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E foi com Descartes que travou uma longa polêmica sobre a ciência. Na sua
obra Syntagma Philosophicum (Tratado Filosófico), Gassendi enfatiza o método
indutivo da ciência e refuta os excessos do processo dedutivo sugerido por Descartes.
Curiosamente, para Descartes, o universo era um plenum, sendo completamente
preenchido por uma matéria sutil, o "éter" onipresente, e, portanto, não admitia espaço
vazio. O éter era o suporte da propagação da luz no espaço e transmitia o movimento
da revolução do sol aos planetas. Ambos, porém, compartilhavam uma visão
mecânica de natureza.
Aula 3 - O mecanicismo
3.1 O que era o Universo-Máquina?
Richter havia mostrado, em 1792, que, na formação dos sais, uma determinada
quantidade de ácido se une sempre a uma determinada quantidade de base. A partir
daí ele construiu uma tabela de equivalentes (massas que se equivalem). A idéia de
proporções fixas foi estendida a todas as combinações químicas por Joseph Proust e
reforçada pela noção de proporções múltiplas de Dalton: se dois elementos se
combinam para formar dois ou mais compostos, as proporções de cada elemento são Comentário: Desde 1792,
Richter trabalhava com uma
sempre múltiplas inteiras de uma quantidade inicial. tabela de pesos equivalentes
É importante ressaltar que as leis ponderais poderiam ser explicadas de outra tomando com referência o
maneira que não envolvesse uma teoria atômica e nem todos os supostos compostos Oxigênio (como 100). Esse
método foi elogiado por Davy e
da época obedeciam à lei de Proust. Essa questão gerou opositores a teoria atômica continuado no trabalho de
de Dalton. O próprio Berthollet se dedicou a uma outra linha teórica que buscava Wollaston na Inglaterra e Gay
Lussac na França. Uma vez
explicar os fenômenos através do conceito de atividade química. Existiam aqueles que equivalentes podiam ser
empregavam uma metodologia fenomenalista em oposição aos átomos de Dalton e escritos em termos de volumes
seus pesos atômicos. O argumento era que a escolha dos pesos atômicos era de gases sob determinadas
condições de temperatura e
arbitrária e que os pesos equivalentes eram reais, uma vez que eram unidades pressão, equivalentes e
observáveis nas reações químicas. Essa visão foi fortalecida com a descoberta de volumes tornaram-se termos
intercambiáveis.
Faraday dos equivalentes eletroquímicos. Seguiam essa linha Richter, Humphry Davy,
Wollaston e Gay Lussac entre outros.
Tendo sempre como referência a hipótese mais simples, Dalton admitia que as
combinações químicas ocorrem por unidades discretas, isto é, por átomos e que os
átomos de cada elemento químico são idênticos em massa. Dalton criou símbolos
químicos para representar os elementos químicos. Na sua representação, o símbolo Comentário: Os símbolos
indicava não só o elemento, mas também um átomo desse elemento com uma massa atuais foram propostos por
Berzelius em 1813.
característica.
Assim, o hidrogênio era representado por ~ e o oxigênio por { de modo que a
água era escrita desta forma: ~{ (HO), devido a sua concepção de simplicidade.
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É com esse nome que Avogadro se refere em seu texto de 1811 a substância que hoje conhecemos por
monóxido de carbono (CO).
Teoria da Combustão x Teoria do Flogisto
Você pode achar essa teoria meio absurda, uma vez que você já conhece a
explicação da combustão como uma reação onde o oxigênio é incorporado, porém não
existe apenas uma maneira para se explicar um fenômeno, muitas vezes há mais de
uma explicação possível, resta saber qual é a que melhor descreve a realidade.
Para saber mais: O Tratado de Lavoisier teve 23 edições integrais entre 1789
e 1805 em sete países, das quais 7 foram na França. Houve também mais três
edições parciais, uma delas no México em 1897.
A tabela dos elementos de Lavoisier foi denominada Tabela das substâncias
simples e contém 33 elementos divididos em quatro classes. A primeira classe é
constituída de por 5 substâncias das quais as duas primeiras são imponderáveis: luz,
calórico, oxigênio, azoto e hidrogênio que são substâncias que pertencem aos três
reinos. A segunda classe é formada por seis “substâncias oxidáveis e acidificáveis”:
enxofre, fósforo, carbono,radical fluórico, radical borácico, radical muriático. A terceira
classe é formada por dezessete “substâncias metálicas, oxidáveis e acidificáveis”:
antimônio, prata, arsênico, bismuto, cobalto, cobre, estanho, ferro, manganês,
mercúrio, molibdênio,níquel, ouro, platina, chumbo, tungstênio, zinco. A quarta classe
é a das cinco “substâncias salificáveis terrosas”: cal, magnésia, barita, alumina, e
sílica.
Embora atualmente essa lei pareça evidente, no início do século XIX ela não
era aceita por todos. Proust se envolveu em uma famosa controvérsia com
Berthollet que defendia a idéia de que a composição era variável.
Berthollet tinha a seu favor, entre outros, a existência de vários óxidos de ferro
diferentes, o que levava à suposição de que uma quantidade de ferro fosse capaz
de se combinar com qualquer quantidade arbitrária de oxigênio e que a mudança
na composição fosse contínua. A lista de Berthollet sobre compostos de
composição variável incluía ainda soluções, ligas, vidros e óxidos de outros metais
como os de estanho, chumbo etc. Era muito comum nessa época que compostos e
misturas ainda fossem confundidos.
Berthollet acreditava que a afinidade química era uma força semelhante à
gravidade e achava que qualquer tipo de combinação entre substâncias era uma
expressão dessa mesma força. Não havia nenhuma diferença fundamental entre
solução e combinação química e desse modo a Lei das Proporções Constantes era
apenas um caso especial da lei geral da afinidade.
Durante os próximos nove anos Proust se dedicou a purificar e a analisar
compostos para dar suporte a Lei das Proporções Constantes e para demolir os
argumentos de Berthollet que era, então, um químico bastante influente.
Proust demonstrou isolando os diferentes componentes, que quando uma
análise indicava uma porcentagem de oxigênio intermediária, isso era devido à
presença de misturas.
Posteriormente, foram identificados compostos que não seguem a lei de
Proust como, por exemplo, o pigmento branco rutilo de fórmula variando entre
TiO2, e TiO1,8 . Esses compostos foram chamados de bertolídeos em oposição
àqueles que seguem a lei de Proust denominados daltonídeos.
Eis um caso interessante, havia uma falha geral para reconhecer e estudar
compostos nos quais íons de tamanho e carga semelhantes pudessem se
permutar em um cristal e produzir uma variação na composição. Talvez, o
desconhecimento de tais compostos nesse tempo tenha favorecido o
desenvolvimento da Teoria Atômica, uma vez que a Lei das Proporções
Constantes era um dos pilares da Teoria atômica de Dalton.
Aula 5: A Hipótese de Avogadro ou caminhando contra o
vento.
A hipótese de Avogadro foi refutada na época, por dois conjuntos de dados Peso de n moléculas da
experimentais: reações cujos volumes gasosos obedeciam a proporção 1:1:2 como na substância/peso de n
moléculas de hidrogênio ou
síntese do óxido nítrico e a densidade incomum de alguns gases como o oxigênio. ainda
Para explicar reações do tipo da síntese do óxido nítrico, Avogadro introduziu
uma hipótese ad hoc de que as moléculas integrantes se dividiam durante a reação Peso de 1 molécula da
substância/peso de 1 molécula
em tantas partes quanto o “que é necessário para satisfazer o volume de gás de hidrogênio
resultante” (AVOGADRO, 1811). Deste modo, a molécula integrante que se forma “se e portanto o peso molecular
divide em duas ou mais partes ou moléculas integrantes constituídas pela metade, será dado por
Densidade de vapor da
quarta parte, etc. do número de moléculas elementares de que era formada a substância x peso molecular
molécula constituinte da primeira substância, combinada com a metade, a quarta do hidrogênio.
parte, etc. do número de moléculas constituintes da outra substância que deveria se
combinar com a molécula total, ou, o que é a mesma coisa, com um número igual ao
número de meias-moléculas, de quartos de molécula, etc., desta segunda substância,
de modo que o número de moléculas integrantes do composto se tornam o dobro,
quádruplo, etc. do que ele deveria ser sem essa divisão” (AVOGADRO, 1811).
1 VOLUME DE
+ 1 VOLUME DE Æ 2 VOLUMES DE
NITROGÊNIO OXIGÊNIO ÓXIDO NÍTRICO
Conclusão
A física no século XVIII sofreu uma grande transformação. Não era suficiente
considerar na matéria as divisões, figuras e movimentos e, entre as diversas partículas
dos corpos, supôs-se a ação de atração ou repulsão.
Segundo Descartes, a única qualidade sensível da matéria era a extensão,
conseqüentemente, ele negava a possibilidade de vazio e para ele o espaço era
plenamente preenchido. O plenum e a divisibilidade infinita da matéria justificavam,
portanto, a rejeição ao atomismo. Descartes não acreditava na existência de forças a
distância e segundo ele, o movimento era comunicado de uma parte da matéria a
outra por contato direto. Como a matéria era identificada com extensão, onde há
extensão há substância e como o espaço era infinitamente divisível, o mesmo podia
ser dito em relação à matéria.
Para o mecanicismo, a natureza deve ser redutível em último à matéria e
movimento e a explicação deve se restringir às causas mecânicas. Isso permitiu que o
atomismo grego fosse revivido através de teorias mecanicistas que incluíam o vazio.
Vimos neste módulo que a teoria atômica de Dalton era compatível com o
conceito de elemento químico de Lavoisier e estava baseada nas leis das
combinações químicas e na identificação dos átomos químicos de acordo com o seu
peso relativo. As regras de simplicidade eram frequentemente criticadas como o ponto
fraco da teoria e Dalton acreditava que átomos do mesmo tipo se rejeitavam.
O congresso de Karlsruhe em 1860 trouxe o reconhecimento gradual da
Hipótese de Avogadro de 1811 e do seu método de determinação de pesos atômicos
por intermédio de Cannizzaro, o que reforçou o status conceitual da teoria atômica
química.
O atomismo químico era, entretanto, diferente das partículas dos físicos, que
significavam simplesmente partículas indivisíveis.
Para Dalton os fenômenos químicos se explicavam pela existência de diferentes
elementos. Isto o levou a admitir dezenas de átomos irredutíveis: o átomo de
nitrogênio é diferente do átomo de oxigênio que por sua vez é diferente do átomo de
hidrogênio, e nada havia que fosse comum a estes diversos componentes da matéria.
Este ponto foi vivamente discutido, pois segundo muitos químicos, por trás da
aparente multiplicidade de elementos, de tal diversidade, devia haver alguma coisa
mais simples e mais fundamental que unificasse os diferentes constituintes materiais.
Esta concepção ficou conhecida como “unidade da matéria” e seus partidários se
opuseram ao sistema de Dalton.
Prout, por exemplo, sugeriu a hipótese de que todos os pesos atômicos eram
múltiplos do peso atômico do hidrogênio: o hidrogênio era a “matéria primeira” da qual
os outros elementos eram constituídos. O inconveniente era que, para obter esses
múltiplos, Prout deveria dar uma “ajuda” aos números geralmente aceitos.
À mesma corrente “unitária” ligavam-se nomes como Humphry Davy e
Thomas Graham. Davy, diferentemente de Lavoisier supunha que as propriedades
não eram decorrentes simplesmente dos componentes da substância, mas também de
seu arranjo relativo. Desse modo, para Davy um elemento químico não se comportava
como um princípio. Thomas Graham só admitia para a matéria um único constituinte e
todas as diferenças observadas entre os elementos decorriam de diferenças nas
condições de movimento dessa partícula última.
Faraday também ressaltou o caráter hipotético dos pretendidos átomos. Para
ele, mas valia ver neles uma “ilusão materialista”. De acordo com Faraday, a matéria,
de fato, não é senão “a força submetida a certas determinações”. Influenciado pela
corrente alemã da Naturphilosohie, Faraday era francamente favorável ao modelo
proposto no século XVIII dos átomos pontuais de Boskovich - centros imateriais de
força, podendo a força ser de atração ou repulsão. Essa forma de explicar a natureza,
na qual as unidades da matéria são meros centros de força, reais, homogêneos e
indivisíveis, ficou conhecida na filosofia como dinamista.
O dinamismo é “a visão de que todos os fenômenos da
natureza, inclusive a matéria, são manifestações de forças”
(CAPEK, 1967 apud ABRANTES, 1998, p.73).
Essa visão de natureza será explorada no próximo módulo.
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