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RESUMO
Recentemente, partindo da busca global por um desenvolvimento urbano sustentável, surgiu a necessidade de se
considerar o “ser urbano”, habitante do meio ambiente urbano, não mais como um usuário desse espaço, mas sim
um agente participante e construtor da dinâmica do ambiente que habita.
A percepção ambiental, neste contexto, é de extrema importância no diagnóstico de problemas de planejamento
urbano, uma vez que a dimensão subjetiva materializada no julgamento da população, que direcionará o uso ou
não de um espaço público, pode ser um fator determinante e decisivo para o estabelecimento de critérios de
qualidade socioambiental, bem como de qualidade de vida.
Seguindo esta perspectiva, buscou-se a inserção na discussão do urbano, visando um esclarecimento qualitativo
do meio ambiente com o qual se relacionam estes “seres urbanos”. Além disso, a partir do estudo de modelos de
preferência ambientais, processos de avaliação da qualidade paisagística visual, sistemas de indicadores
intraurbanos de qualidade de vida bem como indicadores de qualidade ambiental, conclui-se que os aspectos
levantados mostram a importância de se lidar com a percepção humana, embora uma boa parte das pesquisas
nacionais voltadas para a aferição da qualidade de vida urbana não se baseia, nem parcialmente, na consideração
da percepção das pessoas no que se refere à eleição de indicadores de qualidade ambiental urbana.
Observa-se que os resultados de estudos nesta direção, baseados num melhor conhecimento dos efeitos dos fatores
ambientais sobre a saúde física e mental serão responsáveis, futuramente, por uma diminuição no nível de
empirismo dos planos relativos a áreas urbanas.
Portanto, devido à influência exercida pelo ambiente no comportamento dos “seres urbanos”, bem como a
influência desses na dinâmica das cidades, torna-se de extrema importância um estudo detalhado sobre o assunto
tratado buscando, assim, traçar caminhos para a tão almejada sustentabilidade ambiental urbana.
ABSTRACT
Recently, starting from the global search for a sustainable development, emerged the necessity of considering the
“urban human being”, inhabitant of the urban environment, as a participant agent and constructor of the dynamic
of the cities and no more as a user of this urban space.
The environmental perception, in this context, is extremely important on the diagnosis of urban planning
problems, considering that the subjective dimension which is defined by population’s judgment, that will or will
not direct the use of a public space, can be a determinant and decisive factor for the establishment of criteria of
socio environmental quality, as well as life’s quality.
Following this perspective, models of environmental preference, studies about landscape quality assessment,
systems of life’s quality evaluation and environmental quality indicators were studied. The evaluated aspects
show the importance of considering the human perception, although a significant part of the national researches
which study and gauge the urban life’s quality are not even in part based on the consideration of people’s
perception, specially about the election of urban environmental quality’s indicators.
We can observe that results of studies in this direction, based on a better understanding about the effects of
environmental factors on physical and mental health are responsible, in the future, for the decreasing of the level
of empiricism of the urban areas’ plans.
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Therefore, due to the influence exerted by the environment on the behavior of the “urban human beings”, as well
as their influence on the environment’s dynamic where they live, become of extreme importance a detailed study
about the subject treated, searching for outlining ways for the important urban environmental sustainability.
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Baseando-se na visão do desenvolvimento sustentável, a hipótese de oposição entre o urbano e o meio ambiente
também é difícil de se aceitar. Na verdade, para Costa (2000), esses dois conceitos dinâmicos se relacionam no
que se denomina “meio ambiente urbano”, “síntese das dimensões naturais e construídas do espaço urbano com
dimensões de ambiência, associadas às práticas da vida urbana”.
Dentro deste contexto, considerando que a problemática urbana contém uma parcela ambiental, Castells (1983)
afirma que se engloba sob esse termo ambiental a relação dos indivíduos com seu meio ambiente, com suas
condições de existência cotidiana, com as possibilidades que lhes são oferecidas por um certo modo de
organização de consumo. Percebe-se, no entanto, que a partir deste ponto de vista, o "ser urbano" é considerado
como usuário do meio ambiente urbano, na medida em que usufrui de possibilidades que lhe são oferecidas.
Assim, diverge-se da perspectiva do desenvolvimento urbano sustentável seguida por Costa e base deste
trabalho.
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apenas a partir dos sentidos e nem recebe essas sensações passivamente; existem contribuições ativas do sujeito
ao processo perceptivo desde a motivação à decisão e conduta. “Esses mecanismos cognitivos incluem
motivações, humores, necessidades, conhecimentos prévios, valores, julgamentos e expectativas” (i.b.). Para Del
Rio, embora essas percepções sejam subjetivas para cada indivíduo, admite-se que existam recorrências comuns,
seja em relação às percepções e imagens, seja em relação às condutas possíveis. “Por isto, também se admite que
a consideração a repertórios de imagens e expectativas compartidas pela população, assim como a sua
operacionalização consciente por meio de políticas e programas urbanísticos, são fundamentais para nortear a
ação pública.” (i.b.).
Para Bechtel (1976), o “homem coletivo” está inserido numa esfera, a biosfera, a qual contém todas as possíveis
influências que possam agir sobre esse. Essa variedade de possíveis influências pode ser representada por
estímulos que aparecem no interior desta esfera, considerando que a percepção de qualquer desses estímulos
pode ser alcançada pelo indivíduo dependendo simplesmente de seu direcionamento a estes. Entretanto, para
Betchel, essa visão parece ser excessivamente simplificada, uma vez que, segundo cientistas sociais, existe uma
segunda esfera envolvendo o indivíduo, que atua como membrana semipermeável filtrando estímulos para e do
ambiente físico da biosfera. Essa que se denomina esfera social, representa todos os elementos sociais que
influenciam seletivamente a percepção, como cultura, crenças, atitudes, raça, sexo entre tantos outros.
Além disso, o autor coloca que os psicólogos ambientais nos levaram um passo à frente. De acordo com o estudo
deles, entre a biosfera e a esfera social encontra-se o ambiente construído, representado por um retângulo entre
as duas esferas. Esta proposta visa demonstrar que o homem nem sempre percebe a biosfera diretamente. Na
verdade, o “ser urbano” “não respira o ar da natureza nem vive em uma floresta” (i.b.). Seus contatos diários
com o meio ambiente se dão, em sua maioria, em áreas fechadas e sua percepção disso é bem divergente da
biosfera natural. É importante ainda destacar que este ambiente construído é percebido somente através das
“lentes” da esfera social, considerando que há duas membranas semipermeáveis, que têm grande influência sobre
quaisquer percepções no campo da qualidade ambiental. Essas, por sua vez, não somente atuam como filtros às
percepções do ambiente natural, mas também podem ser percebidas como referências de um ambiente total.
Assim, pode-se falar da qualidade do ambiente natural, da qualidade do ambiente construído bem como da
qualidade do ambiente social.
Diferentemente das questões abordadas usualmente sob o conceito de qualidade ambiental urbana, a qualidade
ambiental urbana percebida, na medida em que representa a materialização da dimensão subjetiva da população,
pode, por exemplo, envolver questões como preservação histórica, estética, paisagismo, entre tantas outras
questões que compõem o espaço urbano e que devem também ser ressaltadas para que seja buscada a qualidade
do ambiente urbano como um todo, do qual é parte indissociável este “meio social”. (Sewell: 1978)
Entretanto, é importante colocar que a noção de qualidade ambiental urbana que se tem atualmente pode vir a
divergir parcial ou totalmente da definição desta pelas pessoas que vivenciam o espaço urbano em questão. Para
Simmel (1973), essas divergências podem ser fruto do fato de que “o tipo metropolitano de homem – que,
naturalmente, existe em mil variantes individuais – desenvolve um órgão que o protege das correntes e
discrepâncias ameaçadoras de sua ambientação externa, as quais, do contrário, o desenraizariam; ele reagiria
com a cabeça, ao invés de com o coração. Nisto, uma conscientização crescente vai assumindo a prerrogativa do
psíquico. A vida metropolitana, assim, implica numa consciência elevada e numa predominância da inteligência
do homem metropolitano. A reação aos fenômenos metropolitanos é transferida àquele órgão que é menos
sensível e bastante afastado da zona mais profunda da personalidade. A intelectualidade, assim, se destina a
preservar a vida subjetiva contra o poder avassalador da vida metropolitana. E a intelectualidade se ramifica em
muitas direções e se integra com numerosos fenômenos discretos”. Além disso, Simmel afirma que os mesmos
fatores que assim redundaram na exatidão e precisão minuciosa da forma de vida metropolitana, redundaram
também em uma estrutura da mais alta impessoalidade; e promovendo, por outro lado, uma subjetividade
altamente pessoal. Como exemplo de comportamento tipicamente urbano tem-se a atitude blasé, fenômeno
psíquico resultante em primeiro lugar dos estímulos contrastantes que, em rápidas mudanças e compreensão
concentrada, são impostos aos nervos fazendo surgir, assim a incapacidade de reagir a novas sensações com a
energia apropriada. Outro fenômeno decorrente do volume excessivo de estímulos do ambiente urbano
denomina-se habituação ou adaptação e é explicado por Bell (1984). O autor explica que quando um estímulo é
constante, a resposta a este se torna tipicamente fraca com o passar do tempo, citando, como exemplo cita que
muitas pessoas que moram perto de auto-estradas a princípio têm dificuldade para dormir, mas depois de
algumas noites se tornam habituados ao ruído e quase não tem mais problemas para dormir.
Paralelamente à discussão acima, Fisher (1997) reafirma a importância da percepção ambiental quando coloca
que “não basta conhecer os dados quantitativos da estrutura sócio -econômica em que se dá tal ou qual
movimento social, para entendê-lo”. Entretanto, também afirma que, por outro lado, não basta a análise dos
projetos manifestos (instrumentais ou expressivos) com técnicas qualitativas que estudem caso a caso. “Na
verdade, é preciso entender que entre as estruturas e projetos, estão as redes sociais (...)”. Essa consideração é de
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extrema importância, tendo em vista que a “arquitetura urbana comunica-nos informações de várias naturezas,
expressando suas diversas características por meio de signos captáveis pelo nosso sistema dos sentidos” (ib.).
Portanto, essa dimensão subjetiva relacionada ao espaço urbano é expectativa social básica para avaliação do
comportamento dos lugares, como resposta às demandas e aspirações dos indivíduos.
Percebe-se que além de seu essencial valor para a “humanização” do meio ambiente urbano, a aferição da
Qualidade Ambiental Urbana Percebida pode ser útil para várias questões, dentre as quais Craik (1976) cita:
??Esclarecimento de objetivos da política ambiental;
??Avaliação da efetividade de programas de proteção ambiental;
??Medição dos impactos ambientais de projetos públicos e privados propostos, e
??Comunicação de tendências no que diz respeito à qualidade ambiental à esfera pública, aos
cidadãos e aos planejadores urbanos.
Assim, dentre as tradicionais metas colocadas pelo planejamento urbano devem ser valorizadas as expectativas
sociais, que possibilitam a ligação entre o meio ambiente e as pessoas que nele se encontram, em atividade
constantemente cognitiva, generalizando o que usualmente restringe-se aos sábios, pesquisadores e planejadores.
Reafirmando a importância da avaliação da qualidade ambiental percebida, Daniel (1976) coloca que o “meio
ambiente percebido” pode ser um determinante das ações e respostas humanas mais importante do que o
ambiente descrito, em termos, por suas propriedades físicas. Afinal, “o espaço urbano é apreensível a partir de
suas manifestações externas, em etapas de sucessão cognitiva onde se desenvolve um movimento de objetivação
de informações. (...) em quaisquer dessas etapas existe submissão de dados a reflexões, porque a inteligência age
sempre como totalidade sobre as informações recolhidas, sejam estas de natureza sensível ou dados
elaborados”.(Kohlsdorf: 1996).
Nestes termos, a inserção nessa discussão busca fundamentar a seguinte questão: embora o conceito de qualidade
ambiental urbana seja definido também por aspectos indispensáveis à saúde do ambiente urbano e de seus
habitantes, como qualidade do ar, do solo, da água, o nível de ruídos, por exemplo, é de essencial importância a
consideração da percepção da qualidade do ambiente urbano pelo “seres urbanos”. Assim, dentro da visão desses
“seres” como agentes participantes e construtores da dinâmica das cidades, e conseqüentemente de suas vidas,
conclui-se que é extremamente importante esta participação das pessoas na definição de conceitos que
usualmente direcionam medidas sobre o ambiente que habitam, envolvendo também a noção geral de qualidade
de vida e, simultaneamente, facilitando o alcance a um desenvolvimento urbano sustentável.
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