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UNIVERSIDADE IGUAÇU/CAMPUS V

FACULDADE DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E SOCIAIS APLICADAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

OS IMPACTOS DA MODERNIDADE LÍQUIDA NO DIREITO DE FAMÍLIA: UMA


ANÁLISE SOBRE A MULTIPARENTALIDADE E O PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

JÚLIA DA SILVA GRILLO DE FREITAS

ITAPERUNA-RJ
2022/2
JÚLIA DA SILVA GRILLO DE FREITAS

OS IMPACTOS DA MODERNIDADE LÍQUIDA NO DIREITO DE FAMÍLIA: UMA


ANÁLISE SOBRE A MULTIPARENTALIDADE E O PRINCÍPIO DA AFETIVIDADE

Monografia apresentada à Universidade


Iguaçu – Campus V, como requisito
parcial à obtenção do grau de bacharel
em Direito sob a orientação da Profa. Ma.
Marlene Soares Freire Germano.

ITAPERUNA-RJ
2022/2
JÚLIA DA SILVA GRILLO DE FREITAS

Monografia apresentada à Universidade Iguaçu – Campus V, como requisito parcial


à obtenção do grau de bacharel em Direito.

Itaperuna, 07 de dezembro de 2022.

________________________________________________________________

Profa. Ma. Marlene Soares Freire Germano (Orientadora)

________________________________________________________________

Prof.Ms. Carlos José de Castro Costa

________________________________________________________________

Prof. Marcelo Lannes Santucci


À minha família, a quem agradeço pela
confiança até esse momento. À minha
orientadora Profa. Ma. Marlene Soares
Freire Germano, por toda dedicação e
ensinamentos. Por fim, a todos os meus
amigos, especialmente Bruna, João, Sávio,
Francisco, Victor, Nina e Nathália, pelo
suporte durante todos esses anos.
Dedico este trabalho à minha irmã Isabella, a
responsável por me permitir sentir o maior
amor do mundo.
―No líquido cenário da vida moderna, os
relacionamentos talvez sejam os
representantes mais comuns, agudos,
perturbadores e profundamente sentidos da
ambivalência.‖

(Zigmunt Bauman, 2004, p. 11-12)


SUMÁRIO

1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS ................................................................................. 08

2 A MODERNIDADE LÍQUIDA ................................................................................. 10


2.1 A teoria sociológica da “Modernidade Líquida” ............................................. 10
2.2 A liquidez das relações familiares ................................................................... 14

3 A MUTABILIDADE DAS RELAÇÕES FAMILIARES............................................. 18


3.1 O princípio da afetividade ................................................................................. 18
3.2 Direito de filiação e multiparentalidade ........................................................... 23
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 28

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 29
RESUMO

As mudanças decorrentes do atual estágio da sociedade foram evidenciadas a partir


do estudo de Zygmunt Bauman, que denominou o período de ―Modernidade
Líquida‖, o qual possui características próprias, sobretudo a fluidez, efemeridade e
rápidas transformações sociais. As mudanças ocorridas, impactam todo o Direito de
Família e, principalmente, o direito de filiação, sob o aspecto do princípio da
afetividade, o que culmina, no fenômeno da multiparentalidade. O trabalho tem por
objetivo fazer uma análise sobre o conceito de Modernidade Líquida, destacando o
contexto histórico e sociológico do pensamento do autor Zygmunt Bauman,
apresentando o princípio da afetividade e a multiparentalidade, comparando suas
modificações, sob o aspecto jurídico. O presente estudo utilizou-se da pesquisa
descritiva, baseada em fontes bibliográficas, doutrinárias, legislativas e
jurisprudenciais, para analisar as alterações ocorridas no Direito em face das rápidas
mudanças ocasionadas pelo advento da sociedade líquido-moderna. Concluiu-se,
portanto, que a socioafetividade e a consequente multiparentalidade, analisados à
luz do princípio da afetividade, provocaram necessárias alterações na aplicação do
Direito de Família, por consequência das mudanças vindas da Modernidade Líquida,
analisada pelo sociológico Bauman.

Palavras-chave: Modernidade Líquida; Princípio da Afetividade; Socioafetividade;


Multiparentalidade.
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1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS

Em razão das alterações ocorridas na sociedade a partir do fim do século XIX,


o sociólogo Zygmunt Bauman elaborou o conceito de ―Modernidade Líquida‖ a fim
de delimitar e descrever as características histórico-sociais presentes na coletividade
atual, consubstanciadas, principalmente, na fluidez das relações sociais.
Por outro lado, observa-se que a instituição familiar, como um dos pilares da
sociedade contemporânea, possui traços que, diferentemente do conceito
sociológico em questão, se caracterizam por certa rigidez estrutural, a fim de manter
a estabilidade do Estado e da realidade social.
Tais características impactam diretamente no Direito Civil, especialmente no
que tange ao Direito de Família, à medida em que quaisquer mudanças sociais
ensejam a tutela jurídica estatal, seja no âmbito teórico, jurisprudencial ou legislativo,
de modo que se torna essencial a compreensão das nuances da sociedade
contemporânea para que se trate adequadamente as alterações em determinados
institutos jurídicos.
Sendo assim, à par dos estudos no âmbito das ciências sociais, refletem-se
no mundo jurídico, sob a ótica familiar, alterações substanciais relativas ao direito de
filiação, a multiparentalidade, tudo isso à luz dos ditames do princípio da afetividade.
A relevância do tema se demonstra a partir do impacto que uma sociedade
caracterizada pela fluidez é capaz de causar nos institutos do Direito de Família
contemporâneo, provocando alterações interpretativas, doutrinárias e
jurisprudenciais no âmbito do referido campo da ciência jurídica.
O presente trabalho tem por objetivo realizar uma análise acerca do conceito
de Modernidade Líquida, destacando o contexto histórico e sociológico do
pensamento do autor Zygmunt Bauman, apresentando os institutos de Direito Civil,
isto é, o princípio da afetividade e a multiparentalidade, comparando suas
modificações sob o aspecto jurídico e as consequências na aplicação do Direito.
O estudo em questão utilizou-se da pesquisa descritiva, baseada em fontes
bibliográficas, doutrinárias, legislativas e jurisprudenciais, para analisar as alterações
ocorridas no Direito em face das rápidas mudanças ocasionadas pelo advento da
sociedade líquido-moderna. Dentre os teóricos analisados, destacam-se Maria
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Berenice Dias (2021); Pablo Solze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho (2022);
Ricardo Calderón (2017); Gustavo Luiz Tirolli e Rozane da Rosa Cachapuz (2021);
Cristiano Chaves Farias e Nelson Rosenvald (2016); Flávio Tartuce (2021), bem
como a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, o Código Civil de
2002, o Estatuto da Criança e do Adolescente e Jurisprudências.
Para facilitar a compreensão da temática em questão o trabalho foi distribuído
em capítulos. No primeiro, abordou-se ao relevância do tema no contexto social e
jurídico do problema apresentado, a multiparentalidade e afetividade. O segundo
traz o conceito de modernidade líquida na ótica de Bauman e seus reflexos nos
laços familiares. O terceiro capítulo faz menção à família no contexto da
modernidade líquida, no entendimento da afetividade no novo modelo de família, a
multiparental.
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2 A MODERNIDADE LÍQUIDA

O presente capítulo busca contextualizar a teoria do sociólogo polonês


Zygmunt Bauman acerca da Modernidade Líquida, explicitando seus efeitos nas
relações familiares contemporâneas.

2.1 A teoria sociológica da “Modernidade Líquida”

Durante seu estudo acerca dos fenômenos culturais e sociais, o teórico


Zygmunt Bauman (1925) buscou analisar a sociedade contemporânea, a qual
denominou ―Modernidade Líquida‖. Segundo o autor, o termo em questão faz a
devida referência a uma nova condição da modernidade, e não simplesmente ao
que esse momento histórico ―deixou de ser‖, contrapondo-se, portanto, a outras
denominações atribuídas por outros pensadores, que se referem ao momento
histórico atual como, por exemplo, ―segunda modernidade‖ ou ―modernidade
reflexiva‖ (Ulrich Beck), ―pós-modernidade‖, ―hipermodernidade‖ (Gilles Lipovetsky),
ou até mesmo ―alta-modernidade‖ (Anthony Giddens) (apud OLIVEIRA, 2012, p. 26).
A fim de explorar sua teoria sociológica, o autor se utiliza da metáfora da
liquidez aduzindo que, por um lado, aquilo que é sólido, possui clara dimensão
espacial e neutraliza o impacto, diminuindo a significação do próprio tempo, de modo
a resistir efetivamente ao seu fluxo ou torná-lo irrelevante (BAUMAN, 2000)
Por outro lado, os fluidos se caracterizam por sua facilidade de movimento,
associando-se à ideia de leveza, mobilidade e inconstância. Logo, é atributo da
fluidez o desapego a qualquer tipo de forma e a propensão a mudá-la. Sendo assim,
o tempo, para o que é líquido, seria mais importante do que o espaço, haja vista que
este último é preenchido apenas por determinado momento (BAUMAN, 2000).
De início, o autor destaca que, historicamente, já no advento da modernidade,
isto é, na passagem para a sociedade moderna, o ―espírito‖ social era de repúdio,
destronamento do passado e da tradição, esmagando-se quaisquer crenças e
lealdades que permitissem que os sólidos repelissem à liquefação, tudo isso para,
na verdade, se substituírem por outros sólidos, mas que, agora, fossem
aperfeiçoados e não mais alteráveis (BAUMAN, 2000).
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Derreter os sólidos significava, antes e acima de tudo, eliminar as


obrigações ‗irrelevantes‘, que impediam a via do cálculo racional dos
efeitos; como dizia Max Weber, libertar a empresa de negócios dos
grilhões dos deveres com a família e o lar, e a densa trama das
obrigações éticas [...] (BAUMAN, 2000, p.10) grifo do autor.

Observa-se que, de um modo geral, desde o século XIX, a modernidade era


vista e analisada como um processo social, político, econômico e cultural que tinha a
capacidade de ―derreter sólidos‖, tais como o grupo de parentesco, a religião, e a
tradição fechada e isolada dos grupos da comunidade (FRAGOSO, 2011).
Todavia, tal derretimento tinha como objetivo a reinserção e ressignificação
na ordem moderna, agora, retiradas suas características irracionais e supersticiosas
anteriormente existentes, de modo que ―A modernidade pode ser então pensada
como um processo de destruição criativa que desenraizava o velho para reenraizá-lo
de outra forma‖ (FRAGOSO, 2011).
A partir daí, Bauman criou o conceito de ―Modernidade Sólida‖ a fim de
identificar o momento inicial da era moderna, caracterizado a partir do século XV e
identificado por suas inúmeras revoluções, que, por um lado baseava-se em padrões
sólidos, de caráter duradouro e, por outro lado, de destruição de padrões e estilos de
vida que se relacionavam à Idade Média, concebendo, para tanto, novos modelos
compatíveis com o sistema capitalista em ascensão (apud OLIVEIRA, 2012).
Com o advento do iluminismo, o ser humano passou a questionar utilizando-
se a razão como instrumento de controle da natureza e do próprio homem. O
domínio do aspecto racional e da ciência ensejaram a transformação do sistema
capitalista em um sistema cíclico, no qual produtores e consumidores tornavam-se
cada vez mais dependentes do próprio consumo (OLIVEIRA, 2012).
O momento histórico da modernidade foi, assim, consolidado pela revolução
industrial, movida pela ideia de progresso, exemplificada pela fábrica fordista,
grande, imponente e sólida, símbolo de poder e riqueza. Ademais, a racionalidade
instrumental do ser humano fez surgir um poder de decisão da vida individual e a
sensação de ser ―dono de si mesmo‖ que, ainda assim, precisava contar com o
pertencimento em algo maior, que justificasse a luta coletiva: o Estado – burocrático.
(OLIVEIRA, 2012).
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Nesse sentido, dentre os principais ícones dessa modernidade encontravam-


se: a fábrica fordista, limitando a atividade humana a movimentos mecânicos e
predeterminados; a burocracia, na qual as ações eram dirigidas por estatutos e
pelos comandos, afastados os laços sociais. O conceito de ―panóptico‖, um
instrumento de controle que inibia quaisquer lapso de vigilância por parte dos
supervisores; e o ―Grande Irmão‖, que sempre se encontrava pronto para ―premiar
os fiéis‖ e, por outro lado, ―punir os infiéis‖ (BAUMAN, 2000, p. 31-32).
É possível perceber, portanto, que tal modernidade sólida, pesada, sistêmica,
por ser tendenciosa ao totalitarismo, especialmente no século XX, destoava da
diversidade e do pluralismo, sendo, de outro modo, apegada a volume, assimilando
tamanho ao poder, objetivando, sobretudo, a conquista territorial (TIROLI;
CACHAPUZ, 2021).
No entanto, os avanços da tecnologia e da ciência na modernidade se
mostraram sobejamente rápidos, de modo que as incertezas passaram a tomar lugar
central no meio social, afetando os próprios relacionamentos humanos (OLIVEIRA,
2012).
Para o sociólogo em estudo, a contemporaneidade é uma versão
individualizada e privatizada da modernidade, na qual ―o peso da trama dos padrões
e a responsabilidade pelo fracasso caem principalmente sobre os ombros dos
indivíduos‖ (BAUMAN, 2000, p. 14). Logo, os padrões de dependência e interação,
assim como os demais fluidos, não se demonstram capazes de manter sua forma.
Sendo assim, caracterizam a era da modernidade líquida, principalmente: o
declínio da convicção de que existe uma finalidade no caminho que é percorrido pela
sociedade, isto é, a incessante busca de uma futura sociedade justa e perfeita, de
modo que todas as decisões e empenhos deste momento histórico ensejem esse
fim; e, ainda, a privatização de tarefas e deveres modernizantes, recaindo para o
próprio indivíduo o papel de aprimoramento da condição humana (TIROLI;
CACHAPUZ, 2021).
Comparando-se ao período antecessor é possível perceber que a
modernidade líquida, é definida por sua veloz mobilidade, capaz de abalar a
estrutura de estabilidade e tranquilidade existente na modernidade sólida. Há, pois,
sob o aspecto econômico, uma passagem do ―capitalismo pesado‖ – marcado pelo
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estilo fordista e suas autoridades, no qual os indivíduos trabalham a fim de atingirem


objetivos predeterminados – para o ―capitalismo leve‖ – o qual, apesar de não
extinguir as autoridades, atribui dinamicidade, obstando a manutenção no poder de
apenas uma (TIROLI; CACHAPUZ, 2021).
Desse modo, o capitalismo leve não extinguiu autoridades que ditam normas
e sequer as tornou dispensáveis. Na verdade, possibilitou a coexistência de
inúmeras autoridades, de modo que nenhuma delas possa ser exclusiva. Na fase
anterior, o líder era extremamente necessário tendo em vista um contexto social que
tinha por objetivo construir uma ―boa sociedade‖, no entanto, na modernidade líquida
―a redenção e a condenação são produzidas pelo indivíduo e somente por ele — o
resultado do que o agente livre fez livremente de sua vida‖ (BAUMAN, 2000, p. 70).
Chega-se, portanto, a uma das maiores características da sociedade atual em
seu estado de liquidez: a individualização. À medida em que o ser humano se
emancipa das instituições, movido pelo capitalismo liberal, a sociedade moderna
passa a ter membros que são, sobretudo, indivíduos e, agora, progressivamente
mais longe de serem cidadãos (OLIVEIRA, 2012).
Apesar de os riscos e contradições permanecerem sendo socialmente
produzidos, o dever de enfrentá-los começou a tomar uma conotação individual, de
modo que o ser humano passa a buscar na satisfação pessoal, a felicidade. Desse
modo, perdem-se os sentidos de solidariedade e compreensão de caráter macro,
desintegrando-se a cidadania e transformando-se o espaço público em ambiente de
discussão da vida privada (OLIVEIRA, 2012).
O processo de individualização é, portanto, cerne da construção das novas
subjetividades, sendo característica central deste o afastamento de redes de
pertencimento social (dentre elas, a família). Os relacionamentos com as demais
pessoas, por sua vez, adquirem atributos mercantis, nos quais os laços frágeis
podem ser facilmente desfeitos de acordo com a vontade das partes, causando
verdadeiro efeito de privatização das parcerias humanas, assim como dos ―serviços‖
sociais que, na modernidade sólida, eram direitos do cidadão (PICCHIONI, 2007).

Numa sociedade de consumo, compartilhar a dependência de


consumidor — a dependência universal das compras — é a condição
sine qua non de toda liberdade individual; acima de tudo da liberdade
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de ser diferente, de ‗ter identidade‘ (BAUMAN, 2000, p.90), grifo do


autor.

Ressalta-se que, no mundo fluido, o consumo exacerbado criou um tipo de


liberdade, consubstanciada na escolha do consumidor, que possui potencial
destrutivo. Isto, pois a capacidade de gerar prazer de uma mercadoria, tende a
rapidamente se exaurir. A liberdade de escolher, de quem possui recursos para tal,
implica na liberdade relativa às consequências das escolhas erradas (BAUMAN,
2000).
Sendo assim, a mobilidade e flexibilidade da identificação, características
dessa modalidade de ―consumo‖, são, não só veículos de emancipação, mas
também mecanismos de redistribuição de liberdades. Todavia, o excesso de
oportunidades tende à fragmentação e desestruturação. A autoidentificação, por sua
vez, tarefa compartilhada por todos, é realizada por cada um de maneira diferente e
se torna alvo de conflitos e induz à competição acirrada, ao invés de ensejar a
cooperação e solidariedade na condição humana (BAUMAN, 2000).
Entende-se, portanto, que a modernidade líquida e suas características,
sobretudo a instantaneidade do tempo, são capazes de modificar profundamente as
relações sociais, pelo fato de impactarem o modo pelo qual o ser humano organiza
suas próprias atividades e convertem suas atitudes em questões coletivas, tendo em
vista que ―a premissa consiste em buscar gratificação evitando consequências,
principalmente se as consequências implicam responsabilidades‖ (TIROLI;
CACHAPUZ, 2021, p. 05).

2.2 A liquidez das relações familiares

A nova perspectiva das relações de consumo e consequente facilidade de


descarte de bens, bem como a alteração na compreensão do próprio tempo nas
relações sociais, vêm construindo uma sociedade na qual os laços são definidos
pelo imediatismo e superficialidade. O descarte de relacionamentos, tal como ocorre
com os produtos – em razão da velocidade com que isso pode ocorrer – pode ser
feito no momento em que eles passam a não mais agradar, demonstrando as novas
características das relações: efêmeras e revogáveis (TIROLI; CACHAPUZ, 2021).
Sendo assim, retomando as características da modernidade líquida, isto é, o
colapso da antiga busca de uma sociedade perfeita, justa e sem conflitos, bem como
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a privatização das tarefas modernizantes, em razão da fragmentação –


individualização – dos seres humanos, urge reconhecer as características da
complexidade, fragmentalidade e instabilidade da sociedade atual, diferentemente
da modernidade clássica (sólida), ―que pressupunha a existência de um modelo
ideal de família e de sociedade, de modo que sua adoção levaria a uma evolução
rumo à almejada perfeição‖ (CALDERÓN, 2017, p. 27).
Nesse sentido, a comunidade para os indivíduos que constroem suas
identidades à luz das ondas de mercado, não solidifica laços, tão pouco estabelece
compromissos entre seus participantes. Portanto, o laço social que os sustenta é
frouxo, inexistindo fronteiras bem estabelecidas ou ainda compromisso de ajuda
mútua. Logo, o sonho de uma vida em comum limita-se a uma momentânea
comunhão baseada em sentimentos passageiros (FRAGOSO, 2011).
Além disso, a precarização das relações de trabalho impactam nas políticas
de vida resultando, portanto, no enfraquecimento e na decomposição de parcerias,
comunidades e laços humanos, na medida em que compromissos de ―até que a
morte nos separe‖ se convertem para contratos com cláusulas ―enquanto durar a
satisfação‖, temporais e passíveis de extinção unilateral quando o parceiro percebe
um melhor valor fora da parceria do que na tentativa de salvá-la (BAUMAN, 2000).

Em outras palavras, laços e parcerias tendem a ser vistos e tratados


como coisas destinadas a serem consumidas, e não produzidas;
estão sujeitas aos mesmos critérios de avaliação de todos os outros
objetos de consumo. No mercado de consumo, os produtos duráveis
são em geral oferecidos por um ‗período de teste‘ a devolução do
dinheiro é prometida se o comprador estiver menos que totalmente
satisfeito (BAUMAN, 2000, p. 170).

Por esta razão, a demanda por liberdade sempre presente atinge aspectos
relativos ao trabalho, à família e às amizades, de modo que os relacionamentos,
para que sejam desfeitos com mais facilidade, têm de estar unidos por laços leves e
tênues. Isso ocorre, pois, ao exercer sua liberdade e autonomia, os indivíduos
passam a levar em consideração as vantagens obtidas em cada relação pessoal.
Sendo assim, o próprio aumento de uniões estáveis registradas no país nos últimos
anos pode ilustrar o crescimento de relações associadas à afetividade, que possuem
uma forma ―mais leve‖ do que a ―caixa de aço‖ do matrimônio (CALDERÓN, 2017).
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Da mesma forma, a crescente igualdade nos relacionamentos, seja entre os


gêneros, pais e filhos ou ainda demais parentes e terceiros, indicam o decaimento
da rígida hierarquia e força da autoridade que vigia no passado. Por sua vez, os
―relacionamentos democráticos‖, que afloram a opção pessoal no que se refere à
decisão de início ou continuidade de uma relação, não se encontram mais
vinculados a questões econômicas e patrimoniais. Transfere-se, assim, para a vida
privada, tarefas que outrora eram deixadas a cargo da vida pública (CALDERON,
2017).
Desse modo, a líquida racionalidade moderna enxerga opressão nos
compromissos duradouros, uma certa dependência incapacitante, de modo a negar
vínculos e liames (espaciais ou temporais) que não são justificados pela líquida
razão moderna consumidora. Quaisquer liames ou vínculos tornam ―impuras‖ as
relações humanas, tal qual ocorreria com o ato de consumo, no qual se pressupõe a
satisfação instantânea (BAUMAN, 2004)
O mundo do amor líquido transforma o lugar de relações estáveis em um
mercado de ―conexões rápidas‖, úteis e disponíveis. A disposição transitória de
outros indivíduos, assim como verdadeiros objetos, demonstra que o ritmo da
afetividade é marcado pelo ―timing‖ de mercado, em relação ao tempo de
sucateamento e obsolescência dos produtos. Sendo assim, o amor líquido manifesta
com clareza a capacidade dissolutória do capital contemporâneo, que implica
inclusive no desarranjo da instituição familiar (BITTAR, 2007).
Isso ocorre pois, na passagem da realidade de longo prazo para a de curto,
isto é, das características sólidas para o líquido-experimental, o indivíduo passa a
minorar os riscos de duas relações sociais – flexíveis e de baixo comprometimento.
A exigência de uma renúncia parcial do próprio indivíduo em relação ao parceiro,
quando se está em um relacionamento, objetiva a construção de uma relação
duradoura, todavia, ainda que o ser humano busque se sentir inserido e fugir da
solidão, possui certa dificuldade em abrir mão de parte da sua liberdade (TIROLI;
CACHAPUZ, 2021).
Observa-se que no estágio da modernidade líquida, os papéis relativos às
famílias como, por exemplo, de pai provedor e mãe cuidadora podem se inverter,
posto que não é mais possível identificar um modelo de família padrão. Pode-se,
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ainda, apesar do grande foco que existia em tal modelo de ―pais e mães‖ das
famílias, existir atualmente uma família que não os possua. Autores destacam que a
fugacidade das relações familiares poderia culminar na dissolução das famílias
(MATOS; MARCATO, 2016).
Por outro lado, a mudança na visão de família ocorrida em razão dos novos
arranjos familiares, impulsionam seu reconhecimento como sendo novas entidades
familiares, de modo que o Direito se posicione a partir de uma ampliada
compreensão acerca das famílias, especialmente valorizando-se a afetividade em
detrimento dos vínculos registrais e biológicos, por exemplo (TIROLI; CACHAPUZ,
2021).

Assim como o gênero, o parentesco foi um dia considerado como


naturalmente outorgado, uma série de direitos e deveres criados por
laços biológicos e de casamento. Tem sido amplamente declarado
que as relações de parentesco foram se destruindo com o
desenvolvimento de instituições modernas, que deixaram a família
nuclear num enorme isolamento. Sem pormenorizar a questão, pode-
se perceber que essa visão é errada, ou, pelo menos, enganosa. Na
sociedade da separação e do divórcio, a família nuclear gera uma
diversidade de novos laços de parentesco associada, por exemplo,
as famílias recombinadas. Entretanto, a natureza desses laços
modifica-se à medida que estão sujeitos a uma negociação maior
que a anterior (BAUMAN apud CALDERON, 2017, p. 24).

Assim sendo, a mobilidade marca os relacionamentos familiares, estando


presente não só nos relacionamentos conjugais, mas também nas relações de
parentesco. Logo, separações, divórcios e novas uniões não possuem a visão
negativa que já possuíram. Este processo de novas combinações institui marcas
como as famílias monoparentais, a multiparentalidade, uniões livres, famílias
reconstituídas e simultâneas, bem como os vínculos precipuamente afetivos
(CALDERON, 2017).
Entende-se que a família é instituição sede da formação do indivíduo, de sua
personalidade e importante atuante do desenvolvimento de sua dignidade. As
transformações advindas do mundo sólido para o líquido, segundo Zygmunt
Bauman, nas quais se valoriza a subjetividade em face da coletividade, anunciam
grande mudança na ideia de família e seu caráter de instituição social e entidade
coletiva no tocante à formação individual do ser humano (apud TIROLI; CACHAPUZ,
2021).
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3 A MUTABILIDADE DAS RELAÇÕES FAMILIARES

No capítulo em questão serão abordados tópicos referentes ao princípio da


afetividade, fenômeno jurídico aplicável ao direito de família, bem como relativos ao
direito de filiação e à multiparentalidade, os quais sofrem as consequências da
dinâmica e mutabilidade das relações familiares.

3.1 O princípio da afetividade

A modernidade – que sai de uma perspectiva sólida para a líquida,


considerando-se que a coletividade caminha para um modelo social baseado no
consumo e não mais na produção – tem como características a efemeridade e
instantaneidade. Nesse sentido, há, invariavelmente, a influência das relações de
consumo e trabalho nas percepções sociais e afetivas dos indivíduos, de modo que
estes passam a manter laços frágeis e dinâmicos, ocasionando o surgimento de
arranjos familiares diversos, que devem ser adequadamente amparados pela ciência
jurídica (TIROLI; CACHAPUZ, 2021).
É possível observar que o crescente valor atribuído ao afeto nas relações
familiares se mostra recente na sociedade, tendo em vista que, nas famílias
romanas e gregas, por exemplo, a base da entidade familiar encontrava-se não no
afeto, mas na perspectiva religiosa. Já na Idade Média, o alicerce era fixado no
casamento religioso em si, no qual prevaleciam interesses patrimoniais e
econômicos. Ocorre que, após o início da modernidade, muito em razão do
decaimento da importância da Igreja e a ascensão da racionalidade individual,
ocorreu uma grande valorização da subjetividade, tendo os ideais da Revolução
Francesa se estendido à concepção familiar (TIROLI; CACHAPUZ, 2021).
Essa subjetividade, ainda que mínima, teve papel crucial para alicerçar a
afetividade nas bases da família contemporânea. Diferentemente, sem a
individualidade, a família cumpria função social, econômica e política, afastando-se
laços estritamente afetivos. Ademais, a diminuição do núcleo familiar favoreceu a
valorização da afetividade, de modo que a possibilidade de escolher o próprio
19

cônjuge e de deliberar sobre a estrutura familiar, se mostram como exemplos da


transformação sofrida pela entidade familiar na modernidade líquida, ressaltando
suas características individuais e subjetivas, em detrimento do caráter patrimonial,
religioso e social (TIROLI; CACHAPUZ, 2021).
Historicamente, após a Segunda Guerra Mundial, passou a se perceber, no
Brasil, uma alteração na família, com o aumento da família nuclear (cônjuge e
filhos), o que resultou na aproximação de seus integrantes e possibilitou o
crescimento do aspecto subjetivo de tais relações. Outrossim, houve a intensificação
da valoração afetiva nos relacionamentos, quer entre cônjuges, quer entre pais e
filhos, bem como aumentou-se o distanciamento entre o Direito, que codificava uma
formação conservadora, enquanto a sociedade passava por mudanças.
(CALDERÓN, 2017)
Na Constituição brasileira promulgada em 1988, a afetividade se estabeleceu
como princípio implícito. Na Carta Magna, encontram-se seus fundamentos
essenciais, isto é: i) a igualdade dos filhos, independentemente de sua origem (art.
227, §6º); ii) a adoção, no art. 227 §§ 5º e 6º, como escolha afetiva, passou a deter
igualdade de direitos; iii) a expressa menção à comunidade formada por pais e
descendentes como tendo a mesma dignidade de família constitucionalmente
protegida (art. 226, § 4º); iv) é assegurada a prioridade absoluta à convivência
familiar (e não a origem biológica) à criança e ao adolescente (art. 227). (LÔBO,
2016).
Tais valores que foram reconhecidos pelo legislador constituinte e dispostos
na Constituição, permitiram identificar a afetividade implícita no texto constitucional,
tendo em vista que grande parte delas tiveram por objetivo, em ultima ratio, amparar
fenômenos subjetivos afetivos, que demonstraram a necessidade de
reconhecimento e proteção. Sendo assim, sustenta-se que, a partir da Constituição
de 1988, reconheceu-se implicitamente a afetividade no âmbito das disposições
constitucionais. (CALDERÓN, 2017).
Faz-se necessária a previsão de tais direitos pois o Estado possui obrigações
com a sociedade. Aquele precisa atuar visando auxiliar os indivíduos a realizarem
seus projetos, seus desejos. É preciso haver, para tanto, a criação de mecanismos
(políticas públicas) que cooperem para a felicidade das pessoas, munindo-se de
20

informações acerca do que é realmente importante para a satisfação da comunidade


e de seus indivíduos. Sendo assim, não obstante o fato de a Constituição não citar
as palavras afeto ou afetividade, isso não afasta o caráter constitucional de tal
princípio, estando, outrossim, diretamente relacionado ao da dignidade da pessoa
humana. (DIAS, 2021).
Embora o Código Civil de 2002 também não se utilize da palavra afeto, é
possível, com esforço, extrair da referida lei a elevação do afeto a valor jurídico. A
guarda em favor de terceira pessoa, prevista no art. 1.584 § 5º da lei civil pressupõe
e invoca relação de afetividade e afinidade para a sua definição em favor do infante.
Ademais, a posse de estado de filho também se mostra como o reconhecimento
jurídico do afeto, objetivando-se, no fim, a garantia da felicidade. (DIAS, 2021).
Isto se deu pois o Código Civil vigente fora desenvolvido em meados da
década de 1970 e, em razão de sua aprovação em momento posterior ao da nova
Constituição, necessário se faz o esforço a fim de se realizar uma hermenêutica que
interprete o Direito Civil à luz dos dispositivos constitucionais. Certo é, portanto, que,
no âmbito do Direito de Família, poucos foram os avanços no novo Código, tendo
em vista que o legislador optou por permanecer adotando um posicionamento
conservador em alguns aspectos, que resultou em dificuldades para os operadores
do Direito de Família. (CALDERÓN, 2017).
Percebe-se, portanto, que, dentre os princípios que orientam o Direito de
Família, não fora expressamente incluída a afetividade no Código Civil, mesmo com
a crescente e ampla construção doutrinária e jurisprudencial que, após 1988, já
defendia a sua presença implícita no ordenamento jurídico brasileiro. Não obstante,
um dos dispositivos que apresenta implicitamente a afetividade é o art. 1.593, que
dispõe que parentesco pode ser natural ou civil, isto é, resultando de
consanguinidade ou ainda de outra origem, admitindo, portanto, vínculos ―de outra
origem‖, o que evidentemente inclui a socioafetividade. (CALDERÓN, 2017)
Já no âmbito do direito positivado, há a Lei nº 8.069/90 – Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA), que faz menção expressa à afetividade ao definir a família
extensa (arts. 8° § 7°; 25 parágrafo único; 28 § 3°; 42 § 4°; 50 § 13 II; e 92 § 7º),
tendo o afeto recebido, portanto, status de valor jurídico, sendo base de sustentação
da família e elemento balizador e catalizador de seus vínculos. Além da própria
21

entidade familiar, o casamento adquiriu perfil voltado a realizar interesses afetivos e


existenciais de seus integrantes, evidenciando-se a concepção eudemonista de
família. (DIAS, 2021).
Aos juristas, cabe um olhar atento para a realidade, em razão da mobilidade
social e possibilidade de constante redefinição de significados jurídicos. Para tanto,
observar a preexistência de uma ordenação social familiar, que precede até mesmo
o Direito, é de suma importância para a percepção dos limites e possibilidades que
lhes são atribuídos. Nesse sentido, inúmeras manifestações indicam que a
afetividade é considerado relevante liame familiar atualmente, quer em
concomitância com o elo biológico ou registral ou não (CALDERON, 2017).
Nesse sentido, colaciona o professor Flávio Tartuce julgado do Superior
Tribunal de Justiça (STJ), da lavra da Ministra Nancy Andrighi, o qual conclui que o
afeto possui valor jurídico:

A quebra de paradigmas do Direito de Família tem como traço forte a


valorização do afeto e das relações surgidas da sua livre
manifestação, colocando à margem do sistema a antiga postura
meramente patrimonialista ou ainda aquela voltada apenas ao intuito
de procriação da entidade familiar. Hoje, muito mais visibilidade
alcançam as relações afetivas, sejam entre pessoas de mesmo sexo,
sejam entre o homem e a mulher, pela comunhão de vida e de
interesses, pela reciprocidade zelosa entre os seus integrantes. Deve
o juiz, nessa evolução de mentalidade, permanecer atento às
manifestações de intolerância ou de repulsa que possam porventura
se revelar em face das minorias, cabendo-lhe exercitar raciocínios de
ponderação e apaziguamento de possíveis espíritos em conflito. A
defesa dos direitos em sua plenitude deve assentar em ideais de
fraternidade e solidariedade, não podendo o Poder Judiciário
esquivar-se de ver e de dizer o novo, assim como já o fez, em
tempos idos, quando emprestou normatividade aos relacionamentos
entre pessoas não casadas, fazendo surgir, por consequência, o
instituto da união estável. A temática ora em julgamento igualmente
assenta sua premissa em vínculos lastreados em comprometimento
amoroso (STJ, RESP 1.026.981/RJ, 3.ª TURMA, REL. MIN. NANCY
ANDRIGHI, J. 04.02.2010,DJE 23.02.2010).

O afeto, portanto, deve ser fundamento jurídico para decisões de conflitos de


interesses no âmbito do Direito de Família. Por exemplo, foi editada a Lei nº
11.924/09 (―Lei Clodovil‖), que permitiu a inserção do sobrenome do padrasto ou
madrasta no nome do enteado, mediante decisão judicial, baseando-se no laço
afetivo decorrente da convivência. Ademais, a Lei nº 12.398/11 reconheceu o vínculo
22

de afeto entre avós e seus netos, e passou a garantir, por meio do parágrafo único
do art. 1.589 do Código Civil de 2002, o direito de visitas dos avós, à luz do melhor
interesse da criança e do adolescente. (FARIAS; ROSENVALD, 2016)
Todavia, a afetividade, estatuída como princípio jurídico, se dissocia da
concepção de afeto como fato anímico ou psicológico, porque aquela se presume
ainda que falte este último nas relações fáticas. Logo, a afetividade é um dever
imposto aos pais em relação aos filhos e vice-versa, ainda que, na realidade, haja
desamor ou desafeição. Entretanto, tal princípio deixa de incidir com a morte ou
perda da autoridade parental. Por outro lado, na relação entre cônjuges, a
afetividade incide enquanto houver afetividade real, que é pressuposto da
convivência. Ainda assim, o dever de assistência, que se mostra como um
desdobramento dos princípios da afetividade e solidariedade, pode projetar efeitos
para além da convivência, notadamente o de prestar alimentos e manter sigilo sobre
a intimidade e vida privada (LÔBO, 2016).
Certo é que, em decorrência da aplicação do princípio da afetividade,
compreende-se que o Direito Constitucional de Família brasileiro, além da ―tríade
casamento – união estável – núcleo monoparental‖ (STOLZE; PAMPLONA FILHO,
2022 p. 1.694), reconhece outras modalidades e arranjos familiares, notadamente a
união poli e homoafetiva. Quanto a esta última, ressalta-se inclusive que os autores
modernos preferem assim denominá-la, em detrimento da expressão ―união
homossexual‖, justamente pelo fato de que as pessoas que formam tal núcleo são
unidas pelo afeto e não só pela sexualidade. (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022).
Ao legislador, portanto, coube apenas o reconhecimento da entidade familiar,
mas não a sua delimitação feita por meio de conceituação técnica, que poderia
excluir quaisquer agrupamentos fora do ―padrão‖, sob pena de se caracterizar certa
discriminação normativa, indo de encontro a toda principiologia constitucional. No
mesmo sentido, sob o âmbito da afetividade, vêm se reconhecendo relações filiais
desbiologizadas, atenuando-se o entendimento de supremacia genética que advinha
do laudo de exame de DNA, mudança de paradigma que pode ensejar, até mesmo a
obrigação alimentar, conforme se depreende do Enunciado n. 341 da IV Jornada de
Direito Civil). (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022).
23

A hermenêutica do Direito de Família, observando-se o princípio da


afetividade, muito além da mera aplicação de uma interpretação racional-discursiva,
deve buscar compreender as partes que estão sob o crivo judicial, considerando e
respeitando suas diferenças e ressaltando os laços afetivos que as unem. ―Afinal,
nessa dialética harmoniosa, nenhuma família é igual a outra, e todas merecem,
igualmente, ser respeitadas‖. (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022 p. 1.699).
Por certo, a legislação de Direito de Família moderna não acompanhou
tempestivamente tamanho desenvolvimento das relações subjetivas entre os
indivíduos, bem como a crescente valorização da afetividade. Todavia, uma vez
alterada a experiência concreta e considerando que esta precede o Direito, forçoso
reconhecer que a mudança deveria advir do mundo jurídico, e não o oposto,
conforme já se chegou a afirmar. (CALDERÓN, 2017).
Com a mudança de paradigma da família, tendo a afetividade assumindo o
papel que antes fora destinado à família legítima e à ―verdade biológica‖, nasceu a
exigência de que fossem revistas as categorias, incumbida à parte do direito que
regula as famílias. Por esse motivo, nas últimas décadas, tanto a doutrina quanto a
jurisprudência, ainda que divergentes em alguns aspectos, concentraram-se na
busca de respostas para os conflitos advindos da nova roupagem familiar.
(CALDERÓN, 2017).

3.2 Direito de filiação e multiparentalidade

De acordo com Paulo Lôbo (2016), a filiação pode ser conceituada como a
relação de parentesco entre dois indivíduos, em que um deles possui autoridade
parental e o outro se vincula àquele por meio de origem biológica ou socioafetiva. Se
a relação for considerada em face do pai, trata-se de paternidade, mas, em face da
mãe, denomina-se maternidade. Ora, tal fenômeno decorre da concepção cultural,
que é resultado tanto da convivência familiar quanto da afetividade, razão pela qual
é abrangida a origem biológica e, agora, a não biológica.
O teor do artigo 1.596 do Código Civil expõe que os filhos, seja de origem
biológica ou não, possuem os mesmos direitos e qualificações, sendo vedadas
quaisquer discriminações. Tal dispositivo reproduz norma equânime advinda da
24

Constituição Federal e, ainda que não o fosse necessária tal reprodução, posto que
se trata de norma constitucional autoexecutável, a expressa menção à referida
equidade reforça sua natureza de fundamento, na tentativa de se afastar a
concepção de desigualdade entre filhos legítimos, ilegítimos e adotivos, que advinha
da família patriarcal baseada na redução de papel da mulher, filiação legítima e
funções de procriação e unidade econômico-religiosa, características marcantes da
sociedade anterior à Constituição de 1988 (LÔBO, 2016).
No Brasil, Segundo o professor Calderón, João Baptista Vilella, em 1979,
tratou pioneiramente do tema da afetividade a partir da paternidade, sustentando, já
em 1979, que o parentesco não se limitava às questões puramente biológicas,
defendendo que a paternidade ―em si mesma‖ é um fato cultural. Ressalta-se que,
tal tese, até o momento, era estranha aos juristas, isto é, a diferença entre ser
genitor e ser pai. Em que pese tal diferenciação atualmente possa parecer simples,
à época, foi importante para mostrar um caminho diverso ao biologismo, resultando
em novas possibilidades jurídicas. (CALDERÓN, 2017).
Distinguindo-se tais figuras, extrai o autor João Baptista Villela o que
efetivamente determinaria a paternidade, vinculando esta última à noção de
afetividade. Tal argumentação em favor da desbiologização da paternidade revela a
relevância do critério afetivo ao se examinar as questões de parentesco, sendo certo
que o autor em questão perpassava sua análise para as famílias no geral, conforme
se pode observar: (CALDERÓN, 2017).

As transformações mais recentes por que passou a família, deixando


de ser unidade de caráter econômico, social e religioso para se
afirmar fundamentalmente como grupo de afetividade e
companheirismo, imprimiram considerável reforço ao esvaziamento
biológico da paternidade. (VILELA, 1979, p. 401-19).

O que se vive, atualmente, no Direito Civil moderno é a constatação da


importância da maternidade ou paternidade biológica, mas se afastando, contudo, a
prevalência da verdade genética em detrimento da afetiva. Diz-se isto, pois há casos
concretos em que a filiação é construída com o decorrer do tempo, baseando-se na
socioafetividade, independentemente de qualquer genética, prevalecendo em
detrimento da verdade biológica e que reflete inclusive na jurisprudência do STJ
(STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022).
25

Nesse mesmo sentido, o Supremo Tribunal Federal (STF), por meio da


análise de repercussão geral sob o tema da parentalidade socioafetiva como
modalidade de parentesco civil, firmou tese não só no sentido de confirmar a
possibilidade do reconhecimento da socioafetividade como parentesco civil, mas
também de possibilitar a existência de vínculo afetivo e biológico de maneira
concomitante, isto é a ocorrência de múltiplos vínculos parentais, citado por Tartuce
(2021),

a paternidade socioafetiva declarada ou não em registro, não impede


o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante, baseada na
origem biológica, com os efeitos jurídicos próprios (RECURSO
EXTRAORDINÁRIO 898.060, ORIGINÁRIO DO ESTADO DE SANTA
CATARINA, COM REPERCUSSÃO GERAL, REL. MIN. LUIZ FUX, J.
21.09.2016, PUBLICADO NO INFORMATIVO N. 840 DO STF).

A paternidade socioafetiva, sob a perspectiva do filho, possui a face do


instituto da ―posse do estado de filho‖, no qual reconhece-se o vínculo de filiação
uma vez exteriorizada a convivência familiar e afetividade. Trata-se do popularmente
conhecido ―filho de criação‖, que não teve a adoção formalizada, mas que com o
comportamento familiar, é integrado no seio familiar de forma como se possuísse até
mesmo vínculo de consanguinidade. Isso ocorre pois, no âmbito do Direito de
Família, quando uma situação de afeto é consolidada, há de ser presumida a sua
existência para fins de prova em juízo, do mesmo modo que ocorre no âmbito da
filiação (STOLZE; PAMPLONA FILHO, 2022).
Construiu-se, portanto, uma doutrina que, em geral, acolheu a afetividade no
Direito de Família, de sorte que, conforme ensina o professor Flávio Tartuce, são
utilizados os critérios relativos à posse de estado de casados (art. 1.545 do Código
Civil) para a devida caracterização da posse do estado de filhos. O primeiro deles é
o tratamento (tractatus ou tractatio), isto é, se entre si e o meio social, os indivíduos
se relacionam como pais e filhos. O segundo critério, por sua vez, é a fama ou
reputatio, se caracterizando como o reconhecimento geral de tal situação
concretizada socialmente. Enfim, o terceiro critério, de caráter complementar e
acessório, há o nome (nomen ou nominatio), na hipótese em que o filho se utilize do
sobrenome do suposto pai – seja o nome registral civil ou social. (TARTUCE, 2021).
26

Assim, a título de ilustração, se o marido reconhece como seu o filho da sua


esposa, e assim passa a estabelecer um vínculo afetivo que perdura anos, uma vez
aperfeiçoada a afetividade, não há possibilidade de quebra de tais vínculos. Logo,
observa-se que, na doutrina do Direito de Família, a defesa da aplicação da
parentalidade socioafetiva é cada vez mais comum, e pode ser percebido a partir do
Enunciado abaixo transcrito. (TARTUCE, 2021).

Enunciado n. 103, da Jornada de Direito Civil: ―o Código Civil


reconhece, no art. 1.593, outras espécies de parentesco civil além
daquele decorrente da adoção, acolhendo, assim, a noção de que há
também parentesco civil no vínculo parental proveniente quer das
técnicas de reprodução assistida heteróloga relativamente ao pai (ou
mãe) que não contribuiu com seu material fecundante, quer da
paternidade socioafetiva, fundada na posse do estado de filho‖.
(BRASIL. Poder Judiciário I Jornada de Direito Civil. Brasília, 2002.
Disponível em: < https://www.cjf.jus.br/enunciados/enunciado/734>.
Acesso em: 04 set 2022.)

Extrai-se que os critérios utilizados para aferição de socioafetividade são


objetivos, baseados na convivência familiar e consolidação do estado de filiação,
que não pode ser desconsiderado caso haja os pais se afastem ou se arrependam
posteriormente. Por outro lado, em regra, não há que se falar em filiação
socioafetiva caso esta nunca tenha ocorrido no plano fático, como, por exemplo, se
o homem registrar filho de sua parceira ocasional, com o qual nunca conviveu
(LÔBO, 2016).
Uma das consequências da filiação socioafetiva é a obrigação alimentar. Uma
vez que a posse do estado de filho é uma forma de parentesco civil e não pode ir de
encontro ao melhor interesse do alimentando, há um óbice na possibilidade do
vínculo socioafetivo ser rompido quando houver a necessidade de verba alimentar.
Todavia, o filho também tem direito a alimentos dos pais biológicos na hipótese de
complementação de valores ou ainda quando os pais afetivos se encontrarem
impossibilitados de prestarem tal auxílio material. A tendência é, portanto, que se
reconheça a obrigação de prestar alimentos como sendo concorrente do pai
biológico e afetivo. (DIAS, 2021).
Logo, observa-se que o florescer da afetividade, segundo Maria Berenice
Dias, provocou mudanças ao ponto de alterar a nomenclatura do ramo do Direito
para ―Direito das Famílias‖, sendo certo que a mudança ocorreu não só sob o
27

aspecto da conjugalidade, mas também nos vínculos parentais, de modo que a


posse do estado de filho ensejou no reconhecimento da socioafetividade. Ademais,
a ascensão do afeto como atributo central ao se determinar o conteúdo jurídico do
direito de filiação possibilitou o acréscimo da expressão ―ou outra origem‖, no artigo
1.593 do Código Civil, que trata do parentesco (DIAS, 2021).
E, depois que o STF admitiu a coexistência da filiação socioafetiva com a
biológica, foi possibilitado o reconhecimento da multiparentalidade. Sob o enfoque
da obrigação alimentar, ressalta-se que, ainda que o filho possa receber alimentos
de ambos os genitores, ele também pode ser chamado a prestá-los em favor de se
seus pais, considerando-se a reciprocidade do instituto, e ainda dos parentes, em
razão da solidariedade familiar, conforme estatuído nos artigos 1.696 e 1.697 do
Código Civil. (DIAS, 2021).
Segundo Carlos Roberto Gonçalves, deve-se reservar o deferimento da
multiparentalidade para situações especiais, quando houver necessidade
incontestável de se harmonizar maternidade ou paternidade socioafetivas e
biológicas, isto até que a jurisprudência encontre solução para todas as
consequências jurídicas que advém dessa situação como, por exemplo, a
repercussão nos direitos à prestação de alimentos e sucessórios, o qual é
sobejamente ampliado, além dos direitos de convivência, guarda, visitação e
exercício do poder familiar, notadamente. (GONÇALVES, 2019).
28

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A temática em questão é necessária pois, em que pese as alterações sociais


possam parecer singelas se analisadas isoladamente pelos indivíduos do atual
estágio da modernidade, quando estudadas pelo sociólogo polonês Z. Bauman,
demonstraram forte alteração de bases e estruturas ocorrida até que se chegasse
no modelo de sociedade atual.
Tendo em vista que a ciência do Direito, especialmente de Família, é uma
ciência humana sensível às alterações sociais, cabe ao seu operador conhecer a
teoria em questão, a fim de justificar e/ou compreender as mudanças que
invariavelmente refletirão na aplicação da ciência jurídica.
Logo, é pertinente que a filosofia de Bauman norteie a aplicação e a
interpretação dos juristas também no âmbito das relações familiares, especialmente
no que se refere ao princípio da afetividade, que sofreu e permanece sofrendo fortes
alterações e influências diante das drásticas transformações sociais advindas de
uma sociedade líquido-moderna.
Tais alterações culminaram, sobretudo, na ideia de multiparentalidade que, a
partir de agora, faz parte da ordem jurídica brasileira face à necessidade de
prestígio, pelo Direito, aos fenômenos sociais e culturais, ante o dever do Estado de
promover a vida digna da pessoa humana, com base no basilar princípio
Constitucional.
Sendo assim, ao se analisar aspectos de intensa modificação na
modernidade líquida, quais sejam, a interação entre pais e filhos, a valorização do
afeto, bem como a possibilidade de coexistência de múltiplos vínculos parentais em
detrimento do que outrora parecia consolidado em sentido diverso, o operador do
Direito se vê apto a entender tais fenômenos e buscar soluções tanto para suas
implicações jurídicas, quanto para novos dilemas que surgirão a partir do modelo de
sociedade líquido-moderna.
Concluiu-se, portanto, com a presente pesquisa que as transformações
sociais da modernidade influíram fortemente nas mudanças de paradigma no âmbito
do Direito de Família, possibilitando mutações na efetivação de institutos de modo a
aplicar o ordenamento jurídico brasileiro à luz da afetividade.
29

REFERÊNCIAS

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