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Duas correntes se manifestam hoje na Tradição. Uns querem um acordo. Outros, não.
Uns dizem:
Outros respondem:
-Foi assim que caíram o Barroux, Campos e tantos outros, respondem os segundos.
-Mas nós não cairemos, não é possível que Deus permita que tal coisa aconteça.
-“Quem está de pé, cuidado para que não caia” adverte São Paulo. (I Cor. 10, 12)
As mesmas causas produzem os mesmos efeitos. Se Bento XVI beatifica quem excomungou
Dom Lefebvre e Dom Antônio de Castro Mayer, se Bento XVI celebra o jubileu de prata da
reunião de Assis, se Bento XVI defende o Concílio Vaticano II como sendo a Tradição, então os
males que vimos no pontificado de João Paulo II se repetirão no de Bento XVI.
Enquanto a Roma liberal dominar a Roma eterna; enquanto o maior desastre da história da
Igreja desde a sua fundação, ou seja, o Concílio Vaticano II, for a referência privilegiada dos
Bispos, dos Cardeais e do Santo Padre não haverá solução.
-Mas de que serve liberar a missa de sempre se Roma deixa coexistir as duas missas? Lemos
no Antigo Testamento que Abraão expulsou a escrava Agar e Ismael seu filho para que Isaac
não ficasse com o filho da escrava, pois diz São Paulo: “Aquele que tinha nascido segundo a
carne perseguia o que tinha nascido segundo o espírito” e São Paulo acrescenta: “assim
também agora” (Gal. V, 29). Abraão fez isto atendendo, a contragosto, a um pedido de Sara e
Deus deu razão à Sara, pois a que é livre não devia ser equiparada à escrava. A missa nova é
Agar. Ela não tem direitos. Ela tem que ser suprimida. Quanto ao levantamento das
excomunhões, de que serve retirá-las se se beatifica quem as fulminou? Apesar de um certo
benefício jurídico desses dois atos, “liberação” da missa (que nunca fora proibida) e
“levantamento” das excomunhões (que nunca tiveram validade), o benefício espiritual de cada
um deles ficou bem comprometido pelo contexto contraditório em que foram realizados. Ou é
João Paulo II que tem razão ou é Dom Lefebvre. Não se pode exaltar João Paulo II e retirar, se é
que retiraram, a excomunhão de Dom Lefebvre. Os dois não podem ter razão ao mesmo
tempo. Isto é puro modernismo. Quanto à missa, se dá o mesmo. Se se permite as duas, o
resultado é a contradição. É um princípio de dissolução. É um princípio de corrupção da fé
católica.
-Mas, dirão os acordistas, Roma não pode pôr fim a esta crise de uma só vez. As coisas
humanas não se resolvem de um só golpe. Para pôr ordem no caos atual será necessário muito
tempo.
-Sim. Não há a menor dúvida. Mas o começo desta ordem só virá quando o Papa tiver a
intenção de instaurar esta ordem. Mas aqui uma questão se impõe. Bento XVI deseja pôr
ordem na Igreja?
-Nada é menos certo do que isto, respondemos nós. Pôr ordem na Igreja não é imitar Napoleão
que estruturou a Revolução e, desta forma, a perpetuou. Para semear a desordem é necessário
um pouco de ordem, dizia Corção. Bento XVI é um homem de ordem, mas a ordem que ele
deseja não é aquela trazida pela Realeza Social de Nosso Senhor Jesus Cristo, para ele “o
problema do Concílio foi assimilar dois séculos de cultura liberal”[1] . É isto que Bento XVI dá
sinais de querer fazer com sua hermenêutica da continuidade.
-Mas, insistem os outros, aos poucos Bento XVI tomará cada vez mais a defesa da Tradição. Ele
precisa de nós. Ele quer a nossa ajuda para combater o modernismo.
-Campos também falava assim. Como Bento XVI pode querer nossa ajuda para combater o
modernismo se ele mesmo é modernista? Ele pode combater certos modernistas, mas
combater o Modernismo, ele só poderá depois de deixar de ser modernista.
-Não sei. O que sei é que Santo Anselmo dizia que Deus não ama nada tanto neste mundo
como a liberdade da sua Igreja. Pôr a Tradição sob a autoridade de homens que não professam
a integridade da Fé católica é fazer exatamente o contrário do que Deus mais ama.
-Ele é um Papa liberal que escraviza a Igreja. Pôr-se sob sua autoridade sem que ele renegue
os erros por ele professados é pôr Sara sob o jugo de Agar, Isaac sob o jugo de Ismael. Ora, nós
somos filhos da livre e não da escrava cujo filho é Vaticano II, escravo de dois séculos de
cultura liberal.
-A conversão do Papa.