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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO PAULO – UNIFESP CAMPUS GUARULHOS –

ESCOLA DE FILOSOFIA, LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

Galileu Galilei: autoridade das Sagradas Letras e disputas de conclusões naturais


Projeto de Pesquisa

Leonardo Sobral De Mello


Orientador: Prof. Dr. Eduardo Henrique Peiruque Kickhöfel

Guarulhos
2022
Galileu Galilei: autoridade das Sagradas Letras e disputas de conclusões
naturais

Resumo

Este projeto visa estudar a distinção entre “autoridade das Sagradas Letras” e “disputas de
conclusões naturais”, conforme palavras de Galileu Galilei em uma carta que Galileu
escreveu para seu discípulo Benedetto Castelli no dia 21 de dezembro de 1613. Visa-se
analisar o contexto dessa carta, começando pelo contexto conceitual da época, a ser analisado
em detalhes, e por problemas colocados por Nicolau Copérnico em seu livro De
revolutionibus orbium coelestium (Das revoluções dos orbes celestes). Então, analisa-se
textos de Galileu como o Sidereus nuncius (Mensageiro das estrelas), e outros documentos
em torno da carta a Castelli. Espera-se desse modo entender um período importante para a
consolidação das chamadas ciências modernas, que desde Galileu foram feitas autônomas que
questões de feição teológica.

1. Introdução

Este projeto visa estudar a distinção entre “autoridade das Sagradas Letras” e “disputas de
conclusões naturais”, conforme palavras de Galileu Galilei em uma carta que Galileu
escreveu para seu discípulo Benedetto Castelli no dia 21 de dezembro de 1613.

Galileu publicara o Sidereus nuncius (Mensageiro das estrelas) em 1610, no qual ele
apresenta suas descobertas feitas com seu telescópio e em três passagens se mostra um
defensor da hipótese de Nicolau Copérnico a respeito da mobilidade da Terra e da
imobilidade do Sol, que se opunha a leituras literais da Bíblia. Então, para esclarecer sua
posição a críticas que recebera de filósofos, ele escreveu a carta a Castelli para mostrar que
subordinar disputas naturais à autoridade religiosa fazia pouco sentido, opinião que ele a
ampliou em uma carta à Senhora Cristina de Lorena. Entretanto, a autoridade da igreja de
Roma prevaleceria, e em 1616 o livro de Copérnico seria colocado no Índex dos Livros
Proibidos e Galileu seria admoestado pelo Cardeal Bellarmino a não se pronunciar mais a
respeito dessa matéria.

Este projeto visa uma pesquisa para detalhar e explicar o embate galileano entre autoridade
teológica e demonstrações naturais. Para obter entendimento histórico desse embate,
organiza-se documentos conforme estavam organizados e eram entendidos em sua época de
origem, tanto quanto possível hoje.

2. O problema

Nos primeiros séculos da era cristã, miríades de eventos históricos fizeram com que
concepções profanas fossem aproximadas a concepções sacras. Esse processo não foi feito
sem tensões, como sugere Tertuliano já no século II d.C. (De praescriptione haereticorum 7,
9): “Quid ergo Athenis et Hierosolymis? quid academiae et ecclesiae? quid haereticis et
christianis?” Atenas e Jerusalém tinham pouco em comum. Entretanto, de Agostinho em
diante filósofos e teólogos consideraram filosofia profana em função de teologia, e inúmeros
autores conseguiram conciliá-las. Entretanto, textos naturais de Aristóteles foram condenados
1273 e 1277, por exemplo, pois descreviam doutrinas que cristãos não podiam aceitar, como
eternidade do mundo, alma individual mortal e uma divindade não-antropomórfica
indiferente a homens que a adoravam. Para explicar contradições, Siger de Brabante elaborou
a noção de “dupla verdade”, visando autonomia de questões filosóficas. 1 Eis longa história
que não cabe abordar neste projeto de Iniciação Científica.2

2.1. Nicolau Copérnico a e nova razão do mundo

Em 1543, Nicolau Copérnico tornou esse problema evidente. Seu livro De revolutionibus
orbium coelestium (Das revoluções dos orbes celestes) contrariava séculos de concepções
aristotélico-ptolomaicas que colocavam a Terra imóvel no centro do universo. Copérnico
propôs uma “nova razão do mundo”, que está na carta do Cardeal Nicolau de Schomberg que
Copérnico fez publicar em seu livro, possivelmente para mostrar que no mínimo um cardeal
da cúria romana conhecia e apreciava sua nova hipótese a respeito do universo (Copérnico,
1984, p. 3):

É que eu tivera conhecimento de que és não só particularmente versado nas


descobertas dos antigos matemáticos mas até formulaste uma nova Cosmologia
(“novam Mundi rationem constituisse”) em que ensinas que a Terra se move; que o
Sol ocupa o ponto mais inferior e, por isso, central no Universo; que o oitavo céu
permanece eternamente imóvel e fixo; que a Lua, juntamente com seus elementos
compreendidos dentro de sua esfera, situada entre o céu de Marte e o de Vênus, gira
em volta do Sol num percurso anual.

Nota-se que a tradução utilizada deixa escapar o sentido concreto da expressão do cardeal,
que mostra que a razão ou disposição dos corpos celestes agora tinha a seguinte conformação,
segundo o próprio Copérnico (1984, p. 51-52):

A primeira e mais alta de todas é a esfera das estrelas fixas que se contém a si própria
e todas as coisas, sendo, portanto, imóvel. É nela que se situa o Universo, ao qual se
refere o movimento e a posição de todos os restantes astros. De fato, embora alguns
pensem que também ela muda de certa maneira, nós apontaremos outra razão desta
mudança aparente, na nossa discussão do movimento da Terra. Segue-se depois
Saturno, o primeiro dos planetas que percorre sua órbita em 30 anos. A seguir vem
Júpiter que completa sua revolução em 12 anos e Marte em dois anos. A revolução

1
Cf. Bazán (2002, p. 635): “There is no reason to doubt his honesty when he claimed that in case of conflict
between faith and reason, truth is on the side of faith; there is no reason either to think that he ever subscribed
to the absurd notion of ‘double truth.’ He simply insisted on the autonomy of philosophy in its own field and
elaborated a quite consistent explanation of the conflict between philosophy and revealed truth.”
2
Cf. por exemplo Marenbon (2015).
anual ocupa a quarta posição na qual dissemos que está a terra juntamente com a
esfera lunar como um epiciclo. Em quinto lugar Vênus realiza o sem percurso em
nove meses. Por fim, Mercúrio está na sexta posição completando seu circuito em
oitenta dias. No meio de todos encontra-se o Sol.

Entretanto, não era fácil defender essa nova razão do mundo em uma época que concepções
físicas aristotélicas eram aceitas pela igreja romana, desde que submetidas a correções.
Copérnico sabia disso. No fim de sua carta-dedicatória ao Papa Paulo III, Copérnico (1984, p.
10-11) deixa claro seu incômodo por estar sob os olhos da teologia, por assim dizer:

E se, por acaso, houver vozes loucas que apesar de ignorarem totalmente as
Matemáticas se permitam, mesmo assim, um julgamento acerca destas lucubrações e
ousem censurar, atacando o meu trabalho a pretexto de algum passo da Escritura,
malevolamente distorcido em vista ao meu propósito, eu não lhes dou importância
nenhuma, a ponto de desprezar até o seu juízo como temerário. De fato, não é
desconhecido que Lactâncio, célebre escritor, aliás, mas fraco matemático, fala da
forma da Terra de uma maneira perfeitamente infantil quando zomba dos que
proclamam que a Terra tem a forma de um globo. Portanto, não deve parecer estranho
aos estudiosos se alguns que tais zombarem de nós também. As Matemáticas
escrevem-se para os matemáticos, aos quais também esta minha obra, se não me
engana a mim a ideia, hão de parecer algo útil até à República eclesiástica, cujo
principado Vossa Santidade tem agora em Seu poder.3

Aqui está o começo da separação entre a “autoridade das Letras Sagradas” e “disputas de
conclusões naturais” que está no foco desta projeto. De fato, o prefácio publicado
anonimamente, que desde Johannes Kepler se sabe de autoria do teólogo Andreas Osiander,
alude a esse problema (Copérnico, 1984, p. 1):

Não duvido que certos eruditos, pela fama já divulgada acerca da novidade das
hipóteses desta obra, onde se afirma que a Terra se move e o Sol está imóvel no
centro do Universo, se tenham sentido gravemente ofendidos e julguem que não
convém lançar a confusão nas artes liberais, há muito constituídas com exatidão.

Sabemos que o Papa Paulo III tinha intenção de condenar o livro, mas ele foi aceito como
hipótese matemática, mas não física, conforme se pensava na época. 4 Apenas após Galileu
começar a defendê-lo como hipótese física o livro foi colocado sob suspeição.

2.2. Galileu Galilei, mensageiro das estrelas

3
Desde 430 a.C., aproximadamente, filósofos gregos sabiam que a Terra tinha forma esférica. Considera-se
Lucius Caecilius Firmianus Lactantius (c. 250-325), autor de um texto muito lido por teólogos renascentistas
chamado Institutiones Divinae (Instituições divinas), um dos poucos autores importantes da chamada Idade
Média que recusaram a concepção da Terra esférica. Cf. o primeiro capítulo de Kragh (2007).
4
Cf. Rosen, 1975) e Tossato (2015), respectivamente.
Influenciado por concepções copernicanas, Galileu publicou no ano de 1610, em Veneza, o
livro intitulado de Sidereus nuncius (Mensageiro das estrelas), uma das obras mais
emblemáticas de Galileu. Galileu inicia sua argumentação de forma taxativa, demonstrando
grande entusiasmo pelas descobertas que fez: Galilei (2010, p. 151)

GRANDES COISAS, na verdade, são as que proponho neste pequeno tratado para
que sejam examinadas e contempla- das por cada um dos que estudam a natureza.
Coisas grandes, digo, pela própria excelência do assunto, pela sua novidade
absolutamente inaudita e ainda por causa do instrumento com o auxílio do qual elas se
tornaram manifestas aos nossos sentidos.

Todavia, antes do prosseguimento histórico das descobertas de Galileu, é de importância que


analisemos a importância desse instrumento citado, pois sem ele os resultados não teriam o
êxito devido. Quando estava em Pádua, Galileu teria ouvido falar de um instrumento óptico
que ampliava objetos distantes. Após isso, visitou um amigo com quem discutiu esse
instrumento e, após um tempo, voltou para Pádua onde testou combinações de lentes
côncavas e convexas, que resultava em um instrumento semelhante. Dado esse êxito, ele
construiu um instrumento que ampliava em mais de 10x e levou-o para a demonstração na
torre de São Marcos para patrícios de Veneza. Explicitado tal criação do instrumento,
podemos compreender como o telescópio auxiliou enormemente as descobertas de Galileu
que serão demonstradas adiante.

Listando de maneira breve, as grandes contribuições deste escrito de Galileu foram três. (a)
Em primeiro lugar, a Lua que não era feira de uma superfície lisa e polida, como a tradição
aristotélica-ptolemaica acreditava, mas sim que possuía irregularidades ao longo de seu corpo
assim como a Terra. Galilei (2010, p. 152) “A Lua não é, em absoluto, feita de uma superfície
lisa e polida, mas escalavrada e desigual e, da mesma forma que a face da terra, apresenta-se
em grande parte coberta de grandes proeminências, profundos vales e sinuosidades.” Essa
descoberta minava a ideia de uma separação entre o mundo sublunar e o mundo supralunar.
(b) Em segundo lugar, a galáxia era um amontoado de inumeráveis estrelas disseminadas ao
longo de tudo que o telescópio poderia ver Galilei (2010, p. 177) “De facto, a GALÁXIA não
é outra coisa senão um aglomerado de incontáveis estrelas reunidas em grupo. Para qualquer
região que se aponte a luneta oferece-se logo à vista um enorme número de estrelas, muitas
das quais parecem bastante grandes e conspícuas, mas a multidão das pequenas é
verdadeiramente insondável.” (c) Em terceiro lugar, a descoberta mais importante foram os
satélites de Júpiter e, por consequência, possibilitando de os astrônomos estudarem quatros
novos planetas que nunca foram vistos anteriormente. Isso fica evidente quando Galileu diz
em uma das passagens do livro a importância de: Galilei (2010, p. 179) “revelar e divulgar
quatro planetas, nunca vistos desde as origens do mundo até nossos dias, dando ocasião de
descobri-los e estudá-los, além de sua posição e das observações feitas durante os dois
últimos meses sobre seus movimentos e suas transformações”. Fica evidente que, Galileu foi
um grande admirador, apesar de ser também crítico, ao modelo copernicano.

2.3. Galileu Galilei, autoridade das Sagradas Letras e disputas de conclusões naturais.
Benedetto Castelli foi um matemático, aluno de Galileu e dedicou sua vida aos estudos
matemáticos. Nasceu em 1578 na Itália e morreu em 1643. Estudou na Universidade de
Pádua e de Pisa, onde virou professor substituindo seu “mestre” Galileu.

Galileu escreveu a carta que se analisa aqui após Castelli participar de um evento em que
discutiu com Cristina Lorena, Grã-Duquesa de Toscana, sobre a questão da mobilidade do
Sol. Neste debate, oriundo de um ressentimento de um professor acadêmico contrário a
Galileu, Cristina utilizou a passagem de Josué para indicar a suposta imobilidade solar.
Castelli demonstrou argumentos que corroboravam com a hipótese copernicana. Após tal
incidente, Castelli reportou esse momento a Galileu, que o parabenizou e acrescentou mais
informações para readequar as Escrituras Sagradas à hipótese copernicana. Daí origina-se a
carta a Castelli, que inadvertidamente iniciou um processo que levou à condenação do livro
de Copérnico e, décadas mais tarde, à condenação do próprio Galileu.

Galileu discorre sobre a reinterpretação das Escrituras Sagradas em demonstrações naturais,


isto é, as Escrituras Sagradas não podem explicar, de maneira demonstrativa, questões da
natureza pois esta representa a execução do plano de Deus, enquanto as Escrituras
representam apenas as palavras de Deus (Galileu, 2009, p. 19-20):

Portanto, sendo que a Escritura em muitos lugares & não somente capaz, mas
necessariamente carente de exposições diversas do aparente significado das palavras,
parece-me que nas disputas naturais ela deveria ser reservada para o último lugar:
porque procedendo igualmente do Verbo divino a Escritura Sagrada e a natureza,
aquela como ditada pelo Espirito Santo, e está como fidelíssima executora das ordens
de Deus; e sendo, mais ainda, conveniente nas Escrituras, para acomodar-se ao
entendimento do universal, dizer muitas coisas diversos, no aspecto e quanto aos
significados palavras, do verdadeiro absoluto; mas, ao contrário, sendo a natureza
inexorável e imutável e de nada cuidando a não ser de suas recônditas razões e modos
de operar por bem ou por mal, expostos a capacidade dos homens, pelo fato de ela
jamais transgredir os termos das leis está impostas; parece que o que diz respeito os
efeitos naturais que a sensata experiência nos pede diante dos olhos ou as necessárias
demonstrações nos concluem, não deve de modo algum ser revogado como duvidoso
por passagens do Escritura que tivessem nas palavras semblante diverso, pois nem
todo dito da Escritura está ligado a obrigações tão severas como todo efeito de
natureza.

Após esta carta, em 1615, Galileu escreve para Cristina de Lorena, Grã-Duquesa de Toscana,
na qual realça a diferença de objetivos entre ciência e fé e utiliza argumentos de teólogos
como Agostinho. Isso pode ser observado quando Galileu diz: Ciência e Fé (2009, p. 64) “A
intenção do Espírito Santo é a de nos ensinar como se vai ao céu e não como vai o céu.”
Segundo Galileu, a fé conduziria o homem ao céu, e a ciência estava encarregada de ensinar a
constituição desse céu. Portanto, a física de Galileu reside em demonstrações objetivas de tal
forma que descobertas e análises sejam feitas sem o controle metafórico ocasionado pelas
Escrituras Sagradas

Em poucas palavras, Galileu tinha diversas demonstrações que, se não demonstravam a


hipótese copernicana, comprometiam seriamente as hipóteses ptolomaico-aristotélicas
defendidas por teólogos de Roma. Defendê-las causaria danos à própria igreja romana (Drake
2001). Além disso, se esse teólogos continuassem a defender dogmaticamente tais hipóteses,
prejudicariam estudos de questões naturais. Galileu propunha assim autonomia das novas
ciências, experimentais e matemáticas. Entretanto, como bem conhecido, décadas após
Galileu seria condenado.

3. Método

Visa-se entendimento histórico, e para obter isso segue-se o historiador florentino Benedetto
Varchi no começo da segunda das Lezzioni (Lições), feitas em 1546 e publicadas em 1549
(Varchi, 1859, p. 628): “Em cada disputa, para evitar equívoco e troca de nomes, deve-se
declarar os termos principais.” Desse modo, busca-se conceitos de época. Além disso, o
problema em questão implica pensar noções amplas de filosofia e de hierarquias entre
disciplinas. Nesse sentido, usa-se outra vez Varchi, agora um texto chamado Dei
prolegomeni o precognizioni, no qual ele (1859, p. 805) escreve a respeito de capítulos que
autores escrevem antes de seus textos, “sem os quais capítulos seria, se não impossível,
certamente difícil entender as coisas que nesse livro estão contidas e tratadas”. Um dos
capítulos, “Sob que farte da filosofia se reduz o assunto de que se fala, diz o seguinte (1859,
p. 808): “Se a Filosofia tem por objeto todo o ser, isto é, compreende todas as coisas de todo
o universo, clara coisa é que não se pode encontrar coisa alguma em lugar algum que não caia
sob a Filosofia; a qual foi dividida por alguns em três partes, e por alguns em duas. Mas,
porque tal divisão foi feita e declarada por nós mais vezes, nos remeteremos àquelas divisões,
e diremos apenas que, no princípio de todas as obras, se deve declarar se a matéria que em tal
livro se trata é ciência ou arte.” Por ciência ou arte, entende-se aqui conhecimentos teóricos e
conhecimentos práticos. Desse modo, busca-se entender divisões da filosofia da época, e
assim entender a separação entre questões teológicas e físicas, tema central deste projeto.
Além de Varchi (1549, 1859a; 1859b), usa-se também Toletus (1576). Pretende-se ler esses
autores em suas línguas originais, conforme orientações. Como textos de apoio a respeito de
conceitos e divisões da filosofia, planeja-se usar artigos de Kickhofel (2014; 1019) e Blair
(2007), entre outros.

De Galileu, pretende-se usar a Le Opere di Galileo Galilei, editada por Antonio Favaro entre
1890-1909, revisada e reeditada por Giuseppe Favaro em 1929-1939, e reeditada novamente
em 1964-1966, hoje disponível na página do Museo Galileo, entre outras. Das cartas em
questão, usa-se também a tradução de Ribeiro dos Santos (Galileu, 2009). Dada sua
importância, utiliza-se também a edição brasileira do Diálogo sobre os dois máximos
sistemas do mundo (Galileu, 2011), em cuja introdução Mariconda descreve a aspectos
importantes da questão que aqui se analisa.
Dos inúmeros textos de apoio disponíveis, cita-se aqui Biagioli (1993; 2006), Drake (1978;
2001), Feldhay (1995), Garin (1994), Heilbron (2010), Kuhn (1957; 2017), Machamer
(1998), Omodeo (2014), Rossi (1992; 2001), assim como os volumes editados por Schmitt e
Skinner (1988) e Hankins (2007). Conhece-se inúmeros outros textos, que se pretende
adicionar à medida que se desenvolver a pesquisa aqui planejada.

4. Justificativa

Existem diversos motivos para realizar a pesquisa aqui planejada. Para Cícero (De Oratore,
II, 36), história era “verdadeira testemunha dos tempos, luz da verdade, vida da memoria,
mestra da vida e anunciadora da antiguidade”. Cícero escreveu essas palavras em um
contexto muito diverso do mundo contemporâneo, mas ainda fazem sentido.

A importância do período em questão, de Galileu e da ciência moderna não requer


justificativa detalhada. Aqui, menciona-se apenas por que motivos estudar Galileu em um
curso de filosofia. Galileu não faz parte do “núcleo duro” da filosofia, ou seja, Platão e
Aristóteles, Agostinho e Tomás de Aquino, Descartes, Hume e Kant, Hegel e Nietzsche, e
por fim Wittgenstein. Galileu também não escreveu textos que tratam de questões metafísicas
de sua época, como Ficino e Bruno, por exemplo. Matemático de formação, entretanto, ele se
enquadrava no contexto filosófico de sua época, pois as matemáticas ainda eram consideradas
parte da filosofia como na época era entendida. Galileu também estudou física ou filosofia
natural, também parte da filosofia. Esse simples argumento histórico justifica Galileu em um
curso de filosofia. Além disso, entender a questão proposta implica pensar a ciência dos
modernos. Nesse sentido, os grandes filósofos modernos – Descartes evidentemente, e ainda
Hobbes, Locke, Leibniz, Hume e Kant, entre outros – tiveram como referência a nova ciência
dos modernos. Então, para entender textos de filósofos modernos, faz sentido entender a
ciência dos modernos.

Por fim, a pesquisa planejada faz parte da formação de um estudante de graduação em


filosofia.

5. Cronograma

5.1 Primeira parte


Leitura de biografia levantada e estudos de filosofia ministrados na Unifesp Guarulhos,
especialmente o curso Galileu, filosofia e ciência que será ministrado pelo orientador deste
projeto.

5.2 Segunda parte


Leitura de fontes, acréscimo de fontes de outras disciplinas relevantes etc.

5.3 Terceira parte


Processo de redação da iniciação científica aliado a um extenso processo revisional.
5.4 Quarta parte
Fim do processo de revisão e entrega da iniciação científica.

6. Bibliografia

6.1. Fontes de época

COPÉRNICO, N. As Revoluções dos Orbes Celestes. Trad. de A. Dias Gomes e Gabriel


Domingues. Introdução e notas de Luís Albuquerque. Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1984.
COPERNICUS, N. De revolutionibus orbium coelestium Libri VI. Norimbergae, Ioh.
Petreium, 1543.
GALILEI, G. Ciência e Fé. Cartas de Galileu sobre o acordo do sistema copernicano com a
Bíblia. Organização e tradução de Carlos Arthur Ribeiro do Nascimento. São Paulo:
Editora Unesp, 2009.
______. Diálogo sobre os dois máximos sistemas do mundo ptolomaico e copernicano.
Tradução e notas de Pablo Rubén Mariconda. São Paulo: Editora 34, Associação
Filosófica Scientiae Studia, 2011.
______. Le Opere di Galileo Galilei. Ed. a cura di Antonio Favaro. Firenze: Giunti, 1964-
1966.
______. O Mensageiro das Estrelas. Tradução, estudo e notas de Henrique Leitão. Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 2010.
REISCH, G. Margarita philosophica. Freiburg im Breisgau: Johannen Schottum, 1503.
SACROBOSCO, J. Tractatus de sphaera. Tratado da esfera. Editado e traduzido por
Roberto de Andrade Martins. Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2006.
TOLETUS, F. Commentaria una cum Quaestionibus in Octo Libros Aristotelis de Physica
Auscultatione. Coloniae Agrippinae: Haeredes Arnoldi Birckmani, 1574.
VARCHI, B. “Dei prolegomini o precognizioni.” In: RACHELI, A. (Ed.), Opere di
Benedetto Varchi. Trieste: Sezione Letterario-Artistica del Lloyd Austriaco, 1859, v.
2, p. 805-812.
______. “Divisione della filosofia.” In: RACHELI, A. (Ed.), Opere di Benedetto Varchi.
Trieste: Sezione Letterario-Artistica del Lloyd Austriaco, 1859, v. 2, p. 794-796.
______. Due lezzioni. Fiorenza: Lorenzo Torrentino, MDXLIX [1549].

6.2. Textos complementares

BAZÁN, B. C. “Siger of Brabant.” In: GRACIA. J. J. E., NOONE, T. B. (eds.) A Companion


to Philosophy in the Middle Ages. Malden (MA); Oxford: Blackwell Publishing Ltd,
2002.
BIAGIOLI, M. Galileo, Courtier: The Practice of Science in the Culture of Absolutism.
Chicago: University of Chicago Press, 1993.
______. Galileo’s Instruments of Credit: Telescopes, Images, Secrecy. Chicago: University
of Chicago Press, 2006.
BLAIR, A. M. “Organizations of Knowledge.” In: HANKINS, J. (ed.), The Cambridge
companion to Renaissance philosophy. Cambridge: Cambridge University Press,
2007, p. 287-303.
DRAKE, S. Galileo. A very Short Introduction. Oxford: Oxford University Press, 2001.
______. Galileo at Work. Chicago: University of Chicago Press, 1978.
FELDHAY, R. Galileo and the Church: Political Inquisition or Critical Dialogue?,
Cambridge: Cambridge University Press, 1995.
GARIN, E. Ciência e Vida Civil no Renascimento Italiano. São Paulo: Editora Unesp, 1994.
HANKINS, J. (ed.) The Cambridge Companion to Renaissance philosophy. Cambridge:
Cambridge University Press, 2007.
HEILBRON, J. L. Galileo, Oxford: Oxford University Press, 2010.
KICKHÖFEL, E. H. P. “A Philosophiae partitio de Gregor Reisch: Um Mapa para Ler o
Renascimento.” In: Revista Limiar, vol. 2, no. 3 (2014), p. 85-115.
______. “Framework para o Renascimento.” In: Pensando - Revista de Filosofia, vol. 10, no.
21 (2019), p. 3-25.
KICKHÖFEL, E. H. P. MARINS DE CARVALHO, H. “Cartas-prefácio de Tartaglia:
Matemáticas práticas no século XVI.” In: Edição Especial da Revista Brasileira de
História da Matemática, vol. 21 n. 41 (2021), p. 81-145.
KRAGH, H. S. Conceptions of Cosmos. Oxford: Oxford University Press, 2007.
KUHN, T. A Revolução Copernicana. Lisboa: Edições 70, 2017.
______. The Copernican Revolution. Cambridge: Harvard University Press, 1957.
MACHAMER, P. (ed.). Cambridge Companion to Galileo, Cambridge: Cambridge
University Press, 1998.
MARENBON, J. Pagans and Philosophers. Princeton: Princeton University Press, 2015.
OMODEO, P. D. Copernicus in the Cultural Debates of the Renaissance. Leiden, London:
Brill, 2014.
ROSEN, E. “Was Copernicus’ Revolutions Approved by the Pope?” In: Journal of the
History of Ideas, v. 36, n. 3, 1975), p. 531-542.
ROSSI, P. A Ciência e a Filosofia dos Modernos. São Paulo: Editora Unesp, Istituto Italiano
di Cultura, Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro, 1992.
______. O Nascimento da Ciência Moderna na Europa. Bauru: Editora da Universidade do
Sagrado Coração, 2001.
SCHMITT, C. B., SKINNER, Q. (eds.) The Cambridge History of Renaissance Philosophy.
Cambridge: Cambridge University Press, 1988.
TOSSATO, C. R. “Discussão cosmológica e renovação metodológica na carta de 9 de
dezembro de 1599 de Brahe a Kepler.” In: Scientiae Studia, v. 2, n. 4, p. 537-65,
2004.

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