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FILOSOFIA V – A Modernidade e a Revolução Científica

AULA 1

Nosso objetivo fundamental é examinar o que


chamamos Modernidade. Primeiramente, esse momento do processo
histórico torna-se importante pelo período que ele abarca: vai do final do
século XIV (podemos demarcar arbitrariamente 1492, descobrimento da
América) até o século XIX. Sua importância também está definida pelo
fato de que ela surge na Europa, mas se estende por todo o planeta, em
decorrência de um fato político importantíssimo, o da colonização
europeia do mundo.
Em segundo lugar, veremos como parte decisiva para a caracterização da
Modernidade, o fenômeno da Revolução Científica, que tem um impacto
enorme em nossas vidas contemporâneas (impacto de natureza política,
econômica e social).

1.A MODERNIDADE, um rápido esboço

A Modernidade se caracteriza por uma ruptura com mundo feudal


medieval. Essa ruptura decorre da necessidade e desejo dos europeus com
a valorização da ação (política e econômica). Uma nova concepção de
homem surge: a do homo faber. Trata-se de desenvolver o comércio e a
manufatura; dos avanços na navegação, dos “encontros” além-mar, e da
colonização; das relações socias pré-capitalistas, determinadas pelo
renascimento da influência dos centros urbanos (burgos) e da necessidade
do aparecimento de um poder centralizado (Estados Nacionais); da cisão
na religiosidade cristã; de outra concepção de cosmos (o heliocentrismo) e
uma outra concepção de vida e mundo (antropocentrismo). Trata-se, não
mais da contemplação do mundo (natureza-cosmos-physis) dos gregos e
cristãos medievais, mas da intervir e atuar sobre o mundo.
Repare nas duas pinturas abaixo, uma medieval e outra da renascença: a da
esquerda, representa a vida de contemplação (leitura e estudo de textos
gregos e das Sagradas Escrituras); a outra, representa ação
de cálculo e acúmulo de riqueza (comércio)
Analise as imagens abaixo, que representam o encontro/desencontro entre
os europeus e outros povos. No caso dessas imagens, o encontro entre
Europa e África.

Imagens da colonialidade.
Peter Lely (1650)
Anthony Van Dyck (1634)
Fotógrafo não identificado. Senhora da família Costa Carvalho na liteira com dois escravos,
Bahia, c. 1860

2. A Revolução Científica

O termo revolução indica uma ruptura em relação a uma ordem anterior,


ou melhor, aos valores predominantes de mundo e vida anteriores. (A
própria ideia de revolução é um elemento recorrente em toda Modernidade)
Correlaciona-se com o significados de ultrapassamento, ultrapassar ou
transpor algo, ou seja, ir em direção a algo que precisa ser modificado em
relação ao que existe ( mas não necessariamente em direção a um futuro,
pois podemos ter uma revolução conservadora, isto é, um movimento em
direção ao passado.) Mas, o que se quer ultrapassar em direção a uma nova
ordem política, social, econômica, moral, religiosa? O mundo medieval-
aristotélico. Que mundo é esse?
2.1.O mundo medieval-aristotélico

O cosmos medieval-aristotélico deve ser compreendido como totalidade de


um modo de viver e compreender o mundo, o que implica conhecer o
mundo. Uma das formas de compreensão deste mundo diz respeito à
natureza (physis).

2.1.1 Cosmos (natureza) e Movimento


Os medievais herdaram a concepção de natureza grega, como aquela
constituída de ordem e perfeição a partir do movimento dos seres. Repare
que mover-se era compreendido como a tendência que cada ser carrega em
si para alcançar sua perfeição, sinônimo de estabilidade. Por exemplo: a
semente “move-se” para realizar sua perfeição (sua potencialidade), isto é,
transformar-se em árvore, plenamente. Isto que dizer que a árvore é
a realização da semente. A árvore torna-se “estável” porque alcançou
o fim a que se destinava Quanto mais estável for um ser, mas perfeito será.
Assim, os astros do céu que, quando os observamos a olho nu, não
conseguimos notar grandes mudanças ou transformações, seriam mais
perfeitos, lá no alto, que os seres que nos cercam, aqui em baixo, sujeitos
a todo tipo de transformações/mudanças permanentes.

“Nesse universo fechado e finito, cada ser possuiria uma natureza (‘uma
qualidade’) – que lhe é própria e que determinaria seu lugar nessa
hierarquia. Assim, todos os seres, dos mais aos menos perfeitos, teriam o
seu lugar próprio no universo, conforme sua qualidade.” (Maria Célia de
Moraes)

O movimento de um corpo acabaria quando ele chegasse a sua “perfeição”,


ou seja, ao seu lugar natural. Uma pedra, por exemplo, atirada para o
alto, realizaria sua natureza no lugar que lhe é absolutamente próprio, a
Terra, o baixo e, assim, alcançaria estabilidade. Todo corpo pesado
tenderia naturalmente para baixo, realizando assim sua natureza de corpo
pesado.
Assim, podemos deduzir que o movimento, (e a própria realização dos
seres) tem com pressuposto, a estabilidade e, por isso, a perfeição. É o que
se chama concepção de cosmos qualitativa. (Repare nesta “curiosidade”:
Deus seria o símbolo da perfeição, pois sendo causa final de tudo, não
poderia ser causado!)
Portanto, do ponto de vista da astronomia medieval-aristotélica, os corpos
celestes tendem à estabilidade, isto é, à imobilidade e são observados da
Terra, lugar naturalmente privilegiado – o centro - para a observação
“ingênua”, aquela percebida diretamente pela visão. (É aqui que “a porca
torce o rabo”: a visão imediata do mundo natural).

2.2 Um novo céu, uma nova terra: Copérnico, Kepler e Galileu.


Nicolau Copérnico (1473 – 1543) compreendeu, estudando antigos
astrônomos, que o geocentrismo (A Terra como centro cósmico) era apenas
um modelo dentre outros, mas que se tornou hegemônico (preponderou
sobre outros). A partir de um processo de abstração de cálculos
matemáticos, vai formulando hipóteses para configurar
outro modelo possível para compreender a natureza (ou cosmos). O
modelo heliocêntrico, o Sol no centro e os movimentos de rotação (da
Terra) e de translação (da Terra em torno do sol). Acrescenta-se a isso, a
contribuição de Kepler (1571 – 1630) ao demonstrar, também
matematicamente, complementando o modelo copernicano, os
movimentos elípticos de todos planetas. (Pois, o movimento circular dos
planetas era concebido apenas por ser o círculo a figura geométrica
perfeita!). Aqui temos o pulo do gato! assumindo esse modelo, a
compreensão da natureza (cosmos) torna-se mais eficaz, mais refinada,
mais precisa uma vez que o modelo se aproxima da concepção matemática
presente em suas observações mediadas por instrumentos.

Aula 2

1. Do espaço fechado ao universo infinito: Galileu.

Devemos notar, a partir da temática do movimento, que a compreensão do


universo ganha um novo entendimento quando esses astrônomos criam um
novo modelo de cosmos: um novo centro que não é estático e que não é
único.
Esse modelo, estabelecido por “observações matemáticas”, isto é, por um
método que se utiliza da mensuração e da precisão, pode ser estendido para
todo o universo, que não é mais fechado e limitado. Nem teológico ou
astrológico. A terra não é mais centro, por um lado; por outro, com a
matemática, ocorre a matematização do espaço. Nas palavras de Galileu, a
filosofia está...

O Método aplicado sistematicamente por Galileu tem as seguintes etapas:

 ·Primeiro: a observação imediata do fenômeno na sua complexidade


(observações cuidadosas)

 ·Segundo: quantificar essa complexidade da observação, isto é,


matematizar e, portanto, simplificar.

 ·Formular uma hipótese explicativa

 ·Verificar a hipótese como cálculo e experimento - experimentação.

Porém, as observações serão feitas, em grande parte, por instrumentos


científicos (tecnologias) que serão, os nossos olhos não-humanos, não
corpóreos, “dessubjetivados”, “neutros”: A luneta, o microscópio, enfim,
o laboratório, seja ele do que for...
“Com as descobertas de Galileu, o homem perdeu o seu lugar no Universo,
a certeza dos céus depois da morte e de sua medicina astrológica. Perdeu a
segurança de seu mundo ordenado... abalaram profundamente toda a
legitimação metafísica [filosofia aristotélico-medieval] e a teologia,
construída pela Igreja para manter sua estrutura de poder...” (Maria Célia
de Moraes)

Pieter
Bruegel, o Velho – JOGOS INFANTIS (século XVI)

1.1. A geometrização do espaço: Ciência e Arte

“A arte acompanha as revoluções da ciência. Leon Battista Alberti (1406-


1472), arquiteto italiano, sistematizou as primeiras regras acerca do efeito
de profundidade para o observador. No seu tratado Da Pintura(1435), ele
diz que a obra deve ser vista como uma janela sobre o mundo e que o
artista tem que conhecer geometria para reproduzir no plano
bidimensional da tela a tridimensionalidade do real. Uma pintura deveria
ser como uma pirâmide visual, respeitando as relações de distância
através do estabelecimento de um centro fixo e de uma certa posição de
luzes. A arte desenvolve, portanto, a noção de perspectiva através da
matemática.” (Charles Feitosa – Fazendo filosofia com arte)

Observe as duas imagens a seguir e analise-as com seu colegas, observando


suas diferenças em relação a construção do espaço da pintura que elas
mostram
“Anunciação”, Duccio di Buoninsegna - Pintor Italiano (1255-1319)

"A Anunciação" - Leonardo da Vinci. Pintor renascentista italiano (1452-1519)

Na próxima aula, veremos o problema do descentramento da terra, como


lugar privilegiado do olhar “ingênuo” do homem e o nascimento de
um olhar sem corpo.
Vejam os seguintes filmes que os ajudarão a entender um pouco (afinal,
são ficções) do que estamos tratando: Ágora (ou Alexandria), O Nome da
Rosa e Cosmos.
https://www.youtube.com/watch?v=OD2VWJ97Fxg
https://ok.ru/video/34855324274
https://www.youtube.com/watch?v=kgsz7AGNIyU&pbjreload=10

Alexandria Ágora 2011 Dublado

Cosmos Carl Saga3 - A Harmonia dos Mundos Dublado em PT-BR


AULA 3 - FINAL

Veremos uma parte complexa de nosso conteúdo, porém muito fascinante.


Nela poderemos deduzir o fato de a ciência e a tecnologia deterem
contemporaneamente tanto poder... inclusive político!

***
O que vocês devem ter compreendido, até este momento, é que a ideia de
um mundo cultural “fechado” dá lugar a um mundo culturalmente “aberto”.
Especificamente em relação ao universo, os astrônomos foram os primeiros
a criar um modelo de mundo, isto é, uma perspectiva nova que leva em
consideração dois elementos fundamentais: não há centro (ao menos de
modo absoluto) e o espaço é infinito (pois pode ser geometrizado).
Imagine, então, do ponto de vista da revolução cultural que tais elementos
suscitaram: o pavor do descentramento/não-centramento e o sentimento de
“vazio” e silencio como no poema de Paulo Leminsk:

O Silêncio de Pascal
“O silêncio desses espaços
infinitos me apavora "
Blaise Pascal
os pensamentos estraçalhados de
Pascal
são a crise de uma consciência
excepcional
no limiar de uma nova era
o místico Pascal
contempla o céu estrelado
numa vã espera de vozes
o céu calou-se
estamos sós no infinito
deus nos abandonou
"daquela estrela à outra
a noite se encarcera
em turbinosa vazia desmesura
daquela solidão de estrela
àquela solidão de estrela "
(leopardi via haroldo de campos)
nenhum ufo
no close contact of the third kind
a solidão " cósmica " de Pascal
é o pendant do vazio
de sua classe social
cuja hegemonia está para terminar
os germes da revolução francesa
que vai derrubar a nobreza
e colocar a burguesia no poder
já estão no ar
Pascal ouve nos céus
o tremendo silêncio
de uma classe que já disse
tudo que tinha a dizer
pela boca da história.
p leminski

Ou seja, as ideias de “realidade”, “razão”, “conhecimento”, “indivíduo”,


“Deus”, “Natureza”, etc., ficam “no ar”, são fontes de indecisão, como se
a acultura europeia estivesse em uma encruzilhada. Mas também há dúvida
sobre o lugar e destino do ser humano no Universo.
Sair desse impasse, para que o homem não seja levado à inação e, assim, à
melancolia, faz a modernidade buscar um novo centro, por um lado; e, por
outro, não sucumbir ao pavor pelo infinito.
A Representação

Se não posso mais, como bem mostrou Galileu, me fundamentar na minha


experiência corporal imediata é porque meus olhos –– e por extensão ––
meu corpo não me fornece um conhecimento seguro, no sentido de ser
mais apurado, mais sofisticado, mais racional (mais preciso) em ralação ao
novo modelo de mundo (descentrado-infinito) que esta sendo pensado.
(Ver imagem de relógio atômico)
Porém, -– se posso construir um modelo e uma perspectiva mais precisa do
conhecimento (e, portanto, sem as ilusões do corpo), se observo, desde
então, o real através de tecnologias, como se fossem próteses (o telescópio
é um exemplo) que ampliam/modificam minha capacidade de percepção
de fenômenos, impossíveis de serem vistos de outra forma, –– o que faço
de fato consiste em construir representações da realidade. Ou seja,
construções de hipóteses. Elas serão confirmadas (ou não) a partir (e
somente a partir) da sofisticação e precisão das tecnologias e dos
laboratórios. Em outras palavras, a rigor não mais “observo” com este meu
corpo (impreciso), mas através dos olhos físico-matemáticos de
um Sujeitodistanciado do mundo, este, doravante, tornado Objeto, ou
melhor, mundo objetificado. Objetificação feita através de um método. (É
por isso que se costuma dizer que a ciência éobjetiva). Que sujeito é este?
É o que produz o conhecimento, objetiva o mundo...

“... sujeito do conhecimento [que] estará em nenhuma parte no espaço, ou


ainda, fora do campo perceptivo. De direito, ele é incorporal, sujeito
acósmico, ele é o princípio de uma não participação, de uma retirada, de
um afastamento em relação ao mundo. (...)” (Edições didáticas do CPII)

Este Sujeito passa a ser o novo centro, pois é ele que constrói
matematicamente a cena do mundo. Eis o seu poder! O mundo é o
espetáculo criado por ele e para ele. Este Sujeito, porém, está sempre
ausente da cena (exterior em relação a ela)
Os exemplos, na Modernidade, são muitos. Politicamente, a figura “neutra”
do Estado; a figura abstrata e “desinteressada” do Cientista, e etc.

Olhamos o que o pintor quer que olhemos? A princípio, sim. Mas ele, assim
como aquele que produz conhecimento científico –– o Sujeito do
Conhecimento –– leva em conta produzir a imagem de tal modo a nos
concentrarmos na imagem, no realismo (objetividade ?) produzido pela
construção da perspectiva, que nos “ilude” prazerosamente com a
profundidade, com a atmosfera da paisagem. O pintor se “oculta” com seu
realismo. Mas esse quadro, do pintor de paisagens, o norte-americano
George Inness (1824 -1895) foi encomendado por uma companhia
ferroviária para servir de propaganda. Acontece que a ferrovia estava
inacabada. A solução do pintor foi esconder o inacabamento da ferrovia,
que não iria “cair bem” na propaganda, com os rolos de fumaça da
locomotiva. O filósofo brasileiro Charles Feitosa se pergunta: Mas estaria
a mentira nos trilhos de fantasia ou muito mais na tentativa de reduzir a
arte à propaganda, vendendo a imagem como se fosse uma reprodução fiel
da paisagem?
De qualquer forma esta pintura (ou propaganda?) é uma forma de
representação na qual é plenamente expresso todo o poder de uma
representação: quem a produz se oculta eficazmente pela técnica de não
aparecer como alguém que voluntariamente produziu...

Bem... Acabaram-se as aulas virtuais. Qual dúvida, é so me enviar um e-


mail

Na minha volta, a avaliação se constituirá na apresentação de seminários.


Não sei quantos são os grupos. Imaginei os seguintes temas a ser
apresentados pelos grupos:

1. O que foi o feudalismo?

2. O que foi o renascimento?

3. O que é a Modernidade?

4. O que foi a revolução Científica?

5. Quem foi Galileu e qual sua importância para a Revolução


Científica?

6. O que é o método científico?

7. Análise do capítulo 3: A ciência e a Arte - p35 a 41

Gostaria que me enviassem o número de grupos e componentes (se


possível até 4 alunos) das duas turmas!

Obrigado a todos e todas.


Grande abraço para toda a turma.

IFRJ 204-A <somostodosif@gmail.com> qua, 4 de out de 2017


19:40
para eu

Professor, boa noite. Recebemos todos os materiais. Mandaremos os


grupos assim que estiverem decididos.

Livre de vírus. www.avg.com.

qui, 5 de out de 2017


Antonio Castro Alves <antonio.alves@ifrj.edu.br>
12:04
para IFRJ

Olá, Laís

Muito obrigado pela ajuda! Peço-lhe um último favor: peça para um aluno
da turma B (com quem a sua turma dialogue...rsrsrs) me enviar algum sinal
de vida, isto é, se receberam os meus e-mails, ok?
Muito obrigado e

grande abraço pra vc. e para toda a turma


(Espero voltar o mais rápido possível!)

IFRJ 204-A <somostodosif@gmail.com> qui, 5 de out de 2017


19:46
para eu

Olá professor! Aqui estão as relações entre os grupos formados e os temas.


Obs: Resolvemos fazer 6 trios e 1 quarteto para abordarmos todos os
temas.
Grupo 1: Laís, Dafne e Carolayne - Tema 2: O que foi o renascimento?
Grupo 2: Mayara, Sara Carvalho, Gabriella e Beatriz - Tema 7: Análise do
capítulo 3: A ciência e a Arte - p35 a 41
Grupo 3: Lucas Gabriel, Lucas Berriel e Eliseu - Tema 5: Quem foi Galileu
e qual sua importância para a Revolução Científica?
Grupo 4: Pétrison, Samuel e Matheus - Tema 6: O que é o método
científico?
Grupo 5: Sara Fagundes, Andrezza e Juan - Tema 4: O que foi a revolução
Científica?
Grupo 6 Walmir, Daniel e Yuri - Tema 1: O que foi o feudalismo?
Grupo 7: Isabel, Giovanna e Luiz Fernando - Tema 3: O que é a
Modernidade?
Já enviei mensagem para uma das alunas da turma B, logo logo eles devem
entrar em contato com o senhor.
Abraços, melhoras, bom descanso e volte logo!

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