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Eder Malta
(PPGS/UFS)
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1. Introdução
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Dentre algumas produções com enfoque sociológico destaca-se a coletânea espanhola Sopa de Wuhan
(Agamben et al., 2020) de ensaios críticos sobre a pandemia e o capitalismo publicados em jornais entre
fevereiro e março de 2020, contando com destacados acadêmicos como Giorgio Agamben, Slavoj Zizek,
Judith Butler, Alain Badiou, David Harvey, Byung-Chul Han entre outros. No Brasil, a editora Terra sem
Amos publicou alguns dos textos presentes na coletânea espanhola, em “Coronavírus e a luta de classes”
(Davis, et al. 2020). Dado o período de publicação e o próprio enfoque de seus autores, não há reflexões
sobre as consequências da pandemia na vida urbana de maneira mais específica. Para um enfoque crítico
mais abrangente sobre a produção do “norte global”, ver Rui et al. (2021).
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Para o recorte deste paper, não utilizamos o dossiê “Pandemia da Covid-19”, publicado na Revista
Brasileira de Sociologia (v. 9, n. 21, 2021) por se tratar de análises mais gerais, embora ele faça parte de
nossos estudos. Além disso, corremos o risco de ter excluído muitos outros periódicos e produções
relevantes, bem como artigos dos periódicos analisados. Enfatizamos, porém, nossa pesquisa visa os
questionamentos sobre as cidades, as práticas sociais, as condições de vida e outros aspectos relacionados à
vida urbana.
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possibilitaria combinar as estruturas sociais ao nível das ações dos indivíduos e da vida
cotidiana, além da relação entre as variáveis de análise – o econômico, o político, o cultural
etc.; entre os níveis percepção do real – o sistêmico e o estratégico.
Além disso, o conceito deve levar em conta “a hierarquia das redes de poder que
estabelecem as articulações entre as diferentes ‘esferas’ do social” (Guerra, 1993, p. 64).
A todas essas dimensões se somam as contradições estruturais e o conjunto de práticas que
são unificadas pelos indivíduos ou que os unificam em torno de uma prática cultural, o que
acaba por colocar o estudo dos modos de vida perante um dilema entre vida cotidiana e os
modos de vida.
De acordo com Braga, Fiúza e Remoaldo (2017), seguindo os apontamentos de
Guerra (1993), as pesquisas sobre os modos de vida mais recentes enfocam dois aspectos
principais: “Por um lado, à análise da relação entre as diferentes práticas cotidianas,
trabalho, vida familiar, consumo, lazer e etc. e, por outro lado, às relações que o conjunto
dessas práticas cotidianas estabelece com as relações sociais mais gerais” (Braga, Fiúza e
Remoaldo, 2017, p. 372). Nesse sentido, o estudo do grau de consciência dos atores sobre
a condução dos seus destinos individuais ou coletivos e a compreensão dos níveis de
racionalidade e irracionalidade presente nas práticas tornam-se necessários aos estudos do
cotidiano urbano. Tal concepção já fazia sentido para Georg Simmel (2006) ao falar sobre
a diferenciação dos modos de vida, a qual tem início na autonomização dos conteúdos
(códigos culturais, signos, linguagem etc.) e ocorre com base na “interpretação de
realidades” dos indivíduos (ou dos grupos sociais).
Partindo desses conceitos, torna-se imprescindível compreender a recomposição
das cidades com base em informações do seu próprio cotidiano desde o início da crise
sanitária. Esse período de fim das restrições contra a Covid-19 poderá apontar importantes
indícios sobre as novas interações urbanas e as relações de convivência, sociabilidade e de
conflitualidades marcada pela intensa fragmentação social e política do Brasil nos últimos
anos desde as eleições de 2013. Poderá apontar também para o que estamos chamando de
processo de recomposição dos espaços públicos e dos modos de vida urbanos, ou seja da.
Nos estudos antropológicos, Toledo e Souza Junior (2021) chamam a atenção para
o lugar da Antropologia Urbana no sentido de que precisa tanto reavaliar suas
metodologias etnográficas para pesquisar as futuras crises e se “imunizar” frente ao anti-
intelectualismo e anticientificista que se fez nas ciências em geral dado um contexto
político e pandêmico marcado por controvérsias e desinformação nos primeiros meses de
2020. Para eles, cabe às Ciências Sociais reivindicarem alguma parcela de colaboração a
essa “espécie de sanitarismo epistemológico na busca pela ‘cura’ do novo coronavírus”
(Toledo e Souza Junior, 2020, p.55).
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Segundo Rui et al. (2021), em 2020, a Organização Pan-Americana da Saúde junto à OMS classificou esse
contexto de infodemia, caracterizada pela velocidade do surgimento e compartilhamento das novas
informações e sua contraproducente necessidade, pois revelou-se “no sentido contrário do aprofundamento
de um debate crítico, provocando mais ansiedade” (2021, p. 19).
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noções de casa e lar, o sentido da própria rotina entre atividades físicas, o trabalho e a
exaustão do modo de vida urbano moderno. As “cidades”, em geral, vivenciaram essa
mesma estranheza.
Neste primeiro momento, a impressão que nos dá é que tal fenômeno impôs uma
condição de indeterminação à vida urbana contemporânea, mas a certeza de que o espaço
privado foi implodido pelo espaço público (Fortuna, 2020). Não foi à toa que precisamos
nos redescobrir e reinventar a própria temporalidade e a espacialidade da casa, do trabalho,
dos locais de consumo, de lazer, de cuidado com a saúde, da educação e até mesmo dos
encontros virtuais, o que inclui o acesso acelerado aos chats, chamadas de vídeos e ao
compartilhamento de mídias, informações e desinformações sobre o vírus, prevenção e
higienização.
Outros importantes aspectos foram identificados como o que G. Rocha (2021)
chama de coautoria da “casa urbana”, na qual seus moradores, de diversas classes sociais,
inscreveram práticas urbanas no âmbito da casa durante a quarentena que vão do ócio,
lazer, produções diversas e o trabalho. Diz a autora que sendo a casa o principal espaço
cotidiano a se explorar nos primeiros meses de pandemia, de maneira mais errante ou mais
atenta, a relação mecânica do morador com o seu imóvel tomou forma de usos similares
aos de elementos dos espaços públicos urbanos.
“Ficar em casa” também contribuiu para transformações de usos inerentes aos
espaços públicos das políticas culturais e das práticas de consumo nas áreas das artes,
museus, patrimônio histórico, mercado musical, audiovisual e editorial, além do ativismo
urbano foram fortemente mediadas pelas tecnologias digitais. Muitas dessas questões
foram tratadas por Néstor G. Canclini (2021) e George Yúdice (2021) com o objetivo de
nos fazer refletir os campos da arte e da cultura num cenário futuro para os seus
profissionais e públicos cativos.
Canclini argumenta que a pandemia acelerou a reconfiguração dos mercados
culturais, dos vínculos entre criadores, distribuidores e públicos que precisaram se
recompor para manter as atividades à custa de quebras contratuais, demissões e adaptações
online4. Neste período de acelerada concorrência com a internet, o streaming e as mídias
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Ao mesmo tempo o autor defende que conforme suas pesquisas na Cidade do México, a pandemia acelerou
também a “quebra” do discurso acadêmico e midiático do fim da cultura escrita, da televisão, da telefonia
fixa dado a flexibilidade de usos e consumo dos bens e dispositivos por parte de jovens e adultos confinados,
pois “tanto a cultura escrita quanto a presencial são complementares ao que se faz on-line” (Canclini, 2021,
p. 153).
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digitais o público das artes e cultura tornou-se mais itinerante e mais promíscuo às
investidas da indústria digital. Segundo ele, “nas disputas entre cultura escrita, midiática e
digital, a pandemia tornou as tendências dos anos anteriores ainda mais incertas e menos
universalizantes” (Canclini, 2021, p. 151) e isso não se deve às substituições parciais ou
total de bens de consumo (livros por PDFs, DVDs por downloads etc.), pagos ou gratuitos.
Canclini chama a atenção que a reconfiguração dessas áreas no entremeio da crise
se deve à necessidade de oferecer aos leitores-espectadores-internautas oportunidades
plurais de escolha através de um tratamento algorítmico que conferem privilégios às
plataformas de consumo online visando as possibilidades futuras de ofertas de serviços
diferenciados. Isso se reflete ainda no ativismo urbano (Rocha, 2021) de arte e cultura que
sem poder intervir livremente nos espaços foi preciso promover as intervenções e ações
urbanas ao vivo pela internet, promovendo espaços culturais, microintervenções urbanas
com shows e manifestações diversas, sustentando-se através de vaquinhas online pagas via
QRCode e Pix.
Nessa esteira, G. Yúdice (2021) defende que é necessária uma nova
institucionalidade para enfrentar a crise nos setores de arte e cultura que tire proveito da
diversidade de saberes, do protagonismo das indústrias culturais e criativas na criação de
confiança, laços de afetos, relações horizontais entre os mediadores culturais e
comunidades de bairros para se gerar oportunidades num cenário pós-pandêmico que leve,
por exemplo, “os jovens a desenvolver redes, explorando as conexões entre o território
local e a cidade” (Yúdice, 2021, p. 183).
Estes autores provocam-nos refletir sobre o consumo cultural ao considerar o
interativismo como ponte para o futuro das políticas de arte e cultura, bem como do próprio
espaço público. No entanto, ao olharmos para a realidade das cidades brasileiras – e
certamente do mundo de cidades (Fortuna, 2020) em situações excepcionais – é preciso
olhar para temas que alcem os efeitos da urbanização capitalista amplificados pela
pandemia sobre as condições da saúde, de vida e bem-estar urbano, bem como as
desigualdades sociais e econômicas.
febre amarela” (Schwarcz, 2020, p. 7). As práticas sanitaristas iniciadas em 1904 por
Oswaldo Cruz buscaram melhorar esta imagem do país ao instituir a obrigatoriedade da
vacinação contra a varíola. A estratégia de contenção das epidemias considerada autoritária
e invasiva contra a população resistentes à vacinação – o que ocorreu paralelamente às
obras de modernização do Rio de Janeiro que ficaram conhecidas como “bota-abaixo” para
a população carioca mais pobre – gerou tensões sociais e políticas que eclodiram na
Revolta da Vacina sob o governo de Rodrigues Alves.
Há quase 100 anos, na segunda gestão de Rodrigues Alves em 1918, o surto da
Gripe Espanhola chegou ao Brasil de forma semelhante à Covid-19: do exterior para o
território nacional com rápido contágio nas periferias urbanas e desinformação acerca da
letalidade do vírus, porém com ações controversas do governo de Jair Bolsonaro entre
discursos, medidas e a gestão da pandemia. Outra diferença é que enquanto a Gripe
Espanhola se espalhava através dos navios atracados nos portos comerciais marítimos, o
novo coronavírus chega através da principal referência das desigualdades
socioeconômicas, culturais e da mobilidade: as elites nacionais que voltaram contaminadas
do exterior. Para Schwarcz,
A condição urbana relatada por Schwarcz deve ser analisada diante do agravamento
drástico das desigualdades e dos problemas estruturais que o planejamento convencional
nas cidades brasileiras e latino-americanas tendem a obscurecer em favor do capital (Cobos
e López, 2021; Dominguez e Klink, 2021; e Flexor, Silva e Rodrigues, 2021). Isto foi
detectado em escala global, mas a forma com cada governo e a população governada iria
se comportar diante do novo cenário tornou-se uma das principais indagações.
Como explica AbdouMaliq Simone (2022), há uma preocupação quando se trata de
detecção de tendências e padrões e de rupturas dos sistemas urbanos. As condições atuais
das cidades passam a serem lidas em torno da detecção de tendências e padrões de crises
e oportunidades, mas também sobre como são detectadas a cadeia de informações que
recebem, como se veem e como se sentem parte ou separadas das representações
particulares da realidade. Segundo ele, nas ciências sociais, há quem tenha detectado a
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pandemia como uma crise definitiva e prenúncio de um novo mundo e sistema econômico,
ou mesmo de mudança de época e não mais uma época de mudanças (Mignolo, 2020), ou
aqueles que observam atentamente à forma mais cíclica das contradições do capitalismo
em suas próprias vidas, além do que detectam o recomeço do jogo de poder entre a justiça
social e a desigualdade que anulam praticamente todos os ativismos e esforços de décadas
ou de uma geração (Simone, 2022).
Para Simone (2022), ficou clara a crença dos gestores e usuários de tecnologias na
conversão inabalável do espaço urbano em nós logísticos e novas cidades completamente
inteligentes, smartificadas, a desempenhar um papel cada vez mais importante em nossas
vidas em nossa capacidade de se deslocar, circular, restabelecer padrões familiares de
trabalho e sociabilidade presencialmente. Mas isso é algo que depende das capacidades
dos gestores, da mídia e cientistas de detecção da presença de vírus, de trajetórias de
transmissão e picos de contaminação e morte.
Nesse contexto, as metrópoles latino-americanas podem ser analisadas a partir de
seus traços comuns: as regularidades estruturais, históricas e a fragmentação urbana. A
campanha antivírus concentrou-se em três slogans (e hashtags): o “fique em casa!, forma
voluntária ou repressivamente forçada de quarentena; não saia se não precisar!; e mantenha
uma distância saudável, tanto em casa como na rua!” (Cobos e López, 2021, p. 885). De
certa forma, esses slogans nos ajudam a identificar o comportamento e os níveis de
compreensão das pessoas e grupos sociais – aquelas em quarentena total; as que têm que
sair, mas estão vivendo em estado de medo, tensões constantes ou estão anestesiadas do
cotidiano; e o grupo negacionista (Rocha, 2021) – diante do controle social exercido pelas
autoridades sanitárias, mídia, especialistas e a sociedade civil.
Para Cobos e López (2021), adotar tal campanha não necessariamente protegeria a
população mais desassistida sem moradia, água, esgoto, excluídos no mercado de trabalho,
educacional e digital. Em metrópoles como São Paulo e Cidade do México, com mais de
20 milhões de habitantes manter a “distância saudável” tem se mostrado de difícil
aplicação, por um lado, dado a informalidade do trabalho e da moradia urbana, além dos
que vivem nas ruas. Por outro lado, dado a existências de áreas de grande fluxo de pessoas
como os centros históricos e seus espaços públicos, serviços comerciais como feiras,
mercados públicos formais e informais, transporte coletivo etc. Por isso, as grandes
concentrações populacionais tornam-se muito vulneráveis à transmissão comunitária.
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Ambos elaborados por pesquisadores do INCT Observatório das Metrópoles, com dados do Censo
Demográfico de 2010.
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estruturais das favelas na crise sanitária quanto no ordenamento dos espaços urbanos. Eles
resultam das redes de apoio6 de parte dos moradores de favelas dessas regiões que
adotaram estratégias territoriais e em redes sociais mobilizando iniciativas e medidas
coletivas para amenizar as vulnerabilidades diante da nova crise sanitária, expondo a
visibilidade de suas carências materiais, mas também suas práticas populares de
sobrevivências. Essas redes organizaram painéis comunitários7, articulação com
profissionais de saúde e o intercâmbio social e político entre favelas que “envolve uma
intensa troca de saberes, tecnologias, experiências e redes de contatos” (Menezes,
Magalhães e Silva, 2021, p. 84). Além de expor dilemas antigos do planejamento urbano
convencional, essas experiências periféricas expuseram nas redes os
G. Rocha (2021) alega com base no conceito de coautoria urbana que a apropriação
da cidade “pode ser feita tanto pela forma na qual o espaço foi pensado originalmente
quanto subvertida, e esta subversão pode ser tomada pelos detentores de poder como algo
negativo, o que gera os citados conflitos” (Rocha, 2021, p. 1019). O conceito de coautoria
defende a existência do planejamento da cidade de forma compartilhada entre sujeitos e
instituições detentoras de poder e os cidadãos que dela se apropriam, os coautores urbanos:
cidadãos formais, marginalizados e ativistas urbanos.
A vida nas cidades e o debate em torno dos efeitos da Covid-19 devem ser
explorados através de teorias, temas e metodologias “que colocam em relevo
conhecimentos, práticas e vidas situadas” (Segata et al., 2021, p. 9). Não à toa, o enfoque
antropológico demonstra como a ausência do poder estatal nas práticas sanitaristas nos
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Sobre as ações coletivas contra a vulnerabilidade e defesa da vida, o trabalho de J. Santos (2021) analisou
as redes de organizações e os estilos de ativismo envolvidos nas mobilizações pela defesa da vida em
contexto de pandemia realizadas entre os meses de março e julho de 2020 em Sergipe. O autor catalogou e
criou um repositório de ações coletivas a partir de dados coletados em redes sociais como o Instagram e o
Facebook, além de recortes de jornais. Os resultados apontam para três estilos e bases organizativas: os
grupos de voluntariado e o ativismo filantrópico; os sindicatos e o ativismo trabalhista; e as organizações
comunitárias e o ativismo de base, que incluiu também a participação da Universidade Federal de Sergipe
que organizou o Comitê de Prevenção e Redução de Riscos para a Covid-19, em 2020.
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Menezes, Magalhães e Silva (2021, p. 86) argumentam que os painéis comunitários podem ser lidos como
“expressão do modo como os moradores de favelas do Rio de Janeiro disputam a verdade da pandemia nesses
territórios”.
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centros urbanos atinge desde o lado sensível da vida às condições disruptivas da morte no
cotidiano urbano (Rui et al., 2021; Neves, 2021).
Segundo Rui et al. (2021), categorias conceituais como biopoder, biopolítica e
necropolítica têm sido mobilizadas de forma incontornável para se discutir como essas
populações vivenciaram estratégias de gestão estatal, a pressão de empresários e políticos
negacionistas para reabrir o funcionamento das empresas durante o confinamento8. Esses
conceitos tornaram-se “chaves de entendimento [...] para revelar a extensão dos efeitos do
neoliberalismo sobre o tecido social tanto de países que já experimentaram um Estado de
bem-estar social quanto daqueles que nunca conseguiram chegar a ele” (Rui et al., 2021,
p. 26). Ou seja, discute-se as condições de pobreza, saúde e envelhecimento, o racismo
estrutural e ambiental, as desigualdades de gênero e as exclusões sociais acentuadas na
pandemia.
Percebe-se que os autores aqui citados reconhecem as graves desigualdades,
demonstram como os impactos da pandemia não foi o mesmo para uma grande parcela da
população brasileira e mundial, sendo ainda mais sofrido para as comunidades populares
e faveladas dependentes dos espaços físicos para suas atividades laborais formais ou
informais. Porém, não excluem de forma generalizada a possibilidade de acesso à internet
de muitos moradores de favelas, por exemplo. Tanto que as redes de apoio mencionadas
são organizadas também pelos meios virtuais, o que possibilitou a divulgação das ações
“subversivas”. Há outros como Yúdice (2021) que propõe uma nova institucionalidade
para enfrentar a crise nos setores de arte e cultura, o que inclui os moradores de tais espaços
que puderam também conhecer (e sonhar), em muito menor escala, as mudanças nos
setores de tecnologias, informação e do consumo cultural.
No final da década de 1990, R. Sennett (2015) teceu uma importante análise sobre
o “flexitempo” no mercado de trabalho norte-americano que iniciou as transformações
8
Partindo dos conceitos de biopoder, biopolítica e necropolítica, respectivamente de Michel Foucault, Paul
B. Preciado e Achille Mbembe, os autores explicam que o biopoder articula o poder dos discursos científicos
e institucionais, as práticas estatais e a criação de inimigos internos à sociedade; a biopolítica retém a noção
de política dos corpos que domina a gestão política da vida e da morte das populações; e a necropolítica é
uma forma de exercício do poder que se baseia na negação radical da igualdade de certas populações e da
instrumentalização e da eliminação sistemática dos mais vulneráveis (Rui et al., 2021).
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5. Considerações finais
6. Referências bibliográficas.
CANCLINI, N. G. O Mundo Inteiro como Lugar Estranho. São Paulo: EDUSP, 2016.
______. Públicos Promíscuos. Revista Observatório Itaú Cultural. n. 28, São Paulo: Itaú
Cultural, 2021, p. 149-157.
21
DE LIMA PINTO, S. C.. Nem o cuidado de si, nem o cuidado do outro: o consumismo na
pandemia. EM TESE (FLORIANÓPOLIS), v. 18, p. 42-54, 2021.
______. Tem alguém aí? Sobre a Pandemia Sonora das Outras Cidades. In: LEITE, R. P.;
VIEIRA, E. C. J. (orgs.). Distopias urbanas. Aracaju, SE: Criação Editora, 2021, p. 15-
28.
MIGNOLO, W. D.. The logic of the in-visible: Decolonial reflections on the change of
epoch. Theory, Culture & Society, 37(7–8), 2020.
OLIVEIRA, T. L., et al. Para que serve a antropologia (em tempos de Covid-19)?.
Cadernos De Campo (São Paulo - 1991), 29(supl), p. 1-15, 2020.
SCHWARCZ, L. M.. e-book: Quando acaba o século XX. São Paulo: Companhia das
Letras, 2020 (e-book).
SIMONE, A.. The Surrounds: Urban Life Within and Beyond Capture. Durham and
London: Duke University Press, 2022.
ZUKIN, S. The Innovation Complex: Cities, Tech, and the New Economy. New York:
Oxford University Press, 2020.