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Psicologia, Ciência e Profissão

DOCENTE: LUIZ FERNANDO DE OLIVEIRA


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Processos de trabalho do
psicólogo:
- Interfaces da psicologia com outras
profissões;

- O campo profissional a partir de


Na aula anterior... processos de atuação ao invés de campos
de atuação;

- Olhar ético do uso de terapias


alternativas e crenças religiosas nos
processos de atuação do psicólogo.
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Perguntas?
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O que veremos nessa aula:


 O que faz com que a psicologia seja
Aula 04 uma ciência

Psicologia como ciência  Principais estudiosos da Psicologia


enquanto ciência

 Reflexos das aquisições científicas na


atuação profissional do Psicólogo (a)
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Conhecimento
O ser humano, desde os tempos primitivos, foi ocupando cada vez mais espaço no
planeta, e somente esse conhecimento intuitivo seria muito pouco para que ele
dominasse a Natureza em seu próprio proveito.
 Osgregos, por volta do século IV a.C., já dominavam complicados cálculos matemáticos,
que ainda hoje são considerados difíceis por qualquer jovem colegial. Os gregos
precisavam entender esses cálculos para resolver seus problemas agrícolas,
arquitetônicos, navais etc. Era uma questão de sobrevivência.
 Com o passar do tempo, esse tipo de conhecimento ganha um repertório próprio, com
suas regras e seus conteúdos, especializando-se cada vez mais, até atingir o nível de
sofisticação que permitiu ao ser humano conquistar o espaço sideral. A esse tipo de
conhecimento sistemático, que exige comprovação, que nos dá segurança da ação
desempenhada, chamamos de ciência.
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Tipos de conhecimento

Senso comum ou Teológico Filosófico Científico


popular
- Pautado na fé -Início com pré- - Organizado
- Observações - Descrita em socráticos com métodos
do cotidiano
- Não tem livros sagrados -crítico e reflexivo - -Busca
intenção de se objetividade
aprofundar - - Racional
- intuitivo
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Psicologia enquanto ciência
 É de uso do cotidiano expressões do senso comum sobre
ser psicólogo ou de usar a psicologia:
 Exemplos:
Um amigo que sempre é procurado para desabafos, é psicólogo.

Um vendedor persuasivo está usando a psicologia

Falar para uma criança que não é para tomar banho: psicologia reversa

 Psicologia do Senso Comum: utiliza-se conhecimentos da


psicologia científica de forma superficial
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Ciência
A ciência compõe-se de um conjunto de conhecimentos sobre fatos ou
aspectos da realidade – o objeto de estudo – expressos por meio de uma
linguagem precisa e rigorosa.
 Esses conhecimentos devem ser obtidos de maneira planejada,
sistemática e controlada, para que se permita a verificação de sua
validade.
 Assim, podemos apontar o objeto dos diversos ramos da ciência e saber
exatamente como determinado conteúdo foi construído, possibilitando a
reprodução da experiência. Dessa forma, o saber pode ser transmitido,
verificado, utilizado e desenvolvido.
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 Um novo conhecimento é produzido sempre a partir de algo


anteriormente desenvolvido. Negam-se, reafirmam-se,
descobrem-se novos aspectos e assim a ciência avança. Nesse
sentido, a ciência caracteriza-se como um processo cumulativo
de produção de conhecimento.
 Exemplo: Carro com motor flex. Nasceu de crise com o petróleo
sazonalidade da safra de cana-de-açúcar. Já se tinha o
conhecimento do carro movido a álcool e movido a gasolina e se
juntou os dois.
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 Inicialmente ciência tem ainda uma característica fundamental: ela aspira


à objetividade.
 Suas conclusões devem ser passíveis de verificação e isentas de emoção,
para, assim, tornarem-se válidas para todos.
A ciência possui: objeto específico, linguagem rigorosa, métodos e técnicas
específicas, processo cumulativo do conhecimento e objetividade.
 Se diferencia do conhecimento espontâneo do senso comum. Esse
conjunto de características permite que denominemos de científico um
determinado conjunto de conhecimentos.
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Objetos de estudo
 Delimitar o que se estuda
 Na astronomia os astros, na biologia são os seres vivos. E
dessa forma é possível isolar o objeto de estudo através de
uma distância, por exemplo por um telescópio.
 Nas ciências humanas, como antropologia, sociologia e
psicologia, é diferente. Pois estuda-se o ser humano, e o
assunto diz respeito ao próprio cientista que estuda o
objeto
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 Dentro da psicologia existe uma diversidade de objetos de estudo.


 Psicólogo da comportamental: comportamento humano
 Psicólogo psicanalista: o inconsciente

 Existe discussões que essa diversidade é pela psicologia ser ciência


nova e que não foi possível construir paradigmas confiáveis (padrão
que serve como modelo)
 Porém, provavelmente a psicologia não terá apenas um paradigma
que seja aceitável por todos, por não ter uma única resposta para os
problemas da humanidade
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O ser humano tem uma capacidade criativa para desenvolver


suas próprias condições de vida, pode-se dizer a cultura.
 Inumeráveisgrupos humanos que vivem em nosso planeta
desenvolveram características peculiares. Existe a
Reelaboração constante e cotidiana dos padrões de
comportamento, dos costumes, das crenças e dos valores.
 Mudanças constantes que podem ser percebidas de geração
em geração.
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 “Estudar o ser humano significa estudar um ser histórico e em


constante mudança”.
 Conforme a definição de ciência adotada, teremos uma
concepção de objeto que combine com ela. Como, neste
momento, há uma riqueza de valores sociais que permitem
várias concepções de ser humano, diríamos simplificadamente
que, no caso da Psicologia, essa ciência estuda “diversos seres
humanos” concebidos pelo conjunto social.
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 Diferentes escolas elaboraram critérios com base em


determinada concepção de método científico, a que seria mais
apropriada para estudar o objeto de estudo que lhe foi conferido.
 A partir de seus pressupostos, cada corrente de pensamento
procurou chegar o mais próximo possível de uma noção de
verdade. Entretanto, como não há um padrão que permita definir
essa verdade, as escolas definem um campo epistemológico com
o maior rigor possível e com uma lógica consistente para garantir
a sua existência e convivência com as outras escola
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 Dessa forma, o corpo de conhecimento criado por uma corrente


tem consistência interna com o conhecimento ali produzido,
considerando que sua teoria, suas descobertas e seus conceitos
estejam formando um corpo estável e bem definido.
 As outras escolas procedem da mesma forma e a partir de seus
objetos de estudo e do desenvolvimento de suas teorias e métodos.
Podemos dizer que tais escolas constroem diferentes psicologias
com diferentes escopos e que elas se propõem a compreender as
pessoas de acordo com o seu parâmetro científico.
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 A diversidade de objetos de estudo está relacionada com


a amplitude de fenômenos diversos que não podem ser
acessíveis ao mesmo nível de padrões de descrição,
medida, controle e interpretação.
 A Psicologia colabora com o estudo da subjetividade – é
essa a sua forma particular, específica de contribuição
para a compreensão da totalidade da vida humana.
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Momento
interação

O QUE É SUBJETIVIDADE?
DÊ UM EXEMPLO
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Subjetividade como objeto de estudo da
Psicologia
 Estuda-se o ser humano em todas as suas expressões:
 as visíveis (o comportamento)
 as invisíveis (processos psíquicos)
 as singulares (o porquê somos o que somos)
 as genéricas (o porquê somos todos assim) –
 é o ser humano-corpo, ser humano-pensamento, ser humano-
afeto, ser humano-ação: subjetividade
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 A subjetividade é a síntese singular e individual que cada um de nós vai


constituindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as
experiências da vida social e cultural;
é uma síntese que, de um lado, nos identifica, por ser única; e, de outro
lado, nos igua-la, na medida em que os elementos que a constituem são
experienciados no campo comum das condições objetivas de existência.
 Essa síntese – a subjetividade – é o mundo de ideias, significados e
emoções construído internamente pelo sujeito a partir de suas relações
sociais, de suas vivências e de sua constituição biológica; é, também, fonte
de suas manifestações afetivas e comportamentais.
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 Entretanto, a síntese que a subjetividade representa não


é inata ao indivíduo. Ele a constrói aos poucos, a partir do
nascimento, apropriando-se do material do mundo social
e cultural (a expressão subjetiva coletiva), e faz isso ao
mesmo tempo em que atua sobre o mundo, ou seja, é
ativo na sua construção. Criando e transformando o
mundo (externo), o homem constrói e transforma a si
próprio.
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 Estudar a subjetividade, nos tempos atuais, é tentar compreender a


produção de novos modos de ser e estar no mundo, isto é, as subjetividades
emergentes, cuja produção é social e histórica.
 O estudo dessas novas subjetividades vai desvendando as relações culturais,
políticas, econômicas e históricas na produção do mais íntimo e do mais
observável no ser humano – aquilo que o captura, submete ou mobiliza para
pensar e agir sobre os efeitos das formas de submissão da subjetividade.
“O importante e bonito do mundo é isso: que as pessoas não estão sempre
iguais, ainda não foram terminadas, mas que elas vão sempre mudando.
Afinam e desafinam.” Grande sertão: veredas. Guimarães Rosa
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 É claro que a forma de se abordar a subjetividade, e


mesmo a forma de concebê-la, dependerá da concepção de
ser humano adotada pelas diferentes escolas psicológicas.
 No momento, pelas características do desenvolvimento
histórico da Psicologia, essas escolas acabam formulando
um conhecimento fragmentário de uma única e mesma
totalidade – o ser humano: sua subjetividade e suas
manifestações.
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História
 Psicologia tem raízes na filosofia
 psyché (alma) + logos (razão)
 A alma, ou o espírito, era concebida como a parte imaterial do
ser humano e abarcaria o pensamento, os sentimentos de
amor e ódio, a irracionalidade, o desejo, a sensação e a
percepção.
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 Filósofos pré-socráticos
 Relação do homem com o mundo por meio da percepção
 “Discutiam se o mundo existe porque o homem o vê ou se o
homem vê um mundo que já existe. Havia uma oposição entre
os idealistas – para os quais a ideia forma o mundo –, e os
materialistas – para os quais a matéria que forma o mundo já é
dada para a percepção.”
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 Sócrates (469-399 a. C.)


 A principal característica humana era a razão. A razão permitia ao ser humano sobrepor-
se aos instintos, que seriam a base da irracionalidade. Ao definir a razão como
peculiaridade humana ou como essência humana, Sócrates abre um caminho para a
teorização sobre a consciência, naquele momento, no campo da Filosofia.
 Platão (427-347 a.C.)
 discípulo de Sócrates, que procurou definir um “lugar” para a razão em nosso próprio
corpo. Definiu esse lugar como sendo a cabeça, onde se encontra a alma humana. A
medula seria, portanto, o elemento de ligação da alma com o corpo. Esse elemento de
ligação era necessário porque Platão concebia a alma separada do corpo. Quando alguém
morria, a matéria (o corpo) desaparecia, mas a alma ficava livre para ocupar outro corpo.
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 Aristóteles (384-322 a.C.)


 “Sua contribuição foi inovadora ao postular que alma e corpo não
podem ser dissociados. Para Aristóteles, a psyché seria o princípio ativo
da vida. Tudo aquilo que cresce, reproduz e se alimenta possui a sua
psyché ou alma. Dessa forma, os vegetais, os animais e o ser humano
teriam alma. Os vegetais teriam a alma vegetativa, que se define pela
função de alimentação e reprodução. Os animais teriam essa alma e a
alma sensitiva, que tem a função de percepção e movimento. E o ser
humano teria os dois níveis anteriores e a alma racional, que tem a
função pensante”
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História
 Psicologia como área da ciência
 Em 1879, Wilhelm Wundt (1832-1926)
criou o primeiro Laboratório de Experimentos
em Psicofisiologia, em Leipzig, Alemanha.
Esse marco histórico significou o desligamento
das ideias psicológicas de ideias abstratas e espiritualistas,
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/

que defendiam a existência de uma alma nos seres humanos, 9788553131327/cfi/29!/4/4@0.00:55.5

a qual seria a sede da vida psíquica.


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 Wundt desenvolve a concepção do paralelismo psicofísico, segundo a


qual aos fenômenos mentais correspondem fenômenos orgânicos.
 Por exemplo, uma estimulação física, como uma picada de agulha na pele
de um indivíduo, teria uma correspondência em sua mente. Para explorar
a mente ou consciência do indivíduo, Wundt cria um método que
denomina introspeccionismo.
 Nesse método, o experimentador pergunta ao sujeito, especialmente
treinado para a auto-observação, os caminhos percorridos no seu interior
por uma estimulação sensorial como a picada da agulha, por exemplo.
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 A psicologia ganha status de ciência, conforme se liberta da


filosofia
 definir seu objeto de estudo (o comportamento, a vida psíquica, a
consciência);
 delimitar seu campo de estudo, diferenciando-o de outras áreas de
conhecimento, como a Filosofia e a Fisiologia
 formular métodos de estudo desse objeto;
 formular teorias como um corpo consistente de conhecimentos na
área.
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 Algumas descobertas foram extremamente relevantes para a Psicologia. Por


exemplo, por volta de 1846, a Neurologia descobre que a doença mental é
fruto da ação direta ou indireta de diversos fatores sobre as células cerebrais.
A Neuroanatomia descobriu que a atividade motora nem sempre está ligada
à consciência por não estar necessariamente na dependência dos centros
cerebrais superiores. Por exemplo, quando alguém encosta a mão em uma
chapa quente, primeiro afasta-a da chapa para depois perceber que se
queimou, a esse fenômeno chama-se reflexo. O que chega à medula
espinhal, antes de chegar aos centros cerebrais superiores e recebe uma
ordem para a resposta, que é afastar a mão, chama-se estímulo.
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 A psicologia científica nasceu na Alemanha, mas foi nos


Estados Unidos que surgem as primeiras abordagens ou
escolas de Psicologia, as quais deram origem às inúmeras
teorias que existem atualmente.
 Essas abordagens são: o Funcionalismo, de William James
(1842-1910); o Estruturalismo, de Edward Titchener
(1867-1927); e o Associacionismo, de Edward L. Thorndike
(1874-1949
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O Funcionalismo
O Funcionalismo é considerado a primeira sistematização genuinamente
americana de conhecimentos em Psicologia.
 Uma sociedade que exigia o pragmatismo para seu desenvolvimento
econômico acaba por exigir dos cientistas americanos o mesmo espírito.
 Desse modo, para a escola funcionalista de W. James, importa
responder “o que fazem os homens” e “por que o fazem”. Para
responder a isso, James elegeu a consciência como o centro de suas
preocupações e buscou a compreensão de seu funcionamento, na
medida em que o homem usa a consciência para adaptar-se ao meio.
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O Estruturalismo

 O Estruturalismo está preocupado com a compreensão do mesmo fenômeno que o


Funcionalismo: a consciência. Mas, diferentemente de W. James, Titchener
estudou seus aspectos estruturais, isto é, os estados elementares da consciência
como estruturas do sistema nervoso central.
 Essa escola foi inaugurada por Wundt, mas foi Titchener, seu seguidor, quem usou
o termo Estruturalismo pela primeira vez, no sentido de diferenciá-la do
Funcionalismo.
O método de observação de Titchener, assim como o de Wundt, é o
introspeccionismo, e os conhecimentos psicológicos produzidos são
eminentemente experimentais, isto é, produzidos a partir do laboratório.
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O Associacionismo
 EdwardL. Thorndike, importante por ter sido o formulador
de uma primeira teoria de aprendizagem na Psicologia.
O termo Associacionismo origina-se da concepção de que
a aprendizagem se dá por um processo de associação de
ideias – das mais simples às mais complexas. Assim, para
aprender um conteúdo complexo, a pessoa precisaria
primeiro aprender as ideias mais simples, que estariam
associadas àquele conteúdo.
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 Formulou a Lei do Efeito – útil para Psicologia Comportamental

“De acordo com essa lei, todo comportamento de um organismo


vivo (um homem, um pombo, um rato etc.) tende a se repetir se
nós recompensarmos (efeito) o organismo assim que ele emitir o
comportamento. Por outro lado, o comportamento tenderá a
não acontecer se o organismo for castigado (efeito) após a sua
ocorrência. E, pela Lei do Efeito, o organismo associará essas
situações com outras semelhantes.”
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Psicologias
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Psicanálise
 Sigmund Freud (1856-1939)
 Médico
 método de investigação interpretativo

que busca o significado oculto daquilo


que é manifestado por meio de ações e
palavras ou pelas produções imaginárias,
como os sonhos, os delírios, as associações
livres, os atos falhos.
A prática profissional refere-se à forma de tratamento
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553131327/cfi/53!/
– a análise – que busca o autoconhecimento ou a cura 4/4@0.00:26.4
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 Hipnose
 Anna O. – nome fictício para preservar a identidade da paciente –
apresentava um conjunto de sintomas que a faziam sofrer: paralisia com
contratura muscular, inibições e dificuldades de pensamento. Esses
sintomas tiveram origem quando ela cuidava do pai enfermo. No
momento da hipnose, consegui relatar a origem dos sintomas.
 Com a rememoração dessas cenas e vivências, os sintomas
desapareciam. Esse desaparecimento não ocorria de forma “mágica”,
mas devido à liberação das reações emotivas associadas ao evento
traumático – a doença do pai e o desejo inconsciente da sua morte.
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 Método Catártico
 o tratamento que possibilita a liberação de afetos e
emoções ligados a acontecimentos traumáticos que não
puderam ser expressos na ocasião da vivência
desagradável ou dolorosa. Essa liberação de afetos leva à
eliminação dos sintomas.
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A descoberta do inconsciente
 Freud abandona o uso de perguntas direcionas e deixou livre o curso de ideias. O que
causava vergonha em seus pacientes com as ideias que surgiam
A essa força psíquica que se opunha a tornar consciente, a revelar um pensamento, Freud
denominou resistência. E chamou de repressão o processo psíquico que visa encobrir, fazer
desaparecer da consciência, uma ideia ou representação insuportável e dolorosa que está na
origem do sintoma.
 Esses conteúdos psíquicos “localizam-se” no inconsciente.
 O inconsciente exprime o “conjunto dos conteúdos não presentes no campo atual da consciência”. É
constituído por conteúdos reprimidos, que não têm acesso aos sistemas pré-consciente/consciente,
pela ação de censuras internas. Esses conteúdos podem ter sido conscientes, em algum momento, e
terem sido reprimidos, isto é, “foram” para o inconsciente, ou podem ser genuinamente inconscientes.
O inconsciente é um sistema do aparelho psíquico regido por leis próprias de funcionamento.
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Sexualidade infantil
 Freud, descobriu que a maioria dos pensamentos e desejos reprimidos referia-
se a conflitos de ordem sexual, localizados nos primeiros anos de vida dos
indivíduos, isto é, na vida infantil estavam as experiências de caráter
traumático, reprimidas, que se configuravam como origem dos sintomas atuais.
Confirmava-se, dessa forma, que as ocorrências desse período da vida deixam
marcas profundas na estruturação da pessoa.
 No processo de desenvolvimento psicossexual, o indivíduo, nos primeiros
tempos de vida, encontra o prazer no próprio corpo. O corpo é erotizado, isto é,
as excitações sexuais estão localizadas em partes do corpo, e há um
desenvolvimento progressivo que levou Freud a postular as fases do
desenvolvimento sexual em:
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 Fase oral (do nascimento até 18 meses de idade, ligada a


sucção), anal (1 a 3 anos, ligada a função de defecação,
controle esfincteriano), fálica (3 a 6 anos masturbação,
ligada ao conhecimento do próprio corpo), período de
latência (dos 6 anos até a puberdade, diminuição das
atividades sexuais) e fase genital (puberdade, o desejo
está no outro e pode ativar conflitos mal resolvidos)
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 Complexo de Édipo: No complexo de Édipo, a mãe é o objeto de desejo


do menino, e o pai é o rival que impede seu acesso ao objeto desejado.
Ele procura então ser o pai para “ter” a mãe, escolhendo-o como
modelo de comportamento (identificação) e passando a internalizar as
regras e as normas sociais representadas e impostas pela autoridade
paterna.
 Posteriormente, por medo da perda do amor do pai, o menino “desiste”
da mãe, isto é, ela é “trocada” pela riqueza do mundo social e cultural.
O garoto pode, então, participar do mundo social, pois tem suas regras
básicas internalizadas por meio da identificação com o pai.
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Segunda Teoria do aparelho psíquico
 Entre 1920 e 1923, Freud remodela a teoria do aparelho psíquico e introduz os conceitos
de id, ego e superego para referir-se aos três sistemas da personalidade.
 O id constitui o reservatório da energia psíquica e é onde se “localizam” as pulsões: a de
vida e a de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente na primeira teoria,
nesta teoria são atribuídas ao id, que é regido pelo princípio do prazer.
O ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do id, as exigências da
realidade e as “ordens” do superego. Procura “dar conta” dos interesses do sujeito. É
regido pelo princípio da realidade, que, com o princípio do prazer, rege o funcionamento
psíquico. É um regulador, na medida em que altera o princípio do prazer para buscar a
satisfação, considerando as condições objetivas da realidade. Nesse sentido, a busca do
prazer pode ser substituída pelo evitamento do desprazer. As funções básicas do ego são:
percepção, memória, sentimentos e pensamento
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 O superego origina-se com o complexo de Édipo, a partir da


internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A
moral e os ideais são funções do superego. O conteúdo do
superego refere-se a exigências sociais e culturais.

 Mecanismos de defesa: São processos inconscientes


realizados pelo ego, isto é, ocorrem independentemente da
vontade do indivíduo.
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 Recalque: o indivíduo “não vê”, “não ouve” o que ocorre. Existe a supressão
de uma parte da realidade. Um exemplo é quando entendemos uma
proibição como permissão porque não “ouvimos” o “não”.
 Formação reativa: o ego procura afastar o desejo que vai em determinada
direção, e, para isso, o indivíduo adota uma atitude oposta a esse desejo.
Um bom exemplo são as atitudes exageradas – ternura excessiva,
superproteção – que escondem o seu oposto, no caso, uma hostilidade
intensa. É o caso da mãe que superprotege o filho, do qual tem muita raiva
porque atribui a ele muitas de suas dificuldades pessoais. Para muitas
dessas mães pode ser aterrador admitir essa hostilidade em relação ao filho.
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 Regressão:o indivíduo retorna a etapas anteriores de seu desenvolvimento; é uma passagem para modos de
expressão mais primitivos. Um exemplo é o da pessoa que enfrenta situações difíceis com bastante
ponderação, mas ao ver uma barata sobe na mesa, aos berros. Com certeza, não é só a barata que ela vê na
barata.
 Projeção:é uma confluência de distorções do mundo externo e interno. O indivíduo localiza (projeta) algo de si
no mundo externo e não percebe aquilo que foi projetado como algo seu que considera indesejável. É um
mecanismo de uso frequente e observável na vida cotidiana. Um exemplo é o jovem que critica os colegas por
serem extremamente competitivos e não se dá conta de que também o é, às vezes, até mais que os colegas.
 Racionalização: o indivíduo constrói uma argumentação intelectualmente convincente e aceitável, que justifica
os estados “deformados” da consciência. Isto é, uma defesa que justifica as outras. Portanto, na racionalização,
o ego coloca a razão a serviço do irracional e utiliza para isso o material fornecido pela cultura ou mesmo pelo
saber científico. Dois exemplos: o pudor excessivo (formação reativa), justificado com argumentos morais; e as
justificativas ideológicas para a destrutividade presente na guerra, no preconceitos.
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A Psicanálise atualmente é usado em psicoterapias,


aconselhamento e orientação; é aplicada no trabalho
com grupos e instituições. A Psicanálise também é um
instrumento importante para a análise e a compreensão
de fenômenos sociais relevantes: as novas formas de
sofrimento psíquico, o excesso de individualismo no
mundo contemporâneo, a exacerbação da violência etc.
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Behaviorismo
 John B. Watson 1913
 Psicologia buscava entrar no campo da ciência e para isso precisava
seguir o método científico da época.
 Comportamento como objeto de estudo observável, mensurável,
cujos experimentos poderiam ser reproduzidos em diferentes
condições e sujeitos.
 interações e das inter-relações entre a pessoa e o ambiente, entre as
ações do indivíduo (respostas, atividades) e o seu ambiente (eventos
ambientais, estímulos).
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 Skinner (1904-1990)
 Comportamento respondente – reflexo
Contração das pupilas com a luz

Estímulo – resposta

 Comportamento operante –

amplo espectro de atividades humanas.


Como opera em relação ao mundo.
A aprendizagem se dá na relação entre
uma ação e um efeito.
https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553131327/cfi/70!/
4/4@0.00:22.3
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 Esse comportamento operante pode ser representado da seguinte maneira: R -> S,


em que R é a resposta (pressionar a barra) e S (do latim stimulus) é o estímulo
reforçador (a água) que, em um determinado momento, passou a ser muito
motivador para o organismo; a seta significa “levar a”.
 Reforço – aumenta a probabilidade do comportamento acontecer
 Fuga e esquiva - A diferença é sutil. Se posso colocar as mãos nos ouvidos para
não escutar o estrondo do rojão, esta resposta é de esquiva pois estou evitando o
segundo estímulo antes que ele aconteça. Mas se os rojões começam a pipocar e
só depois emito uma resposta para evitar o barulho que incomoda, seja fechando a
porta, indo embora ou mesmo tapando os ouvidos, pode-se falar em fuga. Ambos
reduzem ou evitam os estímulos aversivos, mas em processos diferentes.
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 Extinção: deixar de ter uma resposta emitida


 Os dados de pesquisas mostram que a supressão do comportamento punido só
é definitiva se a punição for extremamente intensa, isso porque as razões que
levam à ação – que se pune – não são alteradas com a punição.
 Práticas punitivas correntes na Educação – tais como deixar o aluno sem
recreio, mantê-lo isolado, obrigá-lo a fazer inúmeras cópias de um mesmo texto
por castigo, humilhá-lo, entre outras – foram sempre muito questionadas pelo
Behaviorismo. Os behavioristas, respaldados por crítica feita por Skinner e
outros autores, propuseram a substituição definitiva das práticas punitivas por
procedimentos de construção de comportamentos desejáveis.
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 Entretanto, outras áreas também têm recebido a


contribuição de técnicas e conceitos desenvolvidos pela
Análise do Comportamento, como a de recursos
humanos em empresas, clínicas, o trabalho educativo de
crianças com necessidades especiais, a publicidade, o
esporte e outras.
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Sócio-Histórica
 Psicologia Sócio-histórica, cuja base e pressupostos se situam na teoria histórico-cultural de Lev
LVigotski (1896 - 1934). Influenciado pelos ventos revolucionários que transformaram a velha
Rússia czarista nas Repúblicas Socialistas Soviéticas, depois da Revolução de outubro de 1917 e
da guerra civil (1918-1921).
 fenômeno como uma experiência pessoal que se constitui no coletivo e na cultura. Para essa
teoria psicológica, a subjetividade não está dada a priori, mas é uma conquista humana a partir
de sua atividade e sua intervenção transformadora sobre o mundo.
 A Psicologia Sócio-histórica estuda o ser humano e seu mundo psíquico como construções
históricas e sociais da humanidade.
 Para a teoria, foi o trabalho – atividade instrumental de transformação do mundo para garantir a
sobrevivência – o responsável por essas transformações. E não só o trabalho como também o uso
de instrumentos para a transformação e o fato de tudo acontecer em um coletivo de humanos.
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 para a Psicologia Sócio-histórica, o mundo psicológico é esse mundo de


registros e possibilidades que acompanham e possibilitam as
intervenções do ser humano no mundo. Se o mundo muda, é porque o
humano mudou e, ao mudar o mundo, o humano se transforma. Um
movimento incessante de transformação.
 Psicologia Sócio-histórica entende que a própria Psicologia é histórica;
surgiu quando os humanos sentiram necessidade dessa ferramenta de
compreensão do mundo e da vida, e que poderá deixar de ser
necessária. O fundamento dessas ideias é a noção básica da
historicidade, que marca a vida humana e a construção da ciência.
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 A historicidade é vista como uma das mais importantes


ferramentas de pensamento que a Psicologia Sócio-
histórica lança mão.
 Importância da cultura
 Foco na dimensão subjetiva
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 Foco na dimensão subjetiva que pode ser reconhecida em diversas de suas


mediações, como as representações sociais, os rituais, os costumes e os hábitos
de um grupo social, as sistematizações em formato de regras, leis, saberes
estabelecidos, a ideologia, os valores, a moral e a ética, os preconceitos, os
chamados ditados populares, as adjetivações e julgamentos expressos em
ideias e discursos, em imagens, em sentimento.
A dimensão subjetiva pode ser analisada a partir de muitas das expressões e
formas de vida e pensamento de um conjunto social. Deve ser sempre
compreendida como construção de natureza subjetiva que compõe e
caracteriza os fenômenos sociais. É a presença dos sujeitos nos fenômenos
sociais e materiais.
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 A concepção do humano na Psicologia Sócio-histórica pode ser sintetizada como um


ser ativo, social e histórico
 A atividade como forma que o humano se apropria do mundo (prática, como um bebê
que manuseia objetos)
 Consciência como o ser humano se relaciona com o mundo objetivo
 Identidade compreensão do sujeito sobre si
 A linguagem é um instrumento importante para nossa expressão e para formar nossa
consciência.
 Relações sociais - O mundo psicológico como um mundo de símbolos, imagens,
sensações e emoções vai se organizando em nós e permitindo a formação da
consciência
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Os estudos e pesquisas abrangem os sentidos que as pessoas constroem no decorrer da


experiência concreta de vida. Pode-se investigar, por exemplo, a dimensão subjetiva da
desigualdade que marca nossa sociedade brasileira.
As políticas públicas são um campo de contribuições relevantes da Psicologia Sócio-
histórica no Brasil. Isso porque essa perspectiva teórica está guiada por princípios que
consideram o mundo em movimento, o humano como ser ativo, social e histórico e a
relação do sujeito com o mundo social. Portanto, as práticas estão voltadas para as
condições de vida às quais os sujeitos estão submetidos. As políticas públicas se referem
a direitos sociais de um agrupamento humano; são políticas para orientar a construção
da vida coletiva e é um campo de grande interesse para os psicólogos cuja referência é a
Psicologia Sócio-histórica.
61

Momento
interação
DIANTE DO QUE FOI
APRESENTADO, QUAIS OS
IMPACTOS DA CIÊNCIA NA
PRÁTICA DO PSICÓLOGO?
62
Reflexos das aquisições científicas na atuação
profissional do Psicólogo (a)
 Distanciamento do misticismo
 Desenvolvimento através de pesquisas com métodos
rigorosos
 Contribuições da psicologia em diversos contextos
63

 O psicólogo utiliza em seu trabalho o conhecimento científico na


intervenção técnica.
 Utiliza técnicas e instrumentos cientificamente elaborados, que lhe
possibilitam diagnosticar os problemas, e possui também um modelo de
interpretação e de intervenção.
 A intervenção do psicólogo é intencional, planejada e feita com a utilização de
conhecimentos específicos do campo da ciência. Portanto, difere do amigo,
que não planeja sua intervenção, não usa conhecimentos específicos nem
pretende diagnosticar ou intervir em algum aspecto percebido como crucial.
64
Áreas de conhecimento da Psicologia
 Psicologia do desenvolvimento
 Diversas teorias de Desenvolvimento humano, processos de envelhecimento

 Psicologia do aprendizado
 Aprendizagem da criança, teorias de condicionamento, teorias cognitivas, motivação

 Inteligência, memória e percepção


 Diferentes tipos de inteligência, como se constrói memórias, como é compreendido a percepção

 Afetos
 Importância da vida afetiva, estudo de emoções e sentimentos, vínculos amorosos

 Psicologia social
 Comunicação, processos de socialização, grupos sociais, identidade, representação social,
sofrimento ético-político
REFERÊNCIAS

BOCK, A. M. B; TEIXEIRA, M. L. T.; FURTADO O. Psicologias: uma introdução ao estudo de psicologia.


São Paulo: Saraiva Educação, 2018

https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788553131327/first

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