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XLV Encontro da ANPAD - EnANPAD 2021

On-line - 4 - 8 de out de 2021


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O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE VALORES SOCIAIS: revisitando o conceito


de valor social do ponto de vista da tradição interacionista simbólica

Autoria
Talita Ravagnã Piga - talita.rpiga@gmail.com
Prog de Pós-Grad em Admin de Empresas - PPGA - Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro - Outra

Silvia Marcia Russi De Domenico - silviadedomenico@gmail.com


Prog de Pós-Grad em Admin de Empresas - PPGA - Universidade Presbiteriana Mackenzie
Outro - Outra

Agradecimentos
Agradecemos ao Instituto Presbiteriano Mackenzie (IPM) e à Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), pelas bolsas de estudos que foram
concedidas e que possibilitaram o desenvolvimento deste artigo.

Resumo
Nesta segunda década do século XXI, acumulam se grandes questões que desafiam a
humanidade, de guerras civis à mudança climática e suas consequências, tais como desastres
naturais, escassez de água e pandemias, aprofundando as desigualdades sociais. Tantos
problemas, que persistem apesar do progresso tecnológico, econômico e social alcançado
nos últimos dois séculos, nos levam a refletir sobre como viemos parar neste ponto? Afinal,
o que tem sentido e importa para os grupos e sociedades que habitam este planeta? Em
direção à problematização desse questionamento, elegemos, dentro do pragmatismo
americano, a tradição interacionista simbólica e o conceito de valor social, fundamentado na
vertente sociológica da psicologia social, visando a responder como ocorre o processo de
construção desse tipo de valores. Revisitamos, a partir das três vertentes do interacionismo
simbólico (tradicional, contemporânea e o conceito primeiro definido por Thomas e
Znaniecki (1927, 2006) e, por meio dessa integração teórica, propomos uma definição
conceitual contemporânea do que seja valor social para prosseguir à formulação de um
modelo teórico acerca do processo de construção de valores sociais, abrindo espaço para
compreender a dinâmica entre as diferentes estruturas da sociedade (macro) e a agência das
pessoas (micro) na significação, ressignificação e até abandono desses valores.
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O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE VALORES SOCIAIS: revisitando o conceito de


valor social do ponto de vista da tradição interacionista simbólica

Resumo

Nesta segunda década do século XXI, acumulam-se grandes questões que desafiam a
humanidade, de guerras civis à mudança climática e suas consequências, tais como desastres
naturais, escassez de água e pandemias, aprofundando as desigualdades sociais. Tantos
problemas, que persistem apesar do progresso tecnológico, econômico e social alcançado nos
últimos dois séculos, nos levam a refletir sobre como viemos parar neste ponto? Afinal, o que
tem sentido e importa para os grupos e sociedades que habitam este planeta? Em direção à
problematização desse questionamento, elegemos, dentro do pragmatismo americano, a
tradição interacionista simbólica e o conceito de valor social, fundamentado na vertente
sociológica da psicologia social, visando a responder como ocorre o processo de construção
desse tipo de valores. Revisitamos, a partir das três vertentes do interacionismo simbólico
(tradicional, contemporânea e estrutural), o conceito primeiro definido por Thomas e
Znaniecki (1927, 2006) e, por meio dessa integração teórica, propomos uma definição
conceitual contemporânea do que seja valor social para prosseguir à formulação de um
modelo teórico acerca do processo de construção de valores sociais, abrindo espaço para
compreender a dinâmica entre as diferentes estruturas da sociedade (macro) e a agência das
pessoas (micro) na significação, ressignificação e até abandono desses valores.

Palavras-chave: Valor social. Processo de construção. Interacionismo Simbólico. Integração


de vertentes.

INTRODUÇÃO

Guerras civis e entre nações, crises de refugiados, desastres naturais induzidos pela
mudança climática, pobreza extrema, escassez de água, fome e epidemias são algumas das
inúmeras questões globais que persistem apesar de todo o progresso tecnológico, econômico
e social alcançado nos últimos dois séculos (George et al., 2016). À beira de um colapso,
provocado pelos problemas socioambientais do sistema capitalista, a humanidade se defronta
com os limites desse modelo e com as possibilidades de soluções (Banerjee, 2003, 2008;
Leff, 2015; Martinez-Alier et al., 2014; Vizeu, Meneghetti & Seifer, 2012). Isso imputa às
organizações, grupos e movimentos sociais a difícil tarefa de lidar com problemas globais,
complexos e incertos, diária e localmente (Colquitt & George, 2011; George et al., 2016;
Ferraro, Etzion & Gehman, 2015).
No ano de 2020 “saltou” diante de todos os países, governos, organizações e pessoas
um cenário aterrorizante, que não vimos chegar e para o qual nenhuma preparação havia sido
feita: a pandemia do novo coronavírus. No entanto, doenças como a COVID-19 não surgem
de modo espontâneo, bem como a desconfiança na ciência, ou na democracia. Peter Piot, um
dos médicos microbiologista mais proeminentes do mundo, e que codescobriu o vírus Ebola
em 1976, alerta: “[e]stamos vivendo na era das pandemias e acho que veremos mais e mais
delas, e a razão fundamental é que falhamos em viver em harmonia com a natureza”. (Hook,
2020, s.p., tradução nossa). Tantos problemas, sobremaneira evidenciados nas primeiras
décadas do século XXI, fazem-nos questionar, afinal, o que é importante para pessoas, grupos
e sociedades que vivem em nosso planeta, já que nem a vida parece ter mais valor. Como
chegamos a este ponto?

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Em um mundo em que grupos tornaram-se tão visíveis pela internet e, principalmente,


pelas redes sociais, defendendo pontos de vista diversos sobre as mais variadas questões,
compreender como tais conjuntos de pessoas estabelecem valores sociais, isto é, o que lhes
importa, sejam objetos ou ideias, pela atribuição de significados (Thomas & Znaniecki, 1927,
2006), quais são esses significados, como são redefinidos em diferentes tempos-espaços,
chegando até a perder o sentido, pode nos trazer pistas sobre como enfrentar desafios globais.
A sociedade contemporânea coloca-nos a todo instante diante do que William Thomas
- autor interacionista simbólico da Escola de Chicago, situado em uma abordagem sociológica
da psicologia social e ancorado à filosofia pragmatista americana, no início do século XX -,
denominou de situação. São nas situações que estão envolvidos grupos e indivíduos,
intersubjetivamente ligados, que precisam operar processos de ajustamento como respostas a
circunstâncias objetivas (Stryker, 1980). A realidade social em uma perspectiva pragmática,
pano de fundo deste artigo, é constituída de situações problemas que precisam ser
reconhecidas de tal forma para seu enfrentamento, pois como postulou Thomas, “[...] se os
homens definem as situações como reais, elas são reais em suas consequências” (Stryker,
1980, p. 31, tradução nossa).
O pragmatismo é uma tradição filosófica que rejeita a metafísica em favor da
compreensão dos aspectos práticos cotidianos de viver em um mundo incerto e em constante
mudança. As condições desafiadoras em função de mudanças econômicas e sociopolítica nos
Estados Unidos, ao final do século XIX, trazidas pela guerra civil, a imigração maciça e um
desenvolvimento sem precedentes em termos de crescimento econômico, inovação e
industrialização, animaram os esforços intelectuais de escritores notáveis como Charles
Sanders Peirce (1839–1914), William James (1842–1910), John Dewey (1859–1952), Jane
Addams (1860–1935), George Herbert Mead (1863–1931) e Mary Parker Follett (1868-1933)
(Simpson & Den Hond, 2021).
Epistemologicamente, o conhecimento em uma perspectiva pragmática é uma forma
de ação diante de uma situação que é percebida como problemática e o pensamento surge
quando se tenta resolver os problemas que a cada dia se deve enfrentar (Álvaro & Garrido,
2017). Por isso, embora haja particularidades no pensamento dos pragmatistas americanos, é
ponto comum a todos esses autores expressarem uma profunda desconfiança de certezas,
finalidades e ideias universais, defendendo a experiência como a única fonte admissível de
conhecimento prático e moral (Simpson & Den Hond, 2021). Isso significa que a experiência
humana é considerada a fonte primária sobre como se pode conhecer as coisas e seus
significados e que, enquanto seres humanos, nunca podemos escapar de nossa imersão no
mundo da experiência no qual somos lançados como atores (Martela, 2015).
Com isso, o pragmatismo traz em seu bojo uma perspectiva compromissada com a
compreensão de processos e orientada para mobilizar a criatividade a fim de melhorar as
situações atuais pelo que concebemos em termos de suas implicações futuras (Simpson &
Den Hond, 2021). Uma abordagem de processo busca se envolver com todas as coisas e todos
os movimentos da vida em termos de como tais situações se tornam o que se apresentam
(Langley & Tsoukas, 2016). Ao privilegiar a dinâmica de situações socialmente emergentes, o
pragmatismo reconhece a precariedade e a provisoriedade da experiência de vida, em vez de
buscar verdades universais (Simpson & Den Hond, 2021).
A tradição interacionista simbólica, principal linha teórica do pragmatismo americano,
produziu inúmeras contribuições importantes quanto ao i) debate macro–micro, que reconhece
no movimento interacionista a presença de diferentes níveis de análise e seus
entrelaçamentos; ii) o debate agência/estrutura, que reconhece a relação entre atores e objetos,
explicitando a existência por um lado da ordem social e por outro da autonomia individual; e
iii) o debate realista social/interpretacionista, pois o interacionismo simbólico é
metodologicamente mais diverso do que se acredita com frequência, e ao mesmo tempo em

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que defende o estudo subjetivo e a interpretação da experiência humana, também espera criar
uma ciência da conduta humana, fundamentado em uma abordagem realista e em critérios
científicos) (Fine, 2005).
A evolução do movimento interacionista fez surgir demarcações teóricas entre os
próprios autores dessa tradição e, assim, é possível encontrar na literatura sua classificação em
três grandes escolas e seus expoentes: Escola de Chicago (Herbert Mead e Herbert Blumer),
Escola de Iowa (Manford Kuhn) e Escola de Indiana (Sheldon Stryker) (Carter; Fuller, 2016)
ou ainda em três grandes versões: Versão Tradicional (Herbert Mead), Versão Contemporânea
(Herbert Blumer) e Versão Estrutural (Manford Kuhn e Sheldon Stryker) (Stryker, 1980).
Este artigo revisita o conceito de valor social, primeiramente proposto na versão
tradicional do interacionismo simbólico por Thomas e Znaniecki (1927, 2006) e, assumindo a
teoria interacionista simbólica em suas três versões propõe, por meio da integração entre elas,
uma atualização do conceito.
A integração das diferentes versões possibilita avançar para além da definição de valor
social e elaborar, em um segundo momento deste ensaio, um modelo teórico para o processo
de formação de valores sociais que pode contribuir para clarificar a compreensão de
problemas sociais emergentes, complexos e multifacetados, e as possibilidades de
agenciamento em meio às restrições que são impostas por estruturas sociais nas quais as
pessoas estão circunscritas.
Apesar de existirem outras teorias que debatem as dicotomias micro-macro e agência-
estrutura (e.x.: teoria da estruturação e teoria institucional), neste artigo elegemos o
interacionismo simbólico enquanto tradição intelectual para se investigar o processo que
define o que importa para diferentes grupos e sociedades, pois é nela que se originou o
conceito de valor social de Thomas e Zaniecki (1927) e porque continuou a se enriquecer ao
longo do tempo até os dias atuais.
O interacionismo simbólico foi uma das primeiras propostas a empiricamente transitar
entre as teorias psicológicas microssociais e macrossociológicas (Carter & Fuller, 2016) e a
“superar a velha antinomia indivíduo-sociedade, especificando como ambas as realidades são
constituídas através de processos de comunicação e interação social” (Torregrosa, 2006, p.
24).
Sendo precursores de tal debate, os interacionistas simbólicos influenciaram uma
gama de perspectivas teóricas em curso (Carter & Fuller, 2016; Fine, 2005) - a exemplo da
presença de Mead no clássico interpretacionista The Social Construction of Reality, de Berger
e Luckmann (1966), e dos elementos culturais e qualitativos incorporados ao
neoinstitucionalismo de Dimaggio e Powell (1991) e Meyer e Rowan (1977) (Fine, 2005)-,
conferindo ao interacionismo simbólico, ainda hoje, o status de teoria significativa e
promissora para o futuro das pesquisas (Carter & Fuller, 2016; Fine, 2005; Hall, 2003).
Por último, cabe destacar que o conceito de valor social ficou restrito à vertente
tradicional do interacionismo simbólico e acabou caindo no esquecimento quando da
ascensão de uma psicologia social centrada nos processos cognitivos (Álvaro & Garrido,
2017). Se são as definições conceituais que fazem concepções básicas de uma ciência
aparente e legitimam a investigação de certos domínios sobre outros, como afirma Torregrosa
(2006), entendemos a importância de se revisitar determinados conceitos a fim de explorar
suas potencialidades práticas e atuais. Observamos isso no caso do antigo conceito de
dignidade humana, que tem sido explorado, por Donna Hicks, como papel essencial na
resolução de conflitos “para um mundo mais seguro e humano para todos” (Hicks, 2011, s.p,
tradução nossa) e como atributo da “boa liderança” (Hicks, 2018, s.p, tradução nossa), ou no
caso de John Elkington, quando propôs o recall do conceito de Triple Bottom Line da
sustentabilidade, mais de 25 anos após ter cunhado o termo, uma vez que, segundo o autor,
urge continuar perseguindo a “intenção radical necessária para impedir que todos nós

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ultrapassemos nossos limites planetários” (Harvard Business Review, 2018, p. 6, tradução


nossa), propondo para isso a face de um capitalismo regenerativo, após um colapso que será
inevitável (Elkington, 2020).
Assim, resgatando, neste artigo, a teoria de Thomas e Znaniecki (1927, 2006) e
somando-a aos esforços de outros que os seguiram, dentro da mesma tradição, buscamos
contribuir com um conceito revisitado e a proposta de um processo para a construção de
valores sociais como mais um passo para compreender os fenômenos que envolvem os
problemas do século XXI, e, a partir daí, em um esforço futuro, propor alternativas para
enfrentá-los.
Nosso percurso se inicia com a apresentação das distintas abordagens da psicologia
social, área de conhecimento que congrega parte significativa dos estudos sobre valores, para
situarmos os valores sociais no campo do interacionismo simbólico. Após, consideramos as
contribuições das três versões da tradição interacionista para a proposição de um conceito de
valor social e, em seguida, apresentamos e discutimos o modelo teórico acerca do processo de
construção de valores sociais.

OS VALORES NA PSICOLOGIA SOCIAL

A palavra valor está presente na vida cotidiana, é usada em diversas situações e


contém vários significados. Como substantivo, valor é registrado no Compact Oxford English
Dictionary, em 1303, para se referir à imparcialidade e equivalência da quantidade de uma
mercadoria em uma troca, e em 1398, para significar um padrão de estimativa (Rohan, 2000).
Enquanto verbo, o uso da palavra valor (valorar) é registrado também no início do século
XIV, para descrever o ato de avaliar uma mercadoria (Rohan, 2000).
Para Kluckhohn (1951), antropólogo norte-americano, a palavra valor é um termo
técnico empregado em várias áreas de conhecimento tais como filosofia, economia, artes,
sociologia, psicologia e antropologia, significando coisas diferentes (Adler, 1956). A maior
parte dos estudos sobre valores concentra-se na psicologia social (Ros, 2001) que se divide
em psicologia social psicológica e psicologia social sociológica (Stryker, 1977; Torregrosa,
2006; Álvaro & Garrido, 2017). Em cada uma delas, encontramos definições para o construto.
Na psicologia social psicológica, valores encontram-se nos indivíduos, ou seja, são
intrasubjetivos (Rokeach, 1973). Os valores nessa acepção são fruto da cognição humana,
portanto, surgem e se constroem de dentro para fora (Álvaro & Garrido, 2017), tendo suas
raízes nas necessidades humanas. Dois autores influentes em estudos de valores na vertente
psicológica são Rokeach (1969; 1973) e Schwartz (1992; 1994; 2005; 2012). Rokeach (1973)
define um valor como “uma crença persistente de que um modo específico de conduta ou
estado final de existência é pessoalmente ou socialmente preferível a um modo de conduta ou
estado final de existência oposto” (Rokeach, 1973, p. 5, tradução nossa). Schwartz (1994) traz
à tona as motivações humanas como conteúdo substantivo dos valores, ao considerá-los
“metas desejáveis e transituacionais, que variam em importância, servem como princípios na
vida de uma pessoa ou de outra entidade social” (Schwartz, 1994, p.21, tradução nossa). A
partir de uma ótica evolucionista, os tipos motivacionais são comuns a todos os indivíduos,
em qualquer sociedade, diferenciando-se apenas em termos de hierarquia (Schwartz, 1992).
Por outro lado, ligados à psicologia social sociológica, pesquisadores da chamada
Escola de Chicago exerceram enorme influência sobre os estudos sociais produzidos no início
do século XX, por meio da tradição interacionista simbólica (Álvaro & Garrido, 2017) sob a
qual também trataram de valores. Aqui, no entanto, os valores são denominados sociais,
localizados nos objetos devido a um processo de significação que ocorre por meio de
interação social (Álvaro & Garrido, 2017), o que os caracteriza como extra e intersubjetivos.

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Para os interacionistas simbólicos, o significado é um dos mais importantes elementos


na compreensão do comportamento humano, das interações e dos processos sociais (Fine,
2005). Em Symbolic Interactionism: Perspective and Method, Blumer (1969) estabelece três
premissas básicas do interacionismo simbólico:

A primeira é que o ser humano orienta seus atos em direção às coisas em função do que estas
significam para ele. A segunda é que o significado dessas coisas surge como consequência da
interação social que cada qual mantém com seu próximo. A terceira é que os significados surgem e
se modificam mediante um processo interpretativo desenvolvido pela pessoa ao defrontar-se com
as coisas que vai encontrando em seu caminho. (Blumer, 1969, p. 2, tradução nossa).

Diferentemente da vertente psicológica da psicologia social, que centra sua atenção no


processo cognitivo, os interacionistas consideram que o significado é produzido a partir do
processo de interação humana (Mead, 1962; Blumer, 1969). Para Mead (1962), expoente da
versão tradicional do interacionismo (Stryker, 1980), a interação entre indivíduos na
sociedade faz com que a mente humana e o self (autoconceito de si) emerja e seja moldado
pela interação social com outras pessoas. O self permite que o indivíduo interaja socialmente
consigo da mesma forma que interage socialmente com outras pessoas, o que habilita nos
seres humanos a capacidade de antecipar-se às respostas dos outros envolvidos em interação
social (role-taking) a fim de resolver problemas rotineiros por meio da manipulação de
símbolos significantes (quando algo possui significado comum) (Mead, 1962).
Com base no processo de significação, Blumer (1969), discípulo de Mead e principal
representante da versão contemporânea do interacionismo (Stryker, 1980), apresenta a visão
de homem, defendida por todas as vertentes interacionistas simbólicas, que é a de um ser
agente. O ser humano é visto como um organismo que se empenha na interação social consigo
mesmo, por meio da auto-interação, e com os outros, por meio da interação social, a fim de
elaborar uma linha de ação de acordo com os elementos com os quais o agente interpreta, ao
invés de simplesmente emitir uma resposta automática (Blumer, 1969). Ao fazer isso, o agente
tem a capacidade de significar e ressignificar (Blumer, 1969), fazendo com que um
significado possa inclusive ser abandonado. Importante ressaltar que, ao centrar-se nos
processos de significação e interação social, Blumer (1969) assume uma posição
microssociológica no interacionismo simbólico.
Todavia, para além das importantes contribuições que Mead (1962) e Blumer (1969)
deram ao interacionismo simbólico, outros pesquisadores da Escola de Chicago já realizavam
estudos com foco na interação social e no significado, como William I. Thomas e seu
colaborador Florian Znaniecki. Ambos apresentaram, na segunda década do século XX, o
conceito de valor social que serviu de fundamento para o desenvolvimento de nossa proposta.

OS VALORES SOCIAIS

Thomas e Znaniecki (1918-1920), autores da obra intitulada The Polish peasant in


Europe and America, considerada um marco na psicologia social (Bulmer, 1984; Álvaro &
Garrido, 2017), no capítulo de abertura, chamado “Nota Metodológica”, apresentam o
conceito de valor social, definido como “qualquer dado que tenha um conteúdo empírico
acessível para os membros de um grupo social, e um significado com respeito ao que é ou
possa ser objeto de atividade” (Thomas & Znaniecki, 2006, p. 110, tradução nossa).
Com o intuito de tornar o conceito de valor social mais claro, Thomas e Znaniecki
(2006) exemplificam que

[...] um alimento, um instrumento, uma moeda, uma poesia, uma universidade, um mito e uma
teoria científica são todos valores [sociais]. Todos e cada um têm um conteúdo, sensorial nos casos

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do alimento, do instrumento e da moeda; parcialmente sensorial e parcialmente imaginário no caso


da poesia – cujo conteúdo está formado não só pelas palavras escritas e faladas, mas também pelas
imagens que evocam – e no caso da universidade, cujo conteúdo é todo o complexo de homens,
edifícios, acessórios materiais e imagens que representam sua atividade; ou, por fim pode estar
formado exclusivamente de imagens, como no caso de uma personalidade mítica ou uma teoria
científica (Thomas & Znaniecki, 2006, p. 110, tradução nossa).

Com base nos exemplos, um valor social pode assumir a forma de algo concreto ou
remeter-se a algo de natureza abstrata, pois “até mesmo uma ‘ideia’(...) pode ser comunicada
a outros” (Thomas & Znaniecki, 2006, p. 116, tradução nossa). Para Thomas e Znaniecki
(2006), os significados desses valores se tornam expressos quando podem ser referenciados às
suas funções ou finalidades. O significado

do alimento é sua referência ao seu consumo final; o de um instrumento, sua referência ao trabalho
para o qual foi projetado; o de uma moeda, às possibilidades de compra e venda ou os prazeres de
gastos que envolve; o da poesia, às reações sentimentais e intelectuais que ela desperta; o da
universidade, às atividades sociais que realiza; o da personalidade mítica, ao culto de que é objeto
(...); o da teoria científica, às possibilidades de controle da experiência por ideia ou ação que ela
permite (Thomas & Znaniecki, 2006 p. 111, tradução nossa).

O valor social é assim oposto ao valor natural, “que tem um conteúdo, mas, como uma
parte da natureza, não tem significado para a atividade humana, é tratado como “sem valor”;
somente quando o natural assume um significado, torna-se um valor social” (Thomas &
Znaniecki, 2006, p. 111, tradução nossa), pois passou a ter funções ou finalidades para as
pessoas.
Apesar do valor social ser fruto de interação social, Thomas e Znaniecki (2006)
assinalam que “[...] quando um valor social atua sobre os membros individuais do grupo,
produz um efeito mais ou menos diferente em cada um deles; inclusive, quando atua sobre o
mesmo indivíduo, em diferentes momentos, não o influencia de uma maneira uniforme”
(Thomas & Znaniecki, 2006, p. 126, tradução nossa). Os membros de um determinado grupo
podem reagir de uma maneira idêntica a determinados valores, por terem sido ensinados a
reagir assim devido à existência de regras sociais, mas uma mesma ação em diferentes
condições sociais produz resultados diferentes (Thomas & Znaniecki, 2006). Isso porque os
resultados de uma atividade individual não dependem apenas da ação em si, mas também das
condições sociais em que a ação é realizada. Com isso, os autores acabam evidenciando a
existência de estruturas reguladoras na vida em sociedade, como no caso das instituições
analisadas por eles (e.x.: famílias, imprensa e instituições de ensino) e que os valores sociais
estão circunscritos a uma dinâmica que considera níveis micro e macrossociais, ou seja, entre
indivíduo-indivíduo e indivíduo-sociedade (Thomas & Znaniecki, 2006).
Todavia, outros autores interacionistas, mais recentemente, discutiram de forma
contundente o debate micro-macro. Nesse sentido, um conceito de valor social
contemporâneo pode ser complementado à luz do Interacionismo Simbólico Estrutural,
vertente esta amplamente impulsionada por Sheldon Stryker.

A CONTRIBUIÇÃO DA VERSÃO ESTRUTURAL AO INTERACIONISMO


SIMBÓLICO

Stryker (1980) forneceu grande contribuição ao ser um crítico dentro da perspectiva


interacionista, sobretudo à visão microssociológica de Blumer, ao sistematizar as diferentes
vertentes presentes no movimento e ao propor sua própria versão de interacionismo
simbólico, denominada de versão estrutural. Esse autor, ao longo de sua trajetória de pesquisa,

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destaca o papel das estruturas sociais no processo de interação entre as pessoas e no


estabelecimento de papéis e, por consequência, na formação de identidades, mas sem
desprezar a agência humana (Stryker, 1959, 1968, 1980, 1987, 2008).
Para Stryker (2008), a sociedade existe antes do aparecimento de novos membros.
Portanto, as instituições sociais antecedem a interação direta entre os indivíduos e a força
dessas estruturas se faz presente na regulação dessa interação. A versão estrutural toma como
ponto de partida as “estruturas sociais (...) como interações e relações padronizadas,
enfatizando a durabilidade de tais padrões, a resistência à mudança e a capacidade de se
reproduzir” (Stryker, 2008, p. 19, tradução nossa).
A sociedade é vista na versão estrutural como composta de sistemas organizados de
interações e relações de papéis, ou ainda “como mosaicos complexos de grupos, comunidades
e instituições diferenciados, atravessados por uma variedade de demarcações baseadas em
classe, idade, gênero, etnia, religião etc.” (Stryker, 2008, p. 19, tradução nossa). Stryker
(2008) considera, porém, que a vida social ocorre, em grande parte, não dentro da sociedade
como um todo, mas em redes mais restritas, muitas vezes locais. As pessoas vivem

[...] suas vidas em redes relativamente pequenas e especializadas de relações sociais através de
papéis que apoiam sua participação em tais redes. Essas pequenas redes estão aninhadas dentro de
uma hierarquia de estruturas sociais em que estruturas sociais grandes fornecem limites que afetam
a probabilidade de que os indivíduos entrem em estruturas sociais menores. (Merolla et al., 2012, p.
151, tradução nossa).

As estruturas que compõem essa hierarquia são de três de tipos: i) estruturas sociais
grandes; ii) estruturas sociais intermediárias; e iii) estruturas sociais próximas. As primeiras
dizem respeito à macro-orientação social, ou categorias sociais, como etnia, classe, gênero ou
nação. Essas estruturas são relativamente estáveis (ao longo do tempo), influenciam
comportamentos interpessoais e servem como fronteiras sociais, tendo consequências
importantes e diretas na vida individual (Merolla et al., 2012). Pois, além de servir como
limites para demarcar os conjuntos em que as pessoas se inserem (Brenner, Serpe & Stryker,
2014), impactam nas condições de desenvolvimento de suas identidades (Stryker, 1959,
1968).
Estruturas sociais intermediárias, por sua vez, são conjuntos consideráveis de pessoas
em contextos particulares e delimitadores (por exemplo, vizinhanças, escolas, associações).
Esse tipo de estrutura é considerado importante, pois os limites sociais por elas impostos
aumentam ou diminuem a probabilidade de formação de relações sociais. Assim, “as
estruturas intermediárias, como as estruturas sociais grandes, servem como importantes
fronteiras de controle na determinação de quais indivíduos têm mais ou menos acesso a quais
estruturas sociais próximas” (Merolla et al., 2012, p. 152, tradução nossa).
Já as estruturas sociais próximas são redes menores ou grupos mais imediatos às
pessoas, como famílias, equipes, departamentos dentro de estruturas corporativas ou
educacionais maiores. Esse tipo de estrutura representa os contextos nos quais as pessoas
geralmente desenvolvem suas identidades (Stryker et al. 2005; Serpe & Stryker, 2011). Na
perspectiva estrutural, os termos grupo social, rede social e estrutura social próxima são
tomados como sinônimos e qualificados como “pequenos e envolvem relacionamentos
interpessoais, ao invés de relacionamentos de organizações, instituições, sociedades totais e
assim por diante” (Merolla, et al., 2012, p. 150, tradução nossa).
Com as contribuições destacadas até aqui pelas três versões do interacionismo
simbólico, a seguir, propomos uma conceituação para valor social a partir da articulação e
integração das ideias presentes nessas versões.

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O VALOR SOCIAL À LUZ DAS VERSÕES TRADICIONAL, CONTEMPORÂNEA E


ESTRUTURAL DO INTERACIONISMO SIMBÓLICO

Thomas e Znaniecki (2006) já afirmavam que as regras de conduta constituem


“sistemas mais ou menos conectados e harmoniosos” (Thomas & Znaniecki, 2006, p. 121,
tradução nossa), mostrando que, para além da interação direta entre indivíduos, existem
relações sociais entre membros que são padronizadas e instituídas dentro de um grupo. Desse
modo, esses representantes da versão tradicional do interacionismo simbólico revelavam o
poder de estruturas sociais as quais Merolla et al. (2012) e Brenner, Serpe e Stryker (2014),
mais recentemente, classificaram em estruturas sociais grandes, estruturas sociais
intermediárias e estruturas sociais próximas.
Assim, gênero e etnia (considerados grandes estruturas) podem restringir o acesso a
determinados espaços sociais, como as universidades (consideradas estruturas intermediárias);
por sua vez, uma universidade torna mais ou menos provável que os estudantes entrem em
relações e interações sociais (estruturas próximas) que podem levá-los, por exemplo, a buscar
ou não a possibilidade de uma determinada ocupação na sociedade (Merolla et al., 2012).
No interacionismo simbólico estrutural está clara a importância que as estruturas
sociais têm na regulação das relações sociais e na ação individual. Para os interacionistas
estruturais a vida social é construída, aberta à reconstrução e à mudança social, todavia
delimitada por “características objetivas do mundo vivido, construções anteriores, pressões
baseadas em normas (...) e hábitos” (Serpe & Stryker, 2011, p. 232, tradução nossa). Nesse
sentido, muitas interações entre as pessoas apenas reproduzem estruturas existentes, assim a
ação humana nem sempre resulta necessariamente em mudança de situações ou
reconfigurações estruturais (Serpe & Stryker, 2011).
Ao identificarem a existência de três tipos de estruturas sociais (estruturas grandes,
intermediárias e próximas), Merolla et al. (2012) apontam para uma relação macro-micro que
fornece o contexto social em que ocorre a agência humana. O grupo social presente na
definição de valor social de Thomas e Znaniecki (2006) pode ser compreendido como uma
estrutura social próxima, pois são “redes (...) pequenas e envolvem relacionamentos
interpessoais” (Merolla, et al., 2012, p. 150, tradução nossa), que atribuem significados às
coisas. Todas as coisas, concretas e abstratas, que possuem significado para um determinado
grupo são consideradas valor social (Thomas & Znaniecki, 2006). Por sua vez, os membros
de um grupo social, ou estrutura próxima, podem agir em face daquilo que reconhecem como
valor (Thomas & Znaniecki, 2006).
Com base no exposto e discutido até aqui, chegamos à conceituação de valor social
como qualquer dado com conteúdo empírico acessível (Thomas & Znaniecki, 2006),
significado atribuído (Mead, 1967; Blumer, 1969; Thomas; Znaniecki, 2006) e passível de
atividade (Thomas & Znaniecki, 2006) por agentes situados em estruturas sociais
próximas permeadas por estruturas sociais intermediárias e grandes (Merolla et al.,
2012; Brenner, Serpe & Stryker, 2014).

O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE VALORES SOCIAIS

A definição de valor social, a partir das três vertentes interacionistas, apesar de indicar
onde se formam os valores sociais (nas estruturas sociais), não nos conta como tal valor é
reproduzido, mantido ou abandonado e as ressignificações que ocorrem nesse processo.
Todavia, é possível propormos, a partir dos aspectos teóricos já discutidos como esse processo
se dá. Para isso, relembramos as principais premissas interacionistas simbólicas relativas à

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agência humana, ao significado, às estruturas sociais e aos papéis sociais, que se encontram
no Quadro 1.

Quadro 1 – Premissas interacionistas simbólicas que sustentam o delineamento do processo


de construção de valores sociais

A ação humana é a causa de uma mudança social


(Thomas & Znaniecki, 2006).
Agência
As pessoas agem em direção às coisas que possuem
significado (Thomas & Znaniecki, 2006; Mead,
1962; Blumer, 1969).
O significado das coisas surge por meio de interação
social simbólica (Mead, 1962; Blumer, 1969).

Os significados são produtos sociais, ou seja,


criações elaboradas em e através das atividades
humanas em seu processo interativo e auto-interativo
(Blumer, 1969).

Quando as pessoas se relacionam diretamente umas


com as outras, a partir da linguagem e da capacidade
do ser humano de antecipar-se às respostas dos outros
Significado (role-taking) (Mead, 1962; Stryker, 1980),
interpretando e compartilhando significado, ocorre a
interação simbólica (Mead, 1962; Blumer, 1969).

Os significados surgem como consequência da


interação social e podem ser manipulados,
ressignificados e mesmo abandonados (Blumer,
1969).
As estruturas sociais antecedem as pessoas (Stryker,
1968, 1980, 2008; Merolla et al., 2012; Brenner,
Serpe & Stryker, 2014).

As pessoas estão situadas em determinadas estruturas


sociais que formam uma sociedade e contextos
delimitadores da ação humana (Stryker, 1980, 2008;
Merolla et al., 2012; Brenner, Serpe & Stryker,
2014).

Estruturas sociais são interações e relações sociais


padronizadas resistentes à mudança e que tendem a
Estruturas Sociais se reproduzir (Stryker, 1980, 2008).

O pertencimento de uma pessoa a determinadas


estruturas próximas é influenciado pelas estruturas
superiores (Merolla et al., 2012; Brenner, Serpe &
Stryker, 2014).

Estruturas superiores (grandes ou intermediárias)


podem impactar na interação, formação, manutenção
ou dissolução de grupos, no entanto, a interação,
formação, manutenção e dissolução de grupos
impactam em estruturas maiores (Stryker, 1980).

São nas estruturas sociais próximas que se encontram


os grupos sociais (Merolla et al., 2012; Brenner,

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Serpe & Stryker, 2014), onde as pessoas se


Estruturas Sociais relacionam diretamente umas com as outras, por
meio de interação simbólica (Mead, 1962; Blumer,
1969).
Os membros de estruturas próximas possuem
posições e papéis dentro de cada estrutura próxima
onde mantém relações sociais (Stryker, 1980, 2008).

Papéis Sociais Os papéis são restringidos pela estrutura


intermediária à qual tais estruturas próximas
pertencem e pelas estruturas grandes que
“atravessam” as pessoas nas estruturas próximas
(Stryker, 1980, 2008; Merolla et al., 2012; Brenner,
Serpe & Stryker, 2014).

Fonte: elaborado pelas autoras

Com essas afirmações em mente pudemos delinear o processo de construção de


valores sociais representado pelo esquema que se encontra na figura 1.

Figura 1 – O processo de construção de valores sociais

Fonte: elaborada pelas autoras

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Defendemos por meio de nosso modelo e as proposições que o descrevem que é na


dinâmica entre as diferentes estruturas e agência que reside as possibilidades de construção
social dos valores.

1. São as pessoas, localizadas em grupos sociais (estruturas próximas) pertencentes a


estruturas maiores (Merolla et al., 2012), quem estabelecem por interação simbólica
significados a diferentes “algos”, concretos e abstratos (Mead, 1962; Blumer, 1969) à
medida que encontram finalidade para esses “algos”, que se tornam valores sociais
para tais grupos.

2. As estruturas sociais grandes impactam no acesso que as pessoas terão a determinadas


organizações, grupos sociais, bem como na formação de suas identidades (Merolla et
al., 2012; Brenner, Serpe & Stryker, 2014), o que poderá aumentar/restringir as
possibilidades de tomarem contato com espaços de atribuição e compartilhamento de
significados e, portanto, com determinados valores sociais.

3. As estruturas sociais intermediárias, por sua vez, poderão, por meio de seus
representantes (em papéis sociais nessas estruturas), disseminar os significados
daquilo que lhes faça sentido, levando novos membros de suas estruturas sociais
próximas a agirem em face de valores sociais já estabelecidos e reproduzidos por seus
representantes.

4. No entanto, como as pessoas pertencem a diferentes grupos sociais (Stryker, 1968;


Brenner, Serpe & Stryker, 2014), elas podem agir, ao longo do tempo, de formas
semelhantes ou diferentes, mesmo opostas face a um dado valor social (Thomas &
Znaniecki, 2006), pois as constantes interações entre as pessoas dos grupos sociais e a
capacidade de autorreflexão a elas inerentes (Mead, 1962; Blumer, 1969) podem levar
a (re)interpretações das ações tomadas, ressignificando (Blumer, 1969) os valores
sociais.

5. Assim, os membros de estruturas próximas tanto reproduzem valores sociais pré-


determinados por estruturas hierarquicamente superiores que os circundam, quanto
podem ser atores agentes de suas próprias ações e modificar os significados de tais
valores, trazendo consequências diretas para o fortalecimento ou enfraquecimento dos
valores sociais, inclusive em estruturas superiores.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Valor social é um conceito que merece ser revisitado porque discute o processo de
valorização de coisas – concretas e abstratas, na sociedade e aponta o crédito desse
movimento às interações sociais, mostrando nossa responsabilidade nesse processo. Um valor
social é algo significado por pessoas e por elas modificado, tanto em função das interações
sociais que vivenciam nas redes de relações próximas das quais fazem parte, quanto pela
interação com agentes sociais (King, Felin & Whetten, 2009) que representam estruturas
sociais mais complexas, as quais podem restringir ações ou ser modificadas por agentes de
estruturas próximas (Merolla et al., 2012).
Entendemos que trazer à luz processos sociais torna explícito o que está implícito,
possibilitando a compreensão de situações que parecem surgir repentinamente (como a
pandemia), evidenciar manipulações e jogos de poder, mergulhando na complexidade da

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realidade social e assim clarear como determinados “algos” se tornam e/ou deixam de ser
importantes nas sociedades contemporâneas.
Embora não possamos afirmar que exista um modelo teórico único para o processo de
construção de valores sociais que se aplique a todos os valores desse tipo podemos tecer
algumas reflexões em direção à relevância de nossa proposta, que convoca a olharmos para a
reprodução, manutenção ou abandono dos valores sociais e suas ressignificações.
Apesar de Thomas & Znaniceki (1927, 2006) terem feito uma diferenciação entre os
valores sociais, classificando-os em valores abstratos e concretos, esses autores não indicaram
qual o processo de construção que está por trás e as implicações dessas diferenças para a vida
social. No entanto, o processo de construção social de valores sociais concretos, a exemplo do
valor social “alimento”, citado pelos autores, que é material e cuja função social é facilmente
percebida por aqueles que o utilizam, nos parece menos complexo de se tornar evidente. No
caso dos valores materiais, encontrar uma finalidade e, portanto, atribuir significado, pode ser
cognitivamente mais fácil para as pessoas em grupos, pois a funcionalidade pode ser
‘demonstrada’, percebida de forma mais imediata.
Já para algo conceitual, esse processo requer capacidade de abstração e não
necessariamente é evidente, como no caso dos conceitos de sustentabilidade, democracia, ou
ciência, tão debatidos na atualidade. Tomando o primeiro deles, observamos a existência de
um jogo de forças entre diversos atores sociais (individuais e coletivos). Representantes
políticos de nações como Trump e Bolsonaro, em seus papéis sociais, se posicionam na
contramão dos esforços e acordos realizados ao longo do tempo a favor da agenda
climática como fizeram outras organizações (ex.: Greenpeace), ou grupos
(ex.: ciberativistas) entre outras estruturas. Esses governantes, ao mostrarem que as questões
ambientais não foram prioridade em seus governos (Ahrens, 2017; Após desistência..., 2018),
agiram contra a preservação dos recursos naturais, e acabaram por contribuir para
um macroproblema, senão o maior dos grandes desafios da humanidade, a mudança climática,
que ameaça uma possível interrupção dos sistemas humano e/ou natural (Dovers,1997).
No caso da sustentabilidade, podemos destacar ainda que a perda de poder de algumas
vozes contribui para o enfraquecimento desse valor, como no caso da ONU, importante
estrutura social que confere legitimidade ao esforço para o desenvolvimento da capacidade de
preservar os recursos naturais, mas que tem sido enfraquecida, seja pela falta de apoio de
importantes chefes de estados em relação à agenda climática (McGrath, 2017; Watts,
2018; US retreat…, 2019), ou mesmo pela perda de confiança no sistema da ONU para
resolver conflitos diplomáticos e armamentistas (Saleh, 2019).
Em relação ao valor social ciência, construído ao longo de séculos, temos notado, em
pleno período pandêmico, um negacionismo sem precedentes. Utilizando-se dos meios
midiáticos, governantes do Brasil e de outros lugares no mundo plantam dúvidas no
imaginário coletivo acerca dos consensos científicos, tornando os debates sobre resultados de
pesquisas uma questão de opinião guiada por uma polarização política (Pivaro & Júnior,
2020). Por outro lado, é preocupante a perda de credibilidade da ciência entre os próprios
cientistas, quando, sob os mais diferentes interesses e escusas, membros dessa comunidade
apresentam condutas antiéticas, a exemplo da atribuição fraudulenta de autoria de artigos,
fabricação ou falsificação de dados e mesmo a manipulação de resultados para obter
conclusões mais impactantes (Affonso, 2021a, 2021b).
Ainda podemos pensar que mesmo valores sociais concretos, como as vacinas, acabam
correndo o risco de serem abandonados, em função de sua conexão com outros valores
abstratos como o de ciência, levantando a possibilidade de relações de influência no processo
de (des)construção de valores sociais.
O próximo passo, portanto, será colocar o modelo teórico proposto à prova por meio
de pesquisas empíricas como se faz com qualquer outra teoria. As discussões e reflexões

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realizadas neste ensaio são um primeiro esforço em direção à compreensão dos processos de
construção de valores sociais, visando a contribuir com o campo dos estudos sobre valores,
dialogando mais especificamente com a vertente sociológica da psicologia social e com os
estudos organizacionais. Reiteramos a importância de (1) olhar para conceitos por vezes
elaborados há mais de um século, como o caso de valor social, cujos autores, talvez por
estarem à frente de seu tempo, foram esquecidos apesar da criatividade de suas ideias; e (2)
integrar diversas teorias como um caminho teórico promissor, como fizemos ao considerar as
três versões existentes dentro da tradição interacionista simbólica, possibilitando-nos propor
tanto uma definição contemporânea para o conceito de valor social, quanto encontrar nessas
teorias pistas para compreender como tal valor surge, é ressignificado e até abandonado por
grupos e sociedades.
Em termos da prática da gestão, explicitar a dinâmica por trás da construção e
reconstrução de significados sobre algo que é valorizado pelos grupos sociais, pode
proporcionar às organizações reflexões sobre o peso de suas decisões a respeito de quais
produtos/serviços ofertar, quais formas de interações e relações sociais privilegiar na
(des)construção de valores e, portanto, como querem contribuir para a sociedade em que se
inserem e sobre a qual têm responsabilidade.

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