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ITAPERUNA-RJ
2022/2
JÚLIA DA SILVA GRILLO DE FREITAS
ITAPERUNA-RJ
2022/2
JÚLIA DA SILVA GRILLO DE FREITAS
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REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29
RESUMO
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Berenice Dias (2021); Pablo Solze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022);
Ricardo Calderón (2017); Gustavo Luiz Tirolli e Rozane da Rosa Cachapuz (2021);
Cristiano Chaves Farias e Nelson Rosenvald (2016); Flávio Tartuce (2021), bem
como a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Código Civil de
2002, o Estatuto da Criança e do Adolescente e Jurisprudências.
Para facilitar a compreensão da temática em questão o trabalho foi distribuído
em capítulos. No primeiro, abordou-se ao relevância do tema no contexto social e
jurídico do problema apresentado, a multiparentalidade e afetividade. O segundo
traz o conceito de modernidade líquida na ótica de Bauman e seus reflexos nos
laços familiares. O terceiro capítulo faz menção à família no contexto da
modernidade líquida, no entendimento da afetividade no novo modelo de família, a
multiparental.
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2 A MODERNIDADE LÍQUIDA
Por esta razão, a demanda por liberdade sempre presente atinge aspectos
relativos ao trabalho, à família e às amizades, de modo que os relacionamentos,
para que sejam desfeitos com mais facilidade, têm de estar unidos por laços leves e
tênues. Isso ocorre, pois, ao exercer sua liberdade e autonomia, os indivíduos
passam a levar em consideração as vantagens obtidas em cada relação pessoal.
Sendo assim, o próprio aumento de uniões estáveis registradas no país nos últimos
anos pode ilustrar o crescimento de relações associadas à afetividade, que possuem
uma forma ―mais leve‖ do que a ―caixa de aço‖ do matrimônio (CALDERÓN, 2017).
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ainda, apesar do grande foco que existia em tal modelo de ―pais e mães‖ das
famílias, existir atualmente uma família que não os possua. Autores destacam que a
fugacidade das relações familiares poderia culminar na dissolução das famílias
(MATOS; MARCATO, 2016).
Por outro lado, a mudança na visão de família ocorrida em razão dos novos
arranjos familiares, impulsionam seu reconhecimento como sendo novas entidades
familiares, de modo que o Direito se posicione a partir de uma ampliada
compreensão acerca das famílias, especialmente valorizando-se a afetividade em
detrimento dos vínculos registrais e biológicos, por exemplo (TIROLI; CACHAPUZ,
2021).
de afeto entre avós e seus netos, e passou a garantir, por meio do parágrafo único
do art. 1.589 do Código Civil de 2002, o direito de visitas dos avós, à luz do melhor
interesse da criança e do adolescente. (FARIAS; ROSENVALD, 2016)
Todavia, a afetividade, estatuída como princípio jurídico, se dissocia da
concepção de afeto como fato anímico ou psicológico, porque aquela se presume
ainda que falte este último nas relações fáticas. Logo, a afetividade é um dever
imposto aos pais em relação aos filhos e vice-versa, ainda que, na realidade, haja
desamor ou desafeição. Entretanto, tal princípio deixa de incidir com a morte ou
perda da autoridade parental. Por outro lado, na relação entre cônjuges, a
afetividade incide enquanto houver afetividade real, que é pressuposto da
convivência. Ainda assim, o dever de assistência, que se mostra como um
desdobramento dos princípios da afetividade e solidariedade, pode projetar efeitos
para além da convivência, notadamente o de prestar alimentos e manter sigilo sobre
a intimidade e vida privada (LÔBO, 2016).
Certo é que, em decorrência da aplicação do princípio da afetividade,
compreende-se que o Direito Constitucional de Família brasileiro, além da ―tríade
casamento – união estável – núcleo monoparental‖ (STOLZE; PAMPLONA FILHO,
2022 p. 1.694), reconhece outras modalidades e arranjos familiares, notadamente a
união poli e homoafetiva. Quanto a esta última, ressalta-se inclusive que os autores
modernos preferem assim denominá-la, em detrimento da expressão ―união
homossexual‖, justamente pelo fato de que as pessoas que formam tal núcleo são
unidas pelo afeto e não só pela sexualidade. (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022).
Ao legislador, portanto, coube apenas o reconhecimento da entidade familiar,
mas não a sua delimitação feita por meio de conceituação técnica, que poderia
excluir quaisquer agrupamentos fora do ―padrão‖, sob pena de se caracterizar certa
discriminação normativa, indo de encontro a toda principiologia constitucional. No
mesmo sentido, sob o âmbito da afetividade, vêm se reconhecendo relações filiais
desbiologizadas, atenuando-se o entendimento de supremacia genética que advinha
do laudo de exame de DNA, mudança de paradigma que pode ensejar, até mesmo a
obrigação alimentar, conforme se depreende do Enunciado n. 341 da IV Jornada de
Direito Civil). (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022).
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De acordo com Paulo Lôbo (2016), a filiação pode ser conceituada como a
relação de parentesco entre dois indivíduos, em que um deles possui autoridade
parental e o outro se vincula àquele por meio de origem biológica ou socioafetiva. Se
a relação for considerada em face do pai, trata-se de paternidade, mas, em face da
mãe, denomina-se maternidade. Ora, tal fenômeno decorre da concepção cultural,
que é resultado tanto da convivência familiar quanto da afetividade, razão pela qual
é abrangida a origem biológica e, agora, a não biológica.
O teor do artigo 1.596 do Código Civil expõe que os filhos, seja de origem
biológica ou não, possuem os mesmos direitos e qualificações, sendo vedadas
quaisquer discriminações. Tal dispositivo reproduz norma equânime advinda da
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Constituição Federal e, ainda que não o fosse necessária tal reprodução, posto que
se trata de norma constitucional autoexecutável, a expressa menção à referida
equidade reforça sua natureza de fundamento, na tentativa de se afastar a
concepção de desigualdade entre filhos legítimos, ilegítimos e adotivos, que advinha
da família patriarcal baseada na redução de papel da mulher, filiação legítima e
funções de procriação e unidade econômico-religiosa, características marcantes da
sociedade anterior à Constituição de 1988 (LÔBO, 2016).
No Brasil, Segundo o professor Calderón, João Baptista Vilella, em 1979,
tratou pioneiramente do tema da afetividade a partir da paternidade, sustentando, já
em 1979, que o parentesco não se limitava às questões puramente biológicas,
defendendo que a paternidade ―em si mesma‖ é um fato cultural. Ressalta-se que,
tal tese, até o momento, era estranha aos juristas, isto é, a diferença entre ser
genitor e ser pai. Em que pese tal diferenciação atualmente possa parecer simples,
à época, foi importante para mostrar um caminho diverso ao biologismo, resultando
em novas possibilidades jurídicas. (CALDERÓN, 2017).
Distinguindo-se tais figuras, extrai o autor João Baptista Villela o que
efetivamente determinaria a paternidade, vinculando esta última à noção de
afetividade. Tal argumentação em favor da desbiologização da paternidade revela a
relevância do critério afetivo ao se examinar as questões de parentesco, sendo certo
que o autor em questão perpassava sua análise para as famílias no geral, conforme
se pode observar: (CALDERÓN, 2017).
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 14. ed. Salvador: Editora
Juspodivm, 2021.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: direito de família. Vol.6, 16.
ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
LÔBO, Paulo. Direito Civil: Famílias. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2017.
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único.11. ed. Rio de Janeiro,
Forense; Método: 2021.
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