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INTRODUÇÃO

Quando falamos de um curso superior, estamos nos referindo, indirectamente, a uma Academia
de Ciências, já que qualquer Faculdade nada mais é do que o local próprio da busca incessante
do saber científico1. Este trabalho não tem a pretensão de abranger todas as questões envolvidas
em Psicologia. Trata-se, tão-somente, de uma contribuição para consulta por parte dos
estudantes dos cursos de Licenciatura, a decorrer na UP-Nampula. Pode também servir de
instrumento de consulta a outros interessados em saber um pouco mais sobre Psicologia, esta
ciência que se ocupa do estudo do Comportamento humano. Os aprofundamentos teóricos ou
práticos poderão ser buscados nos materiais sugeridos na bibliografia no final deste trabalho,
assim como em outros recursos.

A estrutura deste trabalho, por si só, serve de modelo para um trabalho realizado em sala de aula.
Além disso, procura-se apresentar e explicar as regras para cada parte de um trabalho científico.

Dada a complexidade dos temas e fenómenos psicológicos, os conteúdos apresentados nesta


sebenta são abordados de uma maneira sintética visando facilitar a leitura e interpretação dos
mesmos.
A sebenta foi elaborada respeitando os programas curriculares de Psicologia, da UP, orientando-
se para o alcance dos seguintes objectivos: Conhecer a diferença entre a Psicologia do senso
comum e a Psicologia Científica: objecto, métodos, ramos da psicologia, assim como áreas de
aplicação dos conhecimentos psicológicos; conhecer a evolução do pensamento psicológico (as
três grandes fases da evolução da Psicologia); relacionar a psicologia com outras áreas de
conhecimento; saber os fundamentos biológicos, sociais, genéticos do comportamento;
surgimento da consciência, teorias do psiquismo; definir o conceito de desenvolvimento, seus
factores; desenvolvimento psicossexual; psicossocial; cognitivo e moral; compreender as teorias
da personalidade e suas propriedades individuais; conhecer os processos psíquico cognitivo;
dominar conhecimentos referentes à esfera emocional, sentimental da personalidade; caracterizar
o grupo, o colectivo e as relações sociais e interpessoais dentro do grupo social.

Segundo afirmou-se, a sebenta está organizado de forma que facilite a consulta, obedecendo a
lógica de agrupamento temático dos conteúdos.

1 J.L. de Paiva Bello. Metodologia científica. 2004


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Visão Geral da Disciplina

Unidade Temática (Conteudos) Horas

Contacto Estudo Independente


Psicologia como Ciência
Pensamento Psicológico antes e depois do
séc. XVIII;
Métodos, princípios, objecto e estrutura da
Psicologia; 3 7

Psicologia do senso comum e Psicologia


Científica.
Desenvolvimento do Psíquico e da
Consciência Humana
O homem como unidade bio-psico-sócio-
cultural;
Fundamentos biológicos da conduta;
Psicofisiologia do sistema nervoso;
O papel da hereditariedade e do meio na
conduta; 7 5
Desenvolvimento filogenético do psíquico
e suas teorias;
Surgimento da consciência no processo da

Actividade humana.
Psicologia Evolutiva e da Personalidade 1.
Conceito de desenvolvimento;
Factores de desenvolvimento e de
crescimento;
8 10
Desenvolvimento e a socialização;
Desenvolvimentos (cognitivo, psicossocail,
psicosexual e
moral).
Psicologia Evolutiva e da Personalidade 2.
Conceito de personalidade e sua estrutura;
Factores gerais que influenciam a 8 10
Personalidade;
Teorias da Personalidade;
7

Propriedades individuais da Personalidade


Processos Psíquicos Cognitivos.
Conceito de sensação, percepção,
memória, pensamento e
imaginação;
Leis, características, propriedades ou
particularidades dos
processos psíquicos;
Teorias dos processos psíquicos ;
12 10
Mecanismos fisiológicos dos processos
psíquicos;
Tipos de processos psíquicos;
Perturbaçãoes dos processos psíquicos;
Pensamento e linguagem suas relações,
aquisição e

desenvolvimento.
Esfera Emocional, Sentimental e Volitiva
da Personalidade.
Conceitos de sentimento, emoções e
vontade;
Bases fisiológicas dos sentimentos,
emoções e vontade;
Funções dos sentimentos, emoções e
vontade;
Características das emoções dos
sentimentos e da vontade; 10 10
Teorias e tipos das emoções, sentimentos e
da vontade;
Perturbações da vontade, dos sentimentos e
das emoções;

Diferenças entre emoções humanas dos


animais.

Total 48 52

Unidade 1: A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA


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1. Ciência e Senso Comum

Antes de iniciarmos o estudo da Psicologia (nosso propósito neste trabalho), mostra-se


importante apresentarmos de forma breve uma visão básica sobre ciência, para que possamos
compreender a Psicologia como ramo científico.

Conhecer é incorporar um conceito novo, ou original, sobre um fato ou fenómeno qualquer. O


conhecimento não nasce do vazio e sim das experiências que acumulamos em nossa vida
quotidiana, através de experiências, dos relacionamentos interpessoais, das leituras de livros e
artigos diversos.

Entre todos os animais, nós, os seres humanos, somos os únicos capazes de criar e transformar o
conhecimento; somos os únicos capazes de aplicar o que aprendemos, por diversos meios, numa
situação de mudança do conhecimento; somos os únicos capazes de criar um sistema de
símbolos, como a linguagem, e com ele registar nossas próprias experiências e passar para outros
seres humanos. Essa característica é o que nos permite dizer que somos diferentes dos gatos, dos
cães, dos macacos, dos leões, e outros animais considerados irracionais; precisamente porque
não têm a capacidade pensante, que caracteriza o homem.

Ao criarmos este sistema de símbolos, através da evolução da espécie humana, permitimo-nos


também ao pensar e, por consequência, a ordenação e a previsão dos fenómenos que nos cerca.

Existem diferentes tipos de conhecimentos:

1.1. O senso comum: conhecimento da realidade

Existe um modo de vida que pode ser entendido como a vida por excelência: é a vida do
quotidiano. É no quotidiano que tudo flúi, que as coisas acontecem, que nos sentimos vivos, que
sentimos a realidade.

Quando fazemos ciência baseamo-nos na realidade quotidiana e pensamos sobre ela. O


conhecimento do quotidiano (senso comum) e o conhecimento científico aproximam-se e
afastam-se contemporaneamente. Aproximam-se enquanto a ciência se refere á realidade e
afastam-se enquanto a ciência abstrai a realidade para compreender melhor, isto é, transforma a
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realidade em objecto de investigação permitindo a construção do conhecimento científico sobre


o real.

Sem o conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativa e erros, a nossa vida quotidiana não teria
o devido sentido, de vida.

A esta experiência acumulada no quotidiano chamamos de senso comum, ou seja, é o


conhecimento intuitivo, espontâneo, de tentativas e erros que facilitam a nossa vida no dia-a-dia.
(imaginemos ter que pensar sempre que atirando algo da janela cai; que o carro em velocidade se
aproxima, etc.). Esta experiência torna-se hábito e passa de geração em geração e assim o senso
comum vai construindo suas «teorias» médicas, físicas, psicológicas (poder de persuasão de um
vendedor, um amigo que escuta bem, etc.).

O conhecimento intuitivo não é suficiente para as exigências do desenvolvimento humano;

Os gregos, por volta do século 4 a.C. já dominavam complicados cálculos matemáticos, ainda
hoje difíceis, mas eles precisavam entender para resolver problemas arquitectónicos, navais,
agrícolas, etc. Com o tempo tais conhecimentos especializaram-se, até atingirem um nível de
satisfação que permitiu ao Homem de atingir a lua. A este tipo de conhecimento, que
definiremos com mais cuidado logo adiante, chamamos de Ciência. Deste modo foram-se
constituindo várias áreas de conhecimento, entre as quais podemos citar:

 Filosofia - Forma mais geral de perceber e compreender a natureza. A especulação em


torno deste tema forneceu um corpo de conhecimentos denominados de filosofia. A
Filosofia é fruto do raciocínio e da reflexão humana. É o conhecimento especulativo
sobre fenómenos, gerando conceitos subjectivos. Busca dar sentido aos fenómenos gerais
do universo, ultrapassando os limites formais da ciência. Leis mais gerais sobre os
componentes do conhecimento, por exemplo os gregos se preocuparam com a origem e o
significado da existência humana

 Religião - Formulação de um conjunto de conhecimentos sobre a origem do Homem,


seus mistérios, princípios morais. A fonte destas tradições e crenças é a Bíblia (registo do
conhecimento religioso judaico-cristão), base da conduta para muitos, diferente da
história. É um conhecimento revelado pela fé divina ou crença religiosa. Não pode, por
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sua origem, ser confirmado ou negado. Depende da formação moral e das crenças de
cada indivíduo.

 Ciência (Conhecimento Científico) - procura conhecer, além dos fenómenos, suas


causas e leis. É o conhecimento racional, sistemático, exacto e verificável da realidade.
Sua origem está nos procedimentos de verificação baseados na metodologia científica.

 Arte - traduz a emoção, o belo e a sensibilidade, na pré-história encontramos desenhos do


corpo humano nas paredes das cavernas que exprimiam tal sensibilidade e emoção.

 Ética (moral) - valores morais, normas de conduta.

Ciência, Arte, Ética, Religião, Filosofia, e Senso Comum são domínios do conhecimento
humano. Nosso objectivo é definir a Psicologia como ciência. Para tal constitui imperativo
analisar o que é ciência?”, para que possamos compreender a psicologia como ciência.

1.2. Evolução da Ciência Psicológica

1.2.1. Os Grandes Períodos de Evolução da Psicologia

Pode-se considerar três grandes períodos/fases da evolução da psicologia.

i. Fase filosófica

É a fase relacionada com a Ética e a Filosofia. Compreendia o estudo da natureza dos reflexos da
mente e da alma. Era um saber especulativo, de carácter racional. Os filósofos explicavam os
fenómenos da natureza (formação de cosmos e origem do próprio Homem) de forma mitológica.
O saber psicológico estava envolto à vasta área do conhecimento filosófico, portanto,
classificado como especulativo, por não poder provar suas conclusões.

ii. Fase pré-científica (psicologia empírica)

Dedicava-se ao estudo dos factos psíquicos que eram interpretados com base na experiência do
dia-a-dia, isto é, do quotidiano vivido. É nesta fase que se abre o caminho para a cientificidade
da psicologia. A interpretação e consequente conhecimento dos fenómenos psíquicos eram
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fundamentados em parte pelo saber filosófico, influenciado pela experiência quotidiana (social e
reflexão sistemática) dos cientistas.

iii. Fase científica

Estuda os fenómenos e processos psíquicos, descreve-os, explica e estabelece as relações causa-


efeito. Nesta fase a psicologia torna-se ciência autónoma: define o seu objecto de estudo,
métodos e técnicas próprias, leis e princípios que regem o estudo da psicologia, utiliza uma
linguagem rigorosa e determina os seus objectivos e finalidades.

Contribuiu de forma marcante para a cientificação da Psicologia a institucionalização, pelo


psicofisiologista alemão Wilhelm Wundt, em 1879, de um laboratório de Psicologia, na cidade
alemã de Leipzig. O laboratório permitiu o desenvolvimento de métodos de estudo próprios, a
reverificação do objecto de estudo, e consequente afirmação de seu conceito como ciência que
estuda os fenómenos psíquicos, ou simplesmente, estudo do comportamento.

1.3. O Pensamento Psicológico Antes e Depois do Século XVIII

1.3.1. Psicologia e História

Por de trás de qualquer produção humana material ou espiritual (cadeira, computer, religião),
existe sempre uma história

Cada um tem uma história pessoal, longa ou curta, a psicologia tem cerca de dois mil anos de
história

Para compreender a psicologia é necessário compreender a sua história, história essa que está
ligada a cada momento histórico, ás exigências do conhecimento da humanidade, as demais áreas
de conhecimento humano e aos novos desafios colocados pela realidade económica e social e
pela insaciável necessidade do Homem de compreender a si mesmo.

1.3.2. A Psicologia entre os Gregos

É entre os filósofos gregos que surge a primeira tentativa de sistematizar uma psicologia. De
facto, os avanços permitem que os cidadãos se ocupem de coisas do espírito, como a filosofia e a
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arte – homens como, Sócrates, Platão, Hipócrates e Aristóteles dedicam-se a compreender esse
espírito empreendedor do conquistador grego, ou seja, a Filosofia começou a especular o
Homem e a sua interioridade. O próprio termo Psiché= alma e logos= logos (razão), portanto
etimologicamente Psicologia significa estudo da alma.

Filósofos pré-socráticos - preocupam-se em definir a relação do Homem com o mundo através


da PERCEPÇAO = o mundo existe porque o Homem o vê ou o Homem vê o mundo que já
existe – oposição entre idealistas (a ideia forma o mundo) e materialistas (a matéria que forma
o mundo já dada para a percepção).

Sócrates (496-399 a.C.)

Com ele a Psicologia na antiguidade ganha consistência: segundo Sócrates o que distingue o
Homem do animal é a RAZÃO porque permite ao Homem de sobrepor-se aos instintos, que
seriam a base da irracionalidade – definindo a razão como essência e peculiaridade do Homem,
Sócrates abre um caminho que será explorado pela Psicologia: fruto desta reflexão são por
exemplo, as Teorias da consciência que de certa forma são resultado desta sistematização na
Filosofia.

Platão (427-347 a.C.)

Discípulo de Sócrates, procura o «lugar» para a razão no nosso corpo (cabeça), onde se encontra
a ALMA do Homem. A medula será o elemento de ligação da alma com o corpo - este elemento
era necessário porque Platão concebia a alma separa do corpo (dualismo). Quando alguém
morria a matéria (corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar outro corpo
(reincarnação).

Hipócrates e a Teoria dos Humores (496-361 a.C.)

Uma análise mais acurada das diferenças individuais, estreitamente ligadas a uma reflexão mais
sistemática na relação mente-corpo, foi feita com Hipócrates de Cosmes. Médico e a sua ciência
era finalizada á medicina, mas, enquanto filósofo, funda uma verdadeira e própria ciência do
Homem onde confluíram observações sociológicas, psicológicas e fisiológicas. O contínuo
esforço de síntese e de sistematização de tais observações não tiveram precedentes na história do
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pensamento humano e permanecerão em seguida apreciados por um período de 20 séculos.


Todavia, a medicina hipocrática passou na história como aquela que se baseava na teoria dos
quatro humores.

Hipócrates defende que existem 4 humores no corpo humano: o sangue, a fleuma, a bílis
amarela e a bílis preta. Segundo a prevalência de cada um destes elementos sobre o outro a
pessoa desenvolverá um certo temperamento que poderá ser respectivamente: sanguíneo,
fleumático, colérico e melancólico e também vários tipos de predisposições á doença. O
Homem é «são» quando estes humores estão «reciprocamente bem temperados por propriedade e
quantidade» e a mistura é completa. Contrariamente a isto o Homem é doente quando existe
excesso ou defeito destes elementos.

Mais importantes ainda são os seus estudos neurológicos. Numa das suas obras afirma que o
cérebro é o órgão mais potente do corpo e que os órgãos de sentido actuam em base á sua
capacidade de discernimento. Ainda nesta obra Hipócrates descreve os delírios e alucinações e
afirma na dependência de anomalias das faculdades intelectuais dos traumas cranianos.

Com estas afirmações, Hipócrates põe em relevo uma concepção que se está afirmando no
pensamento grego, isto é, que o Homem é parte da natureza e pode ser estudado com os métodos
da ciência natural. Esta concepção encontrou a sua expressão mais forte em Aristóteles.

Aristóteles (384-322 a.C.)

Discípulo de Platão, foi um dos mais importantes pensadores da história da filosofia – superou o
dualismo da dissociação entre a alma e o corpo (inovação). Para ele a psyché era o princípio
activo da vida, isto é, tudo aquilo que cresce, se reproduz e alimenta possui a sua psyché ou alma
(vegetação, animais, Homem, possuem alma:

 Alma vegetativa – vegetais: função reprodutiva e alimentar

 Alma sensitiva – animais: função de percepção e movimento

 Vegetativa, sensitiva + racional – função pensante

Aristóteles estuda as diferenças entre a razão, percepção e sensações, estudo sistematizado no


“Da Anima” o qual pode ser considerado o primeiro tratado de Psicologia.
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Portanto, 2300 anos antes do advento da Psicologia Científica, os gregos já haviam formulado
duas “Teorias”: Platónica – que postulava a imortalidade da alma e a concebia separada do
corpo, e a Aristotélica – que afirmava a mortalidade da alma e a sua relação de pertecimento ao
corpo.

1.3.3. A Psicologia no Império Romano

O império romano nasce às véspera da era cristã, domina parte da Grécia, Europa e do Oriente
Médio

Característica deste período é o advento do cristianismo. Força religiosa que passa á força
política dominante que não obstante as invasões barbarias de 400 d.C., que levam á degradação
territorial e económica, o cristianismo sobrevive e até se fortalece, tornando-se a religião
principal da Idade Média, período que então se iniciara:

Falar da psicologia neste período é relacionada ao conhecimento religioso, o qual dominando o


poder económico e político monopolizava também o saber e, consequentemente o estudo do
psiquismo.

Santo Agostinho (354-430 d.C.)

Inspirado em Platão faz cisão entre corpo e alma, a diferença para ele é que a alma, não é
somente a sede da razão mas também a prova de uma manifestação divina no Homem. A alma
era imortal por ser o elemento que liga o Homem á Deus e sendo a alma também a sede do
pensamento a Igreja passa a se preocupar também com a sua compreensão.

São Tomas de Aquino (1225-1274)

Vive numa período que preanuncia a ruptura da Igreja católica, o advento do protestantismo –
época que prepara a transição para o capitalismo, com a revolução francesa e a revolução
industrial na Inglaterra. Perante esta crise social e económica a Igreja devia encontrar novas
justificações em relação ao conhecimento como a relação com Deus e o Homem. São Tomas
d’Áquino foi buscar em Aristóteles a distinção entre essência e existência – como Aristóteles, ele
considera que o Homem, na sua essência, busca a perfeição através da sua existência mas
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introduzindo o ponto de vista religioso, ao contrário de Aristóteles, afirma que somente Deus
seria capaz de reunir a essência e a existência, em termos de igualdade. Portanto, a busca da
perfeição do Homem seria a busca de Deus.

S. Tomás encontra argumentos racionais para justificar os dogmas da Igreja e continua


garantindo para ela o monopólio do estudo do psiquismo.

1.3.4. A Psicologia do Renascimento

+ 1200 depois da morte de S. Tomás inicia uma época de transformações radicais no mundo
europeu: RENASCIMENTO ou RENASCENCA – o mercantilismo, e a descoberta de novas
terras (América, Índia, Rota pacífica) propicia a acumulação das riquezas para a Franca, Itália,
Inglaterra, Franca, Espanha. Na transição para o capitalismo emerge nova forma de organização
social e económicas, dá-se também um processo de valorização do Homem.

As transformações ocorrem no sector humano:

+ 1300 Dante escreve a “Divina Comédia”

+ 1475-1478 - Leonardo da Vinci pinta o ”quadro da Assunção”

+ 1513 – Maquiavel escreve o “Príncipe”, obra clássica da política

 Alguns marcos que definiram o avanço da ciência:

 1543 – Copérnico mostra que o nosso planeta não é o centro do universo

 1610 Galileu estuda a queda dos corpos, realizando as primeiras experiências da física
moderna – avanço que principia o inicio da sistematização do conhecimento científico
- começam a estabelecer-se métodos e regras básicas para a construção de
conhecimento científico.

René Descartes (1596-1659)

um dos filósofos que mais contribuiu para o avanço da ciência postula a separação entre a mente
(alma, espírito) e corpo, afirmando que o Homem possui uma substancia material e uma
substancia pensante e que o corpo, desprovido do espírito era somente uma máquina -
dualismo corpo e mente que torna possível o estudo do corpo humano morto, o que era
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impensável nos séculos anteriores (o corpo era considerado sagrado pela Igreja, por ser a sede da
alma) e dessa forma possibilita o avanço da anatomia e da fisiologia que inicia a contribuir muito
para o progresso da Psicologia.

1.4. A Origem da Psicologia Científica

No século XIX, o papel da ciência torna-se necessário devido ao crescimento na ordem


económica – CAPITALISMO que traz a INDUSTRIALIZAÇÃO. A ciência deve dar novas
respostas e soluções práticas no campo da técnica. Para melhor compreensão, analisemos as
características da sociedade nalgumas fases do desenvolvimento influenciadas pela política
social e económica:

1.4.1. PERÍODO FEUDAL:

Caracteriza-se pela:

 Produção de subsistência

 Relação Senhor feudal – servo

 Sociedade estável

 Papéis eram baseados no sexo

 Hierarquia – base de verdade; centralização do poder;

Esse mundo fechado é o universo finito, reflectia e justificava a hierarquia social


inquestionável do fundo.

1.4.2. PERÍODO CAPITALISMO

Põe o mundo em movimento com a necessidade de abastecer os mercados e produzir mais


algumas características desta fase:

 Buscou nova matéria – prima na natureza


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 Criou novas necessidades; questiona as hierarquias para derrubar a nobreza e o clero


dos seus lugares há séculos estabelecidos

 O universo também foi posto em movimento, o sol tornou-se o centro do universo, que
passou a ser visto sem hierarquização;

 Superou-se o antropocentrismo (o Homem – centro do universo), passando a ser visto


um ser livre, capaz de construir o futuro;

 O servo, liberto do seu vínculo com a terra pode escolher seu trabalho e seu lugar
social

 O capitalismo torna todos os Homens consumidores, em potências das mercadorias


produzidas

 O conhecimento tornou-se livre, independente da fé, os dogmas da Igreja foram


questionados e a racionalidade do Homem apareceu como a grande possibilidade de
construção do conhecimento.

1.4.3. A BURGUESIA:

O Capitalismo traz como consequência a formação de uma nova classe, a burguesia, com as
seguintes características:

 Disputa o poder e surge como nova classe social e económica

 Defende a emancipação do Homem para emancipar-se também

 Era preciso quebrar a ideia do universo estável, para poder transformá-lo, era preciso
questionar a NATUREZA para viabilizar a sua exploração em busca de matérias-
primas – condições materiais para o desenvolvimento da ciência moderna:
CONHECIMENTO COMO FRUTO DA RAZÃO

 Possibilidade de desvendar a natureza e leis de observação rigorosa e objectiva – não


mais submetidos a leis ou dogmas religiosos ou pela actividade eclesial e portanto
sentiu-se a necessidade da ciência:
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A possibilidade de realizar trabalhos de pesquisa mais aprofundados, que exigiam algum tipo de
suporte financeiro (só possível com a classe dos burgueses) fez com que surgissem novos
contornos nas diversas áreas do saber. São exemplos disso:

 Surge Charles DARWIN – enterra o antropocentrismo com a sua tese evolucionista.


(teoria da evolução das espécies – selecção natural).

 HEGEL – sublinha a importância da história para a compreensão humana – a ciência


avança e se torna referencial para o mundo – verdade procurada na ciência; a própria
filosofia adapta-se aos tempos.

 Augusto COMTE - com o seu Positivismo, postula a necessidade de maior rigor


científico na construção dos conhecimentos nas ciências humanas, desse modo
propunha o método das ciências naturais: física, como modelo de construção do
conhecimento

Consequências

Na metade do século XIX temas e problemas até então estudados pelos filósofos passam a ser
estudados pela fisiologia, neurofisiologia em particular – formulação de teorias dobre o SNC,
demonstrando que o pensamento, as percepções e os sentimentos humanos eram produtos deste
sistema.

O capitalismo trouxe uma “máquina” - criação fantástica que determinou a forma de ver o
mundo ( o mundo visto como uma máquina), o mundo como um relógio, todo o universo como
se fosse uma máquina, isto é, que podemos conhecer o seu funcionamento, a sua regularidade, as
suas leis, uma forma de pensar que atingiu as ciências humanas, facto que, para se conhecer o
psiquismo humano passa a ser necessário compreender o mecanismo e o funcionamento da
máquina de pensar do Homem: o CÉREBRO!

Assim a psicologia começa a trilhar os caminhos da fisiologia, da neuroanatomia e da


neurofisiologia.

Resultado disso, em 1846, a Neurologia descobre que a doença mental é fruto da acção directa
ou indirecta de diversos factores sobre as células cerebrais; Neuroanatomia descobre que a
actividade motora nem sempre está ligada á consciência para não estar necessariamente na
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dependência dos centros cerebrais superiores, p.ex. quando alguém queima a mão na chapa
quente, primeiro tira a mão para depois perceber o que aconteceu, fenómeno denominado
reflexo, e o estímulo que chega a medula espinhal, antes de chegar aos centros cerebrais
superiores, recebe uma ordem para a resposta, que é tirar a mão; caminho natural dos
fiosologistas, estudo da fisiologia do olho e a percepção das cores – fenómenos psicológicos.
Foram importantes os estudos do psicofisiologista russo Ivan PAVLOV sobre o reflexo
condicionado.

Em 1860 é formulada uma lei no campo da psicofísica, a lei de Fechner–Weber que estabelece
a relação estímulo – sensação, permitindo a sua mensuração – aumento da intensidade de uma
luz e o seu efeito – com esta lei os fenómenos psicológicos vão adquirindo status científicos,
porque, para a concepção da ciência da época o que não era mensurável, não era possível de
estudo científico

Wilhelm Wundt (1832-1926), da Universidade de Leipzig, na Alemanha, cria um laboratório


para realizar experimentações na área da psicofísiologia – por este facto e da extensa produção
teórica na área é considerado o Pai da Psicologia Moderna, Psicologia científica.

Em resultados de seus estudos Wundt desenvolve a concepção de:

 Paralelismo psicofísico: aos fenómenos mentais correspondem fenómenos


orgânicos, por exemplo, estimulação física: picada de agulha na pele teria uma
correspondência na mente deste indivíduo.

 Método: para explorar a mente ou a consciência do indivíduo, Wundt, cria um


método que denomina introspecionismo – o experimentador pergunta ao sujeito,
especialmente treinado para a auto-observação, os caminhos percorridos no seu
interior por uma sensorial (a picada de agulha por exemplo).

1.5. A CIÊNCIA

Como as explicações mágicas, baseadas no senso comum, não bastavam para compreender os
fenómenos, os seres humanos evoluíram para a busca de respostas através de caminhos que
pudessem ser comprovados. Desta forma, nasceu a ciência, metódica, que procura sempre uma
aproximação com a lógica.
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O ser humano é o único animal na natureza com capacidade de pensar. Esta característica
permite que os seres humanos sejam capazes de reflectir sobre o significado de suas próprias
experiências. Assim sendo, é capaz de novas descobertas e de transmiti-las a seus descendentes.

O desenvolvimento do conhecimento humano está intrinsecamente ligado à sua característica de


viver em grupo, ou seja, o saber de um indivíduo é transmitido a outro, que, por sua vez,
aproveita-se deste saber para somar outro. Assim evolui a ciência.

Ciência: do latim «scire» que significa conhecimento, pode ser definida como o conjunto de
conhecimentos sobre factos ou aspectos da realidade (objecto de estudo) expresso por meio de
uma linguagem precisa e rigorosa. Esses conhecimentos devem ser obtidos de forma:

Características da Ciência

A Ciência é racional, sistemática, exacta e verificável da realidade. Sua origem está nos
procedimentos de verificação baseados na metodologia científica. Podemos então dizer que o
Conhecimento Científico:

- É racional e objectivo.
- Atém-se aos fatos.
- Transcende aos fatos.
- É analítico.
- Requer exactidão e clareza.
- É comunicável.
- É verificável.
- Depende de investigação metódica.
- Busca e aplica leis.
- É explicativo.
- Pode fazer predições.
- É aberto.
- É útil (Galliano, 1979, apud Paiva Bello, 2004;s/p).

A ciência é um processo; facto que um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo
anteriormente desenvolvido onde negam-se, reafirmam-se, descobrem-se novos aspectos, e
assim a ciência avança;
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A Ciência deve verificar a objectividade; suas as conclusões devem ser passíveis de verificação
e isentas de emoções, para tornarem-se válidas para todos.

A Ciência possui objecto específico, linguagem rigorosa/técnica; possui métodos e técnicas


específicas,

O processo cumulativo do conhecimento, objectividade fazem da ciência uma forma de


conhecimento que supera em muito o senso comum = características que permitem que
denominemos científico a um conjunto de conhecimentos.

Não existe um divisor nítido entre o conhecimento empírico e científico, visto que a pesquisa
científica não se realiza no «vácuo intelectual», mas sempre está mergulhada em um contexto –
o conhecimento científico nasce, em última instância, de problemas observados e acontecimentos
encontrados na experiência humana.

1.5.1. Objectivos/propósitos da Ciência

1. oferecer uma explanação objectiva, factual e útil do universo. Neste caso, ela procura
uma explanação verificável dos fenómenos naturais e sociais, diferentes, pois, da
abordagem artística, religiosa, etc. (central)

2. Controlar – controle prático da natureza e vida social (ervas daninhas-agricultura;


inseminação artificial, clonação (pecuária)....

3. Descrever, compreender o mundo - curiosidade natural do Homem, compreender o


mundo, tornando-o inteligível é uma necessidade, é possível compreender o mundo
somente se conhecemos a relações e inter-relações das variáveis dos fenómenos
estudados – como controlar a malária, por exemplo, se não forem descritas as suas
características ou os seus sintomas, se não for conhecida a causa e a evolução da doença?

4. Prever: a sistematização objectiva da ciência permite uma generalização no espaço e no


tempo e graças a este objectivo muitas vidas tem sido salvas de terramotos, maremotos,
vendavais, etc.
22

1.6. A PSICOLOGIA CIENTÍFICA

O berço da Psicologia moderna foi a Alemanha de final do século 19. Wundt, Weber e Fechner
trabalharam juntos na Universidade de Leipzing – seguiram para aquele País muitos estudiosos
dessa nova ciência; como o inglês Edward B. Titchner e o americano William James.

Seus status de ciência é obtido a medida que se “liberta” da filosofia, que marcou a sua história
até aqui e atrai novos estudiosos e pesquisadores , que sob novos padrões de produção de
conhecimento, passam a:

 Definir seu objecto de estudo (comportamento, a vida psíquica, a consciência)

 Delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de conhecimento


como a Filosofia, Fisiologia

 Formular métodos de estudo deste objecto

 Formular teorias enquanto um corpo consistente de conhecimento na área

A Psicologia científica nasce na Alemanha mas se desenvolve, cresce rapidamente nos Estados
Unidos como resultado de grande avanço económico colocado na vanguarda do sistema
capitalista. É ali que surgem as primeiras abordagens ou escolas em psicologia, as quais deram
origem ás enumeras teorias que existem actualmente. Essas abordagens são:

O Funcionalismo, de William James (1842-1910)

O Estruturalismo, de Edward Titchner (1867 – 1927)

O Associacionismo, de Edward Thorndike (1874-1949)

1.7. As Primeiras Abordagens Teóricas da Psicologia


As primeiras abordagens ou escolas em psicologia, as quais deram origem às enumeras teorias
que existem actualmente são consideradas como tendo sido as seguintes:

O Funcionalismo (Escola funcionalista)

Primeira sistematização genuinamente americana de conhecimentos em Psicologia – numa


sociedade que exigia o pragmatismo para o seu desenvolvimento económico acaba por exigir dos
23

cientistas americanos o mesmo espírito. Portanto, para a escola funcionalista de James importa
responder “o que fazem os homens e “por que o fazem”. Para responder a isto, James elege a
consciência como o centro de suas preocupações e bisca a compreensão do seu funcionamento,
na medida em que o Homem usa para adaptar-se á realidade.

O Estruturalismo

Começa com Wundt e continua com Titchner, os quais definem como o objecto de estudo da
psicologia também mas focalizando os seus aspectos estruturais, isto é os estados elementares da
consciência como estrutura do SNC. Inaugurada por Wundt mas somente o seu seguidor
Titchner usa o termo estruturalismo pela primeira vez para diferenciá-lo do funcionalismo. O
método de observação de Titchner, assim como o de Wundt, é o introspeccionismo, e os
conhecimentos psicológicos produzidos são eminentemente experimentais, isto é, produzidos a
partir do laboratório.

O Associacionismo

Edward Thorndike, primeiro fundador de uma teoria de aprendizagem na Psicologia de


aprendizagem na Preocupação da aplicação prática da psicologia e não só especulação filosófica.

Associacionismo origina-se da concepção de que a aprendizagem se dá por processo de


associação das ideias mais simples ás mais complexas. Assim para aprender algo complexo
precisamos de aprender as ideias simples associadas aquele conteúdo.

Thorndike formula a “lei de efeito” que seria de grande importância na psicologia


comportamentalista. De acordo com essa lei “todo o comportamento de um organismo vivente
tende a se repetir, se nós o recompensarmos (efeito) o organismo assim que repetir/emitir o
comportamento. Por outro lado o comportamento tenderá a não acontecer, se o organismo for
castigado (efeito) após a sua ocorrência. (ex. se apertarmos o botão da rádio formos premiados
pela música, em outras oportunidades apertaremos o mesmo botão, bem como generalizaremos
essa aprendizagem para outros aparelhos, como toca discos, gravadores, etc.

1.8. As Principais Teorias da Psicologia do Século XX

A psicologia enquanto ramo da Filosofia estuda a alma, a psicologia científica que Wundt
preconiza, a “psicologia sem alma”, o conhecimento científico produzido no laboratório com uso
24

de instrumentos de medição/mensuração. Da subordinação á Filosofia a Psicologia se liga á


medicina, usando o método de investigação das ciências naturais como critério rigoroso da
construção do conhecimentos.

A psicologia científica, que se constituiu de 3 escolas (Associacionismo, Estruturalismo e


Funcionalismo) foi substituída neste século XX, por novas Teorias.

As três mais importantes tendências teóricas da psicologia neste século consideradas por
enumeros autores são: Behaviorismo, Gestaltismo e a Psicanálise.

1.8.1. O Behaviorismo ou Comportamentalismo

O Comportamentalismo, ou Teoria S-R do inglês Stimuli – Response, nasce com o americano


Watson e se desenvolve na América em função das aplicações práticas, tornou-se importante por
ter definido o facto psicológico de modo concreto a partir da noção de comportamento
(behavior).

Em 1913, o americano John Watson numa revista intitulada “Psicologia – como os


behavioristas a vêm”, inaugura o termo behaviorismo. Behavior, comportamento postulado por
Watson como objecto da Psicologia, dá á psicologia a consistência procurada por séculos:
objecto observável, mensurável cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes
condições e sujeitos.

O carácter observável do objecto contribui para o alcance de status da ciência da psicologia, ou


seja para a ruptura “definitiva” com a filosofia. Watson defende uma perspectiva funcionalista
para a psicologia, isto é, o comportamento deveria ser estudado como função de certas variáveis
do meio.

Watson busca uma psicologia sem alma e sem mente, livre de conceitos mentalistas e métodos
subjectivos e que tenha a capacidade de prever e controlar.

R – S + para referir-se ao que o organismo faz e as variáveis ambientais que interagem com o
sujeito

Comportamento – unidade básica de descrição = ponto de partida para o desenvolvimento da


ciência do comportamento
25

O comportamentalismo nega o estudo da consciência: o comportamentalismo representa uma


reviravolta radical no que se refere ao objecto de estudo da psicologia, do momento em que se
limita ao estudo do comportamento observável e nega o estudo da consciência. Watson afirmou
que a psicologia deve considerar-se a ciência do comportamento, pois a “consciência” e a alma
são objectos de pesquisa inconsistentes para uma ciência empírica. Segundo Watson, a tarefa da
psicologia consistia no estudar as relações cientificamente determinadas entre as situações
estimulantes (S) e a reacção provocada (R):

 Paradigma comportamentalista: Estimulo (S) Resposta (R)

Estudadas as conexões, os seus mecanismos, e identificadas as leis, pode-se explicar cada uma
das reacções como resultado de um determinado estímulo e poder prever qual reacção pode
seguir uma determinada situação estimulante.

Os comportamentalistas admitem entre o estímulo e a resposta esteja presente a actividade do


cérebro e do SNC, mas afirma que tal actividade está fora do alcance e que a psicologia não deve
interessar-se daquilo que acontece dentro do organismo (processos neurofisiológicos, processos
inconscientes, etc.). Concessão esta dita “black box” sustenta que a psicologia deve interessar-se
daquilo que entra (input) na “caixa preta” e daquilo que sai (output) sem ter que se ocupar
necessariamente da complexa actividade desenvolvida pelo cérebro no seu interior. Deste modo
os comportamentalistas reduzem o âmbito da psicologia somente ao estudo do comportamento
observável mediante o uso dos métodos objectivos de verificação, estudando a regularidade do
comportamento independente dos correlatados neurofisiológicos.

“Black Box”

Estimulo(R) Resposta (R)

Processos neurofisiológicos

Processos inconscientes

O quadro negro representa a “blac box” ou seja simboliza tudo aquilo que não é do interesse para
o estudo do psicólogo comportamentalista.
26

1.8.1.1. Análise experimental do comportamento

Frederik SKINNER (1904-1990), americano, é considerado o mais importante sucessor de


Watson. A sua teoria tem até hoje uma influência. Inaugura o behaviorismo radical, termo
cunhado pelo próprio Skinner em 1945, para designar uma filosofia da ciência do
comportamento (que ele se propôs defender) por meio da análise experimental do
comportamento. Algumas noções importantes no behaviorismo de Skinner são:

COMPORTAMENTO OPERANTE: base da corrente formulada por Skinner, entendendo este


conceito é necessário retroceder aos conceitos de comportamento reflexo ou respondente.

1) Comportamento respondente: usualmente chamada de “não voluntário”e inclui as


respostas que são (“produzidas”) por estímulos antecedentes do ambiente --- interacção
estímulo –resposta (ambiente – sujeito) incondicionadas (não dependem da
aprendizagem (limão -salivação; ou as famosas “lágrimas de cebola”, etc.

Reflexos condicionados – estímulos acompanhados/pareados com outros que produzem resposta.

2) Comportamento operante ( tem efeito sobre o mundo: ex: tocar um instrumento


musical)

Nos anos de 1930, na Universidade de Haward (EUA), Skinner desenvolvendo o seu trabalho de
estudo do comportamento respondente, teoriza sobre um outro tipo de relação indivíduo-
ambiente, a qual viria a ser nova unidade de análise da ciência: comportamento operante, o qual
teria a maioria das nossas interacções com o ambiente – comportamento operante opera sobre o
mundo, por assim dizer, quer directa quer indirectamente e abrange um leque amplo de
actividade humana, da actividade do recém nascido (balbuciar, acatar-se a um objecto, etc.) aos
mais sofisticados apresentados pelo adulto.

Para Keller o comportamento operante inclui todos os movimentos de um organismo dos quais
se possa dizer que, em algum momento, têm efeito sobre ou fazem algo ao mundo em redor. O
comportamento operante opera sobre o mundo, por assim dizer, quer directa, quer
indirectamente”.
27

1.8.2. A Psicologia da Forma: A Escola da Gestalt

Gestalt é um termo alemão que se pode traduzir como «forma»; «figura»; «configuração»;
entendendo também um aspecto de organização da que se entende melhor quando se fala da
percepção visível;

As principais figuras da Gestalt são os alemães: Max Wertmeir, Wolfgang Kohler e Kurt
Kofka.

A Gestalt nega decompor a consciência nos seus elementos mais elementares, nega a concepção
e métodos que descendem deste estudo e que tendem a uma teoria elementista

Os psicólogos da gestalt estudam em particular os processos cognitivos em particular a


percepção visual e o pensamento

Conceito fundamental da psicologia da forma é o aforisma: «o todo é mais da soma das


partes» atravessa todos os escritos da Gestalt

A B

As leis da percepção visiva: são leis sobre a constituição das totalidades perceptivas que eram
chamadas Gestalten ou factores estruturantes. Essas leis afirmam que as partes de um campo
perceptivo tendem a construir outras gestalts (formas unitárias) que são de tal forma coerentes e
unidas, quanto mais os elementos são
1. Vizinhos (lei da aproximação)
2. Semelhantes (lei da semelhança)
3. Tendem a forma formas fechadas (lei do fechamento)
4. Dispostos ao longo duma mesma linha (lei da continuação)
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1.8.3. A Psicanálise/Freud

Sigmund FREUD (1856-1939), médico vienense (Áustria), alterou, radicalmente, o modo de


pensar a vida psíquica. Freud ousou colocar os “processos misteriosos” do psiquismo”, suas
“regiões obscuras”, isto é as fantasias, os sonhos, os esquecimentos, a interioridade do homem,
como problemas científicos. A investigação sistemática destes problemas levou Freud á criação
da Psicanálise.

Freud emprega o termo Psicanálise pela primeira vez em 1896. A Psicanálise constituiu-se como
método e como teoria, e ainda como terapia. Como método consiste na interpretação e busca do
significado oculto daquilo que é manifesto por meio de palavras ou acções e como teoria pode
ser definida como um conjunto de conhecimentos, sistematizados sobre o funcionamento da vida
psíquica.

Freud, como hebreu, herdou uma rica tradição do pensamento hebraico, e por outro lado, de
formação clássica (filosofia antiga) e perito linguista, ele veio a contacto com a literatura antiga e
moderna. Sobre esta base assentaram-se os seus estudos de medicina e ciências naturais, no
campo da fisiologia, neurofisiologia e farmacologia. Teve o mérito de ter descoberto a
sexualidade (base fundamental de seus estudos), embora este fosse um tema debatido antes da
publicação do sua obra intitulada ”os três ensaios sobre a teoria sexual”.

Freud postula o inconsciente como objecto de estudo da Psicologia, da mesma forma que quebra
a tradição da psicologia como uma ciência da consciência e da razão.

1.8.3.1. A Teoria da Personalidade segundo Freud

Freud considerava a personalidade constituída de três grandes sistemas/estruturas cada um com


sistemas próprios mas integrados: ID, EGO e SUPEREGO.

O Id

O ID ou incosciente (infra-eu) é o núcleo primitivo da personalidade. Não sofre as influências


das forças sociais e conscientes que forma o indivíduo. A sua preocupação é satisfazer as
necessidades instintivas de acordo com o princípio de prazer. O Id é a estrutura original básica e
mais central. As leis lógicas do pensamento não se aplicam ao Id O Id é a sede das pulsões e dos
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desejos recalcados e representações recalcadas (recalcamento = processo mental pelo qual


pensamentos insuportáveis ao eu consciente são reprimidos) (agressivas e sexuais). Não conhece
juízos de valor, nem o bem do mal, nenhuma moralidade. Os conteúdos do Id são quase todos
inconscientes, assim como o material que foi considerado inaceitável pela consciência. O Id não
suporta energia de muita tensão e o seu objectivo é reduzir a tensão dolorosa aos baixos níveis
possíveis. O Id é baseado no princípio do Prazer.

Ego (Eu)

O Ego é a consciência propriamente dita. É a personalidade enquanto actua no momento


presente. Caracteriza-se pela actividade consciente (percepções exteriores e elaboração de
processos intelectuais) e a capacidade para estar em contacto com a realidade exterior. O Ego é
dominado pelo princípio da realidade (pensamentos objectivos, actos socializados, actividade
racional e verbal). Também caracteriza-se pelo estabelecimento de mecanismos de defesa contra
as invasões da pulsão. As funções básicas do Ego são: percepção, memória, sentimento,
pensamento. Em suma, o Ego tem a função de ajustar o homem ao meio da realidade física e
social em que vive. É um instrumento de adaptação do indivíduo ao meio. O Ego é baseado no
princípio do Realidade.

O Ego, orientado à realidade do mundo que o circunda, é a chave da adaptação que procura de
mediar as pressões ditadas pelo princípio de prazer, a busca do prazer e da gratificação imediata,
com as exigências impostas pelo principio da realidade, provenientes do mundo externo. O Ego
utiliza a angústia como sinal de alarme diante dos perigos do mundo interno (pulsional), por
outro lado, organiza mecanismos de defesa que consentem de moderar as exigências do Id com
aquelas do mundo externo.

Os mecanismos de defesa: são mecanismos que o indivíduo usa para deformação da realidade,
ou melhor, são processos realizados pelo ego e são inconscientes, isto é, ocorrem
independentemente da vontade do indivíduo. Os mais comuns são: Recalcamento, formação
reactiva, regressão, projecção, racionalização, sublimação, negação.
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Super-Ego (super-eu)

O superego é o resultado da interiorização de censuras que a criança faz suas (identificação) e


que lhe vêm dos pais ou do meio ambiente. O conteúdo do superego refere-se a exigências
sociais e culturais. Representa o ideal do que é real. É defensor dos impulsos rumo a perfeição.
Origina-se com o complexo de Édipo, a partir da interiorização das proibições, dos limites e da
autoridade. O superego é o depósito das normas morais e modelos de conduta. As suas funções
são a consciência, a auto-observação e a formação das ideias. Podemos afirmar que o Superego é
baseado no princípio da Moralidade/sociabilidade.

A combinação das três camadas, segundo Freud constitui factor importante para a formação e
estruturação da Personalidade.

As investigações sobre os conteúdos do Id, conduziram Freud à formulação duma doutrina geral
das pulsões nas quais a libido exprime-se percorrendo as zonas eróticas, cada uma das quais
representa uma determinada fase de evolução (os estádios do desenvolvimento psicossexual). O
desenvolvimento da libido pode acontecer naturalmente ou enfrentar bloqueios por interferência
da fixação o da regressão que bloqueiam o desenvolvimento psíquico e o reconduzem a fases
precedentes, com consequências na formação de sintomas nevróticos. Esta postulação chamou-se
de teoria das pulsões.

1.8.3.2. O princípio do Prazer e o princípio da Realidade

Contudo, segundo Freud, o bebé no nascimento é dominado duma única estrutura de


personalidade, o Id, fonte originária de todas as motivações e energias. Ele procura de realizar
esta descarga de energia sem preocupar-se daquilo que é realizável o socialmente aprovável.

O seu modo de funcionamento e regulado pelo principio de prazer, que procura a gratificação
imediata e completa das pulsões. Mas desde o inicio dos primeiros meses de vida estas tentativas
de obter uma gratificação imediata são frustradas ou punidas. Estas experiências contribuem para
a formação do ego (eu), o qual é governado pelo princípio de realidade.
31

1.9. Conceito de Psicologia

Depois desta breve alusão geral à noção de Ciência, iniciemos agora o estudo da Psicologia.

O termo Psicologia é de origem grego-latino, e etimologicamente pode traduzir-se no seguinte:


psiychè = alma; logia= logos= estudo ou ciência. Assim, a palavra Psicologia significa estudo da
alma ou ciência da alma, ciência que estuda as ideias, sentimentos, e determinações cujo
conjunto constitui o espírito humano.

Esta definição permaneceu até aos meados do séc. XIX devido ao seu desenvolvimento
condicionado com a Filosofia.

Como uma ciência autónoma com um objecto de estudo e métodos próprios de investigação, ela
é definida como ciência que estuda o comportamento do homem e dos outros animais.

A psicologia supõe-se a outras ciências sociais, especialmente a sociologia. Mas, enquanto a


sociologia concentra sua atenção nos grupos, processos grupais e forças sociais os psicólogos
sociais concentram-se nas influências que os grupos e a sociedade exercem sobre os indivíduos.
A ênfase da psicologia está no ser humano a diferença dos fisiólogos (biologia) que se
concentram no sistema nervoso, cérebro, memória, atenção, movimento, fome, impacto das
drogas, etc.

Actualmente a psicologia é definida como a ciência que se concentra no comportamento e nos


processos mentais – de todos os animais.

o Ciência: enquanto a ciência oferece procedimentos disciplinados e racionais para a


condução de investigações válidas e a construção de um corpo de informações coerentes
e coesas.

o Comportamento: abrange tudo o que pessoas e animais fazem: conduta, emoção, formas
de comunicação, processos de desenvolvimento.

Assim, o objecto de estudo da Psicologia é o comportamento dos seres vivos especificamente


homens e animais, isto é, a Psicologia estuda a resposta ou conjunto de respostas observáveis de
um individuo ou de um grupo, a uma situação ou estímulo.
32

o Processos mentais - incluem formas de cognição ou formas de conhecimento, de entre


elas: perceber, participar, lembrar, raciocinar, ou resolver problemas. Sonhar, fantasiar,
desejar, ter esperança são também processos mentais.

1.9.1. Importância da Psicologia

Por ser uma ciência multiperspectiva e se aplicar em todas as áreas da vida humana, tais como no
Ensino, na Saúde, na Família, no Comércio, no Desporto, etc., a Psicologia possui uma vasta
importância.

 No ensino permite ao professor conhecer as particularidades individuais dos alunos para


melhor planificar e administrar as aulas, identificar e resolver os problemas de
aprendizagem segundo o desenvolvimento dos alunos e fazer uma avaliação do processo
de ensino e aprendizagem.

 Na saúde permite ao profissional de saúde estabelecer uma melhor comunicação


com o paciente e vice-versa.

 Para os governantes a Psicologia permite uma óptima comunicação com as massas.

 Também permite ao Homem conhecer-se a si próprio e a natureza de diferenciação


dos outros Homens; ajuda o Homem a resolver os seus problemas s do dia-a-dia,
conhecer a forma de agir de cada um, as tendências compartimentais, as atitudes, as
motivações dos outros Homens.

1.9.2. Objecto de Estudo da Psicologia

O objecto ou assunto de estudo de uma determinada ciência é a realidade ou o aspecto da


realidade que ela se propõe a estudar, descrever ou explicar.

Para compreender o objecto de estudo da Psicologia é preciso compreender a diversidade de


objectos definidos por várias correntes psicológicas.
33

A diversidade dos objectos de estudo da psicologia

 Behaviorismo ou comportamentalismo: segundo estes teóricos o objecto de estudo da


Psicologia é o comportamento;

 Psicanálise: para esta escola o objecto de estudo da psicologia é o inconsciente.

 Outros psicólogos: o objecto de estudo da psicologia é a consciência ou ainda a


personalidade humana.

Razões da dificuldade de definição do objecto

 Por ser uma área de conhecimento cientifico que se constituiu recentemente (final do séc.
19) não obstante a sua existência dentro da filosofia como preocupação humana;

 Outro motivo que dificulta a definição do objecto de estudo da Psicologia é o facto do


cientista – o pesquisador confundir-se com o objecto a ser pesquisado – a concepção do
Homem contamina inevitavelmente a sua pesquisa;

 Em terceiro lugar esta dificuldade justifica-se pelo facto dos fenómenos psicológicos
serem tão diversos, que não podem ser acessíveis ao mesmo nível de observação, não
podem ser sujeitos aos memos padrões de descrição, medida, controle e interpretação.

1.9.3. A Subjectividade como objecto de estudo da Psicologia

Considerando toda esta dificuldade na definição única do objecto da psicologia, podemos


considerar como objecto a subjectividade.

A identidade da Psicologia é o que diferencia dos demais ramos das ciências humanas, e pode ser
obtida considerando que cada um desses ramos invoca o Homem de maneira particular
(economia, política, história) trabalham essa matéria-prima de maneira particular, construindo
conhecimentos distintos e específicos a respeito dela. A psicologia colabora com o estudo da
subjectividade: é essa a sua forma particular, específica de contribuição para a compreensão da
totalidade da vida humana.
34

A subjectividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai construindo conforme
vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural. É a síntese
que nos identifica por ser única e nos igual a medida em que os conhecimentos que a constituem
são experienciados no campo comum da objectividade social. É o mundo de ideias, significados,
emoções, construído inteiramente pelo sujeito a partir das suas relações sociais, suas vivências e
sua constituição biológica. É a fonte das manifestações afectivas. A subjectividade é a maneira
de sentir, pensar, fantasiar, sonhar, amar, e de fazer de cada um. É o nosso modo de ser.

Entretanto a subjectividade não é inata. Ela se constrói, apropriando-se do material do mundo


social e cultural.

A subjectividade em Psicologia é vista em dois níveis: subjectividade social e individual. A


subjectividade individual representa o espaço pessoal dos sentidos que se atribui ao mundo real
(valor, cultura, experiência, ideias) e a subjectividade social é comparável com o sentido que a
sociedade atribui ao mundo real.

1.9.3. Estrutura e Tarefas da Psicologia

Psicologia industrial: estuda a estruturação do trabalho, a conduta dos trabalhadores, a selecção


dos trabalhadores, o incremento da produção e da produtividade, a avaliação dos funcionários e
as greves dos trabalhadores.

Psicologia pedagógica (escolar) ou de aprendizagem: estuda as leis psicológicas de ensino e


de educação do Homem. Estuda a formação do raciocínio dos alunos, os problemas do governo
do processo de assimilação dos meios e dos hábitos da actividade intelectual, revela os factos
psicológicos que influenciam o processo de aprendizagem, as relações dentro da colectividade de
alunos, as diferenças psicológico individuais dos alunos, as particularidades psicológicas da
educação e do ensino das crianças com desenvolvimento psiquismo anormal.

Em suma: estuda a problemática psicológica no quadro escolar. Tenta compreender os problemas


de adaptação, de relações e de aprendizagem.

Psicologia clínica: dedica-se a prevenção e terapia dos desajustamentos de conduta qualquer que
seja o seu grau de gravidade.
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Psicologia social: estuda a conduta humana na perspectiva de grupos de colectividades.


Investiga o processo de interacção entre membros do grupo e as influências grupais sobre a
dinâmica dos individuais.

Psicologia jurídica: analisa as questões psicológicas relacionadas com a realização do sistema


do direito

Psicologia militar: estuda a conduta do Homem no campo de combate, os aspectos psicológicos


das relações entre os chefes e os subalternos, os problemas psicológicos de uso de materiais de
guerra.

Psicologia experimental: estuda os princípios psicológicos básicos; sensação, percepção,


atenção, motivação, memória, pensamento, pensamento e (emoções) em situação laboratorial
visando a solução de problemas práticos de dia-a-dia da humanidade.

Psicologia do desporto: analisa as particularidades psicológicas do indivíduo e da actividade


dos desportistas, as condições e os métodos da sua preparação psicológica, os parâmetros
psicológicos de preparação e da capacidade do desportista e os factores psicológicos
relacionados com a organização de competições.

1.9.4. Métodos da Psicologia


O estudo da Psicologia como ciência pressupõe o uso de métodos, que possa facilitar a análise do
seu objecto de estudo, os fenómenos psíquicos (memória, percepção, a sensação, o pensamento,
assim como a imaginação) que numa só linguagem são reduzidos em comportamentos.

Método: na perspectiva psicológica é o caminho ou via utilizado para esclarecer as


manifestações ou causas de um comportamento, de manifestações psíquicas. Em psicologia, o
conjunto dos métodos específicos engloba todos aqueles que frequentemente são usados pelos
psicólogos como:

a) Introspecção ou método introspectivo

Descrição cuidadosa dos fenómenos psíquicos que os estados da consciência acusavam, mas
feita pelo próprio indivíduo. Consiste na orientação da consciência reflexiva para aquilo que se
passa em nós, ou seja, concentração do espírito sobre si mesmo para analisar os fenómenos que o
indivíduo experimenta.
36

É a observação e a descrição que o indivíduo faz dos seus estados psíquicos. Supõe um
desdobramento do sujeito que é ao mesmo tempo observador e observado. O sujeito é o próprio
objecto.

A introspecção pode ser pessoal ou laboratorial. A introspecção pessoal consiste na auto-análise,


isto é na observação interior e análise. Na introspecção laboratorial o experimentador (sujeito)
estabelece as condições de experiência, anota e interpreta os resultados.

b) Extrospecção ou método extrospectivo (de Expressão)

Consiste na observação, descrição e explicação dos comportamentos dos outros. Portanto, as


manifestações exteriores do sujeito, são devidamente anotadas por um observador.

c) A observação (Método de observação)

A observação como método em psicologia consiste na percepção directa ou indirecta, atenciosa,


racional, planificada e sistemática, das manifestações do comportamento nas suas condições
naturais, com o objectivo de dar uma explicação científica da sua natureza.

d) A experimentação (Método experimental)

Consiste na relação entre o objecto de investigação e a situação experimental com o objectivo de


descobrir a natureza dessa relação e as variáveis das quais ela depende. Pressupõe a possibilidade
de intromissão activa do pesquisador na actividade da pessoa submetida a experiência.

É a actividade na qual o investigador provoca o fenómeno a estudar e controla os possíveis


factores e condições que podem incidir na sua produção e desenvolvimento com o objectivo de
conhecer a natureza interna do processo psíquico e desta forma descobrir as leis objectivas que o
explicam.

A experimentação como método em psicologia usa-se geralmente em estudo de casos ao nível


animal porque é difícil manipular o comportamento humano, por razões morais, éticas até
mesmo razões ligadas á saúde.

e) Método estatístico
Usa-se para fazer o estudo ao nível dos grupos maiores, isto é, para a compreensão de fenómenos
de massa.
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f) Método de entrevista
É uma conversação entre investigador e o sujeito investigado através da qual o investigador
obtém informações sobre o psiquismo. Geralmente se utiliza para enriquecer e aprofundar a
informação obtida a partir da observação e experimentação. Ela permite a obtenção directa dos
dados. O investigador faz a pergunta e o entrevistado apenas responde a pergunta.

g) Questionário
Consiste num conjunto de perguntas cujo conteúdo e extensão dependem dos objectivos da
investigação e se aplica como substituto da entrevista quando se trabalha com amostras grandes.

h) Método comparativo
Serve para fazer extrapolação de uma conclusão feita sobre o estudo de um animal para
relacionar ao Homem, permite a formação de um perfil comportamental.

i) Método analítico ou psicanalítico


É um método interpretativo que busca o significado oculto, isto é, que torna claro o significado
daquilo que é manifestado por meio das palavras e acções.

j) Testes psicológicos

Consistem num sistema de tarefas, perguntas, seleccionadas, que tem como objectivo a avaliação
e comparação de sujeitos quanto a qualidade da personalidade, habilidades, nível de
desenvolvimento intelectual, efectuando-se esta comparação sobre a base de normas
estabelecidas previamente. Existem testes psicológicos para medir tanto aspectos cognitivos
como aspectos afectivos da personalidade.

Os testes psicológicos não consistem em obter dados novos que serão necessários para o
aprofundamento dos conhecimentos científicos, mas sim em estabelecer as qualidades
psicológicas da pessoa submetida á experiência para se analisar se corresponde ou não as normas
ou padrões revelados anteriormente

Este grupo de testes é utilizado para revelar a existência ou a ausência de certas capacidades,
aptidões, caracterizar com o máximo de precisão certas qualidades do indivíduo para exercer
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certa profissão, etc. Podem ser: testes de inteligência, de capacidades, de aptidões, de


personalidade.

k) Métodos de estudo individual ou histórico do caso

Neste método são empregue muitos métodos e técnicas combinadas. Para se estudar o
comportamento de um indivíduo importa conhecer o maior número possível de factos sobre o
mesmo, a fim de que possam ser compreendidas as principais forças e influências que orientam
seu desenvolvimento.

O estudo do caso é frequentemente empregue pelo orientador educativo, visando ajudar os


alunos na solução de seus problemas. Podemos citar também alguns métodos particularmente
usados na Psicologia de desenvolvimento, que é um ramo da Psicologia; através do qual se
estuda o desenvolvimento humano.

l) Métodos longitudinais

É um processo de observação que se faz no sentido de duração. Os estudos longitudinais têm


fornecido informações excelentes e decisivas para a explicação e compreensão do
desenvolvimento humano, quer relativamente ao crescimento físico e desenvolvimento dos
processos cognitivos, quer sobre a evolução da personalidade e a aquisição da linguagem. Este
método procura seguir os sujeitos, em intervalos de tempo convenientemente escolhidos, para
determinar a curva ou lei de crescimento e desenvolvimento. O Método longitudinal estuda, no
tempo, em períodos mais ou menos espaçados, o comportamento dos sujeitos ou amostragens de
sujeitos.

m) Métodos de corte ou de selecção transversal


Trata-se de um tipo de observação que pode estudar um grande número de sujeitos num espaço
de tempo relativamente curto. Por exemplo, no mesmo espaço de tempo, o investigador pode
observar diferentes ou vários aspectos da estrutura do sujeito em diferentes faixas etárias através
de amostragens significativas. Pode observar crianças dos 0 aos 2 anos, de 1 aos 3 anos, dos 2
aos 4 anos sob um determinado número de aspectos da sua personalidade e estabelecer curvas de
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desenvolvimento através de processos estatísticos de cada um desses aspectos e do seu conjunto


como integrantes ou componentes de uma mesma estrutura, a estrutura da personalidade.

n) Métodos mistos (perspectiva eclética)


Esta perspectiva de uso de métodos é baseada particularmente no recurso a diversos e variados
métodos de estudo. São aplicados simultaneamente um tipo de método em conjugação com
outros métodos. Os métodos são usados em forma de complementaridade entre um e outros,
permitindo o alcance de vários resultados.

1.9.5. Relação da Psicologia com outras Ciências

A Filosofia, a Antropologia, a História, a Sociologia e a Biologia, estão entre as ciências que


contribuem para a compreensão do comportamento humano, em particular. Vejamos a possível
relação que se estabelece:

Filosofia: a correlação que existe entre o corpo e a alma na Filosofia vai permitir de modo que a
psicologia especule e forneça hipóteses empiricamente testadas. Neste sentido, pode-se afirmar
que a Filosofia forneceu á psicologia os primeiros quadros conceptuais.

Antropologia: interessa-se pelas formas culturais dos povos. Esses dados são importantes
porque dão ao psicólogo a consciência da relatividade cultural dos valores, dos motivos, das
aspirações dos indivíduos, o que obriga a ter presente a influência da cultura no comportamento
do indivíduo.

História: permite-nos conhecer o desenvolvimento do Homem através dos tempos e


compreender a partir dessa evolução as características actuais das várias realidades sociais que
influenciam no comportamento do indivíduo.

Sociologia: estuda a sociedade, as instituições sociais, a estrutura dos grupos e o seu


funcionamento. Estuda, também, o comportamento humano na perspectiva dos grupos.

Biologia: estuda o funcionamento e a estrutura do Sistema Nervoso, as glândulas secretoras e o


seu funcionamento. O sistema nervoso capta estímulos, os organiza e emite respostas ou actos de
conduta e, a secreção de hormonas permite que Sistema Nervoso fique estimulado numa
determinada direcção. Um dos principais ramos da Biologia que se relaciona com a Psicologia é
40

a Genética. A Genética estuda os processos hereditários subjacentes ao comportamento.


Esquematicamente:

FILOSOFIA
Estudo do Homem

BIOLOGIA
HISTÓRIA Estudo do S.N. e glândulas
Importância do factor tempo
PSICOLOGIA
Estudo do secretoras; Processos
e espaço social
comportamento hereditários no
comportamento

ANTROPOLOGIA SOCIOLOGIA
Influência da cultura no Influências sociais no
comportamento comportamento

Questões de reflexão

1. A Psicologia como ciência autónoma e com um objecto de estudo e métodos próprios de


investigação, ela é definida como ciência que estuda o comportamento do homem e dos outros
animais.

a) Fale das características de cada período da evolução da Psicologia antes e depois do


sec. XVIII.

b) Fale do objecto de estudo da psicologia.

c) Explique a importância da Psicologia na área do ensino.

2. Qual dos métodos ajuda melhor a recolher dados sobre um fenómeno ou caso.

3. Fale do contributo das grandes escolas para o desenvolvimento da psicologia.

Bibliografia recomendada

BOCK, A. M. B. FURTADO, O e TEXEIRA, M. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de


psicologias. 14ª ed. Saraiva. São paulo, 2009.

DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. S . Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA,


41

Unidade 2: O DESENVOLVIMENTO PSIQUICO E DA CONSCIÊNCIA HUMANA

A evolução psíquica dos indivíduos depende da maturação e do desenvolvimento genético; dos


estímulos sociais e afectivos.

2.1. O Homem como Unidade bio-psico-socio-cultural

Todo ser humano à nascença já constitui-se como indivíduo, com qualidades de integridade
próprias, particularidades que o distinguem dos outros. O mesmo não se pode dizer em relação à
Personalidade. O ser humano forma sua personalidade em resultado da sua constituição biológica
(características herdadas), das influências do meio social e cultural do contexto em que se
encontra (aquisições do meio), assim como das experiências de vida (desenvolvimento), e
sempre considerando seu desenvolvimento psicológico (estabilidade emocional, de sentimentos).
Por tal se diz ser uma unidade bio-psico-social.

Alguns termos importantes para compreender o desenvolvimento humano:

Desenvolvimento: é o conjunto de fases pelas quais o indivíduo passa ao longo do seu ciclo de
vida. É um processo multidimensional que engloba os aspectos físicos (crescimento);
fisiológicos (maturação), psicológicos (cognitivos e afectivos), sociais (socialização), e culturais
(aquisição de valores, normas).

Maturação : é a dimensão fisiológica do desenvolvimento. Refere-se ao grau de prontidão


funcional dos diversos sistemas do organismo, nomeadamente do sistema nervoso. É que torna
possível determinado padrão de comportamento. (por exemplo, a alfabetização das crianças
depende da maturação neurofisiológica para manejar o lápis, e segurá-lo com as mãos é
necessário um desenvolvimento neurológico o que a criança de 1 ou 2 anos não possui ainda.

Maturidade: é o estádio de desenvolvimento do indivíduo indispensável para a execução de


determinada tarefa, actividade ou função.

Estado etário: fase de maturação e estruturação (anatómica, fisiológica, psíquica)


correspondente a idade ou nível de desenvolvimento do indivíduo.
42

2.2. A Vida Antes do Nascimento (o Desenvolvimento Pré-Natal)

O desenvolvimento pré-natal (gestação) é o período compreendido entre a fecundação e o parto.


Este pode ser dividido em três períodos:

O zigoto

O zigoto forma-se após a fecundação e flutua livremente no fluido do útero. Ao fim de cerca de
duas semanas, o zigoto (ovo) fixa-se na parede do útero recebendo oxigénio e alimentação do
corpo da me. Dois ou três dias a sua implantação no útero o novo ser passa a chamar-se embrião.

Embrião

O segundo estádio do desenvolvimento pré-natal é o estádio embrionário. Este estádio começa


cerca de duas semanas depois da fecundação, na altura em que o zigoto (ovo) se fixa á parede
uterina.

O estádio embrionário dura cerca de oito semanas depois da concepção. As primeiras fases de
vida do embrião humano apresentam características semelhantes com os outros mamíferos. A
cabeça do embrião é muito grande em relação ao resto do corpo e membros não são
diferenciados. No final deste período o organismo é claramente identificável como humano (tem
face, olhos, nariz) e passa a se designar feto.

Feto

A partir da oitava semana até ao nascimento o novo ser passa a chamar-se feto. O feto é capaz de
ouvir, movimentar os dedos (dar pontapés, fazer punho, levar o polegar a boca, escolher a
posição de dormir, etc.) sentir sabor, etc. O desenvolvimento do feto culmina com o nascimento.

Nascimento

O nascimento é conjunto de fenómenos físicos que tem como finalidade expulsar o feto para o
exterior. Quando a criança nasce pesa normalmente 2500 gramas e a placenta para de introduzir
43

alimentos. Crianças com um período de gestação reduzido e peso inferior a 25000 gramas são
consideradas prematuras.

A primeira respiração imediatamente após o parto é difícil devido o oxigénio do ambiente que a
criança recebe, pois tem inicio a respiração pulmonar. Se o pequeno cérebro não recebe oxigénio
dentro de 8 (oito) minutos pode contrair lesões.

Por regra, a primeira respiração é acompanhada por grito. O grito converte-se em breve numa
forma de manifestação de dissabores ou transtornos (indisposição, desconforto, mal estar, alerta
á mãe para acções de cuidado, isto é, um estímulo chave da mãe.

Em cada dor do parto, a criança está exposta a uma pressão com cerca de 25kg. Por isso, partos
muito prolongados ou complicados colocaram a criança provavelmente numa situação de
indisposição intensiva. O acto do nascimento por si só é uma lesão psíquica, o que serve de base
para o medo original do homem, segundo a psicanálise.

2.3. Fundamentos biológicos da conduta

Hereditariedade e comportamento: mecanismos básicos

Em última instância, as diferenças entre as espécies dependem da hereditariedade, ou herança


física. A hereditariedade compartilhada por todas as pessoas permite uma série de actividades
humanas distintas. Por termos herdados polegares opostos e dedos móveis, aprendemos
facilmente a manipular ferramentas. As heranças de imensos córtices cerebrais permitem-nos
processar vasta quantidade de informação.

Além das estruturas influenciadoras e dos comportamentos comuns a todas as pessoas, a


hereditariedade modela o que é exclusivo a cada pessoa. Seus genes têm algo a dizer sobre uma
capacidade de aprendizagem e se somos ou não propensos á depressão.

2.4. Genética do comportamento

A genética do comportamento, um ramo da psicologia e também da genética, estuda as bases


herdadas da conduta e da cognição. Abrange diferenças individuais e de espécie (evolutivas).
44

Os geneticistas do comportamento pressupõem que tudo o que as pessoas fazem depende, em


algum grau, das estruturas físicas subjacentes. Sua tarefa é definir exactamente quanto de um
determinado acto é modelado pela hereditariedade e quanto o é pelo ambiente. Eles pesquisam
também os mecanismos biológicos pelos quais os genes afectam o comportamento e a cognição.

2.5. O papel da hereditariedade e do meio na conduta

Hereditariedade e o ambiente: uma parceria permanente. Estará tudo nos genes?

De acordo com Robert Plomin (1993) , talvez o principal sobre a genética do comportamento na
última década, o que os cientista verificaram a repetidas vezes foi que hereditariedade e
experiência influenciam conjuntamente muitos aspectos do comportamento. Além disto seus
efeitos são interactivos – elas jogam uma com a outra. Por exemplo, em relação a esquizofrenia,
embora a evidencia indique que factores genéticos influenciam o desenvolvimento da
esquizofrenia, do outro lado não parece que alguém herde directamente o distúrbio mas um certo
grau de vulnerabilidade a ela. Portanto, se a vulnerabilidade vai ou não se transformar num
distúrbio real, isso dependerá das experiências de cada pessoa na vida.

2.5.1. O herdado e o meio: qual interacção?

O organismo e o ambiente fazem parte de um todo no qual são inter-relacionados e em constante


interacção. O meio mobiliza ou favorece disposições hereditárias, mas por sua vez a acção do
meio não é independente dessas disposições.

Por um lado, qualquer factor hereditário opera de modo diferente quando as condições do meio
ambiente variam. Por outro lado, as condições do meio ambiente exercem diferentes influências
sobre as características hereditárias.

As disposições hereditárias traçam o marco do desenvolvimento e oferecem-nos um plano de


construção do organismo. Os genes exercem um papel ou acção directiva nos fenómenos do
desenvolvimento embrionário e, especialmente, dos primeiros anos de vida, isto é, não se
transmitem qualidades já desenvolvidas, mas apenas disposições ou possibilidades para
configurar essas qualidades. Por exemplo, a estatura de um indivíduo depende de toda a carga
45

genética, mas além disso, variará, entre outros factores de acordo com a alimentação recebida
nos primeiros anos de vida e com as vicissitudes do desenvolvimento glandular posterior.

 Herança e meio são factores que contribuem para a formação do novo ser e se misturam
de tal modo que é difícil distinguir o que corresponde a um e ao outro;

 Não podem ser considerados opostos ou antagónicos mas complementares;

 Era comum considerar a herança é rígida, fixa, imutável, irreversível algo como código
ou lista de instruções e procedimentos que não admite modificações e na qual cada
“instrução” age de modo independente das demais mas hoje tal posição não se sustenta
por que também os genes podem sofrer uma mutação, brusca ou não.

Portanto, Dizer que um os “genes influenciam x ou y” não quer dizer que os “genes determinam
x ou y”. Tão pouco quer dizer que o ambiente tenha pouca influência sobre a qualidade em
questão. Do início até ao fim da vida, os organismos estão sendo constantemente moldados tanto
pela hereditariedade como pelo ambiente. A natureza e a extensão de uma influência sempre
dependem da contribuição da outra.

2.6. Princípio fundamental da psicologia

O princípio fundamental e o seu axioma principal é o de que o organismo é produto da


hereditariedade em interacção com o meio e com o tempo, isto é, o comportamento não é
resultado de uma única causa, mas sim de causas múltiplas (biológicas, sociais, culturais,...). É o
resultado da hereditariedade a interagir com o meio e com o tempo.

O nosso potencial hereditário pode ser enriquecido ou empobrecido dependendo do tipo,


quantidade e qualidade dos nossos encontros com o meio e depende do momento em que estes
encontros ocorrem. É pela interacção entre determinantes da hereditariedade e a influência do
meio que o indivíduo se forma, desenvolve e realiza.

Não se pode limitar aos aspectos educativos e os sócio-culturais pós-natais, os aspectos físicos,
biológicos (alimentares, etc.), e psico-afecivos (emocionais) dos primeiros tempos da vida,
nomeadamente pré-natais e perinatais são fundamentais na formação de todas as características
do indivíduo.
46

2.7. Psicofisiologia do sistema nervoso

A comunicação no sistema nervoso é central para o comportamento. Em breves anotações


examinaremos a organização do sistema nervoso.

Especialistas acreditam que há de 85 a 180 biliões de neurónios no cérebro humano. Obviamente


isto é apenas uma estimativa. Se os contássemos sem parar a proporção de um por segundo,
estaríamos contando por cerca de 6 mil anos! Multidões de neurónios no sistema nervoso têm de
trabalhar junto para manter a informação fluindo eficientemente. Para fazer isso, eles estão
organizados em equipas, várias das quais têm funções e deveres especializados que dependem,
antes de tudo, de sua localização.

2.7.1. Sistema nervoso central

O sistema nervoso central (SNC) é a porção do sistema nervoso que fica dentro do crânio e da
coluna espinhal. Assim, o SNC compreende o cérebro e a medula e a medula espinhal. O
SNC é banhado na sua “sopa” nutritiva especial chamada fluido cérebro-espinhal (FCE). Este
fluido alimenta o cérebro e fornece-lhe uma protecção. Embora derivado do sangue, o FC é
cuidadosamente filtrado.

Para entrar no FCE, as substâncias do sangue têm de passar pela barreira cérebro-sanguínea,
um mecanismo membranoso semipermeável que impede a passagem de certas substâncias
químicas entre a corrente sanguínea e o cérebro. Esta barreira evita que algumas drogas
entrem no FCE e afectem o cérebro.

2.7.1.1. A medula espinhal

A medula espinhal liga o cérebro ao resto do corpo através do sistema nervoso periférico.
Embora se pareça com um cabo do qual os nervos somáticos saem, ela é parte do sistema
nervoso central e vai desde a base do cérebro até um nível abaixo da cintura, abrigando
aglomerados axónios que carregam os comandos do cérebro aos nervos periféricos e conduzem
sensações de periferia do corpo cérebro. Muitas formas de paralisia resultam de danos na medula
espinhal, facto que ressalta o papel crítico que ela representa na transmissão de sinais do cérebro
aos neurónios que movem os músculos do corpo.
47

2.7.1.2. O cérebro

Evidentemente, a glória suprema do sistema nervoso central é o cérebro, que, anatomicamente, é


a parte do sistema nervoso central que preenche a porção superior do crânio. Embora pese
apenas cerca de 2 quilos e possa ser carregado em uma das mãos, ele contém bilhões de células
que interagem, integram informação de dentro, coordenam as acções do corpo e nos capacitam a
falar, pensar, recordar, planear, criar e sonhar.

2.7.2. O Sistema Nervoso Periférico

O primeiro e mais importante corte separa o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal)
do sistema nervoso periférico. O sistema nervoso periférico é formado por todos os nervos
que ficam fora do cérebro e da medula espinhal. Nervos são aglomerados de fibras de
neurónios (axônios) que estão no sistema nervoso periférico. Essa porção do sistema nervoso
é exactamente o que parece, a parte que se estende para a periferia (parte de fora) do corpo. O
sistema nervoso periférico pode ser subdividido em dois: somático e autónomo.

2.7.2.1. Sistema nervoso somático

O sistema nervoso somático é formado por nervos que se conectam aos músculos esqueléticos
voluntários e aos receptores sensoriais. Estes nervos são os cabos que carregam informação
dos receptores na pele, músculos e juntas ao sistema nervoso central e também ordens do sistema
nervoso central aos músculos. Estas funções requerem dois tipos de fibras nervosas:

Aferentes, que são axônios que carregam informação para dentro do sistema nervoso central da
periferia do corpo;

Os eferentes, que são axônios que carregam informações para fora do sistema nervoso central
para a periferia do corpo. O sistema nervoso somático permite que nos sintamos e movamos no
mundo.
48

2.7.2.2. Sistema nervoso autónomo

O sistema nervoso autónomo é formado de nervos que se ligam ao coração, aos vasos
sanguíneos, aos músculos lisos, e às glândulas.

Como o próprio nome indica, é um sistema separado (autónomo), embora seja principalmente
controlado pelo sistema nervoso central. O sistema nervoso autónomo controla funções
automáticas, involuntárias, em que normalmente as pessoas não pensam, como a batida cardíaca,
a digestão e a transpiração. Ele intermédia muito de o despertar fisiológico, que ocorre quando as
pessoas experimentam emoções. Imagine-se, por exemplo, caminhando para casa sozinho a
noite, quando uma pessoa, de aparência pobre aparece atrás de nós e começa a seguir-nos. Caso
sintamo-nos ameaçados, a nossa batida cardíaca e respiração intensifar-se-ão. A nossa pressão
sanguínea poderá subir, possivelmente sentiremos arrepios, e as palmas das mãos poderão
começar a transpirar. Estas reacções difíceis de controlar são aspectos do despertar autónomo.

O sistema nervoso autónomo pode ser dividido em dois ramos: simpático e parassimpático.

2.7.2.3 Sistema nervoso simpático

É o ramo do sistema nervoso autónomo que mobiliza os recursos do corpo para a emergência.
Ela cria a reacção de luta ou fuga. A activação deste sistema desacelera processos digestivos e
drena o sangue da periferia, diminuindo o sangramento em caso de ferimento.

Os nervos simpáticos principais enviam sinais às glândulas supra-renais, liberando as hormonas


que preparam o corpo para o esforço.

2.7.2.4. Sistema nervoso parassimpático

É o ramo do sistema nervoso autónomo que geralmente conserva os recursos corporais. Ela
activa processos que permitem ao corpo economizar e armazenar energia. Por exemplo, acções
dos nervos parassimpáticos diminuem o ritmo cardíaco, reduzem a pressão sanguínea e
promovem a digestão.
49

2.8. Desenvolvimento filogenético do psíquico

2.8.1. Dependência da psique ao meio

A extraordinária variedade que o meio ambiente tem (clima, condições de vida) suscitou a
diferenciação dos organismos (na terra vivem milhões de espécies de animais). Entre toda a
multiplicidade de fenómenos terrestres, existem suas mudanças cíclicas anuais, a mudança do dia
e da noite, as mudanças de temperatura etc., e todo o organismo vivente adapta-se as
condições existentes.

Uma modificação brusca do ambiente provoca no animal ou o seu desaparecimento. O meio é a


condição de existência do organismo vivo, e o factor mais importante para determinar a vida
dos seres viventes, ou seja, dito em outras palavras, a existência dos organismos viventes está
condicionada causalmente pelo meio ambiente. Quanto mais alta e a capacidade do reflexo
dentro de um determinado meio, mais livre e a espécie do influxo do meio.

2.8.2. A psique e a evolução do sistema nervoso

Para que haja um reflexo adequado e necessário antes de mais uma estrutura dos órgãos de
sentido e do sistema nervoso. O grau de desenvolvimento dos órgãos de sentido e do sistema
nervoso determina constantemente o grau e a forma do reflexo psíquico.

Em corresponderia com o desenvolvimento do sistema nervoso se tem mais completas as formas


do reflexo psíquico ou seja quanto mais completo e o sistema nervoso tanto mais perfeita e a
psique.

A evolução da psique não ë linear, ate que se aperfeiçoe em diferentes direcções. Num mesmo
meio habitam animais com os mais variados níveis de reflexo e ao contrário, em meios diferentes
podem-se encontrar diferentes tipos de animais com níveis de reflexo semelhantes.

O meio, como a matéria, não e invariável, ele evolui. A este meio em evolução adapta-se a
espécie animal que nele habita. Pode acontecer, sem dúvidas, que o meio radicalmente se
modifique para alguns animais e isto influência no desenvolvimento das funções psíquicas, ao
50

mesmo tempo, a mudança ocorrida não exerce uma influência determinante no desenvolvimento
das funções dos outros animais.

2.9. O Surgimento da consciência no processo da actividade humana

A psique como conjunto de reflexos da realidade no cérebro dos homens caracteriza-se por
possuir diferentes níveis.

O mais alto nível da psique, que é próprio do Homem, forma a consciência. A consciência e a
forma superior integrante da psique do Homem que se forma como resultado das condições
historico-sociais na actividade laboral e na permanente comunicação oral com as demais pessoas.
Neste sentido, pode-se dizer que a consciência e em ultima instancia (como dizem os clássicos
marxistas) um produto social, a consciência e a existência consciente.

2.9.1. Diferença entre psique humana e psique animal

Sem dúvidas existe uma imensa diferença qualitativa entre a psique humana mais altamente
organizada e a psique animal. Assim não e possível fazer uma comparação entre
“linguagem” dos animais e a linguagem humana, pois enquanto o animal com a sua
linguagem pode somente emitir sinais a seus congéneres, em relação a fenómenos limitados
por uma situação imediata, directa, pelo contrario o Homem pode informar a outras pessoas
com ajuda da linguagem, sobre o passado, o presente, o futuro e transmitir aos outros a
experiência social.

Mediante muitas pesquisas os investigadores mostraram que o pensamento pratico e somente


próprio aos animais superiores. Nenhum investigador observou a forma abstracta do
pensamento no estudo da psique dos animais. O animal pode somente actuar dentro das marcas
duma situação visivelmente percebida, da qual não pode abstrair e da qual não pode assimilar os
princípios abstractos. O animal e escravo da situação percebida de forma imediata. A conduta
do Homem caracteriza-se pela sua capacidade de abstrair-se ou afastar-se duma situação
concreta dada e prever as consequências que podem surgir em relação a dita situação.
51

Desta forma, o pensamento concreto ou prático dos animais e somente a sua impressão directa
sobre a situação dada, enquanto a capacidade do Homem de pensar abstractamente supera a
dependência directa da situação dada. O Homem e capaz de enfrentar não somente as
influências directas do meio, mas também pode prever aquelas que podem suceder. O
Homem tem a capacidade de abstrair em correspondência com a necessidade conhecida, ou
seja conscientemente. Esta e a primeira distinção entre a psique humana e a psique animal;

 A outra diferença e que o Homem tem a capacidade de criar e conservar


ferramentas. O animal cria instrumentos ou ferramentas numa situação concreta. Fora
desta dada situação concreta o animal nunca identifica os instrumentos, nem se
aproveita deles, uma vez que o instrumento joga um papel naquela dada situação, que
mediatamente deixa de existir para as outras situações;

 Os homens criam instrumentos de acordo com um plano previsto anteriormente,


utiliza estes instrumentos segundo o fim a que estão destinados, e a conserva; e todo o
homem adquire experiência com os outros homens no uso destes instrumentos;

 A transmissão das experiências sociais, caracteriza o homem o qual dispõe duma


experiência acumulada pelas gerações anteriores. As experiências sociais
transmitidas ao homem desenvolvem-se em grande parte na psique. Desde a mais tenra
idade a criança aprende a dominar as formas de utilização dos instrumentos e as formas
de trata-los. As funções psíquicas do homem mudam qualitativamente graças ao
domínio de cada sujeito em particular sobre os instrumentos do desenvolvimento
cultural da humanidade. E no homem se desenvolvem as funções superiores
propriamente humanas (linguagem, memória, pensamento atenção).

 A quinta distinção entre a psique humana e animal são os sentimentos: para o homem
e animais superiores o sentimento e mais daquilo que ocorre em seu redor, os objectos e
os acontecimentos podem suscitar nos animais e homens determinados tipos de reacções
dependendo daquilo que os influencia, ou emoções positivas e negativas. Sem dúvidas
somente no homem pode existir a capacidade de sentir pena ou alegria sobre o outro
Homem, somente o homem pode experimentar determinados sentimentos ao tomar
consciência de algum aspecto vital nisto.
52

Questões de refexão

1. O meio mobiliza ou favorece disposições hereditárias, mas por sua vez a acção do meio não é
independente dessas disposições.

a) Justificar a afirmação.

2. Relacionar o sistem nervoso simpático e parassimpático.

Bibliografia base

DAVIDOFF, Linda. Introducao `a Psicologia. S . Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA, 1987

WEITEN, W. Introdução à Psicologia: temas e variações. 4ª ed. Thomson Pioneira, Brasil,


2002.
53

UNIDADE 3. PSICOLOGIA EVOLUTIVA E DA PERSONALIDADE

3.1. PSICOLOGIA EVOLUTIVA

3.1.1. Conceito de desenvolvimento

Tradicionalmente, na literatura psicológica encontramos definidos:

O desenvolvimento: como o processo de crescimento e diferenciação continuadas no


tempo, resultado da maturação biológica e da interacção com o ambiente.

A psicologia do desenvolvimento: de consequência, como aquele sector da psicologia


que estuda o processo e organização do indivíduo desde o nascimento ate a idade adulta.

Durante o arco da vida a personalidade vai adquirindo, atrevas de processos evolutivos seja
biológicos que psicológicos, uma maior e mais eficiente harmonização das energias que se
dispõem, com uma crescente possibilidade seja de autonomia e de novos de compreensão seja de
participação afectiva e de socialização com o mundo.

Uma das consequências desta afirmação e que os seres humanos tornam-se sempre mais
complexos na medida em que se desenvolvem. Não só, mas se o Homem e uma criatura
admiravelmente complexa, não menos surpreendente o e também a pequena criatura, que e o
recém-nascido, desde os primeiros instantes em que vê a luz.

3.2. Factores que influenciam o desenvolvimento e crescimento humano

Vários factores indissociáveis e em permanente interacção afectam todos os aspectos do


desenvolvimento. São eles:

 Hereditariedade

A carga genética estabelece o potencial do indivíduo, que pode ou não desenvolver-se.


Existem pesquisas que comprovam os aspectos genéticos da inteligência. No entanto, a
inteligência pode desenvolver-se aquém ou alem do seu potencial, dependendo das condições do
meio que encontra.
54

 Crescimento orgânico

Refere-se ao aspecto fisco. O amadurecimento de altura e o estabilização do esqueleto permite


ao indivíduo comportamentos e um domínio do mundo que antes não existiam. Pense nas
possibilidades de descobertas de uma criança, quando comera a engatinhar e depois de andar,
em relação a quando uma criança estava no berço com alguns dias de vida.

 Maturação neurofisiológica

É o que torna possível determinado padrão de comportamento. A alfabetização das crianças,


por exemplo, depende dessa maturação. Para segurar o lápis e maneja-lo como nos, e
necessário um desenvolvimento neurológico que a criança de 2, 3 ano não tem. Observe como
ela segura o lápis.

 Meio

O conjunto de influências e estimulações ambientais altera os padrões de comportamento do


indivíduo. Por exemplo, se a estimulação verbal for muito intensa, uma criança de 3 anos pode
ter um repertório verbal muito maior do que a média das crianças de sua idade, mas, ao
mesmo tempo, pode não subir e descer com uma facilidade uma escada, porque esta situação
pode não ter feito parte de uma experiência de vida.

3.3. Aspectos do desenvolvimento humano

O desenvolvimento humano deve ser entendido com uma globalidade, mas, para efeito de
estudo, tem sido abordado a partir de 4 aspectos básicos.

 Aspecto fisico-motor – refere-se ao crescimento orgânico, a maturação


neurofisiológica, a capacidade de manipulação de objectos e de exercício do próprio
corpo. (ex: a criança aos 7 meses consegue levar a chupeta a boca porque já tem uma
certa concordância no movimento das mãos).
55

 Aspecto intelectual – e a capacidade de pensamento, raciocínio. Por exemplo, a criança


de 2 anos, que usa um cabo de vassoura para puxar um brinquedo que esta debaixo de
um móvel ou o jovem que planeja seus gastos a partir de sua mesada ou salário.

 Aspecto afectivo-emocional – e o modo particular de o indivíduo integrar as suas


experiências. E’ o sentir. A sexualidade faz parte deste aspecto. Exemplos: a vergonha
que sentimos em algumas situações, o medo em outras, a alegria de rever um amigo
querido, etc.

 Aspecto social – e a maneira como o indivíduo reage diante das situações que
envolvem outras pessoas. Por exemplo, em um grupo de crianças, no parque, e possível
observar que algumas espontaneamente buscam outras para brincar, e algumas que
permanecem sozinhas.

Analisando cada um destes aspectos descobrimos que todos os aspectos estão presentes em cada
um dos casos. Não e possível encontrar um exemplo “puro”, porque todos estes aspectos
relacionam-se permanentemente. Por exemplo, uma criança tem dificuldade de aprendizagem,
repete o ano, via-se tornando cada vez mais “tímida” ou “agressiva”, com poucos amigos e, um
dia, descobre-se que as dificuldades tinham origem em uma deficiência auditiva. Quando isso é
corrigido todo o quadro reverte-se. A história pode também não ter um final feliz, se os danos
forem graves.

Todas as teorias do desenvolvimento humano partem do pressuposto de que estes quatro


aspectos são indissociados, mas elas podem enfatizar aspectos diferentes, isto é, estudar o
desenvolvimento global a partir da ênfase em um dos aspectos. A Psicanálise, por exemplo,
estuda o desenvolvimento a partir do aspecto afectivo-emocional, isto é, do desenvolvimento da
sexualidade. Jean Piaget enfatiza o desenvolvimento intelectual.
56

3.4. Teorias de Desenvolvimento do Psiquico

Teoria: forma de explicação dos factos, de forma unitária, coerente, livre de contradições
internas e que conduza a descoberta de novos factos.

A questão da abordagem do desenvolvimento do psíquico, é ainda, polémica pela existência de


várias teorias do mesmo desenvolvimento, que estão divididas em grupo.

3.4.1. Teorias Gerais do Desenvolvimento Humano

Teorias endógenas

O desenvolvimento psíquico é feito dependentemente de factores biológicos: a hereditariedade e


as predisposições inatas tornam lugar de relevo. O desenvolvimento do Homem está programado
e preformado pelas disposições. Segundo esta teoria, os factores do meio ambiente são apenas
um atributo subordinado, as aptidões e qualidades psicológicas da personalidade são reduzidas
aos instintos inatos de acordo com Mendel, Weisman e Morgan.

Teorias exógenas

O Homem seria no momento do nascimento uma tábua rasa, pelo adestramento e hábito poder-
se-ia fazer-se tudo quando são aplicados os métodos respectivos. Este grupo de terias acentua o
meio ambiente em que decorre o desenvolvimento comparativamente aos outros factores como
força determinante de desenvolvimento psíquico.

O desenvolvimento é mais ou menos directamente reduzido á educação e formação. Contudo a


criança e o jovem são considerados como objectos positivos das influências externas e deste
modo expostos a métodos mecânicos de educação, segundo Watson.

Teorias de convergências

O desenvolvimento do psíquico é resultado de uma convergência de factores hereditários e


factores ambientais. Logo, o desenvolvimento do psíquico da criança e do jovem é resultado de
forças desiguais da hereditariedade e do meio ambiente. Significa que, o desenvolvimento do
57

psíquico é determinado pela cooperação de dois factores principais: hereditariedade e meio


ambiente (Stern).

Estas teorias defendem que, no desenvolvimento do psíquico deve-se distinguir os processos de


maturidade e os processos de aprendizagem. Os processos de maturidade são biologicamente
condicionados. Enquanto que os factores de aprendizagem estão sujeitos a regularidades sociais.
Portanto, o desenvolvimento psíquico seria condicionado pelos factores biológicos e de
assimilação.

3.5. A Teoria do Desenvolvimento Cognitivo de Jean Piaget:

A influencia de Jean Piaget não tem andado longe da Freud. Nascido em Suécia em 1896,
Piaget passou a maior a parte da sua vida dirigindo um instituto de desenvolvimento infantil em
Genebra. Publicou um numero extraordinário de obras e trabalhos científicos, não apenas sobre o
desenvolvimento da criança, mas também sobre educação, historia do pensamento, filosofia e
lógica, e manteve a sua prodigiosa produção ate a data da sua morte em 1980.

Embora Freud tenha dado tanta importância, nunca estudou directamente a criança. A sua teoria
foi desenvolvida a partir de observações feitas no decurso de tratamento de pacientes adultos em
sessões de psicoterapia. Piaget, pelo, contrario, passou, passou a maior parte da sua vida
observando o comportamento de bebes, crianças e adolescentes. Baseou-se muito do seu trabalho
em observações minuciosas de um numero limitado de indivíduos, mais do que no estudo de
grandes amostras. Não obstante, defendia que a maioria das suas das suas principais descobertas
eram validas para o desenvolvimento das crianças de todas as culturas.

3.5.1. O desenvolvimento cognitivo (desenvolvimento do pensamento)

De acordo com Piaget, o desenvolvimento cognitivo é produto do equilíbrio entre o organismo e


o meio, porque a aquisição ou assimilação de conhecimentos é um processo evolutivo de
construção, na teoria epistemológica de conhecimento ou epistemologia genética.
58

No desenvolvimento cognitivo colocam-se as questões como: “ como é possível o


conhecimento”? como é que os conhecimentos aumentam, (compreensão? extensão)? quer
dizer em quantidade como em qualidade.

Um conhecimento é construído com base nos conhecimentos anteriores organizando-se em


processos cognitivos segundo a adaptação do organismo ao meio. A ideia piagetiana é estrutural
ou construcionista quando evidencia a construção ou organização de estruturas mentais ou
processos cognitivos. Por outro lado, é funcional ou psicobiológica devido a adaptação orgânica
e intelectual ao meio como condições funcionais no sentido de surgir uma organização das
estruturas cognitivas. Assim, o desenvolvimento cognitivo surge das funções de organização e
de adaptação.

O desenvolvimento leva as mudanças progressivas e sequenciais na estrutura da organização dos


processos cognitivos por causa da dialéctica ou interacção a organização e adaptação. A
progressiva adaptação orgânica e intelectual ao meio conduz ou leva a uma progressiva mudança
na sequência das estruturas cognitivas, tendo um estado mutável e não rígido.

Assim, o processo de adaptação realiza-se por meio de equilíbrio entre assimilação e


acomodação. O equilíbrio leva a aquisição de estruturas cognitivas (o desenvolvimento
cognitivo). As estruturas cognitivas se resumem em dois tipos: esquemas e conceitos.

Um esquema é um conjunto de regras que define um género especifico de comportamento


(actividades de chuchar, apalpar, olhar, etc.) como parte da estrutura cognitiva da criança.
Quando mais cresce, vai conhecendo o seu meio, também vai desenvolvendo estruturas mentais
(conceitos segundo Piaget), referindo aquelas normas que descrevem acontecimentos ambientais,
relações entre conceitos, seus efeitos. Pois, a adaptação ao meio ambiente faz-se através do
processo de assimilação e acomodação.

Assimilação como processo espontâneo da criança consiste em integrar ou interiorizar a


experiência do meio ambiente onde esta inserido (processo). Consiste em acrescentar novos
elementos a um conceito ou a um esquema. Enquanto, a acomodação refere o ajustamento desses
elementos a nova situação. O ajustamento que o indivíduo faz ao incorporar a realidade externa.
Se a assimilação consiste na capacidade do sujeito interiorizar e conceptualizar as suas
59

experiências do meio, a acomodação é a resposta do sujeito as exigências imediatas e


constrangedoras do meio, e o grau de adaptação aos estímulos externos, mediante a
reorganização cognitiva, em vez de respostas mecânicas.

3.5.1.1. Os estádios do desenvolvimento cognitivo

Piaget divide os períodos do desenvolvimento humano de acordo com o aparecimento de novas


qualidades do pensamento, o que, por suas vezes, interfere no desenvolvimento global.

Piaget acentua bastante a capacidade da para entender activamente o mundo. As crianças não
observam de uma forma passiva a informação, mas seleccionam e interpretam o que vêem,
ouvem e sentem acerca do mundo que as rodeia. A partir dos estudos e de numerosas
experiências que efectuou sobre as formas de pensar da criança, chegou a conclusão de que os
seres humanos atravessam vários estádios distintos de desenvolvimento cognitivo – ou seja, vão
aprendendo a pensar sobre eles próprios e mundo a sua volta. Cada estádio implica a aquisição
de novas capacidades e esta dependente de uma de uma conclusão bem sucedida da fase anterior.

Estádio sensório-motor (0 a 2 anos de idade)

Até uma idade máxima de quatro meses, um bebe não consegue diferenciar-se do que o rodeia.
O desaparecimento do objecto no campo visual da criança perde todo interesse por ele (não
existe/nunca existiu); por exemplo a criança não entende que são os próprios movimentos que
provocam o ranger do berço e não diferencia entre objectos e pessoas. A actividade cognitiva e
comportamental. Pensar e agir. Irreversibilidade. O bebe não tem noção de que existe algo fora
do seu campo de visão. Como demonstram alguns estudos, os bebes aprendem de forma gradual
a, a distinguir as pessoas dos objectos, começando a perceber que ambos têm uma existência
independente das suas percepções mais imediatas. Aos 6 meses de idade, a criança investida as
características do objecto. Procura o objecto escondido, continua a existir.

Piaget chama a este primeiro estádio sensorio-motor, pois as crianças aprendem usando os seus
diferentes sentidos, sobretudo tocando objectos, manipulando-os e explorando fisicamente o
meio ambiente. De 1 ano e meio o pensamento da criança esta ligado a linguagem, esquemas
60

motores e a conceitos de objectos e das suas características. A principal conquista neste estádio e
que, no fim, a criança já entende que o meio ambiente tem propriedades próprias e imutáveis.

Estádio pre-operatório (2-7 anos de idade)

Foi aquele que Piaget dedicou grande parte da sua investigação. Nesta fase desenvolvem-se
outras estruturas cognitivas: a criança e capaz de distinguir o “eu” do objecto; adquire noção de
tempo e espaço. Tem inicio a reversibilidade. A criança já domina a linguagem e se torna capaz
de usar palavras para, de uma forma simbólica, representar objectos e imagens. Uma criança de
quatro anos, por exemplo, pode usar a mão em movimento para representar o conceito de
“avião” . Inicio da aquisição de noção de conservação da massa e volume (quantidade) Piaget
apelida este estádio de pré-operacional, pois as crianças ainda não são capazes de usar, de uma
forma sistemática, as suas capacidades mentais em desenvolvimento.

A maneira de ver o mundo característico destas crianças e o egocentrismo, ela acredita que as
pessoas vêem o mundo exactamente como ela vê, p. Ex: ao contar um facto, omite pormenores
importantes “julgando” que os outros têm a mesma visão do facto. Este conceito não se refere a
egoísmo mas a tendência da criança interpretar o mundo exclusivamente em função da sua
própria posição. Por exemplo: pedir explicação de uma ilustração enquanto o livro esta virado
para si. A criança não entende que o outro não vê; as crianças falam ao mesmo tempo mas não
com a outra, como os adultos fazem; não tem categorias de pensamento que os adultos têm, as
crianças não tem conceitos de causalidade, velocidade, peso ou numero (mesmo se a criança
observar alguém a deitar agua num recipiente alto e estreito para o outro mais baixo e largo, não
entende que o volume continua o mesmo – mas conclui que há mais agua no segundo recipiente,
porque o nível da agua esta mais abaixo.

Estádio de operações concretas (7-12 anos de idade)

Existe um equilíbrio estável entre assimilação e acomodação. Durante esta fase as crianças
dominam noções lógicas e abstractas. São capazes de, sem grandes dificuldades, lidar com ideias
como a de causalidade. Uma criança nesta fase de desenvolvimento e capaz de reconhecer o
raciocínio falso implícito na ideia de que o recipiente mais largo continha menos água do que o
61

mais estreito, mesmo que os níveis da água sejam diferentes. Torna-se capaz de efectuar
operações matemáticas, como a multiplicação, a subtracção ou divisão. As crianças neste período
são muito menos egocêntricas. Se perguntar a criança quantas irmãs tem ela dirá uma, mas se
perguntar quantas irmãs tem a tua irmã ela provavelmente dirá “nenhuma” porque não e capaz de
se colocar na posição da irmã, não e capaz de raciocinar em termos hipotéticos.

Estádio das operações formais (12 –18 anos de idade)

Desenvolvimento das capacidades lógicas, de representação simbólica. Criação de hipóteses e


sua verificação. Pensamento abstracto, dedutivo (processo de transição do geral ao particular) e
indutivo. Raciocínio formal segundo a cultura. Quando deparam com um problema, as crianças
nesta fase são capazes de rever todas as formas possíveis de resolver, examinando-o
teoricamente de maneira a chegar a uma solução. Um jovem na fase operacional, e capaz de
entender porque e que algumas questões são traiçoeiras.

De acordo com Piaget os primeiros três estádios de desenvolvimento são universais; mas nem
todos os adultos alcançam o estádio operacional formal.

O desenvolvimento deste tipo de pensamento esta dependente, em parte, dos processos de


escolaridade. Os adultos com uma educação limitada tendem a continuar a pensar em termos
mais concretos e reter largos traços de egocentrismo.

3.5.1.2. O Desenvolvimento Psicossexual Segundo a Teoria Psicanalítica

Sigmund Freud (1859-19390, fundador da Psicanálise. Interpretou os sonhos, porque tem sentido
simbólico, de acordo com eles, os sonhos estão cheios de significados. Defendeu que as imagens
sonhadas são consequência, a realização simbólica, substitui um desejo sexual recalcado (inibido
pela interdição moral).

Freud dividiu a vida psíquica em dois níveis: o inconsciente e o consciente. O inconsciente


considerou-o mais importante, é a camada mais profunda e responsável por grande parte de
nossas manifestações. A vida psíquica se centra na libido (pulsões sexuais), responsável pela
62

agressividade como de origem sexual. Segundo a concepção libidinal, dividiu a personalidade


em três instâncias: Id; Ego; Superego (ver no capitulo anterior).

A psicanálise descreveu a estrutura da mente (ID, EU, Super-EU), seja o desenvolvimento dos
processos psíquicos dos primeiros anos de vidas. Este desenvolvimento é decisivo porque nele
se deitam os fundamentos da vida psíquica do futuro indivíduo adulto e os traços persistentes da
personalidade. O aspecto mais evidente da teoria freudiana e aquele das fases do
desenvolvimento psicosexual. Segundo Freud a área do prazer sexual desloca-se duma zona
erótica do corpo a outra, segundo uma sequência determinada biologicamente na medida em
que a criança cresce. De consequência os distúrbios psíquicos do indivíduo adulto dependeriam
dum desenvolvimento não regular das várias fases da sexualidade infantil.

3.5.1.2.1. As fases do desenvolvimento psicossexual segundo Freud

Freud preconiza cinco estádios do desenvolvimento psicossocial:

Fase oral (o –2 anos) : nos primeiros meses da vida ate cerca de 2 anos de vida, a libido está
concentrada na zona oral (boca): o bebe tira prazer através da zona erótica da boca, dos lábios e
da língua, e nos actos de sucção, mordedura e mastigação. No adulto, a fixação formas da
sexualidade oral pode exprimir-se em comportamentos com a sucção do próprio dedo, comer-se
as unhas, comer excessivamente, etc.

Fase anal (2-3 anos): nesta fase o ponto focal da libido desloca-se e as principais fontes de
prazer sexual tornam as actividades esfintéricas. Esta presente seja a exigência de satisfação da
necessidade (defecar) seja de aprender o controlo fisiológico em relação as regras ditadas pelos
pais e as convenções sociais. Conter as fezes significa, duma parte, bloquear a satisfação de uma
necessidade e da outra parte, significa realizar ou cumprir as regras dos pais, que a sua volta são
fonte de gratificação quando a norma vem respeitada pela criança. A compreensão de exigências
contrastantes, o conflito, relacionado a fase anal poderá manifestar-se no adulto em
comportamentos de excessiva limpeza, pontualidade, obstinação, etc.
63

Fase fálica ( 3-5 anos) – entre 3 a 5 anos a libido desloca-se para as zonas genitais a procura do
prazer. O rapaz e a menina tocam os próprios órgãos genitais, tornam-se curiosas em relação as
diferenças entre os dois sexos. Os pais muitas vezes proíbem o comportamento sexual das
crianças desta idade pensando ou considerando que são formas adultas da actividade sexual,
enquanto normalmente exprimem a exigência das crianças de conhecer o próprio e o outro
aparato sexual. Nesta fase manifesta-se o assim chamado complexo de Edipo, do nome do da
personagem da tragédia grega Edipo rei de Sofocle (na tragédia grega, Edipo mata o pai sem
conhecer a identidade e casa-se com a mãe). O menino chegando nesta fase do desenvolvimento
psicosexual, experimenta um desejo de hostilidade para o pai e um desejo de amor para com a
mãe. Estes dois desejos co-presentes, numa forma geralmente inconsciente, são vividos como um
conflito. Por outro lado, o pai representa para o menino a fonte da punição (vivida como
castração dos próprios órgãos) por causa do amor dirigido a mãe. O menino pode superar este
conflito através de um processo de identificação com o pai, mediante o qual ele assimila e faz
seu o comportamento paterno. Durante o processo de identificação, os meninos introjectam no
Super-eu grande parte das regras sociais e dos valores partilhados e derivados da figura dos pais.
Na menina verifica-se um processo em parte análogo, primeiro de hostilidade para com a mãe e
amor para com o pai e, portanto, em seguida, de identificação com a figura materna (tal processo
e denominado de Eletra).

Fase da latencia (6 – inicio da adolescência): durante esta fase a actividade da libido perde
intensidade, consentindo ao “Eu” uma trégua para consolidar o desenvolvimento anterior
enquanto a criança orienta ou dirige os próprios interesses no ambiente.

Fase genital (....fim da adolescência): o culmine do desenvolvimento psicosexual verifica-se no


fim da adolescência, na fase genital. O rapaz e a rapariga completam o desenvolvimento
psicosexual e orientam o próprio comportamento sexual aos partner. Elemento característico
desta fase e o surgimento de um interesse de relação reciprocamente gratificante com os outros.
O indivíduo que se encontra nesta fase genital, esta em grau de manifestar o interesse para com
os outros, desejo de partilhar as experiências significativas e solicitude para o seu bem-estar: este
empenho a reciprocidade não e alcançado por todos.
64

3.5.1.3. O Desenvolvimento Psicossocial: A Teoria Do Desenvolvimento Psicosocial Segundo


Erick Erickson

O desenvolvimento psicológico, seja na dimensão cognitiva como na emotiva, não termina com
a idade adulta. Os primeiros anos de vida e o período da adolescência são etapas fundamentais
para a construção do mundo psíquico do adulto, mas a obra da reelaboração e da reorganização
da própria vida psíquica continua incessantemente por toda a existência humana.

A ideia de que o desenvolvimento psíquico dura toda a vida e que seja estreitamente legada as
relações sociais foi elaborada por Erik Erickson. Erikson, nasce em Frankfurt – Alemanha.

Enquanto Freud atribuía mais importância ao inconsciente, Erickson focalizava a sua atenção no
papel desenvolvido pelo “Eu” quando se devem enfrentar problemas nos diferentes períodos da
vida.

A teoria de Erikson (1950, 1968) afirma que o desenvolvimento psicossocial atravessa oito
estádios, em cada um do qual o indivíduo deve enfrentar uma série de problemas, ou a assim
chamada crise do estádio, para poder passar ao estádio sucessivo. Segundo Erikson, na medida
em que uma criança resolve positivamente os problemas de cada estádio, determina-se a sua
possibilidade de tornar-se uma pessoa adulta dotada de capacidade de adaptação.

3.5.1.3.1. Fases de Desenvolvimento Psicossocial Segundo Erikson

Estádio sensorio-oral (0-1): crise entre a confiança V desconfiança . A criança põe-se o


problema de ter confiança o não ter confiança na pessoa que toma cuidado ou se ocupa dela
(geralmente a mãe), se recebe ou não nutrição e afecto. Da confiança para com a figura materna
desenvolvera a confiança para com o ambiente externo e outras pessoas. Se a criança não contar
com o afecto e os cuidados maternos, perdera a confiança para com as outras pessoas e pensará
que o ambiente externo não lhe pode dar confiança.

Estádio muscular-anal (1-2 anos): crise entre autonomia V dúvida/ vergonha: a criança
começa a explorar o mundo e a entrar em relação com outras pessoas. Na medida em que
conquista autonomamente as habilidades principais, por exemplo aprender a caminhar, deve
também não duvidar de si quando não consegue padronizar esta tal capacidade imediatamente. A
65

criança deve escolher se ser autónoma em tal situação e continuar de modo independente, ou
então enfrentar o futuro com dúvidas.

Características: afirmação da vontade: a criança desenvolve a capacidade de escolha, a


possibilidade de auto-domínio; sentimentos de autonomia e de amor – próprio. Pode
desenvolver-se sentimentos de perca de auto-domínio, a vergonha e duvidas quanto ao exercício
da vontade.

Estádio locomotor - genital (3 –5 anos): crise de iniciativa V sentimento de culpa.


Desenvolvem-se as estruturas anteriores e a criança encontra-se a ter que resolver o conflito
existente entre o tomar iniciativa em actividades e apreciar os resultados ou sentir-se culpado por
ter ultrapassado os limites, neste caso surge o medo de punições ou de castigo, criticas e de
consequência o sentimento inibitório (a criança pode perder a capacidade de tomar novas
iniciativas e sente-se em culpa pelos seus falimentos).

Estádio de latência (de 6 anos – a puberdade): crise da diligencia V complexo de


inferioridade. Nesta fase adquirem as regras fundamentais sobre o mundo externo e as primeiras
regras de comportamento social graças ao facto de frequentar a escola e o grupo dos pares. As
próprias competências podem ser desenvolvidas e reforçadas, ou então podem ser bloqueadas. O
insucesso na escola ou nas relações sociais em geral podem gerar um sentido de inferioridade
que bloca ulteriormente o desenvolvimento cognitivo e emotivo.

Adolescência: a crise por superar é entre a identidade V confusão a cerca do papel a


desempenhar (confusão de identidade). O adolescente deve desenvolver o sentido de identidade
de si mesmo, tornar-se um indivíduo com a sua própria personalidade distinta daquela dos
parceiros e dos adultos, com próprias normas sociais e próprios valores morais. O falimento na
construção da identidade manifesta-se na “confusão de papéis”, facto pelo qual o adolescente
não consegue encontrar um papel adequado para a sua personalidade no contexto social.
66

Primeira idade adulta (20 –30 anos):. Nesta fase a crise é entre intimidade ou amor V
isolamento a pessoa enfrenta a escolha entre uma vida caracterizada de relações de intimidade
(capacidade de amizade e amor), encontrar-se em companhia, amar alguém e a ausência de
relações afectivas, e transformar-se num isolado, evitando compromisso de amor ou amizade. É
o estádio da vida em que se põe também a problema da escolha profissional que permite a
inserção na sociedade. As duas escolhas cruzam-se, originando as vezes conflitos, sobretudo na
mulher pela qual a profissão pode contrastar com o papel de mulher e de mãe.

Meia-idade (40-60 anos): a crise situa-se entre a criatividade ou interesse V estagnação ou


auto-absorção. Regista-se a consolidação do amor e da amizade: aumento do interesse
profissional, aumento da atenção para com os filhos mas pode viver em debilidade no
relacionamento, em depressão, sem interesse. Para essa fase contribui muito a tipo de escolha
profissional feito, em particular em relação a constatação feita no que diz respeito aos objectivos
ou propósitos alcançados ou não segundo a plano traçado na juventude. O sentido do insucesso
pode muitas vezes estimular a novos interesses e opções ou a uma nova ou mais lúcida
consciência das próprias capacidades.

Velhice (dos 60 anos em diante): a crise observa-se entre o sentimento de integração e calma
V desespero. Nesta fase emerge uma outra situação de conflito, aquela concernente a aquisição
de um sentido de integridade, que se experimenta quando se considera que a própria vida foi
completada, dando-lhe um sentido, ao qual se contrapões o desespero, se se pensa de não ter
alcançado os objectivos que anteriormente se tinham proposto ou de não ter integrado as próprias
experiências.

A pessoa pode tornar-se sabia: não se preocupa ansiosamente pela vida porque descobriu o seu
sentido e o da dignidade da sua vida; há aceitação da morte. Mas pode não alcançar a sabedoria,
ao fazer o balanço da sua vida ou avaliação do seu passado e verifica que não fez nada que
valesse a pena, logo surge um sentimento de desgosto pela vida e de desespero perante a morte.
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Cada vez mais está a crescer o numero de anciãos que fica inactivo depois da reforma e
marginalizados em relação as decisões da colectividade. A psicologia deve ser em grau de
afrontar esta nova problemática para a integração dos anciãos na sociedade.

3.5.1.4. O Desenvolvimento Moral

3.5.1.4.1. O Desenvolvimento Moral Piaget

Segundo Piaget, o desenvolvimento moral dá-se em dois estádios principais:

 Realismo moral caracterizado pelo egocentrismo e pela obediência cega


ás regras;

 Moralidade de cooperação caracterizado pela empatia e pela


compreensão do facto que uma acção vale pelos efeitos que possa ter nos outros.
Significa que as crianças entendem e seguem os princípios morais, existe a génese da
moral, embora agimos contra os nossos princípios morais.

 Outros estudos, preocupam-se com os factores que influenciam as acções


morais. Na vida, as regras morais começam pela imposição exterior sobre a criança,
passando pela interiorização. O reforço negativo ou punitivo (o medo pelo castigo) é um
dos aspectos mais importantes para o comportamento moral, ou o apontar bons
exemplos, ou a atribuição de culpa á criança (indução do sentimento de culpa).

3.5.1.4.2. O Desenvolvimento Moral Segundo Lawrence Kohlberg

No desenvolvimento da personalidade joga um papel fundamental a aquisição de regras de


comportamento que reflectem os valores da cultura e da sociedade em que o individuo vive.
Lawrence Kohlberg, fortemente influenciado pela teoria de Piaget, hipnotizou que o aspecto
moral desenvolve-se gradualmente por estádios.
68

Kohlberg introduz uma perspectiva desenvolvimentista, isto significa que revolucionou a


compreensão sobre o desenvolvimento moral, descobriu que as pessoas não podem ser agrupadas
em compartimentos definidos com rótulos simplicistas:

o Este grupo é honesto

o Este grupo é aldrabão

o Este grupo é reverente

Segundo Kohlberg, o carácter moral das pessoas se desenvolve. Significa que o crescimento
moral se faz de acordo com uma sequência do desenvolvimento.

Para o desenvolvimento do carácter, “dizer as crianças e adolescentes para adoptarem


determinadas virtudes ou manipulá-las até que digam palavras certas não produz um
desenvolvimento pessoal ou cognitivo significativo). (Sprinthal, 1993: 170).

Segundo KOHLBERG, o desenvolvimento ocorre de acordo com uma sequência específica de


estádios, independentemente da cultura, subcultura, continente ou país, raça.

Moral refere-se as normas e regras da conduta social que caracterizam as concepções a respeito
da justiça e injustiça, do bem e do mal. São mantidas ou cultivadas pela força da opinião
pública, hábitos, costumes e educação.
69

Em 1964 Kohlberg identificou seis estádios fundamentais do desenvolvimento moral.

3.5.1.4.2.1. Os seis estádios do desenvolvimento moral de Kohlberg

Níveis Estádios Características


A obediência e as decisões morais são baseadas em formas de
poder muito simplicistas, de tipo físico e material Aqui o
comportamento baseia-se na recompensa e no desejo de evitar
a punição física severa por parte de um poder superior, “poder
da razão”, “a sobrevivência dos mais fortes”. P. Ex. as acções
são julgadas em termos das suas consequências físicas. O
medo da punição domina os motivos da criança.

Moralidade pré-convencional
ou pré-moral (0 –7/8 anos)
I

As acções baseiam-se amplamente na satisfação das


necessidades pessoais do indivíduo. O motivo básico das
pessoas é satisfazer as próprias necessidades. Não consideram
as necessidades das outras pessoas. Envolve a percepção do
poder do negócio/trocas de favor. “coça-me as

II

costas e eu coço as tuas”...mas obtendo pequena vantagem em


cada negócio. Há uma orientação materialista, na qual as
discussões morais se expressam em termos instrumentais e
físicos. Este nível aceita o uso de influências para resolver
qualquer delito. Ex: se a personalidade é encontrada a roubar
um carro a punição está determinada pelo custo do carro.
Admite falsificar assinaturas, subornos, aldrabar o patrão ou
70

cometer outros delitos semelhantes, desde que a pessoa escape


impune.
Filosoficamente, esta categoria de pensamento moral é
designada de hedonismo instrumental: falta de respeito humano
pelas outras pessoas.
O conformismo social: fazer o apropriado e o que agrada os
outros, rejeita as decisões do ego. Há um relacionamento
duplo. O motivo da criança é ser bom rapaz para ser aceite.
Cumprem-se somente as acções que são aceites pelos parceiros,
III professores e pais. O “justo” e o “injusto” não vem avaliado
em base as punições físicas ou recompensas (doces,
Moralidade convencional ou de brinquedos) mas em relação a avaliação que os outros fazem do
conformidade próprio comportamento e ás exigências de oferecer uma boa
(dos 7/8 – adolescência) imagem de si mesmo. Obedece-se as regras para evitar o
sentido de culpa derivante da censura da autoridade.

Tomada de decisões de acordo com os códigos legais


IV existentes, em todas situações dilemáticas (preservação da
sociedade). A tendência é de ser melhor e não apenas o
cumprimento das normas.

V Agir de acordo com o contrato social: Da adolescência em


diante , a pessoa interiorizou regras abstractas de
comportamento social que são muitas vezes em
Moralidade Pós-convencional
ou dos princípios (da
adolescência em diante) VI
71

contraste com as próprias convicções.

. Os adultos que atingem esta fase, estão em grau de reflectir


sobre os princípios éticos e universais, tais como a justiça, a
igualdade, dignidade de todas as pessoas, o bem comum, a
sacralidade da vida, o altruísmo, etc. Esta fase é caracterizada
duma moralidade da consciência, facto pelo qual as pessoas
tendem a ver o comportamento ético como um equilíbrio entre
o bem estar do indivíduo e aquele da sociedade e a creditar na
aplicação das regras sociais em virtude dos seus princípios,
mas não em prejuízo dos direitos individuais. O indivíduo,
portanto, obedece as regras em base a convicções amadurecidas
e considerações objectivas.

Questões de reflexão

1. Identificar os principais factores que influenciam o desenvolvimento humano.

2. Descrever o aspecto central enfatizado em cada teoria de desenvolvimento humano.

Bibliografia base
BOCK, A. M. B. FURTADO, O e TEXEIRA, M. T. Psicologias: uma introdução ao estudo de
psicologias. 14ª ed. Saraiva. São paulo, 2009.
DAVIDOFF, Linda. Introducao `a Psicologia. S . Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA, 1987
72

Unidade 4 - PSICOLOGIA DA PERSONALIDADE

4.1. TEORIAS DA PERSONALIDADE

4.1.1. Génese e formação da Personalidade

Nenhum Homem nasce como personalidade. Entretanto, cada um de nós nasce como um
projecto (esboço) da personalidade, quer dizer, cada indivíduo ao nascer é um centro de
iniciativas, de buscas e de construções de boas qualidades. Isto significa que cada indivíduo
permanentemente deve trabalhar para a formação da sua personalidade.

A personalidade do Homem constrói-se pelos sinais complexos e estáveis: temperamento,


conduta, moral, interesse bem como as necessidades que definem as propriedades dos sentidos
e do comportamento do mesmo Homem. A personalidade capacita-se ás diversas situações da
vida, aí se define a sua totalidade pelas influencias sócio - genéticas e sócio -culturais.

4.1.2. Conceito de personalidade

A personalidade exprime a totalidade de um ser, tal como aparece aos outros e a si próprio, na
sua unidade, na sua singularidade e na sua continuidade. É o modo relativamente constante e
peculiar de perceber, pensar, sentir, e de agir do indivíduo. Inclui as atitudes, habilidades,
crenças, emoções, desejos, o modo de se comportar e, inclusive os aspectos físicos do
indivíduo.

Em suma, a personalidade é o nosso ser global, inclui o consciente e o inconsciente na sua


relação com o mundo exterior.

4.1.3. Estrutura da personalidade

Fazem parte da estrutura da personalidade as particularidades relativamente constantes e


viáveis da própria personalidade (do sujeito).

As componentes principais da personalidade são a estrutura endopsiquica e a exopsiquica.


73

Exopsiquica: determina a atitude do homem em relação ao meio externo. O exopsiquismo


contempla a experiência social (conhecimentos, hábitos, habilidades) e a orientabilidade do
indivíduo (inclinações, interesses, motivos, ideias, convicções, sentimentos, etc.).

A exopsíquica está condicionada socialmente, é adquirida das forças do meio, não é


biologicamente determinada.

Endopsiquica: manifesta a dependência interna mútua dos elementos e das funções psíquicas. É
identificada com a actividade psico-nervosa do homem. Relaciona-se com os traços da
personalidade como a receptividade, peculiaridade da memória, percepção, vontade,
pensamento, imaginação, etc. A endopsiquica está condicionada biologicamente, é inata, não
depende das forças do meio.

4.2. Teorias da Personalidade

A conduta humana é reconhecida como complexa. Assim, o comportamento não é determinado


por um único factor, mas sim por muitos factores, de natureza diversa. Diante de tão complexo
campo de investigação, diferentes grupos de estudiosos enfatizam diferentes grupos de aspectos
de comportamento. Alguns concentram-se em hereditariedade e outros em influencias
ambientais. Outros ainda, favorecem a formação de um conjunto de leis gerais, entendendo o
Homem como ser social e ao mesmo tempo biológico. As teorias da Personalidade que merecem
distinção especial são: o Behaviorismo, o Gestaltismo, a Psicanálise, a Disposicional, A
humanista, A Fenomenológica, a cognitiva, a Biológica, a Evolucionista, etc.

4.2.1. O Behaviorismo

O termo “Behaviorismo” que em Inglês “behavior” significa comportamento, foi inaugurado


pelo americano John Watson. Watson postulava o comportamento como objecto de estudo da
psicologia e defendia que este (comportamento) devia ser estudado em função de certas variáveis
do meio.
74

Para entender a personalidade (comportamento) deve-se analisar as relações funcionais entre


acções visíveis e suas consequências também visíveis.

A essência de todo o behaviorismo é ser a ciência do par Estímulo-Resposta. Todo o


comportamento pode ser modificado pelo meio ambiente, de tal forma que o controle das
condutas é possível e os fenómenos psíquicos são previsíveis.

A influência do meio ambiente predetermina o comportamento. Não se interessa pelos


fenómenos como a consciência, a hereditariedade, o prazer e a dor.

O homem é considerado vítima passiva do meio ambiente. O ensino e a experiência são blocos
de construção da personalidade.

4.2.2. O Gestaltismo

Os fundadores da escola da Gestalt foram WERTHEIMER (1880-1943), KURT KOFFKA


(1886-1941) e WOLFGANG KOHLER (1887-1967). Todos eles negam a fragmentação entre
acções e processos humanos, defendendo o principio de determinação relacional, isto é, que as
propriedades das partes dependem do lugar, papel e função que têm no todo. Sustentam ainda
que a maior parte das configurações, o todo não é igual á soma das partes demonstrando-se que o
estímulo deve ser considerado como uma totalidade. A Gestalt Orienta-se pelos seguintes
princípios:

i. O todo é percebido antes das partes que a compõe;

ii. O todo é definido pelas interacções e interdependências das partes;

iii. As partes de uma configuração não mantém sua identidade quando estão separadas da sua
função e lugar no todo
75

4.2.3. A PSICANALISE (ver nas lições anteriores)

OS RESULTADOS DA REVISÃO (RECONSTRUÇÃO) PSICODINÂMICA (ALFRED


ADLER E CARL JUNG).

4.2.3.1. A Psicologia Analítica de Carl Jung

 Breves linhas biográficas

Carl Gustav Jung, nasceu em 1875 na Suíça e, vem perder a vida em 1961. Foi formado em
medicina (psiquiatria). Trabalhou seis (6) anos com Freud, nascendo assim, o interesse para o
comportamento humano. Separa-se de Freud em 1913 e elabora a sua teoria denominada
Psicologia Analítica ou dos complexos. A sua psicologia designou-se Analítica porque e uma
psicologia que não procura de isolar funções singulares mas de ocupar-se dos fenómenos que
caracterizam a personalidade na sua totalidade.

Construtor da psicologia analítica, é optimista em relação ao Homem. Significa que o Homem


pode ser orientado no sentido de desenvolver as suas potências realizando-se como eu.

 Pontos de divergência com Freud

1) Aceita a concepção da libido mas como energia psíquica neutra sem conotação sexual;
nega o papel fundamental da libido na origem da sexualidade.

1) Do ponto de vista metodológico, Jung e mais ou menos ecléctico, ou seja, usa elementos
psicológicos, mitológicos, que segundo o autor, esses devem ser considerados porque
encontram representações a nível psíquico.

2) Separa-se ainda de Freud porque segundo Jung, não e necessário considerar somente a
nível psíquico um dinamismo causal mas também finalístico, ou seja, é necessário
considerar que no comportamento existe uma meta a alcançar.
76

 Objecto de estudo da psicologia analítica

O conjunto de todos os processos psíquicos: conscientes e inconscientes.

 Ideia fundamental: no que diz respeito a realidade psíquica ele sublinha a autonomia da
realidade psíquica em relação ao fenómeno fisiológico mesmo se não possível uma separação
nítida entre as duas esferas. Ele fala também da realidade fisiológica como sendo subjectiva
enquanto incide somente para um enquanto a realidade psíquica é objectiva no sentido de que
algumas ideias são partilhadas, por exemplo: simbolismo, arquétipos, etc.

Jung acreditava que somos moldados por nossas metas, esperanças, aspirações em relação o
futuro bem como do nosso passado.

A personalidade integral (psique), segundo Jung, compõe-se de três sistemas: consciência,


Inconsciente pessoal e inconsciente colectivo.

1) Consciência: é a actividade que mantém relação entre os conteúdos psíquicos


(conscientes). Na consciência Jung focaliza o eu porque este é o sujeito da consciência. Ele
entende o eu como um conjunto de representações que constituem o centro do campo da
consciência.

 Funções do eu: pensamento, sentimento; sensação e intuição

2) O inconsciente pessoal: localiza-se abaixo da consciência, pertence ao indivíduo.


Consiste em todas as lembranças, desejos e outras experiências da vida da pessoa que foram
reprimidos ou esquecidas.

3) Inconsciente colectivo: localiza-se abaixo do inconsciente pessoal. O inconsciente


colectivo compreende conteúdos que segundo Jung constituem o depósito de modos reagir
típicos da humanidade, por exemplo, medo do mal, relação entre os sexos, entre pais e filhos,
situações típicas que o indivíduo enfrenta ao longo da sua existência.

Segundo Jung, em base as modalidades como se enfrentam estes problemas constitui-se um


depósito colectivo de predisposição ou reacção diferente, estas situações são independentes da
77

cultura. Jung afirma ainda que o inconsciente pode-se alcançar directamente mas através de
manifestações: Símbolos ou Arquétipos etc.

Arquétipos

São determinantes inatos da vida mental que dispõe a pessoa a se comportar de modo semelhante
ao dos ancestrais que si viram diante da situação análoga. Referem-se a símbolos que tem
características semelhantes independentemente das diferenças culturais: mãe terra, herói, luta
contra o bem e o mal. São formas universais de pensamento dotadas de conteúdo afectivo que
cria determinada imagem de cada indivíduo.

Persona: é a mascara da personalidade que usamos no contacto com os outros, representando-


nos tal com o queremos aparecer na realidade. A persona pode não corresponder a verdadeira
personalidade. Inclui nossos papéis pessoais, o tipo de roupa que usamos, o nosso estilo de
expressão pessoal, etc.

Sombra: é a parte mais primitiva e animalesca da pessoa. É o núcleo do material reprimido na


consciência. Ou seja, é a parte da personalidade que se ignora, geralmente contém material
desagradável, ela contem todos os desejos e actividades imorais e inaceitáveis. A sombra nos
impele a emitir comportamentos que normalmente não nos permitiríamos.

Anima e animus: reflectem a ideia de que cada pessoa de um sexo exibe algumas características
do outro. Anima se refere as características femininas presentes no homem e animus as
características masculinas presentes na mulher. Estas características estão ligadas à imagem ideal
do homem ou mulher que cada um de nós tem em si.

Self: é o arquétipo responsável pela integridade ou estabilidade da personalidade. O Self é o


processo central, um impulso para a individuação (realização de si mesmo) ou aspiração a auto
realização.

O processo de realização (individuação) e integração das componentes psíquicas

Antes de tudo temos que considerar que segundo Jung todo o indivíduo possui a libido, ou seja
esta energia fundamentalmente biológica, mas é neutra, ela tende à integração dos elementos
78

conscientes e inconscientes. Neste caso emerge a aqui a concepção finalística da libido em vez
da função causal.

Auto realização

Integrando as componentes conscientes e inconscientes, segundo Jung a vida psíquica é racional


que irracional. A energia libidica dá aquele estimulo para procurar sintetizar os elementos que
são em contradição. Segundo Jung, a libido tem uma direcção que tende a realizar o indivíduo
mas quando a libido encontra um obstáculo que bloqueia o seu fluir a pessoa percebe um certo
tipo de mal estar psíquico, ou seja, desequilíbrio, mesmo se iste bloqueio pode ser positivo no
sentido de que ajuda a pessoa a enfrentar o momento e sintetizar a sua vida.

Por outro lado, a actualização de si realiza-se através deste processo de individuação (tornar-se a
pessoa própria, o actuar-se como pessoa, mesmo como dever moral de cada pessoa). A meta
ideal para tornar-se “humano” é alcançar a conciliação entre o consciente e o inconsciente
mesmo se, obviamente, um desequilíbrio pode criar dinamismo no próprio crescimento.

Jung desenvolveu um trabalho sobre atitudes que constituem o modo como a pessoa reage aos
estímulos que chegam, são modalidades de acção e existem dois modos fundamentais:
introversão e extroversão . Na primeira atitude o sujeito dirige a sua energia para a seu próprio
interior, tende a ser introspectivo, é guiado por referencias de tipo interior enquanto que o
extrovertido dirige a sua energia para o fora do eu, para eventos e pessoas do mundo exterior.

4.2.3.2. Alfred Adler e a Psicologia Individual

 Breves considerações biográficas

Nasce em Viena , em 1870, de família hebreia e morre em 1937. O segundo entre 6 filhos,
relativamente gracioso e sofria de uma forma de raquitismo e de criança desenvolveu uma forma
de competição com o primeiro irmão que era génio e sofria também pela limitação física, por
isso desenvolveu uma certa sensibilidade para com os mais necessitados.

De formação era médico, neurólogo, psiquiatra, sociólogo. A sua atitude diante dos doentes era
especial, e rejeitava o facto de mandar os doentes ao neurólogos enquanto este não tinha
79

nenhuma lesão e neste caso o neurólogo não tinha instrumentos necessários para resolver o
problema.

A obra fundamental escrita por Adler foi intitulada de “o temperamento nervoso” . Nesta obra
evidencia a mal estar ou distúrbio psíquico como sendo consequência de uma atitude errada que
o indivíduo adopta diante da lógica no enfrentar a vivência social. Segundo o autor, existe
oposição entre o indivíduo e a sociedade.

 Causas da divergência com Freud

Adler entrou também em contacto com Freud em 1911, mas diverge com o Freud porque não
concorda que com a ideia de que a libido seja a única fonte do distúrbio psíquico da própria
personalidade mas diz que a distúrbio psíquico é resultado da afirmação exagerada de si.

 Método

Estudo de historias de indivíduos que vem reconstruídas gradualmente através da recordação da


própria infância, o conhecimento da situação social do indivíduo. Assume particular atenção o
conhecimento com a posição em que o indivíduo ocupa em termos de nascimento. Este método
tendia a ajudar o indivíduo a compreender porque reage num certo modo, as causas da sua
inferioridade e depois a procurar um equilíbrio a nível emotivo, por exemplo através do
amadurecimento duma coragem, confiança que até pode conduzir o indivíduo a inserir-se na
sociedade.

 Aspectos fundamentais da psicologia individual

 Adler é autor da psicologia individual (porque quer sublinhar que o indivíduo é único,
irrepetível e que não é possível isolar um acto, ou acção da totalidade da
personalidade) ou Teoria da unidade do indivíduo indivisível e livre, consciente dos
seus próprios objectivos, responsável nas suas acções.
80

 Adler acredita que o comportamento humano é determinado por forças sociais e não
biológicas e sugeria que só podemos compreender a personalidade investigando os
relacionamentos sociais e as atitudes que a pessoa tem com os outros.

 Adler considerava a motivação humana um esforço para atingir a sua superioridade, o


poder. Assim, um sentimento generalizado de inferioridade é a força determinante do
comportamento. Somos mais influenciados por aquilo que o futuro nos reserva.

 Adler também se concentrava na família como factor de desenvolvimento da


personalidade. Crianças com deficiências podem se considerar um fracasso , mas, por
meio da compensação e com, a ajuda de pais compreensivos, podem transformar
inferioridade em forças.

 Segundo Adler, o ser humano tende a realizar a própria personalidade, a própria unidade
e tudo aquilo que o estimula a realizar como unidade é uma necessidade de conservação
(biológica e psicológica) e de realização de si.

 A auto realização é a necessidade fundamental e é vivida na criança como complexo de


inferioridade, neste caso a criança recolhe a sua energia para poder afirmar-se;

 O ambiente é um factor que condiciona a inserção adequada na sociedade, as


circunstâncias concretas onde o indivíduo actua o seu plano, o estilo de vida ou o
projecto existencial.

 Para entender a pessoa, segundo Adler, é necessário entender o fim a que as próprias
actividades tendem. Para entender o fenómeno psíquico precisa entender o fim concreto
que a pessoa está a perseguir.

4.2.4. A Teoria Disposicional

A orientação disposicional na teoria da personalidade está ligada a psicólogos anglo-americanos:


ALLPORT, CATTELL e EYSENICK.

A sua base de orientação é que o homem possui conjunto de predisposições para reagir de modo
determinado nas diferentes situações, isto é, a personalidade tem um grupo de traços estáveis.
81

Significa que o homem demonstra estabilidade determinada nos seus procedimentos,


pensamentos, emoções independentemente do tempo e da experiência.

4.2.5. A Psicologia Humanista

Liderados por Abraham Maslow e Carl Rogers, os psicólogos humanistas enfatizam o potencial
de crescimento de pessoas saudáveis.

Nesta corrente confluem várias expressões da psicologia que partilham a insatisfação dos
pressupostos deterministas e reducionistas da Psicanálise e do comportamentalismo. A
psicologia humanista constitui-se como terceira força (como foi chamada por Maslow) em
oposição ás duas correntes (acima citadas) que então dominavam. Da psicanálise foi rejeitado o
determinismo biológico, na dinamicidade das pulsões que supera a espontaneidade e a livre
conduta individual enquanto o comportamentalismo foi rejeitado o elementarismo e pelo
objectivismo , que anula aquilo que na esfera da pesquisa psicológica concerne a totalidade e a
subjectividade.

O humanismo é uma orientação teórica que enfatiza as qualidades únicas dos seres
humanos, especialmente sua liberdade e potencial de crescimento pessoal.

Pressupostos teóricos da psicologia humanista

 A teoria humanista, é uma abordagem centrada no estudo de pessoas saudáveis e


criativas destacando o carácter único da personalidade humana, a busca de valores e
sentido de existência alem da liberdade de que demonstra a auto direcção e auto
aperfeiçoamento. O comportamento depende do meio social na interacção com os
factores internos

 Acentua o carácter da irruducional e unitário do Homem, onde as motivações da


acção não são as pulsões, mas são promovidas por tendências não quantificáveis como a
necessidade da exploração, a criatividade, a visão do mundo em que se exprime a própria
identidade, a qualidade das relações com os outros e sobretudo a auto realização.
82

 Pela sua natureza o Homem tem capacidade para auto aperfeiçoamento ou auto
actualização (uso e explorarão plenos de talentos, capacidades, potencialidades).

Os psicólogos humanistas:

 Consideram os seres humanos fundamentalmente bons e as psicopatologias sub entram


quando ao Homem é impedido de seguir as inclinações naturais;

 Negam a teoria freudiana segundo a qual o comportamento adulto é inevitavelmente o


produto das experiências passadas.

 Defendem que a personalidade pode modificar-se também, na idade adulta;

 Afirmam que as pessoas possuem a liberdade e a capacidade de modelar o próprio futuro,


sobretudo se aceitam as experiências do aqui e agora.

Maslow e a Teoria da Auto Realização

Abraham MASLOW (1908-1970), em 1962, em Broohklin Colleg nos Estados Unidos deu inicio
oficialmente a psicologia humanista.

 Maslow descreveu a auto realização como a necessidade de tornar-se sempre mais


aquilo que cada um é, de tornar-se tudo aquilo que se é capaz de ser.

 Como fundador da psicologia humanista põe uma incondicionada confiança nas


potencialidades da natureza humana que é boa, onde a doença, a maldade ou as forças
destrutivas são resultado da sua frustração e da perversão da natureza humana (insatisfação de
necessidades importantes), não há traços negativos inatos.

 Segundo Maslow a pessoa é portadora de necessidades e desejos. Para compreender a sua


personalidade e o seu comportamento devem ser analisadas as necessidades que orientam a
relação da pessoa no seu ambiente. Nisto, Maslow realizou uma organização hierárquica de
cinco necessidades (a pirâmide das necessidades segundo Maslow) que progressivamente tem
sido satisfeitas para favorecer o crescimento e a maturação da pessoa, começando pela satisfação
das necessidades fisiológicas ligadas à sobrevivência chegando a auto realização e são estas
necessidades que constituem a base da motivação do Homem.
83

1) necessidades fisiológicas: ligadas a sobrevivência, e tem um nível alto de intensidade no


nascimento: respirar, beber, comer, o sono, a higiene, etc.;

2) necessidade de segurança: emergem depois da satisfação das necessidades fisiológicas,


e compreendem a necessidade da estabilidade, da dependência, da protecção, da
liberdade do medo, da ânsia e do caos, a necessidade de ordem e de lei, etc. Necessidade
de sentir que o mundo é organizado e previsível; necessidade de se sentir a salvo,
seguro e estável.

3) necessidade de pertença e afecto (afiliação e de amor):

Necessidade de amar e ser amado, de pertencer e ser aceite; necessidade de evitar a


solidão e a alienação. A pessoa deseja relações de afecto com as pessoas em geral, deseja
um lugar no seu grupo ou na sua família e procura realizar este objectivo;

4) necessidade de auto estima e estima: depois da satisfação da necessidade de afecto,


nasce o desejo de estima de si mesmo (auto estima) e da parte dos outros (desejo de
prestigio, de fama, de gloria);

5) necessidade de auto realização: reflectem a tendência a realizar aquilo que se ‘e,


tornar-se aquilo que se ‘e capaz de ser, trata-se da tendência a realizar a própria
personalidade na totalidade.

Necessidade de corresponder o seu potencial pleno e singular. Neste nível o homem orienta-
se a aqueles valores que Maslow chamou de valores do ser (being) e que incluem a beleza, a
justiça, a lealdade. A satisfação destas necessidades dá saúde, enquanto a privação orienta a
patologia.

Carl Rogers e a Perspectiva Centrada na Pessoa

O psicólogo humanista Carl Rogers concordava com muito do que Maslow pensava. Rogers
considerava que as pessoas são basicamente boas dotadas de tendências para a auto realização.
Cada um de nós é como uma semente, pronta para o crescimento e a realização, a menos que seja
frustrado por um ambiente que inibe o desenvolvimento.
84

A contribuição teórica de Rogers, tem sido denominada de fenomenológica. Este estudioso parte
da descrição do Homem considerando o quadro de referencia do indivíduo; descreve o indivíduo
partindo deste seu mundo fenomenológico, daquilo que o indivíduo percebe

A teoria fenomenológica, orienta-se com base nos seguintes princípios

O comportamento duma pessoa pode ser visto:

 Do ponto de vista do observador, daquela pessoa que vê do externo o comportamento


de um determinado indivíduo;

 Do ponto de vista do sujeito que actua num determinado comportamento, sublinhado


deste modo o aspecto subjectivo (reacção do sujeito ‘a percepção duma determinada
situação assim como ele a percebe).

O campo fenomenológico ou de percepção é constituído não tanto pela realidade objectiva,


mas do mundo (seja interno que externo) como é percebido pelo sujeito. Este campo
fenomenológico dependendo dos autores, é exclusivamente consciente ou compreende
elementos conscientes e subconscientes; para todos é todavia muito importante e é a
verdadeira realidade do sujeito.

Rogers, (1902-1987), na base das suas observações clínicas (1961) refutou a concepção
psicanalítica do conflito de natureza sexual a favor duma concepção positiva do indivíduo.

O indivíduo, denominado de organismo por Rogers, tende em maneira natural á sua própria
realização, de que o organismo é portador, representa o carácter motivacional mais importante da
teoria rogeriana, seja no que diz respeito ao desenvolvimento da personalidade, seja pela
importância no processo terapêutico.

O homem é visto como um ser constituído por varias partes integradas e, por isso, relacionadas
entre si. Rogers parte do conceito de eu (self) para explicar a personalidade humana;

O conceito do “eu” exprime” um modelo interno que se vai formando a partir das interacções
que as pessoas tem com os vários contextos onde se movem. E’ um padrão organizado de
percepções, sentimentos, atitudes que o indivíduo acredita ser exclusivamente seu.

O “eu” como objecto de consciência: inclui o conceito de si, o conceito do próprio esquema
corpóreo, o conceito das próprias qualidades, tudo aquilo que o indivíduo sente como seu.
85

O “eu” como centro da motivação: a estrutura perceptiva do eu em determinados momentos


vem estimulada; o sujeito sente, por exemplo, que a execução daquela determinada tarefa é
muito importante para si, e portanto, neste caso quando o eu é percebido como o centro de
motivação este eu é muito co-ligado ao sentido do valor pessoal porque quando existe este
aspecto da motivação o alcance duma determinada finalidade importante para o sujeito dará um
sentido de valor pessoal, de satisfação, de sucesso.

Para alem do eu, o sujeito organiza uma estrutura: o eu ideal (conjunto de características que a
pessoa gostaria de ser);

Rogers acredita que os seres humanos tem uma tendência natural para a “realização”, esforço no
sentido de congruência entre “eu” e experiência.

As interacções entre as pessoas são as que proporcionam o crescimento e o desenvolvimento


do Homem; a auto realização e é a principal força motivadora.

Na visao de Maslow e Rogers, um aspecto central da personalidade é o auto-conceito, todos os


pensamentos e sentimentos que temos em resposta à indagação “ Quem sou eu?” Se nosso auto
conceito é positivo, tendemos a agir e perceber o mundo de maneira positiva. Se é negativo – se
a nossos próprios olhos ficam aquém do “eu ideal” sentimo-nos insatisfeitos e infelicidade.

Questões de reflexão

1. Indicar os determinantes que condicionam o processo de formação e desenvolvimento da


personalidade.

2. Descrever os aspectos de convergência/divergência entre a teoria psicanalítica de Freud e a


Neopsicanalítica de Jung e Adler.

Bibliografia recomendada
CAMPBELL, John B; HALL, Calvin S. e LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade, 4.
Ed., São Paulo, Porto Alegre, 2000.
DAVIDOFF, Linda. Introducao à Psicologia. S. Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA, 1987
86

Unidade 5 - PROCESSOS PSÍQUICOS COGNITIVOS

Processos Cognitivos: são processos que tem como característica mais saliente representar o
sujeito, um objecto ou fenómeno, em geral, exterior ao próprio sujeito. O seu conjunto constitui a
vida cognitiva ou intelectual. Os processos cognitivos possibilitam o Homem realizar a
actividade mental como a inteligência, capacidades, habilidades, etc. O seu mau funcionamento
compromete a actividade mental. São processos cognitivos:

5.1. Sensação
Fenómeno elementar da consciência resultante da excitação de um órgão dos sentidos
provocados por um estimulo interno ou externo. Consiste em reflectir as características
(propriedades) isoladas dos objectos.

Importância

Tomamos conhecimento do mundo em redor (sons, cores, cheiro, tamanho), graças aos órgãos
dos sentidos. São os primeiros elementos que nos põem em contacto com a realidade e facilitam
a apreensão da mesma. Os órgãos dos sentidos recebem, seleccionam e acumulam a informação
e, transmitem ao cérebro, surgindo o reflexo adequado do mundo circundante e ao próprio
organismo.

5.2. Percepção
Acto de organização de dados sensoriais pelo qual conhecemos “a presença actual de um
objecto exterior”: temos consciência da existência do objecto e suas qualidades.

Importância

A percepção no PEA está relacionada com a compreensão e interpretação, análise intelectual do


aprendido. A percepção ajuda a compreensão, análise aprofundada do fenómeno e a chegar a
conclusão sobre o mesmo.

A percepção está ligada a atenção. A atenção constitui a fase inicial da percepção e a principal
forma de organização da actividade cognitiva. A atenção é indispensável à percepção,
interpretação, compreensão, imaginação, assimilação, recordação e reprodução. Durante a aula, a
atenção ajuda a compreensão da essência das tarefas, ajuda a sua resolução e verificação.
87

5.3. Memória
A capacidade de lembrar o que foi de algum modo vivido. Ela corresponde as seguintes
operações ou processos: a aquisição, a fixação, a evocação, o reconhecimento e a localização das
informações resultantes de percepções e aprendizagem. A memória facilita a organização,
fixação e retenção do aprendido, assim como a sua evocação., quando essa informação for
necessária. Não haveria evolução dos nossos conhecimentos se na medida que os adquiríssemos,
os perdêssemos. A memória conserva o passado e permite incorporá-lo na estrutura cognitiva do
sujeito.

5.3.1. Processos da Memória


Aquisição: consiste no contacto com a informação.

Fixação: para a fixação exige além da adequada aquisição, a repetição.

Evocação ou reprodução: consiste na lembrança do material fixado. É a reaparição na


consciência de um fenómeno passado. As informações armazenadas tentam a ser evocadas junto
das informações falsas.

Reconhecimento: identificação e uso de informações correctas, e as que vierem unidas são


rejeitadas. Consiste em referir ao passado as nossas lembranças, enquadrando-as num contexto
de factos da nossa experiência pessoal.

Localização: consiste em situar as recordações no trama da nossa história interior, em dispô-las


umas às outras, de forma a marcar-lhes o local próprio no tempo e no espaço, para estabelecer a
sua cronologia íntima e pessoal.

A fixação e a evocação serão tanto maiores quanto maior for o significado do material.
Diferentes partes da matéria devem ser relacionadas, matérias diferentes devem ser articuladas.

- A memória é condição do progresso intelectual: não haveria evolução dos nossos


conhecimentos se à medida que os adquiríssemos, os perdêssemos;

- A linguagem seria impossível sem a memória, porque para falar é necessário reter as palavras e
o seu sentido;

- Permite aperfeiçoar os nossos actos;


88

- A personalidade não existiria sem memória, pois é ela que conserva o nosso passado e permite
incorporar no “eu” o que se vai leccionando, para organização da personalidade.

Quando o aluno não armazena o material aparece o esquecimento. O esquecimento é o fracasso


do esforço evocativo ou impossibilidade de reproduzir o passado.

Factores do esquecimento:

 Vastidão da matéria

 Irrelevância do conteúdo

 Falta de interesse

 Doenças da memória

 O tempo (as repetições devem ser curtas): a primeira repetição deve ser na aula.

 Cansaço

5.4. Pensamento
Processo cognitivo que permite a resolução de tarefas ( processo de análise e síntese) . Permite
reflectir de forma generalizada a realidade objectiva sob a forma de conceitos, leis, teorias e suas
relações.

Importância

- Ajuda o indivíduo a superar as suas dificuldades desde as mais triviais até as mais
complexas;

- Planificação e organização lógica dos procedimentos a ter em conta na aula;

- Reflexão sobre uma tarefa para encontrar as mais adequadas soluções;

- Mudança de métodos habituais de resolução de tarefas colocadas;

- Avaliação de diversas variantes de resolução para encontrar um resolução mais racional;


89

- É um factor de ligação entre o concreto e o abstracto.

5.4.1. O Pensamento e Linguagem


O pensamento está socialmente condicionado e ligado indissoluvelmente com a linguagem, a
fala. O pensamento humano é impossível sem a língua. Qualquer pensamento surge e se
desenvolve em ligação indissolúvel com a linguagem. Quando mais profundo e bem ponderado é
um certo pensamento, tanto mais clara e precisa é a sua expressão em palavras. O homem
quando resolve um problema pensa de si para si como se estivesse a conversar consigo mesmo.

5.5. Imaginação
É o processo psíquico cognitivo, exclusivo ao homem, mediante o qual se criam(elaboram)
imagens e noções que não existiam na experiência anterior, ou seja, a habilidade que os
indivíduos possuem de formar representações, construir imagens mentais a cerca do mundo real
ou mesmo de situações não directamente vivenciadas.

A base da imaginação é noções da memória que se completam por novas percepções,


transformando-se em novas percepções e noções.

Importância

- Permite conceber o resultado do trabalho antes do início;

- Alarga os horizontes da memória e percepção;

- Permite antecipar e construir o futuro e o nível de desenvolvimento da capacidade inventiva. É


parte do processo técnico-científico, literário.

- Permite ao aluno estudar processos, fenómenos inacessíveis para a observação directa, sua
interpretação no quadro de diversas ligações e relações;

-Desenvolve nos alunos a atitude criadora através e da análise e compreensão do actual estado da
ciência
90

Questões de reflexão

1. Definir sensação, percepção, memória, pensamento e imaginação.

2. Descrever os mecanismos que desencadeiam os processos cognitivos.

Bibliografia recomendada
DAVIDOFF, Linda. Introducao à Psicologia. S. Paulo. Brasil editora Mcgraw-hilLDA, 1987
SARAIVA, A. Psicologia. 2ª ed. Plátano editora, Lisboa, 1977.
91

Unidade 6- ESFERA EMOCIONAL, SENTIMENTAL E VOLITIVA DA


PERSONALIDADE

6.1. Emoções

As emoções são fenómenos afectivos complexos ligados, como os sentimentos, a elementos de


ordem representativa, mas acompanhados por um abalo mais ou menos profundos.

Podemos definir as emoções como estados afectivos intensos e complexos, mas passageiros,
provenientes de reacções psíquicas violentas perante excitantes físicos ou morais. A alegria, o
medo, a cólera, a angústia, a tristeza, etc, são estados que apresentando as características
emocionais provocadas por desordens de tendências, permitem contudo estabelecer distinção
quanto à maneira como as emoções surgem na consciência.

6.1.2. Tipos de emoções

Segundo as condições em que se produzem e as características que apresentam, as emoções


podem classificar-se da seguinte maneira:

 A emoção-choque: caracterizada pelo quebrar brusco e violento do ritmo da consciência,


pela substituição da sequência normal das representações e das ideias por outra
absolutamente inesperada.

O principal elemento da emoção-choque é a surpresa que provoca uma desadaptação, uma queda
de nível mental, perante acontecimentos imprevistos que surgem bruscamente e não podemos
dominar.

A emoção-choque não se prolonga ou desaparece em virtude de uma nova adaptação ou se


transforma em emoção-sentimento.

 A emoção-sentimento: é mais intelectualizada do que a precedente, mais rica de


elementos representativos. Muitas vezes representa a persistência dos efeitos da emoção-
choque mas já mais fracos, constituindo emoções de carácter moderado, mais intensas do
92

que os sentimentos simples, mas perdido o aspecto tumultuário causado na consciência


pela surpresa.

São emoções finas, sujeitas à acção da imaginação que, juntando algumas vezes elementos novos
a um sentimento a principio moderado, acaba por faze-lo atingir uma alta intensidade, dando-lhe
o aspecto emocional.

Exemplo: A notícia do falecimento de uma pessoa conhecida, provoca-nos um sentimento de


pesar.

No entanto, a emoção-sentimento é mais durável, mais sujeita a acção da imaginação e da


vontade e, com uma dignidade moral inerente ao sentimento que representa.

6.1.3. Bases fisiológicas das emoções

Como estados afectivos intensos e complexos, nas emoções entram factores de ordem psíquica e
fisiológica aos quais tem sido atribuídas importância e ordem diferentes, a referir:

a) Factores de natureza psíquica: constituídos pelas representações, pelas ideias que a


emoção provoca, pelo exercício da imaginação que sobre ele actua e desenvolve, como
na emoção-sentimento, ou pelas novas representações que surgindo bruscamente,
provocam a desadaptação e o desequilíbrio, a perda de adaptação à realidade, como na
emoção-choque.

b) Factores de natureza fisiológica: representam a comparticipação, largamente constatada,


do organismo na formação dos estados emotivos. Tais como: as excitações e inibições
secretoras, alterações na circulação sanguínea provocando o rubor ou a palidez, no ritmo
respiratório provocando oprossões, no aparelho digestivo provocando perturbações
intestinais, nas reacções motoras, com o predomínio, como dissemos, de reacções de
carácter instintivo. Os gritos, os soluços, as sincopes, o tremor, constituem expressões
miméticas da emoção.

O estado emocional é por vezes acompanhado de um excesso de energia nervosa que nas
chamadas emoções esténicas ou exaltantes, se propaga a todo o organismo, irradiando pelas
93

linhas de menor resistência constituindo o que Spencer chamou lei de difusão da descarga
nervosa, provocando também, as chamadas reacções difusas, como os tremores e os
movimentos desordenados.

Verifica-se assim, que o estado emotivo se encontra dependente ao mesmo tempo do espírito e
do corpo, constituindo um conjunto psicofisiologico.

6.1.4. A ordem dos elementos psíquicos e dos fisiológicos na formação dos estados emotivos

No conjunto psico-orgânico, que é o estado emotivo, a ordem e importância de um ou outro dos


elementos tem sido encarada de forma diferente. Seguindo o método que temos adoptado,
exporemos os pontos de vista mais característicos:

1. Interpretação Intelectualista ou Psicológica (Herbart): é a interpretação clássica. Dá o


predomínio aos elementos de natureza psíquica na produção do estado emocional,
considerando a ordem seguinte: i) fenómeno representativo – é o conhecimento de uma
situação que surge perante o espírito; ii) fenómeno afectivo – que é a emoção proveniente
da tomada de consciência da insuficiência do sujeito para dominar a situação apresentada
(emoção-choque) ou das consequências que a nova situação acarreta (emoção-
sentimento); iii) perturbações orgânicas – representam as expressões somáticas e
fisiológicas da emoção, constituindo o quadro orgânico por meio do qual ela se manifesta
exteriormente.

2. Teoria fisiológica ou periférica (Cartesianos, Sergi, Langi e William James): supõe que o
estado afectivo é posterior e provocado pela constatação dos fenómenos fisiológicos. O
que se chamou a expressão da emoção seria na realidade a sua verdadeira causa.

Segundo James “sem os fenómenos orgânicos que a seguem imediatamente, a representação não
passaria de um fenómeno puramente cognitivo, pálido, frio, sem calor emocional.”

Como já dissera Ribot - “a emoção é uma expressão psicológica da vida vegetativa”. Além das
condições de enervação admitidas por William James, ainda moderadamente outros psicólogos
puseram em relevo o papel pelas glândulas secretoras, exócrinas e endócrinas. Todos estados
emotivos são acompanhados e seria até precedidos e condicionados por fenómenos de inibição e
excitação glandular.
94

A ordem dos elementos no estado emotivo seria então: i)fenómeno representativo; ii)
perturbações orgânicas; iii) emoção como consequência das perturbações.

A emoção seria a representação da consciência, das modificações orgânicas experimentadas e


que se seguiriam imediatamente a representação do objecto.

6.2. Sentimentos

Os sentimentos são fenómenos afectivos mais complexos, nos quais já predomina a actividade
moral que nos vai enriquecendo com os elementos representativos que a imaginação junta ao
elemento inicial que serve de estimulo e que é também de natureza psíquica e não física como na
sensação.

Contrariamente as sensações, os sentimentos são muito subjectivos e variáveis, dependem das


nossas tendências, da delicadeza da consciência e da imaginação. Estão mais sujeitos a acção da
vontade e, envolvendo já representações do bem e do mal, possuem uma dignidade moral que as
sensações não têm.

6.2.1. Relação entre Sensação e Sentimento

Toda a sensação que se idealiza pode passar a sentimento. Com sensações a arte provoca
sentimentos e, toda a sensação agradável está; ligada alegria, como a desagradável à tristeza.

O sentimento por sua vez, ligado à sensações podendo provoca-las e determina-las, visto que, a
dor moral tem repercursoes de natureza orgânica.

Os sentimentos de cólera, de vergonha, de medo constituindo já pela sua intensidade, formam


estados emotivos que provocam fenomenos fisiológicos como, opressões, palpitações, alterações
circulatórias e respiratórias Vaso-constrições.
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6.2.2. Tipos de sentimento

1. O medo – reacção emocional motivada por situação de insegurança ( perigos ou males


possíveis). Ex: nas suas formas atenuadas é: apreensão, susto, receio inquietação,. Nas formas
extremas: espanto, terror, pavor, pânico.

2. A cólera – impulsão a infligir dano, ou sofrimento, a quem nos ofende, ou contraria. Admite,
também, graus: impaciência, irritação, exaltação (formas atenuadas), ira, fúria, raiva (formas
extremas).

3. A alegria – é o estado de satisfação motivado por um bem que se desejou e alcançou (posse),
ou que se usufrui sem receio de perder (segurança).

4. A tristeza – reverso de alegria, é um estado emocional desejosa de um bem, que não pode
alcançar, ou privada de um bem, que não pode recuperar. Em qualquer caso, resulta sempre de
uma perda de valor, lesão no universo moral.

5. O amor - é a afeição pelo que consideramos ser um bem. Designa o conjunto dos impulsos
atrativos, ou aprovativos (zona do sim). Toma expressões diferentes conforme o objecto para que
se orienta. Há o amor próprio (egoímo), o amor do próximo (altruísmo), o amor-da-pátria
(patriotísmo), o amor-de-Deus (misticísmo).

6. O ódio – oposto do amor, a aversão pelo que consideramos ser um mal. Ao passo que o amor
tende sempre a exaltar o seu objecto, o ódio nunca se cansa em denigrí-lo ou destruí-lo. Designa,
assim, o conjunto dos impulsos agressivos ou repulsivos (zona do não)

7. A inquietação – etimologicamente, a impossibilidade para o espírito de permanecer tranquilo.


É um sentimento de mal-estar causado pela expectativa de acontecimentos desagradáveis.

8. A angústia – etimologicamente “aperto” é um estado duplo e acentuadamente orgânico e


psíquico. Caracteriza-se:

Organicamente, por fenómenos de constrição: laríngea (nó na garganta), toráxica (sensação de


asfixia próxima), abdominal (compressão no baixo ventre), genital (aperto na uretra, dificuldade
minotória).

Psiquicamente, por uma sensação de medo sem causa, que pode ir, e intensidade, da simples
preocupação passar pela ansiedade, at’e atingir momentos de aflição e verdadeiro pánico.
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9. Esperança – espectativa confiante em bens futuros, que muito desejamos, mas cuja produção
não depende de nós, ou só parcialmente depende.

6.3. A Vontade

Entende-se por vontade o exercício de uma actividade intencional, reflectida, deliberada,


orientada para um determinado fim previamente proposto pela inteligência conhecendo e
escolhendo livremente os meios para o atingir.

Este poder de se determinar e agir após reflexão, com consciência e inteligência, é a forma
superior que caracteriza a actividade humana. É pela vontade que se manifesta a personalidade.

6.3.1. Significado psicologico da Vontade.

A Vontade é indissociável da inteligência (que descrimina os valores), no entanto a vontade pode


se definir como capacidade de opção entre respostas de valores diferentes. Assim, a vontade se
afirma optando pelo valor que a inteligência reconhece como mais elevado. Ela comporta-se
psicologicamente como um regulador de energia, que favorece umas respostas em determento de
outras.

A vontada quando confrontada a escolher entre a emoção e a inteligência, ela opta pela
inteligência. Porque a moção é a espontaneidade, portanto a facilidade. A espontaneidade é
preguiçosa. Ora a vontade não pergunta se é fácil ou difícil, mas se vale ou não a pena.

Olhando os aspectos acima descritos encontaramos vários tipos de vontade: vontade de comer,
de beber, de dormir, de cozinhar, de estudar, de fazer sexo, ir a praia, etc.

6.3.2. A natureza da Vontade

Depende da maior ou menor importância dada aos factores que influem na escolha do
procedimento. Se os factores preponderantes são de ordem intelectual (motivos) a vontade liga-
se a faculdade de julgar se esses factores preponderantes são de ordem afectiva (móbeis) a
vontade é o predomínio de um desejo ou a satisfação de uma tendência.
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6.3.3. Teorias da vontade

a) Teoria intelectual da vontade (Sócrates, Platão, Descartes, Spinosa, Herbart, Fouillée):


supõe que o exercício da vontade est’a ligado a clareza das representações. Toda a ideias clara,
todo o juízo distinto, faz nascer a tendência para a acção. A vontade assim como uma forca
inerente as ideias.

A moral socrática, afirmando que “ninguém é voluntariamente mão”, como os cartesianos,


supondo que “omnis peccans est ignorans” admitem que a ideia clara do bem, o elemento
representativo, tem já em si o poder motor suficiente para arrastar a vontade, levando a decisão e
a execução.

b) Teoria afectiva da vontade: liga a vontade ao desejo, as tendências, aos elementos de ordem
afectiva que supõe serem os predominantes no momento da deliberação. Para os sensualistas
como Condillac, a vontade representa o desejo mais vivo e intenso.

Outros psicólogos como Wundt, reduzem a vontade a afectividade, dando o predomínio aos
elementos de ordem afectiva, aos móbeis, sobre os motivos.

Questões de reflexão

1. Definir emoção, sentimento e vontade.

2. Relecionar emoção, sentimento e vontade.

3. Fale da base fisiológica das emoções.

Bibliografia recomendada
ARESTA, E. Noções de Filosofia. Edições Marâmus. Portugal, 1962.
SARAIVA, A. Psicologia. 2ª ed. Plátano editora, Lisboa, 1977.
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Referências Bibliográficas

1. ADELINO, Cardoso e outros, Rumos da Psicologia , Lisboa, Portugal, Editora Rumos,


1993
2. ARESTA, E. Noções de Filosofia. Edições Marâmus. Portugal, 1962.
3. BOCK, A. M. B. FURTADO, O e TEXEIRA, M. T. Psicologias: uma introdução a
o estudo de psicologias. 14ª ed. Saraiva. São paulo, 2009.
4. CAMPBELL, John B; HALL, Calvin S. e LINDZEY, Gardner. Teorias da Personalidade, 4.
Ed., São Paulo, Porto Alegre, 2000.
5. DAVIDOFF, Linda. Introdução à Psicologia. S. Paulo. Brasil editora Mcgraw-
hilLDA, 1987
6. JEAM, Piaget, Seis estudos de Psicologia. Lisboa, Portugal, Editora DomQuerxote,
1977.
7. LEONTIEV, A. O desenvolvimento do Psiquismo. Lisboa-Portugal, Editora,
Progresso, 978.
8. MICHEL e François Gauquelin. Dicionário de Psicologia. São Paulo, Editora Verbo,
1978.
9. MULLER, F.L. (1976) , Vol. I e II. História da Psicologia. São Paulo, Brasil,
Publicações Europa/América, 1976.
10. PETROVSKY, A. Psicologia Geral, Moscovo , URSS, Editora, Progresso, 1980.
11. ROCHA, A. , Fidalgo, Z. Psicologia, Lisboa , Portugal, Editora, Texto Lda., 1998.
12. SARAIVA, A. Psicologia. 2ª ed. Plátano editora, Lisboa, 1977.
13. SUZZARINE, F. A memória, São Paulo , Brasil, Editora, Verbo, 1986.

14. WEITEN, W. Introdução à Psicologia: temas e variações. 4ª ed. Thomson Pioneira,

Brasil, 2002.

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