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Na teoria de Copérnico, a Terra move-se em torno do Sol.

Mas, seus dados foram


corrigidos pelas observações de Tycho Brahe. Com base nelas e em seus próprios
cálculos, Johannes Kepler reformou radicalmente o modelo copernicano e chegou a
uma descrição realista do Sistema Solar. Esse fenômeno já havia sido estudado e
defendido pelo bispo de Lisieux, Nicole d'Oresme, no século XIV. O movimento da
Terra era negado pelos partidários de Aristóteles e Ptolomeu. Eles argumentavam
que, caso a Terra se movesse, as nuvens, os pássaros no ar ou os objetos em queda
livre seriam deixados para trás. Galileu Galilei combateu essa ideia, afirmando que, se
uma pedra fosse abandonada do alto do mastro de um navio, um observador a bordo
sempre a veria cair em linha reta, na vertical. E, baseado nisso, nunca poderia dizer se
a embarcação estava em movimento ou não. Caso o barco se movesse, porém, um
observador situado na margem veria a pedra descrever uma curva descendente –
porque, enquanto cai, ela acompanha o deslocamento horizontal do navio. Tanto um
observador quanto o outro constataria que a pedra chega ao convés exatamente no
mesmo lugar: O pé do mastro. Pois ela não é deixada para trás quando o barco se
desloca. Da mesma forma, se fosse abandonada do alto de uma torre, a pedra cairia
sempre ao pé da mesma – quer a Terra se mova ou não.

O cardeal São Roberto Belarmino presidiu o tribunal que proibiu a teoria copernicana.
Culto e moderado, ele conseguiu poupar Galileu. Estimulado pelo novo papa Urbano
VIII, seu grande admirador, o cientista voltou à carga. Mas o Papa sentiu-se
ridicularizado num livro de Galileu. E isso motivou sua condenação.
A teoria do modelo heliocêntrico, a maior teoria de Copérnico, foi publicada em seu
livro, De revolutionibus orbium coelestium ("Da revolução de esferas celestes"),
durante o ano de sua morte, 1543. Apesar disso, ele já havia desenvolvido sua teoria
algumas décadas antes.
O livro marcou o começo de uma mudança de um universo geocêntrico, ou
antropocêntrico, com a Terra em seu centro. Copérnico acreditava que a Terra era
apenas mais um planeta que concluía uma órbita em torno de um sol fixo todo ano e
que girava em torno de seu eixo todo dia. Ele chegou a essa correta explicação do
conhecimento de outros planetas e explicou a origem dos equinócios corretamente,
através da vagarosa mudança da posição do eixo rotacional da Terra. Ele também deu
uma clara explicação da causa das estações: O eixo de rotação da terra não é
perpendicular ao plano de sua órbita.
Em sua teoria, Copérnico descrevia mais círculos, os quais tinham os mesmos
centros, do que a teoria de Ptolomeu (modelo geocêntrico). Apesar de Copérnico
colocar o Sol como centro das esferas celestiais, ele não fez do Sol o centro do
universo, mas perto dele.

Folha de rosto do livro De revolutionibus orbium coelestium


Do ponto de vista experimental, o sistema de Copérnico não era melhor do que o
de Ptolomeu. E Copérnico sabia disso, e não apresentou nenhuma prova
observacional em seu manuscrito, fundamentando-se em argumentos sobre qual seria
o sistema mais completo e elegante.
Da sua publicação, até aproximadamente 1700, poucos astrônomos foram
convencidos pelo sistema de Copérnico, apesar da grande circulação de seu livro
(aproximadamente 500 cópias da primeira e segunda edições, o que é uma
quantidade grande para os padrões científicos da época). Entretanto, muitos
astrônomos aceitaram partes de sua teoria, e seu modelo influenciou muitos cientistas
renomados que viriam a fazer parte da história, como Galileu e Kepler, que
conseguiram assimilar a teoria de Copérnico e melhorá-la. As observações de Galileu
das fases de Vênus produziram a primeira evidência observacional da teoria de
Copérnico. Além disso, as observações de Galileu das luas de Júpiter provaram que o
sistema solar contém corpos que não orbitavam a Terra.
O sistema de Copérnico pode ser resumido em algumas proposições, assim como foi
o próprio Copérnico a listá-las em uma síntese de sua obra mestra, que foi encontrada
e publicada em 1878.
As principais partes da teoria de Copérnico são:

 Os movimentos dos astros são uniformes, eternos, circulares ou uma


composição de vários círculos (epiciclos).
 O centro do universo é perto do Sol;
 Perto do Sol, em ordem,
estão Mercúrio, Vênus, Terra, Lua, Marte, Júpiter, Saturno, e as estrelas
fixas;
 A Terra tem três movimentos: rotação diária, volta anual, e inclinação anual
de seu eixo;
 O movimento retrógrado dos planetas é explicado pelo movimento da
Terra;
 A distância da Terra ao Sol é pequena se comparada à distância às
estrelas.
Se essas proposições eram revolucionárias ou conservadoras era um tópico muito
discutido durante o vigésimo século. Thomas Kuhn argumentou que Copérnico apenas
transferiu algumas propriedades, antes atribuídas a Terra, para as funções
astronômicas do Sol. Outros historiadores, por outro lado, argumentaram a Kuhn, que
ele subestimou quão revolucionárias eram as teorias de Copérnico, e enfatizaram a
dificuldade que Copérnico deveria ter em modificar a teoria astronômica da época,
utilizando apenas uma geometria simples, sendo que ele não tinha nenhuma evidência
experimental.
O conceito de aparência nesta primeira fase de Nietzsche, que aparecera em diversos texto
desta fase, ganha maior destaque em sua obra: “O Nascimento da Tragédia” (1992). Nela ele
tenta mostrar como a vida e suas pulsões se manifesta por meio das formas; como ela é morta
por meio das formas racionais, e como ela renasce no espírito da música de Wagner. Nele há
uma “[…] oposição estabelecida entre aquilo que Nietzsche denominou uma consideração
trágica do mundo e uma consideração teórica do mundo.” (MENDONÇA, 2020, p. 30). Essas
considerações tanto são opostas quando oscilou nos períodos históricos do ocidente. Uma se
manifesta por meio das formas racionais e a outra por meio das formas artísticas.

Esta aparência e o mundo que aparece, que vem ao nosso encontro nas formas subjetivas do
espaço e do tempo. O mundo, na medida em que realmente e, na medida em que e a ≪coisa
em si≫, não se encontra fragmentado ‘na multiplicidade, é vida não diferenciada, mare única.
A multiplicidade de tudo quanto existe e aparência, e mera aparição, na verdade tudo e uno.
(FINK, 1983, p. 24)
A consideração trágica tem sua atuação entre o período mitológico e o surgimento da arte
trágica, como manifestação da vida e seus impulsos. A consideração teórica do mundo tem
início com a parceria de Eurípides e Sócrates. Entretanto é Sócrates que vai inaugurar esta
consideração. “A ligação entre Sócrates e Eurípides é apresentada por Nietzsche como a ponte
que teria levado a razão ao seu trinfo […]” (MENDONÇA, 2020, p. 73). A concepção teórica do
mundo inaugurada por Sócrates cria a filosofia como sua principal defensora e propagadora
das ideias e do método racional. Com ela surge a corrente e a tendência racionalista que
desenvolverá toda a tradição filosófica do pensamento ocidental.

Esta consideração de mundo só começa a ruir, quando houver o processo de aniquilamento da


“[…] pretensão socrático-racional quanto à validade universal de seus princípios e depois de
comprovados os limites da razão é que se poderia nutrir a esperança de um redespertar da
consideração trágica do mundo.” (MENDONÇA, 2020, p. 33). Aqui Nietzsche apresenta que o a
aniquilação que destruiu a arte trágica, como manifestação da consideração trágica do mundo,
é o mesmo que destrói os princípios racionais, manifestação da consideração teórica do
mundo. O homem teórico começa a ruir, dando início ao homem trágico.

Nietzsche identifica que tanto nos processos de construção e atuação física e psíquica do ser
humano e nos processos de construção e atuação do mundo, tudo se daria dentro desse
processo de criação e destruição, resultado da manifestação e aniquilamento das
considerações que opõe entre si. Para expressar essa nova concepção ontológica da realidade
ele remete “[…]às filosofias de Kant e Schopenhauer […] (MENDONÇA, 2020, p. 22), que
constituía a “[…] atmosfera conceitual que circundava a redação do livro, ao fato de Nietzsche
ter encontrado expressão formal para seu pensamento[…] (MENDONÇA, 2020, p. 22). Utiliza o
aparato linguístico de Kant e Schopenhauer para assim expressar seu pensamento. Eles são
utilizados por Nietzsche, porque naquele momento consegue expressar bem o seu
pensamento, coisa que ele vai discordar tempos depois.

A filosofia dos dois tanto coloca em questão da limitação dos princípios racionais, ruindo assim
com a herança socrático-platônico do pensamento filosófico, quanto aponta para a existência
de uma realidade que é mais fundamental que a razão, do que ela não é capaz de expressar; já
que sua estrutura só consegue captar e perceber formas e aparências, mas nunca a coisa em
si. Kant identifica essa limitação da razão, que não consegue captar, perceber e apreender a
coisa em si, coisa esta que se encontra totalmente desprovido de formas. Entretanto ele não
conseguiu dizer o que seria essa coisa em si, e nem muito menos como expressá-la. É aí onde
entra o pensamento pessimista de Schopenhauer, do qual Nietzsche utiliza, no intuito de
formular sua teoria trágica do mundo. Vemos isso na afirmação de (MENDONÇA, 2020, p.
33,34) “Kant e Schopenhauer teriam sido responsáveis pelo surgimento de condições críticas
no campo filosófico a partir das quais Nietzsche identifica a possibilidade de retorno ao modo
trágico de lidar com o mundo, que teria sido recalcado a partir de Sócrates”. Os dois abra toda
uma dimensão de discussão filosófica, possibilitando refletir sobre a fragilidade da razão, os
impulsos caóticos da existência e a transposição do princípio da coisa em si, para a natureza.
Nietzsche usa os conceitos de aparência e coisa em si, de Kant; e o conceitos de vontade e
representação de Schopenhauer, para assim cunhar seus conceitos de Uno-primordial e
aparência, que se desenvolvem e expandem, nos princípios estéticos da natureza (polínio e
dionisíaco) e nos princípios estético-psíquicos (sonho e embriaguez). Ele retoma a linguagem
filosófica dos dois, para expressar seu pensamento filosófico, ideias que já circulavam na
atmosfera intelectual de sua época, e que agora se manifesta de uma outra perspectiva. Então
as ideias trágicas e a linguagem, para manifestá-la, já circulavam em torno dele, determinando
assim o seu uso. Por isso que o conceito de aparência era tão caro para o jovem Nietzsche, a
ponto de retomá-lo como linguagem de expressão de sua teoria trágica. Podemos perceber
isso na citação abaixo:

Não há interior e exterior no mundo. — Assim como Demócrito transferiu os conceitos de “em
cima” e “embaixo” para o espaço infinito, onde não têm sentido algum, os filósofos
transportam o conceito de “interior e exterior” para a essência e a aparência do mundo;
acham que com sentimentos profundos chegamos ao profundo interior, aproximamo-nos do
coração da natureza. Natureza. Mas esses sentimentos são profundos apenas na medida em
que com eles, de modo quase imperceptível, se excitam regularmente determinados grupos
complexos de pensamentos, que chamamos de profundos; um sentimento é profundo porque
consideramos profundo o pensamento que o acompanha. Mas o pensamento profundo pode
estar muito longe da verdade, como, por exemplo, todo pensamento metafísico; se retiramos
do sentimento profundo os elementos intelectuais a ele misturados, resta o sentimento forte,
e este não é capaz de garantir, para o conhecimento, nada além de si mesmo, tal como a
crença forte prova apenas a sua força, não a verdade daquilo em que se crê. (NIETZSCHE,
2000, p. 16)

Podemos ver na citação acima, como Nietzsche começa sua discussão sobre o conceito de
aparência e como estamos tão imersos em sua ilusão, aponto de ser enganado com a sedução
das formas e do prazer que elas nos causam. Tais experiências são provindas de seu cotidiano.
É nesse cotidiano que o homem se depara com um mundo repleto de imagens, formas,
sabores, sons, espessuras e cheiros. Isso provoca nele uma tempestade de sensações, do qual
não se compreende. Entretanto isso leva-o a ter a experiência com um mundo que não está
fora, mas dentro dele; já que ele só tem experiência com aquilo que seus sentidos têm
contato. Ter a experiência com as sensações e com as imagens produzidas pelo contato com o
mundo externo, faz ele perceber e construir a imagem e o conceito de mundo interno. O que
ele ver e o que ele sente construirá as imagens espaciais de dentro e fora, de interior e
exterior. Essas imagens mentais transportariam para os conceitos de aparência e essência.
Assim fala Nietzsche em sua obra: “Sobre Verdade e Mentira no Sentido Extra Moral’: “[…]
uma excitação nervosa convertida numa imagem mental e, em seguida, a transposição de tal
imagem […]” (NIETZSCHE., 2012, p. 14). É exatamente essa “excitação nervosa” que provoca
uma representação dela na mente.

Então podemos perceber que a imagem que foi criada para interpretar a sensação que chegou
aos sentidos, não passa de uma aparência carregada de sensação, afetos, impulsos. O contato
com as coisas do mundo externo produz algo interno, algo completamente novo, a única coisa
existente para o homem; já que o mundo em si ele não sente, o que sente é a imagem que seu
mecanismo sensitivo e cognitivo produziu para formular uma compreensão para ele. Também
não sente as estruturas que produz tais imagens, já que elas não expandem produzindo
impulsos de si mesmo, por isso o homem não teria contato com as estruturas de si mesmo e
nem do mundo. A única coisa que ele tem acesso são aos seus impulsos, afetos, aquilo que
vibra no homem. As estruturas não vibram, não pulsionam, elas são estáticas, elas são em si.

La sensación no es un resultado de la célula, sino la célula es un resultado de la sensación, es


decir, una proyección artística, una imagen. Lo sustancial es la sem sación, lo aparente es el
cuerpo, la materia. La intuición tiene sus raíces en la sensación. Relación necesaria entre dolor
e intuición: el sentimiento no es posible sin un objeto, el ser-objeto es ser-intuición. El proceso
primordial es éste: la voluntad única del mundo es al mismo tiempo autointuición (NF/FP 1869
– 1874, 7 [168])

Esses afetos, sentimentos, essa força, essa vontade de torna-se, quando chega nos sentidos
humanos, deseja expandir, sobreviver. Entretanto eles não têm como transportar dos
sentidos. Esta força que tenciona para a vida, aciona o intelecto e sua capacidade de ilusão. Os
sistemas que compõe o ser humano precisam dar uma resposta ao que está sendo sentido nas
esferas inferiores. Algo pulsa no corpo e é necessário identificar o que é. Entretanto não é
possível o intelecto fazer tal identificação, pois sua função não é essa, seu objetivo é manipular
aquela sensação para poder criar outra de acordo com os seus propósitos. Somente “com o
mundo orgânico começaria a “aparência” (Schein)” (MÜLLER-LAUTER, 1997 p. 118), pois ela é
o resultado da necessidade se manifestar e o meio possível de expressão.

É a partir disso que há a captura das impressões, para só assim poder matar, petrifica,
mumifica e conserva na forma de conceito. Podemos ver isso no seguinte fragmento:
“portanto ela [a impressão] é petrificada: por meio de conceito, a impressão é capturada e
isolada, e, depois de morta e esfolada, é mumificada e conservada enquanto conceito” (NF/FP,
1869-1874, 19 [228]). As impressões tornam a base, a matéria prima dos conceitos, é por meio
delas que os conceitos passam a existir, ganhando assim sua forma, pois toda forma só é
possível se tiver uma energia pulsional para reter. “Não há, porém, quaisquer expressões
‘próprias’, assim como, sem metáfora, não há nenhum conhecer propriamente dito” (NF/FP,
1869-1874, 19 [228]). O conhecimento depende exclusivamente de pulsões que são
convertidos em ideias e conceitos.

Em sua obra “Verdade e Mentira no Sentido extra Moral”, Nietzsche faz uma relação bem
interessante em associar o conceito a um cemitério intuições, afirma ele: “[…] sobre aquele
enorme columbário de conceitos, cemitério das intuições, sempre construído novos e mais
elevados pavimentos[…]” (NIETZSCHE., 2012, p. 45). É interessante o fato de Nietzsche definir
os conceitos como sepulturas onde guarda as cinzas das impressões, dos afetos, dos
sentimentos. E ele não retém para poder transportar todo o impulso vivo, mas para matá-lo,
pois só assim o intelecto poder criar suas formas sobre a base dos restos mortais dos impulsos.
Os conceitos por si mesmo não teriam essência e nem base, seriam apenas formas vazias, se
houvesse a possibilidade de surgirem sem os impulsos. É o que Nietzsche fala em um
fragmento póstumo de 1870: “O conceito no primeiro momento de sua formação é um
fenômeno artístico a simbolização de uma completa profusão de aparências, originalmente
uma imagem, um hieróglifo” (NF/FP, 1869-1874, 8 [41])[2]. Eles necessitam dos impulsos para
que possam ser o conteúdo pelo qual os conceitos se fixam. Cada conceito é um impulso
morto sob suas paredes, que nunca teremos acesso, pois além de estar morto, e não ter mais
nenhuma atividade ou ação, só é possível ter acesso as formas produzidas pelo intelecto.
Quando operamos e articulamos conceitos estamos combinando sepulturas cheia de impulsos,
fria e vazias.

Além do intelecto produzir dissimulações para o indivíduo, no intuito de construir um mundo


fictício, ordenado, controlado e sem desmedida, ele também utiliza das ilusões já criada e
produz grandes estruturas e edifícios com essas pequenas ilusões. Por muito tempo se “[…]
acreditou nos conceitos e nomes de coisas como em aeternae veritates [verdades eternas], o
homem adquiriu esse orgulho com que se ergueu acima do animal: pensou ter realmente na
linguagem o conhecimento do mundo.” (NIETZSCHE, 2000, p. 13). Falsa ilusão que os
conceitos, as verdades e a linguagem produzem, parece nos dar a falsa impressão de
desvendar as estruturas do mundo, mas o que temos, segundo Nietzsche, é apenas uma
interpretação segundo o intelecto.

Os conceitos são pequenas partículas de sentidos, ou seja, “[…] é uma metonímia […] que o
conhecer termina por se antecipar.” (NF/FP, 1869-1874, 19[204]). Além de já trazer em sua
estrutura elementos cognoscíveis, ao se relacionarem com outros conceitos, passam a
produzir consequências, essas por sua vez criam conhecimento, que é desenvolvido pela
estrutura do intelecto auxiliado pelo ato de pensar, refletir sobre as relações de conceitos.
Quando o conhecimento é formulado, logo em seguida tomamos conhecimento e com isso
nos apropriamos, ou seja, conhecemos o fato. Isso tudo geram uma cadeia de pensamentos,
um conjunto de conhecimento formulado e ciente de si mesmo. “[…]o pensamento que se
torna consciente representa apenas a parte mais ínfima, digamos a mais medíocre e a mais
superficial – pois, é somente esse pensamento consciente que se realiza em palavras, isto é,
em sinais de comunicação, pelo qual a própria origem da consciência se revela.” (NIETZSCHE,
2016, p. 365). Isso nos mostra que aquilo que temos acesso por meio da percepção dos
conceitos e ideias constituem uma pequena parte que foi possível ser manifestada. A
linguagem “[..]é um incalculável tesouro de conceitos já prontos de objetos e relações [..]”
(CAVALCANT, 2003, p. 34), possibilitando a expressão do pensamento, que se dar no conflito
entre impulsos e conceitos. Expressando esse conflito na linguagem e nas formas artísticas

Em quase todos os pontos, os problemas filosóficos são novamente formulados tal como dois
mil anos atrás: como pode algo se originar do seu oposto, por exemplo, o racional do
irracional, a sensível do morto, o lógico do ilógico, a contemplação desinteressada do desejo
cobiçoso, a vida para o próximo do egoísmo, a verdade dos erros? Até o momento, a filosofia
metafísica superou essa dificuldade negando a gênese de um a partir do outro, e supondo para
as coisas de mais alto valor uma origem miraculosa, diretamente do âmago e da essência da
“coisa em si”. (NIETZSCHE, 2000, p. 10)
A ideia de que as coisas se originaram de seus opostos e essas origens se davam de forma
“miraculosa” e se encontrava no “âmago” das coisas, constituem a característica do
pensamento metafisico. Vejamos que com a produção de conceitos, belas e perfeitas ilusões,
criada sobre as bases pulsionais, desenvolverá toda uma estrutura composta de sistemas,
princípios, leis, e verdades, do qual desemborcará na produção de conhecimento para mundo
do homem. Para dar sentido e justificar o que estava sendo construído e produzido, surge da
necessidade os conectivos lógicos. Tudo isso chaga a uma consciência de realidade existencial,
palpável, de que nada mais existe além dessa concepção, que só isso é possível de ser, e de
fundamentar tudo aquilo que não é. Entretanto “Vivemos, com efeito, numa ilusão contínua
através da superficialidade de nosso intelecto […]” ( NF/FP, 1869-1874, 19[49]). Intelecto ao
mesmo tempo que é o grande artesão de nosso ser, é também o grande ilusionista, que tece
incessantemente um veio, no intuito de impedir o caos externo a nós, passando a ver e sentir
por meio de formas artísticas.

Essa concepção constrói toda uma realidade mental, que não há sentido e nem verdade fora
desses padrões. Tudo aquilo que estiver fora dessas estruturas são meras ilusões, aparências,
que não tem fundamentos ou sentidos, são apenas impulsos. Aí temos as ilusões, que se
considera fundamentos, e se esqueceu de seu processo e sua origem, taxando os impulsos de
ilusão, o verdadeiro criador do mundo dos conceitos. Os impulsos são as únicas realidades que
de fato existem, pois é a única que temos acesso, a única que nos toca, que experimentamos
de fato.

Se fechamos os olhos, o cérebro produz uma quantidade de impressões luminosas e de cores,


provavelmente como uma espécie de poslúdio e eco de todos os efeitos luminosos que o
penetram durante o dia. Mas a razão (juntamente com a imaginação) transforma de imediato
esses jogos de cores, em si amorfos, em determinadas figuras, formas, paisagens, grupos
animados. (NIETZSCHE, 2000, p. 15)

Essência e aparência são meros conceitos criados sobre a morte e o esfolamento de nossos
mais puros e profundos impulsos. Destruímos nossos sentimentos e sensações para poder
construir um mundo que possamos controlar, ser previsível, ter sentido, para que possamos
estar confortáveis. É também um mundo frio, enquadrado, sem vida e sem impulsos. Com
suas formas cada vez mais abstratas tenta definir o mundo e suas pulsões com seus meios
dissimuladores. Fala o que se deduz sobre o mundo, mas nunca teremos acesso ao que de fato
o mundo é. Não conhecemos outro meio de acesso a nós e ao mundo se não pelas imagens e
aparências, até mesmo as formas sensitivas. O mundo que conhecemos e sentimos é o mundo
das aparências, seja ela sensitiva ou conceitual, isso é um verdadeiro despertar “[…]súbito no
meio desse sonho, mas somente para ter consciência que estava sonhando e que devo
continuar sonhando para não perece[…]” (NIETZSCHE, 2016, p. 76). Esse mecanismo ilusório
criado por nosso intelecto e ressaltado por nossa consciência, possibilita pensar o caos por
meio das formas sensitiva e abstratas. Precisamos sonhar, para a realidade como ele é, não
nos destrua.
Que lugar admirável ocupo diante da existência inteira com meu conhecimento, como isso me
parece novo e ao mesmo tempo espantoso e irônico! Descobri por mim que a velha
humanidade, a velha animalidade, sim, mesmo todos os tempos primitivos e o passado de
toda existência sensível, continuam a viver em mim, a escrever, a amar, a odiar, a concluir […]
(NIETZSCHE., 2016, p. 76)

Na perspectiva de Nietzsche não há princípios, fundamentos, essências ou nem um meio que


garanta o acesso e o conhecimento de algo verdadeiramente em si, sem nenhuma influência
com as imagens dos sentidos e do intelecto. Então Nietzsche se pergunta: “O que é agora para
mim a “aparência'”? A aparência é para mim a própria vida e a própria ação que, em sua ironia
de si mesma, chegará até a me fazer sentir que há nela aparência[…]” (NIETZSCHE., 2016, p.
76). Somos seres de imagens e para as imagens, tomar consciência disso não para romper com
esse processo, mas para estar ciente daquilo que verdadeiramente somos e de todos os
processos ocultos, esquecidos e necessário na construção de nós mesmo como seres sensitivos
e conceituais. Possibilitando assim um melhor convício com nossos instintos e sensações.
Livrando assim da arrogância das formas racionais e de sua pretensão por ser o fundamento e
o eixo da existência, que impossibilita outras formas de fundamentos e de verdades.

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