aspecto identitário de gênero e, sim, em
decorrência do preconceito que essas pessoas sofrem.

27
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Ferreira (2010) aponta que existem dois tipos de preconceitos comuns aos homossexuais,
bissexuais, assexuais, transgêneros, bigêneros, andróginos, entre outros. Ele pode ser
velado como pode ser também ostensivo. O preconceito velado é aquele que ocorre de
maneira mais sutil, muitas vezes quase imperceptível por parte das pessoas. Exemplos
são as piadas (forma de propagar preconceito), relatos como “só não pode acontecer
com minha família”; “não tenho nada contra, mas quero distância”; “não me cantando”;
“todos eles apresentam promiscuidade”; “são incapazes de construção familiar”; “devem
ser assim em decorrência de desestrutura emocional”, ou ainda, o discurso repressor
religioso, que é muito frequente e é mascarado, algumas vezes, de benevolência.

O preconceito ostensivo é mais claro e evidente. Pode envolver tanto agressão verbal
como agressão física. Muitos indivíduos são hostilizados e agredidos fisicamente
(podendo chegar ao óbito) na rua, meramente, por apresentar comportamentos que não
são adequados do ponto de vista social. Outro ponto de extrema relevância relacionado
ao preconceito, é que quão mais distante o indivíduo for do padrão desejado, maior será
o preconceito. Por exemplo, se tiver um homossexual ou transgênero que se enquadre
plenamente no papel de gênero estabelecido ao seu sexo de origem o preconceito será
menor que se o indivíduo fugir plenamente ao papel de gênero previamente estabelecido.
Outro aspecto importante é que existe preconceito com os homossexuais e transexuais,
dentro das próprias comunidades homo e trans, por exemplo: um homossexual
cisgênero pode julgar um transgênero, entre outros tantos exemplos.

Recentemente, com o aumento de agressões físicas a homossexuais e transexuais, a


Folha de São Paulo, apresentou algumas dicas de prevenção à agressividade, como se a
culpa fosse da vítima e, não, de uma sociedade homofóbica e transfóbica.

Estratégias de Segurança

As táticas adotadas pelos frequentadores da rua Frei Caneca para evitar


agressões:

Andar sempre em grupos: ter amigos por perto pode intimidar


agressores.

Evitar lugares abertos: ir a locais fechados sempre que possível para


aumentar segurança.

Não dar ‘pinta’: alguns trejeitos podem atrair a atenção de criminosos.

Evitar andar de mãos dadas e beijar em locais públicos.


Fonte: <http://www1.folha.uol.com.br/fsp/cotidiano/151441-estrategias-de-seguranca.shtml>.

Nota-se que tal afirmação representa uma grande falácia, a culpa é atribuída à vítima,
exemplo: forma de vestir-se, forma de falar etc. Em suma, o indivíduo não pode ser do
jeito que ele é para não sofrer agressões. O problema em questão, não é a vítima, como

28
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

nunca é, e, nunca deve ser. O problema é o agressor que foi criado em uma cultura
homofóbica e transfóbica que induz a esse tipo de crime.

De acordo com os dados apresentados na manhã de hoje (4/4/2011), pelo


Grupo Gay da Bahia (GGB) o número de assassinatos de homossexuais, travestis
e lésbicas aumentou em 31,3% no ano de 2010, se comparado com os números
de 2009 (com 260 casos).

O Brasil tornou-se campeão mundial de crimes homofóbicos. O risco de um


homossexual ser assassinado no Brasil é 785% maior que nos Estados Unidos. Na
estatística estadual (estado com maior número de mortes), desde 1980 temos o
seguinte ranking:

» Bahia: 29 registros;

» Alagoas: 24 registros;

» São Paulo e Rio de Janeiro: 23 registros cada.

Outros importantes dados foram divulgados: o Nordeste concentra 43% dos


homicídios contra integrantes das comunidades LGBT (lésbicas, gays, bissexuais,
travestis e transexuais). Afirmou-se que o risco de um homossexual ser
assassinado no Nordeste é ‘aproximadamente 80% maior’ do que no Sudeste.

Fonte: <http://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2634335/mais-um-recorde-brasileiro-numero-de-
assassinatos-de-homossexuais-cresce-31-no-brasil>.

Os dados acima mencionados são alarmantes. Indivíduos são mortos meramente por
serem homossexuais bissexuais ou transexuais. Esses dados demonstram a importância
da realização de políticas públicas para a modificação de uma prática cultural,
infelizmente muito bem estabelecida, que é a homofobia e a transfobia.

29
UNIDADE I │ SEXUALIDADE

Figura 13.

Fonte: <http://www.revistaplaneta.com.br/wp-content/uploads/sites/3/2016/07/15_pl522_unesco2.jpg>.

Outros aspectos que podem ocorrer com homossexuais e transexuais, é o fato de não
conseguirem arrumar emprego pelo mero jeito de “estar” no mundo. Carrara (2005)
afirma que grande parte dos indivíduos homossexuais e transexuais apresenta um
estilo de vida totalmente propenso ao desenvolvimento de transtornos psiquiátricos.

Os indivíduos são marginalizados e sofrem repressão sexual nos seus ciclos sociais. Por
essa razão aumenta a probabilidade dessas pessoas desenvolverem os mais diversos
transtornos, como por exemplo: o transtorno depressivo maior. Outro problema
levantado por Castro, Abramovay e Silva (2004), é que os transexuais muitas vezes
apresentam dificuldade em conseguir emprego formal. Essa dificuldade pode levar os
indivíduos a outras fontes de emprego, como a prostituição.

Nota-se que a forte repressão social sobre pessoas que não são cisgêneros e heterossexuais
é extremamente forte e hostil. Essas relações podem gerar um conjunto de problemas
nesses indivíduos como, por exemplo, transtorno depressivo maior, transtorno de
ansiedade generalizada, transtorno de pânico, entre outros transtornos. (CARRARA,
2005)

É importante ressaltar que não é a identidade de gênero, nem a orientação sexual que
funcionam como agentes causas/eliciadores, dos transtornos supracitados. As variáveis
que aumentam o desenvolvimento dos transtornos são justamente em decorrência do
forte preconceito sofrido por essas pessoas. Preconceito esse que, como já mencionado,
pode ser velado ou manifesto. Preconceito esse, que pode impossibilitar o indivíduo de
entrar no mercado de trabalho, construir uma família e levar uma vida relativamente
normal. Nota-se, claramente, que a questão central é o preconceito, demonstrando
assim, a necessidade de implementação de políticas públicas capazes de alterar tanto o
aspecto social como cultural do preconceito. (CASTRO; ABRAMOVAY; SILVA, 2004)
30
PSICOPATOLOGIAS UNIDADE II

Campell (1986) apud Dalgalarrondo (2008, p.29), define Psicopatologia como um ramo
da ciência que trata da natureza essencial da saúde mental – suas causas, as mudanças
estruturais e funcionais associadas a ela e suas formas de manifestação.

CAPÍTULO 1
Psicopatologias da sexualidade

O psicólogo é um profissional que conhece sobre a diversidade de comportamentos e


pensamentos, tanto analisando entre indivíduo como entre grupos. Um conhecimento
dessa amplitude pode ajudar a reduzir tensões que surgem quando as pessoas não se
entendem ou quando elas não entendem a si mesmas.

Segundo Morris e Maisto (2004), os psicólogos utilizam alguns métodos de pesquisa para
estudar o comportamento humano e os processos mentais. Podemos ver: observação
natural, estudos de caso, os levantamentos, a pesquisa correlacional e os experimentos.
Cada um tem suas vantagens e limitações:

» Observação natural: os psicólogos utilizam esse método a fim de estudar


o comportamento em seu ambiente natural, onde acaba sendo, algumas
vezes, mais real e espontâneo que em consultórios, por exemplo. A
interferência do psicólogo nesse caso é mínima. O profissional deve ter
cuidado, somente, para não criar viés ao emitir a sua opinião.

» Estudo de caso: os pesquisadores investigam em profundidade o


comportamento de uma ou poucas pessoas. Esse tipo de método gera
grandes quantidades de informações detalhadas as quais são importantes
para a formulação de hipóteses.

» Levantamento de pesquisa: esse método produz de maneira rápida e eficaz


e com pouco custo uma grande quantidade de dados, uma vez que se faz

31
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

um conjunto padronizado de perguntas a um grande número de pessoas.


O cuidado deve ser tomado na hora da formulação das perguntas.

» Pesquisa correlacional: esse método é utilizado para investigar a relação,


ou correlação, existente entre duas ou mais variáveis.

» Experimentos: esse método é solicitado quando um pesquisador desejar


formular conclusões sobre causa e efeito. O impacto de um fator pode ser
analisado enquanto todos os outros fatores permanecem constantes.

Disfunções
Compreende-se por disfunção sexual, qualquer alteração anatômica, fisiológica e
psicológica que atrapalhe o desempenho sexual da pessoa, podendo levar a uma redução
ou impossibilidade do prazer sexual. (IRVINE, 2005)

É importante destacar que até então não se falou em psicopatologias, a partir do


momento que se fala em disfunções e perversões, obrigatoriamente, remete-se ao
caráter psicopatológico da sexualidade.

A disfunção sexual se caracteriza pela alteração desde a manifestação


instintiva até ausência de resposta ao estímulo e alterações nas fases
do desejo, excitação e orgasmo. A investigação se inicia com uma
identificação cuidadosa da paciente por ser esse, com frequência, o
aspecto mais importante na gênese da patologia sexual. O avançar da
idade pode cursar com afetação, principalmente, das fases do desejo
e orgasmo; a profissão pode gerar estresse e interferir com o desejo
sexual; o nível socioeconômico e a cultura modulam a expressão sexual.
De maneira geral, a paciente queixa-se de não ter vontade de ter relação
sexual. É necessário identificar a fase da resposta sexual afetada bem
como estabelecer o tempo de ocorrência da disfunção, além de verificar
se a queixa é associável a algum acontecimento. A história sexual
pregressa permite o acesso à expressão sexual prévia positiva ou negativa
e a identificação de medicamentos (antidepressivos, anticoncepcionais
e outros) que possam afetar a resposta sexual. Doenças como diabetes
mellitus, hipotireoidismo e hiperprolactinemias também podem cursar
com disfunção sexual.
(JUNQUEIRA et al., 2008)

32
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Pesquisas realizadas por Junqueira et al. (2008) verificaram que entre 40 e 45% das
mulheres e de 20 a 30% dos homens têm alguma queixa de disfunção sexual. Entre
mulheres com queixas, a prevalência de DSH (Desejo Sexual Hipoativo) varia de 32 a
58% e a disfunção de excitação e anorgasmia giram em torno de 30%. A dispareunia
tem incidência variável e aumenta com o progredir da idade da mulher. O DSH ocorre
mais frequentemente em mulheres em relacionamentos de longa duração.

Ainda com base nessas pesquisas, verificou-se em uma população de mulheres na pré-
menopausa, a queixa sexual mais comum foi o DSH (77%), a disfunção de excitação
ocorreu em 62% e a dificuldade para alcançar o orgasmo foi referida em 56% das
pacientes.

A função sexual em idosos é pouco conhecida. Em um estudo conduzido com 74 pacientes


com média de idade de 81 anos, 18% das mulheres e 41% dos homens permaneciam
sexualmente ativos. As disfunções sexuais mais prevalentes em mulheres foram DSH,
diminuição da lubrificação, anorgasmia e dispareunia, e a disfunção erétil ocorreu na
maioria dos homens.

O comprometimento do estado de saúde geral, doença cardiovascular e geniturinária,


desordem psicológica e psiquiátrica, doenças crônicas, fatores relacionais e condições
sociodemográficas desfavoráveis são fatores de risco associados com disfunção sexual
para ambos os sexos. Serão discutidos os mais relevantes e com maior potencial de
exposição ao longo da vida da mulher.

Na moderna Psicopatologia, reavaliar o papel dos instintos sexuais


significa estudar a importância, possível incorreção ou insuficiência da
teoria da libido postulada por Freud. Concebeu ele a sexualidade como
algo bem mais amplo do que a genitalidade. Em essência, segundo
Freud, os instintos sexuais visam, quando satisfeitos, a consecução
do prazer. A princípio, apoiam-se nos instintos de nutrição – o
prazer em nutrição – como, por exemplo, quando a criança se funde
emocionalmente com a mãe no ato de amamentação; logo revelam-se
algo independentes, como no uso da chupeta ou na sucção do polegar;
quando o interesse é deslocado para atividades digestivas intestinais,
então, com o ato da evacuação, surge a componente prazerosa anal,
para logo evolver no sentido do prazer fálico já localizado nos órgãos
genitais. Assim, a libido, concebida como energia dos instintos sexuais,
teria evolução tópica e dinâmica, com várias zonas erógenas pré-genitais
e componentes ou instintos parciais evolvendo para a unificação fálica,
completando-se a sexualidade infantil aos 5-6 anos... Depois ocorrem

33
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

fenômenos característicos endócrino-psicológicos que se sedimentam


na sexualidade do adulto, para então surgir o declínio das atividades
eróticas com a involução orgânica geral, da qual o climatério é mera
fase crítica. A noção de instinto foi concebida como “um conceito limite
entre o somático e o psíquico” tem ele uma fonte original no plano
somático (zona erógena), um objeto e uma finalidade que é sua descarga,
com a sensação prazerosa de algo que se satisfaz. Através dessas zonas
erógenas, espécies de ilhotas no erotismo geral do corpo humano, os
instintos sexuais são concebidos como algo múltiplo, instintos parciais
evolvendo para a unificação da fase genital.
(UCHÔA, 1959, p. 438)

Vejamos no quadro a seguir a classificação das disfunções sexuais segundo a Associação


Psiquiátrica Americana. (JUNQUEIRA et al., 2008)

Quadro 3.

Transtornos do desejo sexual


Desejo sexual hipoativo: deficiência ou ausência de fantasias sexuais e desejo de ter atividade sexual.
Aversão sexual: aversão ou esquiva ativa do contato sexual genital com um parceiro sexual.
Transtornos da excitação sexual: incapacidade persistente ou recorrente de adquirir ou manter uma resposta de excitação sexual adequada de
lubrificação-turgescência até a consumação da atividade sexual.
Transtornos do orgasmo: atraso ou ausência persistente ou recorrente de orgasmo, após uma fase normal de excitação sexual.
Transtornos sexuais dolorosos; dispareunia: dor genital associada com intercurso sexual.
Vaginismo: contração involuntária, recorrente ou persistente dos músculos do períneo adjacentes ao terço inferior da vagina, quando é tentada a
penetração vaginal com pênis, dedo, tampão ou espéculo.
Disfunção sexual devido a uma condição médica geral: disfunção sexual decorrente de alterações vaginais anatômicas, inflamatórias ou qualquer
outra condição médica.
Disfunção sexual induzida por substância; disfunção sexual induzida por substância: disfunção sexual decorrente do uso de fármacos, tais como
anticoncepcionais hormonais, antidepressivos, drogas psicoativas, toxinas, álcool etc.
Disfunção sexual sem outra especificação: disfunções sexuais que não se enquadram nas demais.

Fonte: Junqueira, 2008.

Abaixo falaremos de maneira mais detalhada sobre algumas das disfunções sexuais
citadas acima e abordaremos outras que não foram faladas.

Comportamento sexual compulsivo


Segundo Loe (2001), pessoas que apresentam o comportamento sexual compulsivo,
tendem a apresentar uma hipersexualidade, ou seja, tendem a ser mais sensíveis aos
estímulos sexuais. Fantasias e comportamentos sexuais compulsivos são frequentes,
e, geralmente, têm a duração mínima de seis meses. Comumente, indivíduos com esse
transtorno, apresentam uma série de prejuízos tanto sociais, quanto ocupacionais.

34
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Sociais no sentido de ter dificuldade em manter parceiros sexuais fixos, devido à alta
demanda da atividade sexual, e, ocupacional, pois acontece do indivíduo parar seu
trabalho para emitir atos libidinosos, como por exemplo: a masturbação. Pessoas que
apresentam o comportamento sexual compulsivo podem realizar sexo de maneira
indiscriminada, ou seja, pode fazer sexo com qualquer pessoa, simplesmente por
uma questão de satisfação física. O transtorno do comportamento sexual compulsivo,
não se deve ao uso de substâncias. Suponhamos que o indivíduo esteja utilizando o
popularmente conhecido “Viagra” e apresente os sintomas acima descritos, não se pode
afirmar que ele tenha o transtorno, uma vez que estará sobre o efeito do medicamento.

A sexualidade é algo que, pela sua ligação à natureza humana é tão


primitiva quanto ela, evoluindo com o homem e, consequentemente,
adaptando-se à complexa realidade da condição humana. Uma vez
que, a sexualidade de um modo geral, se pratica na intimidade, os seus
pontos de referência são escassos e frequentemente distorcidos, o que
propicia a existência de inúmeros tabus acerca dela, dificultando a sua
abordagem. A sexualidade humana é um assunto que engloba aspectos
biológicos, psicológicos e socioculturais, ou seja, desde o nascimento
que o indivíduo é influenciado por aspectos internos, como o genótipo e
por aspectos externos, como a família, a sociedade e a cultura.
(ANTUNES, 2007, p. 777)

Transtorno do desejo sexual hipoativo

Figura 14.

Fonte: <https://lh3.googleusercontent.com/GBm3wtoBFo-b8xmy0XptHDg5G5Uz3GwxGnFTNu3YP_mtC0ryfDRB7pYHED02TIhVE_
Jp=s90>.

Lexchin (2006) afirma que pacientes apresentando o transtorno do desejo sexual


hipoativo, denotam ausência de fantasias e desejos sexuais por tempo indeterminado.

35
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

As pessoas que apresentam o transtorno podem demonstrar pouca frustração quando


estão privadas de sexo. Geralmente o indivíduo quase nunca inicia a atividade sexual e
quando começa a fazer sexo, pode fazer para agradar o parceiro.

Sendo assim, o sexo pode adquirir uma função de obrigação e consequentemente


obter um caráter aversivo. É importante ressaltar que esses sintomas não se devem
ao uso de medicamentos, por exemplo: se o paciente estiver tomando antidepressivo é
natural que exista uma perda da energia libidinal, nesse caso, não se pode afirmar que
ocorreu o transtorno do desejo sexual hipoativo, pois o indivíduo está sobre o efeito do
medicamento. O transtorno do desejo sexual hipoativo é mais comum na idade adulta
e pode ser contínuo ou episódico.

Transtorno da excitação sexual feminina


Segundo Torres e Rohden (2006), o transtorno da excitação sexual é diferente do
transtorno do desejo sexual hipoativo. A diferença básica entre os dois transtornos,
é que enquanto em um o desejo sexual existe, mas a resposta fisiológica é inexistente,
no outro o desejo sexual é inexistente. No Transtorno da Excitação Sexual Feminina, a
mulher apresentará uma incapacidade ou dificuldade em obter a lubrificação vaginal.
Geralmente, essas mulheres apresentam um sofrimento clinicamente significativo, pois
o desejo sexual existe, mas as respostas fisiológicas não correspondem a esse desejo.
O transtorno da excitação sexual feminina não se deve exclusivamente ao uso de
substâncias.

Assim como no transtorno do desejo sexual hipoativo, é importante analisar a relação


com o parceiro sexual. Muitas vezes os problemas das respostas sexuais estão na relação
sexual propriamente dita.

36
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Transtorno erétil masculino

Figura 15.

Fonte: <http://www.ikub.al/cache/images/c2/c2cf32b5-acc1-47c6-b8e5-1539a88e6772---0-.jpg>.

Segundo Rosenberg (2002), Irvine (2005) e Lexchin (2006), o transtorno erétil


masculino é semelhante ao transtorno da excitação feminina. No transtorno erétil
o indivíduo apresentará incapacidade ou dificuldade em obter ereção peniana,
consequentemente, o indivíduo apresentará sofrimento clinicamente significativo.

É importante ressaltar que o transtorno erétil masculino não se deve exclusivamente


ao uso de substâncias. O transtorno também pode tornar-se seletivo, o indivíduo pode
não conseguir ter ereção com as luzes acesas, se tiver barulhos e outras especificidades.
Aspectos como a ansiedade e o relato machista de não poder “falhar” podem levar o
indivíduo a apresentar o transtorno erétil masculino.

Outra questão importante de ser avaliada é o histórico de relações sexuais do paciente.


Pacientes que apresentam um histórico de relações sexuais falhas, tendem a ter maior
probabilidade em desenvolver o transtorno erétil masculino.

Transtorno do orgasmo

Segundo Lexchin (2006), durante o Transtorno do Orgasmo o indivíduo sente excitação


e desejo sexual, mas mostra um atraso muito grande ou uma ausência do orgasmo. Os
fatores supracitados podem levar o indivíduo a apresentar um sofrimento clinicamente
significativo, uma vez que, o indivíduo nunca se sente saciado em suas relações sexuais.
Muitas mulheres podem nunca ter tido orgasmo durante toda a vida em decorrência
do transtorno supracitado. Claro que existem influências de outras variáveis e, não
somente do transtorno em si.

37
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Outro aspecto relevante é que isso não se deve exclusivamente ao uso de substâncias.
Um transtorno que apresenta a função oposta ao transtorno do orgasmo é a ejaculação
precoce. Durante a ejaculação precoce o indivíduo rapidamente obtém o orgasmo,
em alguns relatos pode obter a ejaculação antes mesmo do início da relação sexual.
Existe uma forte correlação entre ejaculação precoce e ansiedade, bem como, poucas
experiências sexuais.

Transtorno da excitação sexual persistente


Segundo Montoro (1999), o transtorno da excitação sexual persistente caracteriza com
um transtorno extremamente raro e pouco estudado. Comumente, nesse transtorno,
a mulher sente orgasmo, mesmo na ausência de estímulos externos e sem contexto
apropriado. Por exemplo, a mulher pode se encontrar em uma situação rotineira, de
trabalho e de repetente sentir orgasmos.

Figura 16.

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-OlYhZd5AIr0/T9eidCBElbI/AAAAAAAAFSQ/3gbyxhMBV44/s1600/100_0481-3.JPG>.

Zaluar (1999) aponta que essas situações levam as mulheres a um grande desconforto,
uma vez que ocorrem de maneira descontextualizada e podem ser percebidos por
outras pessoas. Levando muitas vezes a paciente a ter um conjunto de prejuízos
sociais/ocupacionais. Sociais em decorrência de poder afastar as pessoas da paciente; e
ocupacionais, pois pode atrapalhar em diversas funções, como, por exemplo, trabalho,
estudos, entre outros. A incerteza sobre o tratamento e a quantidade insuficiente de
profissionais capacitados, faz com que, muitas vezes, a mulher nem procure tratamento,
ou mesmo chegue a procurar e desista em decorrência da não obtenção de resultados
positivos. Outro aspecto importante é que o tratamento para o transtorno da excitação
sexual persistente, obrigatoriamente tem que ser multiprofissional.

Montoro (1999) aponta para o que fato que existem relato de mulheres que aprenderam
a se adaptar aos sintomas do transtorno. Sentindo muitas vezes prazer e sabendo lidar

38
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

com as sensações. É importante ressaltar que o caso supracitado trata-se de uma


questão isolada.

A maior parte das mulheres relata um desconforto crescente e preocupante. Em função


de vivermos em uma sociedade extremamente machista onde não é permitido a mulher
sentir prazer, sentir prazer indiscriminadamente é pior ainda. Muitas clientes relatam
forte sofrimento psíquico. Sofrimento esse relacionado à culpa e a sentir nojo de si
mesma, até mesmo porque esse transtorno não é causado pela paciente. Existe uma
forte correlação entre o transtorno da excitação genital persistente e o transtorno
depressivo maior.

Zaluar (1992) descreve que existem queixas comuns em mulheres que apresentam o
transtorno. Existem respostas fisiológicas que ocorrem durante o período de excitação,
entre essas respostas destacam-se a vasocongestão genital e sensibilidade nos seios.
É importante ressaltar que as respostas fisiológicas só cessam após a paciente obter
o orgasmo. Outro aspecto importante é que a excitação sexual não cessa como ocorre
comumente com outras mulheres, para cessar, a mulher tem que apresentar orgasmos
múltiplos ou orgasmos que durem horas. As atividades relacionadas ao orgasmo
ocorrem na ausência de qualquer estímulo que possa produzir excitação sexual. Outra
queixa comum é que pode ocorrer durante a atividade sexual, mas nem sempre ocorre.
E a queixa final encontrada refere-se ao fato que a excitação sexual é compreendida
como algo intrusivo e indesejado, ou seja, não depende da vontade da paciente.

É importante ressaltar que o transtorno da excitação sexual persistente é diferente do


transtorno da hipersexualidade ou transtorno do comportamento sexual compulsivo.
No caso do transtorno da excitação sexual, a paciente apresenta excitação sexual na
ausência de estímulos externos, de forma descontextualizada, e sem a presença de
desejos ou fantasias. Pessoas que apresentam transtorno do comportamento sexual
compulsivo apresentam muita excitação, mas essa excitação é acompanhada por desejos
e fantasias sexuais, ou seja, essa mulher pensará e desejará sexo durante grande parte
do dia. Existem casos relatados, onde a paciente foi ao banheiro se masturbar 15 vezes
durante o período de trabalho. (ZALUAR, 1992)

39
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Figura 17.

Fonte: <http://3.bp.blogspot.com/-mpO5gzMREzE/T9eg_ORIiRI/AAAAAAAAFR4/WdoflUBMuzo/s1600/mulher+verm2.jpg>.

Outro aspecto de fundamental importância é que os dados clínicos apontam que não
existe uma etiologia específica para tal transtorno. Os relatos das pacientes são os mais
diversos possíveis. Algumas pacientes relatam que começaram a sentir os sintomas
após algumas reposições hormonais. Outras pacientes relatam que apresentaram os
sintomas após ingerir medicamentos inibidores da receptação de dopamina serotonina,
entre outros. Pacientes ainda relataram que geralmente apresentam os sintomas quando
passam por momentos difíceis em suas vidas, período de estresse ou de tremenda
ansiedade.

Pacientes relatam também frustração com a atividade sexual e poucas pacientes relatam
já ter sido abusada sexualmente durante a infância ou durante o início da adolescência.
Embora existam diversas hipóteses, a etiologia ainda permanece desconhecida.
(ZALUAR, 1992)

Muitas pessoas relacionam o transtorno da excitação genital persistente (patologia


necessariamente feminina) ao priapismo (patologia necessariamente em homens). A
diferença central está no aspecto que o priapismo apresenta sintomas como: ereção
continuada, descontextualizada e involuntária, não envolve necessariamente o orgasmo.
Em contrapartida o transtorno da excitação sexual persistente, envolve necessariamente
o orgasmo. (ZALUAR, 1992)

40
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Existem algumas teorias etiológicas correntes sobre o transtorno da excitação sexual


persistente. Entre elas, destaca-se: Teoria Neurológica, Teoria Medicamentosa e
Teoria da Vulnerabilidade Psicológica. A Teoria Neurológica, parte da premissa que
modificações neuroanatômicas e neurofisiológicas podem induzir ao transtorno. A
Teoria Medicamentosa, parte do pressuposto que existe uma correlação entre o consumo
de alguns medicamentos e o transtorno em si, por exemplo: os inibidores seletivos da
recaptação de serotonina. A Teoria sobre a Vulnerabilidade Psicológica, diz respeito
à ontogenia de cada paciente, por exemplo: pacientes que relatam histórico de abuso
sexual, criação demasiadamente hostil, estressores, entre outros. (MONTORO, 1999)

Transtorno da ejaculação precoce

Figura 18.

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/_YliehjkfxUc/TJGaIGkyTBI/AAAAAAAAEuA/ukAZVV93zt8/ejaculacao-precoce.jpg>.

Durante muitos anos a ejaculação precoce não foi considerada como problema, por não
liberar o intercâmbio social nem a liberação do orgasmo. Entretanto, é sabido, que a
ejaculação precoce produz inúmeros problemas, não só sexuais, mas como relacionais.
Partindo do pressuposto que a psicologia visa enxergar o indivíduo como um todo, a
ejaculação precoce afeta diversos componentes da vida dos indivíduos. (LEIBLUM,
2011)

Segundo Leiblum (2011), a ejaculação precoce tem aumentado cada dia mais. Indivíduos
e casais procuram o atendimento psicoterapêutico na esperança da resolução do
problema, problema esse que afeta toda a atividade sexual. Existem várias formas de
manifestação da ejaculação precoce, o indivíduo pode ejacular em poucos segundos
após a penetração, pode ejacular antes da penetração, somente com a proximidade
íntima e pode ejacular só em ver a parceira despida.

41
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Geralmente, casos de ejaculação precoce envolve latência ejaculatória – o tempo curto


que o indivíduo leva para obter o orgasmo. Geralmente, pessoas que apresentam
ejaculação precoce não conseguem, voluntariamente, atrasar a ejaculação. E outro
aspecto importante é que o indivíduo geralmente passa por um sofrimento clinicamente
significativo, podendo apresentar inúmeros problemas, inclusive em relações amorosas.
(LEIBLUM, 2011)

Para Leiblum (2011) a ejaculação precoce tende a ser persistente e recorrente,


existem relatos de pessoas que apresentam o transtorno durante muitos anos. Outro
aspecto relevante é que não se deve ao efeito direto de algum medicamento, ou seja,
se o indivíduo tomar algum medicamento que produza a ejaculação precoce, ele não
apresenta o transtorno em si e sim está sobre efeito do medicamento.

A ejaculação precoce ainda pode ser permanente ou adquirida. Quando o indivíduo


sempre apresentou a ejaculação precoce, ou seja, desde a primeira relação sexual ou
masturbação, sempre apresentou o transtorno, afirma-se que o transtorno é considerado
permanente.

Quando o indivíduo tinha uma vida sexualmente normal e em algum momento


começa a apresentar a ejaculação precoce, afirma-se que o transtorno foi adquirido.
A ejaculação precoce pode ainda, ser generalizada ou específica. Quando se trata da
generalizada, o indivíduo obterá a ejaculação a despeito da condição em que está
envolvido, ou seja, só de estar em contato sexual, à ejaculação já ocorre. Quando o
indivíduo apresenta a ejaculação somente em algumas situações (por exemplo: sexo
com determinadas pessoas), afirma-se que a ejaculação precoce é considerada como
específica. A ejaculação ainda pode ocorrer em decorrência de aspectos psicológicos,
biológicos ou ambos. Aspectos como ansiedade e alterações hormonais, apresentam
forte correlação com o transtorno. (LEIBLUM, 2011)

Transtorno da ejaculação retardada

Figura 19.

Fonte: <https://i.ytimg.com/vi/_wazoKZ94CE/hqdefault.jpg>.

42
SEXUALIDADE│ UNIDADE I

O transtorno da ejaculação retardada apresenta um efeito totalmente oposto ao


transtorno da ejaculação precoce. Na ejaculação retardada, o indivíduo pode não
conseguir ejacular com prazer sozinho ou com a presença de terceiros. É mais comum
que não consiga ejacular na presença de terceiros. Existem poucos casos clínicos
relacionados a esse transtorno, o que leva a acreditar que é um transtorno pouco
comum. (LEIBLUM, 2011)

Existe influência tanto de fatores neurobiológicos, como psicológicos, as múltiplas


abordagens psicológicas apresentam diferentes interpretações para o transtorno. O
tratamento farmacológico não tem apresentado sucesso no tratamento do transtorno.
No transtorno da ejaculação retardada, o indivíduo consegue sentir tanto o desejo como
a excitação sexual, entretanto, não consegue obter a ejaculação, ou somente obtém
em condições demasiadamente específicas. É importante ressaltar que o sintoma
é plenamente involuntário, ou seja, o indivíduo não tenta retardar a ejaculação,
simplesmente não consegue. (LEIBLUM, 2011)

Existem três níveis relacionados ao transtorno da ejaculação retardada: nível suave,


nível moderado e nível grave. No nível suave o indivíduo tende a adquirir o orgasmo via
masturbação e só adquire a ejaculação intravignal ou anal, sob condições específicas. No
nível moderado, a ejaculação pode ocorrer em decorrência de vários métodos, exceto a
penetração. E no nível grave, o indivíduo não é capaz de ejacular nem sozinho, nem na
presença de terceiros. (LEIBLUM, 2011)

Dispareunia e vaginismo

Figura 20.

Fonte: <http://s03.s3c.es/imag/_v0/770x420/2/e/9/Infeccion-urinaria-salud-getty-770.jpg>.

O vaginismo é uma patologia onde a mulher sente dores frequentes na região genital.
Outro aspecto que deve ser relatado, é que a paciente pode apresentar espasmos

43
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

involuntários e recorrentes. Consequentemente, toda a atividade sexual é afetada em


decorrência do vaginismo. Tanto no que se refere à dimensão quantitativa, como no que
se refere à dimensão qualitativa. Na dimensão quantitativa em relação à diminuição da
frequência da atividade sexual e na dimensão qualitativa em decorrência da mulher não
sentir prazer durante o ato sexual, devido às dores na vagina. (LEIBLUM, 2011)

A dispareunia envolve dores na região genital de forma indiscriminada, ou seja, o


indivíduo apresenta dores recorrentes e intensas associadas à relação sexual. A patologia
supracitada pode ocorrer tanto com mulheres, quanto com homens. (LEIBLUM, 2011)

Tanto o vaginismo como a dispareunia são patologias que envolvem disfunção da dor.
Dados recentes têm mostrado que as patológicas podem ocorrer concomitantemente. Os
tratamentos têm apresentado resultados restritos e as melhoras comumente demoram
a ocorrer. (LEIBLUM, 2011)

As pessoas podem apresentar as dores antes do ato sexual, durante ou após a relação
sexual. Com isso, o ato sexual pode adquirir propriedade aversiva, em alguns casos
as pessoas podem engajar-se na relação sexual para agradar o parceiro(a), com esse
fato fora a relação sexual ter caráter aversivo, o próprio(a) parceiro(a) pode adquirir.
O que pode atrapalhar toda a relação do casal, não somente a relação sexual. Em
decorrência do vaginismo e da dispareunia, psicopatologias podem ocorrer. É comum a
correlação entre vaginismo/dispareunia com transtorno depressivo maior e transtorno
da ansiedade generalizada. (LEIBLUM, 2011)

Existem inúmeras discussões acerca da etiologia do vaginismo e não existe consenso.


Entre os elementos levantados como fatores etiológicos, destacam-se:

» atitudes sexuais negativas, ou seja, a pessoa apresenta todo um conjunto


de crenças negativas em relação à atividade sexual;

» ortodoxia religiosa, pessoas que apresentam fanatismo religioso tendem


a apresentar dificuldade nas relações sexuais, por considerar o ato sexual
como algo pecaminoso, sujo;

» falta de educação sexual, esse é um outro fator de grande relevância,


pessoas que não tem educação sexual, não aprendem a conhecer seu
próprio corpo e não aprendem formas de obter e produzir prazer;

» eventos sexuais traumáticos, pessoas que foram abusadas sexualmente,


ou algo do tipo, podem apresentar vaginismo também.

44
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Como já foi relatado, a etiologia do vaginismo não é definida e existem inúmeras


hipóteses sobre fatores que a originam. (LEIBLUM, 2011)

Em relação à dispareunia, existem duas vertentes de hipóteses etiológicas: a abordagem


biopsicossocial e a abordagem biológica. A abordagem biopsicossocial relaciona a
dispareunia, com aspectos como:

» catastrofismo, pessoas que apresentam percepção catastrófica referente


à relação sexual em si;

» ansiedade, o indivíduo que apresenta casos extremos de ansiedade podem


apresentar dificuldade durante a relação sexual, apresentando inclusive
dispareunia e somatização, pessoas podem apresentar dispareunia em
decorrência do processo de psicossomatização.

A outra abordagem é a biológica, a abordagem biológica parte do pressuposto que a


origem da dispareunia é em decorrência de alterações orgânicas, tanto no que se refere
ao aspecto anatômico, quanto no que se refere ao aspecto fisiológico.

O psicólogo tem, de fato, um papel muito importante no tratamento dos transtornos. A


psicologia clínica e o aconselhamento psicológico é a área especializada no diagnóstico
e no tratamento de distúrbios psicológicos – mentais, emocionais e comportamentais
– desde crises de curta duração até transtornos crônicos. Porém somente os médicos
psiquiatras podem receitar medicamento, caso seja necessário. Nesse momento, o
psicólogo deve encaminhar o paciente a um psiquiatra. Eles são os únicos profissionais
da saúde mental autorizados a prescrever remédios.

Vejamos a seguir um quadro de anamnese sexual.

45
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Quadro 4.

Paciente:
Nome: ____________________ Idade: ___________________ Profissão: ______________
Estado civil: _____________________________ (tempo de relacionamento)
Escolaridade: ____________ Religião: ________________ Situação econômica: _________

Cônjuge:
Nome: _______________________ Idade: ________________ Religião: _______________
Escolaridade: _____________ Situação econômica: _____________ Hábitos: ___________
Queixa principal: ____________________________________________________________

HMA:
Antecedentes pessoais patológicos:
Hipertensão arterial, diabetes tipo I e II, hiperprolactinemia, hiper ou hipotireoidismo, uso de medicamentos (anticoncepcional hormonal,
antidepressivos, ansiolíticos...), hábitos (álcool, fumo, drogas em geral).

Antecedentes gineco-obstétricos:
Menarca: _____________ DUM: ________________ G_____ P_____ A_____ C_____
Ciclos menstruais: intervalo e duração _______________________________________
Patologias gineco-obstétricas: _______________ Cirurgias gineco-obstétricas: ___________
Anticoncepção: _______________ Idade da menopausa: ____________________________
Terapia hormonal: ______________________

História sexual:
Número de parceiros: ____________
Frequência de coitos (semana): ____________
História de abuso sexual: sim____ não_____ grau de parentesco

Fonte: Junqueira et al., 2008.

O diagnóstico das disfunções sexuais é eminentemente clínico, mas


justifica-se a dosagem da prolactina e TSH (Thyroid-Stimulating
Hormone) em casos de DSH quando não está relacionado com uso de
medicamentos ou fatores psíquicos. A hiperprolactinemia pode cursar
com disfunção sexual e afetar, principalmente, o desejo. A dosagem
de testosterona livre não tem utilidade porque o uso da testosterona
para o tratamento das disfunções sexuais femininas permanece ainda
controvertido.
(JUNQUEIRA et al., 2008)

46
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Perversões
O termo “perversão” é utilizado desde os primórdios do movimento psicanalítico.
Utilizaremos o termo para referir-nos ao desvio do objeto sexual. O objeto sexual é
aquele pelo qual o indivíduo sente prazer/atração sexual. Comumente esse objeto
sexual é uma pessoa, viva, adulta e a relação sexual final perpassa pela questão do coito.
(PEIXOTO JUNIOR, 1999)

Logo, a compreensão dita como perversão envolverá um desvio do objeto sexual


tradicional ligado à relação sexual. O indivíduo pode excitar-se sexualmente com vários
componentes, menos com a relação sexual em si. Por exemplo, pode excitar-se com
partes específicas do corpo humano, com partes de roupas, animais, pessoas mortas,
crianças, urina, fezes, entre outros componentes. (SETO, 2008)

Necrofilia

Segundo Warburton (2001) a necrofilia envolve a excitação sexual por pessoas mortas.
Existem relatos antigos, porém raros, referentes à necrofilia. A perversão sexual pode
atingir tanto homens quanto mulheres, embora, sejam mais comuns em homens.

As pessoas que apresentam necrofilia podem ter fantasias e/ou comportamentos. Ou


seja, elas podem fantasiar relações sexuais com os cadáveres sem nunca consumar o
fato. Como também podem ir para a ação e ter relação sexual com os cadáveres.

Wanrburton (2001) divide a necrofilia em três itens:

» existem aqueles que apenas fantasiam a relação sexual com os cadáveres,

» existem aqueles que partem para a ação e procuram os mortos para ter
relação sexual e

» existem aqueles que chegam a matar as pessoas, para assim, ter relação
sexual com o cadáver.

47
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Figura 21.

Fonte: <https://vimeo.com/152230885>

Outro aspecto importante é que o necrófilo pode excitar-se sexualmente com cadáveres
em diferentes níveis de decomposição. Tem indivíduos que se excitam com cadáveres
que acabaram de morrer, outras pessoas podem excitar-se com cadáveres com nível
avançado de putrefação.

Vejamos abaixo um caso real de necrofilia:

Ted Bundy, dos EUA, está entre os mais famosos de todos os serial killers e entre seus
numerosos crimes estava a necrofilia. Sua história serviu de inspiração para o filme
“Silêncio dos inocentes”. A primeira instância registrada de Bundy fazendo sexo com
um cadáver envolvia o assassinato, em 1975, de Lynette Culver, uma garota de 12 anos
de idade, de Idaho.

Na verdade, as autoridades não sabiam que Bundy estava envolvido no desaparecimento


de Culver, até que ele revelou detalhes sobre a garota que ele não teria como saber se
não tivesse falado com ela.

De modo chocante, Bundy admitiu ter atraído Culver da escola, levado-a para um
quarto de hotel, a afogado na banheira, e então agrediu sexualmente antes de descartar
seu cadáver em um rio.

Posteriormente, Bundy admitiu ter vitimado mais de 100 pessoas. Ele também narrou
ter revisitado os cadáveres de suas vítimas para prepará-las e realizar atos sexuais
com elas até que os corpos estivessem decompostos ou fossem destruídos por animais
selvagens.

Fonte:<http://top10mais.org/top-10-chocantes-casos-reais-de-
necrofilia/#ixzz4MiSAUQ25>

48
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Zoofilia
Segundo Vasconcelos (2009), a zoofilia envolve a excitação sexual por animais dos mais
diversos tipos, sendo assim, não existe uma espécie específica de animal que produza
excitação no zoofólico.

O indivíduo que apresenta zoofilia, pode ter fantasias e/ou comportamentos, isto é,
o indivíduo pode só imaginar-se tendo relação com animais, como pode de fato ter a
relação sexual com os animais.

A Zoofilia também é presente tanto em pessoas do sexo masculino, como em pessoas


do sexo feminino. É importante ressaltar que existem culturas e grupos sociais que
possibilitam a iniciação da atividade sexual com animais. Como se os animais fossem
utilizados muitas vezes como mero estímulo para treino sexual.

Figura 22.

Fonte: <https://lh3.googleusercontent.com/78eMCT5I7ppsOF52I6yzaQjvRyDQC7AOWiL26hvmSpJEDjzVl4VFIsMvUwgZM2m8ze4N
=s107>.

Coprofilia
Para Wamburton (2001), a coprofilia é uma perversão sexual muito rara. Na coprofilia,
o indivíduo sentirá excitação sexual com a presença das fezes durante o ato sexual.
O indivíduo pode simplesmente fantasiar as fezes durante a relação sexual, como podem
também, emitir comportamentos, tendo relações sexuais envolvendo fezes.

Alguns indivíduos sentem prazer em defecar no outro durante o ato sexual. Outras
pessoas apresentam o prazer em ser defecado durante a relação sexual. Outro tipo de
coprofilia é a coprofagia. Na coprofagia o indivíduo sente prazer em ingerir as fezes.
A coprofagia é ainda mais rara que a coprofilia.

49
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Ao longo da obra de Freud, o olfato aparece algumas vezes associado


à sexualidade infantil, ao fetiche (cropofilia), às desordens sensoriais
na histeria e aos estágios ontológicos da evolução do homem. Ainda no
período das publicações pré-psicanalíticas, Freud escreve uma carta a
Flies, datada de 11 de janeiro de 1897, em que faz referência ao olfato,
principalmente quanto à relação da psicose com os abusos sexuais na
infância. Sobre a participação do olfato na histeria, declara que “convém
recordar que o principal órgão dos sentidos nos animais (para fins
sexuais, bem como para outros fins) é o sentido do olfato, que perdeu
essa posição nos seres humanos. Na medida em que é dominante o olfato
(ou o paladar), a urina e as fezes e toda a superfície do corpo – e também
o sangue – têm um efeito excitante. Sem dúvida está em conexão com
isso o aumento do sentido do olfato na histeria. O fato de que os grupos
de sensações têm muito a ver com a estratificação psicológica parece ser
dedutível a partir da distribuição deles nos sonhos e, sem dúvida, têm
uma conexão direta com o mecanismo da anestesia histérica.
(BONOMI, 2015)

Voyeurismo

Figura 23.

Fonte: <http://i12.photobucket.com/albums/a229/whips_/aaa6.jpg>.

Segundo Gotlib e Galvão (2000), o voyeurismo envolve o prazer em ver outra pessoa
nua, masturbando-se ou tendo relação sexual. O voyeurismo pode ser considerado
como uma atividade “normal” desde que exista o consentimento de todas as partes
envolvidas. O voyeurismo também pode adquirir caráter psicopatológico, quando o

50
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

prazer em ver o outro, envolve, justamente, a ausência de consentimento. Nesse caso,


o indivíduo pode começar a ter um conjunto de prejuízos sociais e até ocupacionais,
caso seja descoberto. Pode observar pessoas no banheiro, por exemplo, dentro e fora
do ambiente de trabalho. É importante ressaltar que as observações do indivíduo que
apresenta o voyeurismo, tendem a aumentar com o tempo e a prática do observador pode
tornar-se cada vez mais sofisticada. Muitas vezes, a ação do voyeur pode ser invasiva
e trazer prejuízos judiciais. A prática relacionada ao voyeurismo é mais comum em
homens do que em mulheres e pode ser a única forma de excitação sexual, dependendo
do caso. Athanasio (2001) afirma que uma prática que se difere do voyeurismo é o
exibicionismo. No exibicionismo o indivíduo sente prazer em mostrar o órgão genital,
pode chegar a masturbar-se e até mesmo a ter relações sexuais para mostrar para outras
pessoas. O exibicionismo, comumente, é acompanhado por outras psicopatologias.
Psicopatologias essas que podem reduzir o nível de censura, por exemplo: esquizofrenia.

Agorafilia
Segundo Athanasio (1983), a agorafilia envolve a prática de atividades sexuais em locais
públicos e não permitidos socialmente. O indivíduo, nesse caso, sente prazer em infringir
a lei e com a possibilidade de ser pego cometendo o ato sexual. A agorafilia não deve
ser confundida com exibicionismo. Na agorafilia o prazer está em realizar a atividade
sexual em local público. No exibicionismo o prazer está em mostrar os órgãos genitais.
Os lugares mais escolhidos pelos casais são parques, banheiros públicos, banheiros de
avião, cinemas, teatros, carros, elevadores e provadores.

Figura 24.

Fonte: <http://www.kaotique.com/wp-content/uploads/2007/11/faire-amour.jpg>.

51
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Sadismo

Figura 25.

Fonte: <https://lh3.googleusercontent.com/rjqOfbKj64tXctceXmh4Iq_47GaIKDJfteA8EeDKyqAJi1r7b5Wx21axPLtQPzj4Mh-
cAA=s138>.

Segundo Pereira (2007), o sadismo envolve o prazer em promover a dor e o sofrimento


no outro. Geralmente, o sadismo envolve atos reais e não simulados, por exemplo, não
se simula que vai bater em alguém, de fato, bate. O sádico procura promover tanto o
sofrimento psicológico, quanto o sofrimento físico.

O sofrimento psicológico envolveria ameaças, rebaixar o autoconceito da pessoa,


entre outros. O sofrimento físico implica agressões físicas. A literatura demonstra que
estímulos dolorosos simples podem ocorrer, como tapas, cintadas, e, até estímulos
dolorosos de alta intensidade, como choques elétricos, queimaduras, entre outros.

O sadismo pode ser sexual, como pode ser também não sexual.

» O sadismo sexual envolve promover a dor e o sofrimento durante o ato


sexual.

» O sadismo não sexual envolve a produção de dor e sofrimento em outros


contextos que não sejam os contextos sexuais.

Para alguns psicanalistas, como por exemplo, Freud, o indivíduo sempre apresenta
os componentes juntos, ou seja: sadomasoquismo. No presente texto, por uma mera
questão didática, trataremos o conceito diferencialmente.

52
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Masoquismo

Figura 26.

Fonte: <http://45.55.243.171/img/thumbs/bc8da3e888e061638975fbe9df6cf256.jpg>.

Segundo Roudinesco (2008), o masoquismo envolve o prazer em sentir dor e/ou


sofrimento. O masoquista pode sentir dor quando ele mesmo promove a dor, por
exemplo: ele queima seu braço com parafina ou ele pode sentir dor quando outra pessoa
infringe a dor. Por exemplo: João é masoquista e Marcelo o queima com ferro de passar
roupas durante a relação sexual. Logo, João sente prazer em sentir a dor.
O masoquismo também pode ser sexual como pode ser não sexual. E ele pode ser
episódico, isto é, em algumas relações sexuais o indivíduo sente a necessidade de sentir
a dor, como ele pode ser essencial na atividade sexual, nesse caso, o indivíduo só se
excita sexualmente se estiver em situação de dor e sofrimento.
Buscaremos diferenciar dois modos distintos de abordagem teórica
dessa noção. De um lado, situamos um masoquismo mortífero, fruto
da submissão ao outro e da culpabilidade, que pode ser definido por
meio dos masoquismos feminino e moral. De outro lado, uma outra
experiência do masoquismo pode ser vislumbrada com o conceito de
masoquismo erógeno, o qual podemos aproximar do erotismo. Esse
modo de masoquismo é desenvolvido a partir da perspectiva da mescla
pulsional, sendo o remanescente do momento do encontro originário
entre Eros e pulsão de morte. É condição de possibilidade dos outros
dois masoquismos, mas situa-se em um nível estrutural teórico diferente
daqueles. Nesse sentido, o masoquismo erógeno aponta para um modo
de prazer que não se dirige pelo princípio do prazer, mas por um prazer
que, por poder existir simultaneamente à dor, é uma experiência de
intensidade e de potência eruptiva.
(FORTES, 2007, p.35)

53
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Segundo Fortes (2007), tudo que é experimentado com intensidade tem como condição
necessária o “consentimento à dor”. Por isso mesmo podemos destacar a noção de
masoquismo como um lugar teórico que não visa ao adormecimento da excitação.
Mais do que uma relação com a dor propriamente dita, o masoquismo é uma posição
de vulnerabilidade, de abertura, de acolhimento à excitação. Ao permitir a presença
simultânea do prazer e da dor, o movimento do masoquismo consiste não em opor
resistência à dor, mas, ao contrário disso, em “consentir à dor”, abrindo a possibilidade
de uma relação ao prazer que se inscreve como uma brecha na hegemonia do princípio
de prazer.

Pedofilia

Figura 27.

Fonte: <http://www.blogdavania.com/upload/fotos/modelos/17/dbee379eb2f61e298d2eb86754154e64.jpg>.

Segundo Parker (1999), nem todo quadro que envolve sexo com criança caracteriza
uma situação psicopatológica. Por vivermos em uma cultura extremamente machista,
onde a cultura do estupro prevalece, podemos ter casos em que essas relações nada
mais são que produtos culturais. Entretanto, Montoro (1999) salienta que a pedofilia
abrange excitação sexual por crianças. É importante ressaltar que esse desejo sexual
pode ocorrer por crianças de diferentes faixas etárias, desde recém-nascidos até pré-
adolescentes.

Zaluar (1999) aponta um aspecto muito importante referente à pedofilia. Comumente,


o pedófilo apresenta dois componentes distintos, sendo eles, a impulsividade e a
compulsividade. Impulsividade no sentido dele demonstrar um baixo autocontrole, via

54
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

seu desejo iminente e, compulsividade, no que diz respeito a querer ter relações sexuais
com crianças com alta frequência.

Montoro (1999) ainda relata que a grande parte das relações que envolvem a pedofilia
ocorre dentro do próprio núcleo familiar, o pedófilo tende a ser um indivíduo atraente
e de confiança da vítima. Não se sabe ao certo a etiologia da pedofilia. O que se pode
afirmar é que existe uma correlação entre abuso sexual infantil, educação hostil e a
pedofilia. A maior parte das vítimas de pedofilia são meninas e nem sempre ocorre a
penetração.

Nos últimos anos, denúncias contra pedófilos têm crescido consideravelmente. É


importante ressaltar que o aumento de denúncias não apresenta uma relação direta com
o aumento de ocorrência. Em outras palavras, antigamente poderia ocorrer com alta
frequência também, entretanto, as crianças falavam menos, em decorrência do próprio
padrão cultural não permitir que a pedofilia fosse relatada. Nos dias atuais, existe um
espaço cada vez maior para que as denúncias ocorram. A temática é debatida em sala
de aula e algumas escolas até ensinam como a criança deve se prevenir, identificar e
denunciar o pedófilo.

Como se pode perceber pelos dados apresentados, a maior parte dos pedófilos apresenta
idade entre 18 e 40 anos, a incidência de pessoas da mesma família também é alta,
por exemplo, pai, tios, avós, primos e padrastos. Outra questão relevante é o perfil da
vítima.

A maior parte das vítimas, cerca de 80% é de mulheres. Esse dado é influência do forte
machismo. Cultura essa que prevalece, traz inúmeros prejuízos e trata as mulheres
como mero objeto sexual. A faixa etária das vítimas em sua maior parte tende a ocorrer
entre 7 e 13 anos e cerca de 35% das crianças abusadas sexualmente apresentam menos
de 7 anos. Outro dado importante é que a pedofilia independe de etnia, classe social,
nível de instrução ou religião. Esses dados são alarmantes e demonstram a importância
de preparar intervenções de caráter emergencial para suprimir tais atos.

A criança quando sofre violência sexual, pode apresentar alguns sintomas. A criança
pode ficar apática, diminuir o rendimento escolar, apresentar comportamentos
além ou aquém da fase desenvolvimental, irritabilidade, choro, vocabulário
demasiadamente sexualizado, desenhos que exaltem a figura genital, entre outros.
Atentar-se aos comportamentos supracitados é de fundamental importância para todo
o acompanhamento psicoterapêutico. (PARKER, 1999)

55
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

A interferência das patologias e


psicopatologias na atividade sexual
As patologias e as psicopatologias afetam diversos campos da vida dos indivíduos, não
poderia ser diferente no que se refere à atividade sexual. Inúmeros estudos apontam
a forte correlação entre patologias (agudas/crônicas) e psicopatologias na atividade
sexual. Alguns exemplos são: diabetes, câncer, hipertensão, transtorno de ansiedade
generalizada (TAG), transtorno depressivo maior, entre outros. (LEIBLUM, 2011)

A interferência das patologias na atividade


sexual
Fisicamente falando, a função sexual satisfatória depende de vários fatores. Entre eles,
destacam-se: vasos sanguíneos, nervos que suprem a genitália e outras áreas erógenas
intactos.

O aspecto anatômico também é muito importante, por exemplo, um indivíduo que


apresenta micropênis (pênis com o tamanho inferior a 5 cm em ereção) pode ter
dificuldade em iniciar e manter relações sexual, o equilíbrio dos hormônios representa
outro aspecto fundamental para a vida sexual como um todo e os aspectos psicossociais
(estilo de vida, estresse etc.). (LEIBLUM, 2011)

Figura 28.

Fonte: <http://www.herniadedisco.com.br/wp-content/uploads/2013/11/dor-costas-vida-sexual-afetada.png>.

A prevalência de problemas referentes à atividade sexual é maior em pessoas que


apresentam patologias do que em pessoas saudáveis fisicamente. A diabetes, por
exemplo, pode levar o indivíduo a ter dificuldade de ereção e excitação sexual. Estima-

56
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

se que pessoas que apresentam diabetes, tendem a ter de 3 a 5 vezes mais problemas de
excitação sexual do que pessoas que não apresentam. Esse dado é alarmante, uma vez
que, a diabetes, por si só, já provoca um conjunto de restrições na vida do indivíduo e
exige um conjunto de mudanças de hábitos.

O indivíduo passa a ter que alimentar-se com alimentos de baixa caloria, comendo de
três em três horas e alguns alimentos, como por exemplo, doces e bebidas alcoólicas,
devem desaparecer da vida da pessoa, sem contar que a atividade física passa a ser
fundamental para o indivíduo. Algumas pessoas podem ter que tomar injeção de
insulina e fazer aferição da glicemia diariamente, o que modifica ainda mais, a rotina do
indivíduo. Fora as mudanças de vida e restrições previamente apresentadas, o paciente
ainda pode apresentar dificuldade de ereção/excitação sexual. Outra queixa muito
comum é a de dor durante a relação sexual. Todos esses fatores podem prover inúmeros
sofrimentos para os pacientes com diabetes. (LEIBLUM, 2011)

Outra patologia que pode gerar problemas em relação à atividade sexual é a hipertensão
arterial. A correlação entre a hipertensão e problemas durante o ato sexual é muito alta.
A doença em si pode afetar a libido, atuando na redução libidinal e os medicamentos
para tratar a hipertensão arterial tendem a afetar toda a atividade sexual também. Os
fatores supracitados produzem sofrimento na vida das pessoas e, podem, inclusive,
dificultar a adesão dos indivíduos ao tratamento farmacológico. (LEIBLUM, 2011)

Figura 29.

Fonte: <http://www.sevenfisioterapia.com.br/wp-content/uploads/2014/07/Pilates-nas-doencas-neurologicas.jpg>.

57
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

As diversas doenças neurológicas também afetam a atividade sexual. É importante


ressaltar que, como existem inúmeras doenças, o efeito delas sobre a atividade sexual
são os mais diversos possíveis. Geralmente, danos causados à medula espinhal podem
induzir a ereções e lubrificação vaginal. Levando as pessoas, muitas vezes, a momento
de desconforto e constrangimento, uma vez que a ereção e lubrificação vaginal podem
ocorrer de forma descontextualizada. (LEIBLUM, 2011)

Caso ocorra de a espinha sacral ser lesada, pode ocorrer a perda potencial da excitação
sexual. Outro aspecto importante de ser ressaltado, é que danos cerebrais tendem a
produzir menor energia e interesse em iniciar o sexo, causando, assim, uma baixa
de testosterona. Pessoas que apresentam Parkinson tendem a ter dificuldade com a
excitação sexual e com o orgasmo. Cerca de 80% dos pacientes tendem a relatar que
tem grande dificuldade em excitação sexual e mesmo os que conseguem ter excitação,
apresentam dificuldade na obtenção do orgasmo. Aproximadamente 70% dos pacientes
que apresentam casos de esclerose múltipla, tendem a apresentar algum tipo de
disfunção sexual. (LEIBLUM, 2011)

Figura 30.

Fonte: <http://www.sevenfisioterapia.com.br/pilates-nas-doencas-neurologicas/>

Pessoas que apresentam doenças cardiovasculares tendem a diminuir a atividade


sexual após o episódio cardíaco, como tendem a apresentar uma redução na energia
em geral. Existe o aspecto de o indivíduo não se engajar na atividade sexual por medo
de se esforçar fisicamente e ter um ataque cardíaco e existem pessoas em que a própria
doença cardiovascular leva a uma redução da excitação/desejo sexual. (LEIBLUM,
2011)

A disfunção sexual de pacientes com câncer é muito grande e tende a piorar com
o avanço da doença. Inúmeras variáveis afetam a disfunção sexual, entre elas

58
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

destacam-se: a localização, se ocorreu metástase, o tipo de tratamento, entre outros.


Por exemplo, um homem que apresenta câncer de próstata tende apresentar disfunção
sexual logo no início da doença.

Pacientes com metástase (quando o câncer se espalha para outros órgãos) apresentam
disfunção sexual de maneira mais efetiva que pacientes que não apresentam metástase.
O tipo de tratamento também pode interferir, quimioterapia, radioterapia, entre outros.
E a duração do tratamento também, até mesmo pelo desgaste físico, emocional e social
do paciente. (LEIBLUM, 2011)

As disfunções sexuais mais comuns em pacientes que apresentam câncer são: transtorno
do desejo sexual hipoativo – o indivíduo apresenta uma redução no desejo sexual de
maneira global; disfunção erétil – o indivíduo apresenta dificuldade em apresentar
ereção peniana; excitação sexual feminina – a paciente apresenta dificuldade em
apresentar lubrificação vaginal. (LEIBLUM, 2011)

O câncer ainda pode afetar a autoestima do paciente. A depender do tratamento, o paciente


pode perder cabelo/pelo, ficar visivelmente abatido, emagrecer demasiadamente, ficar
pálido, apresentar escoriações e outros problemas de pele, entre outros. Todos os
aspectos supracitados podem afetar a autoestima do indivíduo. Levando muitas vezes
a ter vergonha em mostrar o próprio corpo, consequentemente, afetando assim, toda a
atividade sexual. (LEIBLUM, 2011)

A interferência das psicopatologias na


atividade sexual
Uma vez que o indivíduo deve ser enxergado como um ser biopsicossocial, é nítida a
relação entre as psicopatologias e a atividade sexual.

Comumente, essa relação tende a ocorrer de maneiras distintas, sendo elas:

» sintomas dos transtornos psicopatológicos e

» sintomas de depressão e ansiedade, por exemplo; pode levar a transtornos


psicopatológicos – indivíduo que apresenta ejaculação precoce com o
tempo pode desenvolver transtorno depressivo, em decorrência de um
histórico mal sucedido de relações sexuais e pode ocorrer comorbidade,
ou seja, um transtorno psicopatológico pode ocorrer juntamente com um
transtorno sexual, por exemplo, pode ocorrer transtorno da ansiedade
generalizada e transtorno da ejaculação precoce. (LEIBLUM, 2011)

59
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Figura 31.

Fonte: <http://chabeneficios.com.br/wp-content/uploads/2013/07/chas-que-agem-contra-a-depressao.jpg>.

Pessoas que apresentam quadro de depressão podem apresentar desinteresse sexual.


Existe forte correlação entre transtorno depressivo maior e desinteresse sexual. Estima-
se, que cerca de 50% dos pacientes apresentam desinteresse sexual. Geralmente, quanto
maior for a severidade da depressão, maior é o desinteresse sexual.

Outra questão que pode ocorrer e deve ser levada em consideração é a atividade sexual e
o interesse sexual permanecerem constantes, mas a satisfação sexual diminuir, ou seja,
o indivíduo faz sexo com a mesma frequência (a dimensão quantitativa permaneceu
a mesma), entretanto, o indivíduo não consegue obter satisfação sexual (a dimensão
qualitativa reduz).

Figura 32.

Fonte: <http://crisedeansiedade.com/wp-content/uploads/2015/02/ansiedade.jpg>.

60
PSICOPATOLOGIAS │ UNIDADE II

Os transtornos de ansiedade em geral, apresentam forte correlação com transtornos


sexuais. Geralmente, a ansiedade pode gerar medo em relação ao desempenho sexual,
medo de não conseguir não ser satisfatória a relação sexual, medo do que o outro achará
sobre o corpo, entre outros. Os fatores supracitados podem originar três problemas:
interesse, excitação e orgasmo. Os indivíduos podem apresentar uma redução do
interesse sexual, podem apresentar dificuldade em obter excitação sexual e tendem
a obter orgasmo de maneira demasiadamente rápida. A ejaculação precoce tende a
ocorrer em 47% dos homens que apresentam fobia social (vale lembrar que a fobia
social é um tipo de transtorno de ansiedade).

Um aspecto que pode ocorrer é a aversão ao sexo como um todo, justamente, em


decorrência de uma possível história de fracasso sexual. Outro tipo de transtorno
que afeta a atividade sexual é o transtorno de personalidade. No transtorno de
personalidade, comumente ocorre variação da interação com a sexualidade, podendo
variar de promiscuidade a aversão, a depender do caso. (LIBLIUM, 2011)

No transtorno bipolar, a relação com a sexualidade tende a variar. Durante os episódios


hipomaníacos e maníacos, o paciente tende a apresentar comportamento sexual
compulsivo, podendo chegar a realizar sexo indiscriminado, promiscuidade, contração
de doenças sexualmente transmissíveis. Esse comportamento sexual pode ir contra
as crenças pessoais do indivíduo, sua cultura e religião. Nos episódios depressivos, o
indivíduo tende a inibir tanto a excitação como o desejo sexual. (LEIBLUM, 2011)

Figura 33.

Fonte: <http://www.ellitoral.com/diarios/2009/10/24/nosotros/NOS-20-web-images/MASCARAS_fmt.jpeg>.

61
UNIDADE II │ PSICOPATOLOGIAS

Nos transtornos psicóticos, o indivíduo tende a perder a censura e, com isso, a prática
sexual pode ocorrer em locais públicos e de forma indiscriminada. Prática essa que pode
envolver masturbação ou sexo com outras pessoas. Geralmente, o interesse, a excitação
e o desempenho são alterados, ocorrendo uma diminuição desses. A diminuição pode
ocorrer em decorrência do transtorno em si, como pode ocorrer em decorrência dos
medicamentos, no caso, dos antipsicóticos. (LEIBLUM, 2011)

A interferência das drogas na atividade sexual

Figura 34.

Fonte: <http://www.nucleointegrado.med.br/wp-content/uploads/2014/04/drogas03-300x269.jpg>.

As drogas, lícitas e ilícitas, afetam a vida sexual de maneira diferenciada. Homens que
utilizaram anfetaminas relataram maior excitação sexual, orgasmo intensificado e
maior duração do intercurso sexual. Em contrapartida, mulheres usuárias de crack e
cocaína, relataram perda da libido. A utilização da heroína pode levar a dificuldade de
excitação e desejo sexual.

O uso crônico de álcool pode atrapalhar a resposta sexual tanto em homens, como
em mulheres. Nos homens, pode levar a disfunção erétil e a ejaculação retardada. Os
medicamentos também podem afetar a atividade sexual, por exemplo, antipsicóticos,
antidepressivos e ansiolíticos podem reduzir a libido e levar a ejaculação retardada.

62
MANEJO DA UNIDADE III
SEXUALIDADE

O ato de analisar pacientes é uma tarefa árdua em função de muitos fatores, entre eles
a análise da transferência do paciente e a compreensão da própria contratransferência
do analista. Aprender a manejar a transferência e a contratransferência eróticas é um
dos pontos mais difíceis na formação do psicólogo.

CAPÍTULO 1
As psicoterapias e suas diferentes
abordagens

O presente capítulo tem como objetivo geral apresentar brevemente diferentes


psicoterapias, os principais conceitos e paradigmas de algumas abordagens
psicoterapêuticas.

Gestalt-Terapia
A Gestalt-Terapia tem como seu precursor Perls. Ele era psicanalista e com o decorrer
do tempo foi afastando-se da teoria freudiana. A Gestalt-Terapia tem sua base
epistêmica no Humanismo, no Existencialismo, na Fenomenologia e na Teoria de
Campo. Preocupa-se muito mais em como o fenômeno psíquico ocorre do que porque
ele ocorre. A Gestalt-Terapia volta sua preocupação para o aqui e agora e não considera
o indivíduo prisioneiro de amarras inconscientes.

Em virtude de sua influência, a Gestalt-Terapia apresentou-se nas


décadas de 1960 e 1970 como um conjunto de técnicas parecidas
ao psicodrama, encimadas por uma coberta superficial de filosofia
existencialista, para induzir a liberação emocional em nome da liberdade
de restrições. Assim, muitas pessoas – com e sem treinamento anterior
e credenciais em psicoterapia – sentiram-se estimuladas a pendurar na

63
UNIDADE III │ MANEJO DA SEXUALIDADE

porta plaquinhas dizendo que eram terapeutas da Gestalt depois de dois


workshops de fim de semana em Esalen ou em algum lugar ao longo da
estrada onde Perls parasse para descansar. (LIVRO, p. 20)

Figura 35.

Fonte: <http://2.bp.blogspot.com/-sHqIyLXT48s/Th2j8XTjTRI/AAAAAAAAAB0/IZnsXof47FA/s1600/images%255B2%255D.jpg>.

Segundo Perls, o ser humano não está pronto. Ele se modifica constantemente para se
defender de suas vivências. Ou seja, para Perls o ser humano é um eterno devir, isto
é, não está pronto, aprende a todo o momento. Perls, ainda, ressalta a importância de
o cliente buscar constantemente o “contato” tanto com o ambiente, como com outras
pessoas. Para a Gestalt- Terapia esse contato envolve tomar consciência de si, do mundo
e dos outros, para situar-se no mundo.

De acordo com Perls (1977), outro ponto interessante sobre a Gestalt-Terapia é que
o ser humano é considerado como um ser livre. Não é prisioneiro nem de conflitos
inconscientes e nem de variáveis ambientais, sendo assim, o homem é livre para
escolher. Entrar em contato com a possibilidade dessas escolhas produz mudanças que
podem apresentar importância terapêutica. A visão de liberdade da Gestalt-Terapia é
influenciada pela corrente filosófica: o Existencialismo.

O embrião da Gestalt-Terapia foi um artigo que Perls escreveu em


meados da década de 1930, que concluía que as chamadas “resistências”
– a maneira psicológica de dizer não a si mesmo ou aos outros – era
de origem oral. A significância dessa consideração não é extremamente
revolucionária – representava uma pequena mudança numa ênfase
psicanalítica tradicional – mas suas ramificações foram, não obstante,
subversivas. Aparentemente, os analistas reconheceram isso logo de
início: Perls menciona em sua obra que o artigo que apresentou num
congresso freudiano em 1936, encontrou desaprovação.

A análise clássica considerava que a fonte da resistência era anal – o


ânus era o local, pode-se dizer, de uma recusa obscura e frequentemente
hostil, uma forma, na primeira infância, que se expressa em nossa frase
the terrible twos, quando as crianças dizem não a tudo que lhes pedem

64
MANEJO DA SEXUALIDADE│ UNIDADE III

ou digam que façam. Segundo Klein, por exemplo, algumas escolas de


psicanálise consideram tudo isso como fazendo parte da evidência da
natureza inerentemente bárbara da criança, que precisa ser domada
para se moldar e se transformar em comportamento civilizado. Erik
Erikson pôs o estágio anal sob uma luz mais benigna: considerou o
desenvolvimento pela criança de um controle premeditado de músculo
do esfíncter como indício importante de autonimia.
(PERLS; HEFFERLINE; GOODMAN, p. 20-21).

Para Perls (1977), a Gestalt-Terapia preocupa-se em enxergar o indivíduo como um


todo e não como uma parte de seu comportamento ou de seu aparato inconsciente. Perls
ressalta a importância também da relação entre figura e fundo. A figura seria aqueles
componentes presentes e, que são problemas para o indivíduo, naquele momento. O
fundo se refere aos outros aspectos da vida que não apresentam tanta relevância. Figura
e fundo alteram-se constantemente.

Terapia cognitivo-comportamental
Aaron Beck é considerado como o precursor da terapia cognitivo-comportamental. A
princípio, a Psicoterapia era considerada apenas como cognitiva, para, posteriormente,
ser considerada como terapia cognitivo-comportamental. (BECK, 2005)

Segundo Beck (2005), a terapia cognitiva comportamental adota uma visão construtivista
do ser humano. Ou seja, a terapia cognitivo-comportamental tem como base um caráter
representacional. Em outras palavras, o que preocupa o terapeuta seria não o evento
per se, mas a representação mental desse evento.

Para Beck (2005), a psicoterapia basear-se-á na tríade cognitiva. Tríade essa que
envolve os seguintes componentes:

» cognições;

» emoções;

» comportamentos.

Ou seja, o fruto de todos os conflitos humanos está no aspecto cognitivo. A terapia


cognitivo-comportamental visa a uma reestruturação cognitiva, ou seja, a mudança na
forma do pensar altera tanto as emoções como o comportamento.

65
UNIDADE III │ MANEJO DA SEXUALIDADE

O tratamento tem como base não só a formulação cognitiva, as crenças e estratégias


comportamentais que caracterizam um transtorno específico, mas também está
baseado em conceituação, ou compreensão, de cada paciente (suas crenças específicas
e padrões de comportamento). O profissional terapeuta busca produzir de inúmeras
maneiras uma mudança cognitiva – modificação na forma de pensar e no sistema de
crenças do paciente – para, assim, produzir uma mudança comportamental e emocional
duradoura.

De acordo com Judith Beck (2013), quando as pessoas conseguem analisar seu
pensamento de forma mais realista e adaptativa, elas obtêm uma melhora significativa.
Para que haja uma melhora duradoura no humor e no comportamento do paciente, os
terapeutas cognitivos trabalham em um nível mais profundo de cognição: as crenças
básicas do paciente sobre si mesmo e as outras pessoas.

Ainda sob a ótica da autora (2013, p. 27), os princípios básicos da terapia cognitivo-
comportamental são os seguintes:

» A terapia cognitivo-comportamental está baseada em uma formulação


em desenvolvimento contínuo dos problemas dos pacientes e em uma
conceituação individual de cada paciente em termos cognitivos.

» A terapia cognitivo-comportamental requer uma aliança terapêutica


sólida.

» A terapia cognitivo-comportamental enfatiza a colaboração e a


participação ativa.

» A terapia cognitivo-comportamental é orientada para objetivos e é focada


nos problemas.

» A terapia cognitivo-comportamental enfatiza inicialmente o presente.

» A terapia cognitivo-comportamental é educativa, tem como objetivo


ensinar o paciente a ser seu próprio terapeuta e enfatiza a prevenção de
recaída.

» A terapia cognitivo-comportamental visa ser limitada no tempo.

» As sessões de terapia cognitivo-comportamental são estruturadas.

» A terapia cognitivo-comportamental ensina os pacientes a identificar,


avaliar e responder aos seus pensamentos e crenças disfuncionais.

» A terapia cognitivo-comportamental usa uma variedade de técnicas para


mudar o pensamento, o humor e o comportamento.

66
MANEJO DA SEXUALIDADE│ UNIDADE III

“A estrutura das sessões é bem parecida para os vários transtornos, mas as intervenções
podem variar consideravelmente de paciente para paciente.” (BECK, 2013, p. 31)

A grande aceitação do modelo cognitivo e cognitivo-comportamental se deve a diversos


fatores (MORRIS; MAISTO, 2004):

1. A proposição de diversos modelos de grande valor heurístico, que


possibilitam uma visão mais abrangente da psicopatologia dos
transtornos ao incorporar, aos diferentes modelos etiológicos, o papel dos
pensamentos e crenças disfuncionais, além das aprendizagens errôneas.

2. A proposição de modelos e hipóteses testáveis por meio do desenvolvimento


de intervenções psicoterápicas geralmente breves, cuja eficácia pode ser
facilmente aferida.

3. A curta duração dos tratamentos de transtornos de Eixo I, que proporciona


uma melhor relação custo/benefício em relação aos tratamentos
tradicionais.

4. A elaboração de protocolos e manuais que permitem sua padronização e


reprodutibilidade por diferentes pesquisadores.

5. O desenvolvimento de escalas e instrumentos para aferição de desfechos


e a curta duração dos tratamentos possibilitou um melhor controle
de variáveis intervenientes, uma melhor aferição dos resultados –
barreiras até hoje não transpostas pelos tratamentos de longa duração
possibilitando uma grande expansão da pesquisa da TCC (terapia
cognitivo-comportamental).

A terapia cognitivo-comportamental possui tanto técnicas da terapia cognitiva como


da terapia comportamental, tendo demonstrado ser uma das técnicas mais eficazes no
tratamento de vários transtornos.

O tratamento das disfunções sexuais é fundamental para que as pessoas tenham


condições de ter uma vida mais saudável e prazerosa junto com seus amigos e parceiros.
A Psicologia busca atuar na causa do comportamento e não apenas na eliminação
dos sintomas. Muitos pacientes vão em busca de um tratamento apenas medicamentoso.
Vale destacar que muitos medicamentos atuam em questões emocionais, eliminando
apenas os sintomas, porém a causa continua desconhecida e sem tratamento.

A Psicologia procura compreender a origem e a causa do problema para conseguir


modificá-lo, além de conseguir prevenir uma recaída ou agravamento dos sintomas. E ao

67
UNIDADE III │ MANEJO DA SEXUALIDADE

contrário de outras técnicas terapêuticas, a Psicologia é um campo de estudos científico,


com  eficácia comprovada em vários estudos.

Figura 36.

Fonte: <http://www.positivepsychotherapy.it/img/psicologiapositiva.jpg>.

O papel do psicólogo é compreender as dificuldades do indivíduo, objetivando promover


o alívio de sintomas e colaborando, assim, para o desenvolvimento de novas soluções
em busca de um crescimento e vida saudáveis. Trabalhando concomitantemente com a
família, caso seja necessário, na prevenção e promoção da saúde de todos os envolvidos,
acolhendo-os e buscando soluções para suas angústias, dificuldades, fazendo orientações
conforme a necessidade.

Terapia analítico-funcional (FAP)


A terapia analítico-funcional tem como base epistemológica o Behaviorismo Radical,
proposto por B.F. Skinner. É considerada uma das terapias de terceira onda, juntamente
com a terapia de aceitação e compromisso (ACT) e a terapia comportamental
dialética (DBT), entre outras. De maneira bem resumida, o Behaviorismo prega que
o comportamento é selecionado por suas consequências. Skinner propôs o Modelo de
Seleção por Consequências para a compreensão do comportamento humano. Segundo
Skinner, só é possível compreender todos os fenômenos comportamentais se levarmos
em consideração os três níveis de variação e seleção do comportamento.

Os três níveis supracitados são: filogenia, ontogenia e cultura.

Na filogenia, ocorre a seleção de comportamentos durante a história de evolução da


espécie. Skinner, influenciado pela teoria da evolução de Charles Darwin, afirmava
que os indivíduos apresentavam características diferentes, essas diferenças ocorriam

68
MANEJO DA SEXUALIDADE│ UNIDADE III

ao acaso e o ambiente selecionava quais características deveriam prevalecer e quais


características deveriam ser extintas.

Por exemplo, suponhamos que há milhares de anos existissem dois grupos de pessoas:
pessoas que tremiam e se arrepiavam na presença de baixa temperatura e pessoas
que não tremiam e não se arrepiavam na presença de baixa temperatura. Ocorreu um
forte inverno, com essa mudança ambiental aqueles indivíduos que se arrepiavam e
tremiam na presença de baixas temperaturas sobreviveram ao frio, em contrapartida
os indivíduos que não apresentavam essas características não sobreviveram ao frio.
Os indivíduos do grupo que sobreviveu transmitiram seus genes e essas características
foram herdadas, ou seja, provavelmente, arrepiamos e trememos na presença de baixa
temperatura em decorrência da importância filogenética desse tipo de respostas.

É importante ressaltar que as pessoas nascem com esse tipo de comportamento. Ou


seja, não é necessária uma história de aprendizagem dessas respostas, entretanto, a
seleção das respostas supracitadas não se deve ao acaso, e sim às alterações ambientais
que selecionaram essa resposta ao longo da evolução da espécie.

O segundo nível de variação e seleção de comportamentos é a ontogenia. Na ontogenia


comportamentos serão selecionados durante a história de vida dos indivíduos.
A filogenia trata da história de evolução da espécie e, a ontogenia, trata da história
de vida dos indivíduos. Por exemplo, suponhamos que o indivíduo emita a seguinte
resposta: colocar a mão sobre o fogão. Imaginemos duas situações: na primeira
situação o indivíduo coloca a mão sobre o fogão na presença do fogo e na segunda
situação o indivíduo coloca a mão na ausência do fogo. Presumivelmente, com o tempo,
o indivíduo aprenderá a colocar a mão sobre o fogão somente quando a chama estiver
apagada. Essa resposta foi selecionada por sua consequência. Uma vez que, quando
o indivíduo colocou e o fogo estava aceso, possivelmente ele entrou em contato com
estímulos aversivos dolorosos. (KOLHELBERG; TSAI, 2001)

Podemos imaginar outros comportamentos que ocorrem no segundo nível de variação


e seleção comportamental, a ontogenia. Suponhamos que o indivíduo grite com figuras
de autoridade durante sua infância. Quando gritou, teve consequências aversivas,
recebeu bronca, perdeu mesada, perdeu nota e sofreu castigos físicos. Com o passar
do tempo, é natural que o indivíduo não grite mais com figuras de autoridade. Ou seja,
o comportamento foi selecionado pelas consequências. No decorrer da nossa vida,
apresentamos um conjunto de comportamentos, esses comportamentos produzem
consequências e tem a probabilidade de ocorrência alterada em função dessas
consequências. (KOLHELBERG; TSAI, 2001)

69
UNIDADE III │ MANEJO DA SEXUALIDADE

Skinner identificou diferentes efeitos das consequências sobre as respostas. Por


exemplo, quando uma consequência aumenta a probabilidade de emissão da resposta,
dizemos que o estímulo consequente era um estímulo reforçador. Girar a maçaneta da
porta produz a porta aberta, a consequência da porta aberta, aumenta a probabilidade
de girar futuramente a maçaneta. Existem dois tipo de estímulos reforçadores: o
positivo e o negativo. Reforço positivo é quando aumenta a probabilidade da frequência
da resposta pelo acréscimo de um estímulo reforçador, por exemplo, o indivíduo emite
respostas referentes a estudar, em decorrência de ganhar mesada. Outro exemplo de
reforço é o negativo. Nele a probabilidade da frequência da resposta é alterada pela
retirada de um estímulo aversivo, por exemplo, o indivíduo apresenta uma forte dor de
cabeça e toma o medicamento “x”, no futuro a probabilidade de tomar o medicamento
quando a dor de cabeça estiver presente é alta. (KOLHELBERG; TSAI, 2001)

A punição positiva e a punição negativa reduzem a frequência da resposta. A punição


positiva reduz a frequência da resposta pelo acréscimo de um estímulo aversivo, por
exemplo, o aluno está em conversa paralela em sala de aula e o professor solicita que
os alunos parem de conversar. Caso os alunos parem, é correto afirmar que ocorreu a
punição positiva. Na punição negativa, ocorre a diminuição da frequência da resposta
pela retirada de um estímulo reforçador, por exemplo, a criança está conversando muito
em sala de aula e o professor a deixa sem recreio, no futuro a probabilidade da criança
conversar é baixa. Sendo assim, o comportamento diminuiu de frequência pela retirada
de um estímulo reforçador, no caso, o recreio. (KOLHELBERG; TSAI, 2001)

Outro exemplo de efeito sobre o comportamento é a extinção. Na extinção um


comportamento que antes produzia uma consequência reforçadora deixa de produzir,
ou seja, ocorre uma quebra na contingência. Podemos imaginar a seguinte situação,
após o término de um relacionamento duradouro, o indivíduo tenta ligar para sua “ex”,
mas ela não atende. Com o passar do tempo espera-se que o indivíduo deixe de ligar. É
importante ressaltar que isso leva tempo, existem outros efeitos que ocorrem antes da
resposta cessar. Num primeiro momento, a resposta tende a aumentar de frequência,
logo em seguida ocorre o aumento na variabilidade da topografia da resposta, isto é, na
forma em que a resposta vai ocorrer, depois a eliciação de respostas emocionais e, por
fim, a extinção do responder. (KOLHELBERG; TSAI, 2001)

O terceiro nível é a cultura. Na cultura podemos compreender porque comportamentos


são mantidos intra e entre gerações, por exemplo: carnaval, religião e outros costumes.
Nota-se que todos esses princípios comportamentais, deram base teórico-conceitual
para a denominada FAP – psicoterapia analítico-funcional.

70
MANEJO DA SEXUALIDADE│ UNIDADE III

Os precursores da psicoterapia analítico-funcional são Kolhelberg e Tsai. Ambos


ressaltavam a importância da relação entre o terapeuta e o cliente. Para os autores, o
processo de generalização operante é comum no contexto clínico. A generalização pode
ocorrer tanto do meio extraclínico para dentro da clínica, como de dentro da clínica
para fora da clínica. Ambos os casos são de fundamental importância para o processo
psicoterapêutico. (KOLHELBERG; TSAI, 2001)

Kolhelberg e Tsai (2001) apontam outros aspectos importantes para o contexto


clínico e todo o processo psicoterapêutico. Os autores abordaram os comportamentos
clinicamente relevantes (CRB’s), comportamentos esses que ocorrem dentro do
contexto terapêutico e têm grande importância clínica. Os autores dividiram os CRB’s
em três. Sendo: CRB 1, CRB 2 e CRB 3.

Para Kolhelberg e Tsai (2001), o denominado CRB 1 são comportamentos problemas


do cliente que ocorrem dentro da sessão, ou seja, que são generalizados para dentro
do contexto terapêutico. Os CRB 2 são pequenos progressos do cliente que ocorrem
ao longo das sessões psicoterapêuticas. Já os CRB 3 são quando o cliente se torna
capaz de fazer análise funcional do seu próprio comportamento. Ou seja, consegue
identificar os estímulos antecedentes e consequentes que eventualmente controlam o
seu comportamento.

Psicoterapia positiva

Figura 37. Martin Seligman.

Fonte: <http://www.pursuit-of-happiness.org/wp-content/uploads/2010/07/Martin-Seligman-Photo.jpg>.

Segundo Seligman, Rashid e Parks (2006), a psicoterapia positiva surge como uma crítica
ao remédio amplamente divulgado na década de 1980. O Prozac era conhecido como a

71
UNIDADE III │ MANEJO DA SEXUALIDADE

pílula da felicidade e foi amplamente comercializado. Com o tempo, percebeu-se que a


droga, na verdade, reduzia os sintomas da depressão, não produzia felicidade, até porque,
medicamentos não ensinam novos comportamentos.

Para Seligman, Rashid e Parks (2006) reduzir o mal-estar não é equivalente a promover
o bem-estar. Os autores ainda salientam a importância de sair do modelo médico
tradicional, em que o objeto de estudo eram os transtornos mentais e o sofrimento
humano. Segundo Seligman, Rashid e Parks, o objeto de estudo seriam os eventos
positivos, ou seja, a Psicologia deveria pautar-se em eventos positivos e não em eventos
negativos. Deveria focar-se em relações como: talentos, resiliência, alegria, gratidão,
generosidade, otimismo, amor, esperança, entre outros. Ao focar no lado positivo, o lado
negativo naturalmente reduziria de frequência. A psicoterapia positiva visa aproveitar
ao máximo a potencialização do lado positivo humano, buscando, assim, encontrar um
sentido para a vida.

Psicanálise

Figura 38. Sigmund Freud.

Fonte: <http://www.ruizhealytimes.com/sites/default/files/styles/una_pagina_custom_user_standard_layout_1x/public/
articles/2014/09/sigmund_freud.jpg?itok=os3XYdCW>.

Para Simanke e Caropreso (2006c), o movimento psicanalítico, apresenta entre suas


inúmeras peculiaridades, a visão sobre os processos inconscientes. Para a psicanálise
o inconsciente não se restringia ao não consciente, tinha um caráter peculiar e era
determinante de toda a vida psíquica. Segundo a Psicanálise, o indivíduo busca a todo
momento o prazer e a energia libidinal é que ligava o indivíduo às diversas fontes de
72
MANEJO DA SEXUALIDADE│ UNIDADE III

prazer. Para Freud a sexualidade humana referia-se a tudo que envolvesse o prazer e
essa sexualidade se modifica com o tempo, o que Freud denominou de desenvolvimento
psicossexual.

De uma forma bem simples, o desenvolvimento psicossexual se refere às zonas erógenas


(zonas de prazer do corpo) e como essas zonas vão sofrendo modificações ao longo do
tempo. Simanke e Caropreso (2006c) afirmam que o desenvolvimento psicossexual foi
dividido nas seguintes fases: oral (zona erógena concentrada na boca, o indivíduo leva
tudo à boca e sente prazer nessas relações), anal (o indivíduo aprende a ter controle
sobre o esfíncter e aprende que pode controlar o meio em que vive também, liberando
ou retendo as fezes), fálica (ocorrência do Complexo de Édipo).

O menino desenvolverá sua energia libidinal para a mãe e terá como concorrência o
pai, para conquistar a mãe o indivíduo se identificará com o pai, ou seja, adotará as
características paternas. O mesmo ocorre para as meninas, mas de maneira inversa. Na
fase genital se espera que a zona erógena esteja presente nos órgãos genitais. É importante
ressaltar que os fenômenos denominados como “regressão” e “fixação” podem ocorrer.
Regressão é quando o indivíduo regride alguma fase do desenvolvimento psicossexual.
Fixação é quando o indivíduo não consegue desenvolver-se psicossexualmente, pois se
encontra fixado em alguma das fases.

Simanke e Caropreso (2006c) apontam que ocorre a transferência dentro do processo


psicoterapêutico. A transferência envolverá deslocar um conjunto de sentimentos e
emoções da vida para o psicanalista. O processo supracitado é fundamental para que
aconteçam melhorias terapêuticas. Outro aspecto importante para a psicanálise é a
sublimação. Na sublimação a energia libidinal será direcionada para um objeto não
sexual.

73
PSICOTERAPIA UNIDADE IV
SEXUAL

CAPÍTULO 1
Casos clínicos

Caso clínico – Interpretação Gestalt-Terapia


Nick tinha 39 anos, era um geólogo bem-sucedido financeiramente,
casado com Susan, 33 anos, enfermeira, havia 9 anos. No contexto de
um exame pélvico rotineiro com seu médico de família, há anos, ela
descreveu o desinteresse sexual de longa data de seu marido e disse
que gostaria de ter filhos, mas estava confusa sobre o que fazer com sua
vida. Já que ela pensava que a probabilidade disso acontecer com Nick
era mínima. Depois de ele se submeter a um exame físico detalhado e
testes de laboratório rotineiros (nenhum dos quais apontou qualquer
anormalidade), o casal foi encaminhado a um psiquiatra. Porém, Nick
recusou-se a continuar depois da primeira visita, dizendo que não via
isso como útil. Em muitas vezes subsequentes, ela propôs que achasse
outro terapeuta que pudessem visitar juntos, mas ele continuava a
se recusar. Havia um mês, depois de uma declaração categórica dela
de que o estava abandonando, Nick mudou de ideia e concordou em
procurar um terapeuta sexual. Quando Nick e Susan foram vistos
juntos, Susan rapidamente começou a chorar quando relatou não terem
nenhuma atividade sexual há mais de um ano. Ao falar de seu passado,
ela continuou explicando que uma das coisas que mais gostava de Nick,
quando se conheceram, era que ele não a “agredia” como tantos outros
homens que tinha namorado antes. Quando ocorriam encontros sexuais,
ela, em retrospectiva, era quem normalmente tomava a iniciativa (o
que não a preocupava na época já que os eventos sexuais ocorriam com
uma frequência ostensivamente suficiente para ela). As recusas sexuais
de Nick começaram um pouco antes de se casarem, mas ela atribuiu

74
PSICOTERAPIA SEXUAL │ UNIDADE IV

ao nervosismo pré-nupcial. No ano seguinte ela se viu fazendo menos


convites, já que no geral, eram rejeitados. O nível de afeto físico entre os
dois nunca tinha sido alto, mas tinha diminuído a ponto de, no presente,
raramente se tocarem. Dormiam na mesma cama, mas tipicamente iam
para a cama em horários diferentes e regularmente vestiam roupa antes
de dormir. Quando abordado individualmente, Nick relatou que sua
frequência sexual realmente sempre foi baixa, que se masturbava uma
vez ao mês e que mesmo durante a adolescência se interessava menos
em sexo que seus amigos. Quando perguntado sobre sua criação, Nick
declarou que seus pais se separaram quando ele tinha 7 anos e que a
criação de sua mãe foi extremamente religiosa, rígida e que eles tinham
poucas fontes de prazer
(LEIBLUM, S. Princípios e Prática da Terapia Sexual. São Paulo: Ed. Roca, 2011)

Realizando uma análise superficial do caso supracitado, identifica-se que Nick


apresenta o transtorno do desejo sexual hipoativo. A despeito disso, deve-se analisar
primeiramente como Nick interpreta o fenômeno em relação a apresentar uma baixa
frequência da atividade sexual. Deve-se identificar se a atividade sexual, em si, é figura
ou fundo para Nick. Caso seja figura, ela representa, então, um elemento primordial e
representativo na vida dele. Caso seja fundo, naquele momento específico a atividade
sexual não apresenta tanta relevância. Deve-se identificar em uma análise “aqui e agora”
quais são os fatores que podem contribuir para uma baixa frequência na atividade
sexual.

Nick deve entrar em contato com o seu próprio funcionamento, tanto sexual como
em relação à vida conjugal como um todo. Quando se fala em entrar em contato,
refere-se a ele ter a consciência sobre seu próprio funcionamento. Caso seja desejo de
Nick mudar a sua forma de relacionar-se com o sexo, a atividade sexual deve tornar-se
uma figura para sua vida, tornando assim, uma fonte de prazer e não uma atividade
de caráter obrigatório. Caso não seja desejo de Nick mudar sua forma de relacionar-se
sexualmente, ele deverá ter plena consciência que é livre para tal ato, porém deverá
assumir a responsabilidade pelas suas escolhas. Escolha essa, que poderá afetar todo o
relacionamento entre Nick e Susan.

75
UNIDADE IV │ PSICOTERAPIA SEXUAL

Figura 39.

Fonte: <http://cdn.doutissima.com.br/wp-content/uploads/2015/08/terapia-sexual2.jpg>.

Outro aspecto importante seria realizar um atendimento de casal com Nick e Susan,
uma vez que o problema deles tem caráter interacional. Deve-se permitir o contato
entre os dois, a possibilidade de tomar consciência sobre o funcionamento de todo o
relacionamento, quais são as fontes de prazer e como elas são obtidas e a compatibilidade
entre figura e fundo da relação do casal como um todo. É importante ressaltar que a
análise do caso supracitado, é uma análise superficial, tendo como base os pressupostos
da Gestalt-Terapia. Em um contexto real, a análise seria mais aprofundada e as vivências
mais ricas e complexas.

Caso Clínico – Interpretação terapia cognitivo-


comportamental
John, 1,90m de altura, musculoso, 30 anos de idade, nunca foi casado,
policial, marcou uma consulta porque tinha desenvolvido ejaculação
precoce com sua nova parceira de 6 semanas. John tinha orgulho de sua
masculinidade e disse que não conseguia entender por que isso estava
acontecendo agora.

Havia um tom de ostentação enquanto John detalhava sua vida sexual.


Tinha dormido com muitas mulheres e nunca sofrido de ejaculação
precoce. A maioria de seus relacionamentos anteriores era de duração
relativamente curta. John gostava de ser solteiro e de ter relações
variadas.

A pergunta essencial em minha mente era o que seria diferente dessa vez.
Com certo embaraço, John revelou que fora intimidado por Kim. Ela era

76
PSICOTERAPIA SEXUAL │ UNIDADE IV

uma mulher linda, bem-sucedida, diretora-executiva de uma pequena


corporação, e ele se sentia “dominado” por ela. Perguntei se ele nunca
tinha estado numa relação em que se sentisse dominado. De pronto ele
negou, mas daí riu e lembrou que há muitos anos tinha havido uma
mulher assim, e sim, ele também tinha sofrido de ejaculação precoce
com ela. Imediatamente soubemos qual questão deveria ser focalizada.
(LEIBLUM, S. Princípios e Prática da Terapia Sexual. São Paulo: Ed. Roca, 2011)

Dentro de uma perspectiva da terapia cognitiva-comportamental, primeiramente,


deve-se analisar quais são as cognições, para posteriormente trabalhar com as emoções
e os comportamentos envolvidos. No caso supracitado é evidente que John apresenta
um conjunto de crenças sobre mulheres com quem se relaciona. Essas crenças estão
relacionadas à “superioridade” das mulheres sobre ele. Nota-se que quando ele se
relaciona com uma mulher, que ele julga como superior, um conjunto de problemas
ocorrem, inclusive, a ejaculação precoce.

Figura 40.

Fonte: <http://i0.wp.com/www.psicologiamsn.com/wp-content/uploads/2014/03/terapia-cognitivo-comportamental.
jpg?resize=350%2C200>.

Mudar esse conjunto de crenças envolverá toda uma reestruturação cognitiva. O


psicólogo poderá trabalhar com John a representação do que seria superioridade das
mulheres, visando alterar a distorção cognitiva e a formação de conceitos referentes à
inferioridade/superioridade. O psicólogo cognivista-comportamental, presumivelmente
fará perguntas no sentido de ir promovendo avanços na reestruturação cognitiva do
cliente. O psicólogo também deverá passar atividades para que John, paulatinamente,
modifique sua visão sobre o que é ser “superior” e a relação dessa superioridade com a
relação sexual.

Alterando todo esse aspecto cognitivo, espera-se que as emoções sejam alteradas
também. Por exemplo, a partir do momento em que John enxergar uma relação de

77
UNIDADE IV │ PSICOTERAPIA SEXUAL

igualdade e não superioridade, ou não relacionar os eventos com atividade sexual, o


que se espera é que ocorram mudanças no componente emocional do cliente. Onde
o indivíduo pode ter sentimentos positivos em relação à atividade sexual a despeito
do que julga sobre a parceira. Posteriormente, espera-se que o comportamento sofra
alterações, no caso supracitado, espera-se que John deixe de apresentar ejaculação
precoce com parceiras que julga apresentar um nível de “superioridade”. É importante
ressaltar que a análise do caso supracitado, é uma análise superficial, tendo como base
os pressupostos da Terapia Cognitivo-Comportamental. Em um contexto real, a análise
seria mais aprofundada e as vivências mais ricas e complexas.

Caso Clínico – Interpretação terapia analítico-


funcional (FAP)
Philip e Barbara estão no início dos 30 anos, casados há seis, sem
filhos. Ela se queixa de que sua relação sexual é “um pandemônio!”. Seu
marido tivera ejaculação precoce desde os primeiros dias de namoro e
começara a experimentar episódios de disfunção erétil no ano anterior.
Philip procurou por psicoterapia e relatava que apresentava sempre
extrema ansiedade antes do início das atividades sexuais.
(LEIBLUM, S. Princípios e Prática da Terapia Sexual. São Paulo: Ed. Roca, 2011)

Os problemas sexuais de Philip são evidentes e recorrentes. Percebe-se que a princípio


ele apresentava problemas de ejaculação precoce e, posteriormente, episódios de
disfunção erétil. Fora ambos os problemas serem sexuais, ambos têm forte correlação
com a ansiedade. É importante ressaltar que do ponto de vista paradigmático do
Behaviorismo Radical, a ansiedade não pode ser causa de comportamentos. Entretanto,
existe uma forte correlação entre esse evento privado (ansiedade) e o evento público
(disfunção erétil). Em algum momento, algo que envolve a interação entre o organismo
e o ambiente promoveu tanto alterações em eventos privados como alterações em
eventos de ordem púbica.

78
PSICOTERAPIA SEXUAL │ UNIDADE IV

Figura 41.

Fonte: <http://media.nbcchicago.com/images/1200*798/custom_1223390183410_unhappy_sex.jpg>.

Do ponto de vista da psicoterapia analítico-funcional, o primeiro ponto a ser destacado


é que o comportamento clinicamente relevante deve ser evocado. No caso supracitado,
o comportamento clinicamente relevante (CRB 1) seria o cliente relatar em sessão qual
era de fato seu problema, ou seja, o paciente conseguir discriminar qual é seu problema.
Isso ocorreu, quando o cliente relatou qual era o problema em questão. Num segundo
momento, espera-se que os comportamentos clinicamente relevantes (CRB 2) ocorram
dentro do processo psicoterapêutico.

Os comportamentos supracitados envolveriam, por exemplo, o paciente falar mais


sobre si mesmo no contexto terapêutico. E, por fim, espera-se que o indivíduo
consiga emitir comportamentos clinicamente relevantes (CRB 3), que seria quando o
cliente conseguisse realizar análises funcionais do próprio comportamento. Ou seja,
identificar quais são os antecedentes e quais são os consequentes referentes à resposta
do cliente. Realizar a análise funcional pode permitir um maior autoconhecimento e
ainda permitir que o indivíduo consiga ter controle sobre seu próprio comportamento,
podendo remanejar as contingências e alterar as respostas.

Tomemos como exemplo a seguinte relação, o indivíduo pode conseguir analisar


funcionalmente suas respostas e perceber que a atividade sexual passou a ter um
caráter obrigatório. Com isso, a própria previsibilidade da relação diminui o interesse
sexual, por exemplo: ter sempre o mesmo dia e horário para relações sexuais. Quando
o indivíduo conseguir realizar análises funcionais do seu comportamento e perceber
esse tipo de relação supracitada, ele pode mudar o ambiente, tirar a previsibilidade da
relação sexual e deixar a relação fluir da maneira mais natural possível, obtendo, com
isso, sucesso em suas relações sexuais.

É importante ressaltar que para que ocorram os Comportamentos Clinicamente


Relevantes (CRB’s) é necessário que o psicoterapeuta e o cliente apresentem uma

79
UNIDADE IV │ PSICOTERAPIA SEXUAL

boa relação. Uma relação amistosa e empática. Para que o cliente, assim, sinta-se a
vontade em relatar suas problemáticas, principalmente em relação a um assunto que
envolve um grande tabu dentro da nossa cultura: a atividade sexual. É importante
ressaltar que a análise de caso supracitado é uma análise superficial, tendo como base
os pressupostos da terapia analítico funcional (FAP). Em um contexto real, a análise
seria mais aprofundada e as vivências mais ricas e complexas.

Caso Clínico – Interpretação psicoterapia


positiva
Sally é uma mulher de negócios, casada, 45 anos, na pré-menopausa,
que foi encaminhada por seu terapeuta para avaliação de “anorexia
sexual”. Embora descrevesse um casamento feliz com um marido gentil
e que a apoia, durante os últimos 7 anos Sally observou um decréscimo
insidioso de seu interesse em relação a ele. Na época da avaliação,
ela descreveu sentir um desconforto físico ao ser tocada de maneira
afetuosa. Ela se sentia amedrontada...desconfortável... com repulsa ao
contato sexual. Sua acentuada falta de interesse e desconforto ansioso
em relação às atividades sexuais a angustiava e ao seu marido. Antes
do início da disfunção sexual, Sally descreveu um apetite sexual normal
com o marido durante a maior parte do casamento. Na verdade, desde a
adolescência até quase o final dos 20 anos, Sally tinha sido uma viciada
em sexo, fora de controle. Ela descreveu múltiplos casos breves e transas
de uma noite com aproximadamente 100 homens diferentes durante
aqueles anos. Como consequência de sua promiscuidade extensiva,
tivera dois abortos e contraíra gonorreia e doença pélvica inflamatória
nos seus 20 anos. Sally agora, relatava que gostaria de voltar a ter
relações sexuais com o marido e inclusive a sentir excitada sexualmente
com ele, mas relatou, que a própria presença do marido, tornava-se,
algumas vezes, aversiva.
(LEIBLUM, S. Princípios e Prática da Terapia Sexual. São Paulo: Ed. Roca, 2011)

Sabe-se que a Psicoterapia Positiva surgiu como uma crítica ao modelo médico/
psiquiátrico de focar sempre no aspecto psicopatológico, sempre na doença. Sendo
assim, a Psicoterapia Positiva foca nos aspectos positivos presentes no indivíduo, nas
pessoas, e nos contextos em que interage.

80
PSICOTERAPIA SEXUAL │ UNIDADE IV

Figura 42.

Fonte: <http://psicoter.com.br/wp-content/uploads/2014/07/psico-positiva.jpg>.

No caso da Sally, a paciente relata que gostaria de melhorar a relação sexual com o
marido, que gostaria de voltar a sentir prazer com o toque e com a relação sexual em si.
Uma intervenção e psicoterapia positiva buscaria focar nos pontos positivos da relação
entre ela e o marido. Não somente nos pontos positivos atuais, mas, também, nos pontos
positivos do ponto de vista histórico, afeto, carinho, alegria, orgasmo, cumplicidade,
entre outros fatores. Com esse tipo de intervenção, espera-se que o comportamento
da cliente fique sobre controle dos aspectos positivos e não dos negativos da relação
conjugal/sexual. É importante ressaltar que a análise de caso supracitado, é uma
análise superficial, tendo como base os pressupostos da psicoterapia positiva. Em um
contexto real, a análise seria mais aprofundada e as vivências mais ricas e complexas.

Caso Clínico – Interpretação psicanalítica


Daniel, 26 anos, iniciou a terapia queixando-se do conflito entre sua
identidade autorreconhecida como gay e seu ódio contra os gays,
especialmente os homens gays. Sua repulsa por gays era tão completa
que só conseguia se masturbar com pornografia heterossexual e
fantasias heterossexuais.
(LEIBLUM, S. Princípios e Prática da Terapia Sexual. São Paulo: Ed. Roca, 2011)

Interpretando o caso supracitado à luz da teoria psicanalítica, pode-se perceber


que ocorre uma provável ambivalência. Ambivalência surge da emergência de dois
sentimentos com funções totalmente opostas.

É importante ressaltar que a ambivalência tem origem em conflitos de ordem


inconsciente. Muitas vezes entre conflitos oriundos do ID X SUPEREGO. Percebe-

81
UNIDADE IV │ PSICOTERAPIA SEXUAL

se também a realização do mecanismo de defesa intitulado: formação reativa. Na


formação reativa o indivíduo apresenta ações totalmente opostas ao desejo de ordem
inconsciente. No caso supracitado, o desejo era homossexual, entretanto, a ação do
indivíduo era homofóbica. É importante ressaltar que a análise de caso supracitado,
é uma análise superficial, tendo como base os pressupostos da Psicanálise. Em um
contexto real, a análise seria mais aprofundada e as vivências mais ricas e complexas.

Freud mostrou que a sexualidade humana é desnaturalizada por estrutura, uma vez que
aquilo que havia de instintual foi subvertido a partir da entrada no âmbito da linguagem
e do registro simbólico, razão pela qual devemos sustentar sem tergiversações que a
sexualidade humana, a pulsão e o próprio psiquismo estão em relação negativa com o
seu substrato biológico.

82
Para (não) Finalizar

A importância da Psicologia Sexual


A disciplina sobre Psicologia Sexual buscou abordar os principais transtornos que se
manifestam nas pessoas. A saúde sexual do ser humano é de suma importância e não
pode ser esquecida ou posta em segundo plano uma vez que pode afetar e impactar
diretamente a saúde física e mental do indivíduo. Os impactos causados pela angústia,
situações de conflito e desempenho sexual e social inadequados são difíceis de mensurar,
sobretudo vimos que os transtornos, se não tratados corretamente e com o devido
acompanhamento, podem levar a pessoa à depressão.

Qualquer sinal deve ser percebido, analisado e precisa, sim, receber a devida importância.

Como foi visto, é muito importante abordarmos esse assunto junto aos profissionais
da saúde mental uma vez que, caso haja algum transtorno, o impacto positivo que
um diagnóstico correto pode ter sobre o futuro de pacientes é fundamental para que
o tratamento seja um sucesso. A equipe multidisciplinar vem melhorando a cada dia,
com pesquisas e instrumentos para atender com mais precisão esses pacientes.

83
Referências

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estudantes do Ensino Superior. Badajoz: Universidade da Extremadura, 2007.

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