A ciência é um empreendimento social multifacetado que desafia uma descrição completa. O produto acabado é um corpo de conhecimentos que foram adquiridos através do uso de métodos científicos aplicados com uma atitude científica. Diz-se frequentemente que a ciência procura fatos. Com uma frequência quase idêntica, também ouvimos dizer que a ciência implica desenvolvimento de uma teoria. As conotações usuais dessas palavras incluem um elevado grau de certeza para os fatos e um baixo grau para as teorias. Existem muitas maneiras legítimas de tentar conhecer e compreender o mundo. A maneira científica é apenas uma entre várias. O que é que distingue a ciência de outros tipos de atividade? A ciência tem muitas características e cada uma delas foi selecionada, em algum mo mento, como única, isto é, como exclusivamente peculiar da ciência. FINALIDADE. A finalidade geral da ciência consiste em proporcionar uma explicação objetiva, fatual e empírica do mundo. Está, pois, em contraste com os modos artístico, literário e religioso de pensar. OBJETO DE ESTUDO. Diz-se correntemente que a ciência tem um objeto de estudo que é diferente do que interessa à não ciência. Isto só é verdade em parte. Os cientistas são propensos a tratar de assuntos que se situam perto da zona de transição entre o saber e a ignorância. CONCLUSÕES. Tem sido dito que as conclusões da ciência são mais finais, mais corretas ou mais exatas do que as conclusões alcançadas por outras disciplinas. Os poetas, entre outros, podem indignar-se, por vezes, a tal respeito (Newman, 1957). O cientista só pode olhar para a frente, num contínuo processo de revisão dos fatos presentes.
Um psicólogo com uma inclinação filosófica disse isto
de uma forma admirável (Turner, 196 7 ) : "Cada novo avanço emite uma centelha de certeza e, depois, a certeza desaparece" ( pág. 7). PREVISÃO E CONTROLE. Diz-se, por vezes, que a ciência se distingue pela sua preocupação com a previsão e controle de acontecimentos.
A mãe, tanto quanto o psicólogo, procura prever e con
trolar o comportamento de crianças. Assim, esse gênero de controle não distingue a ciência da não ciência. TEORIA versus APLICAÇÕES. A ciência não está necessariamente interessada na teoria, como oposto às aplicações. Um cientista pode trabalhar exclusivamente com um ou outro desses aspectos, ou com ambos. TERMINOLOGIA. A terminologia do cientista não é necessariamente mais exclusiva ou mais rigorosa, em seu significado, do que a linguagem de outras pessoas.
Por vezes, os cientistas podem usar novas palavras
esotéricas e, outras vezes, dão novos significados a velhas palavras. EXATIDÃO. Afirma-se frequentemente que a exatidão e a precisão, especialmente na medição, distinguem o cientista.
Mas tampouco a exatidão e a precisão constituem
propriedades exclusivas dos cientistas. Contudo, acreditamos que a distinção essencial mais adequada entre ciência e não ciência é uma característica da metodologia científica.
É essa característica - o princípio de controle - a que
está mais próxima, entre todos os empreendimentos humanos, de pertencer exclusivamente à ciência. O controle é um método usado pelo cientista numa tentativa para identificar as "razões" ou "causas" do que ele observa ou, por outras palavras, para identificar as fontes de variação em suas observações. Uma teoria é um grupo de leis dedutivamente ligadas" Neste sentido, uma lei científica é uma hipótese que foi comprovada, que foi amplamente aceita e cujas implicações foram confirmadas sem falhas pela observação.
As nossas teorias psicológicas, infelizmente, nem
sempre consistem em leis; em psicologia, as hipóteses nem sempre são incorporadas às teorias mediante provas que as corroborem e, quando têm uma ligação dedutiva, é apenas no mais lato senso da palavra. Kuhn ( 1962) enfatiza um elemento muito importante que foi até aqui deixado de lado em nosso exame da ciência. A ciência normal, disse ele, progride mediante o trabalho que se desenrola dentro da moldura de um "paradigma". Um paradigma inclui leis e teorias que sugerimos serem partes importantes da ciência. Toda e qualquer ciência passa por uma fase mais primitiva durante a qual existem escolas concorrentes e nenhum paradigma se torna predominante. A psicologia pode estar atualmente nessa fase e, sem dúvida, esteve nessa fase no passado.
Acreditamos, com Kuhn, que o conceito de um
paradigma é importante para a compreensão do progresso da ciência. PROBLEMAS HERDADOS PELA PSICOLOGIA
O Problema Mente-Corpo
Se o homem tem uma mente e um corpo, então surge,
naturalmente, a seguinte pergunta: "Qual é a relação entre as duas partes?“ Theodor Fechner, começou a trabalhar no problema. Era sua intenção encontrar equações que descrevessem as relações funcionais entre os domínios psíquico e físico. Passemos agora do nosso exame dos desenvolvimentos científicos pré-psicológicos a um estudo dos primórdios da Psicologia.
Parece natural que a psicologia seja experimental,
fisiológica e interessada em problemas de sensação e percepção. Como nasceu da filosofia, também seria de esperar que se interessasse em problemas epistemológicos. A fisiologia desempenhou um papel direto muito pequeno. Embora Wundt chamasse à sua psicologia uma psicologia fisiológica experimental, não havia quase experimentação fisiológica de espécie alguma
Wundt era um fisiologista. Contudo, a psicologia
necessitava, primordialmente, do nome de fisiologia.
A fisiologia era frequentemente invocada para ilustrar
a respeitabilidade científica da psicologia. Wundt pôde justificar-se por não fazer experimentação fisiológica, em virtude da sua posição filosófica no problema mente-corpo. Ele acreditava que a mente e o corpo seguiam rumos paralelos mas que era impossível afirmar que eventos corporais causavam os eventos mentais; simplesmente, os acontecimentos externos davam origem a certos processos corporais e, ao mesmo tempo, a processos mentais paralelos. Ele pensava que a tarefa primordial da psicologia era descobrir os elementos dos processos conscientes, a maneira como interligavam e as leis que determinavam essa conexão.
Como a mente e o corpo seguiam rumos paralelos, a
maneira mais simples de realizar essa tarefa, segundo Wundt, era proceder a um estudo direto dos eventos mentais, através do método da introspeção. "Ciência da experiência consciente", assim descreveu sobre sua nova psicologia. Para ele o método de observação devia utilizar a introspecção para que se obtenha um melhor resultado, porque "somente o indivíduo que passa pela experiência é capaz de observá-la" (Schultz, 2016, p. 72). Tal método era chamado de Percepção Interna por Wundt. • Wundt incorporou à psicologia uma espécie de problema de dualismo. Também incorporou uma forte convicção na necessidade de empregar o método experimental.
• As suas pesquisas se baseavam na inrospeção em
laboratório. Ele pretendia excluir da psicologia a especulação metafísica. O laboratório de Leipzig, oficialmente fundado em 1879, também se encarregou de muitos problemas específicos que estavam aguardando uma psicologia. O problema do tempo de reação. Os problemas da sensação e percepção foram herdados de Helmholtz, Fechner e outros. Objeto de estudo da psicologia moderna
Não existe uma forma de definir o objeto de estudo da
psicologia de uma maneira que agrade a todos os psicólogos.
Em primeiro lugar, há um acordo praticamente universal
em que a psicologia estuda o comportamento do organismo.
A ciência (e a psicologia, como parte dela) estuda
relações. O que é, pois, que a psicologia estuda, em relação a reações? A resposta parece ser esta: "Quase tudo o que pode ser relacionado." Bessel interessou-se nas relações temporais entre estímulo e reação e iniciou os experimentos sobre o tempo de reação.
Uma rudimentar definição inicial de Psicologia poderia
ser esta: Psicologia é a ciência que estuda as relações entre acontecimentos ou condições, antecedentes, e o comportamento consequente dos organismos. Isto é, reconhecidamente, uma e definição muito ampla mas a Psicologia também se tornou um campo muito vasto. Uma definição mais estreita poderia separar, com maior clareza, a Psicologia do resto do corpo da Ciência, mas nós achamos que ela não deve ser separada.
Assim como, inicialmente, os fisiologistas se viram
estudando problemas psicológicos, também o psicólogo estuda problemas fisiológicos para entender melhor a psicologia.
Alguns dos primeiros estudos psicológicos eram
psicofísicos. São igualmente importantes e igualmente impressionantes as sobreposições no outro extremo da escala, com a sociologia e a antropologia. Felizmente, os psicólogos não dão provas de conhecerem a definição de sua ciência. Psicologia: e Uma Hierarquia da Ciência
A ciência do comportamento, que inclui a psicologia como
exemplo principal, está imediatamente interpolada entre as ciências biológicas e as ciências sociais.
Todas estas disciplinas se ocupam dos organismos vivos,
em diversos graus de relacionamento e de complexidade.
Se a psicologia tem suas raízes plantadas na biologia, as
suas regiões superiores estendem-se claramente pelo mais complexo domínio da ciência social. A hierarquia das ciências poderia ser igualmente disposta num círculo, em vez de se dispor ao longo de uma linha. Não pode ser traçada uma linha firme entre os cientistas puros e aplicados.
Os cientistas puros são pessoas interessadas,
primordialmente, na descoberta de novos fatos e no desenvolvimento de teorias, sem qualquer interesse imediato na sua aplicação. Os cientistas aplicados são pessoas que tem interesse imediato na aplicação dos conhecimentos. PROBLEMAS ESPECIAIS RELACIONADOS COM O OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA
Controles
Enfatizamos o fato de que o controle é essencial ao
desenvolvimento da ciência. Só através de medições adequadas podemos estar certos de que as relações presumidas entre variáveis são realmente válidas.
Fundamentalmente, a Psicologia não difere de qualquer
outra ciência no tocante à sua necessidade de controle. Tem na sua capacidade de impor os necessários controles, especialmente quando o objeto de nossa curiosidade é o comportamento humano.
É óbvio que existem limites às manipulações que
podemos efetuar com sujeitos humanos. Quantificação
A Psicologia ainda não foi tão bem sucedida quanto as
ciências mais antigas em suas tentativas de aplicar um tratamento matemático aos seus problemas.
Mas, importantes esforços estão sendo feitos e um
substancial progresso já foi conseguido nessa direção.
O objeto de estudo da Psicologia prestar-se-á à medição
tradicional e à matemática tradicional ou são necessários alguns sistemas simbólicos diferentes? Subjetivismo
A Psicologia envolve o estudo frequentemente de pessoas.
Parece ser mais difícil adotar atitudes científicas isentas de preconceitos em relação a esse objeto de estudo do que em relação a qualquer outro.
Dificuldade de aceitar a ideia básica de que o
comportamento humano possa ser cientificamente estudado. O próprio psicólogo tem dificuldade em conseguir objetividade, no que se refere ao seu domínio.
Os objetos de estudo psicológico parecem especialmente
receptivos à projeção das nossas próprias ideias. Complexidade
O grau de complexidade que se atribui a um objeto de
estudo pode depender da fase de desenvolvimento da ciência que se ocupa dessa matéria.
No começo, o objeto de estudo pode parecer simples.
Contudo, à medida que se coletam os fatos, os problemas desenvolvem-se e o campo começa a ter um aspecto bem mais complexo. O objeto de estudo da Psicologia parece ser mais complexo que o de muitas ciências.
O biologista poderia argumentar que o seu campo é
igualmente complexo nesse aspecto.
E o sociólogo argumentaria que o seu campo é ainda mais
complexo, pois a compreensão dos indivíduos seria presumivelmente necessária para entender o comportamento social. O argumento usual de que o objeto de estudo da Psicologia é mais complexo do que de outras ciências não assenta em bases completamente firmes.
Não obstante, os psicólogos estão de acordo em que o
objeto de estudo é suficientemente complexo para eles e alguns casos, confuso. A Psicologia não tem ainda o número suficiente de anos para resolver todos os seus problemas. A fraqueza que iremos encontrar nos seus sistemas e teorias existe, em parte, por essa razão. RESUMO E CONCLUSÕES
Muitas ideias científicas tiveram que se desenvolver
dentro da ciência antes que a Psicologia pudesse surgir: • explicação de um evento deve ser procurada dentro do mesmo sistema em que o evento ocorreu; • a observação é o árbitro da verdade científica e que o ser humano é uma parte da ordem natural; • o comportamento humano pode ser cientificamente estudado para determinar as leis que governam esse comportamento. A Psicologia herdou certos problemas, por causa da sua pré-história imediata, dentro da ciência e da filosofia:
• relação entre os aspectos mental e físico do ser
humano; • a explicação da fisiologia da percepção e dos conteúdos perceptuais; • a determinação da base para a descrição da equação pessoal; • a análise das diferenças individuais e da hereditariedade.
Os efeitos desses problemas sobre a psicologia experimental, tal
como foi concebida pelo seu fundador, Wilhelm Wundt, foram examinados sucintamente. A Psicologia herdou certos problemas, por causa da sua pré-história imediata, dentro da ciência e da filosofia:
• relação entre os aspectos mental e físico do ser
humano; • a explicação da fisiologia da percepção e dos conteúdos perceptuais; • a determinação da base para a descrição da equação pessoal; • a análise das diferenças individuais e da hereditariedade.
Os efeitos desses problemas sobre a psicologia experimental, tal
como foi concebida pelo seu fundador, Wilhelm Wundt, foram examinados sucintamente. O objeto de estudo da psicologia moderna foi definido em termos amplos e com certos problemas científicos:
• a dificuldade das condições de controle;
• problema da quantificação tornou-se mais difícil; • objeto de estudo dispõe o psicólogo ao subjetivismo e o mesmo objeto de estudo cresce em complexidade.
Estes problemas não são exclusivos da Psicologia mas
parecem agravar-se nela. REFERÊNCIAS
MARX, M; HILLIX, W. Sistemas e teorias. In: ______. Sistemas e
Teorias em Psicologia. São Paulo: Cultrix, 2001, 1-83.