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TEXTO DE APOIO

PSICOLOGIA GERAL
CURSO – ANÁLISES
CLÍNICAS
1º ANO

INTRODUÇÃO
A “psicologia” começou como parte da filosofia, o estudo do conhecimento, da
realidade e da natureza humana.
Ela se desenvolveu a partir da biologia e da filosofia com o objectivo de se tornar uma
ciência que descreve e explica de que forma pensamos, sentimos e agimos”
comportamento”.
A humanidade desde sempre colocou um sem – número de questões sobre o mundo que
o rodeia. Do mesmo modo, o homem se interrogou a cerca de si próprio, procurando
explicações para os seus sentimentos, para as suas emoções, e para os seus
pensamentos. Actualmente a psicologia ocupa um lugar de destaque no âmbito das
ciências humanas, uma vez que toca quase todos os aspectos da nossa vida.

Os psicólogos procuraram responder, entre muitas outras a perguntas tais como, por
exemplo: porque se sucedem os dias e as noites? Porque é que chove e troveja? Qual é a
causa dos tremores da terra? Qual é a origem da vida, do medo e das emoções, do sono
e dos sonhos, da paixão, do amor, dos delírios? Porque se morre? Em que medida a
forma como os nossos pais nos educaram tem influência na forma como educamos os
nossos filhos?
Para estas questões o homem procurou respostas, explicações que lhe atenuasse a
angústia e a inquietação.

Durante séculos, estas reflexões conduziram à ideia de alma considerada como força
interior que dirige e alimenta o corpo, como sopro da vida. A alma foi objecto das mais
diversas reflexões.
Aristóteles (séc. IV a. C.) é considerado por muitos o autor do primeiro estudo de
Psicologia, intitulado “Acerca da Alma”. Teorizou sobre temas como percepção,
aprendizagem e memória, motivação, emoção e personalidade.
É precisamente a esse termo (alma) que a palavra psicologia vai buscar a sua raiz
etimológica, isto é, psyché ( alma) e lógos (estudo, razão). Significa estudo da mente ou
da alma, ou ainda do espírito/ psique.

1. PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA


1.1. Desenvolvimento histórico da psicologia

Este capítulo, dedicado à Psicologia como ciência, começa com a abordagem do seu
objecto de estudo e suas origens. Em seguida, será referida a evolução desta ciência,
enquadrando as diferentes correntes teóricas que influenciaram essa evolução. Serão
também descritas algumas áreas de especialização ou ramos da Psicologia, a sua relação
com outras ciências, por fim será referenciada a sua aplicação na educação, nas
organizações/ trabalho e na saúde.

Uma constatação interessante, feita por muitos historiadores, é que as primeiras ciências
a se desenvolverem foram justamente as que tratam do que está mais distante do
homem, como por exemplo, a Astronomia. As que se referem ao que lhe está mais
próximo, ou as que a ele se referem directamente, como a psicologia, são as que tiveram
desenvolvimento mais tardio.

As origens da Psicologia são, portanto, diversas, desde a Filosofia à Fisiologia:


Wilhelm Wundt, fundador do primeiro laboratório de psicologia experimental, era
fisiologista e filósofo, Pavlov era fisiologista, Sigmund Freud era médico, Jean Piaget
era biólogo, William James era filósofo.

O termo psicologia aparece no século XVI, sugerido por Rodolfo Goclénio e


vulgarizado no século XVIII. Tornou-se uma ciência independente nos finais do século
XIX, quando Wundt funda o primeiro Laboratório de Psicologia Experimental, em
Leipzig na Alemanha em 1879 para estudar a experiência consciente. O mesmo é dizer
que, W. Wundt concentrou sua atenção no estudo das sensações, emoções, memórias,
imaginações, sentimentos e pensamentos interiores ao sujeito “ processos mentais”.
Dessa forma, até 1920 a psicologia era definida como” ciência da vida mental ou da
alma.” A psicologia teve como sua primeira definição a ciência da vida mental.

Edward B. Titchener levou as ideias de Wundt para os Estados Unidos e chamou a


estas ideias de Estruturalismo e tendou estudar a estrutura da vida mental.
Willian James ampliou a psicologia de forma que incluísse comportamento animal,
experiência religiosa, comportamento anormal e outras questões interessantes. O termo
funcionalismo vem do interesse de James em como a mente funciona para nos ajudar
a nos adaptarmos ao ambiente. W. James considerava a consciência uma torrente ou
fluxo de imagens e sensações em constante mudança.

O princípio da selecção natural de Darwin, enfatiza que as características físicas que


ajudam os animais a se adaptarem ao meio ambiente são retidas na evolução. Da mesma
forma, os funcionalistas queriam descobrir como a mente, a percepção, os hábitos e as
emoções nos ajudam a nos adaptarmos e a sobreviver. O funcionalismo foi logo
desafiado pelo Behaviorismo “ estudo do comportamento observável.

Em 1960, a psicologia começa a retomar o seu interesse inicial pelos processos mentais
através de estudos dedicados a determinar como nossas mentes processam e armazenam
informações. Graças à preocupação da psicologia com a observação do comportamento
bem como com os pensamentos e os sentimentos que ocorrem no interior do sujeito,
hoje a psicologia é geralmente definida como a ciência que se concentra no
comportamento e nos processos mentais – de todos os animais (homens e animais).

Há uma série de palavras essenciais em nossa definição:


 Comportamento é tudo aquilo que um organismo faz – qualquer acção
que possa ser observada e registrada. Gritos, sorrisos, suores, fala, e
respostas a um questionário são comportamentos observáveis.

 Processos mentais são as experiências subjectivas (ilusórias) que


inferimos através do comportamento – sensações, percepções, sonhos,
pensamentos, crenças e sentimentos….

O termo processo mental inclui formas de cognição ou formas de conhecimento: de


entre elas, perceber, participar, lembrar, raciocinar e resolver problemas. Sonhar,
desejar, fantasiar, ter esperança e prever são também processos mentais.
De 1920 até 1960, os psicólogos americanos, liderados por John Watson, eliminaram o
método introspeccionista e redefiniram a psicologia como “a ciência do
comportamento observável.”Afinal, diziam eles, o fundamento da ciência é a
observação. Não é possível observar sensações, pensamentos ou sentimentos, porém,
podemos observar o comportamento das pessoas e animais em resposta as diferentes
situações.
Um dos behavioristas mais famoso é B. F. Skinner ( 1904 – 1990). Era de opinião de
que nossas acções são controladas por recompensas ou reforçadores positivos.

Podemos salientar dois momentos importantes na construção da definição do objecto da


Psicologia.
 A fundação do primeiro laboratório de Psicologia experimental em
Leipzig Alemanha em 1879 por W. Wundt.
 A formulação do objecto de psicologia pela corrente Behaviorista
liderada por J. Watson, por volta de 1913 como: “ estudo científico do
comportamento.

Considerada por muitos a ciência do nosso século, a psicologia toca todas as esferas da
actividade humana: na família, na escola, no trabalho, no lazer… Daí que se acentue
nesta ciência o processo comum a outras áreas do saber – a psicologia é uma ciência que
se diferencia e se sistematiza em múltiplas escolas e teorias.

1.2 Objecto da Psicologia

Ao longo da história da Psicologia, o objecto a que a psicologia se propunha a


estudar foi constantemente modificado. Co-existiram variadíssimas correntes científicas
que pretendiam explicar o conceito de ser humano e estudar todos os processos mentais
nele existentes. Porém, houve algo que todas as teorias seguiram: A Psicologia deveria
estudar o comportamento.

O objecto da Psicologia é o estudo científico do comportamento e dos processos


mentais. Assim a psicologia vai estudar todos os actos e reacções observáveis, bem
como os sentimentos, as emoções, atitudes, as representações mentais, as fantasias…
Cabe à psicologia estudar questões ligadas à personalidade, à aprendizagem, à
memória, à inteligência, ao funcionamento do sistema nervoso… e também à
comunicação interpessoal, ao desenvolvimento, ao comportamento sexual, ao
comportamento em grupo, à agressividade, aos processos psicoterapêuticos ao sono e ao
sonho, ao prazer e à dor… A psicologia estuda tudo isto e muito mais, mas, como
pretende ser uma ciência, baseia suas conclusões em dados objectivos, e estes só podem
vir do comportamento.

Assim, como toda a ciência, a psicologia usa métodos científicos rigorosos e


também como qualquer outra ciência, procura entender, predizer e controlar os
fenómenos que estuda, neste caso, os comportamentos.

Apesar de ser o comportamento humano o seu principal interesse, a psicologia


também estuda o comportamento animal, com o objectivo de, através dele, melhor
compreender o comportamento humano ou porque o estudo do comportamento animal
se justifica por si mesmo. Dentre os seres vivos, é sem dúvida que o homem apresenta o
comportamento mais variado e complexo. Os psicólogos admitem que ainda não
conhecem todas as respostas dos problemas relacionados ao comportamento humano

1.3 Principais correntes da Psicologia


A diversidade de concepções organizadas em teorias, a existência de tantos campos de
investigação, bem como o recurso a métodos tão diversificados, resultam da
complexidade do objecto da psicologia – o comportamento e os processos mentais. As
diferentes teorias têm alargado os seus conceitos básicos abandonando perspectivas
unívocas e redutoras, incompatíveis com o carácter global dos dados psíquicos.

CORRENTES AUTORES
Associacionismo / Estruturalismo Wilhelm Wundt
Reflexologia Ivan Pavlov
Behaviorismo/ Comportamentalismo John Watson
Psicanálise Sigmund Freud
Gestaltismo/ teoria da Forma Wolfgang Kohler
Construtivismo Jean Piaget
Humanismo existencial / abordagem centrada na pessoa Carl Ransom Rogers

1. 3.1. Wundt e o Associacionismo


Wundt (1832-1920)

Médico e psicólogo alemão, é considerado um dos fundadores da psicologia. Segundo


ele, o objecto do estudo desta ciência é a consciência, como se estruturam os estados de
consciência, tendo-se dedicado, em especial, ao estudo dos processos sensoriais e
perceptivos, que explicou através da teoria associacionista.
Wilhelm Wundt foi bastante influenciado pelo ponto de vista dos filósofos e
pelo desenvolvimento da Fisiologia e Psicofisica experimentais. Nas suas pesquisas e
escritos, procurou investigar principalmente a percepção sensorial que buscava reduzir
aos elementos mais simples (sensações e imagens) e, também, encontrar os princípios
pelos quais estes elementos simples se associavam para produzir as percepções
complexas.
(1832-1920), Juntamente com o seu discípulo Titchener, inicia o caminho que irá levar
a Psicologia a atingir o estatuto de ciência. O autor começa por definir por objecto da
psicologia o estudo da mente: o estudo da mente (ou consciência), faz-se ao nível do
consciente do homem pela análise dos elementos simples da mente, à semelhança da
divisão em átomos da realidade.
Para Wundt e seus seguidores (nomeadamente Edward Tichener, 1867 – 1927),
as operações mentais não eram mais do que a organização de sensações elementares,
procurando relacioná-las com a estrutura do sistema nervoso.
No seu laboratório em Leipzig, vai procurar conhecer os elementos constitutivos
da consciência, a forma como se relacionam e associam: concepção Associacionista.
Para atingir este objectivo, vai utilizar como método a Introspecção controlada
(observação da consciência por si própria) mas de um modo controlado: Observadores
treinados deveriam, no laboratório, descrever as suas próprias experiências, resultantes
de uma situação experimental definida. Os dados eram depois relacionados e
interpretados por uma equipa de psicólogos; ex: após a apresentação de um estímulo
visual ou som teriam de descrever as sensações recorrendo a um conjunto definido de
termos para maior objectividade.
A concepção de psicologia defendida por Wundt define a consciência como
objecto de estudo e a introspecção como método. A psicologia teria como objecto a
experiência humana estudada na perspectiva das experiências pessoais através da auto -
observação.
Durante muito tempo, o associacionismo foi a escola dominante nos EUA e na
Alemanha.
Considerado por muitos o pai da psicologia experimental, ainda não é com
Wundt que a psicologia ganha o estatuto de ciência autónoma. As críticas movidas a
Wundt pelo facto de não ter rompido de forma decisiva com a psicologia tradicional,
introspectiva, vai conduzir a uma redefinição do objecto e método da psicologia.

1.3.2. I. Pavlov e a Reflexologia


I. Pavlov ( 1849-1936)
Ivan Pavlov, ao estudar as secreções gástricas, descobre que sempre que era apresentado
um estímulo eram produzidas secreções, facto que acontecia de um modo semelhante
em todos os elementos de uma espécie animal: são chamados reflexos inatos (reacções
automáticas naturais): (ex: num cão verifica-se a produção de saliva quando é
apresentado um alimento, facto que serve para ajudar a ingestão do alimento).
Para além destes reflexos descobre que se podem desenvolver nos seres humanos e nos
animais reflexos aprendidos podendo assim proceder-se a uma alteração dos
comportamentos. Com Pavlov a psicologia se direcciona decisivamente para o estudo
do comportamento do animal e do ser humano.
Os reflexos aprendidos ou condicionados eram pela associação de um estímulo novo
(estímulo que não produzia inicialmente nenhuma resposta específica) ao estímulo
antigo (que já desencadeava o reflexo inato).
Para Pavlov, aquilo que se denominava por espírito não era mais do que a
actividade do cérebro.

Dedica-se, por isso, a estudar profundamente a actividade nervosa superior,


estabelecendo um conjunto de leis fisiológicas que acabaram lhe merecer o Prémio
Nobel da Medicina em 1904. É no córtex cerebral que se vão formar, modificar e
desaparecer os reflexos condicionados. Reflexo condicionado (ou condicional) é a
resposta do organismo de um indivíduo a um estímulo artificial (condicionado ou
neutro) que é apresentado várias vezes associado a um estímulo natural (incondicional).

A psicologia que deveria tomar a designação de Reflexologia, estaria limitada ao estudo


dos reflexos: os reflexos – inatos e condicionados – seriam o fundamento das respostas
dos indivíduos aos estímulos provenientes do meio. E é a partir das suas pesquisas sobre
o condicionamento que Pavlov vai explicar os processos de aprendizagem, destacando-
se o estudo sobre a aquisição da linguagem.

O condicionamento: apresentado repetidamente o estímulo novo e de seguida o


estimulo antigo (do qual resultava a resposta inata) o estímulo 2 passa a ser semelhante
ao estímulo 1.
Após um determinado número de repetições bastava apresentar o estímulo 2 para
obter a resposta inicialmente provocada pelo estímulo1.
(Ex: tocando a campainha antes de se apresentar a comida ao cão este começava a
salivar não só quando via o alimento - reflexo inato – mas também ao ouvir a
campainha – reflexo condicionado)
EI → RI

EC + EI→RI
EC → RC

Para estabelecer esta experiência foi necessário isolar o cão do meio externo,
controlando todos os estímulos que este recebia (sons, imagens) pelo que até o som do
tratador a aproximar-se passou a significar a possibilidade de comida.
Contudo, este condicionamento não era definitivo já que após algumas situações sem
apresentação da comida, o cão deixava de responder à campainha.
Pavlov verificou que se apresentasse durante muito tempo apenas o estímulo
condicionado, o cão acabaria por não responder salivando. Tornou – se pois necessário
voltar a associar os dois estímulos mas verificou que desta vez podia retirar o estímulo
incondicional mais rapidamente porque o cão dava a resposta esperada, a condicionada.
Na base dessa experiência, Pavlov dá uma lição a cerca da aprendizagem, ao querer
conhecer em profundidade o funcionamento do sistema nervoso. Com esta experiência,
abriu as portas ao aprofundamento do estudo de comportamentos condicionados não só
em animais mas também nos homens.

J. Watson (1878- 1958)

1. 3.3. Watson e o Behaviorismo/ Comportamentalismo

“O Behaviorismo é uma corrente da Psicologia criada pelo americano John Watson,


segundo o qual os psicólogos deveriam estudar unicamente o comportamento dos
organismos dos homens e dos animais e daí o nome de behaviorismo, do inglês
Behaviour (ou Behavior na ortografia americana) que significa comportamento.
Watson, é considerado pai da psicologia científica ao demarcar-se de forma radical de
toda a psicologia tradicional que tinha por objecto o estudo da consciência ou da mente
e por método a introspecção controlada.

Este autor não nega a existência da consciência nem a possibilidade de o


indivíduo se auto-observar. Considera, contudo, que a análise dos estados do espírito
bem como a procura das suas causas só podem interessar ao sujeito no âmbito da sua
vida pessoal. Segundo Watson, só se pode estudar directamente o comportamento
observável ( Behavior), isto é, a resposta ( R – reacções físicas) de um indivíduo a um
dado estímulo ( E – objectos externos) do ambiente.

Para Watson e seus seguidores constitui o objecto da psicologia o


comportamento observável e para atingir esta finalidade recorre ao método
experimental. Esta concepção de psicologia defendida por Watson e outros, designa-se
por Behaviorismo, comportamento ou teoria do comportamento.

No pensamento do autor, a psicologia deveria estudar o que o ser humano faz


desde o nascimento até à morte, isto é o seu comportamento.

A base do Behaviorismo é de que um estímulo provoca uma resposta. E --> R.


existe sempre uma resposta a todo e qualquer estímulo; toda a resposta tem alguma
espécie de estímulo.

Por estímulo entende-se o conjunto de excitações que agem sobre o organismo.


Ele pode ser qualquer elemento ou objecto do meio ou qualquer modificação interna do
organismo. Consideram dois tipos de estímulos: do meio externo e do meio interno.

Estímulo do meio externo: raios luminosos, ondas sonoras, partículas que afectam o
olfacto e o gosto, vibrações mecânicas. Ex: a picada de uma agulha.

Estímulo do meio interno: movimentos dos músculos, secreções das glândulas, etc. ex:
contracções do estômago provocadas pela fome.

Em geral, o comportamento é determinado não por um estímulo, mas por um conjunto


complexo de estímulos que Watson chamou de situação. A cada situação corresponde
um dado, isto é, um conjunto de respostas. A resposta é uma reacção muscular ou
glandular, podendo ser de dois tipos.

Respostas Explícitas – são directamente observáveis como: movimentos, voz,


secreções externas (ex:

Respostas Implícitas – Não são observáveis. São constituídas pelas respostas viscerais,
pela actividade dos músculos lisos. (Ex: contracções do estômago).

Entende-se por comportamento o como conjunto de respostas objectivamente


observáveis que é determinado por um conjunto complexo de estímulos (situação)
provenientes do meio físico ou social em que o organismo se insere. Uma resposta é
tudo aquilo que o homem ou animal faz. Ex: chorar quando se recebe uma notícia triste,
afastar diante do fogo ou de um outro perigo.

Comportamentalismo e educação

As concepções de Pavlov tiveram grande influência na elaboração da teoria


behaviorista. Tal como o fisiologista russo, Watson considerava que o ser humano e o
animal, para além dos reflexos inatos, têm reflexos aprendidos. O comportamento
humano seria o resultado da soma dos reflexos inatos e condicionados.

A personalidade seria o produto da acumulação dos condicionamentos sofridos


pelo indivíduo ao longo do tempo. Watson ressalta a importância da primeira infância, “
é nesse período da vida que se organizam as primeiras aprendizagens, isto é, os
primeiros condicionamentos. Por isso, muitos distúrbios comportamentais dos adultos
têm origem nos hábitos interiorizados em criança.

Por esta razão Watson e seus seguidores vão interessar-se pelas questões da educação.
Embora não negue a existência de factores hereditários, para ele, irrelevantes na
formação da personalidade do indivíduo, – considera que, no desenvolvimento da
criança, são determinantes os factores do meio. Sua ênfase nas influências ambientais é
expressa no seguinte famoso desafio:

"Dêem-me uma dúzia de bebés saudáveis bem constituídas e a espécie de mundo que preciso
para as educar, e eu garanto que, tomando qualquer uma delas, ao acaso, prepará-la-ei para
se tornar um especialista que eu seleccione: um médico, um comerciante, um advogado,
artista e, sim, até um pedinte ou ladrão, independentemente dos seus talentos, inclinações,
tendências, aptidões, assim como da profissão e da raça dos seus antepassados."
(Watson, 1925, p.82)( Culver Pictures.)

Para Watson, nós somos o que fazemos; e o que nós fazemos é o que o meio nos faz
fazer. Podemos considerar a teoria do comportamento um movimento revolucionário
que contribuiu de forma decisiva para a construção da psicologia científica. É com
Watson que se dá a ruptura com a psicologia introspectiva, da consciência, definindo de
forma inequívoca o seu objecto – comportamento observável e o seu método
experimental. Pode-se afirmar que é com Watson que a Psicologia adquire o estatuto de
ciência.

A concepção Behaviorista reduzida a interpretação do comportamento na fórmula


E→R é limitada para explicar toda a conduta humana. Os comportamentos mais
complexos e especificamente humanos, como a linguagem, o pensamento, os
sentimentos, as emoções, não são redutíveis a fórmula proposta pelos behavioristas/
comportamentalistas.

A teoria Behaviorista evolui com as teorias de Skinner, Thorndike, Guthrie, Hull,


Toman e Bandura. Hoje, a perspectiva behaviorista é muito mais flexível do que na
época de Watson.

Os behavioristas contemporâneos ainda investigam estímulos, respostas observáveis e


aprendizagem, mas também estudam cada vez mais complicados fenómenos que não
podem ser observados directamente – por exemplo: amor, stress, empatia e sexualidade.
As principais características do behaviorismo moderno são seu forte envolvimento
com a formulação de perguntas precisas e claras e o uso de métodos relativamente
objectivos na condução de pesquisas cuidadosas.
1.3.4. Freud e a Psicanálise

Freud (1856-1939)

Sigmund Freud - Fundador de uma nova corrente em Psicologia, a Psicanálise, (1856-


1939), apresenta-nos uma nova perspectiva sobre o ser humano e suas motivações.
Especializado em tratamento de problemas do sistema nervoso e com interesse especial
nas chamadas desordens neuróticas, condições caracterizadas por ansiedade excessiva e,
em alguns casos, depressão, fadiga, insónia ou paralisia. Os sintomas são atribuídos a
conflito ou stress. Freud não tentou influenciar a psicologia académica. Sua meta era,
antes, ajudar as pessoas que sofriam.

Foi na reflexão sobre os dados que recolheu junto dos seus pacientes, das observações
que fez sobre si próprio, bem como o debate que sempre estabeleceu com
investigadores, seus contemporâneos, que Freud foi procurar o significado mais
profundo das perturbações psicológicas. Segundo o autor, seria impossível compreender
os processos patológicos se só se admitisse a existência do consciente. Até então, a
concepção dominante do homem definia-o como ser racional, que controlava os seus
impulsos através da vontade.

Freud distingue dois espaços na mente humana. No primeiro numa divisão entre três
elementos, consciente, pré – consciência, inconsciente. No segundo apresenta as três
instâncias correspondentes a organização do psiquismo. Id, ego, superego.

Consciente – constituído por pensamentos, percepções e representações presentes na


nossa consciência e conhecido pela introspecção, constituía o essencial da vida mental
do ser humano. A consciência é atribuída um papel modesto – os processos psicológicos
mais determinantes ocorrem no inconsciente.
A grande novidade da revolução psicanalítica não é a descoberta do inconsciente mas a
afirmação de que este domina a nossa vida psíquica – é a realidade psíquica
fundamental.

Inconsciente – é a zona do psiquismo constituída por medos, impulsos sexuais


inconscientes, motivações egoístas, impulsos destrutivos, experiencias infantis
traumáticas, impulsos imorais, desejos irracionais dos quais não temos consciência e
que, contudo, governam o comportamento dos seres humanos. Não obedece à lógica
nem à moral.

Freud compara o psiquismo humano a um icebergue: a sua parte visível é muito


pequena e corresponde ao consciente, sendo constituída por imagens, lembranças, ideias
que se podem evocar e conhecer. Contudo, a parte submersa, que não se vê do icebergue
é a maior e corresponde ao inconsciente, cabendo-lhe um papel determinante no
comportamento.

Pré-consciente (subconsciente) faz a ligação entre o consciente e o inconsciente e


corresponde, na imagem do icebergue, uma zona flutuante de passagem entre a parte
visível e a oculta e que varia o seu grau de emersão/ imersão. É constituído por
memórias e conhecimentos armazenados. O material inconsciente tende a tornar-se
consciente.

Freud para explicar melhor a sua teoria recorre novamente a uma imagem: o nosso
psiquismo seria constituído por uma grande sala – o inconsciente e por uma pequena
antecâmara – consciente.

Na entrada da antecâmara há um vigilante que inspecciona as pulsões, os desejos, que


querem passar. Se não lhe agradam, censura-os, impendido a sua entrada,
impossibilitando – os de se tornarem consciente. Existe, assim, uma censura que
bloqueia a tomada de consciência do material inconsciente, que pode ser, portanto,
sujeito a um processo de recalcamento.

A sexualidade
Foi o trabalho desenvolvido com os seus pacientes que levou Freud a concluir que
muitos dos sintomas neuróticos estavam relacionados com a sexualidade, objecto de
múltiplas repressões e obstáculos.

Depois de ter afirmado que existia uma instância inconsciente no psiquismo humano,
Freud vai provocar um grande escândalo ao atribuir à sexualidade um papel essencial na
vida psíquica humana.

O autor conclui que existe uma sexualidade infantil. A sexualidade não se inicia com o
funcionamento das glândulas sexuais na puberdade, mas exprime – se desde o
nascimento. Considera ainda que o comportamento sexual adulto está relacionado com
as vivências infantis.

A descoberta da sexualidade infantil levou Freud a modificar as suas noções,


distinguindo genital de sexual. Segundo o autor, a sexualidade não se limita ao acto
sexual entre duas pessoas. A sexualidade e toda a actividade pulsional que tende a uma
satisfação. Para Freud, o desenvolvimento humano, desde a infância à vida adulta, é
explicada pela evolução da psicossexualidade.

A concepção freudiana representa uma verdadeira revolução científica. A psicanálise é


simultaneamente uma técnica terapêutica, e um método de investigação, bem como um
corpo autónomo de conceitos organizados numa teoria. Freud explorou um novo campo
em psicologia – o inconsciente – apresentando uma visão dinâmica do psiquismo. Por
outro lado, recorreu a um novo método: o método psicanalítico.

Assim, Freud demarca-se de uma psicologia centrada na consciência, a psicologia


introspectiva, bem como da psicologia behaviorista, centrada no mecanismo E→R.

O conceito de ser humano dominado por pulsões, bem como a afirmação de uma
sexualidade infantil, provocaram durante a sua vida e depois da sua morte, as mais vivas
e apaixonadas críticas escandalizando os meios mais moralistas.

A personalidade é determinada fundamentalmente por processos e forças inconscientes


moldadas nos primeiros anos de vida (até aos 6-8 anos). Daí resultam comportamentos
incompreensíveis (fobias, auto-agressão) o que permite pensar em soluções para a cura.
Hipnose – Induzir o paciente, através de uma sugestão intensa, num estado semelhante
ao sono mas no qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e ser
sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para
determinada acção ou comportamento.

O método psicanalítico vai ser o preferido por Freud pois o hipnotismo não alterava
definitivamente os comportamentos, para além de que o paciente podia resistir às
sugestões hipnóticas.

A vida humana é estudada a partir da motivação básica, o impulso sexual ou princípio


de prazer. Este impulso existe na criança na qual a satisfação de zonas erógenas surge
ligada à satisfação da fome. Estas considerações implicaram um conjunto de críticas da
sociedade de então mas constituiriam a base da sua aceitação posterior. De facto, Freud
é hoje um dos autores mais referenciados sobre o comportamento humano (embora, pela
sua popularização, com muitos exageros e erros de interpretação).

Freud tornou-se um autor polémico mas determinou alguns dos caminhos da psicologia,
pelo que os seus estudos ficaram ligados à Psicologia do Desenvolvimento, da
Motivação, e da Personalidade que estudaremos em capítulos posteriores.

Premissas de Freud – Os psicólogos que adoptam a perspectiva psicanalítica


geralmente têm as seguintes concepções:

1. Os psicólogos devem estudar as leis e os determinantes da personalidade


(normal e anormal) e tratar os distúrbios mentais.
2. O inconsciente é um importante aspecto da personalidade. Trazer o que é
inconsciente para o consciente é uma terapia essencial para distúrbios
neuróticos.
3. A personalidade é mais apropriadamente estudada no contexto de um longo e
íntimo relacionamento entre pacientes e terapeuta. À medida que o paciente
relata o que lhe ocorre na mente, o terapeuta analisa e interpreta os dados e
observa o comportamento de forma contínua.
1. 3.5. Kõhler e o Gestaltismo ou teoria da forma

( 1887-1967)

As investigações de Kohler e seus companheiros basearam-se na noção de Gestalt,


termo geralmente traduzido por (Forma, todo, configuração, estrutura).

O Gestaltismo, ou psicologia da forma contesta à psicologia do século XIX que


tinha por objecto os estados de consciência. Max Wertheimer (1834-1943, Kurt Koffka
e Wolfgang Kohler (1887-1967) criticam Wundt, que procurava decompor os processos
mentais nos seus elementos mais simples.

Se a fisiologia analisa os órgãos, decompondo-os em tecidos e células, a


psicologia deveria decompor os processos conscientes nos seus elementos constitutivos
e definir as leis que regem as suas combinações e relações.

Os elementos mais simples seriam as sensações que, associadas, somadas,


constituiriam a percepção.

Enquanto os associacionistas partem das sensações elementares para construir as


percepções, os gestaltistas partem das estruturas, das formas: nós percepcionamos
conjuntos organizados em totalidades.

A teoria da forma considera a percepção como um todo. Ex: uma melodia é


ouvida como totalidade, como um conjunto, e, quando a escutamos, não temos
consciência das notas que a compõem. Quando percepciono, por exemplo, um
automóvel, não vejo primeiro o tejadilho, depois as partes, em seguida as rodas…
percepciono o automóvel como um todo, como uma gestalt, só em seguida passo a
análise dos elementos, dos pormenores.

Logo, o todo é percebido antes das partes que o constituem. A forma corresponde
à maneira como as partes estão dispostas no todo. A escola Gestalt, defendem que o
todo é diferente da soma das partes – na realidade estas organizam-se segundo
determinadas leis. Os elementos constitutivos de uma figura são agrupados
espontaneamente. Segundo os Gestaltista esta organização é inata.

O objectivo desta escola foi de estabelecer os princípios que determinam e


organizam a nossa percepção, ou seja o modo como estruturamos a realidade:

São estes princípios que permitem afirmar que, em condições iguais, os estímulos
que formam uma boa figura terão tendência a serem agrupados.

Kohler e seus companheiros, criticam a corrente behaviorista pelo facto de esta


explicar o comportamento humano pela fórmula E→R por não corresponder a realidade
complexa do comportamento humano.

Portanto, se o ser humano só reagisse ao mundo exterior de uma forma


estereotipada, através de um conjunto de comportamentos aprendidos, de
condicionamentos, ele seria incapaz de qualquer comportamento mais adaptado.

Kohler, estudou o modo como os chimpanzés lidavam com situações


problemáticas, tendo chegado à conclusão que possuíam a capacidade de organizar os
diversos elementos de uma situação num todo coerente permitindo assim encontrar a
solução para o problema.

Os estudos desta corrente foram utilizados por diversos autores, sendo a sua
importância realçada nos estudos sobre aprendizagem, memoria, pensamento.
1.3. 6. J. Piaget e o Construtivismo

Piaget (1896- 1980)

O trabalho de Jean Piaget centrou-se na área do desenvolvimento intelectual e cognitivo


do ser humano (da infantil, e adolescência) procurando perceber o modo de construção
do conhecimento humano através da observação dos seus filhos e de outras crianças,
dando origem à Epistemologia genética uma dos ramos da psicologia actual. Para
Piaget, o objecto da psicologia não se reduz ao simples estudo dos processos mentais
nem se limita ao estudo do comportamento observável. As suas pesquisas levaram-no a
concluir que o conhecimento é um processo interactivo que envolve o sujeito e o meio e
que ocorre por etapas que Piaget denomina por estádios de desenvolvimento.

Este autor, demarca – se de todas as concepções anteriores, nomeadamente das


correntes inatista e behaviorista, ao afirmar o carácter activo que o sujeito desempenha
no processo do conhecimento.

1. Concepção inatista – sujeito é resultado das potencialidades transmitidas


por hereditariedade. O meio desempenha um papel pouco relevante no seu
desenvolvimento.

Sujeito → Meio

2. Concepção behaviorista - o comportamento do ser humano e o seu


desenvolvimento dependem, segundo os behavioristas/
comportamentaristas, totalmente do meio em que o sujeito se encontra
inserido.

Sujeito ← Meio
Concepção construtivista – Com Piaget, o ser humano deixa de ser
considerado como um ser passivo passando a moldar o mundo em que vive.
Demonstra a interacção do meio e do sujeito na construção do conhecimento.
Piaget afirma que a vida psíquica desenvolve-se através da troca entre o
sujeito e o meio; o conhecimento advém das interacções sujeito/ objecto
(Interaccionismo). O conhecimento do indivíduo, a inteligência, resulta de
uma construção progressiva do sujeito em interacção com o meio.

A concepção construtivista / interaccionista de Piaget – defende a tese de que o


conhecimento não depende nem só do sujeito, nem só do objecto. As estruturas da
inteligência não são apenas inatas, mas produto de uma construção contínua do sujeito
agindo sobre o meio.

Para Piaget, o conhecimento é uma construção progressiva de estruturas lógicas que vão
sendo suplantadas por outras estruturas lógicas mais complexas e mais poderosas até à
idade adulta. Este processo desenvolve-se ao longo de quatro estádios de
desenvolvimento intelectual / cognitivo com características qualitativas diferentes.

 sensório-motor ( dos 0 aos 18/ 24 meses)


 pré-operatório (dos 2 aos 7 anos )
 operações concretas ( dos 7 aos 11/ 12 anos )
 operações formais ( dos 11/ 12 aos 15 / 16 anos )

Devemos a Piaget ( em colaboração com um outro psicólogo chamado Fraisse) uma


formula inovadora de explicar o comportamento humano.
R= f(S ↔P) = o comportamento é uma resposta que varia em função da interacção entre
a personalidade do sujeito (P) e situação (S). Assim, para compreendermos o
comportamento de um indivíduo em determinado caso temos de considerar dois
factores:
 A influência da personalidade na situação ( P→S)
 A influência das situações anteriormente vividas por alguém na formação da sua
personalidade (S→P).
1.3.7. C. Rogers e a Abordagem centrada na pessoa
1902- 1987
O Humanismo existencial é um movimento mais recente em psicologia, que enfatiza a
necessidade de estudar o homem, e não os animais, e indivíduos normais psicologicamente, ao
invés de pessoas perturbadas.
São representantes da teoria humanista Abraham Maslow, Rollo May e Carl Ransom Rogers
Este último nasceu nos Estados Unidos, em Oak Park nos arredores de Chicago aos 8 de
Janeiro de 1902 a 4 de Fevereiro de 1987. Rogers é um dos mais influentes pensadores
americanos. Sua linha teórica é conhecida como Abordagem Centrada na Pessoa (ACP).

Carl Ransom Rogers é tido como o primeiro psicólogo a abordar as questões principais da
Psicologia sob a óptica da “Saúde Mental”, ao contrário de outros estudiosos cuja atenção se
concentrava na ideia de que todo ser humano possuía uma neurose básica. Rogers rejeitou essa
visão, defendendo que, na verdade, o núcleo básico da personalidade humana era tendente à
saúde, ao bem-estar. Tal conclusão sobreveio a um processo minucioso de investigação
científica levado a cabo por ele, ao longo de sua actuação profissional.
Alguns cientistas, psicólogos, psiquiatras e educadores, entre outros, consideram
Rogers como um dos mais importantes psicólogos e educadores humanistas, humanistas
existenciais, existencialistas e/ ou fenomenológos (por ter em conta o sujeito e a sua
experiência subjectiva da realidade) dos Estados Unidos da América e do mundo.

Esse psicólogo marcou não só a Psicologia Clínica, como também, a Psicoterapia,


Administração – de empresas e de escolas, o Aconselhamento Psicológico, Aconselhamento
Pastoral, a Educação e Pedagogia, a Psicopedagogia, Orientação Educacional, assim como a
Literatura, o Cinema e as Artes, de modo explícito ou implícito, consciente ou não
conscientemente. Foi indicado ao Prémio Nobel da Paz e ganhou um Óscar sobre sua prática,
registada em um filme documentário.
Realizou-se doze filmes sobre o seu trabalho, deixando um elevado número de
documentos sonoros e audiovisuais, que desvelam seus modos de ser sendo psicólogo
(psicoterapeuta).

Principais Ideais de Rogers


A partir dessa concepção primária, o processo psicoterapêutico consiste em um trabalho de
cooperação entre psicólogo e cliente, cujo objectivo é a liberação desse núcleo da personalidade,
obtendo-se com isso a descoberta ou redescoberta da auto-estima, da auto-confiança e do
amadurecimento emocional. Há três condições básicas e simultâneas defendidas por Rogers como
sendo aquelas que vão permitir que, dentro do relacionamento entre psicoterapeuta e cliente,
ocorra a descoberta desse núcleo essencialmente positivo existente em cada um de nós.

Autenticidade - é uma atitude de abertura ao outro, com expressão dos sentimentos. Ser-se
autêntico é ser-se com transparência, não sendo “ uma fachada, um papel ou uma ficção”. A
autenticidade implica a necessidade de se ser congruente (conveniência acordo) entre o
comportamento, os pensamentos e as emoções.

Aceitação – é uma atitude de “consideração positiva incondicional” que se baseia numa atitude de
atenção, de procura de compreensão sem crítica nem julgamento. A pessoa precisa de ter
confiança em si e de sentir aceite pelos outros. Em linhas gerais, ter consideração positiva
incondicional é receber a aceitar a pessoa como ela é e expressar um afecto positivo por ela,
simplesmente por que ela existe, não sendo necessário que ela faça ou seja isto ou aquilo;

Empatia, por sua vez, consiste na capacidade de se colocar no lugar do cliente, ver o mundo pelos
olhos deles e sentir como ele sente, comunicando tal situação para ele, que receberá esta
manifestação como uma profunda e reconfortante experiência de estar sendo compreendido, não
julgado; por último, é a congruência a condição que permitirá ao profissional, embora nutra um
afecto positivo e incondicional por seu cliente e tenha a capacidade de “estar no lugar” dele, a
habilidade de expressar de modo objectivo seus sentimentos e percepções, de modo a permitir ao
cliente as experiências de reflexão e conclusão sobre si mesmo.

O interessante na abordagem rogeriana é que a aplicação do seu método em psicoterapia, passa


por um processo de amadurecimento do próprio psicoterapeuta, já que ele não pode simplesmente
apropriar-se da “técnica”, antes que lhe seja próprio e natural agir conforme as condições
desenhadas por Rogers.

Percebe-se então, por exemplo, que a expressão de uma afectividade incondicional só ocorre
devidamente se brotar com sinceridade do psicólogo; não há como simular tal afectividade. O
mesmo ocorre com a empatia e com a congruência. Por isso se diz que não existe uma “técnica
rogeriana”, mas sim psicólogos cuja conduta pessoal e profissional mais se aproximam da
perspectiva de Carl Rogers. Outro ponto a considerar é que após longos estudos, Rogers chegou a
conclusão de que as três condições que descobriu são eficazes como instrumento de
aperfeiçoamento da condição humana em qualquer tipo de relacionamento interpessoal, tais como:
na educação entre professor e aluno; no trabalho entre chefes e subordinados; na família entre pais
e filhos ou entre marido e mulher.

Rogers fez severas oposições aos conceitos deterministas de ser humano, buscando fundamentar-
se nas Filosofias Humanistas Existenciais e utilizando o método fenomenológico de pesquisa
(consiste no analisar, descrever e compreender as vivências de forma directa e imediata
(introspecção e intuição)
Quadro resumo das principais correntes da Psicologia

POPULAÇÃ
MÉTODOS DE AUTORE
CORRENTE OBJECTO O
INVESTIGAÇÃO S
ESTUDADA

Associacionismo Estados de Introspecção Observadores Wundt


/ Estruturalismo consciência controlada treinados Titchener

Animais e
Método
Reflexologia Reflexos seres Pavlov
experimental
humanos

Watson
Behaviorismo Comportamento Seres
Método Skinner
/Comportamental
observável do ser humanos e
experimental Tolman
ismo humano e do animal animais
Hull

Freud
Adler
Inconsciente;
Rank
Estrutura
Método Pacientes Jung
Psicanálise psíquica;
Psicanalítico humanos Anna
Funcionamento
Freud
psíquico
Melanie
Klein

- Método Seres Wertheime


Gestaltismo / Percepção e
experimental; humanos e r
Psicologia da pensamento como
- Introspecção primatas Kohler
Forma totalidade
Informal superiores Kofka

Piaget
- Método clínico; Centro de
Estruturas da Crianças e
Construtivismo - Observação Epistemolo
inteligência adolescentes
naturalista gia
Genética

Humanismo Personalidade, Fenomenológico Pessoa Carl


Ransom
existencial Saúde mental Cooperação humana
Rogers

1.3.8. Principais Ramos da Psicologia

A psicologia é uma ciência que tem conhecido uma evolução notável durante as ultimas
décadas e tem alargado o seu âmbito de acção a áreas, ou ramos de estudo
diversificados.
Estes ramos correspondem a áreas de especialização e representam os múltiplos campos
em que os psicólogos desenvolvem a sua actividade profissional.

A psicologia Geral
Busca determinar o objecto, os métodos, os princípios gerais e as ramificações da
ciência.

Psicofisiologia
Procura investigar o papel que eventos e estruturas fisiológicas desempenham no
comportamento, ou examina a influência de factores genéticos e o papel do cérebro, do
sistema nervoso, do sistema endócrino e da química orgânica sobre o comportamento.

Psicologia experimental
Apesar de o termo experimental poder induzir em erro, dado que noutras áreas da
psicologia se realizam também experiências, neste ramo (que segue orientações teóricas
comportamentalistas e cognitivistas), estudam-se problemas diversificados tais com, por
exemplo, de que forma os indivíduos reagem a estímulos sensoriais, percebem o mundo,
aprendem e recordam, pensam, respondem em termos emocionais e como são
motivados para a acção. Em certos estudos realizados nesta área, são utilizados animais
cujo comportamento é, em alguns casos, comparado com o dos humanos ou com o de
outras espécies.
Psicologia do Desenvolvimento
Aborda as diferentes fases da maturação e processos de desenvolvimento, desde a vida
intra-uterina até à morte. (os períodos mais estudados deste ciclo vital têm sido a
infância e a adolescência).
Psicologia Animal ou Comparada
Visa conhecer as variações das características que se manifestam entre diferentes
grupos sociais ou étnicos, ou entre os indivíduos do mesmo grupo. Compara o
comportamento humano e animal e o comportamento do animal em si.

Psicologia Social
Investiga todas as situações, e suas variáveis, em que a conduta humana é influenciada
e influencia a de outras pessoas e grupos.

Psicologia diferencial
Busca estabelecer as diferenças entre os indivíduos em termos de idade, classe social,
raças, capacidades, sexo etc… suas causas e efeitos sobre o comportamento, além de
procurar criar e aperfeiçoar técnicas de mensuração das variáveis consideradas.

Psicologia da personalidade
Interessa-se pela descrição e compreensão da consistência do comportamento
individual, que representa sua personalidade, e com a avaliação da personalidade e os

factores que a moldam.

Psicologia Clínica
Aprofunda o conhecimento do indivíduo na sua singularidade, analisa as suas reacções
em função da sua história e contexto de vida.

Psicologia da educação
Aborda os aspectos psicológicos da educação das crianças e dos adultos de todas as
idades (situações familiares e escolares, aprendizagem formal e informal etc.)
Etologia
Estuda o animal no seu meio natural, procurando conhecer o comportamento do
animal isolado e em grupo (por exemplo: agressividade, definição do território,
comunicação, comportamento sexual, etc).
Assim, em cada sector em que os conhecimentos e técnicas da psicologia são aplicados,
ela recebe uma denominação que indica qual o ramo da actividade humana no qual são
utilizados seus conhecimentos.
Pode-se concluir afirmando que a Psicologia é uma ciência de um campo de aplicação
muito amplo, o que justifica plenamente sua importância e a denominação que tem
recebido de “ a ciência do nosso século”.

1.3.9. Relação da psicologia com as outras ciências

A psicologia reúne tudo aquilo que o homem sente, tudo aquilo que ele pensa, tudo
aquilo que ele quer, tudo aquilo que ele gosta, tudo aquilo que ele rejeita. A unidade da
psicologia não é a de uma arquitectura rígida, mas de uma imagem que com o tempo se
desfaz e cujas flutuações indicam que continua viva.”

Costuma-se denominar a Psicologia de ciência “biossocial” porque ela se relaciona


principalmente com a Biologia e com as ciências sociais. Para ilustrar estas relações,
basta lembrar as inúmeras pesquisas psicológicas orientadas para os aspectos biológicos
do homem e do animal, como as realizadas pela psicologia fisiológica, animal e
comparada; e também, aquelas que investigam as actividades sociais dos indivíduos
como as da psicologia social, educacional, do trabalho. Entretanto, as relações da
psicologia com outras ciências não se limitam à Biologia e às Ciências Sociais.

A psicologia conota-se hoje pela sua natureza interdisciplinar. Assim como a maior
parte dos outros campos de estudo, a Psicologia não se preocupa com a extensão em que
uma investigação permanece dentro dos limites formalmente definidos da disciplina.
Quase todos os campos da psicologia se sobrepõem a outros campos de estudo, servem-
se deles e, por seu turno, contribuem para eles.
Pode-se ilustrar estas afirmações mostrando que por exemplo: a psicologia Fisiológica
contribui para o desenvolvimento da fisiologia, bioquímica, biofísica, da biologia geral,
etc.. mas também se serve das mesmas para seu desenvolvimento. A psicologia social
em suas regiões limítrofes, se confunde com a sociologia, antropologia, a ciência
política e a economia.
As pesquisas de opiniões e atitudes, as previsões de comportamento e a dinâmica de
grupo exigem recursos ou conhecimentos de Psicologia, assim como de outras ciências
sociais.
Novas áreas de interesse mútuo para diversas disciplinas surgem constantemente. Um
desses campos, de grande interesse actual, é a psicologia linguística que estuda as
relações acaso existentes entre a estruturação linguística e a actividade cognitiva e que
consegue congregar psicólogos, linguistas, sociólogos, antropólogos, filósofos num
trabalho conjunto para o desenvolvimento da mesma.

Das ligações da neurologia com a psicologia apareceu um novo ramo da psicologia que
se apresenta como uma nova interciência: a neuropsicologia, que é o estudo sobre as
relações do comportamento com os dados da fisiologia nervosa e da neuropatologia.
Muitos outros exemplos poderiam ser dados, mas o que importa é ressaltar que não há,
hoje, a preocupação de manter as ciências dentro de um âmbito de investigação restrito
pela definição de seu objecto de estudo. Para concluir este capítulo que procurou
mostrar em linhas gerais o que é a Psicologia contemporânea, repete-se, com Marx e
Hillix, que “ a Psicologia de hoje nega-se a ser limitada a um estreito objecto de estudo
por definições formais ou prescrições sistemáticas”.

1.3.10. Aplicação da psicologia

A Psicologia tem uma vertente prática, aplicada, que se manifesta nas mais variadas
áreas da sociedade contemporânea. Desta forma, poderás encontrar um psicólogo na
escola, no hospital, no tribunal, na fábrica, na universidade, num clube desportivo, num
centro de design de objectos e brinquedos, num departamento de câmara no staff de um
grupo político num departamento de um meio de comunicação social num consultório
etc...
Iremos analisar brevemente três áreas de intervenção da psicologia: no âmbito do
trabalho - psicologia organizacional ; no âmbito da educação - psicologia escolar/
educacional; no âmbito da saúde – a psicologia clínica.

Psicologia Organizacional

O psicólogo organizacional está preocupado em estudar e actuar como facilitador das


relações entre pessoas e organizações, contribuindo para o desenvolvimento de ambas.
Mais concretamente, o psicólogo organizacional, intervém nos processos de trabalho, na
cultura organizacional, nos intercâmbios comunicativos e muitos outros elementos da
realidade institucional. “Os psicólogos nessa área realizam uma grande variedade de
tarefas no mundo dos negócios e da indústria, tais como gerenciamento de departamento
de recursos humanos, trabalhos para melhorar o estado de espírito e as atitudes dos
funcionários, visando aumentar a satisfação no trabalho e a produtividade, examinando
a estrutura e os procedimentos organizacionais e fazendo recomendações para a sua
melhoria”

Psicologia Escolar / Educacional


Os psicólogos educacionais trabalham para melhoria da elaboração do currículo escolar,
testes de promoção, treinamento de professores e outros aspectos do processo
educacional. Psicólogos escolares normalmente trabalham em escolas, onde testam e
aconselham crianças com dificuldades escolares e auxiliam os país e professores a
solucionar problemas relativos à escola.
Basicamente o Psicólogo Escolar age como um facilitador do processo ensino -
aprendizagem, actuando junto da direcção e coordenação da escola, professores,
funcionários, estudantes e pais. Apesar de muitos ainda confundirem, a Psicologia
Escolar não é Psicologia Clínica ou Psicopedagogia dentro da Escola. A actuação do
Psicólogo escolar é mais macro, e visa trabalhar a instituição como um todo, sempre
dentro de uma perspectiva crítica.

Psicologia Clínica

Sem dúvidas, é a mais famosa área de actuação da Psicologia, de tal maneira que muitas
pessoas ainda se admiram ao descobrirem que existem outras possibilidades de prática
psicológica. A Psicologia Clínica estuda maneiras de lidar com os problemas humanos.
Entenda-se por “problemas humanos” aqueles originados do indivíduo enquanto um
ser social – seus métodos podem incentivar o aparecimento ou aperfeiçoamento das
capacidades de relacionamento e ajustamento intra e interpessoal, de aprendizagem e
leitura do mundo e da realidade das pessoas. A Psicologia Clínica também é adequada
ao tratamento de problemas mais complicados como as psicopatologias e os
psicossomáticos (que são doenças/sintomas orgânicos com causas psicológicas). Os
psicólogos clínicos lidam com a avaliação e treinamento de indivíduos com distúrbios
psicológicos, além do treinamento de problemas comportamentais e emocionais menos
severos. As actividades principais incluem entrevistar clientes, fazer testes psicológicos
e fornecer psicoterapia individual ou em grupo.

Quadro resumo da aplicação da psicologia

Designa Objectivos Instituições


ção
Analisar a estrutura e funcionamento das organizações

Explicar e prever o comportamento dos indivíduos e dos


grupos no interior das organizações.

Educar o clima, motivação e nível de satisfação dos


trabalhadores.
Empresas
Psicologi Promover a optimização do trabalho Organizações
a governamenta
Organiza Orientar o processo de recrutamento e formação dos is e não
cional trabalhadores governamenta
is
Participar no processo de avaliação institucional.

Promover o desenvolvimento e maturação Psicológica Jardins de infância


Escolas e outras
Intervir nas dificuldades de natureza mental e emocional instituições
educacionais
Contribuir para a superação de dificuldades de Internatos
Psicologi aprendizagem e de adaptação ao contexto escolar Instituições de
a educação especial
educacio Apoiar os agentes educativos nas questões Autarquias
nal/ psicopedagógicas no processo ensino – aprendizagem, Parcerias institucionais:
Escolar currículos, relação professor – aluno, escola – família… territórios educativos,
equipas de educação
Desenvolver e realizar a orientação escolar e profissional especial
Consultórios de
orientação escolar e
profissional
Diagnosticar perturbações, dificuldades e problemas de Hospitais gerais e
natureza psicológica, distúrbios mentais, delinquência psiquiátricos
juvenil, toxicodependência, conflitos conjugais e familiares Clínicas privadas e
Realizar análise psicológica dos fenómenos psicológicos consultórios
Psicologi Centro de saúde mental
a clínica Desenvolver psicoterapias individuais e de grupo Parcerias institucionais:
saúde pública, educação
especial, etc. Centro de
apoio à
toxicodependência
Organismos prisionais.

2. MÉTODOS E TÉCNICAS DA PSICOLOGIA

Método - refere-se a procedimentos ou técnicas específicas para recolha e análise de dados.


A investigação científica não implica um único método, porque os métodos de investigação
variam de problema para problema e de disciplina para disciplina. Na abordagem feita sobre
as correntes da psicologia, tivemos a oportunidade de verificar que os métodos foram
mudando de acordo com o objectivo dos autores. Enquanto Wundt recorre a Introspecção
controlada, Pavlov, Watson e Kohler ao método experimental, Freud a Psicanálise e Piaget
ao método clínico e observação naturalista e Rogers ao método fenomenológico.

2.1. Método Introspectivo

Durante muito tempo o único método utilizado em psicologia foi a introspecção. A


Introspecção no sentido restrito da palavra propõe o conhecimento das emoções através
da observação interna e reflexão por parte do próprio sujeito. O indivíduo é ao mesmo
tempo sujeito do conhecimento e objecto de estudo num processo de auto-observação.
A introspecção – observação interior – não tinha qualquer valor científico, dado que o
sujeito que observa e o objecto observado se identificam. A introspecção foi formulada
por Wundt que a utilizou no seu laboratório de psicologia.

É defendido pela corrente Associacionista de modo a permitir o estudo das emoções e


estados da consciência de uma forma sistemática: orienta-se para o estudo do
consciente.

Etapas da introspecção controlada:

1. Apresentação de pequenos estímulos visuais ou auditivos a um conjunto de


observadores treinados.
2. Os sujeitos descrevem as suas emoções recorrendo a termos predefinidos.

3. Os dados eram depois relacionados e interpretados por uma equipa de


psicólogos.

A Introspecção controlada implica a presença de observadores externos e


estruturação da descrição das emoções

Para Augusto Comte,(1798-1857) “ o indivíduo que pensa não se pode dividir em


dois: um que raciocinaria enquanto o outro se veria raciocinar.” A condição
fundamental da observação científica é a distinção clara entre observador e observado.
Outras críticas e limitações apresentadas ao Método Introspectivo.

O método introspectivo, foi objecto de fortes críticas por parte das correntes
psicológicas mais objectivas, em especial, os behavioristas, que lhe apontaram mais
limitações:

 Fraco critério de objectividade e rigor, na medida em que o observador é o


mesmo que o observado, não conseguir evitar o subjectivismo;
 Interferência e alteração do fenómeno observado pela observação; redução a
uma psicologia do homem adulto, consciente e lúcido, o único que é capaz de se
introspeccionar.
 A mobilidade dos estados da consciência dificulta a observação, só se observa
um fenómeno psíquico depois de ele ter acontecido. A introspecção é, no fundo,
uma retrospecção.
 Os dados da introspecção só podem ser comunicados através da linguagem.
Muitas vezes, o sujeito tem dificuldade em exprimir por palavras o que sente;
 Os fenómenos psicológicos, como a emoção, a ira, a cólera não são compatíveis
com a introspecção. Se se está muito emocionado, não se consegue analisar a
emoção;
 O indivíduo que pratica a introspecção é o único que observa a sua experiência
interna. A sua observação não pode ser controlada por outro observador;

 O método introspecção não se aplica a fenómenos inconscientes, aos factos de


natureza fisiológica

 A tomada de consciência de um determinado fenómeno implica a sua alteração.

Apesar destas limitações este método permite o estudo dos pensamentos e uma tomada
de consciência dos actos pelo que se continua a utilizar, embora em contextos diferentes
dos propostos por Wundt. É o carácter subjectivo do método introspectivo e o seu
relativismo que vão conduzir a vigorosas reacções que preconizam a utilização do
método experimental para estudar o comportamento. Com os comportamentalistas a
introspecção é banida como método da psicologia.

2.2 Método Científico


“ No quadro de uma ciência empírica, as hipóteses a propósito dos comportamentos dos
raios cósmicos, dos compostos químicos, das células ou dos indivíduos devem apoiar-se
em provas. Os argumentos sólidos, as referências, os especialistas na matéria e mesmo
as teorias bem articuladas não são consideradas provas científicas suficientes. Obtém-se
a prova científica através do método científico.”

Para responder cabalmente a uma questão pode haver procedimentos científicos


mais apropriados do que outros, e a resposta dada está limitada pela natureza do método
e técnicas de investigação seguidos. Se consideram quatro etapas no método
cientifico:

1. Formulação da questão
2. Elaboração da hipótese
3. Verificação da hipótese
4. Formulação das conclusões

Podemos verificar no exemplo que apresentamos as quatro etapas: Formulação da


questão - Porque é tão frequente o fenómeno de violência infantil nos nossos dias?
Elaboração de uma hipótese - As crianças de determinada idade (por exemplo dos 4
aos 9 anos) que vêem, na televisão, mais filmes violentos têm atitudes mais agressivas.
Verificação da hipótese - Recorrendo a diferentes métodos e técnicas de investigação,
através de inquéritos e entrevistas aos pais de uma determinada amostra, recolhemos
informações sobre o tipo de programas que os filhos vêem na televisão, tempo diário
ocupado a ver a TV e em que condições ( sozinhos ou acompanhados, duração). Junto
dos professores, recolhemos informações através de entrevistas e /ou inquérito sobre os
comportamentos agressivos das crianças da amostra em análise.

Nesta pesquisa, pode prever-se a utilização da observação naturalista


(observação das crianças no recreio, na rua e noutras situações de grupo..); aplicação de
testes projectivos (selecção e aplicação de testes adequados à pesquisa e à idade das
crianças); método experimental (comparar os comportamentos agressivos de um grupo
de crianças que vê filmes violentos com outro equivalente, mas cujas crianças não têm
esse hábito).
Poderíamos ainda seleccionar uma criança particularmente agressiva que vê filmes
violentos, e sobre ela desenvolver um estudo de caso individual e aprofundado, através
do método clínico.

Formulação da conclusão – poderíamos concluir, nesta investigação simulada, que as


crianças que apresentam maior agressividade são aquelas que assistem sozinhas, durante
mais tempo, a emissões violentas na TV. A hipótese foi confirmada.

Não seria, contudo, legítimo retirar a conclusão que a violência transmitida pela
televisão é o único factor explicativo do aumento dos comportamentos violentos nas
crianças. Poderíamos aprofundar esta investigação levantando outras hipóteses para
identificar a influência de outros factores (familiares, socioeconómicos, culturais …)
que contribuiriam para explicar a violência infantil.

A psicologia para desenvolver uma investigação utiliza vários métodos e técnicas,


inquéritos, entrevistas e testes como vimos no exemplo apresentado. No quadro de
investigação, visando uma abordagem científica, a psicologia recorre a vários métodos e
técnicas:

2.3. Método experimental

O método experimental tem origem, nas ciências da natureza, contribuindo de forma


decisiva para o seu desenvolvimento e progresso a partir do século XVII. Este constitui
– se como método fundamental na investigação científica por assegurar, através da
verificação e do controlo experimental, o rigor das suas conclusões.

Só na segunda metade do século XIX se iniciaram as primeiras investigações


experimentais na área da psicologia. Afirma-se que a primeira aplicação do método
experimental em psicologia foi realizada por Gustav Fechner (1801- 1887). No seu livro
Elementos da Psicologia, descreveu várias experiências para estudar as sensações
procurando estabelecer a relação entre intensidade do estímulo e a intensidade da
reacção. Concretamente, mediu e comparou os aumentos de estimulação e os da
reacção, estabelecendo entre ambas uma relação matemática.

O método experimental é defendido pelo Behaviorismo mas utilizado por outras


correntes de psicologia.
Considerado critério de cientificidade, o método experimental vai ser aplicado ás
ciências sociais e à psicologia. O seu objectivo é permitir conhecimentos sobre
comportamentos comuns a um grupo de pessoas, prever o comportamento perante
determinadas situações.

O método experimental apresenta uma aplicação limitada a determinadas áreas da


investigação: no funcionamento do sistema nervoso, no estudo da percepção, bem como
em determinados aspectos da aprendizagem, memoria, motivação e inteligência.

Fases ou etapas da elaboração de um plano Experimental

 Hipótese Prévia
 Experimentação
 Generalização

1. Hipótese Prévia – O investigador vai procurar estabelecer uma relação de causa


e efeito entre dois tipos de factos. Quer relacionar a presença de um facto
(situação) com a modificação de outro (comportamento). A hipótese pode ser
sugerida por uma observação pré- experimental. Pode também ser inspirada
num conjunto de conhecimentos já estabelecidos, a partir de outros já existentes.
Ex: - um psicólogo pretende estudar os factores que intervêm no processo de
aprendizagem de um rato no trajecto de um labirinto. Põe como hipótese que
quanto mais fome o rato tem menos erros comete.
Ex - Um psicólogo pretende verificar se um aumento no autoconceito implica
um aumento no rendimento escolar das crianças, recorrendo a um programa de
formação de autoconceito.
Ex- Um psicólogo propõe-se por exemplo de estudar o problema sobre o como a
violência na TV aumenta a agressividade nas crianças.
O carácter controlável da hipótese é a sua característica fundamental. As
hipóteses são explicações possíveis que necessitam de ser testadas.

2. Experimentação - Fase de verificação da hipótese. Nesta fase é determinante o


rigor das observações e controlo da situação experimental: portanto o
investigador vai controlar e manipular as variáveis.
a) Controlo de variáveis - Elementos que constituem a situação de estudo
relativamente à alteração ou manifestação de um comportamento cuja
natureza se desconhece.
O objectivo desta fase é comprovar se o efeito que as variáveis independentes
provocam na variável dependente é aquele que se supusera na hipótese.

-Dependente – Elemento que constitui a modificação do comportamento a


explicar surgindo como a variável de resposta é consequência da variável independente.
Por outras palavras, variável dependente é o que o investigador pretende analisar.

-Independente - São os factores, as condições supostamente responsáveis pela


situação e que vamos manipular e controlar para verificar a variável dependente.
Aparecem ligadas à situação ou à personalidade. Ex: no primeiro exemplo, a variável
dependente é o número de erros que o rato comete. (o psicólogo pretende conhecer
um aspecto do comportamento que é a aprendizagem). O número de horas de privação
de alimento é a variável independente.

No segundo exemplo que demos, a variável dependente é o rendimento escolar, a


variável independente o autoconceito. O objectivo do psicólogo será comprovar se a
variável independente tem efeito sobre a variável dependente. No decurso da
experiência, o investigador vai aplicar um princípio básico: fazer avariar apenas uma
variável independente. No exemplo do rato no labirinto, o experimentador faz variar o
número de horas de privação de alimento.

Nas experiências que envolvem os seres humanos o investigador deve ter em conta o
controlo da situação, as características das atitudes dos sujeitos - quando as pessoas
sabem que estão a ser submetidas a uma experiência, assumem frequentemente
comportamentos que julgam ser adequados à situação. Procuram reagir de acordo com o
que supõem ser o desejo do experimentador, os efeitos do experimentador. As vezes o
experimentador influencia, involuntariamente, o comportamento dos sujeitos.

-Externas, estranhas ou parasitas - Elementos de uma experiência que não são


controláveis ou sucedem inesperadamente mas que podem influenciar uma experiência,
podendo-se estudar essas condicionantes relativamente a:
1-Ao sujeito - Atitudes e expectativas do sujeito observado – a atenção prestada ao
trabalho de um sujeito aumenta o seu desempenho mesmo sob condições adversas.

2-Ao observador - Atitudes, expectativas, estatuto, credibilidade e personalidade do


observador (o psicólogo pode colocar o indivíduo à vontade ou provocar um grau de
tensão)

3-Às condições - As condições ambientais devem ser iguais relativamente aos sujeitos
observados: local, hora do dia...

Registo de observações - Para garantir o rigor das observações e permitir a análise dos
dados por investigadores independentes.
Registos de ocorrências e duração de comportamentos
Escalas de classificação - Níveis de frequência de um facto.

Controlo de condições - Validação da informação


Grupo Experimental - Grupo de sujeitos onde é testada uma variável independente
sendo as restantes condições e constituição devem ser iguais ao grupo de controlo para
permitirem a comparação de resultados.

Grupo de controlo ou testemunha - Grupo de sujeitos em que as condições da


experiência são mantidas inalteráveis, garantindo assim os dados resultantes da
observação do grupo experimental

Amostra - Conjunto de indivíduos onde decorre a experimentação, sendo constituído a


partir da segmentação do universo a estudar. A amostra deve ser significativa e
representativa da população a estudar.

3-Generalização – Depois de submeter os dados recolhidos a tratamento estatístico,


segue-se a última etapa do método experimental que é a generalização dos resultados. O
investigador estabelece as conclusões pela generalização dos dados da amostra para o
universo a estudar. Nas ciências humanas e sociais, especialmente em psicologia, a
generalização deve ser feita com rigor e prudência. Uma generalização abusiva pode
conduzir a concepções e práticas que afectam a vida das pessoas.
As experiências em laboratórios assegurariam condições precisas e controladas para
investigar as relações entre a variável dependente e independente. A experiência em
laboratórios é a que melhor permite controlar as variáveis de todos os factores. Porém,
apresenta algumas limitações:

Ao decorrer num ambiente artificial, o comportamento das pessoas pode sofrer


distorções.

No laboratório, estão ausentes variáveis que existem no meio natural e que influenciam
o comportamento.

Para ultrapassar estas dificuldades, os psicólogos realizam experiências em ambientes


naturais – experiência de campo ou em contexto ecológico. Neste tipo de experiência as
variáveis independentes são medidas sem que os indivíduos saibam que estão a ser
objecto de estudo. Entretanto, estas experiências não permitem controlar todas as
variáveis, nem separar os diferentes factores.

Apesar de toda a preocupação no controlo da experiência, determinados erros podem


surgir nas diversas fases:

Planificação - Possibilidade de erros na elaboração da amostra, na selecção das


variáveis e no controle experimental.

Isolamento de variáveis - Determinadas elementos terão uma reacção diferente a um


conjunto de variáveis presentes ao mesmo tempo e não a cada uma individualmente.

Generalização - A amostra pode ser insuficiente ou demasiado selectiva.

A estes há ainda a acrescentar os problemas éticos na produção de condições


experimentais (separar gémeos para analisar o seu desenvolvimento, provocar lesões
físicas ou mentais por exemplo) o que leva ao recurso à experiência em animais (hoje
igualmente alvo de contestação social) e à experiência invocada - quando a
experimentação põe em causa a integridade física ou psicológica de um ser humano.
Não se pode, por exemplo isolar uma criança de todo o contacto social para se avaliar a
importância dos factores sociais no comportamento: não se pode provocar uma lesão no
cérebro ou uma mutilação para verificarmos as suas consequências no comportamento;
não se podem submeter pessoas a prolongados e intensos períodos de tensão e stress
para analisar o seu efeito na saúde dos sujeitos.

O método experimental na sua aplicação em psicologia, concretamente nos seres


humanos defronta -se com a dificuldade de isolar a variável independente, em controlar
atitudes e expectativas dos sujeitos, em neutralizar os efeitos do experimentador.

Não podendo provocar este tipo de situações, o investigador recorrerá à observações de


situações já existentes: registará ( por ex: os efeitos de isolamento social em crianças
abandonadas, analisar os efeitos de lesões ou mutilações resultados de doenças ou
acidentes, etc). É o que muitos autores designam por experiências invocadas.

A Experiência Invocada é realizada aproveitando as circunstâncias acidentais de um


fenómeno, constituindo um estudo paralelo de factos que só costumam serem
observados em laboratório pelo seu carácter excepcional. É assim que a existência de
catástrofes ou guerras permitem o estudo real de situações daí resultantes. Esta foi a
técnica mais utilizada para o estudo do cérebro mesmo ainda antes da existência de
aparelhos modernos.

2.4. Método de Observação

Desde a Introspecção ao método clínico, o estudo da psicologia passa pela observação dos
fenómenos psíquicos. A realização da observação isolada do método experimental sucede
por, em determinadas ocasiões e por motivos práticos ou deontológicos, não ser possível o
recurso ao método experimental. Contudo é sempre possível estabelecer hipóteses e recorrer a
técnicas de observação que permitam a verificação das hipóteses sem passar pela
experimentação. As condições em que essa observação é produzida levam a identificar
diferentes formas:

Formas do método de observação

 Laboratorial - Produzida em condições controladas


 Naturalista - Elaborada no meio natural em que se desenrola a situação
 Invocada - Realizada a partir de situações ocasionais e em que as condições não
são controladas nem previstas( exemplo de um acidente)

A Observação Laboratorial - Os investigadores recorrem às vezes à observação


laboratorial quando necessitam de controlar alguns factores que influenciam o
comportamento que está a ser estudado. O ambiente e a situação são determinados pelo
investigador, para melhor controlar as variáveis intervenientes. Por exemplo Bandura,
um psicólogo que se dedicou ao estudo da aprendizagem, partiu da seguinte hipótese:
muitos dos nossos comportamentos são aprendidos através da observação e da imitação.
Desenvolveu então observações laboratoriais para testar a sua hipótese. Assim, um
grupo de crianças dos 3 aos 6 anos observou adultos que gritavam e pontapeavam um
boneco insuflável.

Mais tarde Bandura observou que este grupo de crianças quando brincava com o boneco
era duas vezes mais agressivo do que um outro grupo que não tinha assistido à cena.
Esta observação implica uma sistematização prévia em que se define o que se pretende
observar, com a construção de grelhas de registo. Para alem da observação directa
temos ainda outros instrumentos de observação como as entrevistas, questionários e
testes.
Em todo o caso o sujeito observado tem consciência dessa observação o que pode
condicionar o seu comportamento.

Numa tentativa de eliminar esse condicionamento o observador recorre a meios técnicos


(espelhos de uma via, câmaras de vídeo) para poder observar sem ser notado. A
vantagem deste tipo de observação é o seu rigor pois permite a presença de
observadores independentes que anotam todo o tipo de comportamento de uma forma
descritiva para uma posterior análise. Contudo ao ser produzida em condições
experimentais fica limitada.

A observação laboratorial apresenta, contudo, algumas limitações: o ambiente é


artificial, afectando por isso o comportamento dos sujeitos; há comportamentos que não
podem ser observados em laboratório; os observadores tendem a comportar-se de
acordo com o que julgam ser as expectativas do sujeito. Por isso é que os psicólogos
recorrem a outro tipo de observação.
A Observação Naturalista é um dos métodos mais antigos e refere-se à recolha atenta
e cuidada de dados de animais e pessoas no seu ambiente natural. (ou ecológica) é
defendida pelo método clínico, fundamentando-se na necessidade de observar as
condições reais de uma situação. É também designada observação ecológica pelo facto
de o indivíduo ser observado no seu contexto, privilegiando assim o binómio indivíduo
– meio. Por exemplo, num jardim de infância, onde o psicólogo observa as crianças a
brincar (ou brinca mesmo com elas), a comer, a comunicar entre si e com os
educadores, etc. Podemos afirmar que Piaget empregou, no método clínico, a
observação naturalista quando observava as crianças no seu ambiente habitual.
Propunha-lhes actividades e situações problemáticas, questionava-as para as poder
observar.

Dissimulado, de modo a não ser notada a sua presença, permanecia exterior à situação.
Para tal era necessária a colocação de meios técnicos no local da observação, facto que
não sendo de realização imediata poderia igualmente alterar a situação.
Participava da situação sem o estatuto de observador, sendo este o único modo em que
não necessitamos de controlar as condições da experiência. É a estratégia utilizada por
Piaget no estudo de crianças.

Esta técnica de observação tem um grau de objectividade menor, especialmente a última


estratégia, permite pelo contrário o estudo nas condições reais de uma situação sendo
ainda extremamente prática.

Algumas observações mais frequentemente efectuadas em psicologia foram o estudo do


comportamento social das crianças na sala de aula ou recreio, o comportamento dos
condutores em cruzamentos, estradas e em situações de engarrafamento de trânsito,
manifestações de violência em locais desportivos, o impacto psicológico e social
causado nas populações por desastres naturais ou industriais, o comportamento de fumar
em locais proibidos, entre outros.

A observação naturalista opõe – se às observações laboratoriais em que o investigador


recorre a meios artificialmente constituídos para melhor controlo das variáveis
intervenientes. As observações podem ser mais ou menos focalizadas. Por exemplo
numa família, pode-se observar as relações entre todos os membros que a compõem.
Objecto de observação poderia ser as relações pais/ filhos ou, ainda, observações mais
focalizadas, tais como: as manifestações de carinho físico entre pais e filhos.

O registo das observações podem tomar diversas formas como anotações escritas,
fotografias, registos áudio e vídeo. Em muitos casos o psicólogo utiliza algumas
técnicas para observar sem que os observadores tenham consciência do facto: o espelho
unidireccional, o gravador áudio e a câmara de vídeo escondidos.

2.5. Método Clínico

Não é um método de pesquisa nem pretende descobrir leis do comportamento mas


constitui-se como uma série de procedimentos diagnósticos e tratamento de pessoas
com problemas de comportamento e /ou emocionais. O método clínico surge como
reacção ao método experimental, que está mais interessado em resultados finais
quantitativos do que na análise do processo em estudo.

Freud, numa atitude de investigador clínico, escutava, compreendia e aprendia com os


seus pacientes. Foi Ana O. ( um caso de histeria que estudou em Breuer) que, ao contar
os seus problemas, referiu o seu “teatro privado”, o que deu a Freud a chave para o
conceito de “mundo interno”.

Piaget, interessado em compreender como se desenvolvia a inteligência na criança, não


faz estudos em extensas amostras. Através do método clínico observou e analisou
algumas crianças individualmente ou em grupo. Assim, tentou conhecer os raciocínios
empregues pelas crianças bem como a lógica inerente às respostas que estas davam às
questões e /ou às situações problemáticas com que elas se confrontavam.

O que mais interessava a Piaget era o modo como as crianças tinham chegado às
respostas, isto é o processo. Por isso, era necessário criar um clima interactivo, de
confiança, de segurança. Como investigador, Piaget também foi reconhecido como um
verdadeiro modelo de comunicação, por incluir a intersubjectividade na qual o
psicólogo partilha com o sujeito os seus problemas e preocupações, o uso da intuição e
da introspecção num clima de empatia, confiança, segurança e compreensão entre os
intervenientes.
O método de Piaget realça a flexibilidade e evita constranger os processos naturais de
pensamento da criança. Comparando os processos metodológicos destes dois
precursores do método clínico, sublinhamos que Freud, embora desenvolvesse uma
pesquisa sobre as fantasias individuais e modos do funcionamento psíquico, tinha fortes
preocupações terapêuticas, enquanto Piaget desenvolveu um trabalho junto das crianças
porque estava interessado numa determinada investigação - conhecer o processo de
desenvolvimento intelectual. Ele não pretendia intervir no desenvolvimento nem era
movido por preocupações terapêuticas.

Geralmente, associa-se à palavra clínico a relação médico – doente. Ora, para melhor
compreenderes que é o método clínico, é preciso entenderes que esta designação
abrange não só um método usado na pesquisa psicológica, mas também determinadas
intervenções do psicólogo em situações de terapia, apoio, aconselhamento e orientação
psicológica. O conceito do método clínico é um conceito abrangente que se aplica a
uma metodologia para investigar e intervir, que pode incidir sobre sujeitos que têm, ou
não, problemas psicológicos, em pessoas individualmente, ou em grupo. Para além
disso, podem ser estudos breves ou longos.

A utilização deste método permite aprofundar o conhecimento de alguns conteúdos de


difícil acesso tais como sentimentos pessoais e pensamentos íntimos. Ao aplicar o
método clínico, o psicólogo, além de adoptar determinadas atitudes, recorre a várias
técnicas:

Técnicas do método clínico

 Anamnese e dados biográficos


 A entrevista clínica
 A observação clínica
 Os testes no método clínico.

Anamnese e dados biográficos - Levantamento da história individual do paciente,


recorrendo a fontes externas e trazendo à memória informações significativas passadas
e presentes relativas a uma pessoa. Em certos casos - quando se trata, por exemplo, de
criança – o psicólogo terá que recorrer a outras fontes para recolher dados e assim
construir a biografia do observado. Esta fase permite elaborar algumas hipóteses de
trabalho que vão condicionar a fase seguinte

Entrevista clínica – Colocação de questões ao paciente na tentativa de seleccionar


hipóteses a partir das suas respostas verbais e não - verbais (gestos, reacções, etc.)
Assim, num clima de aceitação e de escuta, a pessoa que recorre ao psicólogo pode
expor livremente o que a preocupa. Para além do que é dito, interessa ao psicólogo
observar os comportamentos, atitudes verbais e não – verbais da pessoa, o modo como
esta descreve o que sente, como reage as questões que lhe são postas pelo psicólogo.

A entrevista assume diferentes modalidades segundo a corrente teórica que o psicólogo


adopta, o tipo de pessoa a ser examinado, o local onde se processa e outras condições. A
entrevista clínica serve como meio de diagnóstico e psicoterapia. Através da
entrevista, a pessoa pode entender melhor o quê (e porquê) a preocupa, compreender-se
a si própria, sentir-se segura e buscar energias e estratégias de resolução dos problemas.

Observação clínica - observação directa dos comportamentos e atitudes do paciente


no seu ambiente natural com o objectivo de o compreender e aos seus problemas. Esta
observação centrada na pessoa ocorre em todas situações possíveis, isto é, durante a
entrevista clínica, a execução de provas e de testes e nos diferentes contextos onde
decorre a vida do sujeito ou do grupo.

Testes no método clínico - Realização de testes de personalidade (do tipo projectivo)


que melhor respondem ao psicólogo clínico de modo a certificar as conclusões. Note-se
que estes testes podem ser igualmente utilizados no início do processo de modo a
fornecer informações. Neste tipo de testes, o sujeito projecta, nas situações em que é
colocado, características da sua personalidade.

Comparação entre o método Experimental e Clínico

Método Experimental Método Clínico


Definição Descrição da relação entre uma variável Estudo aprofundado de um caso
independente e uma variável dependente.
Número de sujeitos Vários em cada grupo Geralmente um
estudados
- Grupo experimental
Atitude do Manipula a variável independente Assume uma atitude de compreensão
investigador com o sujeito para favorecer o
conhecimento
Vantagens Permite conhecer as relações causa e Permite um conhecimento profundo e
efeito; permite estabelecer a relação entre abrangente de um sujeito ou de um
a variável dependente e a independente. problema.

2.6.Testes Psicológicos

O que é um teste?

O teste pode ser definido como sendo um instrumento padronizado para obter informação
sobre características do indivíduo ( intelectuais, aptidões, personalidade…) que deve
responder a questões, executar um conjunto de tarefas em condições bem definidas.
Como situação experimental que é, todas as condições em que o teste decorre devem ser
claramente definidas e aplicadas do mesmo modo a todos os indivíduos: o material do
teste, as instruções, a atitude do psicólogo e o ambiente em que se executa a prova.
Para ser um instrumento rigoroso um teste deve ter as seguintes qualidades:
padronização, fidelidade, validade e sensibilidade.

Padronização – refere-se ao modo como o teste é utilizado: as condições de aplicação,


a cotação, a avaliação devem ser rigorosamente as mesmas.

Fidelidade - Grau de consistência ou garantia de igualdade de resultados de um teste


aplicado duas vezes seguidas à mesma pessoa em condições idênticas. Contudo é difícil
obter uma verdadeira fidelidade, dado que existem inúmeros factores que entram em
jogo: fadiga, motivação e empenho do sujeito. A objectividade de um teste aumenta a
sua fidelidade, bem como o tipo de informação recolhida.

Validade - Grau de exactidão da medição, resultante da aplicação do teste. É a


qualidade que um teste deve ter para garantir que mede o que pretende medir.
Consideram-se os seguintes indicadores da validade:
 Validade de Conteúdo - Se os conteúdos avaliados estão
de acordo com os objectivos que se pretende medir.
 Validade Preditiva - Quando os resultados do teste são
semelhantes aos obtidos pelos sujeitos na vida real.

Sensibilidade - Grau de eficiência de um teste na selecção e colocação em categorias


dos sujeitos avaliados relativamente a uma característica. Por outras palavras é a
qualidade que deve possuir um teste que lhe permite discriminar os indivíduos nas
categorias que pretende avaliar.

A realização de testes escritos e/ou visuais permitem ao mesmo tempo a obtenção


de informações sobre o paciente e a sua certificação. Constituem a forma mais objectiva
de trabalho. De uma forma muito simples podemos distinguir três tipos de testes:

1. Aptidão – as aptidões são disposições para se efectuar, com mais ou menos


eficácia, determinadas tarefas. Permite detectar capacidades para determinadas
áreas do saber (testes de agilidade motora, lateralidade, memória, atenção,
organização da percepção visual, auditiva, de aptidões mecânicas, etc. )
2. Personalidade - Analisam características de personalidade do sujeito. De entre
as categorias do testes de personalidade destacamos os questionários - testes
fechados, com recurso a questões de opção perante uma situação.

São constituídos por um vasto conjunto de perguntas a que o sujeito responde “Sim
/Não de acordo com as opiniões, sentimentos, interesse do sujeito, o que permitirá
avaliar quantitativamente aspectos não intelectuais da personalidade.

Projectivos - Testes figurativos no qual o sujeito se coloca na situação apresentada,


revelando a sua personalidade. Os testes projectivos de Rorschach são constituídos por
dez manchas de tinta que são apresentadas ao sujeito, sendo-lhe pedido que diga aquilo
que vê. Os testes projectivos têm por objectivo revelar conteúdos da personalidade
como, por exemplo: desejos profundos, conflitos, reacções ao meio, etc.

As técnicas projectivas levantam dificuldades ao nível da objectividade da sua


interpretação. As figuras são simétricas e ambíguas, o que permite que o sujeito as
interprete projectando assim aspectos da sua personalidade. O modelo mais utilizado é o
TAT- Testes de Aplicação Temática, que consiste em apresentar ao sujeito uma série
de figuras ambíguas – desenhos, fotografias, gravuras, pinturas – pedindo-se - lhe que,
o sujeito descreva, de forma disfarçada, aspectos da sua vida pessoal projectando a
imagem que tem de si, o que gostaria de ser, o que os outros são e deveriam ser para
ele, etc.

Teste de frustração de Rosenzweig, o sujeito, face a uma situação representada


graficamente, constrói uma resposta. São apresentadas cenas frustrantes que são
susceptíveis de produzir respostas de vários tipos. O tipo de resposta dada fornece
indicadores para melhor conhecer a personalidade do sujeito.

3- Inteligência - Testes de avaliação das capacidades intelectuais traduzidos num


quociente intelectual ou Q.I. podendo ser testes de compreensão, vocabulário,
composição de figuras, ou objectos, classificação de gravuras, etc. exemplos: Escala de
Inteligência para Crianças de Wechsler (WISC) e Escala de Inteligência para Adultos
(WAIS). Os testes de inteligência podem permitir avaliar esta capacidade e a evolução
da inteligência e das aptidões em função da idade.
Apreciação crítica sobre a aplicação dos testes

Os testes respondem a uma necessidade da psicologia na medida em que descrevem


quantitativamente os factos psicológicos e os comportamentos. Foi graças aos testes que
a psicologia escapou ao carisma de ciência contemplativa. Ao nível da investigação os
métodos são recursos importantes, dado que constituem instrumentos de avaliação e
classificação rápidos e económicos, trazendo frequentemente para o processo de
pesquisa uma segurança que lhe advém das suas características técnicas.

Contudo algumas objecções se têm colocado à aplicação dos testes, sobretudo como
instrumento de diagnóstico e de prognóstico. O carácter estático dos resultados obtidos
não reflecte o carácter dinâmico e complexo do psiquismo. Os testes valorizam os
resultados e não têm em conta os condicionalismos sociais e culturais dos indivíduos, o
processo, isto é a forma como a pessoa o vivenciou, como sentiu a situação do teste,
bem como não apreende os raciocínios e os sentimentos subjacentes às respostas dadas.
O ambiente artificial em que decorre a aplicação pode perturbar e até mesmo inibir o
sujeito.

2.7. Método Psicanalítico

Freud abandona o trabalho conjunto com Breuer porque, entre outras razões, reconhece que
a hipnose é um método terapêutico limitado por três motivos. (- nem todas as pessoas são
susceptíveis de ser hipnotizadas; - os resultados não eram duráveis, porque as
resistências pessoais eram evitadas e não analisadas; - o doente não tem um papel
activo no processo de cura. Com o objectivo de conhecer o inconsciente Freud estabelece
um conjunto de procedimentos que podem fornecer informações sobre o inconsciente do
paciente, responsável pelos seus distúrbios. Freud explica o argumento para postular o novo
modelo do inconsciente e desenvolve um método para conseguir o acesso ao mesmo,
tomando elementos de suas experiências prévias com as técnicas da hipnose.

Hipnose - Induzir o paciente, através de uma sugestão intensa, num estado


semelhante ao sono mas no qual é possível estabelecer a comunicação com o hipnotizador e
ser sugestionado, podendo assim revelar memórias ocultas ou ser condicionado para
determinada acção ou comportamento. Freud descobre o método de exploração do
inconsciente: o método psicanalítico. A psicanálise enquanto terapia, se baseia nos
seguintes procedimentos: 1. Associações livres de ideias ; 2. Interpretação de sonhos,
recordações, emoções, fantasias...; 3. Análise dos actos falhados; 4- Processo de
transferência inerente à relação psicanalista / paciente.

- Associações livres de ideias – consiste em deixar que o paciente diga livremente o que
lhe vem a consciência e expressar os afectos, emoções sentidas sem a preocupação de
organizar com lógica as suas afirmações. Com ajuda do psicanalista, o paciente irá
descobrir a linha explicativa dos seus sofrimentos; deve reviver terapeuticamente o seu
passado, numa viagem à infância, onde estão, segundo Freud, as raízes dos problemas.
O objectivo seria recordar e/ou reviver os acontecimentos traumáticos recalcados,
interpretá-los e compreendê-los de forma a dar ao ego a possibilidade de um controlo
sobre as pulsões.

Na experiência Freudiana, o paciente era deitado num divã, e numa posição


relaxante vai falando de si, conta, sonha, descreve fantasias, recorda fragmentos de vida,
questiona o que a surpreende… até o que pareça insignificante e sem sentido deve ser
contado. Por detrás do divã, o psicanalista escuta com atenção, tenta compreender o
paciente; procurando falar pouco, entretanto reenvia ao doente pertinentes
interpretações.

Cabe ao psicólogo criar condições para o paciente ultrapassar a resistência, isto é a


tentativa de impedir a vinda ao consciente do material recalcado. O processo de
resistência está ligado ou relacionado com a importância que os acontecimentos têm na
realidade ou na fantasia do indivíduo.

- A Interpretação dos sonhos - os sonhos apresentam imagens figurativas de


recalcamentos, ansiedades e medos, que depois de interpretados, vão permitir ao
psicanalista confirmar os resultados das suas investigações sobre problemas de
comportamento apresentados pelo paciente. A interpretação de sonhos é o melhor meio
para atingir o inconsciente do paciente. Existe um conjunto de mecanismos que visam
disfarçar o conteúdo inadmissível do sonho. Freud distingue o conteúdo manifesto e o
conteúdo latente do sonho.
O conteúdo manifesto consiste na descrição que o paciente faz do que sonhou. Contudo,
o conteúdo manifesto do sonho é apenas uma fachada e, por isso, requer é uma
interpretação: é o analista que vai procurar o sentido oculto, escondido, do sonho, isto é
o conteúdo latente, implícito; que no significado profundo do sonho é frequentemente
incompreensível para o sonhador.

- Análise dos actos falhados - fenómenos ligados a lapsos de linguagem, de escrita,


esquecimentos momentâneos de palavras… São acidentes de carácter insignificante e de
curta duração que frequentemente cometemos; esquecimentos de objectos usuais (as
chaves, a carteira, a agenda.); lapsos na linguagem (trocar uma palavra por outra, não
conseguir encontrar palavra certa); a falsa leitura ( ler num texto uma palavra diferente
da que está escrita); falsa audição (ouvir uma coisa que, de facto, não foi dita…); certos
tiques (alisar a barba, mexer no cabelo, tilintar o molho de chaves…), etc.
O lapso mais frequente consiste em dizer ou fazer exactamente o contrário do que se
pretende. Freud, considera que estes comportamentos perturbados são manifestações
inconsciente, - têm um sentido de que o sujeito não tem consciência. Os actos falhados
resultam da interferência de intenções diferentes que entram em conflito. São os desejos
recalcados que dão origem aos actos falhados.

Processo de transferência – consiste na actualização de situações reprimidas e


esquecidas como: sentimentos, e emoções, desejos, medos, ciúmes, invejas, ódios,
ternura, amor, que na infância eram dirigidos aos pais e aos irmãos, são agora
transferidos para a relação com o analista. Assim, a transferência pode ser positiva ou
negativa conforme o tipo de sentimentos relativos ao terapeuta.

2.8. Inquéritos e entrevistas

Inquérito –é uma técnica de investigação que consiste num conjunto de perguntas


dirigidas a grupos de indivíduos. Tem por objecto confirmar, ou não, hipóteses
explicativas formuladas pelo investigador

O inquérito por questionário é uma técnica que permite obter, de uma forma rápida,
informações sobre opiniões, atitudes, valores ou aspectos do comportamento das
pessoas.
Entrevista – é também uma técnica de investigação. Podemos fazer a recolha de dados
através de três tipos de entrevista:

Entrevista não - directiva – consiste em deixar que o inquirido se exprima sem a


interferência do entrevistador.
Semi-directiva – Existe a orientação do entrevistador através de um guião.
Directiva – as questões colocadas a diferentes pessoas são idênticas, há controlo ao
nível das questões e respostas para se obter uma informação estandardizada.
Quadro resumo dos métodos, técnicas e testes

Métodos Outras Técnicas e testes


1- Método Introspectivo

 Introspecção controlada

2- Observação

 Laboratorial
 Naturalista Inquéritos e entrevistas

3- Método Experimental  Não -directivos


 Semi-directivos
 Hipótese prévia
 Directivos
 Experimentação
 Generalização
Testes
4- Método Clínico
 Aptidão
 Anamnese
 Personalidade
 Entrevista
Questionários
 Observação
Projectivos
 Testes
 Inteligência

5- Método Psicanalítico

 Associação de ideias
 Interpretação de Sonhos
 Actos Falhados
 Transferência ou Transfert
3 - FUNDAMENTOS BIOLÓGICOS DO COMPORTAMENTO

O estudo que vamos estabelecer orienta-se a partir da análise do sistema nervoso e da


importância da carga hereditária na determinação dos comportamentos.

O Objectivo desta unidade é a compreensão dos mecanismos de resposta e reacções


orgânicas do ser humano. É sabido que o nosso organismo é um sistema aberto em
interacção constante com o meio.

Do comportamento mais simples ao mais complexo intervém o organismo na sua


totalidade: os órgãos sensoriais, as glândulas endócrinas, o sistema nervoso. Assim, a
relação do organismo com o exterior faz-se através dos subsistemas do organismo que
integram: sistema nervoso, endócrino, respiratório, digestivo, órgãos sensoriais.

As informações são recolhidas pelos órgãos receptores (receptores sensoriais), sendo


depois alvo de avaliação e tomada de decisões pelos centros coordenadores (sistema
nervoso); a execução dessas decisões é feita pelos órgãos efectores (músculos e
glândulas. Por exemplo: a picada de uma agulha no dedo; activa o órgão receptor (a
pele) são activadas também os nervos sensoriais que transportam a mensagem a um
centro nervoso – a espinal medula onde se elabora a resposta conduzida pelos nervos
motores que activam os órgãos efectores.

O cérebro mantém contacto com o exterior através de cinco órgãos receptores que
captam e codificam as informações: a pele, o nariz, a língua, o ouvido e o olho. Para
além dos cinco sentidos podemos ainda referir o sentido cinestésico, que nos informa
sobre as posições dos membros e de outras partes do corpo, quando nos movemos, e o
sentido de equilíbrio e de orientação, que é da responsabilidade do ouvido interno.
Grande parte dos nossos comportamentos exprime -se através de movimentos: andar,
pestanejar, sorrir, dançar, escrever…

3.1. Sistema nervoso

O sistema nervoso tem como unidade básica os neurónios, que diferem quanto à
dimensão, à localização e às funções. Tem como principais funções o controlo do
comportamento e a regulação fisiológica do organismo. Este processo é
estabelecido por diversas estruturas de forma interligada e muitas vezes em conjunção
e de cuja harmonia depende o equilíbrio do corpo humano.

Nesta estrutura do sistema nervoso destacamos o sistema nervoso central (encéfalo e


espinal-medula) e o sistema nervoso periférico (sistema nervoso somático e sistema
nervoso autónomo) que actuam coordenadamente nas relações do homem com o meio
bem como na manutenção do seu equilíbrio interno.

3.1.2.Sistema Nervoso Central

Ao Sistema Nervoso Central cabe a coordenação das principais funções do


comportamento humano e é constituído por duas estruturas, correspondentes aos órgãos
efectores

A Espinal-medula - ou medula espinal é formada por um tubo cilíndrico (1 cm


de diâmetro e 50 cm de comprimento) sendo alojada ao longo da coluna onde se
encontra protegida pelas vértebras. O seu interior tem cor cinzenta e o exterior é branco

Tem duas funções: - Transmissão de sinais ( função condutora) - é responsável pela


condução de mensagens dos receptores ao cérebro e do cérebro aos músculos e às
glândulas. Por outras palavras, recebe os sinais dos órgãos dos sentidos e dos músculos
transmitindo-os ao cérebro. No sentido inverso, o cérebro envia para a medula, através
dos axónios, ordens referentes à movimentação de músculos. Assim uma lesão na
espinal medula pode causar a incapacidade de controlar o funcionamento das pernas,
braços, os intestinos ou a bexiga.) - Actividade reflexa - refere-se ao mecanismo que
permite uma resposta motora (não consciente) a um estímulo. Tal acontece no caso de
um estímulo que provoque a dor em que a resposta é anterior à chegada da informação
ao cérebro e consequente tomada de consciência. A esta resposta dá-se o nome de acto
reflexo e caracteriza-se por ser uma resposta rápida, instantânea e automática a um
estímulo.

A espinal-medula é ligada ao Encéfalo pelo Bolbo Raquidiano, sendo as


comunicações entre a medula, cérebro e cerebelo asseguradas pelo tronco cerebral que
estabelece a transmissão de informações através dos pedúnculos (feixes de fibras
nervosas). Estes elementos de ligação constituem o encéfalo posterior
O Encéfalo é composto por um conjunto de elementos que podemos agrupar em três
secções de acordo com a sua localização na caixa craniana:

 Encéfalo Posterior ou Metencéfalo é constituído por:

1- Bolbo (ou bulbo) raquidiano


É o prolongamento da parte superior da espinal-medula estabelecendo a ligação
ao encéfalo. Ao contrário do cerebelo e do cérebro possui uma cor branca no
exterior sendo cinzento por dentro.

Tem funções semelhantes à medula como centro de actividade reflexa e condutor de


informações:

 Recebe informações dos sentidos situados na cabeça


 Fornece impulsos de controlo motor dos músculos da cabeça
 Intervém nas funções ligadas à preservação da vida como o ritmo respiratório,
cardíaco, sono e a tosse.

2- Cerebelo - Com um formato semelhante ao cérebro é no entanto 10 vezes mais


pequeno. Tal como o cérebro é constituído por dois hemisférios ligados entre sí na parte
inferior.

 Controla a coordenação e aprendizagem de movimentos.


 Responsável pela manutenção do equilíbrio e postura do corpo.
 Ligado aos actos motores complexos e rápidos (ex. tocar piano)

Lesões no cerebelo resultam em perda de equilíbrio e descoordenação de movimentos.

3- Protuberância - É o local de passagem de fibras nervosas que unem os diferentes


níveis do sistema nervoso central

 Encéfalo Médio ou mesencéfalo está localizado ao longo do tronco cerebral,


desde o bolbo raquidiano ao tálamo, sendo a parte mais pequena do encéfalo e
constitui o núcleo activador do sistema auditivo e visual. Algumas regiões desta
estrutura estão envolvidas no controlo dos movimentos dos olhos, enquanto que
outras estão envolvidas no controlo motor dos músculos esqueléticos.
A principal estrutura do Encéfalo Médio é designada por Sistema Activador
Reticular (S.A.R. ou Sistema Reticular Activante)
É constituído por uma fina rede de nervos que despertam as diversas áreas do cérebro,
de modo a executarem as funções a que estão destinadas.

Funções do S.A.R.:

 Selecciona as mensagens a serem analisadas pelo cérebro


 Alertar o cérebro
 Responsável pelo estado de vigília / sono
 Responsável pelas situações de atenção / distracção

A lesão do S.A.R. causa um estado de coma permanente

 O Encéfalo Anterior ou Protencéfalo é composto pelo Tálamo, Hipotálamo,


Sistema Límbico (situados entre os hemisférios cerebrais e encéfalo médio) bem
como pelo Cérebro.

O Tálamo, situado acima do tronco cerebral, distribui e processa as informações


motoras e sensoriais destinadas ao córtex cerebral. As comunicações do córtex para o
cerebelo ou para o bolbo raquidiano passam igualmente pelo hipotálamo. Estará ainda
envolvido na regulação dos níveis de atenção de algumas experiências sensoriais e
emoções.

O Hipotálamo regula a actividade autónoma e a secreção hormonal através da glândula


pituitária. Possui conexões importantes com o tálamo, o encéfalo médio e com as áreas
corticais envolvidas no processamento das informações do sistema autónomo. Assim
regula funções biológicas básicas como a fome, sede, excitação sexual, temperatura
corporal, bem como agressividade instintiva e circulação sanguínea.

O Sistema límbico é composto por um grupo complexo de áreas corticais e de nódulos


subcorticais que trocam informações através do conjunto de feixes de associação. Os
seus componentes constituem o cérebro das emoções. As lesões neste sistema provocam
respostas emocionais invulgares, como a amnésia (no caso do hipocampo). Constituem
o sistema límbico:
1. Hipocampo – está envolvido nos processos de:
o Aprendizagem
o Memória (nos estádios iniciais de memorização)
o Emoção
o Coordenação das acções dos sistemas autónomo e endócrino
2. Amígdala - está relacionada com a memória, a emoção e a
agressividade.
A sua estimulação eléctrica causa no homem medo e ansiedade. Em
experiências com macacos a sua ablação tornou os animais dóceis.
3. Septo
4. Bolbo olfactivo

O Cérebro é a estrutura principal do encéfalo ocupando a maior parte do volume da


caixa craniana, constituída por dois hemisférios

O cérebro constitui a unidade mais volumosa do Encéfalo (4/5 do encéfalo) e possui


dois hemisférios (direito e esquerdo) unidos pelo corpo caloso. Esta ligação é feita por
um feixe de fibras que estabelece a comunicação dos hemisférios. Cada hemisfério
apresenta quatro lobos: frontal, parietal, temporal e occipital

A superfície dos hemisférios está coberta pelo córtex cerebral, composto por neurónios.

Cada hemisfério controla a metade oposta do corpo humano - assim a mão esquerda é
controlada pelo hemisfério direito. Por outro lado algumas funções e capacidades
intelectuais parecem estar localizadas em hemisférios específicos, o que levou ao
estabelecimento a diversas tentativas de mapeamento do cérebro.

O hemisfério esquerdo é responsável pela linguagem verbal, pelo pensamento lógico, e


pelo cálculo. O hemisfério direito controla a percepção das relações espaciais, a
formação de imagens, o pensamento concreto. Nos comportamentos mais complexos
estão envolvidos, completando-se, os dois hemisférios. Contudo é pela interligação dos
dois hemisférios que o funcionamento cerebral se estabelece de forma harmoniosa. A
quebra da sua ligação leva a que os hemisférios operem independentemente, surgindo
disfunções como a dislexia (perturbação e dificuldade na aprendizagem da leitura).
O córtex está dividido em quatro zonas - os lobos cerebrais . Até aos nossos dias têm-
se desenvolvido múltiplas investigações que procuram estabelecer as relações entre as
áreas cerebrais e as funções principais e os comportamentos.

 Frontal – área motora


 Temporal – área auditiva
 Parietal – área sensorial
 Occipital – área visual

Quadro das áreas sensoriais e psicossensoriais

Áreas Funções Consequência Áreas Funções Consequência


primárias ou s de lesões secundárias ou s de lesões
sensoriais psicossensoriai
s
Área motora Responsáve Paralisia Psicomotora Responsável Apraxia
l pelo pela
movimento coordenação
do corpo dos
movimentos
corporais
Área Recebe as Anestesia Psicossensorial Coordena as Agnosia
somatestésic informações mensagens sensorial
a ou que têm recebidas
sensorial origem na
pele e nos
músculos
Área visual Recebe as Cegueira Psicovisual Coordena os Agnosia visual
mensagens dados
captadas recebidos na
pelos olhos área visual
permitindo o
reconheciment
o dos objectos
Área Recebe os Surdez Psicoauditiva Identifica e Agnosia
auditiva sons interpreta os auditiva
elementares sons recebidos
na área auditiva

A zona pré-frontal do córtex corresponde à área do pensamento e resolução de


problemas.

Os lobos são semelhantes entre si distinguindo-se em cada um deles, dois tipos de


áreas:

1. Primárias - áreas de projecção sensorial ou motoras. Actuam como centros de


recepção de informação sensorial antes de serem organizadas ou como centros
de transmissão de ordens motoras. Correspondem a 25% do córtex
2. Secundárias - áreas de associação que coordenam e integram a informação
recebidas nas áreas primárias. Estão ligadas a processos mentais, abstractas
como as áreas de Broca e Wernicke. Correspondem a 75% do córtex.

Lesões no Cérebro

As lesões no cérebro podem ser provocadas por tumores, hemorragias, bloqueios nos
vasos sanguíneos e acidentes. O estudo destas lesões permitiu o conhecimento do
cérebro mas a localização exacta das funções cerebrais está ainda por esclarecer: uma
dificuldade surgida após uma lesão apenas revela que a área lesionada está envolvida na
função que se perdeu.

Os cérebros das crianças até aos 4 anos (quando o cérebro ainda não atingiu o seu
desenvolvimento pleno) possuem ainda a capacidade de suplência, permitindo que uma
função cerebral perdida após uma lesão seja compensada por uma área diferente do
cérebro.
Paralelamente investiga-se a possibilidade de células cerebrais germinativas permitirem
a produção de novas células cerebrais. Este estudo ainda está confinado a animais.
 Lesões na área de Broca - estudada por Paul Broca em 1863 e situada na área
frontal - leva a que os pacientes compreendam o discurso dos outros mas não
consigam encontrar palavras para exprimir ideias.
 Na parte esquerda do lobo temporal, a área de Wernicke (descoberta por Carl
Wernicke em 1871) leva a que os pacientes tenham dificuldade na compreensão
do seu próprio discurso, que passa a ser elaborado de forma fluente mas sem
sentido.

Estudos feitos por António e Hanna Damásio mostraram que lesões no córtex podem
levar à perda de capacidades específicas na linguagem: Algumas lesões no lobo
temporal podem levar à incapacidade em pronunciar substantivos, outras ao nível dos
lobos frontal e parietal acarretam problemas em lidar com os verbos.

Nomes das lesões mais conhecidas:

 Afasia - Dificuldade em falar de forma articulada


 Agrafia - incapacidade de escrever
 Apraxia - incapacidade em organizar os movimentos para uma acção
 Agnosia visual - incapacidade em reconhecer coisas
 Agnosia auditiva - incapacidade em compreender o que está a ser ouvido
 Prosopagnosia - incapacidade em reconhecer rostos
 Anosognosia - Incapacidade em tomar consciência da própria doença
 Alexia - incapacidade em compreender os sinais gráficos que constituem as
palavras (lesão no lobo occipital)

3.1.3. Sistema Nervoso Periférico

O Sistema Nervoso Periférico constitui-se como um sistema de comunicações


ligando o sistema nervoso central com os órgãos receptores e os órgãos efectores:
divide-se em dois subsistemas: Somático e Autónomo
Sistema Nervoso Periférico (SNP)

 Sistema Nervoso Somático


Nervosos sensoriais
Nervos motores
Nervos de conexão ou associação.
 Sistema Nervoso Autónomo

 Divisão Simpática
 Divisão Parassimpática

1. O sistema nervoso somático é responsável pelos movimentos musculares


voluntários e pelas comunicações com o sistema nervoso central através dos
nervos sensoriais e os nervos motores
1. O sistema nervoso autónomo constitui um mecanismo involuntário de
auto-regulação do funcionamento interno do organismo. É responsável
pelo controlo das glândulas e das actividades involuntárias como o ritmo
cardíaco, a respiração, a digestão, a pressão arterial, a actividade dos
músculos lisos. É composto por duas divisões ou ramos.
2. Divisão Simpática - Participa nas respostas do corpo ao stress, excitando
e activando os órgãos necessários a respostas em momentos de tensão, de
perigo e de angústia. É mais activa quando são necessárias mais energias.
3. Divisão Parassimpática - Actua na conservação das energias do corpo e
nas respostas necessárias a períodos de repouso e relaxamento, mantendo
o equilíbrio homeostático. A divisão simpática acelera o ritmo cardíaco e
o parassimpática diminui-o

Sistema nervoso Sistema nervoso


Órgão ou sistema
Simpático Parassimpático
Olhos (íris) Dilatar da pupila Contrair a pupila
Glândulas nasais, Salivares
Inibir a secreção Estimular a secreção
e lacrimais
Glândulas Sudoríparas Activar a secreção do suor
Músculo Cardíaco Acelerar o ritmo cardíaco Diminuir o ritmo cardíaco
Coração e vasos coronários Vasodilatação Vasoconstrição
Abertura e dilatação dos
Vias respiratórias Constrição dos brônquios
brônquios
Impedir a digestão pela Estimular a digestão pelas
inibição das contracções do contracções do estômago e
Estômago e Pâncreas estômago e da secreção da secreção dos sucos
digestiva; contracção dos digestivos; relaxamento
esfíncteres dos esfíncteres
Aumentar a produção de
Fígado Estimular a vesícula biliar
glicose
Bexiga - Uretra Relaxar a bexiga Contrair a bexiga
Estimular a ejaculação e
Pénis Estimular a erecção
inibição da erecção
Vagina - Clitóris Contracção da vagina Erecção do clitóris

3.1.4. Sistema endócrino


O sistema Endócrino é um sistema de comunicações paralelo ao sistema nervoso
desempenhando funções na regulação do crescimento, na reprodução e ao nível do
metabolismo das células utilizando as hormonas que lançam directamente no fluxo
sanguíneo. Os dois sistemas funcionam de uma forma integrada. O sistema endócrino
afecta o crescimento, a sexualidade, a emotividade… Daí a importância do seu estudo
em psicologia.

Sistema Endócrino

 Glândulas – Centros produtores de hormonas


 Hormonas – Mensageiros químicos, lançados na corrente sanguínea, que
levam determinados órgãos a reagir.

Glândul Hormona Função Lesões


as
endócrin
as

- Insuficiência na infância =
Influencia o crescimento Nanismo
físico, controla a - Excesso nos jovens =
Hipófise actividade da tiróide, das Gigantismo
(Pituitári Somatotróp supra-renais e das - Excesso após a adolescência
a) ica glândulas. Coordena com dá-se a Acromegalia
o hipotálamo a fome a ( aumento e engrossamento
sede, a actividade sexual, das extremidades ( nariz,
a produção. queixo, dedos, mãos, crânio e
maxilares ) a causa é a
superprodução de hormônios
do crescimento do lobo
anterior da hipófise.
Estimulinas Regulação das glândulas

Hipofuncionamento =
Actua sobre o ritmo crescimento raquítico na
Tiróide Tiroxina metabólico. Na infância criança, calma, apatia,
contribui para o lentidão
crescimento do sistema – Na infância = Idiotia
nervoso – Depois da infância =
Atraso mental (curável) nos
adultos = aumento de peso,
letargia e sensação
permanente de fadiga
Hiperfuncionamento =
perturbações de carácter,
insónias, hiperexcitabilidade
emagrecimento, irritabilidade.
Hipertrofia = Bóssio
- Actua na utilização da
Glicose, baixando o nível
Pâncreas Insulina de açucares no sangue Hipofuncionamento =
- Tensão nos músculos Diabetes
estriados
Adrenalina Aumenta a produção do Hipertrofia na mulher = barba
açúcar
Noradrenali Neurotransmissor
Supra- na
Renais Metabolismo dos hidratos
Cortisol de carbono, proteínas e
lípidos;
recuperação do esforço
Aldosterona
e
andrógenos
Características sexuais
femininas, desejo sexual,
menstruação e capacidade
Estrogénio de reprodução
Desenvolvimento dos
Ovários órgãos sexuais,
Progesteron preparação do útero para
a implantação do embrião
na gravidez
Características sexuais
masculinas primárias
(produção de
Testículo Testosteron espermatozóides) e
s a secundárias (barba, voz
grave, força muscular)
Exemplo de coordenação do corpo: Em momentos emocionais, a adrenalina aumenta a
tensão nos músculos estriados, promove o relaxamento dos músculos lisos e altera a
distribuição sanguínea no corpo: O fígado descarrega glicose no sangue aumentando o
suplemento de energia para as células musculares. Tudo isto junto eleva a pressão
arterial e permite uma resposta mais espontânea.

3.1.5. Transmissão genética: Hereditariedade e meio

Cada ser vivo apresenta características próprias da sua espécie. Por sua vez gera seres
semelhantes, que herdam estruturas que determinam, por exemplo, que os seres
humanos falem, que as aves voem, que os peixes nadem.

Este processo é explicado pela hereditariedade, isto é, pela transmissão da informação


genética de uma geração para a seguinte. Sabe-se que a informação biológica dos traços
e características está presente nos cromossomas do indivíduo e é no interior destes que
se encontram os genes que desempenham um papel fundamental na transmissão dos
caracteres hereditários.

Os genes são constituídos por moléculas de ADN (ácido desoxirribonucleico) que


apresenta a forma de uma espiral dupla, isto é, duas cadeias entrelaçadas uma na outra.
Em todos os seres vivos, cada elemento da cadeia é composto por um grupo
desoxirribose fosfato e por uma base azotada- adenina (A), guanina ( G), citosina ( C) e
timina (T). É a sequência das quatro “bases”que determina a informação genética que
definirá se o novo organismo irá ter pernas, escamas, ou pêlos, asas ou barbatanas.

Uma das particularidades do ADN é copiar-se a si próprio: quando uma célula se divide,
as novas células recebem uma cópia do ADN da célula mãe.

Mitose – é o processo de divisão celular que permite a reprodução do código genético


em novas células. A par da mitose está o processo da meiose processo pelo qual
recebemos os 23 cromossomas do pai e 23 cromossomas da mãe. Assim, um óvulo que
é fecundado recebe 46 cromossomas. O par 23 é diferente nos dois sexos; sendo dois
cromossomas x na mulher; e um cromossoma x e um y no homem. Assim, um óvulo
fecundado por um espermatozóide que tem um cromossoma x nascerá uma rapariga; Se
for fecundado por um espermatozóide com um cromossoma y nascerá um rapaz.

Métodos utilizados na hereditariedade humana


Os geneticistas recorrem a vários métodos: o estudo das árvores genealógicas, o estudo
dos gémeos monozigóticos e a análise do ADN.
Para construir uma árvore genealógica, temos que fazer a história do indivíduo através
dos pais, dos avós, dos bisavôs, etc. Pela análise desta história, pode-se investigar como
é que determinada característica é transmitida ao longo de gerações.

O estudo dos gémeos monozigóticos é um método que fornece dados muito valiosos aos
investigadores. Gémeos monozigóticos ou verdadeiros são o resultado da divisão do
zigoto em duas células que se separam e que geram dois indivíduos com a mesma
constituição genética. Gémeos dizigóticos são como o próprio nome indica, resultado
da fecundação de dois óvulos.

Qualquer diferença entre gémeos verdadeiros é inteiramente devido ao meio.


Actualmente recorre-se a outros métodos, concretamente a técnicas modernas de
biologia molecular que permitem proceder a uma análise precisa do ADN.

Hereditariedade específica e individual


É a hereditariedade específica que é responsável pela transmissão dos caracteres que
distinguem uma espécie das outras e que assegura, por exemplo, que um casal de gatos
gera um gato, e que um homem e uma mulher geram um ser humano, que as abelhas
constroem a colmeia, as cegonhas migram… estes padrões fixos são determinados pela
hereditariedade específica. Contudo, dentro de uma espécie existem variações de
hereditariedade que tornam um indivíduo único.
Cada ser humano é distinto de todos os outros. Estas diferenças permitem-nos falar de
uma hereditariedade individual.
Podemos, pois, afirmar que cada um de nós tem a sua hereditariedade específica e a sua
hereditariedade individual.
Hereditariedade e meio
É grande a polémica em torno de saber qual dos factores – hereditariedade/ meio é mais
importante na determinação das capacidades e comportamentos de um indivíduo.
Como já vimos, nós herdámos um conjunto de genes provenientes dos nossos
progenitores. Genótipo – património hereditário com que fomos dotados. Contudo as
características de um indivíduo não dependem apenas do código genético que recebem
aquando da sua concepção – ele sofre a influência do meio ambiente.
Fenótipo – é o resultado da acção concertada entre os dois factores:
 A Informação genética;
 A influência do meio

Desde o início da vida, o meio começa a actuar sobre o novo ser – daí a importância do
meio ultra – uterino, onde a criança se vai desenvolver ao longo de nove meses.
Dado que o sangue do feto é o mesmo da mãe, o regime alimentar, e a saúde materno
influenciam o desenvolvimento do corpo e do cérebro do bebé. A subnutrição grave
pode ter como consequência um retardamento no desenvolvimento cerebral, e, portanto,
futuras limitações mentais.

Certas doenças da mãe – diabetes, sífilis, toxoplasmose, rubéola, sida, etc. –


podem determinar perturbações físicas e ou mentais na criança. Os bebés de mães
toxicodependentes ( em heroína e cocaína, por exemplo) podem tornar-se dependentes
da droga ainda no útero materno, apresentando, ao nascer, sintomas de carência:
irritabilidade, inquietação, vómitos, convulsões, insónias. A ingestão de álcool em
quantidade durante a gravidez, pode provocar o que se designa por sindroma alcoólica
fetal: problemas de coordenação motora, distorções nas articulações, anomalias faciais,
inteligência subnormal...

Sabe-se hoje que, quando a mãe vive uma crise emocional grave, os movimentos do feto
aumentam. Estudos feitos demonstraram que bebés cujas mães viveram situações de
grande stress durante a gravidez, apresentam grande instabilidade e excesso de choro,
durante a primeira infância.

Uma boa alimentação, nos primeiros anos de vida, é fundamental para a maturação,
desenvolvimento e capacidade intelectual da criança.
O desenvolvimento sensório - motor, essencial para o crescimento de todas as
capacidades humanas, depende da estimulação sensorial e afectiva.
Estudos feitos demonstraram que crianças pouco acompanhadas e estimuladas durante
os primeiros tempos de vida, possuem frequentemente menos habilidades motoras,
dificuldade em relacionar-se com pessoas, passividade, défices no desenvolvimento
intelectual.

Hereditariedade e inteligência

Uma das questões que têm provocado mais discussões e debate é a de saber até que
ponto a inteligência dos indivíduos é determinada pela hereditariedade ou pelo meio.
Francisco Galton teria sido o primeiro a investigar o assunto da hereditariedade e
inteligência com alguma intencionalidade e método. Em 1869, desenvolveu um estudo
para conhecer até que ponto o factor genético determinava a inteligência.

Constatou que determinadas famílias, como a sua, reuniam pessoas cujo trabalho
reflectiria um alto nível de inteligência. Concluiu que os parentes mais próximos dos
indivíduos ilustres tinham tendência a ser mais bem sucedidos do que os demais. Realça
o factor hereditariedade. Este trabalho deu início a uma série de investigações sobre o
assunto.

Na década de 20, Terman desenvolveu um estudo, envolvendo centenas de crianças, que


procurava estabelecer uma correlação entre o quociente de inteligência ( QI ) e o
sucesso económico dos pais.
Concluiu que existe uma correlação entre o QI e o nível socioeconómico. Este estudo
chama a atenção para a influência que um meio estimulante que responda às
necessidades cognitivas tem no desenvolvimento intelectual.

Pelas análises feitas podemos concluir que o QI está relacionado com factores
hereditários e ambientais. Podemos concluir que a componente genética é um factor
muito importante no desenvolvimento e capacidade intelectual. Contudo, os factores do
meio desempenham um papel decisivo na determinação do modo como a componente
genética se expressa.
A hereditariedade e o meio não são realidades independentes. São dois pólos de uma
realidade – o indivíduo – que interagem determinando o desenvolvimento orgânico,
psicomotor, a linguagem, a inteligência, a afectividade…
Capítulo 5– MOTIVAÇÃO.
Se reflectirmos sobre alguns dos nossos comportamentos, será mais fácil
compreender o conceito de motivação: comemos, bebemos, dormimos, procuramos a
companhia dos outros e o seu afecto. No local de trabalho, nas aulas ou no grupo dos
amigos, esperamos que nos apreciem e que as nossas opiniões e comportamentos sejam
aprovados e reconhecidos.
Estes e outros comportamentos têm origem numa força interna que predispõe as
pessoas a desenvolver uma acção com vista a um objectivo.

5.1 - Conceito de Motivação


Motivação do latim motu, que significa “movimento”  aspecto dinâmico do
comportamento dirigido a um objectivo, ou seja, um conjunto de forças que orientam o
comportamento em direcção a um objectivo. A motivação será um conjunto de forças
ou processos internos que iniciam, sustentam e orientam as actividades.

Ciclo Motivacional

O motivo é o estado do organismo que leva a energia corporal a ser mobilizada e


dirigida a determinados elementos do meio, ou seja, o motivo é a razão que leva o
organismo a agir. Ao falarmos do motivo, teremos de referir as suas componentes: a
necessidade e o impulso.

Componentes da Motivação:
 Necessidade  estado de falta fisiológica ou psicológica
 Impulso  com origem na necessidade, este é o processo que leva a pessoa à
acção, ou seja, aos comportamentos que permitem atingir o objectivo. O impulso
acaba quando o objectivo é alcançado, ou seja, quando a necessidade é satisfeita,
o impulso é reduzido, embora passado algum tempo, o ciclo recomeça.
Esquema do Ciclo Motivacional

Necessidade Impulso Respostas instrumentais

Meta

5.2 -Tipos de Motivação:


O comportamento motivado encontra-se ligado ao funcionamento do sistema
endócrino e a diferentes estruturas do sistema nervoso. Há várias propostas de
classificação das motivações. Optamos por distinguir: motivações fisiológicas,
combinadas, sociais e cognitivas.

 As motivações Fisiológicas  as motivações fisiológicas são também


designadas por primárias, inatas, básicas ou biogénicas do grego bios, que
significa “vida”, e géneses, que significa “origem”, são inerentes à estrutura
biológica do organismo. Visam garantir o equilíbrio orgânico, assegurando a sua
sobrevivência. Walter Cannon, fisiólogo da década de 30, desenvolve o conceito
de homeostasia do grego hómoios, que significa “semelhante, igual” e, stasis que
significa “estado” designa o conjunto de mecanismos reguladores que visam
manter o estado de equilíbrio dos seres vivos. Este é um processo dinâmico de
auto-regulação que assegura a sobrevivência do organismo. Podemos referir de
entre os impulsos homeostáticos: a sede, o sono, a respiração, a pressão do
sangue, a fome, a temperatura do corpo.

 Combinadas  este termo é geralmente usado para designar o tipo de


motivações determinadas pelo efeito combinado de mecanismos fisiológicos,
não aprendidos, e de características resultantes da aprendizagem. Ex:
comportamento sexual e o comportamento maternal, ou seja, a aprendizagem
marca decisivamente a sexualidade humana e o comportamento maternal, pois
estes são geralmente integrados neste tipo de motivação dado que resultariam de
determinados padrões sociais e culturais. Os dados da antropologia e da história
mostram-nos que o comportamento sexual tem variado ao longo do tempo e nas
diferentes culturas: é o contexto sociocultural que, através das leis, costumes e
normas morais, controla a manifestação do impulso sexual. Daí que em
determinadas culturas e/ ou épocas se aceite ou interdite a masturbação, o
relacionamento sexual antes do casamento, o adultério, a homossexualidade, a
poliandria, a poligamia… Além disso, no interior de uma cultura os
comportamentos sexuais podem variar em diferentes grupos sociais. “Estes
códigos culturais modificam-se, entretanto, com o tempo. O que era proibido
ontem é hoje aceite e mesmo encorajado. Assim, as atitudes mudam sem cessar
e, com elas, o comportamento…”Godefroid, op.cit, p.336
O comportamento maternal está marcado por factores sociais e culturais. A
motivação para ter filhos, o número de filhos que se tem está muito marcada por
condicionantes socioeconómicos e culturais.

 Sociais  Os comportamentos como conviver, competir, alcançar o poder, ter


sucesso, entre outros, são comummente designados por motivações sociais, pois
não têm na sua base necessidades fisiológicas, isto é, o termo motivações sociais
designa os motivos adquiridos no processo de socialização, pois manifestam-se
de formas diferentes de acordo com os contextos sociais e culturais em que são
aprendidos. Ex: afiliação  corresponde ao desejo de ser aceite pelos outros e
manifesta-se na necessidade de as pessoas procurarem desenvolver actividades
com os outros; realização/sucesso  a motivação de realização deve-se ao
desejo de se ser bem sucedido em diversas situações desafiantes. A necessidade
de poder/ prestígio é uma necessidade social que se manifesta na procura de
posições que permitam influenciar os outros, estando relacionada com a
necessidade de prestígio. Ex: pessoas em que este motivação se manifesta em
nível elevado procurando lugares de chefia, postos-chave nas organizações,
associações e empresas. “Pessoas que têm este perfil motivacional apresentam
igualmente um risco elevado de desenvolver doenças relacionadas com o stress,
sobretudo quando se trata de um stress relativo à inibição ou à frustração da
sua necessidade de poder” Fodor 1984, 1985; McClelland e Jemmont, 1980).
As motivações sociais são também designadas por motivações aprendidas,
adquiridas, secundárias ou sociogénicas.
São designadas Motivações Cognitivas as necessidades de informação e de
conhecimento que muitos autores consideram ter como base a actividade exploratória e
a curiosidade. A necessidade de conhecer cada vez mais e melhor a Natureza, o sentido
da existência, a vida em sociedade, o sentido do próprio Universo constituiu o factor
mais significativo da evolução humana. Godefroid aborda o alcance destas
necessidades. “ Através dos contactos com os outros e com os diferentes meios, a
criança, e, mais tarde, o adulto em que se transforma, ouve, olha, lê, procurando
constantemente compreender ou explicar a realidade, primeiro no plano concreto e
depois, progressivamente, no plano abstracto das ideias e dos princípios.”

5.3 - FRUSTRAÇÃO E CONFLITO

Frustração do latim frustratione, que significa”decepção”  define-se como


sendo o sentimento produzido por uma contrariedade. Assim sendo, as frustrações
fazem parte da nossa vida quotidiana. Em psicologia, o termo frustração designa o
bloqueio do comportamento motivado, isto é, um obstáculo impede que o desejo, o
objecto, seja alcançado. As motivações variam de indivíduo para indivíduo, logo não se
pode generalizar as situações que dão origem às frustrações.

A tolerância à frustração, isto é, a capacidade de suportar a frustração, depende de


vários factores: idade, nível de aprendizagem e se o indivíduo sofre ou não de
frustrações repetidas. As reacções à frustração podem ocorrer imediatamente a seguir à
frustração ou mais tarde. Os tipos de reacção divergem muito, podendo ir da agressão
(directa, isto é, quando o indivíduo agride a causa da frustração, ou deslocada, quando o
indivíduo desloca a agressão para elementos não responsáveis pela frustração) à apatia
(indiferença, inactividade). Apatia do grego apátheia, que significa “ausência da
paixão”.

Conflito do latim conflictu, que significa “choque, embate”  define-se conflito


como sendo a oposição de forças com intensidade semelhante. Assim, o conflito surge
quando os motivos são incompatíveis: Kurt Lewin diz que o comportamento do
indivíduo resulta da interacção entre o sujeito e o meio que proporciona os elementos
para satisfazer as suas necessidades e considera três formas básicas de conflito em que
estão presentes valências positivas e ou negativas do latim valentia, que significa “
vigor”

1. Conflito aproximação/aproximação que podem ser designado:


atracção/atracção; apetência/ apetência; positivo/ positivo  neste tipo de
conflito, o indivíduo depara-se com duas ou mais forças positivas, pois está
entre dois objectos ou actividades desejadas. O conflito surge porque só é
possível escolher uma única resposta. Por exemplo escolher um carro ou uma
viagem aos EUA. Um outro exemplo, escolher entre ir a uma festa ou a
universidade.
Assim, é frequente surgir angústia por não se ter escolhido a hipótese afastada.

2. Conflito afastamento/afastamento pode também ser designada por: evitamento


/ evitamento; rejeição/ rejeição; negativo/ negativo  neste tipo de conflito, o
indivíduo depara-se com duas alternativas desagradáveis, logo hesita sobre que
valência negativa escolher e criará no indivíduo insatisfação, levando muitas
vezes os comportamentos de fuga. Por exemplo, fazer uma tarefa desagradável
ou ser punida.

3. Conflito aproximação/afastamento  neste conflito, o indivíduo encontra-se


numa situação positiva e negativa ao mesmo tempo. Exemplo: desejar e recear
acariciar um cão.

4. John Dollard e Neal Miller acrescentaram um 4º tipo de conflito que é o mais


complexo: o conflito aproximação/ afastamento duplo. Neste caso, a situação
ou objecto tem ao mesmo tempo aspectos agradáveis e desagradáveis; qualquer
que seja a opção há aspectos positivos e negativos.

Os conflitos têm uma origem consciente e inconsciente, os inconscientes serão


analisados nas teorias da motivação segundo S. Freud.

A explicação do comportamento motivado tem sido objecto de várias


interpretações ao longo do tempo. Os behavioristas, ao contrário dos que defendem a
teoria do instinto pelas teorias homeostáticas, procuram enquadrar a motivação na
fórmula E  R: o indivíduo reage aos estímulos com respostas.

5.4 TEORIAS DA MOTIVAÇÃO

5.4.1.TEORIA HUMANISTA DE MASLOW E A HIERARQUIA DE


NECESSIDADES:

Segundo Abraham Harold Maslow, as necessidades humanas estariam


organizadas numa hierarquia, representadas numa pirâmide, em que na base estariam as
necessidades fisiológicas e as de segurança e, no cume, as necessidades mais elevadas,
como as de auto-realização. Após satisfeitas as necessidades básicas, o indivíduo
ascenderia a outras mais complexas e, se no decurso da sua existência não houvesse
obstáculos, progrediria até ao topo. Esta pirâmide ficaria designada como “Pirâmide de
Maslow”.

1 – Necessidades Fisiológicas:

São consideradas necessidades fisiológicas, a fome, sede, sono, evitamento da dor,


desejo sexual. É a satisfação destas necessidades que domina o comportamento do ser
humano. Assim, as necessidades de segurança só surgem se estas estiverem satisfeitas.
Exemplo: uma pessoa esfomeada arrisca a vida para conseguir alimento.

2 – Necessidades de Segurança:
Estas manifestam-se na procura de protecção em relação ao meio (abrigo e vestuário),
assim como na busca de um ambiente estável e ordenado. Por exemplo, o perigo físico
provoca insegurança e ansiedade dominando o comportamento do indivíduo

3 – Necessidades de Afecto e Pertença:

São manifestadas através do desejo de associação, participação e aceitação por parte dos
outros. Nos grupos a que pertence, o indivíduo procura o afecto e aprovação,

4 – Necessidades de Estima:

Segundo Maslow, estas assumem duas expressões: desejo de realização e competência e


o estatuto e desejo de reconhecimento, ou seja, as pessoas desejam ser competentes,
desenvolver actividades com sucesso e ser reconhecidas através do seu mérito pessoal.
A satisfação da necessidade de estima, desenvolve no indivíduo sentimentos de auto-
confiança e a frustração gera sentimentos de inferioridade.

5 – Necessidades de Auto-Realização:

Maslow considera que esta necessidade seria inerente aos seres humanos. A sua
concretização varia de pessoa para pessoa. Por exemplo, um indivíduo pode auto -
realizar-se sendo um atleta de alta competição, outro através das artes plásticas, da
música, da investigação científica, da intervenção social, etc.
Se no decorrer do percurso que vai da base ao topo, todas as necessidades estiverem
satisfeitas, a necessidade de auto-realização manifestar-se-á, ou seja, a necessidade de
realização do potencial de cada um, a concretização das capacidades pessoais será
manifestada.
As pessoas que procuram a auto-realização apresentam algumas características
comuns de personalidade: são independentes, criadoras, resistem ao conformismo,
aceitam-se a si próprias e aos outros.
Maslow considerava que vários indivíduos na nossa sociedade não realizavam a sua
necessidade de auto-realização, daí a apatia e alienação.
Maslow considera que os comportamentos agressivos só aparecem quando as
necessidades básicas e as de afecto são frustradas.

 5.4.2.TEORIA PSICANALÍTICA

O princípio básico da teoria psicanalítica da motivação é considerar que o


comportamento humano é fundamentalmente motivado por razões de carácter
inconsciente e orientado por pulsões.

Pulsão  conceito psicanalítico que diz respeito ao processo dinâmico que orienta e
pressiona o organismo para determinados comportamentos, atitudes e afectos; ou seja
impulso energético que encontra a sua origem numa tensão orgânica. A pulsão visa
reduzir a tensão (no sentido de manutenção do equilíbrio homeostático) proveniente de
uma excitação corporal.

Comportamento  é orientado pela tendência do organismo em reduzir a tensão. O


nosso aparelho psíquico tende a manter um nível de excitação baixo e constante: obtém-
se prazer pela redução da excitação e desprazer pelo aumento da excitação.

Freud considera que as pulsões têm uma origem ( ou fonte), finalidade ( ou alvo), uma
força ( ou energia) e um objecto tendente para o reequilíbrio homeostático.

Fonte de pulsão  a pulsão pode partir de várias zonas do corpo. É um processo


somático localizado num órgão ou numa parte do corpo cuja excitação é representada
pela pulsão.

Alvo da pulsão  o fim da pulsão é sempre a satisfação que é atingida com a supressão
ou redução do estado de excitação orgânica: a finalidade da pulsão é a satisfação que
põe fim à excitação. Os meios que permitem atingir o fim da pulsão são diversos.

Força da pulsão  a pulsão tem uma energia, um ímpeto. Podemos dizer que a
característica essencial da pulsão é o seu carácter dinâmico.
Objecto da pulsão  é o meio que permite a satisfação da pulsão. O objecto da pulsão
é muito variável: pode ser estranho ao organismo ou a uma parte do próprio corpo.

A Libido
Libido  energia derivada da pulsão sexual

Narcísica  é o próprio ego que reduz ou suprime a excitação

Libido
Objectal  objecto exterior

Investimento  este termo é utilizado para designar a quantidade de libido


ligada a um objecto que permite a satisfação de uma necessidade.

Recalcamento  é um dos destinos das pulsões. Inerente à concepção


psicanalítica da motivação, está a noção de conflito que opõe a estrutura biológica do
sujeito à sociedade: o conflito tem origem nos obstáculos, resistências, que encontra
realização das pulsões.

Mecanismos de Defesa do Ego:

Mecanismos de defesa do ego  estratégias (acções, atitudes e reacções) inconscientes


que a pessoa usa para tentar reduzir a tensão e ansiedade, fruto dos conflitos entre o Id,
o ego e o superego. É útil lembrar que a pessoa adquire tais mecanismos já em tenra
idade, levando consigo ao longo da sua formação psicossocial.
“ Estes mecanismos de defesa visam efectivamente procurar satisfações para a pessoa,
por vezes reais, mas a maioria das vezes imaginárias ou afastadas da realidade ou
ainda por um não reconhecimento das pulsões geradoras da ansiedade”. Godefroid,
op. Cit., p.594.
São vários os mecanismos de defesa que se reconhecem existir no indivíduo. Entre
eles realçamos o recalcamento, a regressão, a intelectualização, a projecção, o
deslocamento, a formação reactiva e a sublimação.

 Recalcamento  pelo recalcamento, o sujeito envia para o id as pulsões,


desejos e sentimentos que não pode admitir no seu ego. Os conteúdos
recalcados, apesar de inconscientes, continuam actuantes e tendem a reaparecer
disfarçados (sonhos, lapsos de linguagem, actos falhados). Este mecanismo de
defesa procura excluir do campo da percepção consciente os desejos, impulsos,
pensamentos e tendências que sejam incompatíveis com as exigências e
motivações conscientes.

 Regressão  pela regressão, o sujeito adopta modos de pensar, atitudes e


comportamentos característicos de uma fase de desenvolvimento anterior. Frente
a uma frustração, o indivíduo regride, procurando a protecção de épocas
passadas. A pessoa pode, por exemplo, pensar, sentir e comportar-se
parcialmente como adulto, mas ao mesmo tempo, manifestar necessidades
infantis.
Uma criança que já tem seus hábitos higiénicos normais pode voltar a
urinar na cama, após o nascimento do irmão, que aparentemente
roubou-lhe a atenção materna. Há casos em que maridos ficam
ressentidos com o nascimento do filho, achando que a esposa o
abandonou, que não lhe dá a mesma atenção, perdeu para a criança…

 Intelectualização  pela intelectualização, o sujeito justifica racionalmente o


seu comportamento retirando assim, os aspectos emocionais de uma situação
geradora de angústia e stress.

 Projecção  pela projecção, o sujeito atribui, a outros, desejos, ideias,


características que não consegue admitir em si próprio. A pessoa permanece
cega a importantes impulsos da sua personalidade, distorce a imagem que ela faz
do mundo exterior, critica severamente nos outros os pontos fracos do seu
próprio carácter.

 Deslocamento  pelo deslocamento, o sujeito transfere pulsões e emoções do


seu natural, para um objecto substitutivo, mudando assim o objecto que satisfaz
a pulsão.

 Formação Reactiva  o sujeito “resolve” o conflito entre valores e tendências


consideradas inaceitáveis, apresentando comportamentos opostos às pulsões.

 Sublimação  em psicanálise sublimar é transformar as energias negativas em


energia positiva. O sujeito substitui o fim ou o objecto das pulsões, de modo a
que estas se possam manifestar em modalidades socialmente aceites. Por
exemplo, através da sublimação, as necessidades instintivas e impulsos
inaceitáveis são transformados e direccionados a canais vocacionais, como na
arte, no desporto, na literatura, na religião ou actividades outras que promovam
o desenvolvimento individual ou colectivo.

 5.4.3. TEORIA COGNITIVA E RELACIONAL DE JOSEPH NUTTIN

Psicólogo Belga, nascido em 1909 e falecido em 1988, que desenvolveu o seu


trabalho, a partir de 1932, no Laboratório de Psicologia Experimental de Lovaina.
Leccionou, desde 1946, na Universidade de Lovaina depois de se ter doutorado em
1942.
Desenvolveu uma teoria de motivação que se demarca das concepções instintivas e
impessoais dominantes. Defendeu uma teoria cognitiva e relacional de motivação
segundo a qual as necessidades são personalizadas, isto é, as motivações relacionam-se
com cada pessoa, tendo em conta as suas representações, os seus projectos de vida. De
entre as suas obras pode-se destacar Theorie de la motivation humaine e La structure de
la personalité
Joseph Nuttin apresenta uma teoria cognitiva e relacional. Segundo este autor, o
comportamento não nasce de uma carência ou desequilíbrio homeostático, mas de uma
“persistência” da tensão, de um “dinamismo temporal” que leva o indivíduo ao
desenvolvimento e ao “progresso”.

Integrando o passado de forma personalizada e intencional, o sujeito pensa o


futuro com aspirações, projectos, construindo planos de acção. Assim, a acção dirige-se
a uma categoria de objectos na qual o sujeito pode satisfazer as suas necessidades,
introduzindo assim a possibilidade de opção. Por exemplo, se se tem fome e vontade de
um gelado, pode-se mudar, optando por uma bebida fresca.

Em oposição com as visões instintivas e impessoais da motivação humana,


Nuttin apresenta as necessidades, os motivos e as finalidades da acção como
personalizadas, compreendidas em função da pessoa, das suas mentalizações e dos seus
projectos de vida.

7. EMOÇÃO

7.1 Introdução

Tradicionalmente as emoções foram vistas como algo indigno, impróprio e até


mesmo desprezível. Não podiam ser objecto de estudo científico. O homem bem-
educado era aquele que controlava (eliminava) suas emoções. Assim, desde cedo, fomos
“educados “ a disfarçar e não expressar nossas emoções. Esta posição levou o homem a
um estado de desequilíbrio. Certamente, o comportamento humano deve ser guiado pela
razão e pela emoção em conjunto. Ênfase em qualquer um dos dois aspectos gera
deformações na personalidade.

7.2 Definição:

Segundo o Dicionário de Psicologia de Peter Sttraton e Nicky Hayes, “emoção é a


experiência de sentimentos subjectivos ( ilusórias) que apresentam valor positivo
ou negativo para o indivíduo. Além desta afirmação, a definição deve depender da
teoria particular da emoção que a sustenta. A maioria das teorias actuais considera as
emoções como uma combinação da resposta fisiológica mais a avaliação cognitiva da
situação. Hoje é menos consagrada a ideia de que as emoções constituem a fonte das
acções e, na verdade, o termo guarda somente uma remota ligação com qualquer ideia
de impulso, cuja origem para o inglês “to excite” vem da palavra francesa “ emovouir”.

Algumas definições reservam, o termo emoção para experiências muito intensas e muito
breves. É, sem dúvida, útil distinguir emoções de estados, como fome, desejo sexual e
frustração, que podem dar origem a emoções, bem como de comportamentos”, tal como
agressão, que podem indicar a presença de uma emoção, mas que em sim mesmo não
são emoções. Inferimos a sua existência através do comportamento. Emoção significa,
do ponto de vista etimológico, “movimento para fora” e descreve os efeitos visíveis
das moções (abalos) internas (sobretudo tornados visíveis na nossa musculatura); numa
definição mais geral, podemos dizer que é um impulso que move um organismo para a
acção, e que se diferencia do sentimento porque a emoção é um estado psicofisiológico
ao passo que o sentimento é a “emoção filtrada” através dos centros cognitivos do
cérebro (especificamente o lobo frontal), produzindo outras mudanças em acréscimo à
mudança psicofisiológica.

Podemos assim dizer que a emoção não é um tipo especial de sentimento: a emoção é
como que o próprio sentimento a fluir livremente, que nos leva, por exemplo, a usufruir
e ter prazer nas nossas actividades. A maioria dos estudiosos admite dois aspectos em
toda emoção: a experiência individual interna e a expressão comportamental,
externa. O estado de experiência ou sentimento individual, aspecto interno, é apenas
objecto de análise através dos relatos verbais, estimativas e julgamentos daquele que
experimenta a emoção.

O aspecto expressivo ou comportamental, constitui a parte externa, e se manifesta


através de uma série complexa de respostas motoras, respostas do sistema nervoso
autónomo e respostas glandulares. É muito difícil identificar determinada emoção, a
partir da exclusiva observação dos sinais externos tais como expressão facial, postura
corporal e respostas fisiológicas.

7.3. Indicadores de estados de emoções

Há três indicadores que são utilizados para identificar as emoções:


1- Relatos verbais. Como já vimos é um tanto difícil identificar a emoção pela simples
observação das respostas externas. Assim, nada melhor que solicitar que a pessoa fale
ou escreva a respeito do que sente.

2- Observação do comportamento. Embora uma mesma emoção possa ser


acompanhada de respostas totalmente distintas e diferentes emoções possam ser
expressas através de uma única resposta corporal, costuma-se observar os gestos, a
postura corporal, a expressão facial e outros movimentos para identificar as emoções.

3. Indicadores fisiológicos. Várias alterações fisiológicas e orgânicas ocorrem durante


os estados de emoção. As principais são:

 A condutividade eléctrica da pele que aumenta com o grau de excitação


( agitação) emocional do indivíduo.
 As mudanças na pressão, volume e composição do sangue e o ritmo cardíaco;
 As alterações na temperatura e transpiração cutâneas;
 A mudança nas dimensões da pupila do olho;
 A secreção alterada das glândulas
 A tensão e o tremor musculares.

7.4. Dimensão afectiva/ emocional

A dimensão afectiva é, na estrutura da Pessoa, imediatamente interna à dimensão


física, que comunica com esta de forma íntima. É a dimensão dotada das emoções, que
funciona para o nosso elemento afectivo como os sentidos para a nossa dimensão física:
são instrumentos que lhe permitem buscar o bem que lhe é próprio, e que são as
sensações agradáveis (o bem-estar) e a calma.

Afecto - sensação subjacente ( o que está por detrás) e imediata que o indivíduo
experimenta em relação a um objecto, situação ou pessoa e que orienta o seu
comportamento. Unidade de que é constituída a afectividade. Para a psicanálise é a
expressão qualitativa da quantidade de energia pulsional e das suas variações. Por detrás
do afecto está uma quantidade determinada de energia.

Tal como os sentidos não possuem um valor absoluto por serem falíveis,
também as emoções têm um valor muito relativo, sendo como que indicadores do nosso
estado afectivo e emocional e não tendo, sobretudo, qualquer valor moral; um
sentimento é como que um sinal de alerta, uma chamada de atenção, um estímulo,
perante o qual o homem enquanto pessoa una permanece livre. Por exemplo sinto ódio.
Depende de mim a expressão desse ódio ou não porque é controlável.

A afectividade enraíza-se no corpo desejante, que implica o corpo biológico, mas


supera-o numa expressão específica. Mas a linguagem expressiva da afectividade é
indissociável da sua origem no corpo vivido; quase se podia dizer que o homem é
orientado de forma constitutiva para o encontro com “o outro” em virtude da sua
natureza afectiva. A afectividade não é algo palpável. O expressar-se da afectividade é
identificação com a sua origem biológica

As nossas emoções e sentimentos são muito importantes, porque nos ajudam a


conhecermo-nos a nós mesmos e a relacionarmo-nos com profundidade e intimidade
com as outras pessoas. A palavra sentimento é bastante vaga ( não tem definição
especifica) e pode designar qualquer estado afectivo em geral: prazer, dor, alegria,
tristeza, esperança, angústia, amor, ódio, emoção e paixão. Deste modo, podemos
definir os sentimentos como estados afectivos estáveis e, agradáveis ou desagradáveis
de intensidade moderados, provocados por uma representação.

Quase todos os problemas de natureza psicológica têm a sua origem em algum tipo
de distorção ou negação das nossas próprias emoções e sentimentos. Necessitamos de
emoções para:

1. Reagir com rapidez perante acontecimentos inesperados


2. Tomar decisões com prontidão e segurança
3. Comunicar de forma não verbal com os outros.

Desta maneira o cérebro emocional protege-nos de situações perigosas e situações


limite ao reconhecê-las com maior rapidez e facilidade e colocando em acção
mecanismos de defesa pré - programados, o que facilita a tomada de decisões
racionais

7.5. Tipos de emoções

Para alguns autores existem seis emoções ditas primárias ou universais: a


alegria, a tristeza, o medo, a cólera (raiva, ira), a surpresa, a aversão, (outros Autores
falam do afecto).

A simbiose entre todas estas componentes faz surgir as combinações, dando


origem às emoções secundárias ou sociais: a vergonha, o ciúme, a culpa, o orgulho.

Cada tipo de emoção que vivenciamos nos predispõe para uma acção imediata,
sinalizando uma direcção que ao longo da vida provou ser a mais acertada à medida
que, ao longo da vida, situações desse tipo se foram repetindo. Cada emoção tem um
comportamento muscular e atitudes que as distinguem. Vejamos:

Raiva: leva o indivíduo a atitudes violentas; o movimento muscular é de agressão;


todas as vezes que houver ameaça à sua vida ou condição de vida, a raiva apresenta-se
como defesa natural;

Medo: o corpo fica pronto para agir, em alerta permanente; o movimento muscular é
de contracção. O medo é um impulso geralmente desqualificado e comummente
referido como um impulso negativo, uma falha grave ou defeito nas pessoas; mas ele
ensina o respeito pelo limite, e só precisa de ser eliminado ou superado quando é ou se
torna patológico;

Afecto: os sentimentos de afeição e satisfação sexual provocam um estado geral de


calma e satisfação, facilitando a cooperação em vez de fugir ou defender-se; induz-nos a
uma aproximação física tão grande que permite ou traz protecção e reprodução.

Alegria: inibe o aparecimento de sentimentos negativos e favorece o aumento da


energia existente; apenas ocorre uma tranquilidade que faz com que o corpo se recupere
rapidamente do estímulo causado por emoções perturbadoras; é salutar e permite
desfrutar a vida com prazer e aumenta a auto estima;
Tristeza: surge aquando de uma grande perda ou decepção significativa e acarreta uma
perda de energia e de entusiasmo pelas actividades da vida, em particular por diversões
e prazeres; quando a tristeza é profunda aproxima-se de depressão; o movimento
muscular é de retraimento, que leva à diminuição dos movimentos.

Muitas pessoas perguntam: “O que fazer com as minhas emoções?” Para


começar, a melhor coisa que pode fazer é identificar a emoção primária que está a ter e
senti-la, tomando atenção ao que está a sentir no seu corpo, sem o negar ou tentar
esconder o que experimenta de si mesmo. Para conseguir fazer isso é uma boa ajuda
manter-se consciente das sensações corporais que está a ter e também manter-se
centrado, de forma a não deixar que a emoção ocupe todo o seu ser e tome conta da sua
liberdade.

Sintonizar com as sensações que está a ter no corpo, pode ajudar a identificar o que está
a sentir a um nível mais profundo e leva a assumir responsabilidade sobre aquilo que
está a sentir. O ideal seria sermos nós portadores das emoções e não deixarmo - nos
conduzir por elas.

O primeiro passo na gestão e integração das nossas próprias emoções e sentimentos é


aceitá-las sem juízos de valor nem de culpabilidades. Ao aceitar as suas emoções e
sentimentos está também a aceitar uma parte de si, cheia de força de viver, cheia de
sabedoria sobre si próprio e sobre a qualidade das relações que estabelece com os
outros, em especial de quem mais ama.

Lidar com as próprias emoções é uma escola que dura a vida toda; mas há patamares
básicos de exigência que devem ser vencidos quanto mais cedo melhor. Aprender a lidar
com as emoções constitui aquilo a que hodiernamente se chama “inteligência
emocional”.

Conhecer as próprias emoções (auto consciência), reconhecer um sentimento quando


ele ocorre é a pedra fundamental da inteligência emocional, pois a capacidade de
controlar sentimentos a cada momento é crucial para o discernimento emocional e a
auto compreensão. A incapacidade de observar os nossos verdadeiros sentimentos
deixa-nos à sua mercê. Quanto maior certeza sobre os próprios sentimentos melhor
condução da própria vida com um sentido mais preciso de como se sentir em relação a
decisões pessoais.

Reconhecer emoções nos outros (empatia) é a “aptidão pessoal” fundamental; as


pessoas empáticas estão mais sintonizadas com os sinais sociais mais subtis, que
indicam o que os outros precisam ou o que querem, o que as torna melhores em
profissões assistenciais, ensino, vendas e administração, porque a empatia gera
altruísmo. Lidar com relacionamentos é, em grande parte, o conjunto das aptidões de
lidar com as emoções dos outros, que reforçam a popularidade, a liderança e a
eficiência interpessoal. As pessoas excelentes nessas aptidões dão-se bem em qualquer
coisa que dependa de interagir com os outros; são estrelas sociais.

São as emoções inatas ou adquiridas?

O comportamento humano é orientado, basicamente, para a busca do prazer ou para o


afastamento da dor. Nossas emoções e sentimentos fazem com que busquemos algo
satisfatório, ou então fazem com que evitemos a insatisfação. Neste caso, temos dois
tipos de emoção: aquelas que nos impulsionam e aquelas que nos retraem.

A psicologia tradicional nos ensina que nós trazemos ao nascer, algumas emoções
básicas e autênticas: o medo, a raiva, a tristeza, o amor e a alegria. Todas elas têm
uma função importante em nossas vidas. Mas infelizmente a maioria dos seres humanos
ainda tem dificuldade de canalizar estas emoções de forma inteligente.

A raiva, por exemplo, é um estado que resulta de uma quantidade excessiva de


adrenalina na corrente sanguínea. De acordo a psicóloga Susan Andrews, autora do livro
“Stress a Seu Favor”, quanto mais o indivíduo repete este estado, e reprime-o, mais
propenso ficará a ter hipertensão, insónia e enfraquecimento do sistema imunológico. Já
o medo é uma resposta psicofisiológica a situações ameaçadoras, e quanto mais se
repete este estado, mais o harmónio adre-no-corti-co-tró-fico será produzido no
organismo, preparando o indivíduo para “fuga”, ou “luta”. Todas estas informações
servem para entendermos que existem, de maneira geral, dois tipos de
sentimento/emoção: bom e ruim.

8.6. Desenvolvimento emocional


A emoção e sentimento são classificados como estados emocionais. Assim, o
desenvolvimento emocional começa no momento do nascimento e mesmo antes dele.
Watson, fundador do Behaviorismo, admitia três tipos básicos de reacções emocionais
inatas: medo, raiva e amor. As demais desenvolver-se – iam a partir destas básicas. A
posição de Watson tem sido contestada. É impossível negar a importância da
aprendizagem no desenvolvimento emocional.

O ser humano possui em seu cérebro uma estrutura chamada de sistema límbico,
responsável pelas emoções e sentimentos. O sistema límbico, quando recebe um
estímulo, seja ele visual, auditivo ou cinestésico, envia “mensagens” para o tálamo e
hipotálamo; integra o sistema endócrino ao sistema nervoso autónomo e actua como
responsável pela manifestação das emoções e sentimentos, - controle emocional que
automaticamente produz repostas, activando o sistema endócrino glandular.

A maioria dos impulsos sensitivos passa pelo tálamo). O sistema nervoso,


particularmente a sua divisão autónoma, e o sistema endócrino estão intimamente
ligados as emoções.

Podemos concluir que o desenvolvimento emocional depende da aprendizagem, mas


também do desenvolvimento e amadurecimento de células, tecidos, músculos e órgãos,
numa palavra, do organismo físico. As emoções podem ser adquiridas através da
compreensão. As emoções podem ser geradas através da recepção e interpretação de
informações, isto é, por processos racionais e lógicas. A razão nos faz compreender as
consequências de determinado evento, e isto nos leva a sentir emoções.

Na vida quotidiana verifica-se que o ambiente familiar pode ensinar as crianças a serem
afectuosas, amorosas ou frias, auto-suficientes e distantes. O ambiente familiar e social
ensinam a criança a ter auto confiança ou ser tímida, retraída e desconfiada. Quanto as
emoções, não se pode dar uma resposta definitiva e radical se elas são inatas ou
adquiridas. Há muito de inato e há muito aprendido. O chorar não é aprendido, mas o
quando, quanto e como chorar, são. A emoção pode servir de motivador do
comportamento e a motivação pode levar a comportamentos que despertam novas
emoções.

7.7. Sentimentos
Entende-se por sentimento a experiência subjectiva dos afectos e emoções. Estado
afectivo em que predomina a experiência interior e cognitiva. O seu carácter subjectivo
distingue-o da emoção. Quanto mais estados positivos escolhemos sentir, mais
acostumadas ficarão nossas células do corpo com este sentimento, e mais sede o
organismo terá pelas substâncias químicas que produzem o bem-estar e a energia.

Quanto mais estados negativos escolhemos sentir, mais ficaremos a viver uma vida de
forma "apagada". Quais são as emoções e sentimentos que você tem dado mais espaço
em seu organismo? Não quero afirmar que devemos ignorar as emoções e os
sentimentos negativos. Jamais. Devemos saber como interpretá-los e como usá-los de
forma apropriada, ou seja, depende de como percebemos o que sentimos. O medo, por
exemplo, pode ser classificado como um grande vilão diante de diversas situações da
nossa vida, ou podemos percebê-lo como uma protecção útil, uma atenção concentrada
para que nos adaptemos melhor a situação.

Quando você elabora formas diferentes de perceber seus sentimentos, com ricas
escolhas, você transforma aquela emoção ruim em algo bom, algo ruim se transforma
em algo útil.

7.8 Diferenças individuais e culturais.

Há grandes diferenças individuais e culturais na expressão de emoções. A maneira de


expressá-las e a quantidade e qualidade de emoções expressas dependem de
aprendizagem, experiência anterior e normas culturais. Entre nós, por exemplo, os
homens são incentivados a não chorar. Cada sociedade desenvolve maneiras que
considera adequadas para demonstrar determinada emoção. Mesmo o choro e o riso não
têm um significado universal, isto é, não significam sempre dor e alegria
respectivamente.
É claro que aprendemos em nossa cultura a viver os rituais emocionais com maior ou
menos intensidade emocional. Evidentemente que aqui surge um desafio não
desprezível: imaginemos que em nosso meio cultural certos rituais desaparecessem ou
fossem gradualmente sendo deixados de lado. Há grandes diferenças individuais, tanto
em animais como em seres humanos, quanto à actividade cerebral ligada às emoções.
Há indivíduos que com pequena estimulação respondem em níveis de excitação muito
emocional elevados, enquanto outros necessitam de fortes estímulos cerebrais para
reagir. Há também quem afirme que homens e mulheres exibem diferentes padrões
emocionais devido não só a factores sociais e aprendidos, mas também devido a factores
biológicos diferentes.

A palavra temperamento tem sido frequentemente usada para designar


justamente as diferenças individuais na expressão das emoções. Há pessoas que, por
temperamento, são mais sensíveis e emotivas. Admite-se que haja uma predisposição
emocional que perdura através dos anos e que pode ser activada a qualquer momento. A
expressão emocional varia com a idade. Nota-se diferenças nítidas na exteriorização das
emoções à medida que os anos passam. Parecem também que à medida que a idade
avança as pessoas tendem a expressar suas emoções mais através de verbalizações do
que de reacções físicas.

Em suma, as emoções humanas têm, em si mesmas, três dimensões: fisiológica ou


biológica, psicológica ou sentimental e cultural.
9 - APRENDIZAGEM E MEMÓRIA

9.1 Conceito de aprendizagem - Aprendizagem é a capacidade de


modificarmos os nossos conhecimentos, e consequentemente, os nossos
comportamentos, de uma forma relativamente estável e duradoura, de modo a nos
adaptarmos à sociedade em que vivemos e às exigências dos grupos em que estamos
inseridos. Como tal, é um fenómeno que ocorre durante toda a nossa vida, de diferentes
formas (dai que se fala em tipos de aprendizagem – por condicionamento clássico ou
operante; aprendizagem social e outras.. ), e influenciado e determinado por diversos
factores, entre os quais a idade, a inteligência e a motivação.

É a aprendizagem que determina o nosso pensamento, a nossa linguagem, as


motivações, as atitudes, a personalidade. Existem aprendizagens simples e
aprendizagens complexas que implicam uma actividade mental diversificada. Inerente
aos processos de aprendizagem está a memória. Só a memoria nos possibilita reter o que
aprendemos, para responder adequadamente à situação presente e proporcionar a
possibilidade de projectar o futuro.
9.2 Tipos de Aprendizagem:

Condicionamento Clássico – Pavlov, ao estudar a secreção salivar nos cães,


constatou que quando o experimentador apresentava a carne ao animal, ele salivava.
Neste caso, a salivação é uma resposta não condicionada (RNC), isto é, é inata, não
aprendida. O estímulo que a provocou designa-se por estímulo não condicionado ou
incondicionado (ENC).
Posteriormente, Pavlov fez acompanhar a carne (ENC) de um toque de
campainha (EC), e verificou que o cão salivava.
O experimentador repete várias vezes esta associação de estímulos, o que leva o
cão a esperar que a carne apareça ao toque da campainha. Passado algum tempo, Pavlov
constata que o cão salivava quando ouvia apenas a campainha.

Antes do condicionamento Durante o condicionamento Após o condicionamento


Carne: estímulo não Campainha: estímulo EC (campainha) -> RC (salivação)
condicionado (ENC) condicionado (EC)
Salivação: resposta não RC só dura enquanto durar o
condicionada (RNC) = ENC + EC = RNC condicionamento
reflexo simples, absoluto,
inato, incondicionada Repetição: associação de dois
estímulos diferentes -> o cão
aprende a associar os dois
estímulos

A aprendizagem por condicionamento clássico resulta da associação entre estímulos e


respostas que se associam e das quais resulta uma mudança de comportamento.

Decorrentes das experiências realizadas, Pavlov identificou alguns processos que


envolvem o condicionamento:

Processos do condicionamento
 Extinção: diminuição e/ou extinção da resposta condicionada
devido à ausência do estímulo não condicionado (quando o
experimentador fazia tocar a campainha, repetidas vezes, sem
apresentar a carne, o cão salivava cada vez menos, até deixar de
salivar)

 Recuperação espontânea: depois da resposta condicionada


parecer extinta, após um tempo de descanso, se se voltasse a
tocar a campainha, o cão voltaria a salivar, ainda que de forma
mais atenuada.

 Generalização do estímulo: o cão salivava mesmo quando o som


emitido era diferente do da campainha habitualmente usada no
condicionamento

 Discriminação: os cães aprenderam a responder a um toque


particular da campainha, distinguindo-o de outros toques.

O condicionamento clássico é uma forma de aprendizagem que está presente em muitos


aspectos da vida quotidiana dos seres humanos: por exemplo, ao ouvir o toque da
campainha da porta esperamos que alguém surja quando a abrimos. São os estímulos
que servem de sinal para outros estímulos. O próprio medo pode ser condicionado: se
uma pessoa teve experiências dolorosas no dentista, poderá sentir medo quando se
sentar na cadeira viva uma sensação de medo. Muitos medos vividos por adultos podem
ter sido adquiridos por condicionamento na infância ou pela vivência de situações
traumáticas.

Condicionamento Operante: Enquanto Pavlov desenvolvia as suas investigações na


Rússia, nos EUA Thorndike procurava conhecer o modo como os animais resolviam os
problemas. Será a partir destas experiências que Skinner vai desenvolver os seus
trabalhos.
Ao procurar responder à questão: “será que o modo de aprendizagem do seu humano é
semelhante ao dos animais?”, Thorndike faz uma investigação experimental com gatos,
construindo uma caixa problema: uma gaiola com grades de onde o gato só poderia sair
se accionasse uma alavanca que lhe abria a porta. No exterior da caixa estava um
alimento que podia ser visto e cheirado pelo animal.

Numa primeira fase o animal investia contra as grades repetidas vezes, e após repetidas
tentativas e erros accionava por acaso a dita alavanca, recebendo o alimento quando
saía. Ao

repetir a experiência o gato demorava cada vez menos tempo até que por fim já ia
directamente à alavanca. O animal aprendeu a resolver o problema – aprendizagem por
tentativas e erros.

Lei do efeito: à medida que a experiência era repetida, as respostas desadequadas


[investir contra as grades, miar, saltar] eram progressivamente substituídas por respostas
correctas e eficazes. Thorndike concluiu assim que existem respostas que são
enfraquecidas e outras fortalecidas, e dai enunciou a lei do efeito – se a resposta for
recompensada fortalecer-se-ia; se não houver recompensa ou houver castigo, a resposta
enfraquecer-se-ia. São as respostas mais adequadas, mais aptas, que são retidas,
desempenhando assim a aprendizagem um papel importante na adaptação do animal ao
meio.

O ponto de partida para as investigações levadas a cabo por Skinner é a lei do efeito de
Thorndike: a aprendizagem é uma associação entre o estímulo e a resposta resultante de
um acto do sujeito. Desenvolve um conjunto de experiências na Caixa de Skinner ou
Câmara de Condicionamento Operante (operar = trabalhar, agir ) – se uma tecla for
premida é libertado o alimento. Após carregar nela por acaso e receber o alimento, o
animal repete o comportamento, obtendo de todas as vezes comida – o reforço (neste
caso positivo). Contudo esse reforço pode ser negativo – Skinner desenvolveu outras
experiências em que utilizou estímulos dolorosos ou desagradáveis: o rato caminha
sobre uma rede metálica por onde passa uma corrente eléctrica, que pode ser
interrompida ao carregar-se num pedal. Depois de várias tentativas e erros o animal
aprende a evitar a dor, carregando no pedal.
 Reforço positivo – estímulo cuja presença serve para manter ou fortalecer a
resposta (ex. Comida)
 Reforço negativo – estímulo que quando eliminado põe fim a uma situação
adversa ou desagradável. Serve para manter ou fortalecer a resposta [não se
pode confundir reforço negativo com castigo ou punição – enquanto o reforço
negativo fortalece a resposta (o rato prime o pedal para evitar a dor), o castigo
enfraquece-a. Diz-se negativo porque diminui a situação adversa].

A busca do prazer e a fuga à dor são os dois princípios motivadores que estão na base
dos reforços positivos e negativos. Tal como no condicionamento clássico a resposta
extingue-se se o reforço for suspenso, podendo depois ser recondicionada.
A recompensa é muito mais eficaz no reforço da aprendizagem do que a punição no
enfraquecimento de um comportamento indesejável.

A punição na educação dos seres humanos é muito questionada - o comportamento


punido, como dizer uma asneira, não desaparecerá, mas terá tendência a ser reprimido,
podendo surgir noutros contextos diferentes daquele em que o castigo foi aplicado.
Skinner via mais vantagens no reforço positivo: enquanto este diz o que o sujeito deve
fazer, o castigo diz o que não fazer, não orientando no sentido do comportamento
desejado, e na aprendizagem e mais eficaz a instrução positiva que a negativa.

- Distinção entre condicionamento Clássico e Operante:

Parâmetros Condicionamento Clássico Condicionamento Operante


Conduta/Resposta Involuntária (reflexa) Voluntária (não reflexa), procurando a
Inclui, nos seres humanos, as meta
emoções
Aquisição O estímulo não condicionado e o Associação de respostas com uma
estímulo condicionado sequência posterior (reforço
associam-se positivo/negativo)
Extinção A resposta condicionada diminui Diminui a resposta, sobretudo quando
quando o EC se apresenta cessa o reforço constante
sozinho repetidas vezes
Processos Cognitivos Os sujeitos desenvolvem a Os sujeitos adquirem a expectativa de
expectativa do que o EC indica a que uma resposta será reforçada ou
chegada do ENC. castigada, evidenciando a
O sujeito tem uma atitude aprendizagem.
passiva, mecânica O sujeito tem uma atitude activa, toma
iniciativa

Aprendizagem Social, por Observação ou Imitação: As pessoas, sobretudo as


crianças, aprendem observando e imitando os outros. Bandura desenvolveu uma série de
experiências sobre a importância da aprendizagem por observação, aquela que resulta da
interacção e imitação social. Muitos dos nossos comportamentos são então aprendidos
através da observação e imitação de um modelo – modelagem; o processo de
socialização passa, necessariamente, pela observação, imitação e identificação com os
modelos sociais.
Este tipo de aprendizagem pode ser seguido de reforço directo: a criança é elogiada por
ter imitado um comportamento correcto e desejado.

A imitação de um adulto também pode ser estimulada se a criança observar que ele é
elogiado por se ter comportado de determinada forma – é o que se denomina por reforço
vicariante. A criança prevê que se se comportar da mesma forma obterá uma aprovação
semelhante.

Num mundo dominado pelos meios de comunicação social, é de salientar o papel,


sobretudo da televisão, neste tipo de aprendizagem: bebés de 11 meses observam e
imitam o que vêm na televisão, independentemente de ser uma conduta desejável ou não
– é o caso dos programas com conteúdos violentos.
Efeitos da aprendizagem por observação:

- Efeito de modelação ou modelagem: o observador observa e imita o modelo,


adquirindo novas formas de resposta. Crianças expostas a cenas violentas apresentavam
duas vezes atitudes mais agressivas perante a mesma situação do que o grupo que não
tinha assistido à cena.

- Efeito desinibitório e inibitório: uma criança geralmente inibe a agressividade


porque esse tipo de comportamento é criticado pelas pessoas que a rodeiam (pais,
professores, outros adultos), e por vezes alvo de castigo – efeito inibidor. No entanto, se
os referidos pais e professores exibem esse mesmo tipo de comportamento agressivo, a
criança apresentará o mesmo tipo de reacções – efeito desinibidor.

São muitos os factores que influenciam a aprendizagem por observação: a proximidade


e o peso afectivo são dois deles. Por isso os pais, professores e amigos são os modelos
mais comuns. A selecção dos modelos passa pela idade e pela pertença de género
(é mais frequente a imitação de modelos entre pessoas do mesmo género e com idades
próximas); pelo estatuto (são imitados os modelos que apresentam estatuto social mais
elevado e prestigiado); e também pela atenção (quanto mais o observador estiver atento
ao comportamento apresentado pelo modelo, mais eficaz será a aquisição).

Quadro resumo dos tipos de aprendizagens: por condicionamento clássico, operante e aprendizagem social

Tipo de Condicionamento Condicionamento Aprendizagem Social


Aprendizagem Clássico Operante
Procedimento Um estímulo neutro Um comportamento é O observador presta atenção ao modelo
(campainha) é associado seguido de uma e aprende um comportamento
a um estímulo não recompensa (reforço
condicionado (comida) positivo/negativo) ou de
uma punição
Resultados O EN torna-se EC e A frequência da O observador aprende uma sequência de
desencadeia uma ocorrência do comportamentos que realiza quando
resposta condicionada comportamento aumenta quer (não está sujeito a qualquer
(salivação) ou diminui condicionamento)
Exemplo O som da campainha O rato na caixa de Depois da observação dos
provoca a salivação. condicionamento é capaz comportamentos violentos é muito
de aprender a accionar provável que os observadores tenham
uma alavanca para igualmente comportamentos agressivos
conseguir o alimento,
evitando os choques
eléctricos

Aprendizagens Motora, de Discriminação e Verbal:

A aprendizagem motora consiste em fazer alguma coisa através de movimentos,


manipulação de objectos ou instrumentos, e está presente quer nos seres humanos quer
nos animais. No homem, passa desde os actos mais simples (vestir, usar os talheres,
jogar à bola) até aos mais complexos, que implicam uma sequência ordenada de
movimentos (tocar um instrumento musical, digitar um texto no computador, guiar um
carro).

Toda a actividade humana implica a aprendizagem por discriminação, isto é, a


possibilidade de compreender as diferenças e as semelhanças entre situações e objectos.
Varia entre situações mais simples, como distinguir a mesa da cadeira ou o lago do rio,
e outras mais complexas: a aprendizagem da leitura implica a discriminação das letras,
dos sons, da pontuação.

As aprendizagens estão, em geral, baseadas nas palavras, na aprendizagem


verbal. As crianças aprendem melhor ao nomear os fenómenos, os objectos e as
situações. Quando se dá um nome a uma coisa ou situação estabelece-se uma relação: a
palavra faz a mediação entre o estímulo e a resposta.
Aprendizagem de Conceitos: Os conceitos são agrupamentos mentais que nos
permitem organizar as informações sobre a realidade, são a representação universal de
alguma coisa ou realidade. Existem conceitos objectivos – mesa, cão, mar, casa -, mas
outros não correspondem a objectos materiais, o que torna a sua aquisição complexa –
são os conceitos abstractos como beleza, justiça, solidariedade, paz.

Aprendizagem de Resolução de Problemas: Entre os problemas que nos surgem


durante o dia a dia, alguns exigem apenas para sua resolução o recurso à inteligência
prática: são resolvidos a partir da manipulação de objectos. É o caso de procurar a chave
para abrir uma porta trancada.
Para outros é necessário recorrer a outros procedimentos no domínio do
raciocínio lógico, associativo, de eliminação de hipóteses,...

9. 3 Factores de Aprendizagem:

 Idade: a idade é um factor que interfere na aprendizagem. De acordo com a


perspectiva cognitiva de Piaget, são necessárias determinadas estruturas
intelectuais para que se possam concretizar certas aprendizagens. A cada estádio
correspondem capacidades específicas, daí que os conteúdos e as metodologias
educativas têm que estar de acordo com o nível etário e de desenvolvimento dos
indivíduos.

 Inteligência: existe uma relação entre inteligência e aprendizagem, sendo


frequentemente difícil separar uma actividade intelectual de uma actividade de
aprendizagem. Os sujeitos com capacidades intelectuais mais significativas
normalmente fazem raciocínios mais adequados, manipulam melhor os objectos,
resolvem os problemas num ritmo mais acelerado. Durante muito tempo, foi
atribuída à inteligência a principal razão para justificar a facilidade ou
dificuldade em aprender.

 Motivação: é mais fácil aprender um assunto ou actividade quando se está


motivado. Se não existe motivação o sujeito remete-se para uma atitude passiva,
o que afecta a sua aprendizagem.
Diz-se que uma pessoa está motivada quando sente uma necessidade de agir para
alcançar um determinado objectivo. Justificamos muitos comportamentos pela
motivação. Na pedagogia têm-se procurado técnicas de motivação para incentivar os
alunos a aprenderem. A motivação pode ser influenciada por factores externos e/ou
internos:

Motivação intrínseca: é aquela que é determinada por factores internos, e relaciona-se


com o prazer de realização de dada actividade, pelo prazer de aprender, por um desejo
de auto-realização. Se um assunto nos interessa, concentramo-nos e aprendemos mais
depressa.

Motivação extrínseca: é aquela que é determinada por factores externos ao indivíduo,


que podem constituir incentivos à aprendizagem, como avaliações, elogios,
recompensas, ganhos obtidos e castigos evitados.

A motivação pode ser a curto (melhorar no próximo teste de Psicologia) ou a longo


prazo (profissionalização na profissão desejada).

 Aprendizagem anterior e experiência: a maioria dos assuntos que se aprendem


não é inteiramente nova e tem mais ou menos uma certa relação com
aprendizagens anteriores. A experiência passada influencia profundamente a
nossa aprendizagem. A transferência de uma situação para outra pode facilitar
ou dificultar a nova aprendizagem:

- transferência positiva: quando facilita a futura aprendizagem, isto é, quando as


capacidades utilizadas numa aprendizagem anterior nos preparam para uma nova
aprendizagem.
- transferência negativa: quando inibe as futuras aprendizagens.

 Factores Sociais: a sociedade - com os seus valores, aspirações, interesses,


atitudes – marca a educação. A escola, a forma como a aprendizagem é
encarada, é influenciada por factores sociais (que efectivamente não promovem
a igualdade de oportunidades para todos os alunos). A escola, pelos seus
currículos, normas, processos de socialização e linguagem está mais próxima
dos alunos dos meios socioculturais favorecidos, podendo-se então afirmar que,
em parte, os antecedentes culturais criam diferenças entres os alunos.
 Estilos Cognitivos:
- aprendizagem vivencial: percepção concreta da realidade, que é captada tal e
qual como se lhes apresenta. Observam a realidade e processam-na de acordo com os
seus sentimentos, integrando os dados observados na sua experiência pessoal.
- aprendizagem analítica: percepção abstracta da realidade. Processam os dados
reflectindo sobre eles, observando-os a partir do pensamento, bem como das teorias que
já têm.
- aprendizagem prática: percebem a realidade de uma forma abstracta, sempre a
partir da ideia de utilidade. Como são pragmáticos, aceitam os conhecimentos se eles
funcionam.
- aprendizagem dinâmica: percepção concreta da realidade e processam-na sob o
ponto de vista da sua validade ou não validade para a renovação de alguma coisa.
Integram as novas experiências nas suas vidas segundo a lei da tentativa e erro.

9. 4 Métodos de Aprendizagem:

Distribuição da prática no tempo: o tempo é muito importante na aprendizagem,


pois existe uma relação entre o tempo e os conteúdos aprendidos. Os alunos
criam hábitos e estratégias diferentes de estudo: há quem divida a matéria a
estudar por espaços regulares de tempo e quem a estude de forma mais
concentrada:
- Aprendizagem concentrada: a que é feita intensamente, sem intervalos.
- Aprendizagem espaçada: a que se faz distribuída por determinado período de
tempo.

Sabe-se que se o aluno souber o tempo que dispõe para as diferentes tarefas,
consegue uma melhor organização mental e um maior investimento no trabalho.

Conhecimento dos Resultados: é importante o educando saber o resultado dos


seus desempenhos, sobretudo quando não tem consciência que errou e porque
errou. Há uma melhor realização da aprendizagem quando os alunos têm
conhecimento dos seus resultados.

Aprendizagem Total e Parcial: os psicólogos behavioristas propõe a divisão do


problema e da tarefa em partes, considerando vantajoso para as crianças
tomarem contacto com as matérias de forma mais acessível, e logo com maior
possibilidade de êxito. Em contrapartida os psicólogos cognitivistas defendem
uma apresentação da matéria como um todo.

Aprendizagem programada: Skinner desenvolveu um método baseado no


condicionamento operante designado por aprendizagem programada.
Caracteriza-se pela divisão em pequenas etapas das tarefas complexas; pelo
conhecimento dos resultados por parte de quem está a aprender, devendo as suas
respostas ser imediatamente reforçadas. Os materiais de apoio à aprendizagem
devem estar adequados a um tipo de ensino progressivo, em que existe uma
conexão entre conteúdos: a aprendizagem de um conteúdo necessita de
conhecimentos e noções adquiridos anteriormente, o que permite que cada aluno
evolua a um ritmo próprio.

9. 5 Conceito de Memória:

Podemos definir a memória como sendo um processo cognitivo que compreende a


retenção e a recuperação da informação. É um sistema aberto em que a informação entra
(aquisição), é armazenada (retenção), podendo depois ser recuperada (recordação).
Não podemos pensar a vida sem memória (a capacidade de reter o que aprendemos). É a
memória que nos dá o sentimento de identidade pessoal: as experiências vividas,
acumuladas, e que reconhecemos como nossas, constituem o nosso património pessoal,
que nos distingue dos outros e nos torna únicos. “A memória constitui uma espécie de
retrato do que somos, composto com os traços do que fomos.”
A memória humana é limitada na sua capacidade de armazenamento, e afectada pelo
tempo, pelos sentimentos, emoções, vivências, imaginação, e como tal procurou-se
construir instrumentos que assegurassem que o material retido pudesse ser preservado e
evocado na sua totalidade, sendo o computador um exemplo disso mesmo.
Em todos os actos da memória segundo alguns autores estão implicadas três
fases ou estádios – Processo Mnésico:

- Aquisição: para recordarmos: é preciso primeiro aprender, quer seja


uma simples percepção ou uma actividade mais complexa. Sem aprendizagem não há
memória.
- Retenção ou armazenamento: a informação é conservada, retida por
períodos mais ou menos longos, para poder ser utilizada quando necessário.
- Recordação ou activação: quando precisamos, procuramos recuperar,
actualizar a informação armazenada, para a utilizar na experiência presente.

Mais do que assegurar o passado, a memória esta subjacente a todos os


comportamentos.
A memória é um processo psicológico de grande importância para o ser humano,
sendo requisito importante para a leitura, escrita, factos, eventos e actividades diárias
entre outras coisas. Outro factor importante no processo de aquisição de memória é a
atenção, uma pessoa, com falta de atenção pode apresentar dificuldade no
armazenamento da memória, sendo sua aprendizagem prejudicada.

9.6 Tipos de Memória

A memória pode ser classificada de forma simples, de acordo com a duração e os tipos
de informação envolvidos. Por isso grande parte dos autores distinguem três tipos de
memória – memória sensorial, memória a curto prazo e memória a longo prazo.

Memória sensorial é um tipo de memória que cria, e está relacionada com a


aquisição de conhecimentos. É através dos sentidos que as informações entram no
sistema da memória. De entre as memórias sensoriais, destaca-se a memória visual (ou
icónica) e a memória auditiva (ou ecóica). É um tipo de memória com uma duração
muito breve (0,2 a 2 s.), mas que em contrapartida possui uma capacidade de
armazenamento muito grande e proporcional à capacidade dos receptores. Podemos
assim referir vários tipos de memória sensorial: visual, auditiva, olfactiva, táctil,
gustativa.

Memória a curto prazo: A memória a curto prazo é um tipo de memória que


fixa, e contribui assim para a retenção de conhecimentos. É um tipo de memória activa,
sendo mais controlável e durável que a memória sensorial. A memória a curto prazo é
também conhecida por memória de trabalho. Permite o armazenamento de informações
por um período de tempo de alguns segundos (20 a 30 s.) e a sua capacidade é de 7
conjuntos com +/- 3 elementos cada. A memória de trabalho possibilita, por exemplo,
uma pessoa discar um número de telefone que alguém acabou de lhe dizer ou repetir
algumas frases de um texto lido naquele exacto momento. Parte dos materiais da
memória a curto prazo é transferida a longo prazo.

Memória a longo prazo: Quanto à memória a longo prazo, ao contrário da


anterior é um tipo de memória ficheiro, que permite a recuperação de conhecimentos, e
contem dados que têm origem na memória a curto prazo. Para ser armazenada, a
informação é primeiro codificada. É graças a este tipo de memória que somos capazes
de ler, recordar pessoas e sítios, bem como episódios da nossa infância. Desta forma,
quer a sua duração quer a sua capacidade são ilimitadas. Por exemplo, as lembranças de
factos ocorridos na infância, a aprendizagem de conteúdos escolares, a fisionomia ou o
nome de alguém que não se vê há tempos, etc. Dentro da memória a longo prazo,
segundo alguns autores encontram-se os seguintes tipos:

- Memória episódica: fazem parte desse conjunto os eventos vivenciados pela


pessoa que os recorda, em um determinado tempo e lugar, por exemplo, uma viagem de
férias, o primeiro dia num emprego, o nascimento de um filho, ou até eventos negativos
como uma situação de violência. Assim, a memória episódica é constituída por
lembranças autobiográficas que representam um significado importante para o
indivíduo.

-Memória semântica: corresponde ao conhecimento de factos da vida em geral, como o


idioma falado, o significado das palavras, o nome de objectos e que não têm qualquer
ligação com as experiências dotadas de algum tipo de emoção, como descrito na
memória episódica.

- Memória procedural: esse tipo de memória é ligado ao conhecimento de


procedimentos corriqueiros e automáticos, por exemplo, lembrar como se toca um
instrumento musical, andar de bicicleta, vestir-se, etc

Factores que influenciam a memória:

Atenção
Concentração
Interesse/motivação
Tempo de aquisição
Idade

Com o avanço da idade, a partir dos 50 anos, é comum as pessoas se queixarem


de dificuldades de memória, o que traz um certo desconforto ou até o receio de que
possa ser o início de um quadro patológico, como o Mal de Alzheimer, porém é
importante ressaltar que o declínio da memória com o avanço da idade é completamente
normal. Não é só a idade que provoca prejuízos na capacidade de memória; o stress
emocional, a depressão e problemas de ordem física são outros importantes factores.

Por outro lado, existem também factores que favorecem a memória, como a motivação e
as emoções, . Quanto maior for o interesse em aprender algo, melhor será o
armazenamento das informações obtidas nesse processo, assim quanto maior o número
de emoções (sejam elas positivas ou negativas) atribuídas a um evento mais
possibilidade dele permanecer na memória para uma futura recuperação.

Para um bom funcionamento da memória é importante que esqueçamos algumas


informações, de tal sorte que volte a sobrar espaço na memória para o registro dos
próximos eventos que estão constantemente chegando. É saudável que esqueçamos
algumas informações, em especial aquelas que tenham conteúdos traumáticos ou
negativos.
Podemos estudar e avaliar os diferentes aspectos da atenção, por exemplo:
 Atenção selectiva: quando o indivíduo escolhe um estímulo ao qual prestará
atenção, por exemplo, ler um livro ao invés de assistir tv, mesmo que esta esteja
ligada e faça ruídos ao fundo;

 Atenção dividida: caracteriza-se pela capacidade do indivíduo em prestar


atenção em mais de um estímulo ao mesmo tempo, por exemplo, conversar
enquanto dirige um veículo, trabalhar no computador enquanto atende ao
telefone;

9.7 Patologias da memória:


A memória está sujeita a perturbações que se apresentam nas mais variadas formas e
graus. Eis as principais: Amnésias, Hipermnésias, Paramnésias e Desmnésias.
A amnésia é a perca parcial ou total da selecção e adaptação da realidade. Há diferença
entre amnésia e esquecimento. A amnésia é doença ou perturbação patológica enquanto
que esquecimento é fenómeno normal.

Há vários tipos de amnésias, temos o grupo dos que têm : incapacidade de adquirir
novas lembranças é o caso da paralisia geral e da epilepsia que pode ser causado por
um traumatismo físico ou emoção violenta que é a amnésia de fixação;
 Incapacidade de evocar lembranças que já foram evocadas anteriormente
ex: a pessoa que perde a fala ou a escrita que se chama amnésia de
evocação;
 Incapacidade de recordar os gestos que faziam. Ex: o pianista que deixa
de saber tocar o piano, o pintor que deixa de saber pintar.
 Incapacidade de lembrar uma palavra falada, é o caso do doente que
deixa de saber falar - afasia ou esquecimento da palavra falada;
 Incapacidade de recordar a palavra escrita: é o caso do doente que deixa
de saber escrever, pode ainda desenhar as letras mas não sabe o que
significam;
 Incapacidade de recordar o significado das coisas. O doente olha para os
objectos e não sabe o que são e nem sabe para que serve (cegueira
psíquica) que se chama amnésia de compreensão de agnosias;
Há cegueira verbal ou alexia que é a incapacidade de leitura, por outro lado há também
surdez verbal que é a perca de memória da palavra falada.
Hipermnésias: a hiperamnésia é a perca da faculdade de esquecer, isto é o hipermnésico
é o indivíduo que não consegue esquecer.
Por outro lado a memória panorâmica é o fenómeno da hiperamnésia em que o
indivíduo assiste como espectador passivo ao desfile das lembranças em série que nada
tem haver com a situação presente, ocorre aos moribundos e aos indíviduos que
estiveram em perigo de morte;
-delírios: aqueles em que a memória reproduz-se desordenadamente as lembranças
importunas isto é quando o indivíduo tem febres altas.

Temos os obsessos: indivíduos que não conseguem esquecer a sua prática é o caso dos
criminosos;
 Temos os cleptomaníacos os que têm mania de praticar suicídios ou
roubos qualificados;
 Outros são obsessos inibidoras ou fobias ex: os agorafobia os que têm
medo do espaço de se deslocar do lado a outro;
 claustrofobia: os que têm medo de recintos fechados e os aerofobia os
que têm medo do espaço aéreo ;
Paramnésias: falso reconhecimento e ilusão do já visto: o sujeito vê uma pessoa, diz
uma coisa pela primeira vez e de súbito tem a ilusão de que já a tinha visto ou de que já
lhe tinha dito.
A paramnésia é a confusão da percepção com a lembrança do presente com o passado.
Pode-se dar o contrário o sujeito considera o passado como presente e isto acontece nos
casos de sonambulismo, delírio e sonho e dá-se o nome de ecmnésia. Se a paramnésia
afecta o reconhecimento do presente a ecmnésia afecta o reconhecimento do passado.
Desmnésias: a Desmnésias é a impossibilidade de fixar e conservar as lembranças isto
acontece com as pessoas da 3ª idade bem como os idiotas.

9.8 Memória e Esquecimento

Esquecimento: Não podemos falar de memória sem falar de esquecimento. O


esquecimento não pode ser encarado como uma lacuna da memória, ele é condição da
própria memória: é porque esquecemos que continuamos a reter. O esquecimento tem
uma função selectiva, dado que afasta materiais que não são úteis ou necessários, e
ocorre nos diferentes níveis de memória. O esquecimento é então incapacidade de reter,
recordar ou reconhecer uma informação.

Factores que explicam o esquecimento


- Desaparecimento e alteração do traço mnésico: uma hipótese para explicar o
esquecimento reside no desaparecimento do traço fisiológico registado no cérebro –
engrama – devido à passagem do tempo. O esquecimento teria origem na perda de
retenção provocada pela não utilização dos materiais armazenados. O traço
desapareceria devido à falta de repetição do exercício. Para muitos o esquecimento teria
então origem na deformação dos conteúdos retidos. Grande parte das deformações
ocorre na forma como percepcionamos os acontecimentos, e não numa mudança no
traço da memória.

- Interferências de aprendizagens: um dos factores que explica o esquecimento


reside na interferência de aprendizagens na retenção de outras aprendizagens.
Distinguem-se dois tipos de interferência:

-Inibição proactiva: influência negativa que a aprendizagem anterior tem sobre a


recordação de uma nova informação. Por exemplo, uma pessoa perder o seu cartão de
Multibanco e depois receber um novo, o código de cartão perdido pode influenciar,
interferir, na recordação do novo código.

-Inibição retroactiva: efeito negativo que a informação nova tem sobre a anterior.
Retomando o exemplo anterior, depois de várias vezes do uso do cartão com o novo
código, a pessoa tem dificuldade de recordar o código anterior.
Como já vimos, os conhecimentos anteriores podem facilitar novas aprendizagens, por
exemplo: saber andar de bicicleta facilita aprender a andar de mota; o conhecimento do
latim facilita a aprendizagem do francês, etc…

- O Esquecimento e Motivação inconsciente: Freud apresenta uma explicação


para o esquecimento – o recalcamento. O sujeito esqueceria acontecimentos
traumatizantes que teriam ocorrido. As recordações dolorosas eram inibidas, mantendo-
se recalcadas no inconsciente. O esquecimento teria portanto um carácter selectivo.
Freud chama ainda atenção para um aspecto particular do esquecimento – a amnésia
infantil. As primeiras recordações de infância não seriam acessíveis ao sujeito dado que
eram constituídas por conteúdos relacionados com uma sexualidade infantil. Muitas das
recordações da infância são reconstruções feitas através dos relatos dos pais e
familiares.
Freud refere ainda os pequenos esquecimentos do dia a dia – actos falhados – que
estariam relacionados com motivos inconscientes. São os lapsos, esquecimentos de
palavras, de datas…

Recordar é reconstruir: a informação retida, que temos capacidade de evocar, não é


reproduzida fielmente quando é recordada; as informações sofrem modificações,
produto do tempo, de novas experiências e vivências, das atitudes, valores, motivações e
emoções do sujeito. Todos os dados retidos são reelaborados, alterados, deformados.
6. COMPORTAMENTO PERCEPTIVO
6.1. Sensação e Percepção

A todo o momento o homem é atingido por estímulos que tem de captar de forma a
compreender e a transformar o real, bem como para comunicar com os seus
semelhantes. Os estímulos concorrem para o desenvolvimento do intelecto do homem,
mediante o qual se compreende a si mesmo, compreende os outros e o universo; levam-
no a agir, completando-se deste modo a sua realização, já que é através da acção que o
indivíduo põe em prática os projectos idealizados pelo pensamento, com vista à
transformação e aproveitamento do real.

Algumas vezes o sistema perceptivo nos pode induzir em erro, como acontece nas
ilusões de distância, ou nas formas de movimento. Mas são excepções muito raras. De
qualquer modo, os processos de percepção prestam-nos um bom serviço como
mensageiros do mundo real exterior. Ver o mundo real é ver as propriedades dos
objectos distais a sua cor, forma, tamanho e localização: o seu movimento através do
espaço, a sua permanência ou a sua transitoriedade.

Este capítulo traz a noção do ser humano como um processador de informações.


É fascinante perceber que “ver” e ouvir”ocorrem no cérebro, e não nos olhos ou
ouvidos. As informações do meio externo são processadas em dois níveis: os níveis da
sensação e da percepção. Apesar de ser possível diferenciá-los, sentir e perceber são,
na realidade, um processo único, que é o da recepção e interpretação de informações.
Quando o cérebro organiza as sensações em padrões significativos, chamamos a isso de
percepção.

A sensação - é entendida como uma simples consciência dos componentes sensoriais e


das dimensões da realidade (mecanismo de recepção de informações). Também
podemos entender a sensação como sendo um simples processo psíquico, que permite
ao sujeito, reflectir directamente as propriedades particulares dos objectos, fenómenos,
objectos e os estados internos do organismo.

A sensação implica a presença ou a existência de um estímulo, uma impressão


provocada no receptor e transmitida ao sistema nervoso central e um processo de
transformação psicofisiológica que dá origem a sensação. Hoje sabe-se que a sensação
não é um fenómeno isolado ou desligado de um contexto, insere-se num campo mais
vasto que é o da percepção.
6.2. Leis gerais das sensações

Qualidade – é a peculiaridade fundamental. Ela diz-nos que é a sensação que


nos dá o seu carácter individual, quer dizer, na visão fundamental é a qualidade
na qual está dada pela cor ; a sensação auditiva caracteriza-se pelo tom; as
qualidades cutâneas, o tacto são o calor, frio, etc..
Duração – é a característica temporal da sensação que pode ser muito breve ou
prolongada.

Localização espacial – é a que nos permite localizar o estímulo no espaço.


Podemos localizar por exemplo donde provém um som ou em que parte do
corpo está actuando a pressão.

Adaptação sensorial – a persistência do estímulo pode causar uma perda de


sensibilidade. Por exemplo, as sensações olfactivas desagradáveis que sentimos
ao entrar num recinto fechado desaparecem ao permanecer.
Por outro lado, a exercitação pode levar a um aumento da sensibilidade: os
especialistas em tinturaria chegam a diferenciar 40 tons de preto quando para
uns olhos não treinados nesta diferenciação as tonalidades são todos idênticos.

Pela percepção entende-se o processo de organização dos estímulos sensoriais; difere da


sensação, na medida em que é uma actividade cognitiva, pela qual conferimos sentido e
significação à informação sensorial.

Em psicologia, neurociência e ciências cognitivas, percepção é a função cerebral que


atribui significado a estímulos sensoriais, a partir de um histórico de vivências ou
experiências passadas. Através da percepção um indivíduo organiza e interpreta as suas
impressões sensoriais para atribuir significado ao seu meio. Consiste na aquisição,
interpretação, selecção e organização das informações obtidas pelos sentidos. A
percepção pode ser estudada do ponto de vista estritamente biológico ou fisiológico,
envolvendo estímulos eléctricos evocados pelos estímulos nos órgãos dos sentidos.
Do ponto de vista psicológico ou cognitivo, a percepção envolve também os
processos mentais, a memória e outros aspectos que podem influenciar na interpretação
dos dados percebidos.

A percepção é um dos campos mais antigos da pesquisa psicológica e existem


muitas teorias quantitativas e qualitativas sobre os processos fisiológicos e cognitivos
envolvidos. Os primeiros a estudar com profundidade a percepção foram Hermann von
Helmholtz, Gustav Theodor Fechner e Ernst Heinrich Weber. A Lei de Weber-Fechner
é uma das mais antigas relações quantitativas da psicologia experimental e quantifica a
relação entre a magnitude do estímulo físico (mensurável por instrumentos) e o seu
efeito percebido (relatado). Mais adiante Wilhelm Wundt fundou o primeiro laboratório
de psicologia experimental em Leipzig em 1879.

Na filosofia, a percepção e seu efeito no conhecimento e aquisição de


informações do mundo é objecto de estudo da filosofia do conhecimento ou
epistemologia. Em geral a percepção visual foi base para diversas teorias científicas ou
filosóficas. Newton e Goethe estudaram a percepção de cores e algumas escolas, como a
Gestalt, surgida no Século XIX e escolas mais recentes, como a fenomenologia e o
existencialismo baseiam toda a sua teoria na percepção do mundo.

6.3 Percepção e interpretação da realidade

Como percepcionamos o mundo? Como percebemos as formas? Na psicologia, o


estudo da percepção é de extrema importância porque o comportamento das pessoas é
baseado na interpretação que fazem da realidade e não na realidade em si. Por este
motivo, a percepção do mundo é diferente para cada um de nós, cada pessoa percebe um
objecto ou uma situação de acordo com os aspectos que têm especial importância para si
própria. Muitos psicólogos cognitivos e filósofos de diversas escolas, sustentam a tese
de que, ao transitar pelo mundo, as pessoas criam um modelo mental de como o mundo
funciona (paradigma). Ou seja, elas sentem o mundo real, mas o mapa sensorial que isso
provoca na mente é provisório, da mesma forma que uma hipótese científica é
provisória até ser comprovada ou refutada ou novas informações serem acrescentadas
ao modelo.
O Associacionismo - Como tivemos oportunidade de abordar, os defensores desta
teoria reduzem a percepção a um somatório de sensações. A percepção de qualquer
objecto adviria de unidades elementares que se combinavam por associação.

Os Associacionistas, reduzindo a psicologia à química mental, fizeram da


sensação a unidade fundamental na constituição dos fenómenos respeitantes à
consciência humana. De inspiração nitidamente empirista, defendiam que nada estava
na mente sem que antes tivesse passado pelos sentidos. Por conseguinte, apresentavam o
fenómeno perceptivo como totalmente adquirido, opondo-se vivamente a todos os que
vissem nele qualquer características inatas.

 O gestaltismo

Contrariamente a corrente anterior, os gestaltistas afirmavam ser a percepção uma


totalidade não resultante da soma de sensações. Assim como o muro não pode ser
reduzido à adição dos materiais que o constituem, porque, além deles, existe algo que os
liga e os integra num todo organizado, também a percepção não se pode resumir a uma
mera soma de elementos. Segundo esta teoria, o que se percepciona são as constelações
estruturais de estímulos e não elementos adicionáveis. Mas os gestaltistas exageram ao
considerarem a percepção como algo estritamente ligado a factores de ordem inata.

 O Construtivismo

A controvérsia entre as duas correntes (Associacionista e gestaltista) deixou de ter


fundamento pois, que todo o comportamento humano resulta da interacção entre o
organismo e o meio ambiente, pelo que há que atender a uma função conjugada dos
factores inatos ou hereditários e dos factores aprendidos ou adquiridos. A criança - no
dizer de Piaget- não se limita a receber passivamente os estímulos provenientes do
meio ( como pretende o empirismo), mas a construí – lo progressivamente através de
novas estruturas interpretativas desse meio.

Por outro lado, percepcionar o mundo implica, pois, organizar estímulos. Esta
organização não é inata nem de forma acabada, submetendo o mundo ao quadro das
suas estruturas inatas do sistema nervoso (como pretende o gestaltismo) nem o
indivíduo é tábua rasa na qual se inscrevem as impressões vindas do exterior. As
impressões não se imprimem passivamente na mente da criança, uma vez que esta tem
de passar por um desenvolvimento de estruturas sucessivas, não redutíveis a uma
acumulação aditiva de aquisições. Portanto, a percepção resulta de uma actividade
construtiva do sujeito sobre os dados que o mundo exterior lhe proporciona. É a
actividade do sujeito sobre estes dados da experiência que lhe possibilita o
desenvolvimento das estruturas.

À medida que adquirimos novas informações, nossa percepção se altera. Diversos


experimentos com percepção visual demonstram que é possível notar a mudança na
percepção ao adquirir novas informações. As ilusões de óptica e alguns jogos, se
baseiam nesse facto. Algumas imagens ambíguas são exemplares ao permitir ver
objectos diferentes de acordo com a interpretação que se faz. Em uma "imagem
mutável", não é o estímulo visual que muda, mas apenas a interpretação que se faz desse
estímulo. Assim como um objecto pode dar margem a múltiplas percepções, também
pode ocorrer de um objecto não gerar percepção nenhuma: Se o objecto percebido não
tem base na realidade de uma pessoa, ela pode, literalmente, não percebê-lo.

Os primeiros relatos dos colonizadores da América relataram que os índios da América


Central não viram a frota naval dos colonizadores que se aproximavam em sua primeira
chegada. Como os navios não faziam parte da realidade desses povos, eles
simplesmente não eram capazes de percebê-los no horizonte e eles se misturavam à
paisagem sem que isso fosse interpretado como uma informação a considerar. Somente
quando as frotas estavam mais próximas é que passaram a ser visíveis. Qualquer pessoa
nos dias actuais, de pé em uma praia espera encontrar barcos no mar. Eles se tornam,
portanto, imediatamente visíveis, mesmo que sejam apenas pontos no horizonte.

É comum, hoje, encontrarmos quadros e poesias sem títulos, deixando a cada um a


possibilidade de os interpretar, de criar um significado original projectando assim a
subjectividade das suas vivências. Passa-se a considerar cada vez mais a importância da
pessoa que percebe, durante o acto da percepção. A presença e a condição do
observador modificam o fenómeno.

As percepções são normais se realmente correspondem àquilo que o observando vê,


ouve e sente. Contudo, podem ser deficientes, se houver ilusões dos sentidos ou mesmo
alucinações. Esta ambiguidade da percepção é explorada em tecnologias humanas como
a camuflagem, mas também no mimetismo apresentado em diversas espécies animais e
vegetais, como algumas borboletas que apresentam desenhos que se assemelham a olhos
de pássaros, que assustam os predadores potenciais. Algumas flores também possuem
seus órgãos sexuais em formatos atraentes para os insectos polinizadores.

Teorias cognitivas da percepção assumem que há uma pobreza de estímulos. Isto


significa (em referência à percepção) que as sensações, sozinhas, não são capazes de
prover uma descrição única do mundo. As sensações necessitam de enriquecimento, que
é papel do modelo mental.

6. 4. Factores que influenciam a percepção

O processo de percepção tem início com a atenção que não é mais do que um processo
de observação selectiva, ou seja, das observações por nós efectuadas. Este processo faz
com que nós percebamos alguns elementos em desfavor de outros. A nossa percepção
não se processa de modo uniformizado em relação aos estímulos que nos chegam. A
atenção é um dos factores que contribui enormemente para a junção dos elementos da
nossa experiência perceptiva, desempenhando vários papéis: preparar a percepção (
estamos melhor preparados para percepcionar quando prestamos atenção), e
seleccionar certos aspectos de uma cena para os averiguar, ignorando os outros
(focamos a figura e não o fundo, e se estiverem presentes várias figuras, escolhemos
aquela a que prestamos atenção).

A experiência nos diz que somos fisiologicamente incapazes de prestar atenção


simultaneamente a todos os estímulos de uma estrutura complexa. É, pois, ao conjunto
de estímulos que podemos percepcionar, circunscrever e relevar que chamamos de foco
de atenção.

Deste modo, são vários os factores que influenciam a atenção e que se encontram
agrupados em duas categorias: a dos factores externos (próprios do meio ambiente) e a
dos factores internos (próprios do nosso organismo).

Factores externos

Os factores externos mais importantes da atenção são:


 A intensidade
 O contraste
 O movimento
 A incongruência

A intensidade (pois a nossa atenção é particularmente despertada por estímulos que se


apresentam com grande intensidade e, é por isso, que as sirenes das ambulâncias
possuem um som insistente e alto); o contraste (a atenção será muito mais despertada
quanto mais contraste existir entre os estímulos, tal como acontece com os sinais de
trânsito pintados em cores vivas e contrastantes); o movimento constitui um elemento
principal no despertar da atenção (por exemplo, as crianças e os gatos reagem mais
facilmente a brinquedos que se movem do que estando parados. ); e a incongruência,
ou seja, prestamos muito mais atenção às coisas absurdas e bizarras do que ao que é
normal (por exemplo, na praia num dia de verão prestamos mais atenção a uma pessoa
que apanhe sol usando um cachecol do que a uma pessoa usando um traje de banho
normal). Podemos concluir dizendo que a intensidade, o contraste, o movimento, a
incongruência, o isolamento, a repetição ( e outros mais ) ligados a estimulação
desempenham um papel notável no despertar da atenção.

Factores internos

De facto, não basta que a atenção desperte. O organismo, depois de estar atento
durante algum tempo a dados objectos, cansa-se. Para que a atenção se mantenha
contribuem outros factores que inerentes ao próprio indivíduo, se vão juntar aos factores
oriundos do meio.

Os factores internos que mais influenciam a atenção são as motivações


(prestamos muito mais atenção a tudo que nos motiva e nos dá prazer do que às coisas
que não nos interessam); a experiência anterior ou, por outras palavras, a força do
hábito faz com que prestemos mais atenção ao que já conhecemos e entendemos; e o
fenómeno social explica que a nossa natureza social faz com que pessoas de contextos
sociais diferentes não prestem igual atenção aos mesmos objectos (por exemplo, os
livros e os filmes a que se dá mais importância em Portugal não despertam a mesma
atenção no Japão. Outro exemplo, as obras de arte feitas por Miguel Ângelo na Itália
não despertam atenção aos africanos) para o europeu a graça está em mostrar a beleza
da pessoa na sua naturalidade.

6. 5. Princípios da percepção

Na percepção das formas, as teorias da percepção reconhecem quatro princípios


básicos que a influenciam:
 A tendência à estruturação ou princípio do fechamento - tendemos a
organizar elementos que se encontram próximos uns dos outros ou que sejam
semelhantes;

 Segregação figura-fundo - explica que percebemos mais facilmente as figuras


bem definidas e salientes que se inscrevem em fundos indefinidos e mal
contornados (por exemplo, um cálice branco pintado num fundo preto);

 pregnância das formas ou boa forma - qualidade que determina a facilidade


com que percebemos figuras bem formadas. Percebemos mais facilmente as
formas simples, regulares, simétricas e equilibradas;

 Constância perceptiva - se traduz na estabilidade da percepção (os seres


humanos possuem uma resistência acentuada à mudança).

Outros factores

Em relação à percepção da profundidade, sabe-se que esta advém da interacção


de factores orgânicos (características do nosso corpo) com factores ambientais
(características do meio ambiente). São exemplos dos factores orgânicos: a acomodação
do cristalino que é uma espécie de lente natural de que dispomos para focar
convenientemente os objectos; e a convergência das linhas de visão (a posição das
linhas altera-se sempre que olhamos para objectos situados a diferentes distâncias).

Para exemplificar os factores ambientais temos o princípio do contraste luz-sombra (as


partes salientes dos objectos são mais claras que as restantes, em função da iluminação
recebida) e a grandeza relativa (a profundidade pode ser representada variando o
tamanho e a distância dos objectos pintados. Os objectos mais distantes parecem-nos
mais pequenos do que aqueles que estão mais próximos). Freud disse que a percepção
pode parecer estranha vinda de pessoas estranhas...

6. 6 Tipos de percepção e sensação

O estudo da percepção distingue alguns tipos principais de percepção. Nos seres


humanos, as formas mais desenvolvidas são a percepção visual e auditiva, pois durante
muito tempo foram fundamentais à sobrevivência da espécie (A visão e a audição eram
os sentidos mais utilizados na caça e na protecção contra predadores). Também é por
essa razão que as artes plásticas e a música foram as primeiras formas de arte a serem
desenvolvidas por todas as civilizações, antes mesmo da invenção da escrita. As demais
formas de percepção, como a olfactiva, gustativa e táctil, embora não associadas às
necessidades básicas, têm importante papel na afectividade e na reprodução.

Percepção visual

A visão é a percepção de raios luminosos pelo sistema visual. Esta é a forma de


percepção mais estudada pela psicologia da percepção. A maioria dos princípios gerais
da percepção foi desenvolvida a partir de teorias especificamente elaboradas para a
percepção visual. Todos os princípios da percepção citados acima, embora possam ser
extrapolados a outras formas de percepção, fazem muito mais sentido em relação à
percepção visual. Por exemplo, o princípio do fechamento é melhor compreendido em
relação a imagens do que as outras formas de percepção.

A percepção visual compreende, entre outras coisas:

 Percepção de formas;
 Percepção de relações espaciais, como profundidade. Relacionado à percepção
espacial;
 Percepção de cores;
 Percepção de intensidade luminosa.
 Percepção de movimentos
Percepção auditiva

A audição é a percepção de sons pelos ouvidos. A psicologia, a acústica e a


psicoacústica estudam a forma como percebemos os fenómenos sonoros. Uma aplicação
particularmente importante da percepção auditiva é a música. Os princípios gerais da
percepção estão presentes na música. Em geral, ela possui estruturação, boa - forma,
figura e fundo (representada pela melodia e acompanhamento) e os géneros e formas
musicais permitem estabelecer uma constância perceptiva.

Entre os factores considerados no estudo da percepção auditiva estão:

 Percepção de timbres;
 Percepção de alturas ou frequências;
 Percepção de intensidade sonora ou volume;
 Percepção rítmica, que na verdade é uma forma de percepção temporal;
 Localização auditiva, um aspecto da percepção espacial, que permite distinguir o
local de origem de um som

Percepção olfactiva

O olfacto é a percepção de odores pelo nariz. Este sentido é relativamente ténue


nos humanos, mas é importante para a alimentação. A memória olfactiva também tem
uma grande importância afectiva. A perfumaria e a enologia são aplicações dos
conhecimentos de percepção olfactiva. Entre outros factores a percepção olfactiva
engloba:

 Discriminação de odores, que estuda o que diferencia um odor de outros e o


efeito de sua combinação;
 O alcance olfactivo.

Em alguns animais, como os cães, a percepção olfactiva é muito mais desenvolvida e


tem uma capacidade de discriminação e alcance muito maior que nos humanos.

Percepção gustativa

O paladar é o sentido de sabores pela língua. Importante para a alimentação.


Embora seja um dos sentidos menos desenvolvidos nos humanos, o paladar é
geralmente associado ao prazer e a sociedade contemporânea muitas vezes valoriza o
paladar sobre os aspectos nutritivos dos alimentos. A arte culinária e a enologia são
aplicações importantes da percepção gustativa. O principal factor desta modalidade de
percepção é a discriminação de sabores.

Percepção táctil

O tacto é sentido pela pele em todo o corpo. Permite reconhecer a presença,


forma e tamanho de objectos em contacto com o corpo e também sua temperatura. Além
disso o tacto é importante para o posicionamento do corpo e a protecção física.

O tacto não é distribuído uniformemente pelo corpo. Os dedos da mão possuem uma
discriminação muito maior que as demais partes, enquanto algumas partes são mais
sensíveis ao calor. O tacto tem papel importante na afectividade e no sexo. Entre os
factores presentes na percepção táctil estão:

 Discriminação táctil, ou a capacidade de distinguir objectos de pequenos


tamanhos. (Importante, por exemplo, para a leitura em Braille);
 Percepção de calor;
 A percepção da dor.

Além da percepção ligada aos cinco sentidos, os humanos também possuem capacidade
de percepção temporal e espacial

Percepção temporal

Não existem órgãos específicos para a percepção do tempo, no entanto é certo que as
pessoas são capazes de sentir a passagem do tempo. A percepção temporal esbarra no
próprio conceito da natureza do tempo, assunto controverso e tema de estudos
filosóficos, cognitivos e físicos, bem como o conhecimento do funcionamento do
cérebro (neurociência).

A percepção temporal já foi objecto de diversos estudos desde o século XIX até os dias
de hoje, quando é estudado por técnicas de imagem como a ressonância magnética. Os
experimentos destinam-se a distinguir diferentes tipos de fenómenos relevantes à
percepção temporal:
 a percepção das durações;
 a percepção e a produção de ritmos;
 a percepção da ordem temporal e da simultaneidade.

Resta saber se estes diferentes domínios da percepção temporal procedem dos mesmos
mecanismos ou não e também algumas novas considerações que decorrem da escala de
tempo utilizada. Segundo o psicólogo francês Paul Fraisse, é preciso distinguir a
percepção temporal (para durações relativamente curtas, até alguns segundos) e a
estimativa temporal que é designada como a apreensão de longas durações (desde
alguns segundos até algumas horas.

Percepção espacial

Assim como as durações, não possuímos um órgão específico para a percepção


espacial, mas as distâncias entre os objectos podem ser efectivamente estimadas. Isso
envolve a percepção da distância e do tamanho relativo dos objectos. A razão para
separar a percepção espacial das outras modalidades repousa no facto de que
aparentemente a percepção espacial é supra-modal, ou seja, é compartilhada pelas
demais modalidades e utiliza elementos da percepção auditiva, visual e temporal.

Assim, é possível distinguir se um som procede especificamente de um objecto visto e


se esse objecto (ou o som) está aproximando-se ou afastando-se. O lobo parietal do
cérebro representa um papel importante neste tipo de percepção.

Propriocepção

Propriocepção é a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua


posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo
em relação às demais, sem utilizar a visão. Este tipo específico de percepção permite a
manutenção do equilíbrio e a realização de diversas actividades práticas. Resulta da
interacção das fibras musculares que trabalham para manter o corpo na sua base de
sustentação, de informações tácteis e do sistema vestibular, localizado no ouvido interno
e responsável pelo equilíbrio.

O conjunto das informações dadas por esses receptores permitem, por exemplo, desviar
a cabeça de um galho, mesmo que não se saiba precisamente a distância segura para se
passar, ou mesmo o simples facto de poder tocar os dedos do pé e o calcanhar com os
olhos vendados, além de permitir actividades importantes como andar, coordenar os
movimentos responsáveis pela fala, segurar e manipular objectos, manter-se em pé ou
posicionar-se para realizar alguma actividade.

6. 7 Distúrbios ou alterações da percepção

São conhecidas como distúrbios da percepção as ilusões, as agnosias ( perturbação


grave da percepção que consiste na incapacidade de interpretar os dados) , as
alucinações ( perturbação da percepção em que há elaboração cognitiva de uma situação
na ausência de estimulação sensorial, percepção sem objecto) e alucinoses. O seu grau
de gravidade é variável. As alucinações podem nalguns casos ser causadas por lesões
nos órgãos receptores, nervos sensitivos e centros corticais. Tumores cerebrais ou meras
estimulações eléctricas no encéfalo, o uso excessivo de bebidas alcoólicas, produtos
químicos podem também provocar alucinações. Outra fonte de alucinações é a
esquizofrenia. É usual classificar de ilusões as distorções visuais embora não se
confinem ao domínio visual. As ilusões consistem num juízo erróneo sobre o valor de
um acto humano ou realidade a nível da intenção, dos meios e do fim procurando nem
que tal juízo tenha sido feito com razão sã. A experiência do dia a dia faz-nos, muitas
vezes, perceber que objectos de volume diferente, por exemplo uma bola de chumbo,
um paralelepípedo de madeira e uma caixa de cartão, de peso igual, podem ser
percebido com peso diferente. Podemos identificar as seguintes ilusões:

 Horizontal - vertical - as experiências feitas mostraram que uma linha


horizontal parece mais pequena que a vertical de igual tamanho. Esta ilusão
deve-se à forma do campo visual dos sujeitos, ou outras formas inerentes ao
organismo, relacionados sobretudo com os movimentos oculares.
 Ilusão lunar - temos o exemplo da lua cheia, quando nasce ao fim de um dia
quente de verão ( de Março). Apresenta-se como um grande círculo avermelhado
que decresce à medida que se eleva na atmosfera. A ilusão lunar deve-se a
indícios ambientais.
 Movimento aparente - a ilusão do movimento é devida, portanto, à percepção de
estímulos que se sucedem uns aos outros com regulares e adequados intervalos
de tempo. É exemplo a técnica que se usa no cinema, constituindo na projecção
com ínfimos intervalos de tempo, de um conjunto de imagens fixas, cujo
resultado é dar-nos a impressão de um único quadro movente.

1. PERSONALIDADE

10.1 Conceito
A origem da expressão “ Personalidade” remete-nos para persona, termo latino
que significa máscara utilizada no teatro grego para representar as emoções dos actores.
- É o elemento relativamente estável da conduta de uma pessoa, a estrutura que subjaz à
constelação das características de cada um de nós. É o que nos torna unos e únicos,
distinguindo-nos de todos os outros.

Quando nos referimos à personalidade de alguém, temos em conta os seus


sentimentos, emoções, pensamentos, atitudes, comportamentos, motivações, tomadas de
decisão, projectos de vida. Falar de personalidade é também falar do sentido que a
pessoa dá às diferentes ocorrências e experiências da sua vida. Falar de personalidade é
ainda falar de comunicação e de relações interpessoais, de comportamento social. A
personalidade envolve a totalidade da pessoa.

A personalidade é um conceito que apela para o individuo, para a sua unicidade, no que
há de mais nuclear e específico em sim mesmo, mas, também, para a sua diferenciação,
no que há de distintivo dos outros. A personalidade permite que nos reconheçamos e
sejamos reconhecidos. A personalidade representa uma fidelidade, uma continuidade,
uma consistência de formas de ser e estar.

Personalidade – Pessoa – Carácter – Temperamento

A personalidade permite distinguir no homem que actua aquilo que faz com que seja um
homem e o que faz com que seja aquele homem.

A pessoa designa um individuo concreto. A personalidade distingue-se da pessoa ao


designar o conjunto de esquemas que organizam o comportamento do indivíduo.
A personalidade é muitas vezes confundida com o carácter. Este designa as
componentes instintivo-afectivas da personalidade, enquanto que a própria
personalidade engloba não só características de carácter (agressividade, jovialidade)
mas também aptidões cognitivas (imaginação e inteligência) e físicas.

Quanto ao temperamento, remete prioritariamente para as componentes fisiológicas


hereditárias. Portanto, não é mais que um aspecto da personalidade.
- A personalidade assegura a continuidade do comportamento.
A natureza da sua constituição ou estrutura, numa linguagem mais moderna, e a
possibilidade de classificação em tipos tem sido a regra da maioria dos estudos sobre
este tema.
Segundo Alport, um dos maiores estudiosos da personalidade humana, a
personalidade pode ser definida como «a organização psicodinâmica dos sistemas
psicofisicos do indivíduo que determinam o seu comportamento e pensamento
característico».

Este conceito abrange o conhecimento de um conjunto de características psicofísicas


humanas como: a consciência e perfil das actividades eléctricas do cérebro, o modo, a
capacidade ou potencial de reacção a estímulos internos e externos, padrões de
organização do sistema nervoso autónomo ou emotividade, padrões de actividade do
sistema nervoso central e/ou inteligência, o perfíl bioquímico da constelação
hormonal do sujeito, identificando sobretudo variantes não enquadradas na nosologia
(patológico), psiquiátrica ou psicopatológica, discriminando, por exemplo, a
interferência de alterações epilépticas do lobo temporal de impulsos homicidas de
natureza voluntária circunstancial ou habitual.

Jacques Lacan, num dos seus primeiros trabalhos publicados, aborda a


personalidade como:
 Um modo de desejos, necessidades e crenças;
 O desenvolvimento biográfico;
 A organização de reacções psico-vitais: concepção de si
mesmo/responsabilidade pessoal/tensão nas relações sociais.

O conceito personalidade tem assim uma multiplicidade de definições, ou


seja, torna-se difícil dar uma só definição: (Exemplos:)
“A questão da personalidade recebeu tantas respostas que se pode considerar uma
questão sem resposta”.
 “Um padrão de acções” - (Catell, 1963)
 “Formas relativamente estáveis, características do indivíduo, de pensar,
experimentar e compor-se.” - (Rotter, 1954)
 “A personalidade é constituída pelos modelos de comportamento distintos,
incluindo os pensamentos e as emoções, que caracterizam a adaptação de
uma pessoa às exigências da vida.” - (Rathus)
 “A personalidade é a totalidade psicológica que caracteriza o homem em
particular.” - (Meili)

10.2 Natureza da personalidade

A personalidade é uma construção pessoal que decorre ao longo da nossa vida, é uma
elaboração da nossa história, da forma como sentimos, representamos e interiorizamos
as nossas experiências; ela acompanha e reflecte a maturação psicológica e esta avalia-
se por características da personalidade como a autonomia, o autocontrolo, a capacidade
de comunicação interpessoal, a expressão das ideias e dos afectos, e a construção de
projectos de vida. O processo de maturação obtém-se através dos conflitos, gratificações
afectivas, frustrações, realizações, crises… com que nos confrontamos.

A personalidade não se pode isolar de aspectos pessoais como a dimensão fisiológica,


emocional, intelectual, socio-moral, não sendo também independente da consciência e
da representação de si, que cada um tem, da sua auto-estima. A personalidade é assim
um processo dinâmico, uma construção contínua em que intervém diferentes factores.

Factores gerais que influenciam a Personalidade

São três os factores que influenciam a personalidade, eles estão relativamente


interligados, embora a influência desses factores seja diferente nos diferentes indivíduos
e nas diferentes fases da vida
- Influências hereditárias
- Meio social
- experiências pessoais

Hereditariedade – o património genético do indivíduo define-se na sua singularidade


morfológica, fisiológica, sexual (ser homem ou mulher). Na determinação do
temperamento estão as variações individuais do organismo, concretamente a
constituição física e o funcionamento dos sistemas nervoso e endócrino, que são em
grande parte hereditários. Indivíduos com disfunções no sistema nervoso e/ou endócrino
sofrem diversas perturbações que se reflectem na personalidade.
O estudo dos gémeos – um dos métodos usados para analisar o papel da
hereditariedade – demonstrou que na generalidade, é nas características da
personalidade que a semelhança é menor, em comparação com as semelhanças físicas e
intelectuais.

Meio Social – o meio social – família, grupos e cultura a que se pertence –


desempenham um papel determinante na construção da personalidade. A personalidade
forma-se num processo interactivo com os sistemas de vida que a envolvem: a família, a
escola, o grupo de pares, o trabalho...
Uma personalidade é marcada por todo o processo de socialização, em que a
família, sobretudo nos primeiros anos, assume um papel muito importante, pelas
características e qualidades das relações existentes e pelos estilos educativos. O tipo de
ambiente e o tipo de clima vivenciados (gratificante, hostil, violento, harmonioso)
também influenciam a personalidade.

Experiências pessoais – as experiências pessoais abarcam as vivências de cada um


influenciando a sua personalidade. Assim, os acontecimentos, as experiências vividas –
positivas ou negativas – afectam a personalidade ao longo de toda a vida.
Atribui-se cada vez maior importância aos estádios do desenvolvimento emocional da
infância na construção da personalidade. A qualidade das relações precoces e o processo
de vinculação na relação mãe-filho parecem ser fundamentais na estruturação e
organização da personalidade.
A complexidade das relações familiares vai influenciar as capacidades cognitivas,
linguísticas e afectivas, os processos de autonomia, de socialização, de construção de
valores das crianças e jovens.
Os psicólogos dizem ser entre os 2 e os 3 anos que começam a surgir
manifestações de afirmação do ego – personalismo. Esta é uma fase em que a criança
procura normalmente afirmar-se e exercer poder sobre a família, o que frequentemente
acontece pelo negativismo (diz não, opõe-se às ordens…).
É interessante relacionarmos o facto de nesta idade ela empregar, na linguagem o
pronome eu em vez de se referir a si na terceira pessoa. Esta fase de afirmação
corresponde também ao período edipiano na teoria psicanalítica
Na construção da personalidade outra etapa-chave é adolescência, com a
formação da identidade pessoal e psicossocial.
Ocorrências e acasos (mortes, mudanças de terra, violação, doenças graves) são
experiências que marcam a personalidade do indivíduo. Mas o sentido que lhes
atribuímos, o modo como conseguimos (ou não ) superá-las e integrá-las na nossa vida
são também reflexo da própria personalidade.

10.3. Distúrbios da personalidade

Para os profissionais da saúde (médicos psiquiatras e psicólogos), na sua


generalidade, a palavra personalidade corresponde a padrões persistentes de
comportamentos, pensamentos e sentimentos que as pessoas seguem durante a vida. É
óbvio que a maneira como as pessoas se comportam depende de inúmeros factores. Os
traços mais profundos e persistentes da personalidade, aqueles que nos caracterizam
durante a infância até ao fim da vida e que dificilmente conseguimos modificar, apesar
de todas as circunstâncias que vamos vivendo são aqueles que adquirimos
geneticamente.

Por exemplo ser-se emocionalmente estável ou instável poderá estar condicionado pela
actividade do tipo do sistema nervoso simpático que herdámos (e como se sabe este
sistema controla a tensão arterial, a frequência cardíaca, a respiração, etc.), embora
possam existir factores de má orientação psíquica que provocam situações emocionais
semelhantes. Outros aspectos da nossa personalidade são modelados por acontecimentos
externos e resultam sobretudo da nossa aprendizagem e adaptação ao mundo externo.
Segundo o grande psicólogo e profundo pensador Carl Jung, a personalidade saudável
é aquela que consegue o equilíbrio entre o consciente e o inconsciente, entre a vida
interior e exterior. Mais do que qualquer outra escola psicológica, a psicologia
analítica de Jung busca a unidade do indivíduo no mais profundo de si mesmo, com
uma técnica que conduz à individuação. A personalidade saudável é "Una" e
dependemos em proporções angustiantes de um funcionamento pontual do nosso
psiquismo inconsciente, dos seus referentes e das suas falhas ocasionais.

Portanto, a personalidade de cada indivíduo apresenta traços próprios, ou seja, modos


originais de perceber e reagir ao mundo exterior, que se repetem em múltiplas situações
ao longo da sua vida que de certo modo o individualizam e o distinguem das outras
pessoas. É só quando esses traços da personalidade se acentuam demasiado, tornam-se
incoerentes, inflexíveis, desadaptados à realidade habitual, prejudicando o bem-estar
pessoal, familiar ou social do indivíduo, apresentando até formas diversas de actuar
perante as mesmas situações, é que se considera que há um distúrbio de personalidade.

Diz-nos Jung: «Uma personalidade é um todo vivo e individual, único e autómato,


que se vai construindo a partir do nascimento, por uma integração dinâmica de factores
orgânicos, intelectuais, éticos, afectivos e sociais».
A personalidade na sua origem supõe, desde logo, a ideia de uma pessoa que não
deixa de ser o que é, que é a mesma no espaço e no tempo, que mantém a identidade
para consigo e a diferenciação para com os outros. Quando se fala de personalidades
fortes e personalidades fracas, refere-se, a que as primeiras são pessoas de
comportamentos solidamente não contraditórios, e as personalidades fracas são pessoas
de comportamentos bastante irregulares.

É interessante saber que podemos relacionar a personalidade à saúde física, pois a


“personalidade é para a psicologia analítica a totalidade dos atributos psicológicos”,
resultando dos distúrbios psíquicos vários psicossomáticos. Um estudo efectuado nos
anos 60 diferenciou personalidades de tipo A das personalidades de tipo B. Mais tarde,
profundas investigações concluíram que pessoas com personalidade de tipo A
(ambiciosas, agressivas, impacientes) eram mais propensas a ataques cardíacos que as
de tipo B (mais passivas, flexíveis e depressivas). Posteriormente procurou-se a
“característica tóxica” de tipo A, e concluiu-se que a hostilidade, os ressentimentos,
rancores, o cinismo, a falsidade, a inveja, o egocentrismo, o egoísmo são as principais
toxinas do tipo da personalidade A.

O paradigma de tipo A é referenciado o executivo masculino, de nível elevado, no


apogeu da carreira, entre os 40 e cinquenta e poucos anos. Este é o mais significativo
referencial do tipo da personalidade A, mas não é exclusivo. Na massa humana que
abunda no planeta há muito mais e em muitas mais situações tipos de personalidade de
tipo A.

Quanto a possíveis ligações entre a personalidade e as doenças, investigações recentes


têm trazido resultados diversos, e provas de que os indivíduos possuidores de certos
traços neuróticos da personalidade como a ansiedade, as angústias que tanto torturam, o
pessimismo, a hostilidade, a rigidez com intolerância e inflexibilidade, a insociabilidade
têm fortes probabilidades de adoecer com certa gravidade aos quarenta e poucos anos.
Esta ligação não se dá com nenhuma doença específica, mas com a falta de saúde em
geral, salientando-se as mais correntes psicossomáticas: asma, úlceras pépticas,
enxaquecas e doenças cardíacas e cardiovasculares.

10.4 Teorias da personalidade

As teorias da personalidade constituem tentativas para descrever e explicar o


modo como os indivíduos se distinguem no seu estilo geral de comportamento, na sua
personalidade. Estas teorias, para além de propor quadros explicativos da personalidade,
procuram prever o comportamento futuro dos indivíduos, e em muitos casos prescrever
o tratamento de algumas perturbações. Cada uma das teorias dá uma visão particular da
personalidade.
 Teoria psicanalítica de Freud perspectiva a personalidade como dominada
pelas pulsões inconscientes.
 Teoria Psicossocial de Erikson- enfatiza o conceito de identidade
 Teoria da aprendizagem social de Bandura considera que a personalidade
se constrói por processos de aprendizagem social com influência do meio e
dos modelos sociais bem como de factores sociais.
 Teorias Humanistas representadas por Carl Rogers, cuja concepção se
centra na pessoa e por Abraham Maslow que alicerça a sua teoria na
hierarquia das necessidades, enfatizando a necessidade de auto-realização
 Teoria das necessidades psicológicas de Murray centrada na análise
individual.

A psicanálise

 A psicanálise é um corpo teórico explicativo da estrutura psíquica, da


vida mental e afectiva e um processo terapêutico das perturbações da
personalidade.
Freud compara o psiquismo humano a um icebergue: a parte consciente da
personalidade corresponde a parte visível; sendo constituída por imagens, lembranças,
ideias que se podem evocar e conhecer. Pré-consciente faz a ligação entre o consciente
e o inconsciente e corresponde, na imagem do icebergue, uma zona flutuante de
passagem entre a parte visível e a oculta e que varia o seu grau de emersão/ imersão.
Contudo, a parte submersa, que não se vê do icebergue é a maior e corresponde ao
inconsciente, cabendo-lhe um papel determinante no comportamento.

Este histórico pensador austríaco e psicanalista considera três elementos fundamentais


na estrutura da personalidade, cujo funcionamento se acha estreitamente inseparável,
formando assim, um todo único, sem o qual a personalidade não pode aparecer humana:
ID ou ELLO que representa todos os instinto. EGO ou Yo ou ainda EU como elemento
reconciliador entre o ID e o SUPER- EGO SUPER-EGO ou SUPER-YO ou ainda
SUPER- EU que representa o conjunto de normas sociais aprendíveis pelo indivíduo.

A psicanálise é um corpo teórico explicativo da estrutura psíquica, da vida mental e


afectiva. E um processo terapêutico das perturbações da personalidade. Esta teoria vai
centrar a explicação do comportamento em factores energéticos e internos à própria
pessoa, apresentando assim uma perspectiva intrapsíquica do funcionamento humano.
A personalidade é orientada por forças pulsionais, marcadas pelo inconsciente, e por
uma grande importância atribuída à infância e às relações de objecto.
A experiência clínica de Freud levou-o a valorizar os primeiros anos de vida e a
compreender como o acesso ao mundo inconsciente (das pulsões, desejos, conteúdos
reprimidos) explica as perturbações neuróticas. Numa segunda tópica, personalidade,
comportamentos, fantasias, crenças, opções de vida… são explicados pela dinâmica
entre as instâncias do aparelho psíquico – id, ego e superego – que se formam ao longo
do desenvolvimento psicossexual.

Para Freud, os princípios fundamentais que regem a vida psíquica são:


 O princípio do prazer  que visa a realização imediata dos desejos, rege o
inconsciente e o id. O princípio do prazer entra em conflito com a zona
consciente, dominada pelo princípio da realidade, já que, de acordo com aquele
princípio, o sujeito deverá lutar pela satisfação pulsional.

 O princípio da realidade  que domina a vida consciente e corresponde à


necessidade de adaptação ao real social, visa um comportamento controlado,
adequado às exigências desta. O ego, regido por este princípio e tendo em conta
as exigências do superego, vai avaliar quais as pulsões do id que podem ou não
ser satisfeitas.

 O princípio da idealidade – SUPEREGO: surge após a resolução do Complexo


de Édipo (cerca dos 5 anos) – a sua resolução é condição necessária ao
desenvolvimento do equilíbrio e à maturação psíquica -, e vai impor ao Ego
valores morais e regras socio-culturais, levando-o a viver conflitos,
ambivalências, sofrimentos, mas também orgulho e bem-estar consigo próprio.

Através dos princípios do prazer e da realidade, Freud pretendeu explicar alguns


processos psíquicos da personalidade como conflitos, fugas e defesas, mas também
desejos, expectativas e ambições.

Na sua concepção, Freud distingue entre dois tipos de pulsões:

- As pulsões de vida – Eros - agrupam as pulsões de auto-conservação


que visam a manutenção do indivíduo e as pulsões sexuais.
- As pulsões de morte – Thanatos – agrupam as pulsões de morte ou
destrutivas, que explicariam as tendências agressivas ou de ausência total de tensões
(Nirvana)

Os indivíduos na vida tendem para a acção imediata da realização do Eros, embora


também aspirem a não ter tensões, isto é, o regresso ao inorgânico (a realização do
Thanatos).

A personalidade, na perspectiva freudiana, é fortemente determinada pelos impulsos


sexuais e centrada no desenvolvimento piscossexual, que se faz através de vários
estádios, nos quais há a prevalência de diferentes zonas erógenas, ou seja, partes do
corpo cuja estimulação pode produzir uma excitação sexual. (boca e lábios no estádio
oral; região anal no estádio anal; órgãos sexuais no estádio fálico; no estádio de latência
a criança esquece a sexualidade anterior, havendo uma diminuição do interesse
libidinal.

Na puberdade – estádio genital – a sexualidade reaparece, focalizada nas zonas erógenas


genitais, procurando a satisfação nas relações com o outro).
Os entraves à satisfação pulsional podem levar a uma fixação, isto é, a que uma
parte da energia pulsional fique bloqueada em determinado estádio de desenvolvimento.
As características da personalidade de cada indivíduo resultariam de características
inatas, das relações de objecto que estabelece, das formas de resolução de conflitos
intrapsíquicos e dos mecanismos de defesa que privilegiou.

 Teoria psicossocial

Erikson, um psicanalista, perspectiva o desenvolvimento da personalidade não em


termos da psicossexualidade, mas numa perspectiva psicossocial, ao longo de toda a
vida, através das oito idades do ciclo da vida. O conceito central da sua teoria é o de
identidade. A identidade está relacionada com o sentimento pessoal de se sentir como
um ser único, integrando o passado e antecipando um futuro; dando um sentido
histórico à existência.
Constrói-se tendo em conta as representações feitas sobre nós, bem como as interacções
e os confrontos entre as representações que os outros fazem de nós e as que nós fazemos
de nós próprios. Os aspectos culturais, o meio psicossocial, as influências educativas
vão intervir num desenvolvimento predeterminado reforçando, bloqueando, inibindo,
estimulando.

A personalidade (entendida pelo conceito de identidade), tem em conta a dimensão


biológica, social e individual. Os contextos sócias de vida podem ou não facilitar a
construção da personalidade: .
Erikson refere ainda a necessidade, no processo de formação de identidade, da pessoa se
poder confrontar com varias alternativas, pois este processo implica ser:
a. como todas as outras pessoas
b. como algumas outras pessoas
c. como nenhuma outra pessoa
Isto é, a singularidade pessoal (nenhuma outra pessoa) é banhada pela identificação com
o grupo social de pertença (todas as outras pessoas), mas cada um faz as suas opções,
isto é, escolhe determinados indivíduos como modelos (algumas outras pessoas)

A identidade forma-se numa continuidade que une as diferentes transformações


num processo cumulativo de desenvolvimento. As oito idades do ciclo de vida – do
nascimento à morte – são atravessadas por uma crise bipolarizada numa vertente
positiva e numa vertente negativa. A forma, positiva ou negativa, como se supera a
problemática conflitual tem em conta o passado e terá repercussões nos estádios futuros.

A fase fulcral no processo da construção da identidade era, para Erikson, a quinta idade
(Identidade vs Confusão – entre os 12 e os18/20 anos). A adolescência, devido às suas
grandes potencialidades, com novas características pulsionais, cognitivas, emocionais e
corporais permite formular avaliações, reelaborar o passado e “organizar o futuro” com
opções de formas de ser, pensar e viver.

 Teoria da aprendizagem social

As correntes behavioristas tradicionais enfatizam a acção do meio e dos


processos de aprendizagem no comportamento, minimizando as variáveis internas e
pessoais: a personalidade e o comportamento do individuo eram produto da influencia
do meio.
Para os comportamentalistas, a personalidade é o mediador entre a situação e a
resposta, não estando em jogo os sentimentos e os desejos. A personalidade é encarada
como o produto da acumulação das aprendizagens por condicionamento que ocorreram
ao longo do tempo.

A teoria da aprendizagem social mantém a preocupação em assegurar a objectividade


das suas pesquisas através do estudo do comportamento observável. Apesar de
enfatizarem a importância do meio, os teóricos da aprendizagem social, como Bandura,
vão valorizar as variáveis pessoais: expectativas, valores, competências e aptidões,
hábitos culturais.
O comportamento é produto da interacção entre as variáveis da situação (que incluem os
comportamentos dos outros) e as variáveis pessoais.

No processo de aprendizagem as pessoas não têm um papel passivo: influenciam e são


influenciadas pelo meio; afectam e são afectadas pelas situações. É neste processo de
interacção contínua que a pessoa se modifica e modifica o meio de acordo com as suas
competências, expectativas, experiências, projectos. O comportamento do individuo não
é determinado de forma mecânica e fatal pelo meio, ele também tem capacidade de
regular o seu comportamento. A esta influencia mútua entre a pessoa e o meio Bandura
dá o nome de determinismo recíproco.

A personalidade não é inata nem apenas determinada pelo meio: é no jogo das
interacções entre os diferentes factores e variáveis que se podem compreender o
comportamento actual das pessoas. Em todo este processo assume particular
importância a aprendizagem por modelação: o indivíduo aprende observando modelos
como os pais, adultos significativos, colegas e amigos.

 Rogers e a abordagem centrada na pessoa


Rogers é um humanista, acredita na capacidade natural de auto-realização do
indivíduo.
Opõe-se à ideia da pessoa como ser irracional, dominado pelas pulsões e com
dificuldades de autocontrolo. Para ele, a pessoa tenta racionalmente organizar a sua vida
para atingir os objectos pretendidos.

A personalidade é positiva, racional e realista. A pessoa é autónoma e capaz de se


desenvolver, se afirmar, se autodirigir e desfruta de um potencial de crescimento
pessoal e de uma orientação positiva.
Para isso o papel do psicoterapeuta (educador, etc...) é o de facilitar através de alguns
pressupostos básicos no intuito de colaborar para que a pessoa possa buscar em si
própria a sua direcção. Ser aquilo que se é, é o que a Abordagem Centrada na Pessoa
procura ajudar o outro a ser, pois aceitando-se, a pessoa cria em si condições para
repensar e caminhar em direcção ao seu crescimento.
A teoria da personalidade rogeriana baseia-se numa racionalidade centrada na pessoa e
no seu potencial de crescimento, na sua capacidade de auto-realização. A pessoa tem
competências que lhe permitem conhecer-se, aceitar-se e transformar-se. Assim, vai
resolver problemas, avaliar-se a si própria e às situações e orientar racionalmente a sua
vida. A pessoa deve atingir o “sentimento positivo de satisfação consigo mesma”. Tem,
pois, uma capacidade de auto-regulação.

Os problemas da personalidade são, em grande parte, incongruências entre a auto-


imagem, o auto-conceito e a realidade. A pessoa deve saber integrar a experiência no
conhecimento de si própria, evoluindo com confiança, realizando-se. A abordagem
centrada na pessoa deve facilitar o processo de mudança do sujeito criando as
condições psicológicas através da relação interpessoal, de autenticidade, aceitação e
empatia.

Um clima “facilitador do crescimento” deve ter estas três condições:

1. Autenticidade  é uma atitude de abertura ao outro, com expressão dos


sentimentos. Ser-se autêntico é ser-se com transparência. A autenticidade
implica a necessidade da congruência entre o comportamento, o pensamento e as
emoções.
2. Aceitação  é uma atitude de “consideração positiva incondicional”, que se
baseia numa atitude de atenção, de procura de compreensão sem crítica nem
julgamento. A pessoa precisa de ter confiança em si e de se sentir aceite pelos
outros.

3. Empatia  é uma atitude afectiva e compreensiva de comunicação interpessoal.


Procura-se a compreensão da pessoa e do seu mundo interior, como ele próprio o
entende. A compreensão por empatia exige que sejamos capazes de nos
descentrarmos para entendermos o outro do seu ponto de vista.
A compreensão por empatia exige entender o outro do seu ponto de
vista.

 Maslow e a teoria da auto-realização

Para este autor, é a hierarquia das necessidades – a pirâmide de Maslow – que


estudaste no capítulo sobre a motivação, que está na base da sua teoria da personalidade.
A motivação é o motor da vida das pessoas, sendo a personalidade marcada pelos
diferentes itinerários percorridos pelo indivíduo à medida que as necessidades são
satisfeitas.

“Segundo Maslow, os indivíduos auto-realizados:

 Percebem a realidade de modo preciso;


 Aceitam-se a si próprios, aos outros e ao mundo;
 São espontâneos e despretensiosos;
 Centram-se mais nos problemas do que em si próprios;
 Valorizam a solidão;
 São autónomos;
 Reagem com respeito aos mistérios da vida;
 Têm experiências fortes;
 Identificam-se com a Humanidade;
 Têm relativamente poucos amigos, mas levam-nos a sério;
 Partilham valores democráticos;
 Têm um forte sentido ético;
 Têm sentido de humor sem hostilidade;
 São criativos;
 Resistem à inculturação.

Maslow considera que as pessoas só podem desenvolver a sua criatividade se as


necessidades básicas estiverem relativamente satisfeitas. A produção artística e
científica não resultaria assim do direccionamento das energias recalcadas –
fundamentalmente de natureza sexual – para fins mais elevados.

 Murray e a Teoria das Necessidades Psicológicas

Murray vai considerar que só a análise aprofundada do indivíduo, enquanto pessoa,


pode conduzir ao estudo e conhecimento da personalidade. O carácter único da
personalidade leva-o ao estudo aprofundado de casos individuais. Para isso, recorrem a
vários meios: análise de dados biográficos pormenorizados, observação directa do
comportamento dos sujeitos, entrevistas efectuadas por diversos investigadores.

Para estudar a vida do indivíduo, eram analisados vários itens: o desenvolvimento na


infância, as experiências e recordações mais significativas, a história escolar do
indivíduo, as suas relações familiares e escolares, o desenvolvimento sexual, as
capacidades e interesses, os valores éticos e estéticos perfilhados.

Na sua teoria, que o autor designa por personalogia, destacam-se dois conceitos:
necessidades e pressão.

Necessidades

A necessidade é uma força que pode ter origem no interior ou no exterior da pessoa,
organiza e orienta os mais diferentes processos psicológicos: a memória, o pensamento,
a percepção, a acção. Isto é, as necessidades organizam o modo como as pessoas
percebem, sentem, pensam, recordam e se comportam.
Murray identificou 12 necessidades viscerogénicas, isto é, primárias ou orgânicas e 18
necessidades psicogénicas, secundárias ou psíquicas. As primeiras estão relacionadas
com a sobrevivência: necessidade de ar, de oxigénio, de alimento, etc.

As necessidades psicogénicas, que derivam das necessidades primárias ou orgânicas,


podem em determinados momentos, inclusive, superá-las. Isto significa que nem todas
as pessoas vivem as necessidades do mesmo modo: há necessidades que podem dominar
a vida de uma pessoa e ser só relativamente sentidas por outras.

Murray considerou que certas necessidades se manifestam abertamente dado serem


aceites pela sociedade. Designa-as por necessidades abertas. Outras necessidades não
se podem exprimir em determinado contexto sociocultural, sendo reprimidas, inibidas.
São o que designa por necessidades latentes que, mantendo-se inconscientes, se
manifestam nos sonhos, nas fantasias, em sintomas neuróticos, etc.

Nalguns casos, as necessidades fundem-se, realizando-se na mesma actividade ou


objecto. Contudo, é frequente surgir um conflito quando duas necessidades apresentam
forças iguais ou semelhantes, originando assim um estado de tensão.

Pressão:

Intimamente relacionado com o conceito de necessidade está o de pressão. A pressão


pode ter origem num objecto ou pessoa do meio que facilita ou dificulta a satisfação de
uma necessidade.

As necessidades exprimem-se num determinado meio ambiente, num contexto que


bloqueia ou permite a concretização de uma necessidade. Murray designa por tema-
unidade o padrão psicológico do indivíduo, que resulta da forma como ele organiza as
relações entre as suas necessidades e o contexto em que vive. É o tema-unidade que dá
continuidade à sua personalidade.

O desenvolvimento da personalidade:
A personalidade de uma pessoa é produto quer do seu passado – a sua história de vida
- , quer dos objectivos que aponta para o futuro.

Murray considera que a primeira infância tem um papel fundamental na formação da


personalidade: distingue cinco estádios que deixariam marcas na personalidade sob a
forma de complexos influenciando de modo decisivo o desenvolvimento normal do
indivíduo.

A teoria de Murray sobre a personalidade reflecte a influência da psicanálise e das


teorias humanistas, destacando-se o carácter interactivo e dinâmico das suas
concepções. Alguns críticos apontam a ausência de estudos empíricos que fundamentem
a sua teoria.

Uma das aplicações mais conhecidas da teoria das necessidades é a construção do TAT,
que é um dos testes projectivos mais utilizados em que se pretende a apreensão e
interpretação dos aspectos menos visíveis da personalidade: fantasias, desejos,
conflitos…

10.5 Particularidades da Personalidade. O homem possui um corpo e uma


alma ou espírito. O corpo é a parte material que compõe-se de células que formam os
órgãos e esses órgãos funcionam em forma de sistema e cada um tem a sua função
específica no organismo.
A alma ou espírito é a parte imaterial do homem e esta parte imaterial do homem
chama-se PSIQUE.
Na nossa vida quotidiana os fenómenos psíquicos produzem-se muitas vezes por
exemplo: sentir o cheiro de uma coisa, ver um avião a cruzar os céus, recordar umas
lembranças, reflectir para encontrar uma solução de um assunto ou problema, escutar
atentamente o mensageiro ou pregador, estar atento a explicação do professor, imaginar
que as perspectivas do futuro serão brilhantes, esforçar-se no estudo, ter necessidades…
estes são fenómenos psíquicos ou psiquismo. Estes fenómenos psíquicos manifestam-se
através dos fenómenos seguintes: sensação, percepção, memória, emoções, pensamento,
imaginação, atenção, sentimento, vontade, sonho, temperamento, necessidades.
Os fenómenos psíquicos do homem são estreitamente ligados com os seus actos
e actividades. Ex: o homem quer andar, mas ele não anda mecanicamente, anda com o
carro, ele sabe que está andar, é um fenómeno psíquico.
Há dois mundos: o exterior e o interior.
O mundo exterior: é constituído pelos objectos de ordem material que nos é
revelado pelos órgãos dos sentidos. Ex: a sala de aulas, a nossa casa, a lapiseira, a
roupa, o nosso próprio corpo.
O mundo interior: é constituído por sensações, imagens, desejos,
recordações… são nos revelados pela consciência. É destes fenómenos ou parte
imaterial do homem que estuda a Psicologia. Esses fenómenos são revelados por um
conjunto de reacções do organismo.

É uma mistura entre a consciência e órgãos dos sentidos, podemos concluir que o
objecto da Psicologia não pode ser só percebido pela consciência, mas também pelos
órgãos dos sentidos, é um misto de psíquico e fisiológico. Por isso é que nos países mais
desenvolvidos ao lado de médico está o psicólogo. Enquanto o médico trata o paciente
com medicamentos para procurar a sua cura, o psicólogo cuida o mesmo paciente para
velar os problemas psicológicos .
Se o paciente tiver problemas em casa com seu marido ou esposa, se a criança em casa
os seus pais estão sempre em brigas, se é problemas de ciúmes ou problemas de dívidas
ou outros problemas, a dor de cabeça que este paciente sentir, não passará com
paracetamol ou problemas de frustração provocada por um desejo que queria atingir, o
médico não vai conseguir curar o paciente, aí tem que entrar o psicólogo, senão ainda
pode esse paciente suicidar-se ou praticar homicídio.
O temperamento é uma particularidade psíquica íntegra que exprime a intensidade, o
ritmo, a velocidade da actividade psíquica do indivíduo e manifesta o tónus do acto do
gosto e a forma de falar do mesmo, isto significa que, através do temperamento, a
psicologia do indivíduo é susceptível de manifestar-se dum modo rápido ou lento,
normal ou anormal.

Papel do temperamento: o temperamento contribui na diferenciação dos indivíduos, pois


que, cada pessoa, possui uma individualidade própria, original e distinta.
Breve historial sobre o temperamento: Ampedócle (483-423 a.n.e.), considerava
o mundo formado por quatro elementos: “água”, a “terra”, o “fogo” e o “ar”. Para ele, o
elemento constitucional do sangue é o fogo, uma vez afastando-se este liquido do
organismo humano, fazia com que o mesmo se tornasse frio, dando sono ao homem.
Caso o fogo se apagasse, então o sangue tornava-se completamente frio, daí surgia a
morte do homem.

O ilustre médico grego Hipócrates (460-356 a.n.e. ), ao lidar com doentes que
padeciam de doenças semelhantes, constatou que ao ser aplicada a mesma dose de
medicamentos, cada um, manifestava uma forma peculiar e própria de reacção. Uns,
mantinham-se quietos, enquanto que outros saltavam gemidos.

Hipócrates considerava que existiam no homem, quatro categorias de humores


causadores de doenças: o sangue, a fleuma (líquido mucoso), a bílis amarela e a bílis
negra: Segundo este médico da antiguidade, cada humor tinha a sua própria
característica: o sangue que existe no coração é “quente”, dando calor ao organismo,
a fleuma que se situa no cérebro é “frio”, formando a parte fria do corpo. A bílis
amarela existente no cérebro, possui um aspecto “seco”, é a parte seca do corpo e a
bílis negra existente no estômago é “húmida”, é a parte húmida do organismo.

Assim em concomitância a estes quatro humores, eram produzidas as doenças. Ex: a


loucura segundo essa concepção, é devido à ausência da fleuma no cérebro.
Sobre o nascimento das qualidades no homem, Hipócrates e outros médicos da
antiguidade, consideravam que a diferença proporcional entre estes quatro humores, é
que determinava o estado do corpo, que era distinto em cada indivíduo. Assim, a
composição predominante ocupada por humor, era a que determinava a categoria do
estado do corpo.

Tal proporção da união dos referidos quatro elementos em grego chamava-se de


“krasis” que posteriormente se denominava pelos médicos romanos de temperamento.
Assim, o tipo de humor, mais predominante na proporção de união, determinava o tipo
de temperamento. O homem a quem predomina o sangue, é de temperamento
sanguíneo, àquele a quem predomina a fleuma , é de temperamento fleumático, os de
bílis amarela, são coléricos e os de bílis negra, são melancólicos.
TIPOS DE DE TEMPERAMENTO
 Temperamento Sanguíneo: expressa-se através da excitação e inibição,
é forte, equilibrado e móbil. Para este tipo de temperamento, é fácil
formar o reflexo condicionado e também destruí-lo.
Características positivas
O sujeito possuidor deste temperamento, é ardente, optimista, de rápido conhecimento.
Os seus sentimentos consubstanciam-se facilmente, é entusiasta, activo, afável, sociável,
aberto, adapta-se sem grande dificuldades às novas circunstâncias, reconhece facilmente
o seu próprio erro e também reconhece e aceita a crítica.

Características negativas
O sujeito possuidor deste tipo de temperamento é impaciente, por vezes
precipitado, manifesta sentimentos pouco profundos e de fácil alteração. A sua vontade
acha-se isenta da firmeza, ele desalenta-se facilmente.
Para esse tipo de temperamento, deve-se educar a paciência, perseverança e
encorajá-lo continuamente.

 Temperamento Fleumático: este tipo de temperamento expressa-se na forte


excitação e inibição, é equilibrado e não é móbil. É relativamente difícil formar
nele o reflexo condicionado e uma vez formado, também torna-se difícil destrui-
lo.
Características positivas:
É do tipo ardente, propenso à um rápido conhecimento, possui conhecimentos
relativamente profundos, é calmo, sério, enérgico, relativamente prudente, sem
precipitação, possui sempre um método em seu trabalho…
Características negativas:
O indivíduo é inerte (não é móbil), com um carácter difícil de ser transformado,
é hesitante, lento, de difícil concentração e mudança de atenção, não é firme, é
conservado, adapta-se lentamente ao novo meio, o seu aspecto exterior é aparentemente
desprovido de entusiasmo…
Para este tipo de temperamento, deve-se educar a capacidade de mobilidade e
adaptação. É conveniente fazê-lo participar num trabalho com carácter dinâmico.
 Temperamento Colérico – Este temperamento caracteriza-se aos
indivíduos irados ou cheios de cólera e caracteriza-se pela fácil recepção
e acomodação aos estímulos. Ele expressa-se através da excitação e
inibição fortes, mas não equilibrados, o que significa que a excitação é
mais forte que a inibição. Recebe facilmente os estímulos e assim
acomoda-se aos mesmos.
Características positivas:
Manifesta-se um conhecimento rápido, excita-se ou move-se, alegra-se
facilmente, é de sentimentos fortes, vontade firme, enérgico, corajoso face ao perigo, é
entusiasta, ardente, vivo aberto, é sincero…
Características negativas:
Possui um conhecimento pouco profundo, manifesta um fraco auto domínio , é
indisciplinado, geralmente é atrevido ou ousado, colérico, a sua emocionalidade reduz-
se rapidamente, assim também durante o dia ora irrita-se ora entristece-se, (ora chora
ora ri), falta-lhe auto protecção, é de decisões rápidas, é persistente na superação dos
obstáculos em alcançar o fim traçado.
Para este tipo de temperamento é necessário educar o auto domínio, paciência , o
espírito de disciplina, deve-se-lhe dar tarefas com carácter passivo, quando comete um
erro, deve-se aconselhá-lo utilizando as emoções e os sentimentos para persuadi-lo. Por
causa de ser atrevido, persistente em ultrapassar os obstáculos e em atingir as metas
traçadas Ivan Pavlov considera de bom lutador.

 Temperamento Melancólico - Este tipo de temperamento, expressa-se


na excitação e inibição débeis não equilibrados, sendo a inibição maior
que a excitação, torna-se muito difícil formar nele o reflexo
condicionado, mas uma vez formado, torna-se difícil destruí-lo. Um
estímulo de grande intensidade, é susceptível de transformar-se para ele
em estímulo ultra-limite, e como consequência pode produzir a inibição
ou interrupção da actividade (inibição ultra-limite). Assim, frente a um
estímulo fraco, ele sente-se forte, manifestando como tal uma certa
preocupação.
Características Positivas:
O indivíduo possuidor deste temperamento, pensa profundamente, possuí uma rica
capacidade de imaginação, daí que veja facilmente as dificuldades, é sério, prudente,
sem precipitações, possui sentimentos profundos e constantes, compreende facilmente a
situação dos outros e em condições normais é um bom trabalhador.

Características Negativas:
É tímido, inquieto, teme pela realização de uma nova acção, é utópico, possuí
uma capacidade de reacção lenta, é pessimista e fraco, é medroso ao enfrentar as
dificuldades, fechado e sem auto confiança, sempre céptico, sombrio, evita travar
conhecimento com as outras pessoas.
É necessário educar para este tipo de temperamento, o optimismo, a confiança
em si, dando-lhe tarefas dinâmicas evitando amedrontar-lhe ou criticá-lo bruscamente, é
necessário encorajá-lo continuamente.

Carácter social do temperamento


Apesar de que o temperamento tenha como base o sistema nervoso, portanto
uma base fisiológica, ele não está isento dum carácter social, uma vez que o homem,
vive num ambiente social, o tipo do sistema nervoso, pode modificar-se, tal como o
temperamento. Por exemplo: não existe o mesmo temperamento no sujeito, a quanto da
sua idade de criança e no estado adulto.
Educação do temperamento
Como acabamos de ver, existem quatro tipos fundamentais de temperamentos.
Em cada tipo existem certas vantagens e desvantagens.
Na educação deve-se ter como linha de acção: desenvolver constantemente o
lado negativo e aperfeiçoar também constantemente o lado positivo. A educação do
temperamento não significa transformação do temperamento em outro.

Na realidade, não existe um indivíduo, perfeita e completamente sanguíneo,


colérico, melancólico ou fleumático. Por outro lado, uma mesma pessoa, pode em
determinado ambiente manifestar-se como colérico, sucedendo o inverso num outro.
8- INTELIGÊNCIA

8.1 Definição de Inteligência


A palavra “inteligência” vem do latim intelligentia, que significa “compreensão”,
“faculdade de compreender”. A inteligência pode ser definida tendo em conta os
seguintes traços: - capacidade de adaptação a situações novas e resolução de problemas,
- capacidade de pensar abstractamente - capacidade de aprender. Estas três capacidades
– capacidade de adaptação ao meio, capacidade de pensar abstractamente e capacidade
de aprender - são indissociáveis, complementares, nenhuma delas pode ser analisada de
forma independente. Estão interligadas, constituindo diferentes tipos de inteligência. A
inteligência é um sistema complexo.
Durante muito tempo considerou-se que os seres humanos seriam dotados apenas de
uma inteligência conceptual e lógica.

Thorndike, na década de 20, chama a atenção para outros tipos de inteligência.


Distingue três tipos de inteligência que interagem de forma constante e construtiva
segundo o tipo de exigências a que estamos sujeitos.

Inteligência prática – tipo de inteligência que recorre a acções e representações


perceptivas para resolver problemas. A inteligência prática permite resolver, de
forma concreta, problemas práticos do quotidiano.

Por ex: a organização de uma festa implica a divisão e atribuição de tarefas.

Inteligência social – tipo de inteligência que se manifesta na vida relacional e social


e na resolução de problemas interpessoais, recorrendo predominantemente à
intuição. Por exemplo a capacidade de resolver ou gerir conflitos dentro de um
grupo sem ferir a sensibilidade de cada membro do grupo.

Inteligência conceptual ou abstracta – tipo de inteligência que se manifesta na


capacidade de resolver problemas recorrendo à linguagem e a outros sistemas
simbólicos. Manifesta-se em capacidades de compreensão, raciocínio, na resolução
de problemas e tomadas de decisão
Ex: exemplo de um conflito em que se envolvem crianças. O modo como este conflito é
resolvido pelos pais…
8.2 Inteligência e Instrumentos de Medida

A escala Métrica de Binet e Simon foi o primeiro instrumento a medir, através de


testes, as capacidades mentais. Os testes eram constituídos por questões e exercícios
sobre figuras, números, letras, palavras, em ordem crescente de dificuldade e variavam
de acordo com a idade. Por exemplo: se uma criança de 12 anos conseguisse responder
correctamente aos testes destinados às de 8 anos, dir-se-ia que a sua idade mental seria
de 8 anos; portanto, a criança apresentaria um “ atraso”.

O termo Quociente de Inteligência ( QI) é usado pela primeira vez por Stern, na
Alemanha, e retomado nos EUA por Terman que publica, em 1916, uma versão revista
do teste Binet- Simon. A nova versão passa a ser denominada por Escala Stanford-
Binet- nome da Universidade onde Terman leccionava.
O Quociente de Inteligência (QI) é a razão entre a idade mental (IM), avaliada pela
aplicação de testes, e a idade cronológica (IC). Para calcular o QI, Terman divide a
idade mental, obtida pela aplicação de uma bateria de testes, pela idade
cronológica multiplicando o resultado por 100.
Se a uma criança de 8 anos eu aplicar um teste que na realidade correspondesse a uma
criança de 12 anos, essa criança apresenta um QI alto “ acima da média”, mas se eu
aplicasse um teste de inteligência correspondente a uma criança de 5 numa de 8 anos, na
realidade significaria que esta última apresenta o QI baixo ou seja de uma criança de 5
anos.

QI = IM x100 QI= 5÷8×100= 62.5 Baixo


IC
Assim, por exemplo, uma criança de 10 anos com a idade mental de 12 anos tem
um QI de 12 ÷ 10 × 100 = 120. Neste caso, a criança teria um desenvolvimento da
inteligência avaliada acima da média, dado que o QI de 100 é considerado o valor
médio.

Exemplo: crianças retardadas mentais educáveis como possuidores de Q.I entre


50-75 segundo os especialistas afirmam que a medida em que o seu desenvolvimento
intelectual se aproxima de 8 a 12 anos de maturidade geralmente começam a possuir
capacidade de ser alfabetizados.
Os retardados mentais treináveis possuem o Q.I entre 30-50. Quando adultos, a
sua idade mental aproxima-se de 4 a 8 anos por isso espera-se que esses apenas possam
desenvolver habilidades elementares de cuidados pessoais…

ESCALA DE CLASSIFICAÇÃO DO QUOEFICIENTE DE


INTELIGÊNCIA (Q.I)
Excepcionais - acima de 140
Muito bons - de 120- 140
Bons - de 110 a 120
Normais - de 90 a 110
Lentos de Espírito ou retardados mentais moderados, severos ou simples -de 80
a 90
Zona de insuficiência com os lentos e débeis ( retardados mentais educáveis
severos)- de 70-80. Fronteira inferior da normalidade, abaixo de 70, encontra-se o
verdadeiro atraso mental. Débeis mentais ou Parvos (retardados mentais treináveis - de
50-70. Imbecis, ou retardados mentais profundos - de 20 a 50, quando adultos, só
poderão ter a idade mental de 4 a 8 anos. Idiotas estão abaixo de 20.

Limitações que se colocam à aplicação de testes de QI

São várias as limitações que se colocam à aplicação dos testes de inteligência:

A situação de avaliação é artificial podendo por isso afectar os resultados. Por outro
lado, o estado do sujeito no momento em que realiza os testes pode afectar os
resultados.

Os testes só avaliam determinadas aptidões e capacidades intelectuais. Sendo a


inteligência uma faculdade tão complexa, multifacetada e abrangente, os testes só
medem alguns dos seus aspectos.
A forma como os resultados dos testes são interpretados e utilizados podem conduzir a
deturpações especialmente se se partir do pressuposto fornecem de forma objectiva o
nível de inteligência de uma pessoa.

Os testes só podem ser aplicados aos indivíduos que se enquadram nas características da
população para a qual foram construídos. Quando esta norma não é respeitada os
resultados obtidos podem, por exemplo, prejudicar pessoas de origem e condição social
mais baixa podendo provocar levar à discriminação. No passado os testes de
inteligência não tinham em conta o contexto sociocultural dos indivíduos que os
realizavam. Ao serem utilizados incorrectamente, de forma redutora e abusiva
conduziram e justificaram a discriminação social e racial.

Uma das questões mais discutidas sobre a inteligência refere-se à sua


composição, à sua estrutura: é uma capacidade única, global, geral, ou é constituída por
capacidades que correspondem a aptidões específicas? Galton encarou a inteligência
como uma entidade singular e única; Binet considerava que a inteligência era
constituída por um conjunto de atributos (memória, fluência numérica, vocabulário,
etc.)

8.3 Composição da inteligência

 Concepção factorial (Spearman) (spirman) psicólogo inglês, desenvolveu


uma bateria de testes de vários tipos: de memória, de percepção, de fluência
verbal e de lógica. Aos resultados obtidos pelos sujeitos, aplicou um método
estatístico designado por análise factorial – defende a existência de uma
inteligência geral (factor G) que estaria subjacente a todas as funções
intelectuais, aos factores específicos ( factores S).

 Concepção multifactorial (Thurstone) desenvolve nos EUA, nos fins da


década de 30, uma concepção distinta da de Spearman – composta por vários
factores, negando assim a existência de um inteligência geral. Assim se
explicaria o facto de, por exemplo, uma pessoa ter a aptidão numérica muito
desenvolvida, resolvendo com muita facilidade problemas de matemática, e uma
fraca fluidez verbal, o que lhe trará dificuldades no domínio da linguagem.
Segundo Thurstone, a inteligência não é uma capacidade constituída por uma estrutura
única: é composta por vários factores que designa por aptidões mentais primárias
ligadas a tarefas específicas.
 Visualização espacial – capacidade de visualizar e compreender formas e relações
espaciais;
 Rapidez perceptiva – capacidade para reconhecer rapidamente pormenores,
semelhanças e diferenças entre objectos;
 Compreensão verbal – capacidade para compreender as ideias e significados expressos
através de palavras;
 Fluência verbal – capacidade para produzir e compreender rapidamente a linguagem
oral e escrita;
 Memória – capacidade para reter e recordar a informação;
 Raciocínio – capacidade para resolver problemas lógicos;
 Aptidão numérica – capacidade para resolver problemas aritméticos, fazer cálculos.

 Teoria das Inteligências Múltiplas – Howard Gardner- considera que


existem nove tipos de inteligência com regras de funcionamento próprias e que
actuam de forma independente – dai a designação de teoria das inteligências
múltiplas.

1. Inteligência linguística → aptidão verbal, mais concretamente, as


subtilezas de significado
2. Inteligência lógico matemática → aptidão para raciocinar
3. Inteligência espacial → aptidão para reconhecer e desenhar relações
espaciais
4. Inteligência musical → aptidão para cantar, tocar um instrumento,
compor música
5. Inteligência corporal – cinestésica → aptidão para controlar os
movimentos de forma adequada e harmoniosa, como dançar, fazer
atletismo, manipular e usar utensílios e objectos, etc.
6. Inteligência interpessoal → aptidão para compreender e responder
adequadamente aos outros.
7. Inteligência intrapessoal→ aptidão para se compreender a si próprio.
8. Inteligência naturalista → capacidade para reconhecer e distinguir as
plantas e animais.
9. Inteligência existencial → capacidade de colocar questões sobre os
grandes problemas da existência.

Para fundamentar a sua teoria das inteligências múltiplas, o psicólogo recorre a


exemplos de pessoas que apresentam atrasos graves em quase todas as áreas
intelectuais, mas que demonstram aptidões especiais, por exemplo, na arte. Na sua
opinião, todas as aptidões deveriam ser valorizadas.

8.4 Relação entre a inteligência e diversos factores.

 Hereditariedade – há uma componente genética na determinação da inteligência de um


indivíduo. Ainda que a informação hereditária não defina as capacidades intelectuais
de uma pessoa, estabelece os limites de desenvolvimento e a expressão destas
capacidades em interacção com o meio.

 Meio Social – o meio social é um factor que influencia, estimulando ou dificultando, o


desenvolvimento da inteligência. O meio, proporcionando condições para o
desenvolvimento físico, psicológico e social, tem um papel decisivo no modo como a
componente genética se manifestará. A família, a escola e o contexto social mais
alargado podem favorecer ou dificultar o desenvolvimento da capacidade de ser
inteligente. Assim, um meio que assegura as necessidades fundamentais e rico em
estímulos facilita o desenvolvimento das capacidades intelectuais. Os factores sociais
são determinantes na modelação do potencial genético que pode ser ou não
desenvolvido.

 Expectativas – os indivíduos têm tendência a responder de acordo com as


expectativas, positivas ou negativas, que são feitas pelas pessoas mais significativas:
família, professores e amigos. Se as expectativas são negativas as capacidades
intelectuais podem ser bloqueadas; se são positivas podem ser estimuladas. O que os
outros esperam de um indivíduo influencia a sua auto-estima e motivação, o que se
reflectirá na sua capacidade intelectual.

No decorrer deste capítulo, analisaste a forma como diferentes modelos explicativos


encaram as diversas dimensões intervenientes no comportamento intelectivo.
Guilford distinguiu pensamento convergente de pensamento divergente:

Pensamento convergente – é a existência de uma resposta ou conclusão que surge


como única: o pensamento é orientado em direcção a essa resposta que surge como a
melhor. É um pensamento dominado pela lógica e objectividade.

Pensamento divergente – é caracterizado por uma exploração mental de soluções


várias, diferentes e originais para um mesmo problema.

A criatividade está intimamente ligada ao pensamento divergente pois é a capacidade


que permite fazer algo de novo, lidar com uma situação de modo inédito e original.
Algumas características do pensamento criativo são:

1) A originalidade – produção de algo de novo, descoberta de novas soluções…


2) Fluidez – capacidade para imaginar e descobrir várias respostas para um
problema;
3) Flexibilidade – permite um pensamento versátil, flexível e a mudança de
estratégia na resolução de um problema.

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