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DESCRIÇÃO

Caracterização da Psicologia como ciência. Abordagem de suas metodologias e de seus


objetos de estudo.

PROPÓSITO
Compreender a Psicologia enquanto ciência, assim como seus temas relevantes e as
metodologias de pesquisa disponíveis, para o consumo de pesquisas de qualidade e o
desenvolvimento do pensamento científico.

PREPARAÇÃO
Ter à mão um bom dicionário de Psicologia ajuda na hora de buscar conceitos mais
específicos. O APA dictionary of psychology (dicionário virtual, em inglês), da American
Psychological Association, é um dos mais reconhecidos e consultados na área. Outro bastante
utilizado é o Diccionario de Psicología (em espanhol), de Umberto Galimberti.

OBJETIVOS

MÓDULO 1

Descrever os conceitos gerais da psicologia científica e da metodologia de pesquisa

MÓDULO 2

Identificar os temas relevantes da pesquisa em Psicologia e os estudos de referência na área

INTRODUÇÃO
Apresentaremos conceitos relativos à metodologia de pesquisa em Psicologia, bem como o
pesquisador desse campo da ciência e os temas relevantes de pesquisa nessa área.

A pesquisa psicológica tem uma ampla gama de possíveis objetos. O objeto de estudo de
Freud, por exemplo, foi o inconsciente. Já o de pesquisa de Skinner foi o comportamento.
Ainda existem várias pesquisas psicológicas de referências com objetos de pesquisas diversos.

Como consequência dessa variabilidade, veremos que muitas abordagens metodológicas


podem ser empregadas na construção de pesquisas psicológicas. Essa lista inclui
observações, estudos de casos e pesquisas correlacionais, além de experimentos em
laboratório.

Como a ampla área que ela é, a Psicologia tem uma série de temas relevantes para as
pesquisas psicológicas. Podemos citar os processos de aprendizagem, sensação e percepção,
bem como a personalidade.
A aprendizagem, por exemplo, é tema de pesquisas com muitas interfaces, especialmente com
a educação e a neuropsicologia – e, mais recentemente, a neuropsicopedagogia. A Psicologia,
assim, desenvolve teorias de aprendizagem, bem como métodos de avaliação.

Os estudos psicofísicos sobre a sensação e a percepção foram cruciais para o reconhecimento


da Psicologia como ciência. Já a personalidade é amplamente estudada por pesquisadores
clínicos e aborda questões sobre instrumentos de avaliação e questionários para o
levantamento de informações exaustivas sobre os indivíduos.

MÓDULO 1

 Descrever os conceitos gerais da psicologia científica e da metodologia de pesquisa

INTRODUÇÃO AO MÉTODO CIENTÍFICO


Segundo a epistemologia, ramo da Filosofia que se ocupa do estudo crítico do conhecimento
científico e dos caminhos humanos para obter o conhecimento da verdade, há dois caminhos
diferentes para construção de conhecimento que se inter-relacionam:

Senso comum


Método científico

O conhecimento do senso comum é extraído de nossa cultura e vida diária por meio do
cotidiano ordinário. O cotidiano pode ser compreendido como a vida por excelência na qual as
coisas acontecem e em que experimentamos a realidade.

Agora você está lendo e estudando este conteúdo; logo depois, encontrará seus amigos e vai
ao cinema. Amanhã, por sua vez, acordará atrasado para o trabalho – e assim por diante. Isso
demonstra estarmos vivos.
Foto: Shutterstock.com

O senso comum concebe o conhecimento por meio das crenças culturais de um povo,
sendo transmitido pelas gerações e tido como verdadeiro.

Por pertencer a esse senso, o conhecimento popular, por outro lado, não é testado, verificado
ou metodicamente analisado; contudo, justamente pelo fato de não ter sido testado, o saber
popular ou o senso comum não pode ser invalidado ou desmerecido.

 EXEMPLO

Quando chegamos a casa com dor de estômago, pedimos um chá para nossa avó, a qual, de
fato, não conhece os princípios ativos daquela planta, embora saiba como nos curar de
imediato. O conhecimento popular de plantas medicinais é um saber popular tradicional
passado de geração para geração – especialmente por mulheres.

Desse modo, o senso comum constitui o primeiro conhecimento construído pelos


homens. Trata-se das crenças que nascem de experiências pessoais e coletivas, que, quando
parecem verdadeiras, são incorporadas como verdades absolutas.

A palavra "método" deriva dos radicais gregos meta (Default tooltip) e odos (Default tooltip) .
Portanto, todo e qualquer procedimento feito ao longo do caminho para obter um resultado,
como uma boa colheita, uma alfabetização competente ou um bom eletrodoméstico, está
relacionado a um método.
A ciência é, acima de tudo, reflexiva; por meio de estudo sistemático, ela tem o intuito de
elucidar e alterar o mundo real.


Por isso, o conhecimento científico está diretamente relacionado com o método científico.

Entenderemos o método científico como um conjunto de regras básicas para os procedimentos


que constroem o conhecimento científico. Mas notemos que os caminhos do senso comum e
do método científico se intercruzam, afastam-se e se aproximam. A ciência é baseada na
realidade cotidiana e na reflexão sobre ela.

Além disso, na nossa vida cotidiana, também levamos em conta o conhecimento científico. A
ciência se refere ao mundo real; no entanto, afasta-se da realidade para poder compreendê-la
como objeto de investigação.

A lei da gravidade é uma explicação científica proposta por Newton graças à observação de um
acontecimento cotidiano: uma fruta que caía da árvore.

Mesmo o mais especializado dos cientistas, salientam Bock, Furtado e Teixeira (2018), está,
fora do seu laboratório, à mercê da dinâmica do cotidiano, criando, por isso, as próprias regras
de sociabilidade e funcionamento. Nessa faceta da vida, ou seja, a vida cotidiana, a praticidade
e a solução rápida de problemas do dia a dia são o que realmente importa.

Frequentemente utilizamos as tradições de nossos antepassados sem saber exatamente a


origem delas. Já em outras ocasiões, de forma simplificada e prática, empregamos
conhecimentos científicos.

 EXEMPLO

Ao atravessar a rua, leva-se em conta a velocidade de um carro; ao plantar vegetais, observa-


se o período correto para tal.

Dessa maneira, o senso comum se apropria de alguma forma dos conhecimentos


produzidos pelo método científico.

Ao falarmos que estamos ficando neuróticos com a quantidade de provas do semestre,


utilizamos um termo da psicologia cientifica para um evento cotidiano, ainda que, por vezes, o
façamos de forma descontextualizada.
Foto: Shutterstock.com

A PSICOLOGIA CIENTÍFICA

HISTÓRIA

Imagem: Shutterstock.com

A Psicologia não nasceu com o estatuto de ciência: ela surgiu primeiramente como um ramo da
Filosofia. O termo em si (psique (Default tooltip) e logia/logos (Default tooltip) ) foi
encontrado pela primeira vez em livros do século XVI. Por alma eram compreendidos os
processos de todos os fenômenos mentais e espirituais.

A visão da Psicologia como ciência é recente se comparada à de outras áreas como, por
exemplo, a Biologia e a Física. Enquanto disciplina científica, ela surgiu em 1879 com os
estudos de Wilhelm Wundt, em Leipzig, na Alemanha.

Segundo Araújo (2009), “Wundt (1832-1920) é um típico professor alemão do século XIX, cuja
vasta erudição é uma de suas características essenciais. Assim, não só escreve de forma
bastante rebuscada – com longos períodos intercalados por várias orações subordinadas –
como constrói seu pensamento a partir de conceitos e expressões da própria tradição filosófica
alemã que lhe precedeu (Leibniz, Wolff, Kant, Hegel, Herbart, Schopenhauer etc.), que estão
bem distantes do vocabulário psicológico da tradição norte-americana predominante no cenário
contemporâneo”.

Foto: Autor desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio público / Está reservado ao autor o
direito de se manifestar.
 Wilhelm Wundt.

No primeiro laboratório de experimentos em psicofisiologia, Wundt estudou as experiências


conscientes e fundou o método de “introspecção”, que consiste na autoanálise da mente a fim
de inspecionar os pensamentos e o sentimento. Essa introspecção, frisam Schultz e Schultz
(2016), era metódica – e não apenas uma descrição qualitativa.
Esses julgamentos conscientes deveriam ter tamanho, duração e intensidade de estímulos
físicos, isto é, uma análise quantitativa típica da pesquisa em psicofísica.

Wundt, dessa forma, rompeu com o misticismo e marcou historicamente a cisão dos conceitos
psicológicos de ideias abstratas, espiritualistas e místicas que defendiam que a morada da vida
psíquica seria a alma dos homens.

OBJETO

Diferentemente das ciências exatas, que possibilitam um afastamento natural do objeto de


pesquisa, as humanas estudam os seres humanos, dificultando, assim, o distanciamento desse
objeto.

MAS QUAL É O OBJETO DE PESQUISA DA


PSICOLOGIA?

Se essa pergunta fosse feita a Freud (1856-1939) e Skinner (1904-1990), teríamos respostas
diferentes:

Foto: Max Halberstadt / Wikimedia Commons / Domínio público


 Sigmund Freud

Freud provavelmente responderia que ela é o inconsciente.

Foto: Silly rabbit / Wikimedia Commons / CC BY 3.0


 Burrhus Frederic Skinner

Já Skinner diria que o objeto de estudo da Psicologia é o comportamento.

Outros pesquisadores ainda poderiam dizer que esse objeto diz respeito à subjetividade ou
ainda à mente.

Esses autores chegaram a divergir explicitamente sobre a definição desse objeto.

O PONTO PRINCIPAL DA CRÍTICA SKINNERIANA A


FREUD NÃO RESIDE NA DISCUSSÃO ACERCA DA
EXISTÊNCIA DOS APARATOS MENTAIS POR ELE
POSTULADOS, MAS NO ARGUMENTO SEGUNDO O
QUAL TAIS APARATOS, ENQUANTO OBJETOS DE
ESTUDO E PRÁTICA PSICANALÍTICOS, NÃO SÃO
DELIMITADOS COM PRECISÃO DENTRO DA PRÓPRIA
TEORIA PSICANALÍTICA E, POR ISSO, GERAM
INÚMEROS PROBLEMAS. FREUD TERIA CONCEBIDO
SEU OBJETO DISPOSTO EM ALGUM LUGAR DA
MENTE, NÃO NECESSARIAMENTE FÍSICO, MAS QUE,
AINDA ASSIM, PODERIA SER DESCRITO E EXPLICADO
EM TERMOS FÍSICOS.

(SILVA; PAULINO, 2011, p. 145)

Frequentemente, atribui-se a diversidade de objetos da Psicologia ao fato de seu


desenvolvimento recente como área da ciência se comparada a outras áreas das ciências
exatas ou biológicas. O argumento por vezes utilizado para essa afirmação é de que ainda não
foi possível a construção de paradigmas confiáveis que pudessem ser adotados sem receio
pelos psicólogos.

 ATENÇÃO

A Psicologia provavelmente jamais terá um único paradigma confiável adotado por todos, já
que, segundo Bock, Furtado e Teixeira (2018), é impossível adotar uma fórmula única para
responder a todas as questões psicológicas dos seres humanos.

Estudar o ser humano significa, afinal, analisar um ser histórico em permanente mudança. Por
isso, ele não cabe em um único objeto imutável e regular. A forma de se pensar o objeto da
Psicologia está atrelada a essa riqueza.

Outra razão para essa variabilidade reside no fato de o pesquisador em Psicologia se


confundir com o próprio objeto de estudo. De forma geral, esse objeto de pesquisa é o ser
humano; portanto, o pesquisador em Psicologia encontra-se nessa categoria.
Esse fenômeno ocorre em todas as ciências humanas, mas parece ter maior impacto na
Psicologia. Como consequência dessa multiplicidade de focos, o objeto de estudo na área
pode ser colocado como “o homem em todas as suas faces”, representando, assim, a própria
diversidade dela.

A Psicologia como ciência constitui um campo de dispersão por ter diversos focos cuja variação
gera muitas vertentes.


Cada vertente ou escola desenvolve os próprios critérios fundamentados em concepções de
método científico mais apropriadas para o estudo de seu objeto de pesquisa.

O corpo de conhecimento desenvolvido por uma corrente do saber, de acordo com Bock,
Furtado e Teixeira (2018), deve ter consistência interna com o conhecimento que ela produz.
Desse modo, suas teorias, suas descobertas e seus conceitos precisam formar um corpo
estável e bem definido.

Os fenômenos psicológicos são tão diversos, sendo atravessados tanto por questões
individuais quanto por outras histórico-culturais, que não podem ser acessados no mesmo nível
de observação.

Como consequência, é impossível submetê-los aos mesmos padrões de:

 Descrições

 Medições

 Controle

 Interpretação

Considerando a complexidade de uma definição única para o objeto da Psicologia, os autores


concluem que o objeto dela tem de ser aquele que reúne as condições de aglutinar uma
ampla variedade de fenômenos psicológicos. Assim surge o termo “subjetividade” para
representar a síntese singular e individual das vivências da vida social e cultural que nos
tornam únicos e, ao mesmo tempo, iguais.
A subjetividade constitui o mundo das ideias, dos significados e das emoções construído
internamente pelo sujeito a partir de suas relações sociais, de suas vivências e de suas
condições biológicas. Ela também é fonte de suas manifestações afetivas e comportamentais.

Imagem: Shutterstock.com

Outra concepção para objeto de pesquisa em Psicologia que deve ser levada em conta –
embora possua um viés menos subjetivo – atesta que os psicólogos desenvolvem teorias e
pesquisas psicológicas para responder a perguntas sobre o comportamento humano e os
processos mentais, destacam Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012).

Desse modo, os processos mentais e o comportamento humano são tomados como


objetos da pesquisa em Psicologia.

O PESQUISADOR EM PSICOLOGIA

DEFINIÇÕES E ESCOPO DE TRABALHO


Foto: Shutterstock.com

A ciência busca aumentar o conhecimento humano e compreender como o universo funciona,


verificando por que as pessoas se comportam de determinada maneira ou por qual motivo
reagem de certa forma. Já o conhecimento científico busca respostas de forma sistemática por
meio de pesquisas.

Um pesquisador em Psicologia precisa assumir-se como alguém imaginativo e curioso, porém,


como qualquer ser humano, ele está imerso em sentimentos e emoções.


Já o pesquisador psicólogo pode ser ateísta ou religioso; no entanto, ele precisa ter em mente
que deve deixar suas crenças longe das construções científicas.

Essa dicotomia ciência-religião foi analisada por alguns autores.

CIÊNCIA E RELIGIÃO TÊM SIDO UM BINÔMIO


PROBLEMÁTICO EM ALGUMAS ÁREAS DA CULTURA
OCIDENTAL MODERNA. O ACRÉSCIMO DA
PSICOLOGIA A ESSE BINÔMIO TEM O SENTIDO DE
DESTACAR A EXTENSÃO DA CIÊNCIA NATURAL E
BIOLÓGICA PARA A CIÊNCIA HUMANA E DE APONTAR
A DIMENSÃO PSICOLÓGICA QUE VINCULA O
CIENTISTA À RELIGIÃO E O RELIGIOSO À CIÊNCIA. DE
ALGUMA FORMA, CIÊNCIA E RELIGIÃO TÊM SIDO
RELACIONADAS COMO ENTIDADES EM CONFLITO.
NO ENTANTO, AS RELAÇÕES ENTRE AMBAS NÃO
FORAM SEMPRE CONFLITUOSAS, NEM NA ÁREA
ACADÊMICA NEM NA ÁREA RELIGIOSA.

(PAIVA, 2002, p. 562)

MÉTODO CIENTÍFICO

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Por conta das exigências do método científico, o pesquisador não tem de levar em conta na
sua pesquisa convicções não testáveis. Sua posição deve ser sempre cética, questionando os
conhecimentos, os fatos ou as crenças estabelecidas. Um cientista cético possui um olhar
crítico em relação às pseudociências ou às explicações sobrenaturais para fenômenos naturais
e comportamento humano.

Uma boa pesquisa começa com uma boa pergunta. Pesquisadores da área de Psicologia têm
uma curiosidade sobre o comportamento humano e os processos mentais.

Dessa forma, os pesquisadores psicólogos possuem como objetivo o desenvolvimento


de teorias e de pesquisas psicológicas para responder a perguntas.

Essas perguntas podem versar sobre:

 Subjetividade

 Comportamento

 Processos mentais

As consequências dessas pesquisas podem impactar os indivíduos e a sociedade.

O método científico em Psicologia é compreendido como as formas que as perguntas são


feitas e os passos tomados para responder a perguntas sobre os sentimentos, os
comportamentos humanos e os processos mentais.

BENEFÍCIOS E POSSIBILIDADES
PROFISSIONAIS
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Os estudantes de Psicologia podem ter interesse em se tornarem pesquisadores – ou não.


Mesmo que parte dos alunos desses cursos não almeje uma carreira como pesquisador, todos
eles devem consumir pesquisa e saber distinguir bons desenhos dela com resultados
confiáveis.

Aprender a pensar como um pesquisador traz benefícios independentemente da carreira


escolhida, seja ela na área clínica, hospitalar ou de recursos humanos, além das várias
possibilidades da Psicologia enquanto ciência e profissão.

Pensar como pesquisador também auxiliará você a ser um:

 Consumidor de pesquisas de qualidade.

 Leitor mais atento.

 Psicólogo clínico mais sensível.

 Psicólogo que toma decisões baseadas em achados científicos contundentes

Pensar como pesquisador e tornar a pesquisa uma carreira, mesmo com todas as dificuldades
dela no país, traz como consequência uma satisfação de contribuir com a ciência psicológica.
METODOLOGIA DE PESQUISA EM
PSICOLOGIA
Sabendo agora da diversidade de objetos de pesquisa em Psicologia, podemos supor que a
quantidade de métodos possíveis para o estudo desses objetos também deve ser diversa. Para
isso, seguindo alguns especialistas na área, partiremos deste pressuposto de Shaughnessy,
Zechmeister e Zechmeister (2012, p. 14): “Uma abordagem multimétodo é mais indicada para
promover ciência em Psicologia”.

Vimos que a Psicologia é uma disciplina com diversas áreas de estudos, tendo questões
diversas; portanto, nenhuma abordagem metodológica única consegue responder à gama de
perguntas que os pesquisadores podem fazer sobre o comportamento e os processos mentais.

As abordagens metodológicas que podem ser utilizadas nesses casos compreendem


desde as mais simples técnicas observacionais até os desenhos experimentais mais
complexos.

Apresentaremos a seguir os principais passos a serem dados nessa abordagem:


COMPREENSÃO DO OBJETO ESTUDADO
O primeiro passo para uma boa pesquisa é compreender o objeto a ser estudado por meio do
conhecimento geral da literatura da área. É muito importante explorar ao máximo a literatura
publicada sobre as pesquisas psicológicas do tema de pesquisa, bem como suas interfaces.

É crucial fazer um estudo bibliográfico meticuloso das pesquisas psicológicas em periódicos de


referência. Também é interessante não restringir a leitura apenas à temática específica que se
quer abordar.

No caso de o tema de pesquisa serem os processos de aprendizagem, conteúdos das áreas


de pedagogia e educação são imprescindíveis; no caso de o tema ser relacionado à
drogadição, as publicações da área médica também precisam ser consultadas.

Outro meio profícuo de obter informações são colóquios, congressos e seminários da área.
Você pode revisar o tema em um livro de introdução à Psicologia e, em seguida, afunilar sua
pesquisa com outras específicas da área.

FORMULAÇÃO DE UMA PERGUNTA


O próximo passo é formular uma pergunta de pesquisa. Como a ciência é cumulativa, a
pergunta proposta deve se basear nas anteriores. O pesquisador sempre deve ser cético e
questionar as verdades absolutas, já que algumas afirmações, às vezes, viram dogmas.

A pergunta surge de uma curiosidade, que é a força motriz da ciência, mas os aparatos
tecnológicos, as habilidades e o tempo necessário para que a pergunta seja respondida devem
existir. Além disso, sabemos que elas são infinitas, embora os recursos, infelizmente, não o
sejam.

A pergunta tem de ser ética, pertinente e específica, uma vez que ela é a responsável por
delinear o estudo, os métodos e as técnicas mais apropriados.

Ao mesmo tempo que formulamos a pergunta da pesquisa, automaticamente acabamos por


formular uma resposta provisória em forma de previsão. Esse processo é chamado de
hipótese em metodologia de pesquisa. Essas previsões precisam estar baseadas em
estudos anteriores.

Em seguida, o pesquisador deve se perguntar:

 Devo fazer um estudo quantitativo ou qualitativo?

 Qual é a natureza das variáveis que pretendo estudar?


 Qual é o método de pesquisa mais adequado ao meu estudo?

Sabemos que a Psicologia é uma disciplina com muitas interfaces e áreas de estudo diversas.
Por toda essa diversidade, existem muitas questões de pesquisa possíveis. Uma variabilidade
de metodologias de pesquisa pode ser empregada para responder às possíveis perguntas dos
psicólogos sobre subjetividades, comportamentos e processos mentais.

Por conta disso, como frisamos, uma abordagem multimétodos é sempre a mais apropriada
para responder a essas perguntas. Essa abordagem se caracteriza pela busca de várias
metodologias de pesquisa e de medidas de comportamento para responder à pergunta dela.

CRIAÇÃO DE DEFINIÇÕES OPERACIONAIS


Depois de construir hipóteses para a pergunta de pesquisa, o pesquisador deve criar definições
operacionais para sua pesquisa, como a definição do construto e as variáveis da pesquisa.

O construto se refere a um conceito teórico não observável diretamente. Em


psicometria, os construtos podem ser ansiedade, medo, alegria, depressão – e assim
por diante.

O pesquisador precisa ser capaz de delimitar:

 As variáveis da pesquisa.

 O delineamento dela.

 O tipo de pesquisa.

 Se a abordagem deve ser quantitativa, qualitativa ou mista.

 Quais instrumentos poderão ser utilizados.

 Como as amostras serão coletadas.

 Quais serão os métodos empregados para a análise dos dados.

 Quais serão os procedimentos éticos da pesquisa.

Para o planejamento e a organização de uma pesquisa científica, ele deve ter um


conhecimento prévio da metodologia mais adequada para estudar determinado fenômeno a fim
de que, desse modo, ela seja confiável e aceita pela comunidade científica.

HIPÓTESE

Uma hipótese se caracteriza como uma tentativa de explicação para determinado


fenômeno.

REALIZAR O DESENHO DA PESQUISA

Nessa abordagem, é possível perceber, de forma bem objetiva, as etapas de uma pesquisa
elencadas por Shaughnessy, Zechmeister e Zechmeister (2012):

Imagem: Shutterstock.com / Adaptada por Pedro Tamburro

A etapa seguinte, como veremos, diz respeito ao desenho da pesquisa. O pesquisador deve
decidir se a pergunta dela procura descrever, fazer previsões ou identificar relações causais.

Para fazer descrições e previsões, o desenho de pesquisa tem de ser observacional e


correlacional.


Se ela for uma de relação causal, a escolha poderá ser por um estudo experimental.
 EXEMPLO

Quando o pesquisador decide entender e tratar de um pequeno grupo ou de um indivíduo, uma


boa opção é o estudo de caso único. Se a pergunta de pesquisa for causal nas situações em
que o controle experimental é pouco possível, o pesquisador poderá optar por um controle
quase-experimental.

Foto: Shutterstock.com

O comportamento observacional é corriqueiro: as expressões corporais, os gestos e a forma


como as pessoas se vestem são comportamentos que podem ser observados no dia a dia.


Foto: Shutterstock.com

No entanto, uma observação científica é feita por meio de condições específicas. Elas são
precisamente definidas de forma sistemática com registros cuidadosos para descrever um
comportamento.

Como é impossível observar todo o comportamento de uma pessoa, os pesquisadores


observam amostras dele. Já que o comportamento das pessoas, dependendo da situação,
muda com frequência, é importante realizar muitas observações em contextos diferentes.

As observações fornecem ricas informações para a construção de hipóteses e não precisam


necessariamente ser diretas, ou seja, o pesquisador pode fazer observações indiretas.

A observação direta em ambiente natural sem intervenção é chamada de naturalística.


Já as observações com alguma intervenção são conhecidas como participantes (ou
observação estruturada e experimentos de campo).

O registro das observações tem de ser realizado de forma sistemática. A análise quantitativa
dos dados que deve ser feita depende desta escala de medição:
Imagem: Shutterstock / Adaptada por Pedro Tamburro

ESCALA NOMINAL

Utilizada quando podemos rotular a variável para identificar o que ela mede, como sexo
feminino ou masculino.


Imagem: Shutterstock.com

ESCALA ORDINAL (OU INTERVALAR)

Refere-se a variáveis em que a ordem é importante, como ocorre, por exemplo, nas pesquisas
de satisfação: insatisfeito, satisfeito ou muito satisfeito.

Nesses casos, sabemos que há diferenças entre os dados, mas não podemos saber a
magnitude disso. Já a escala intervalar pode ser ordinal, porém, como frisam Bussab e Morettin
(2017), é possível saber a magnitude dos valores.

 EXEMPLO

Os testes de QI.

A reatividade dos observados e o viés do pesquisador devem ser controlados. A


reatividade pode acontecer quando o sujeito sabe que está sendo observado. Pesquisas em
que o participante não sabe disso podem limitar a reatividade. O viés do pesquisador, dessa
forma, pode ser controlado.

Se a pesquisa demanda o estudo da causa de um comportamento, o pesquisador pode pensar


na possibilidade de um desenho de pesquisa experimental.

Essa pesquisa tem três características principais:


Imagem: Shutterstock.com / Adaptada por Pedro Tamburro

Os pesquisadores experimentais manipulam uma variável independente para observar o efeito


dela no comportamento. Dessa forma, o pesquisador pode fazer inferências causais de que a
independente foi a responsável pelas mudanças na variável dependente.

 SAIBA MAIS

A variável independente não depende de nenhuma outra variável, enquanto a dependente,


como o nome já diz, depende do valor de outra medida. Por exemplo, em uma pesquisa que
objetiva estudar a “eficácia da psicoterapia de grupo em indivíduos esquizofrênicos”, a
psicoterapia de grupo é a variável independente, enquanto os sintomas da esquizofrenia são
as dependentes.

Foto: Shutterstock.com

Apesar de seu prestígio, há desvantagens no método experimental. Alguns construtos muito


abstratos dificilmente são estudados por esse método como, por exemplo, o amor, a alegria ou
insatisfação.

As situações criadas em laboratório de acordo com o objetivo a ser estudado dificilmente


poderiam representar fielmente uma situação no mundo real. Uma alternativa de abordagem
metodológica para pesquisas em Psicologia é o estudo de caso único.

Intensivo e sistemático, o estudo de caso descreve fenômenos complexos. As descrições e as


análises de indivíduos são intensas, mas não possuem nenhum tipo de controle experimental.
No entanto, elas podem ser ricas em termos teóricos para a construção de novas hipóteses e
ideias sobre o comportamento normal.

Essa descoberta, por meio de um estudo de caso, impactou os estudos da Psicologia e da


neurologia e continua tendo inúmeros desdobramentos. A escolha da metodologia de pesquisa
deve levar em conta a característica do tema de pesquisa, bem como as informações que
podem ser obtidas por meio das variáveis.

ESTUDO DE CASO

Estudo de caso é uma estratégia de pesquisa científica qualitativa que analisa um


fenômeno levando em consideração o contexto em que ele está inserido e as variáveis
que o influenciam.

 COMENTÁRIO

Dessa forma, não existe método bom ou método ruim por si só. O que existe são falhas
humanas ou tecnológicas e desenhos inapropriados para determinada pesquisa.


Os riscos e os benefícios potenciais da pesquisa devem ser avaliados, assim como as formas
de proteção e de bem-estar dos sujeitos de pesquisa têm de ser assegurados.

Antes de sua execução, ela precisa passar por um comitê de ética.


Por fim, os dados coletados devem ser analisados e sintetizados antes de serem apresentados
em congressos, colóquios ou seminários, bem como submetidos a periódicos científicos.

ABORDAGEM MULTIMÉTODOS NA
PESQUISA EM PSICOLOGIA
Vamos aprofundar, agora, essa importante abordagem no âmbito da pesquisa em Psicologia.
VERIFICANDO O APRENDIZADO

1. ESTUDAMOS AS DIFERENÇAS ENTRE SENSO COMUM E


CONHECIMENTO CIENTÍFICO. ASSINALE A ALTERNATIVA COM AS
AFIRMAÇÕES CORRETAS A RESPEITO DESSE TÓPICO.

I) O SENSO COMUM SE TRATA DO CONHECIMENTO CONCEBIDO POR


MEIO DAS CRENÇAS CULTURAIS DE UM POVO, SENDO TRANSMITIDO
PELAS GERAÇÕES E TIDO COMO VERDADEIRO.
II) POR NÃO SER TESTADO CIENTIFICAMENTE, O SENSO COMUM NÃO
PODE SER LEVADO EM CONTA.
III) A CIÊNCIA E O SENSO COMUM EXISTEM EM CONTEXTOS
PARALELOS.
IV) A CIÊNCIA É NATURALMENTE CÉTICA E REFLEXIVA.
V) O SENSO COMUM PODE APROPRIAR-SE DOS CONHECIMENTOS
CIENTÍFICOS.

A) I, IV, V

B) II, III, V

C) I, III, V

D) II, III, V

E) I, II, III
2. A DIVERSIDADE DE OBJETOS DE PESQUISA EM PSICOLOGIA
POSSIBILITA UMA VARIABILIDADE DE MÉTODOS POSSÍVEIS PARA O
ESTUDO DESSES OBJETOS. AS ABORDAGENS METODOLÓGICAS QUE
PODEM SER UTILIZADAS COMPREENDEM DESDE AS MAIS SIMPLES
TÉCNICAS OBSERVACIONAIS ATÉ OS DESENHOS EXPERIMENTAIS MAIS
COMPLEXOS. SOBRE A ESCOLHA DA ABORDAGEM METODOLÓGICA,
INDIQUE A ALTERNATIVA CORRETA.

A) Para fazer descrições e previsões, o desenho de pesquisa deve ser experimental.

B) Se a pesquisa é de relação causal, a escolha pode ser por um estudo correlacional.

C) Para entender e tratar de um pequeno grupo ou indivíduo, uma boa opção é o estudo de
caso único.

D) Se a pergunta da pesquisa for causal em situações em que o controle experimental for


pouco possível, o pesquisador poderá optar por uma clínica.

E) Se a pesquisa analisa apenas um indivíduo, o desenho dela pode ser experimental.

GABARITO

1. Estudamos as diferenças entre senso comum e conhecimento científico. Assinale a


alternativa com as afirmações corretas a respeito desse tópico.

I) O senso comum se trata do conhecimento concebido por meio das crenças culturais
de um povo, sendo transmitido pelas gerações e tido como verdadeiro.
II) Por não ser testado cientificamente, o senso comum não pode ser levado em conta.
III) A ciência e o senso comum existem em contextos paralelos.
IV) A ciência é naturalmente cética e reflexiva.
V) O senso comum pode apropriar-se dos conhecimentos científicos.

A alternativa "A " está correta.

Pelo fato de o senso comum não ter sido testado cientificamente, não quer dizer que ele
constitua uma falácia ou que não tenha valor. Além disso, vimos que a ciência leva em conta as
informações dele tanto para fazer perguntas de pesquisa quanto para formular hipóteses, de
modo que, assim como a ciência participa do contexto do senso comum, este participa do
contexto daquela.

2. A diversidade de objetos de pesquisa em Psicologia possibilita uma variabilidade de


métodos possíveis para o estudo desses objetos. As abordagens metodológicas que
podem ser utilizadas compreendem desde as mais simples técnicas observacionais até
os desenhos experimentais mais complexos. Sobre a escolha da abordagem
metodológica, indique a alternativa correta.

A alternativa "C " está correta.

Vimos que, para fazer descrições e previsões, o desenho da pesquisa deve ser observacional
e correlacional. Se ela for de relação causal, a escolha poderá ser por um estudo experimental.
Quando a pergunta da pesquisa for causal em situações nas quais o controle experimental for
pouco possível, o pesquisador poderá optar por um controle quase-experimental. O estudo de
caso é valido para um grupo pequeno ou para estudar indivíduos.

MÓDULO 2

 Identificar os temas relevantes da pesquisa em Psicologia e os estudos de referência


na área

PROCESSOS PSICOLÓGICOS BÁSICOS


Identificaremos agora alguns temas relevantes da pesquisa em Psicologia por meio da
descrição de estudos científicos. Os temas de pesquisa serão os processos psicológicos
básicos frequentemente explorados nas pesquisas dessa área:
Fonte: Shutterstock.com / Adaptada por Pedro Tamburro.

A personalidade, tema também muito frequente e caro para a psicologia clínica, também não
ficará de fora de nossa análise. Os processos psicológicos básicos são funções mentais que
derivam das interações entre os processos humanos inatos e a experiência do sujeito com o
meio ambiente. Por meio do produto dessas interações, podemos compreender melhor a
mente humana.

Foto: Shutterstock.com

 ATENÇÃO

Os processos estudados (aprendizagem, personalidade, sensação e percepção) neste módulo


interagem entre si e são interconectados: sua divisão visa apenas a objetivos didáticos.

Os processos básicos, apontam Alvez e Amorin-Gaudencio (2015), são estudados e aplicados


em diversas áreas da Psicologia.
Listaremos algumas delas a seguir:

 Avaliação psicológica

 Psicologia clínica

 Psicologia da educação

 Psicofísica

 Neuropsicologia

Os processos psicológicos básicos têm contribuído de forma significativa para a construção e a


aplicação de técnicas de avaliação psicológica de pacientes neuroatípicos dentro da
neuropsicologia, bem como auxiliam na psicologia clínica e na avaliação de funções
importantes do paciente, como memória, linguagem e psicomotricidade. Dessa forma, a
compreensão dos processos psicológicos básicos são cruciais para atuação na psicologia
como ciência e prática.

APRENDIZAGEM

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A aprendizagem é um processo humano muito estudado. Há várias correntes teóricas que se


debruçam sobre ela.
 EXEMPLO

Epistemologia genética de Piaget, construtivismo de Bruner e teoria sociocultural de Vygotsky.

A Psicologia estuda a aprendizagem por intermédio de uma interface com outras áreas, como
as neurociências e a educação.


Já a neuropsicopedagogia é uma ciência transdisciplinar em expansão, tendo bases teóricas
nas neurociências e interfaces da Psicologia e da Pedagogia.

Os estudos proporcionam elucidações para a compreensão da complexidade do


funcionamento cerebral nas articulações entre o cérebro e o comportamento, facilitando a
compreensão dos processos de ensino-aprendizagem.

O desenvolvimento humano, para Russo (2015), compreende dois processos


complementares:

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Maturação: Basicamente biológica, ela significa o desenvolvimento das estruturas corporais,


neurológicas e orgânicas, bem como dos padrões de comportamento que resultam da atuação
de alguns mecanismos internos.

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Aprendizagem: Configura-se como a consequência da estimulação ambiental no indivíduo já


maduro, acarretando uma mudança no comportamento em função da experiência.

Baseada nos pressupostos da neuropsicopedagogia, a psicologia da educação está


especialmente interessada na avaliação de estudantes com dificuldades de aprendizagem,
transtornos, síndromes ou altas habilidades que prejudicam o desempenho escolar. Para essa
avaliação, é necessária uma gama de instrumentos – e um dos mais importantes são os testes
psicométricos.

As pesquisas para a construção de testes psicométricos, aponta Pasquali (2008), são


extremamente criteriosas: elas estão baseadas em abordagens quantitativas, com normas,
análises fatoriais e estudos de validade. Esses testes são métodos estruturados aplicados com
instruções específicas e normas derivadas de uma população representativa.

Os resultados são descritos a partir da média e do desvio-padrão, o que permite a utilização


de cálculos para comparação.
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Os princípios da criação de um instrumento podem ser divididos em três eixos:

Imagem: Shutterstock.com / Adaptada por Pedro Tamburro

Embora a construção e a avaliação sejam quantitativas, a análise deve ser interpretada de


forma qualitativa, sendo feita com outros profissionais envolvidos como, por exemplo,
neurologistas e professores, e estando baseada em anamneses e observações do psicólogo.

Atualmente, existe uma série de instrumentos padronizados de avaliação psicológica para


mensurar a aprendizagem dos alunos nas áreas de leitura e escrita, aritmética, atenção,
funções executivas e coordenação motora, assim como para avaliar o processo de
alfabetização.

Um dos testes mais amplamente utilizados na Psicologia para a avaliação da aprendizagem,


informa Figueiredo (2001), tem como base as chamadas Escalas Wechsler.
 SAIBA MAIS

A terceira edição da Escala de Inteligência de Wechsler para Crianças (WISC-III) é a principal


referência e a medida mais utilizada de inteligência de crianças e adolescentes no Brasil.
Atualmente na quarta edição, a WISC-IV, por sua vez, é um instrumento clínico que objetiva
avaliar individualmente a capacidade intelectual e o processo de resolução de problemas de 6
anos e 0 mês a 16 anos e 11 meses.

O WISC-IV se trata de um instrumento composto por 15 subtestes (10 principais e 5


suplementares). Além do QI total, ele dispõe de quatro índices:


Índice de compreensão verbal


Índice de organização perceptual


Índice de memória operacional


Índice de velocidade de processamento

Além de auxiliar na avaliação psicológica (especialmente na de crianças com distúrbios de


aprendizagem), esse teste é amplamente utilizado em pesquisas psicológicas. Esses
distúrbios são os problemas sociais e escolares que mais encaminham alunos para a avaliação
psicológica.

 EXEMPLO
De acordo com Figueiredo e demais autores (2007), em um estudo cujo objetivo era investigar
habilidades cognitivas de crianças e adolescentes com distúrbio de aprendizagem, foram
avaliados, por meio do teste de inteligência WISC-III, 263 alunos de 6 a 16 anos oriundos de
escolas públicas. Os fatores mais identificados no grupo estudado foram problemas na leitura e
deficit de atenção. No que tange à capacidade intelectual geral, a média do QI total foi
classificada como limítrofe. Diferentemente do que é apontado na literatura, a pesquisa mostra
uma discrepância entre o raciocínio verbal (QI verbal=82) e o não verbal (QI execução=80).

Esse estudo, continuam Figueiredo e demais autores (2007), foi caracterizado como uma
pesquisa exploratória-descritiva com o objetivo de proporcionar uma visão geral sobre as
características de um grupo clínico com dificuldades de aprendizagem.

Os resultados da pesquisa, por meio da identificação de deficit e potencialidades intelectuais,


podem auxiliar os profissionais envolvidos com a aprendizagem a desenvolver e reforçar as
habilidades essenciais desse processo, orientando no planejamento da intervenção. A
avaliação intelectual suscitada pelo WISC-III nos permite obter uma compreensão global
da forma de aprender.

SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO

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A sensação e a percepção são processos psicológicos básicos amplamente explorados nas


pesquisas psicológicas. A sensação resulta de um primeiro contato com a realidade, sendo
a resposta de um receptor sensorial a estímulos externos, ou seja, ela é uma resposta
fisiológica do organismo.

O processo faz com que os sentidos humanos convertam a energia de um estímulo em


mensagens neurais que provocam reações. As sensações são, pontua Luria (1991), a fonte
básica de nosso conhecimento perante o mundo exterior.

Para o autor (1991), a sensação é uma função psíquica que pode ser comparada à de um
canal que traz a todo tempo informações acerca do mundo e do corpo humano. Baseada
nas informações recebidas por meio das sensações, a percepção constitui o mecanismo
que faz o julgamento, isto é, interpreta as informações que foram captadas pelos sentidos.
Esse processo é construído por fatores internos fisiológicos e psicológicos, bem como por
questões culturais e sociais.

A psicofísica é o ramo da Psicologia que se dedica a analisar as relações entre os estímulos e


as sensações e percepções desencadeadas por eles. Essa disciplina estuda de forma
quantitativa o quanto de um estímulo podemos detectar e como detectamos as diferenças entre
os estímulos em um ambiente por meio de nossos sistemas sensoriais.

Entre os mais famosos estudiosos dessa área, estão os psicólogos Wilhelm Wundt e Gustav
Theodor Fechner. Graças ao reconhecimento de que o estudo científico dos processos
sensoriais pode permitir uma melhor compreensão da mente (comportamento) humana, a
Psicologia pôde ser reconhecida como ciência.

Fechner tinha o intuito de encontrar uma equação que relacionasse a estimulação física e a
experiência psíquica, pontua Schiffman (2005). Nos seus experimentos, o autor demonstrou
haver uma relação entre a estimulação física e a experiência psíquica por intermédio da
progressão geométrica e aritmética. Para isso, é necessário aumentar a estimulação física
em uma progressão geométrica para que a sensação correspondente possa crescer em uma
aritmética.

Uma grande estimulação física não produz, portanto, a mesma intensidade no âmbito da
experiência psíquica, que é sempre menor. Por meio da formulação da chamada Lei de
Fechner, o pesquisador traduziu de forma matemática dimensões mentais. Além disso,
deu um passo importantíssimo para o reconhecimento da Psicologia, assumindo o estatuto de
ciência.
Foto: Autor desconhecido / Wikimedia Commons / Domínio público / Está reservado ao autor o
direito de se manifestar
 Gustav Theodor Fechner (1801–1887).

PROGRESSÃO GEOMÉTRICA E ARITMÉTICA

Lembre-se de que, na progressão geométrica, a relação entre os termos está baseada na


multiplicação (ou no mesmo quociente entre dois termos consecutivos), enquanto, na
aritmética, ela se baseia na soma (ou na diferença constante entre dois números
consecutivos).

Os experimentos psicofísicos podem ser direcionados para qualquer sistema sensorial, seja o
auditivo, o visual, o tátil, o olfativo ou ainda o paladar. O limiar é um conceito importante para
os experimentos psicofísicos, caracterizando-se como o ponto em que um sujeito pode detectar
um estímulo ou uma mudança nele.

Os estímulos abaixo do limiar são considerados subliminares ou indetectáveis. Os


princípios da psicofísica sobre a percepção são amplamente utilizados em diversas áreas do
conhecimento, inclusive para as propagandas e o marketing digital, mediante a aplicação dos
conceitos de semiótica e o acionamento de gatilhos mentais.

A percepção, como destacamos, constitui o mecanismo que faz o julgamento, isto é, interpreta
as informações captadas pelos sentidos; portanto, ela é influenciada por fatores externos e
culturais.

 EXEMPLO

Atualmente, a pressão estética para um corpo perfeito e magro é intensa, especialmente na


mídia e nas redes sociais, influenciando a autopercepção corpórea das pessoas.

Em um estudo experimental com objetivo de correlacionar a relação entre o índice de massa


corporal (IMC) e a percepção da autoimagem em universitários, Kakeshita e Almeida (2006)
fizeram descobertas interessantes. Ambos avaliaram 106 estudantes universitários dos dois
sexos maiores de 18 anos por meio de uma escala de silhueta aplicada por dois métodos
psicométricos distintos e uma escala visual analógica.
Foto: Shutterstock.com

Aplicou-se um questionário para avaliar o componente subjetivo da imagem corporal. Já a


classificação do IMC foi utilizada para a avaliação do estado nutricional.

Os resultados da pesquisa mostraram que a maioria das mulheres eutróficas ou com


sobrepeso (87%) acaba por superestimar seu tamanho corporal, enquanto tanto mulheres
quanto homens obesos (73%) com qualquer IMC subestimam seu tamanho corporal.

Os resultados estatísticos mostram que existe uma diferença significativa na autopercepção


corpórea dos dois gêneros, bem como uma insatisfação geral com a imagem corporal
percebida. O estudo revela a diferença de autopercepção entre homens e mulheres, sendo
que elas tendem a ter mais desconforto com questões corporais, já que sofrem mais pressão
estética.

EUTRÓFICAS

Nesse contexto, esse adjetivo refere-se às pessoas que, por conta de uma alimentação
saudável ou por condições nutricionais equilibradas, possuem o peso dentro dos
parâmetros esperados para aquelas condições.
 ATENÇÃO

Enquanto a sensação é fisiológica, caracterizando-se por uma resposta neural do organismo a


estímulos externos e causando reações, a percepção acontece em um segundo momento:
trata-se de um julgamento do indivíduo baseado na informação da sensação.

Vimos, por meio do estudo, que a percepção pode ser extremamente influenciada por conta de
aspectos sociais e culturais, já que a mesma sensação pode, afinal, causar diferentes
percepções em pessoas distintas.

PERSONALIDADE

CONCEITOS E DIFERENCIAÇÕES
Pesquisadores da personalidade são movidos por estas perguntas:

Por que as pessoas são como são?

Por que eu sou como sou?

O que faz algumas pessoas reagirem de uma forma e outras, de maneira completamente
diferente?

Devemos diferenciar os conceitos de personalidade da psicologia científica daqueles


presentes no senso comum. É comum escutarmos que certa pessoa tem uma personalidade
difícil ou simplesmente forte; no entanto, essa é uma atribuição subjetiva baseada no
comportamento dela.

A psicologia científica desenvolve modelos teóricos para a personalidade por meio de


paradigmas científicos como, por exemplo, o interacionismo, cognitivismo ou evolucionismo.

O conceito de personalidade, apontam Rebollo e Harris (2006), remete a padrões


comportamentais e atitudes típicas de determinados indivíduos, constituindo, desse modo,
traços distintivos entre as pessoas que se expressam por meio de sentimentos, pensamentos e
comportamentos.
Mas a personalidade, completa Allport (1973), também pode ser compreendida como os
sistemas psicofísicos que se organizam de forma dinâmica para determinar
comportamentos e pensamentos característicos de um indivíduo.

As teorias da personalidade são amplamente utilizadas na clínica psicológica em que


instrumentos de avaliação são utilizados. A psicologia da personalidade tem muita
proximidade com a diferencial, que se dedica a estudar as causas das diferenças individuais
na personalidade. Às vezes, ambas chegam a ser utilizadas como sinônimos.

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As pesquisas psicológicas sobre a personalidade estão interessadas tanto no que as pessoas


têm em comum, isto é, nas características gerais dos seres humanos, quanto em suas
características individuais, que são próprias de um único indivíduo.

ABORDAGENS
Quando se trata de avaliações psicológicas, existem duas abordagens que, por vezes,
funcionam de formas opostas. Uma possui embasamento objetivo e, evitando subjetividades,
trabalha com um conjunto de dados quantificados graças a comparações intra e
interindividuais. Já a outra é fundamentalmente subjetiva e se preocupa com a
individualidade do sujeito.

Segundo Sánchez-Elvira (2005), há então duas formas de realizar pesquisas e estudar a


personalidade:
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ABORDAGEM NOMOTÉTICA

Objetiva e quantitativa, ela se preocupa com traços comuns entre os indivíduos. Seu objetivo é
obter leis gerais aplicáveis às populações, tendo grandes amostras de sujeitos com métodos
experimentais ou correlacionais.

A teoria dos cinco fatores é um tipo de abordagem nomotética.

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ABORDAGEM IDEOGRÁFICA

De caráter subjetivo, essa abordagem está preocupada com características individuais e se


baseia em um estudo intensivo sobre o indivíduo. Trata-se de um método largamente utilizado
na clínica psicológica. Autores proeminentes utilizaram a abordagem ideográfica. O pai da
psicanálise, Sigmund Freud, e Carl Rogers, com a teoria fenomenológica, são dois deles.

CONFIABILIDADE E VALIDADE
Independentemente da abordagem utilizada, toda pesquisa psicológica deve estar
especialmente preocupada com a confiabilidade e a validade.
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CONFIABILIDADE

Seu conceito está relacionado à estabilidade das observações e ao fato de elas poderem ser
replicadas por outros pesquisadores. As observações devem ser consistentes para as
interpretações teóricas.

Variações na aplicação de testes de personalidade, como o humor do sujeito no dia da


aplicação ou os erros do aplicador, podem gerar uma falta de confiabilidade nos resultados.

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VALIDADE
Seu conceito trata do grau em que as observações refletem os fenômenos ou as variáveis que
interessam na pesquisa.

Podemos supor um teste para traços de personalidade narcisista, mas sem as evidências de
que ele mede o que se propõe a medir. Como testes de personalidade são muito subjetivos,
não é incomum haver uma distorção nos construtos a serem medidos.

PRINCIPAIS METODOLOGIAS
Para alguns pesquisadores como, por exemplo, Pervin e John (2004), as principais
metodologias da pesquisa de personalidade são:

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PESQUISA CLÍNICA E ESTUDO DE CASO

A pesquisa clínica envolve o estudo intensivo de indivíduos. A forma de coleta de dados de


Sigmund Freud é um bom exemplo de estudo clínico.

Os estudos de caso e as observações aprofundadas de psicólogos clínicos desempenham um


papel importante no desenvolvimento de teorias da personalidade.

Por meio desse trabalho exaustivo, novas hipóteses podem ser testadas de forma mais
sistemática por testes de personalidade e questionários – ou até mesmo por experimentos. O
escopo de investigação pode ir além de espaços individuais; no entanto, a pesquisa clínica
utiliza especialmente a observação para coletar dados.
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Na pesquisa clínica, observa-se diretamente o comportamento do sujeito, sem a necessidade


de se extrapolar, a partir de um cenário artificial, para o mundo real. Alguns fenômenos são
possíveis de estudar apenas no contexto clínico, como um estresse pós-traumático no contexto
de guerra, por exemplo.

As pesquisas clínicas e os estudos de caso possibilitam um campo fértil para a


compreensão da organização complexa da personalidade.

No entanto, essas observações envolvem a subjetividade do pesquisador, o que pode


atrapalhar a confiabilidade e a validade dos dados. O viés do pesquisador pode ser visto como
uma desvantagem da pesquisa clínica, embora ela possa ser minorada com a aplicação de
testes normatizados.

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PESQUISA EXPERIMENTAL E CORRELACIONAL


A pesquisa experimental envolve tentativas de adquirir controle sobre as variáveis de interesse
e estabelecer as relações de causa e efeito. Seu objetivo é conseguir fazer afirmações
específicas sobre a causa, ou seja, alterando-se uma variável, pode-se produzir mudanças em
outra variável. Esse tipo de pesquisa é realizado em laboratórios.

Desse modo, enquanto os estudos clínicos fazem observações mais próximas da vida,
analisando poucos indivíduos, os estudos experimentais envolvem um controle rígido de
variáveis com grandes amostras de sujeitos.

Os testes e os questionários de personalidade possibilitam a obtenção de uma grande


quantidade de informações de vários sujeitos de uma só vez. Dessa forma, as variáveis que
não pudessem ser mensuradas por intermédio do estudo experimental em laboratório seriam
estudadas.

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Testes e questionários de personalidade são utilizados quando o pesquisador está interessado


nas diferenças entre os indivíduos. O pesquisador psicólogo também pode querer observar a
correlação entre as diferentes características da personalidade.

Exemplo:

Indivíduos ansiosos são menos criativos?

Quando duas ou mais variáveis não podem ser manipuladas por meio de um controle
experimental, o pesquisador pode optar pela pesquisa correlacional. Uma correlação é
estabelecida em vez de uma relação de causa e efeito.
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Exemplo:

Pode-se dizer que a ansiedade causa um aumento de rigidez em vez de se afirmar que a
personalidade é causa dela.

Devido à ênfase nas diferenças individuais e no estudo de muitas variáveis de uma vez, os
questionários e a pesquisa correlacional são muito populares entre os psicólogos da
personalidade.

TEORIA DOS CINCO FATORES

A teoria dos cinco (grandes) fatores – ou big five – tem sua origem em um conjunto de
pesquisas sobre a personalidade. Geralmente se utiliza a chave mnemônica OCEAN para
se referir a eles. Sua sigla é a junção das seguintes palavras: openness (abertura),
conscientiousness (conscienciosidade), extraversion (extroversão), agreeableness
(amabilidade/socialização) e neuroticism (neuroticismo).
PSICOLOGIA E PESQUISA
A Psicologia pode abordar qualquer assunto? É o que vamos aprofundar no vídeo a seguir.

VERIFICANDO O APRENDIZADO
1. A APRENDIZAGEM É UM PROCESSO HUMANO MUITO ESTUDADO. HÁ
VÁRIAS CORRENTES TEÓRICAS. A PSICOLOGIA, NO ESTUDO DA
APRENDIZAGEM, POR EXEMPLO, FAZ UMA INTERFACE COM OUTRAS
CIÊNCIAS. SEUS ESTUDOS PROPORCIONAM ELUCIDAÇÕES SOBRE A
COMPLEXIDADE DO FUNCIONAMENTO CEREBRAL NAS ARTICULAÇÕES
ENTRE O CÉREBRO E O COMPORTAMENTO QUE FACILITAM A
COMPREENSÃO DOS PROCESSOS DE ENSINO-APRENDIZAGEM. SOBRE
ESSA QUESTÃO, É CORRETO AFIRMAR QUE:

A) A aprendizagem é um processo biológico sem dependência de fatores ambientais,


acarretando uma mudança no comportamento.

B) A aprendizagem independe dos processos biológicos de maturação.

C) A aprendizagem constitui a consequência da estimulação ambiental no indivíduo já maduro,


acarretando uma mudança em seu comportamento em função da experiência.

D) A psicologia por si só é suficiente para dar conta dos processos de aprendizagem e não
precisa levar em conta achados de outras disciplinas.

E) A aprendizagem é um fenômeno biológico que independe da cultura.

2. A SENSAÇÃO E A PERCEPÇÃO SÃO PROCESSOS PSICOLÓGICOS


BÁSICOS AMPLAMENTE EXPLORADOS NAS PESQUISAS
PSICOLÓGICAS. A PSICOFÍSICA É O RAMO DA PSICOLOGIA QUE SE
DEDICA A ANALISAR AS RELAÇÕES ENTRE OS ESTÍMULOS E AS
SENSAÇÕES, ASSIM COMO AS PERCEPÇÕES DESENCADEADAS POR
ELES. ESSA DISCIPLINA ESTUDA DE FORMA QUANTITATIVA O QUANTO
DE UM ESTÍMULO PODE SER DETECTADO E COMO SÃO DETECTADAS
AS DIFERENÇAS ENTRE ESTÍMULOS NO AMBIENTE GRAÇAS A NOSSOS
SISTEMAS SENSORIAIS.

SOBRE SENSAÇÃO E PERCEPÇÃO, APONTE A ALTERNATIVA COM AS


AFIRMAÇÕES CORRETAS:

I) A PERCEPÇÃO RESULTA DE UM PRIMEIRO CONTATO COM A


REALIDADE, CONSTITUINDO A RESPOSTA DE UM RECEPTOR
SENSORIAL A ESTÍMULOS EXTERNOS.
II) A PERCEPÇÃO É INFLUENCIADA POR FATORES CULTURAIS.
III) A SENSAÇÃO É O MECANISMO QUE FAZ O JULGAMENTO, ISTO É,
INTERPRETA AS INFORMAÇÕES CAPTADAS PELOS SENTIDOS.
IV) SEGUNDO A LEI DE FECHNER, É NECESSÁRIO AUMENTAR A
ESTIMULAÇÃO FÍSICA EM UMA PROGRESSÃO GEOMÉTRICA PARA QUE
A SENSAÇÃO CORRESPONDENTE CRESÇA EM UMA ARITMÉTICA.
V) ESTÍMULOS ABAIXO DO LIMIAR DE PERCEPÇÃO TAMBÉM SÃO
CHAMADOS DE ESTÍMULO SUBLIMINAR OU INDETECTÁVEL.
VI) PARA LURIA, A PERCEPÇÃO É UMA FUNÇÃO PSÍQUICA QUE PODE
SER COMPARADA A UM CANAL QUE, A TODO TEMPO, OFERECE
INFORMAÇÕES ACERCA DO MUNDO E DO CORPO HUMANO.

A) I, II, IV

B) II, III, VI

C) II, IV, V

D) I, V, VI

E) II, III, IV

GABARITO

1. A aprendizagem é um processo humano muito estudado. Há várias correntes teóricas.


A Psicologia, no estudo da aprendizagem, por exemplo, faz uma interface com outras
ciências. Seus estudos proporcionam elucidações sobre a complexidade do
funcionamento cerebral nas articulações entre o cérebro e o comportamento que
facilitam a compreensão dos processos de ensino-aprendizagem. Sobre essa questão, é
correto afirmar que:

A alternativa "C " está correta.

Os processos de aprendizagem envolvem a maturação biológica do indivíduo, bem como


fatores ambientais. A aprendizagem é estudada por outras disciplinas; portanto, o pesquisador
dessa área precisa levar em conta todos os achados importantes.

2. A sensação e a percepção são processos psicológicos básicos amplamente


explorados nas pesquisas psicológicas. A psicofísica é o ramo da Psicologia que se
dedica a analisar as relações entre os estímulos e as sensações, assim como as
percepções desencadeadas por eles. Essa disciplina estuda de forma quantitativa o
quanto de um estímulo pode ser detectado e como são detectadas as diferenças entre
estímulos no ambiente graças a nossos sistemas sensoriais.

Sobre sensação e percepção, aponte a alternativa com as afirmações corretas:

I) A percepção resulta de um primeiro contato com a realidade, constituindo a resposta


de um receptor sensorial a estímulos externos.
II) A percepção é influenciada por fatores culturais.
III) A sensação é o mecanismo que faz o julgamento, isto é, interpreta as informações
captadas pelos sentidos.
IV) Segundo a Lei de Fechner, é necessário aumentar a estimulação física em uma
progressão geométrica para que a sensação correspondente cresça em uma aritmética.
V) Estímulos abaixo do limiar de percepção também são chamados de estímulo
subliminar ou indetectável.
VI) Para Luria, a percepção é uma função psíquica que pode ser comparada a um canal
que, a todo tempo, oferece informações acerca do mundo e do corpo humano.

A alternativa "C " está correta.

A sensação é um processo anterior à percepção. Segundo Luria (1991), as sensações


constituem a fonte básica do nosso conhecimento perante o mundo exterior. Portanto, a
sensação resulta de um primeiro contato com a realidade, sendo a resposta de um receptor
sensorial a estímulos externos, ou seja, uma resposta fisiológica do organismo. Já a percepção
é o mecanismo que faz o julgamento, isto é, interpreta as informações captadas pelos sentidos;
sendo assim, ela é influenciada por fatores externos e culturais.

Fechner demonstrou que existe uma relação entre a estimulação física e a experiência
psíquica: é necessário aumentar essa estimulação em uma progressão geométrica para que a
sensação correspondente cresça em uma aritmética. Nos experimentos psicofísicos, o limiar é
um conceito importante, caracterizando-se como o ponto em que um sujeito pode detectar um
estímulo ou uma mudança nele. Os estímulos abaixo do limiar são considerados subliminares
ou indetectáveis.
CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Aprendemos que a Psicologia possui uma ampla gama de objetos de pesquisa. Alguns autores
tomam o objeto como a subjetividade humana; outros, o inconsciente; e alguns, os processos
mentais e o comportamento.

Salientamos que, na comparação com as ciências exatas como, por exemplo, a Física, os
estudos psicológicos podem ser considerados recentes. Esse fato é por vezes apontado como
a causa da diversidade dos objetos de pesquisa da Psicologia. No entanto, consideramos ser
mais sensato afirmar que a diversidade do objeto se deve à complexidade dos fatores que
atravessam os seres humanos.

Frisamos ainda que, depois de definir seu tema de pesquisa, o pesquisador deve fazer uma
leitura exaustiva das publicações de referência na área. Por meio de um estudo sistemático da
bibliografia, ele terá os recursos para formular sua pergunta de pesquisa e as respostas
provisórias (ou hipóteses).

Pontuamos também que esse pesquisador precisa decidir se a pergunta de pesquisa procura
descrever, fazer previsões ou identificar relações causais. Destacamos em seguida as
situações em que ele pode aplicar um estudo de caso único ou um controle quase-
experimental.

Estudamos, por fim, alguns temas relevantes de pesquisas em Psicologia, como os processos
de aprendizagem, sensação e percepção, bem como a personalidade. Esses temas possuem
interface com outras áreas da ciência, como Ciências Sociais, Medicina, Pedagogia – e assim
por diante. Verificamos, com isso, que os resultados das pesquisas psicológicas também
impactam outras áreas de pesquisa.
AVALIAÇÃO DO TEMA:

REFERÊNCIAS
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ALVEZ, N.; AMORIN-GAUDENCIO, C. Processos básicos e avaliação psicológica:


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Scientiae studia. v. 7. n. 2. 2009. p. 209-220.

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Psicologia. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 2018.

BUSSAB, W.; MORETTIN, P. Estatística básica. São Paulo: Saraiva, 2017.

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doutorado não publicada. Curso de pós-graduação em Psicologia. Brasília: Universidade de
Brasília, 2001.

FIGUEIREDO, V. L. M. et al. Habilidades cognitivas de crianças e adolescentes com


distúrbio de aprendizagem. In: PsicoUSF. v. 12. n. 2. Itatiba. dez. 2007. p. 281-290.

KAKESHITA, I.; ALMEIDA, S. Relação entre índice de massa corporal e a percepção da


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LURIA, A. R. Desenvolvimento cognitivo. São Paulo: Ícone, 1991.


PAIVA, G. Ciência, religião, psicologia: conhecimento e comportamento. In: Psicologia:
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PASQUALI, L. A ciência da mente: a psicologia à procura do objeto. Brasília: Editor, 2008.

PERVIN, L. A.; JOHN, O. P. Personalidade: teoria e pesquisa. Tradução de Ronaldo Cataldo


Costa. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

REBOLLO, I.; HARRIS, J. R. Genes, ambiente e personalidade. In: FLORES-MENDOZA, C.


E.; COLOM, R. (Orgs.). Introdução à psicologia das diferenças individuais. Porto Alegre:
Artmed, 2006. p. 300-322.

RUSSO, R. M. T. Neuropsicopedagogia clínica: introdução, conceitos, teoria e prática. São


Paulo: Juruá Editora, 2015.

SÁNCHEZ-ELVIRA, A. Introdução ao estudo das diferenças individuais. 2. ed. Madri: Sanz


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SCHIFFMAN, H. R. Psicofísica. In: SCHIFFMAN, H. R. Sensação e percepção. Rio de


Janeiro: LTC, 2005. p. 17-33.

SCHULTZ, D. P; SCHULTZ, S. E. História da psicologia moderna. 10. ed. São Paulo:


Cengage Learning, 2016.

SHAUGHNESSY, J.; ZECHMEISTER, E.; ZECHMEISTER, J. Metodologia da pesquisa em


Psicologia. Porto Alegre: AMG Editora, 2012.

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considerações. In: Natureza humana. v. 13. n. 2. São Paulo. 2011. p. 144-155.

EXPLORE+
Este artigo é o resultado das pesquisas apresentadas em um colóquio realizado nos dias 15,
16 e 17 de julho de 2020. Trata-se de uma relevante contribuição para analisar, à luz da
Filosofia e da psicanálise – e tendo como contexto a pandemia do Coronavírus (Covid-19) –, as
questões relacionadas ao sofrimento e à morte:

Filosofia, psicanálise e pandemia: contemporaneidade, sofrimento e morte, publicado em


Natureza humana – Revista Internacional de Filosofia e Psicanálise. v. 22. n. 2. 2020.
Outra ótima fonte de pesquisa na área é o site da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
graduação em Psicologia (ANPEPP). Na página da ANPEPP, além da indicação de
periódicos, é possível acompanhar as notícias acerca dos eventos acadêmicos.

CONTEUDISTA
Antonielle Cantarelli Martins

 CURRÍCULO LATTES

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