Você está na página 1de 6

A IMPORTÂNCIA DA QUALIDADE AMBIENTAL URBANA PERCEBIDA COMO

SUBSÍDIO PARA O DESENVOLVIMENTO URBANO SUSTENTÁVEL

DUBAL, Marina Dolabella (1); PAIVA, José Eustáquio Machado (2).


(1) Estudante de Arquitetura e Urbanismo na EA UFMG, Bolsista do Programa de Aprimoramento
Discente do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da UFMG – e-mail:
nina.dubal@bol.com.br – Rua Rebelo Horta, 40 – Bairro São José – CEP: 31275-190 – Belo Horizonte
– MG – Tel: +55 31 3441-7206 / 9978-0707 - (2) Professor Assistente IV/ EAUFMG, Orientador do
Programa de Aprimoramento Discente do Departamento de Tecnologia da Arquitetura e Urbanismo da
UFMG – e-mail: jemp@brfree.com.br – Rua Paraíba, 697 – Funcionários – sala 319 – CEP 30130-140
– Belo Horizonte – MG – Tel: +55 31 3269-1823

RESUMO
Recentemente, partindo da busca global por um desenvolvimento urbano sustentável, surgiu a necessidade de se
considerar o “ser urbano”, habitante do meio ambiente urbano, não mais como um usuário desse espaço, mas sim
um agente participante e construtor da dinâmica do ambiente que habita.
A percepção ambiental, neste contexto, é de extrema importância no diagnóstico de problemas de planejamento
urbano, uma vez que a dimensão subjetiva materializada no julgamento da população, que direcionará o uso ou
não de um espaço público, pode ser um fator determinante e decisivo para o estabelecimento de critérios de
qualidade socioambiental, bem como de qualidade de vida.
Seguindo esta perspectiva, buscou-se a inserção na discussão do urbano, visando um esclarecimento qualitativo
do meio ambiente com o qual se relacionam estes “seres urbanos”. Além disso, a partir do estudo de modelos de
preferência ambientais, processos de avaliação da qualidade paisagística visual, sistemas de indicadores
intraurbanos de qualidade de vida bem como indicadores de qualidade ambiental, conclui-se que os aspectos
levantados mostram a importância de se lidar com a percepção humana, embora uma boa parte das pesquisas
nacionais voltadas para a aferição da qualidade de vida urbana não se baseia, nem parcialmente, na consideração
da percepção das pessoas no que se refere à eleição de indicadores de qualidade ambiental urbana.
Observa-se que os resultados de estudos nesta direção, baseados num melhor conhecimento dos efeitos dos fatores
ambientais sobre a saúde física e mental serão responsáveis, futuramente, por uma diminuição no nível de
empirismo dos planos relativos a áreas urbanas.
Portanto, devido à influência exercida pelo ambiente no comportamento dos “seres urbanos”, bem como a
influência desses na dinâmica das cidades, torna-se de extrema importância um estudo detalhado sobre o assunto
tratado buscando, assim, traçar caminhos para a tão almejada sustentabilidade ambiental urbana.

ABSTRACT
Recently, starting from the global search for a sustainable development, emerged the necessity of considering the
“urban human being”, inhabitant of the urban environment, as a participant agent and constructor of the dynamic
of the cities and no more as a user of this urban space.
The environmental perception, in this context, is extremely important on the diagnosis of urban planning
problems, considering that the subjective dimension which is defined by population’s judgment, that will or will
not direct the use of a public space, can be a determinant and decisive factor for the establishment of criteria of
socio environmental quality, as well as life’s quality.
Following this perspective, models of environmental preference, studies about landscape quality assessment,
systems of life’s quality evaluation and environmental quality indicators were studied. The evaluated aspects
show the importance of considering the human perception, although a significant part of the national researches
which study and gauge the urban life’s quality are not even in part based on the consideration of people’s
perception, specially about the election of urban environmental quality’s indicators.
We can observe that results of studies in this direction, based on a better understanding about the effects of
environmental factors on physical and mental health are responsible, in the future, for the decreasing of the level
of empiricism of the urban areas’ plans.

1044
Therefore, due to the influence exerted by the environment on the behavior of the “urban human beings”, as well
as their influence on the environment’s dynamic where they live, become of extreme importance a detailed study
about the subject treated, searching for outlining ways for the important urban environmental sustainability.

“A história da humanidade é, na verdade, a luta do


homem pela sua sobrevivência. E, o seu primeiro grande
desafio esteve sempre voltado à compreensão e domínio
do seu ambiente natural”.
(Heliana Comin Vargas)

A discussão sobre o urbano


Para Castells (1983), o urbano surge a partir do momento em que um sistema específico de relações sociais
conota o quadro econômico citadino. Assim, a cultura urbana se define como um feito do sistema cultural
característico da sociedade industrial capitalista. Diferentemente da antiga cidade, o urbano caracteriza-se por
uma ruptura radical com a antiga vida comunal onde os valores coletivos tinham importância fundamental para
dar lugar ao indivíduo “atomizado” sujeito a forças que não consegue decodificar de forma clara e precisa. A
partir deste ponto de vista, o urbano é colocado como realidade oposta e independente à realidade rural sendo
ambos julgados, respectivamente, como o moderno e o tradicional. Para o autor, "o que deve ficar claro é que
uma análise das formas específicas da organização do espaço nas sociedades dependentes, não pode ser o ponto
de inicial da análise (em forma tipológica), mas sua fase final, mediante a reconstituição das relações sociais que
organizam e dão conteúdo histórico preciso a distintas formas espaciais" (i.b.).
Entretanto, a dicotomia rural e urbano está sendo colocada em questão, afinal, não é possível estabelecer
atualmente uma fronteira nítida entre os espaços rural e urbano. A cidade e o campo são considerados fases
distintas de um mesmo sistema, em que ambas são interdependentes. Apesar da palavra urbano derivar de “urbe”
que significa cidade, esse tema deve ser tratado de forma mais vasta sem a delimitação de fronteiras rígidas, uma
vez que a dinamicidade urbana da atualidade invalida em pouco tempo qualquer tipo de fronteira fixa, mesmo
que conceitual.
Dentro dessa discussão Lefebvre (1969) afirma que o urbano “trata da centralidade, ou melhor ainda, da
simultaneidade, da agrupação”. Também o define como a espontaneidade criadora liberada, esta produzida não
pelo espaço nem pelo tempo, mas sim por uma forma que, nem objeto nem sujeito, se define antes de tudo pela
dialética da centralidade ou de sua negação (ex: segregação, dispersão e periferia).
Atualmente, a centralidade que no passado definia o conceito urbano é questionada tendo em vista as grandes
transformações tecnológicas que, segundo Fuksas (2001) invalidam o termo “cidade” em detrimentos dos
“grandes espaços urbanos”. “A cidade por boa parte do novecentos fo i cenário de conflitos de uma representação
dolorosa, rica de relações conhecidas e complexas, mas que perdeu sua centralidade. Essa perda é resultado dos
desencontros entre a ‘velha economia’(petróleo, automóveis, armas e indústria) a ‘nova economia’ (comunicação
e sistema de controle) e é responsável por grandes conflitos sociais, guerras etc, produtos de uma engenhosa
busca de uma nova identidade em cenários extremamente complexos e sem mediações” (i.b.). Portanto, segundo
o autor, não existirão mais as cidades como as conhecemos: lugares onde se explicitava poder e controle. Para
ele os espaços urbanos atuais refletem uma “geometria sem controle nem confins, em contínuo vir a ser” e se
assemelham a um “Magma, onde as diferenças se confundem, se confundem também as origens, havendo um
permanente estado de conflito”.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Gottdiener (1993) afirma que um termo que descreve bem os padrões
contemporâneos de desenvolvimento urbano é ‘desconcentração’, sendo este conceito definido por um aumento
absoluto de população e pela densidade de atividades sociais em áreas fora das tradicionais regiões citadinas e
dos centros populacionais.
Reafirmando essa questão colocada por Fuksas (2001) e Gottdiener (1993), Costa (2000) defende a idéia de que,
devido ao fato do urbano - sendo esse a materialização espacial da modernidade capitalista - ter se espalhado
praticamente por todo o mundo, esse campo de estudo parece ter-se estilhaçado, pois, ao generalizar-se o urbano
deixou de ser um objeto de investigação em si mesmo. Portanto, pode-se inferir que a grande dificuldade em se
definir atualmente este conceito se encontra no progressivo desaparecimento de fronteiras e limites que
anteriormente delimitavam o que se denominavam “cidades” bem como suas características específicas (relações
sociais, aspectos físicos, econômicos, políticos etc) definidoras e na maioria das vezes definidas pelo “urbano”.

1045
Baseando-se na visão do desenvolvimento sustentável, a hipótese de oposição entre o urbano e o meio ambiente
também é difícil de se aceitar. Na verdade, para Costa (2000), esses dois conceitos dinâmicos se relacionam no
que se denomina “meio ambiente urbano”, “síntese das dimensões naturais e construídas do espaço urbano com
dimensões de ambiência, associadas às práticas da vida urbana”.
Dentro deste contexto, considerando que a problemática urbana contém uma parcela ambiental, Castells (1983)
afirma que se engloba sob esse termo ambiental a relação dos indivíduos com seu meio ambiente, com suas
condições de existência cotidiana, com as possibilidades que lhes são oferecidas por um certo modo de
organização de consumo. Percebe-se, no entanto, que a partir deste ponto de vista, o "ser urbano" é considerado
como usuário do meio ambiente urbano, na medida em que usufrui de possibilidades que lhe são oferecidas.
Assim, diverge-se da perspectiva do desenvolvimento urbano sustentável seguida por Costa e base deste
trabalho.

O Urbanismo inserido na perspectiva da sustentabilidade ambiental urbana


Considerando a atual importância da busca pela sustentabilidade do ambiente urbano e inserindo-a no contexto
da estrutura e organização urbanas, é importante a consideração do Urbanismo Participativo, afinal, em nossa
atual realidade, "apenas o espaço tal como é vivido e percebido pelos habitantes constitui o verdadeiro suporte da
conduta urbanística" (Lacaze: 1993). Para Lacaze, os modos de planificação anteriores baseiam-se em sistemas
de valores abstratos que dependem quer da estética arquitetural quer da racionalidade técnica econômica. Além
desses, o urbano em questão é planejado recentemente a partir da ênfase na funcionalidade do espaço urbano,
tendo em vista a centralidade do trabalho, da produção e do consumo em detrimento do bem-estar mais coletivo
de sua população. Sendo assim, decisões que influenciam diretamente um contexto de vida particular são
tomadas por pessoas longínquas e inacessíveis, sem que se pense em pedir opinião à população inserida nesse
contexto, o que diverge totalmente da busca pela sustentabilidade do ambiente urbano. Essa racionalidade que
orienta a manutenção e a expansão do espaço urbano é instrumental, concebida a partir da lógica de
custo/benefício (minimização de custos e maximização de resultados) e caracteriza um urbanismo funcional.
Desta forma, “os recursos, bens e serviços que a cidade coloca à disposição de seus habitantes são mais em
função da acumulação do capital do que da satisfação das necessidades de seus moradores” (Castells: 1983).
Além disso, a busca por um desenvolvimento urbano sustentável é de extrema necessidade para que,
futuramente, seja possível a ultrapassagem do atual paradoxo característico das cidades, onde, ao mesmo tempo
em que se suprem as necessidades básicas do homem em relação à sua dependência direta com a natureza, o
insere em uma cadeia nova de problemas ao destruir o ambiente físico sobre o qual se sobrepôs. Para a resolução
de tal paradoxo é essencial, portanto, a busca por um “processo de transformação no qual a exploração dos
recursos, a direção dos investimentos, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se
harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro, a fim de atender às necessidades e aspirações humanas”.
(CMMAD: 1988)
Entretanto, para que ocorra esse atendimento das necessidades e aspirações humanas é essencial a participação
dos “seres urbanos” nas decisões relacionadas a seu “habitat natural”. Portanto, é necessária a consideração dos
habitantes da cidade como sujeitos-cidadãos e participantes da construção do ambiente em que vivem, uma vez
que esses vivenciam o ambiente urbano diariamente e são responsáveis diretos por sua sustentabilidade.

A importância da Qualidade Ambiental Urbana Percebida e sua diferenciação do conceito Qualidade


Ambiental Urbana
No espaço construído, a relação entre o meio ambiente e a qualidade de vida difere da situação no espaço
natural. Na meio ambiente urbano, os “seres urbanos” se inserem num espaço quase totalmente modificado,
produto e produtor de um “meio social urbano” (Sewell: 1978). Além disso, contam com um sistema de infra-
estrutura básica, sendo esse sistema uma parte fundamental do atual conceito urbano, embora a provisão destes
serviços básicos ainda seja um grave problema a ser solucionado nos países em desenvolvimento. Assim, o
ambiente urbano abrange inúmeros fatores que ultrapassam os limites do conceito de espaço natural e que,
portanto, devem ser considerados para uma manutenção ou melhoria da qualidade ambiental desse espaço.
Dentro desta discussão insere-se a questão da percepção humana, devendo esta também ser considerada na busca
da qualidade ambiental urbana. De acordo com Del Rio (1999) deve-se entender a percepção como um “processo
mental de interação do indivíduo com o meio ambiente que se dá através de mecanismo s perceptivos
propriamente ditos e, principalmente cognitivos”. Para o autor, os primeiros são dirigidos pelos estímulos
externos, captados através dos cinco sentidos, onde a visão é o que mais se destaca. Os segundos são aqueles que
compreendem a contribuição da inteligência, uma vez admitindo-se, segundo o autor, que a mente não funciona

1046
apenas a partir dos sentidos e nem recebe essas sensações passivamente; existem contribuições ativas do sujeito
ao processo perceptivo desde a motivação à decisão e conduta. “Esses mecanismos cognitivos incluem
motivações, humores, necessidades, conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas” (i.b.). Para Del
Rio, embora essas percepções sejam subjetivas para cada indivíduo, admite-se que existam recorrências comuns,
seja em relação às percepções e imagens, seja em relação às condutas possíveis. “Por isto, também se admite que
a consideração a repertórios de imagens e expectativas compartidas pela população, assim como a sua
operacionalização consciente por meio de políticas e programas urbanísticos, são fundamentais para nortear a
ação pública.” (i.b.).
Para Bechtel (1976), o “homem coletivo” está inserido numa esfera, a biosfera, a qual contém todas as possíveis
influências que possam agir sobre esse. Essa variedade de possíveis influências pode ser representada por
estímulos que aparecem no interior desta esfera, considerando que a percepção de qualquer desses estímulos
pode ser alcançada pelo indivíduo dependendo simplesmente de seu direcionamento a estes. Entretanto, para
Betchel, essa visão parece ser excessivamente simplificada, uma vez que, segundo cientistas sociais, existe uma
segunda esfera envolvendo o indivíduo, que atua como membrana semipermeável filtrando estímulos para e do
ambiente físico da biosfera. Essa que se denomina esfera social, representa todos os elementos sociais que
influenciam seletivamente a percepção, como cultura, crenças, atitudes, raça, sexo entre tantos outros.
Além disso, o autor coloca que os psicólogos ambientais nos levaram um passo à frente. De acordo com o estudo
deles, entre a biosfera e a esfera social encontra-se o ambiente construído, representado por um retângulo entre
as duas esferas. Esta proposta visa demonstrar que o homem nem sempre percebe a biosfera diretamente. Na
verdade, o “ser urbano” “não respira o ar da natureza nem vive em uma floresta” (i.b.). Seus contatos diários
com o meio ambiente se dão, em sua maioria, em áreas fechadas e sua percepção disso é bem divergente da
biosfera natural. É importante ainda destacar que este ambiente construído é percebido somente através das
“lentes” da esfera social, considerando que há duas membranas semipermeáveis, que têm grande influência sobre
quaisquer percepções no campo da qualidade ambiental. Essas, por sua vez, não somente atuam como filtros às
percepções do ambiente natural, mas também podem ser percebidas como referências de um ambiente total.
Assim, pode-se falar da qualidade do ambiente natural, da qualidade do ambiente construído bem como da
qualidade do ambiente social.
Diferentemente das questões abordadas usualmente sob o conceito de qualidade ambiental urbana, a qualidade
ambiental urbana percebida, na medida em que representa a materialização da dimensão subjetiva da população,
pode, por exemplo, envolver questões como preservação histórica, estética, paisagismo, entre tantas outras
questões que compõem o espaço urbano e que devem também ser ressaltadas para que seja buscada a qualidade
do ambiente urbano como um todo, do qual é parte indissociável este “meio social”. (Sewell: 1978)
Entretanto, é importante colocar que a noção de qualidade ambiental urbana que se tem atualmente pode vir a
divergir parcial ou totalmente da definição desta pelas pessoas que vivenciam o espaço urbano em questão. Para
Simmel (1973), essas divergências podem ser fruto do fato de que “o tipo metropolitano de homem – que,
naturalmente, existe em mil variantes individuais – desenvolve um órgão que o protege das correntes e
discrepâncias ameaçadoras de sua ambientação externa, as quais, do contrário, o desenraizariam; ele reagiria
com a cabeça, ao invés de com o coração. Nisto, uma conscientização crescente vai assumindo a prerrogativa do
psíquico. A vida metropolitana, assim, implica numa consciência elevada e numa predominância da inteligência
do homem metropolitano. A reação aos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que é menos
sensível e bastante afastado da zona mais profunda da personalidade. A intelectualidade, assim, se destina a
preservar a vida subjetiva contra o poder avassalador da vida metropolitana. E a intelectualidade se ramifica em
muitas direções e se integra com numerosos fenômenos discretos”. Além disso, Simmel afirma que os mesmos
fatores que assim redundaram na exatidão e precisão minuciosa da forma de vida metropolitana, redundaram
também em uma estrutura da mais alta impessoalidade; e promovendo, por outro lado, uma subjetividade
altamente pessoal. Como exemplo de comportamento tipicamente urbano tem-se a atitude blasé, fenômeno
psíquico resultante em primeiro lugar dos estímulos contrastantes que, em rápidas mudanças e compreensão
concentrada, são impostos aos nervos fazendo surgir, assim a incapacidade de reagir a novas sensações com a
energia apropriada. Outro fenômeno decorrente do volume excessivo de estímulos do ambiente urbano
denomina-se habituação ou adaptação e é explicado por Bell (1984). O autor explica que quando um estímulo é
constante, a resposta a este se torna tipicamente fraca com o passar do tempo, citando, como exemplo cita que
muitas pessoas que moram perto de auto-estradas a princípio têm dificuldade para dormir, mas depois de
algumas noites se tornam habituados ao ruído e quase não tem mais problemas para dormir.
Paralelamente à discussão acima, Fisher (1997) reafirma a importância da percepção ambiental quando coloca
que “não basta conhecer os dados quantitativos da estrutura sócio -econômica em que se dá tal ou qual
movimento social, para entendê-lo”. Entretanto, também afirma que, por outro lado, não basta a análise dos
projetos manifestos (instrumentais ou expressivos) com técnicas qualitativas que estudem caso a caso. “Na
verdade, é preciso entender que entre as estruturas e projetos, estão as redes sociais (...)”. Essa consideração é de

1047
extrema importância, tendo em vista que a “arquitetura urbana comunica-nos informações de várias naturezas,
expressando suas diversas características por meio de signos captáveis pelo nosso sistema dos sentidos” (ib.).
Portanto, essa dimensão subjetiva relacionada ao espaço urbano é expectativa social básica para avaliação do
comportamento dos lugares, como resposta às demandas e aspirações dos indivíduos.
Percebe-se que além de seu essencial valor para a “humanização” do meio ambiente urbano, a aferição da
Qualidade Ambiental Urbana Percebida pode ser útil para várias questões, dentre as quais Craik (1976) cita:
??Esclarecimento de objetivos da política ambiental;
??Avaliação da efetividade de programas de proteção ambiental;
??Medição dos impactos ambientais de projetos públicos e privados propostos, e
??Comunicação de tendências no que diz respeito à qualidade ambiental à esfera pública, aos
cidadãos e aos planejadores urbanos.
Assim, dentre as tradicionais metas colocadas pelo planejamento urbano devem ser valorizadas as expectativas
sociais, que possibilitam a ligação entre o meio ambiente e as pessoas que nele se encontram, em atividade
constantemente cognitiva, generalizando o que usualmente restringe-se aos sábios, pesquisadores e planejadores.
Reafirmando a importância da avaliação da qualidade ambiental percebida, Daniel (1976) coloca que o “meio
ambiente percebido” pode ser um determinante das ações e respostas humanas mais importante do que o
ambiente descrito, em termos, por suas propriedades físicas. Afinal, “o espaço urbano é apreensível a partir de
suas manifestações externas, em etapas de sucessão cognitiva onde se desenvolve um movimento de objetivação
de informações. (...) em quaisquer dessas etapas existe submissão de dados a reflexões, porque a inteligência age
sempre como totalidade sobre as informações recolhidas, sejam estas de natureza sensível ou dados
elaborados”.(Kohlsdorf: 1996).
Nestes termos, a inserção nessa discussão busca fundamentar a seguinte questão: embora o conceito de qualidade
ambiental urbana seja definido também por aspectos indispensáveis à saúde do ambiente urbano e de seus
habitantes, como qualidade do ar, do solo, da água, o nível de ruídos, por exemplo, é de essencial importância a
consideração da percepção da qualidade do ambiente urbano pelo “seres urbanos”. Assim, dentro da visão desses
“seres” como agentes participantes e construtores da dinâmica das cidades, e conseqüentemente de suas vidas,
conclui-se que é extremamente importante esta participação das pessoas na definição de conceitos que
usualmente direcionam medidas sobre o ambiente que habitam, envolvendo também a noção geral de qualidade
de vida e, simultaneamente, facilitando o alcance a um desenvolvimento urbano sustentável.

REFERÊNCAIS BIBLIOGRÁFICAS
BELL, Paul A.; FISHER, Jeffrey D.; BAUM & Andrew; GREENE, Thomas C. Environmental Psychology.
Forth Worth: Harcourt Brace Javanocich, 1990.
BETCHEL, Robert B. The perception of environmental quality, some new wineskins of old wine. In: Perceiving
Environmental Quality: Research and Applications. Nova Iorque: Plenum Press, 1976.
CASTELLS, Manoel. A questão urbana. São Paulo: Paz e Terra, 1983.
CDMMAD. Nosso futuro comum. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1988.
COSTA, Heloísa Soares de Moura Costa. Desenvolvimento Urbano Sustentável: Uma Contradição de Termos?
In: R.B Estudos Urbanos e Regionais n° 2, 2000.
CRAIK, Kenneth H. & ZUBE, Ervin H.. The development of perceived Environmental Quality Indices. In:
Perceiving Environmental Quality: Research and Applications. Nova Iorque: Plenum Press, 1976.
DANIEL, Terry C.. Criteria for Development and Application of Perceived Environmental Quality Indices. In:
Perceiving Environmental Quality: Research and Applications. Nova Iorque: Plenum Press, 1976.
DEL RIO, Vicente & OLIVEIRA, Lívia de. Percepção Ambiental: A Experiência Brasileira. São Paulo: Studio
Nobel, 1999.
FISHER, Tânia. Gestão Contemporânea: Cidades estratégicas e organizações locais. Rio de Janeiro: Editora da
Fundação Getúlio Vargas, 2ª edição, 1997.
FUKSAS, Massimiliano; CONTI, Paolo. Caos Sublime. Milão: Editora Rizzoli, 2001.

1048
GOTTDIENER, Mark. A produção social do espaço urbano. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
1993.
KOHLSDORF, Maria Eliane. A apreensão da forma da cidade. Brasília: Editora UNB, 1996.
LACAZE, Jean Paul. Os métodos do Urbanismo. Campinas: Papirus, 1993.
LEFEBVRE, Henri. O direito à cidade. São Paulo: Documentos, 1969.
SEWELL, Granville Hardwick. Administração e controle da qualidade ambiental. São Paulo: EPU: USP:
CETESB, 1978.
SIMMEL, G. A metrópole e a vida mental. In: VELHO, Otávio (org.). O fenômeno urbano. Rio de Janeiro:
Zahar, 1973.
WIRTH, Louis. O urbanismo como modo de vida. In: VELHO, Otávio (org.). O fenômeno urbano. Rio de
Janeiro: Zahar, 1973.

1049

Você também pode gostar