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D I S C I P L I N A Metodologia Científica

O caminho da ciência:
o método científico

Autoras

Célia Regina Diniz

Iolanda Barbosa da Silva

aula

03
Governo Federal
Presidente da República
Luiz Inácio Lula da Silva
Ministro da Educação
Fernando Haddad
Secretário de Educação a Distância – SEED
Carlos Eduardo Bielschowsky

Universidade Federal do Rio Grande do Norte Universidade Estadual da Paraíba


Reitor Reitora
José Ivonildo do Rêgo Marlene Alves Sousa Luna
Vice-Reitora Vice-Reitor
Ângela Maria Paiva Cruz Aldo Bezerra Maciel
Secretária de Educação a Distância Coordenadora Institucional de Programas Especiais - CIPE
Vera Lúcia do Amaral Eliane de Moura Silva

Coordenador de Edição Diagramadores


Ary Sergio Braga Olinisky Bruno de Souza Melo (UFRN)
Dimetrius de Carvalho Ferreira (UFRN)
Projeto Gráfico Ivana Lima (UFRN)
Ivana Lima (UFRN) Johann Jean Evangelista de Melo (UFRN)
Mariana Araújo (UFRN)
Revisora Tipográfica
Nouraide Queiroz (UFRN) Revisora de Estrutura e Linguagem
Ilustradora Rossana Delmar de Lima Arcoverde (UFCG)
Carolina Costa (UFRN)
Revisora de Língua Portuguesa
Editoração de Imagens Maria Divanira de Lima Arcoverde (UEPB)
Adauto Harley (UFRN)
Carolina Costa (UFRN)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Central - UEPB

D585   Diniz, Célia Regina.

   Metodologia científica / Célia Regina Diniz; Iolanda Barbosa da Silva. – Campina Grande; Natal: UEPB/UFRN - EDUEP, 2008.

ISBN: 978-85-87108-98-2

   1. Metodologia científica I. Título.

21. ed.  CDD 001.4

Copyright © 2008  Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material pode ser utilizada ou reproduzida sem a autorização expressa da
UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da UEPB - Universidade Estadual da Paraíba.
Apresentação

N
a aula anterior estudou-se o Conhecimento Científico que foi abordado na perspectiva
de sua construção, descobertas e implicações no cotidiano das pessoas e na sociedade
como um todo. Nesta aula, vai-se estudar o caminho percorrido pelo saber científico
em seu processo de construção e as possibilidades epistemológicas de produção da Ciência.
Nesse caso, buscar-se-á como se produz ciência com o uso do Método Científico.

O material desta aula virá acompanhado de orientações e atividades que buscam


levá-lo ao conhecimento e reflexão em torno do caminho da ciência: o método científico.
Desse modo:

n  elabore as atividades, sugeridas no material ao longo das aulas;

n  busque ampliar seus estudos, consultando as leituras que virão indicadas;

n  realize sua auto-avaliação da aula, utilizando-se do espaço disponibilizado.

Nesse momento, vocês são convidados a percorrer os caminhos da ciência, conhecendo


por meio da teoria o que é o Método Científico?

Objetivos
Pretende-se, ao final desta aula, que você tenha conhecido e compreendido que:

não há produção de conhecimento científico sem o uso


1 do método científico;

existem perspectivas diferentes na relação entre sujeito


2 e objeto do conhecimento;

o método científico torna-se o caminho para produção


3 do saber científico.

Aula 03  Metodologia Científica 


O que significa pensar
usando método?

Pense nisto!!!

O homem ao pensar sobre o(s) fenômeno(s)/fato(s) que os circunda constrói


hipóteses e elabora conjecturas em torno deles, buscando encadear as respostas
por meio de argumentos lógicos. Ao procurar conhecer a(s) verdade(s) sobre
o(s) fenômeno(s)/fato(s) o homem cria uma sistematicidade no modo de
pensar sobre si e a sua relação com eles.

Atividade 1
Considerando sua experiência de professor, nesse momento você é convidado
a pensar sobre a organização dos conteúdos de Geografia em um ano letivo no
Ensino Fundamental II ou no Ensino Médio. Relate como se pensa e se ordena
a distribuição desses conteúdos em sua escola.
sua resposta

 Aula 03  Metodologia Científica


Reflita!!!

O modo como você distribuiu o conteúdo está orientado por etapas sistemáticas
de apreensão do conhecimento ordenadas por uma lógica de produção do
saber científico. Essa lógica orienta o modo de conhecer os fenômenos que são
estudados e a busca de verdades em torno deles. O saber elaborado trata de
objetos empíricos, de coisas e de processos.

O que é o Método Científico?

A
origem da palavra método é grega e significa um conjunto de etapas e processos a
serem seguidos na apreensão ordenada da realidade na busca da verdade sobre os
fenômenos/fatos investigados. Nesse caminho de conhecer há uma série de etapas
(fases) para se tentar resolver um problema, tornado objeto de investigação. Quando se fala
em método, busca-se explicitar quais são os motivos pelos quais o pesquisador escolheu
determinados caminhos e não outros.

Diante disso, se compreende que o método, no sentido geral, é um conjunto de ações,


procedimentos e atividades sistemáticas que permitem o ordenamento e alcance de um
objetivo no processo de construção do conhecimento na ciência. E que a questão do método
diz respeito a pressupostos que fundamentam o modo de pesquisar e são anteriores a coleta
de dados na realidade.

Convidando Rubem Alves para discussão sobre o método científico, somos levados a
um exercício de raciocínio. Observe:

O que eu desejo que você anote é isto: a inspiração mais profunda da ciência não é um
privilégio dos cientistas, porque a exigência da ordem se encontra presente mesmo nos
níveis mais primitivos da vida. Se não necessitássemos de ordem para sobreviver não
a procuraríamos. E é somente porque a procuramos que a encontramos. [...] Ordens
distintas, regras diferentes, mundos diferentes. [...] Esta é a razão por que a ciência,
desde os seus primórdios, tratou de inventar métodos para impedir que os desejos
corrompessem o conhecimento objetivo da realidade. [...] cientistas que só trabalham
com fatos, que só levam em consideração aquilo que pode ser visto, tocado e medido.
[...]. (ALVES, 1994, p. 37-9)

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Atividade 2
Usando o raciocínio metódico apresentado por Rubem Alves sobre “as ordens distintas,
regras diferentes e mundos diferentes,” analise a poesia de cordel O PLANETA ÁGUA de
Manoel Monteiro , fazendo correlações entre fatos e registrando sua interpretação.

Você sabia que é


Preciso economizar
Água doce de beber
Porque senão vai faltar?
E que é muito Provável
Que água doce e potável
Em breve possa acabar?

Se sabia, muito bem,


Senão vai ficar sabendo
Que falta de cuidados
Tem manancial morrendo,
Uns, sujam a água que bebem
Verificar o exemplo
E nem de longe percebem
de procedimento para
a inserção de nota de O mal que estão cometendo.
rodapé, de acordo com as
normas da ABNT. A água não vai sumir
Mas com o rio assoreado,
Água suja, lixo exposto,
Morro e campo desmatado,
Lago com chumbo e mercúrio
Com esse pincel expúrio
O presente é mal pintado

Água nunca foi nem é


Um recurso renovável
Por isso não desperdice
Nossa doce água potável;
O H²O bem composto
Não tem gosto, mas seu gosto
Tem sabor inimitável.

[...]

 MONTEIRO, Manoel. O planeta água está pedindo socorro. Campina Grande, Pb: Gráfica Martins, 2005. Literatura de Cordel.


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Àgua pura de beber
È bastante limitada,
Àgua salgada tem muita
Mas de toda água somada
Pelo que já apurou-se
Dois por cento é água doce
O resto é água salgada.
[...]

sua resposta

Reflita!!!

O raciocínio metódico por você desenvolvido na análise da poesia estabeleceu


correlações entre fenômenos cotidianos e fatos narrados no debate histórico de
sua época sobre a escassez da água doce e potável. Esses fatos estão presentes
na narrativa do discurso poético como espaço de informação e crítica social.
Nesse caso, você atuou como um investigador na busca de relações entre fatos
e acontecimentos cotidianos de sua realidade.

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A busca da verdade na
concepção do método

Pense nisto!!!

A construção de verdades é o propósito da ciência, para isto ela se utiliza


de métodos sistemáticos que concebem os seres e os fatos como estando
interligados entre si por certas relações. Nesse caso, cabe ao método encontrar
e reproduzir encadeamentos lógicos que desvendem essas relações por meio
do conhecimento ordenado de leis e princípios científicos.

Perceba que a busca da verdade na ciência moderna funda-se em pressupostos que


valorizam a razão, experimentação e observação em torno da investigação de fenômenos/
fatos que nos levam a exercícios de raciocínio diferenciados.

A Modernidade trouxe a valorização da experimentação e da observação aliada ao


raciocínio como caminhos legítimos para se fazer ciência. Esse pressuposto considerava
que o homem seria capaz de descobrir as causas dos fenômenos da natureza, descrevendo
em leis gerais o seu modo de funcionamento. Entretanto, antes desse momento histórico, o
pressuposto dominante não considerava a observação humana como uma possibilidade de
produzir saber, pois o único conhecimento possível era dado por Deus ao homem, por meio
da revelação.

Conforme Alves (1994), Kepler decifrou o enigma do universo, descobrindo o segredo


por meio de uma melodia poética; no entanto, foi Galileu que se tornou o especialista em
decifrar metodicamente os códigos do universo afirmando “que o livro da natureza está
escrito em caracteres matemáticos” (GALILEU apud idem, op. cit., p. 70).

Veja-se o trecho de uma carta de Kleper (apud ALVES, op.cit, p. 73) falando sobre a
melodia do universo:

Os movimentos celestes nada mais são que uma canção contínua para várias vozes,
percebida pelo intelecto e não pelo ouvido; uma música que, por meio de tensões
discordantes, síncopes e ‘cadenzas’ [...] progride na direção de certas resoluções
determinadas, estabelecendo assim certas marcas no fluxo imensurável do tempo.
Não é de causar surpresa, portanto, que o homem, imitando o seu Criador, tenha,
finalmente, descoberto a arte da notação musical, desconhecida dos antigos. O homem
desejava reproduzir a continuidade do tempo cósmico dentro de uma breve hora, por

 Aula 03  Metodologia Científica


meio de uma engenhosa harmonia de várias vozes, a fim de saborear uma amostra
do prazer que o Criador Divino tem em Suas obras, e participar de sua alegria fazendo
música na imitação de Deus.

O pioneiro a tratar do método na ciência foi Galileu Galilei com o método experimental
que consiste numa “indução experimental, chegando-se a uma lei geral por intermédio da
observação de certo número de casos particulares” (LAKATOS; MARCONI, 2000, p. 47). Essa
concepção de método vem contribuir com a consolidação da Ciência Moderna, conforme
Alves (op. cit., p. 81) “[...], freqüentemente se ouve dizer que, em oposição aos filósofos
metafísicos da Idade Média, a ciência moderna se caracteriza por seu amor aos fatos [...]”.

Se o método, o caminho de conhecer da ciência, de Kepler tivesse sobressaído é bem


provável que o olhar da ciência estivesse voltado para contemplação mística, andando de
mãos dadas com músicos, teólogos e artistas, ao invés das possibilidades criadas com
os códigos matemáticos de Galileu em tecnologias e técnicas que promoveram revoluções
trazendo também implicações sociais questionáveis em seus resultados.

Atividade 3
Outros gêneros textuais nos permitem conhecer os fatos da história da ciência, no caso
vai-se buscar na Literatura de Cordel fragmentos dessa história. Leia os fragmentos dos
versos de Gonçalo Ferreira da Silva (2005, p. 33-4) sobre GALILEU GALILEI e registre sua
interpretação, relacionando-a à discussão da aula.

[...]
Pitágoras e Nicolau
Copérnico, por excelência
na vida de Galileu
tireram grande influência,
eram os três a dose tripla
Verificar o exemplo
da mais pura inteligência. de procedimento para
a inserção de nota de
Galileu ao desprezar rodapé, de acordo com as
a caduca teoria normas da ABNT.
do princípio geocêntrico
grande mergulho daria
nos mistérios insondáveis
do campo da Astronomia.

 Cf. com ALMEIDA, Carla; MASSARANI, Luisa; MOREIRA, Ildeu de Castro (Orgs). Cordel e Ciência: a ciência em versos


populares. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005.


  Você sabia que Galileu só escapou da fogueira da inquisição da Igreja Católica porque desmentiu suas descobertas?


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Porém a contestação
da aristotélica lei
e o princípio heliocêntrico
de Galileu Galilei
de que a Terra é quem gira
em torno do Astro-Rei.

Provocaram tanto ódio,


tão feroz ira mortal
na cega Igreja Católica
que seus ministros do mal
conduziram Galileu
Galileu ao tribunal.

Diante do tribunal
Galileu foi obrigado
a dizer publicamente
que havia se enganado
contrariando o princípio
que tinha formulado.

Antes Galileu dissera


com pura e sã consciência
que a Igreja Católica
tão pobre de competência
não tinha elementos para
intrometer-se em ciência.
[...]
sua resposta

 Aula 03  Metodologia Científica


Reflita!!!

Galileu tornou-se uma referência para Ciência Moderna; no entanto, sua


concepção de método contribuiu para o desenvolvimento de uma ciência cujos
desdobramentos e implicações sociais foram vistos na aula anterior.

As bases epistemológicas
do método científico

Pense nisto!!!

A Epistemologia como um campo da Filosofia se preocupa com a análise e


crítica dos pressupostos metodológicos da Ciência Moderna. Nesse caso,
torna-se importante o conhecimento dos fundamentos que orientam o modo
de pensar e de abordar os fenômenos/fatos investigados pela ciência.

Na discussão sobre os pólos que compõem o conhecimento científico aparece de um


lado o homem que se propõe a conhecer (sujeito) e do outro a realidade a ser conhecida
(objeto). Esse debate inaugura na Ciência Moderna caminhos para o conhecimento cujo foco
está no sujeito, no objeto ou em ambos. Esses caminhos metódicos irão identificar as bases
de construção do saber científico e da pesquisa científica na modernidade.

A Epistemologia traz três perspectivas à compreensão da relação entre sujeito e objeto


do conhecimento. São elas: o empirismo, o racionalismo e o interacionismo.

a) O empirismo
A compreensão em torno da verdade dos fatos nos encaminha para o conhecimento
das causas e dos efeitos. David Hume (apud ALVES, 1994, p. 128) dizia: “[...] todos os
objetos com que a razão pode se ocupar se classificam em duas gavetas: relação de idéias,
o que nos abre o campo da lógica e da matemática e matérias de fato, o que nos conduz aos
eventos do mundo exterior e suas relações.”

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O empirista Hume acreditava que os pensamentos sobre os fatos derivam de relações
causais fundamentando suas análises em bases psicológicas do sujeito humano. Para ele a
causa de um fenômeno decorre da observação de repetições de sucessões de eventos. Logo,
supõe nessa perspectiva a primazia do objeto em relação ao sujeito, isto é, o conhecimento
deve ser produzido a partir da forma como a realidade se apresenta ao cientista.

Nesse sentido, as relações causais poderiam ser descobertas pelo investigador/


pesquisador tornando a verdade sobre os fatos uma realidade possível de se ordenar na
experiência de observação dos fenômenos. No entanto, emerge nesse exercício metódico
do saber científico um problema: por que tais relações ao serem percebidas e criadas pela
experiência podem traçar caminhos diferentes?

Considerando que as relações causais provocam estímulos tendo os seus efeitos


compreendidos como respostas o investigador/pesquisador poderia metodicamente ordenar
comportamentos na busca de respostas desejáveis ao processo de ensino e aprendizagem
na educação formal. Veja-se a crítica de Alves (op. cit., p. 129) ao uso desse método:

Não se pode negar que o conhecimento de causas seja extremamente eficiente. Elas são
usadas constantemente por pais, educadores, torturadores, psicólogos e psiquiatras,
vendedores, propagandistas, políticos, religiosos _ enfim, todas e quaisquer pessoas
_ que desejam modificar (não importa que se alegue que a mudança é pra melhor!) o
comportamento dos outros.

Atividade 4
Exercitando a crítica ao método causal assista ao filme Laranja Mecânica de
Stanley Kubrick observando e relacionando os estímulos causais e as respostas
esperadas no uso desse método.
sua resposta

10 Aula 03  Metodologia Científica


Reflita!!!!

A análise do filme permite uma compreensão dos métodos adotados nas


práticas pedagógicas e como esses métodos está focado numa perspectiva
de ciência e de conhecimento cujo sujeito do processo não é o educador nem
o educando, mas os procedimentos metódicos e analíticos construídos por
abordagens científicas orientadas por relações de causa e efeito.

b) O racionalismo
Nessa perspectiva o homem enquanto sujeito do conhecimento ou a sua atividade de
conhecer em relação ao objeto por meio da sua capacidade de pensar e avaliar tomando a
razão como parâmetro de conhecimento torna-se a referência de onde provém o saber.

Nesse caso, a razão é quem conhece e as experiências são conhecidas. Em primeiro


plano está o sujeito (pesquisador) que ordena a realidade; dito de outra forma, a realidade
se constrói no pensamento para depois existir enquanto realidade vivida e experiência
compreendida. Nessa perspectiva, a idéia de causa estaria na razão e seria a partir desse
plano mental de idéias que a realidade poderia ser construída e conhecida como verdade
pelo pesquisador.

As idéias racionalistas trazem o sujeito pensante para o espaço da produção e construção


do conhecimento, Carvalho et. al. parafraseando Descartes (2000, p. 24) diz:

Assim, penso, logo existo, ou seja, minha certeza de existência decorre do fato de
que eu estou pensando. Esta é uma idéia clara e distinta, dirá Descartes, uma vez que
dela posso duvidar. Todas as idéias claras e distintas que descrevem as propriedades
definidoras de um objeto são tomadas como verdadeiras e correspondem às coisas em
si mesmas. Fecha-se, assim, o circuito da dúvida metódica: existe uma correspondência
entre a matéria e a idéia.

Na Crítica da razão pura (1999) Immanuel Kant considera que a ciência produz
um conhecimento universal e que não se pode duvidar. A razão vem filtrar a realidade
restringindo o acesso ao que ela permite, não há conhecimento das coisas em si mesmas,
mas como elas aparecem diante do sujeito sobre a forma de fenômenos. Nessa perspectiva
racionalista, o tempo, o lugar, a substância e a causalidade da razão são categorias anteriores
à experiência humana. Sendo assim, é o sujeito que ordena metodicamente o conhecimento
sobre si e sobre as coisas.

Com Hegel, a razão é histórica e se construiu na oposição das idéias constituintes das
transformações e mudanças nos espaços de luta, nas revoluções do século XVIII. Ele busca
compreender racionalmente o movimento contraditório de negação (a tese, sua negação e
a negação da negação) dos acontecimentos humanos, propondo uma dialética (método de

Aula 03  Metodologia Científica 11


abordar os acontecimentos humanos) no plano do espírito, das idéias de uma época histórica.
Hegel (1999) afirmava “que o real era racional e o racional era real”. Logo, a verdade estava
no plano da razão e não da experiência de uma vida material.

A crítica de Chalmers (2000, p.138) ao pensamento racionalista pode contribuir com o


debate dessa aula. Veja-se:

O racionalista extremado afirma que há um critério único, atemporal e universal com


referência ao qual se podem avaliar os méritos relativos de teorias rivais [...]. São
científicas apenas aquelas teorias capazes de ser claramente avaliadas em termos do
critério universal e que sobrevivem ao teste. [...] A verdade, a racionalidade e a ciência,
portanto são vistas como sendo intrinsecamente boas.

A perspectiva racionalista limita a percepção do investigador prendendo-o a categorias


fechadas (teorias e conceitos) do pensamento, isto traz implicações no caminho do
conhecimento, particularmente em concepções pré-estabelecidas sobre os fatos que não
consideraram as particularidades e as singularidades dos fenômenos humanos buscando
generalizações e universalidade de verdades.

Atividade 5
Analisando o método racionalista na prática do educador no uso do material
didático de Geografia disponibilizado pelas Secretarias de Educação se percebe
que alguns conceitos são trabalhados nos livros didáticos independentes
das particularidades regionais e locais. Descreva no espaço, a seguir, alguns
conceitos trabalhados em Geografia nos quais você pode localizar um
determinismo racionalista na busca de generalizações e universalismos.
sua resposta

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Atividade 6
Observe a charge e estabeleça uma relação da iconografia com os desafios
trazidos pela racionalização da vida contemporânea. Registre sua análise e
interpretação no espaço indicado.

Verificar o exemplo
de procedimento para
a inserção de nota de
rodapé, de acordo com as
normas da ABNT.

sua resposta


 Jornal da Ciência, nº 595, 13/04/07. Disponível em < http://www.jornaldaciencia.org.br/charges.jsp. > Acesso em: 02 set.
2007.

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c) O Interacionismo
Essa perspectiva considera a produção do conhecimento numa interação entre sujeito
e objeto do conhecimento. Nesse sentido o método torna-se um caminho marcado por
intersecções entre o pesquisador e os fatos investigados, configurando a realidade como
uma possibilidade de verdade.

O conhecimento por ser uma dimensão interpretativa do sujeito e do objetivo que é


múltiplo e plural torna-se verdadeiro em circunstâncias específicas e pode ser desconstruído
ou ressignificado pelo pesquisador a partir do caminho que for traçado na investigação.

As teorias e os conceitos são relativos aos contextos, às ideologias, às configurações


históricas e às particularidades culturais. As verdades da ciência são relativas e historicamente
contextuais e, portanto nunca neutras. Nesse caso, as ciências humanas não precisam se
angustiar, pois o seu objeto de estudo é de natureza interpretativa e não há necessidade de
se buscar uma objetividade pautada em um dos pólos do conhecimento.

O cientista nessa perspectiva é um sujeito impregnado de valores e ideologias de


sua época histórica e não um ser purificado das condições plurais que determinam a sua
existência como homem e pesquisador, quebrando assim com uma suposta neutralidade
científica enfatizada na perspectiva empirista e racionalista.

Atividade 7
Como a perspectiva interacionista pode contribuir com uma análise da
relação entre os sujeitos (professor e aluno) e o objeto (a aula de geografia)
para superação de problemas de aprendizagem? Registre situações que
caracterizem essa interação e como ela contribui com a aprendizagem no
coletivo da sala de aula.

Verificar o exemplo
de procedimento para
a inserção de nota de
Situação 1
rodapé, de acordo com as
normas da ABNT.

  Ver concepção de interação social na aula O1 de Leitura, Análise e Interpretação de Textos.




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Situação 2

Reflita!!!

A descrição e análise dessas situações permitem a você desenvolver um


raciocínio metódico cuja perspectiva de caminho não está fundada na primazia
do sujeito ou do objeto, mas numa possibilidade de interação entre eles na
produção de um saber sobre a sua prática pedagógica.

Concluindo a aula!!!!!
Espera-se que você tenha compreendido, nessa aula, a importância do Método Científico
para a construção do saber científico e possa vir a exercitar o uso do método na produção de
seus conhecimentos e de suas pesquisas em sua formação universitária.

Aula 03  Metodologia Científica 15


Sugestões de Leitura
Orienta-se como leituras complementares as discussões apresentadas nesta aula:

BERVIAN, P. A.; CERVO, A. L. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Books,
1996.

Os autores apresentam no capítulo 2 – O Método Científico, uma discussão teórica


sobre as noções e importância do estudo do método, os tipos e os processos de aplicação
do método científico.

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia Científica. 3. ed. rev.ampl. São Paulo:


Atlas, 2000.

As autoras apresentam uma discussão teórica e densa no capítulo 2 – Métodos Científicos,


dos conceitos clássicos sobre Método Científico estabelecendo um estudo comparativo entre
os tipos de Métodos no processo histórico de construção da Ciência Moderna.

Resumo
Nesta aula, foram trabalhadas as concepções de Método Científico, conceito
e definições a partir de um debate com autores clássicos da Metodologia
Científica. As definições tornaram-se possibilidades interpretativas à construção
de uma discussão sobre a Ciência Moderna. Nesse debate, resgatou-se as
bases epistemológicas do Método Científico: o empirismo, o racionalismo e o
interacionismo. O empirismo e o racionalismo partem do princípio de existência
de uma realidade independente do ponto de vista do pesquisador e que deve
ser por este alcançada, seja tomando como sua via principal de acesso à
percepção ou a razão. Nas duas perspectivas, o sujeito (pesquisador) participa
do processo de construção do conhecimento. Já o interacionismo estabelece
como caminho para produção do conhecimento a interação entre sujeito e
objeto do conhecimento. Nessa perspectiva, os pontos de vista se constroem
na desconstrução de uma suposta ausência do pesquisador no campo de
investigação. Essa possibilidade de caminho contribui com as pesquisas no
campo das ciências humanas.

16 Aula 03  Metodologia Científica


Auto-avaliação
Comente o fragmento a seguir, refletindo após as discussões desta aula sobre
o que é método científico?

O método científico quer descobrir a realidade dos fatos e esses, ao serem descobertos,
devem, por sua vez, guiar o uso do método. Entretanto, como já foi dito, o método é
apenas um meio de acesso: só a inteligência e a reflexão descobrem o que os fatos
realmente são. [...] O cientista, sempre que lhe falta a evidência como arrimo, precisa
questionar e interrogar a realidade. (BERVIAN; CERVO, 1996, p. 21)

Referências
ALMEIDA, C.; MASSARANI, L.; MOREIRA, I. de C. Cordel e ciência: a ciência em versos
populares. Rio de Janeiro: FIOCRUZ, 2005.

ALVES, R. Filosofia da ciência: introdução ao jogo e suas regras. 20. ed. São Paulo:
Brasiliense,1994.

BERVIAN, P. A.; CERVO, A. L. Metodologia Científica. 4. ed. São Paulo: MAKRON Books,
1996.

CHALMERS, A. F. O que é ciência afinal? Tradução de Raul Fiker. São Paulo: Brasiliense,
1993.

CARVALHO, A. M. et al. Aprendendo metodologia científica: uma orientação para os alunos


de graduação. São Paulo: O Nome da Rosa, 2000.

DIONNE, J.; LAVILLE, C. A Construção do Saber. Tradução de Heloísa Monteiro e Francisco


Settineri. Porto Alegre: Artes Médicas, 1999.

HEGEL, F. W. Hegel. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores.

KANT, I. Kant. São Paulo: Nova Cultural, 1999. Coleção Os Pensadores.

LAKATOS, E. M; MARCONI, M. de A. Metodologia Científica. 3. ed. rev. ampl. São Paulo:


Atlas, 2000.

MONTEIRO, M. O planeta água está pedindo socorro. Campina Grande: Gráfica Martins,
2005. Literatura de Cordel.

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Anotações

18 Aula 03  Metodologia Científica


Anotações

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Anotações

20 Aula 03  Metodologia Científica


Metodologia Científica – Geografia

EMENTA

Conhecimento e Saber; O Conhecimento Científico e Outros Tipos de Conhecimento; Principais Abordagens Metodológicas;
Contextualização da Ciência Contemporânea; Documentação Científica; Tipos de Trabalhos Acadêmico-Científicos; Tipos
de Pesquisa; Aplicações Práticas.

AUTORAS

n  Célia Regina Diniz

n  Iolanda Barbosa da Silva

AULAS

01   O saber humano e sua diversidade

02   Ciência e Conhecimento

03   O caminho da ciência: o método científico

04   Os tipos de métodos e sua aplicação

05   O método dialético e suas possibilidades reflexivas

06   Leitura: análise e interpretação

07   Como organizar e documentar a leitura: esquemas, fichamentos, resumos e resenhas

08   Normalização na redação de trabalhos científicos – parte I

09   Normalização na redação de trabalhos científicos – parte II

10   Normalização na redação de trabalhos científicos – parte III


Impresso por: Texform

11   A pesquisa e a iniciação científica na universidade

12   Redação do projeto de pesquisa


2º Semestre de 2008

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