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Razões Teológicas para aceitar o Geocentrismo

A autoridade da Santa Igreja


Interessa-nos notar que, em 1885, um protestante anglicano chamado William Roberts
escreveu um livro visando provar que o dogma da infalibilidade, proclamado em 1870, estava
errado, e para isso reuniu inúmeras condenações do movimento da terra e do heliocentrismo
por vários Papas no passado. Ironicamente, o trabalho foi e é usado pelos ultra-montanos para
mostrar a segurança doutrinal da Igreja, e fazer mudar de idéia os liberais e modernistas.
Pouco tempo depois do livro, o experimento de Michelson-Morley abalou o mundo científico,
fazendo diversos cientistas proporem novas teorias para acomodar de novo o heliocentrismo,
dentre os quais estava Albert Einstein. O que queremos dizer é que para um católico, negar as
teses aqui dispostas, é o mesmo que dar razão ao anglicano W. Roberts.

Paulo V
A primeira condenação de Galileu por heresia e por ensinar doutrinas errôneas veio em 1616,
quando ele publicou um livro sobre as manchas solares. Então, o Santo Ofício condenou as
afirmações:

1. O sol é o centro do cosmo (do mundo) e permanece completamente imóvel

2. A terra não é o centro do cosmo, não está imóvel, mas se move em conjunto ao redor do sol,
e também gira sobre si mesma.

A primeira foi considerada absurda em filosofia e considerada herética, enquanto contradizia a


doutrina das Sagradas Escrituras em muitas passagens, tanto em seu significado literal como a
interpretação comum dos Padres e Doutores da Igreja. Já a segunda afirmação, a sentença
disse que merece a mesma censura em filosofia, e desde o ponto de vista teológico, é ao
menos errônea na fé. Galileu foi admoestado, e intimado a não ensinar, nem escrever, nem
defender tais doutrinas heréticas e incorretas. A Congregação do Index condenou as
afirmações como eram ensinadas por "Nicolas Copernicus no De revolutiionibus orbium
caelestium (...) sendo difundida pelo (...) Pe. Paolo Antonio Foscarini (...) Então, para que esta
opinião não se espalhe mais e prejudique a verdade Católica, decreta que o dito (...) De
revolutionibus [o livro de Copérnico] (...) seja suspenso até ser corrigido; mas que o livro do
padre carmelita, Paolo Foscarini, seja proibido e condenado.” No entanto, em 1632, Galileu
publica fraudulentamente "Diálogos sobre os Sistemas do Mundo", em que, com todo o
despudor, e incluso, com um autêntico dogmatismo, defende o sistema Copérnico e ridiculariza
o sistema geocêntrico. Como se depreende desse escrito, assim como a extensa carta à Arqui-
Duquesa Cristina, Galileu duvidava da inerrância das Escrituras, e sustentava - contradizendo
diretamente a sessão IV do Concílio de Trento - que ainda que em matérias de fé e moral as
Escrituras não erram, elas erram em matéria física (científica). Portanto, o delito de Galileu não
só concerne ao campo da cosmologia, mas ao doutrinal. Seu erro foi duvidar da inerrância das
Escrituras em matéria científica. Posteriormente ao Concílio de Trento, tanto Bento XV como
Leão XIII reafirmaram a integridade das Escrituras em todas as suas partes e em todos os seus
significados, tanto físico como espiritual, tanto natural como sobrenatural.
Urbano VIII
Sentença do Santo Ofício do ano de 1633 contra Galileu:

“A proposição que afirma não ser a Terra o centro do mundo, nem imóvel, mas de ser móvel, e
também possuir um movimento diurno, é também absurda, filosoficamente falsa e,
considerada teologicamente, é ao menos errônea na fé”.

Alexandre VII
Na Bula Speculatores Domus Israel, o Papa Alexandre VII confirma as condenações anteriores.

Bento XIV
O Papa Bento XIV tira o livro de Copérnico do Index, após a remoção pelos editores de nove
sentenças que ensinavam que o heliocentrismo era uma certeza. Isto estava de acordo com o
decreto de 1616 que o livro seria banido até a sua correção.

Pio VII
Alguns alegam que o imprimatur dado no reino de Pio VII ao livro de Canon Setelle sobre o
heliocentrismo em 1820, e a sanção permitida para todos que recusarem livros sobre o
heliocentrismo em 1822 encerra o debate. Mas o que não contam eles é que o Cardeal Olivieri
deliberadamente mentiu ao Papa sobre o verdadeira motivo pelo qual Galileu e o
heliocentrismo foram condenados em 1616 e 1633, e foi em cima desta mentira que Pio VII
deixou Stelle ter um imprimatur. O Cardeal Olivieri apoiou a sua mentira dizendo que a Igreja
de 1616 e 1633 condenou Galileu e o heliocentrismo unicamente por causa que: Galileu tinha
um modelo falso heliocêntrico que não continha a órbita elíptica dos planetas, e a Igreja
acreditava que uma terra movente causaria correntes de ar devastadoras na superfície da
terra. Mas a verdade é que a Igreja nem sequer menciona essas duas afirmações, e nem as
debateu ou usou elas como critério, como mostramos aqui mesmo. Card. Olivieri mentiu do
mesmo modo que Galileu mentiu quando conseguiu um imprimatur do Pe. Riccardi em 1632,
mostrando que um imprimatur não necessariamente faz um livro isento de erros. Entretanto,
quando o Papa Urbano VIII pegou Galileu na mentira, ele retirou o imprimatur no ano seguinte,
1633.

Gregório XVI
O Index de 1835 foi feito baseado em uma falsa alegação de paralaxe estelar, mas não há
autorização específica do Papa Gregório ao livro de Galileu. A paralaxe estelar só seria
descoberta três anos depois em 1838 por Bessell. E a inquisição estava sem os documentos
sobre Galileu desde 1814 quando Napoleão confiscou todos os documentos e levou para a
França, e não retornou até 1845.
A Sagrada Escritura

A autoridade da Sagrada Escritura em todos os seus aspectos é confirmada pela Igreja:

Leão XIII

"E, na verdade, foram escritos sob a inspiração do Espírito Santos todos os livros que a Igreja
recebeu como sagrados e canônicos, com todas as suas partes; ora é impossível que na
inspiração divina haja erro, visto como a mesma inspiração por si só não somente excluí todo o
erro, senão também que o excluí tão necessariamente quanto necessariamente repugna que
Deus, Verdade Suprema, seja autor de algum erro" [2].

S. Pio X

Condenou as afirmações: "Visto que no depósito da fé se contêm somente as verdades


reveladas, não compete a Igreja, sob nenhum respeito, proferir juízo sobre as asserções das
ciências humanas". "A inspiração divina não se estende a toda Sagrada Escritura a ponto de
preservar de todo erro todas e cada uma de suas partes". "O progresso das ciências exige que
se reformem os conceitos da doutrina cristã sobre Deus, sobre a Criação, sobre a Revelação,
sobre a Pessoa do Verbo Encarnado e sobre a Redenção" [3].

Bento XV

"19. Ainda, ninguém pode negar que autores recentes realmente aderiram a tais limitações.
Enquanto aceitavam que a inspiração estendia-se a cada frase - e verdadeiramente a cada
palavra da Escritura - ainda assim, tentando distinguir entre o que eles chamaram elemento
primário ou religioso e o elemento secundário ou profano na Bíblia, eles alegaram que o efeito
da inspiração - a absoluta verdade e imunidade ao erro - estava restrita ao elemento primário
ou religioso. A visão deles é que somente o que toca em religião é a intenção e ensinamento de
Deus na Escritura, e que todo o resto - coisas que pertencem ao "conhecimento profano", os
detalhes nos quais a verdade Divina é apresentada - Deus somente permite, e até deixa ao
autor individual maior ou menor sabedoria. Impressionante pensar, então, que na opinião
deles um considerável números de coisas ocorrem na Bíblia no âmbito da ciência física, história
e semelhantes, e que não podem ser conciliadas com o progresso moderno na ciência! Alguns
ainda mantém que esta visão não entra em conflito com o que nosso predecessor disse (assim
eles alegam): que os autores sagrados falam de acordo com a aparência externa, e por isso
falível, das coisas na natureza. Mas as palavras do próprio Pontífice mostram que isso é
temerário e oriundo de uma falsa dedução" [4].

Pio XII

"E mais, de acordo com a opinião fictícia deles, o senso literal da Sagrada Escritura e sua
explicação, cuidadosamente desenvolvida debaixo da vigilância da Igreja por tantos grandes
exegetas, deve agora se voltar a uma nova exegese, que eles chamam de simbólica ou
espiritual.
Tudo mundo vê como alheio tudo isso é aos princípios e normas da interpretação correta
fixada por nossos predecessores de feliz memória, Leão XIII na Encíclica Providentissimus Deus,
e Bento XV na Encíclica Spiritus Paraclitus, como também Nós mesmos na Encíclica Divino
Afflante Spiritu.” [5].
- O curso do Sol, da lua e das estrelas

E o sol e a lua pararam até que o povo se vingou de seus inimigos. Josué X, 13 Ele move a terra
do seu lugar, e as suas colunas são abaladas. Manda ao sol, e o sol não nasce; encerra as
estrelas como sob um selo. Jó IX, 6-7 Porventura poderás tu juntar as brilhantes estrelas
Plêiades ou impedir a revolução do Arcturo? É tu porventura que fazes aparecer a seu tempo a
estrela da manhã? (...aut gyrum Arcturi poteris dissipare? ). Jó XXXVIII, 31-32ª A saída do sol é
desde uma extremidade do céu; seu curso (vai) até à outra extremidade, e nada se esconde do
seu calor (a summo cælo egressio ejus. Et occursus ejus usque ad summum ejus ; nec est qui se
abscondat a calore ejus). Sl XVIII, 7 Uma geração passa, e outra geração lhe sucede; mas a terra
permanece sempre estável. O sol nasce e põe-se, e torna ao lugar donde partiu, e, renascendo
aí, dirige o seu giro para o meio-dia, e depois declina para o norte; o vento corre, visitando
tudo em roda, e volta a começar os seus circuitos. Eclo I, 4-6

- A imobilidade da terra e seu fundamento

Trema toda a terra diante da sua face, porque ele fundou o orbe imóvel (Commoveatur a facie
ejus omnis terra :ipse enim fundavit orbem immobilem). I Cr XVI, 30 Onde estavas tu, quando
eu lançava os fundamentos da terra? Indica-mo, se tens inteligência. Sabes quem deu as
medidas para ela ? E quem estendeu sobre ela a régua? Sobre que foram firmadas suas bases?
Ou quem assentou sua pedra angular, quando os astros da manhã me louvavam juntos, e
quando todos os filhos de Deus estavam transportados de júbilo? Jó XXXVIII, 4-7 Ele é quem
estende o setentrião sobre o vácuo, quem suspende a terra no nada. Jó 26, 7 O Senhor reinou,
e vestiu-se da magnificência, e cingiu-se dela. Porque firmou a redondeza da terra, que não se
moverá (Etenim firmavit orbem terræ, qui non commovebitur). Sl XCII, 1-2 Dizei entre as
nações que o Senhor reina. Porque firmou toda a terra, que não se moverá; ele julgará os
povos com equidade. (Etenim correxit orbem terræ, qui non commovebitur). Sl XCV, 10
Fundaste a terra sobre as suas bases, ela não se desnivelará pelos séculos dos séculos (Qui
fundasti terram super stabilitatem suam: non inclinabitur in sæculum sæculi). Sl CIII, 5

- Os Padres e Doutores da Igreja

São Clemente de Roma

"Sol, lua e demais astros giram conforme Sua determinação, em harmonia e sem desvio algum
pelas órbitas prescritas a cada um deles" [6].

Santo Ambrósio

"Olhe primeiro o firmamento do céu, que foi criado antes do Sol. Olha a terra, que começou a
ser visível e ordenada antes que o sol iniciara seu curso" [7].

Santo Agostinho (explicando uma parte do Eclesiastes):

"Disse-o das coisas que antes mencionava, a saber, das sucessões das gerações, do curso do
sol, do deslizar das torrentes, ou, então, de todo o gênero de coisas, que nascem e morrem"
[8].
São Basílio Magno

"Há filósofos da natureza que com grande habilidade de palavras dão razões para a imobilidade
da terra (...). Não é, eles continuam, sem razão ou por chance que a terra ocupa o centro do
universo, seu lugar natural (...) Não fique surpreso que o mundo nunca cai: ele ocupa o centro
do universo, seu lugar natural. Por necessidade ele é obrigado a manter-se no seu lugar, a não
ser que um movimento contrário a natureza possa movê-lo. Se tem algo nesse sistema que
pareça provável para você, mantenha sua admiração pela fonte dessa ordem perfeita, pela
sabedoria de Deus. Grandes fenômenos não nos arrebatam a não ser que tenhamos
descoberto o mecanismo maravilhoso deles. É de outro modo aqui? De todos os eventos
vamos preferir a simplicidade da fé do que a demonstração da razão" [9].

São João Crisóstomo

"Mas não só Ele fez, mas deu meios para que quando estivesse feito, poderia continuar suas
operações; não permitindo que tudo seja imóvel, nem comandando que tudo esteja em
movimento. Os céus, por exemplo, se mantém imóvel, de acordo com o que o profeta disse,
"foi ele que estendeu os céus como um véu, e os desenrolou como uma tenda para habitar".
Mas, por outro lado, o sol com o resto das estrelas, percorrem seus cursos durante todo o dia.
E de novo, a terra é fixa, mas as águas estão continuamente em movimento; e não só as águas,
mas as nuvens, mas as frequentes e sucessivas chuvas, que retornam nas épocas próprias"
[10].

São Pio V no Catecismo de Trento

"Ele também deu ao Sol seu brilho, e à lua e às estrelas a beleza; para que servissem de sinais
para as estações, dias e anos. Ele também ordenou os corpos celestes em um determinado e
uniforme curso, que nada varia mais que a sua contínua revolução, enquanto nada é mais fixo
que a sua variedade (...). À terra Deus também comandou que ficasse no meio do universo,
colocada no sua própria fundação e fez as montanhas subirem, e as planícies descerem ao
lugar que ele encontrou para eles" [11].

São Roberto Bellarmino

"Dizer que assumindo que a terra se mova e o sol permaneça fixo, as aparências são salvas de
modo melhor que com excentricidades e epiciclos, é justo; não há nenhum perigo nisto e é
suficiente tratar assim para os matemáticos. Mas querer afirmar que o sol está realmente fixo
no centro dos céus e unicamente gira ao redor de si (através de seu eixo) sem viajar do leste
para o oeste, e que a terra está situada na terceira esfera e gira com grande velocidade em
torno do sol, é uma coisa perigosa, não só por irritar todos os filósofos e teólogos escolásticos,
senão por também injuriar nossa Santa Fé e supor falsas as Sagradas Escrituras" [12].

Santo Tomás de Aquino

"Deve-se dizer que a terra está para o céu assim como o centro para a circunferência. Ora, em
torno de um centro pode haver muitas circunferências. Logo, existindo uma só terra, afirmam-
se muitos céus" [13].
As revelações privadas (Santa Hildegarda)

As revelações à Santa Hildegarda são impressionantes: em "Liber Divinorum Operum" (1163-


1174), a santa aponta explicações para a origem da gravidade, algo que não pensaram os
cientistas em toda a história da ciência até então. Ali explica a natureza do espaço exterior e
suas implicações, e explica a mecânica do movimento solar e o sistema planetário desde uma
perspectiva tychoniana, tal como defendida. Isso foi 400 anos antes que Tycho Brahe
estabelecesse seu sistema. De acordo com as visões de Santa Hildegarda, a Terra encontra-se
imóvel no centro do universo, servindo como centro dos quatro pontos cardeais do cosmo. Um
universo que é finito e esférico. Suas visões deixam perfeitamente claro que todo o firmamento
rotaciona ao redor da terra estática. Rodeando a terra há seis capas de diversas espessuras
compostas de fogo, água ou ar. As duas capas mais externas estão formadas por fogo (plasma).
Justo debaixo destas duas capas aparece uma banda de éter. O Sol participa do movimento
rotacional de todo o firmamento, salvo o quase um grau ao dia que uma corrente contrária do
fluído éter o faz retroceder, e outra corrente transversal produz nele uma rotação de subida-
descida. As revelações foram consideradas como de origem divina pelo Bispo de Mainz, Dom
Heinrich, e a publicação aprovada pelo Papa Eugênio III [14].

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*Associación de Docentes Santo Tomás de Aquino.

Textos disponíveis em http ://asociaciondocentessantotomasaquino.blogspot.com


[1] Despedida de Bento XVI aos padres no Vaticano, pouco tempo depois do anúncio de sua
renúncia, como relatada pelo L’Osservatore Romano, 14 de Fevereiro, 2013, página 4, parágrafo
#5 no artigo.

[2] Encíclia Providentissimus Deus, 1893, no.30

[3] Lamentabili Sane, 1907, números 5, 11, 64.

[4] Spiritus Paraclitus, 15 de Setembro de 1920.

[5] Humani Generis, no.23, no.24, 12 de Agosto de 1950.

[6] Primeira Carta aos Coríntios, Cap.XX, 3

[7] Os seis dias da Criação, 4, 1

[8] Cidade de Deus, Livro XII, Cap.13

[9] The Treatise de Spiritu Sancto, B. Jackson, pg.223 Hexaemeron, Homilia I

[10] Nicene and Post-Nicene Fathers, Vol. IX: The Homilies on the Statues to the People of
Antioch.: Homily XII

[11] O Credo, artigo 1, sobre os céus e a terra


[12] Carta de 12 de Abril de 1615 para o Frade Paolo Foscarini, que era um seguidor de
Galileu.

[13] Summa Theologica, Prima Pars, q.68, Art.4

[14] Assim lembra Bento XVI em uma audiência geral no Palácio Apostólico de Castel Gandolfo,
Quarta-feira,1° de Setembro de 2010, e na carta apóstolica de 7 de Outubro de 2012 onde
Santa Hildegarda de Bingen é proclamada Doutora da Igreja universal.

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