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Anatomia e Fisiologia da Mulher

Brasília-DF.
Elaboração

Juliana Rodrigues Prada


Fabio Alexandre Casarin Pastor
Grasiéla Nascimento Correia
Ana Silvia Moccellin

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO................................................................................................................................... 4

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA...................................................................... 5

INTRODUÇÃO...................................................................................................................................... 7

UNIDADE ÚNICA
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER..................................................................................................... 9

CAPÍTULO 1
SISTEMA REPRODUTOR E MAMAS.............................................................................................. 9

CAPÍTULO 2
SISTEMA URINÁRIO FEMININO................................................................................................. 18

CAPÍTULO 3
CICLO MENSTRUAL E FISIOLOGIA ENDÓCRINO-METABÓLICA................................................... 24

CAPÍTULO 4
ALTERAÇÕES ANATÔMICAS E FISIOLÓGICAS DURANTE A GESTAÇÃO........................................ 35

REFERÊNCIAS .................................................................................................................................... 65
Apresentação
Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem
necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela
atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade
de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos
a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma
competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para
vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar
sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a
como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de
forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões
para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao
final, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e
pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos
e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Praticando

Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer


o processo de aprendizagem do aluno.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

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Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Exercício de fixação

Atividades que buscam reforçar a assimilação e fixação dos períodos que o autor/
conteudista achar mais relevante em relação a aprendizagem de seu módulo (não
há registro de menção).

Avaliação Final

Questionário com 10 questões objetivas, baseadas nos objetivos do curso,


que visam verificar a aprendizagem do curso (há registro de menção). É a única
atividade do curso que vale nota, ou seja, é a atividade que o aluno fará para saber
se pode ou não receber a certificação.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

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Introdução
O presente Caderno de Estudos e Pesquisa foi elaborado com o objetivo de propiciar conhecimentos
acerca do contexto educacional com foco na Anatomia e Fisiologia da Mulher. A cada capítulo
pensamos nas horas que você se dedica ao trabalho destinado às atividades educativas, bem como
às práticas desenvolvidas no cotidiano de um ambiente universitário. Lembrando sempre de que
você é o protagonista da história que estamos construindo a partir de agora.

Para nos conceituarmos, os estudantes de Anatomia e Fisiologia da Mulher de hoje, serão a próxima
geração de pesquisadores e profissionais altamente capacitados a exercer profissões diversas (área
biológica e saúde). Ainda estamos longe de entender completamente a anatomia e fisiologia do corpo
humano. Faz parte deste contexto, voltar-se ao organismo como um todo para entender e integrar
as funções corporais. Buscar as características e os mecanismos que tornam o corpo humano um
ser vivo é a principal vertente da anatomia e fisiologia humana. Neste contexto, para promover
qualquer intervenção competente é necessário entender o corpo humano em seu estado saudável.

Este Caderno fornecerá uma visão integrada da anatomia e fisiologia para o início de uma carreira
profissional respeitada e o real entendimento da complexidade do corpo humano e a importância
fundamental da anatomia e fisiologia no âmbito profissional.

Bons estudos!

Objetivos
»» Capacitar o aluno para compreensão da anatomia da pelve feminina, do sistema
reprodutor, urinário e mamas, da fisiologia e adaptações fisiológicas perante
as diferentes condições do ciclo vital da mulher, bem como das alterações
neuroendócrino-metabólicas envolvidas com o sistema reprodutor feminino.

»» Apresentar ao aluno as principais alterações fisiológicas da gestação.

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ANATOMIA E
FISIOLOGIA DA UNIDADE ÚNICA
MULHER

CAPÍTULO 1
Sistema reprodutor e mamas

Diferenciação Sexual
Nas cinco primeiras semanas de gestação, as gônadas femininas e masculinas são indiferenciáveis,
e seus tratos genitais ainda não se formaram. As células germinativas primordiais (oogônias) que
sofrem eventual divisão reducional e maturação, transformando-se em grande número de ovócitos.

Uma linhagem celular da gônada indiferenciada transforma-se nas células da granulosa do


folículo ovariano (epitélio celômico). A função dessas células é de sustentar e fomentar as células
germinativas, estimular sua maturação e orientar seu movimento para o interior do sistema de
ductos genitais (fontes dos hormônios estrogênicos).

Outra linhagem celular da gônada indiferenciada, as células mesenquimais, dão origem às células
tecais no ovário. A função dessas células é de secretar os hormônios androgênicos, precursores para
a síntese de estrogênios.

A masculinidade e a feminilidade final dos indivíduos são mais bem caracterizadas


em termos de diferenças: sexo genético (genótipo), sexo gonadal (gônadas), sexo
genital (fenótipo).

Sexo Genético
O complemento cromossômico feminino normal tem 44 autossomos e 2 sexuais, XX. Ambos os
cromossomos X são ativos nas células germinativas. A gênese do ovário normal depende da presença
de dois cromossomos X e da ausência do cromossomo Y. Normalmente, o segundo cromossomo X
de uma fêmea XX é inativado precocemente em todos os tecidos extragonadais. A diferenciação dos
ductos genitais femininos e da genitália externa requer que apenas o único cromossomo X restante
seja ativo no sentido de orientar a transcrição na célula. Se uma anormalidade da meiose, ou da
mitose, produz indivíduo com apenas um cromossomo X e sem cromossomo Y (cariótipo XO) o
fenótipo ainda será feminino, apesar das gônadas serem defeituosas.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

Sexo Gonadal
Com 22 a 24 dias de gestação, as células germinativas estão presentes no endoderma do saco
vitelino, migram para a crista genital onde se associam com o tecido mesonéfrico para formar
uma gônada indiferenciada (7 a 10 dias). A gônada primitiva consiste de epitélio celômico
precursores das células da granulosa e das células do estroma do mesênquima, precursores da
teca e das células germinativas. Na fêmea geneticamente normal, a diferenciação da gônada
indiferenciada em ovário começa somente com nove semanas de idade, com a ativação de ambos os
cromossomos X. As células germinativas começam a sofrer mitose, dando origem as oogônias que
continuam proliferando.

Logo, a seguir, a meiose tem início em algumas oogônias que são cercadas por células da granulosa
e do estroma. Os oócitos primários permanecem no diplóteno (estágio tardio da prófase da meiose
até a possível ovulação). O córtex predomina e a medula regride.

A capacidade do ovário primitivo de sintetizar os hormônios estrogênicos manifesta-


se na mesma época que a síntese de testosterona começa no testículo.

Sexo Genital (Fenotípico)

A diferenciação dos ductos genitais e da genitália externa depende da presença de


hormônios.

O princípio orientador estabelece que as influências hormonais positivas com origem normalmente
na própria gônada, são necessárias para produzir a genitália masculina. Na ausência de qualquer
influxo hormonal gonadal forma-se a genitália feminina. Da terceira à sétima semana, formam-se
dois ductos genitais em cada lado do embrião. Nas fêmeas os ductos wolffianos começam a regredir
com 10 a 11 semanas, pois os ovários não secretam testosterona.

Os ductos mullerianos continuam crescendo e se diferenciam nas Trompas de Falópio, útero,


colo uterino e terço superior da vagina. Com 18 a 20 semanas de gestação essa diferenciação
é completada e não requer hormônio ovariano. A genitália externa de ambos os sexos começa
a diferenciar-se com 9 a 10 semanas de gestação. Seus componentes derivam do mesmo
primórdio o tubérculo genital, a proeminência genital, as pregas uretrais ou genitais e o
seio urogenital.

Nas fêmeas normais, ou na ausência de qualquer gônada, os tecidos primordiais transformam-se


em clitóris, nos grandes lábios, nos pequenos lábios e na vagina inferior. Os hormônios não são
essenciais para a ocorrência desse desenvolvimento. Caso ocorra exposição do feto feminino a um
excesso de testosterona, ou de outros androgênios, poderá ocorrer padrão masculino.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Síntese dos Esteroides Gonadais


Ambos os gêneros utilizam a mesma via de biossíntese dos hormônios esteroides no tecido gonadal.
Os androgênios são os precursores obrigatórios dos estrogênios. A etapa-chave na conversão para
estrogênio é a aromatização, todas as etapas da via biossintética estão presentes no ovário. As
células da teca sintetizam e secretam a progesterona e testosterona. A testosterona difunde-se para
as células da granulosa (aromatase) e é convertida em estradiol. O hormônio luteinizante estimula o
colesterol desmolase nas células tecais. O hormônio folículo estimulante atua na aromatase (células
da granulosa).

Ações das Gonadotropinas nas Gônadas


O hormônio luteinizante estimula a linhagem das células intersticiais das gônadas femininas
(células tecais) a secretar principalmente androgênios. Ademais, o hormônio luteinizante atua
sobre a granulosa. O hormônio folículo estimulante atua sobre as células da granulosa ovariana.
E o hormônio liberador de gonadotrofina (GhRH) está presente no hipotálamo e participa da
regulação e secreção de gonadotrofinas no mecanismo conhecido como eixo hipotalâmico,
hipofisário, gonadal.

Oogênese
As células germinativas produzem as oogônias por divisão mitótica, essas oogônias entram na
prófase da meiose tornando-se oócitos primários. Os oócitos permanecem na prófase da meiose
até a ovulação anos depois.

Ao nascimento, só restam dois milhões de oócitos, na puberdade 400 mil, na


menopausa poucos oócitos.

Aparelho Reprodutor Feminino

Órgãos Genitais Externos


Podemos dividir a função reprodutora feminina em duas fases principais, ou seja, a preparação do
corpo feminino para a concepção e gestação, e o período da própria gestação. A figura 1 representa
o aparelho reprodutor feminino antes da concepção, onde se destacam os ovários, as Trompas de
Falópio (trompas uterinas) e o útero, que constituem os órgãos reprodutores internos, localizados
na pelve.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

Figura 1: Sistema reprodutor feminino humano.

Fonte: <http://garryvemai.blogspot.com/2011/07/aparelho-reprodutor-feminino-e.html>. Acesso: em 26/2/2012.

As gônadas femininas são os ovários, que conjuntamente com o útero e as Trompas


de Falópio, compõem o trato reprodutor feminino.

Os ovários têm duas funções: a oogênese e a secreção dos hormônios sexuais femininos. Cada
ovário adulto é fixado ao útero por ligamentos e são divididos em três zonas (córtex, medula e hilo):

1. Córtex: camada mais externa e maior é revestida por epitélio germinativo e contém
todos os oócitos, cada um dos qual incluso em um folículo;

2. Medula: zona média contém mistura de tipos celulares;

3. Hilo: camada mais interna, por meio da qual passam os vasos sanguíneos e os
linfáticos.

Os hormônios esteroides ovarianos têm funções parácrinas (desenvolvimento dos


óvulos) e endócrinas (órgãos-alvos: útero, mamas e ossos). A unidade funcional
dos ovários é o folículo ovariano individual (célula germinativa cercada por células
endócrinas).

Quando completamente desenvolvido, o folículo ovariano desempenha diversos papéis críticos:

»» fornece nutrientes para o oócito;

»» libera o oócito no tempo devido (ovulação);

»» prepara a vagina e as Trompas de Falópio para ajudar na fertilização do óvulo por


um espermatozoide;

»» prepara o revestimento interno do útero para a implantação do óvulo fecundado;

»» mantém a produção de esteroides para o feto até que a placenta assuma esta função.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

As tubas uterinas são dois canais finos que saem de cada lado do fundo do útero e terminam
com as extremidades próximas aos ovários, com um comprimento de 10cm cada, e função de
transporte dos óvulos que romperam a superfície do ovário para a cavidade do útero e também
para a fecundação. Podemos subdividi-las em partes: a uterina (dentro da parede uterina), o istmo
(mais estreita), a ampola (mais longa) e o infundíbulo (mais larga, terminando em prolongamentos
chamados fímbrias). O ligamento responsável por sua fixação é o mesossalpinge (ligação para o
ligamento largo).

Já o útero apresenta a importante função de receber o ovo e desenvolver a gestação. Tem a forma de
uma pera invertida, mas pode variar de forma, tamanho, posição e estrutura. É formado por tecido
muscular que se estende amplamente durante a gravidez e apresenta camadas, sendo o endométrio
aquele que sofre modificações com o ciclo menstrual, preparando-se mensalmente para receber o
ovo já fecundado e, caso isso não ocorra, apresenta descamação e é eliminado pela menstruação. Ele
está localização no centro da cavidade pélvica e sua posição pode ser subdividida em: anteversão (é o
ângulo de inclinação para frente formado entre os eixos da vagina e do útero), antefleção (é o ângulo
de inclinação para frente formado entre o colo do útero e o corpo do útero) e destrotorção (é a leve
inclinação do útero para a direita). É composto pela face anterior e pela posterior. É subdividido
em: fundo (parte superior, arredondada), corpo (apresenta as faces vesical – anterior – e intestinal
– posterior), istmo (parte estreita onde se forma o segmento inferior na gravidez – aplicação na
cesárea) e colo (apresenta duas partes, uma supravaginal e outra vaginal no interior da vagina, e
dois óstios um anatômico interno e outro na vagina). Os ligamentos responsáveis por sua fixação
são: redondo do útero (liga o fundo do útero ao monte do púbis passando pelo canal inguinal), o
largo (liga as margens laterais do útero ao monte do útero às paredes laterais da pelve menor), o
uterossacro (liga o colo do útero ao sacro e delimita a escavação retrouterina ou fundo de saco de
Douglas), e o cervical transverso (liga o colo do útero à parede lateral da pelve). Sua irrigação é feita
pela artéria uterina, ramo da artéria ilíaca interna.

A vagina é considerada o órgão da cópula. É um canal de 7,5 a 10 centímetros que se estende do


útero, órgão interno, à vulva, estrutura genital externa. Os fórnices são os espaços entre a parede da
vagina e o colo do útero e podem ser laterais, posteriores e anteriores. O óstio da vagina é a abertura
da vagina para o meio externo situado na vulva. Já o hímen é a membrana que veda parcialmente a
vagina, substituída posteriormente pelas carúnculas himenais.

O clitóris é um dos órgãos eréteis feminino, mediano, que corresponde aos corpos cavernosos do
homem. É envolvido por prolongamentos dos lábios menores que formam o prepúcio do clitóris,
superiormente e frênulo do clitóris, inferiormente. Suas partes podem ser subdivididas em: ramos,
corpo e glande. Os grandes lábios e os pequenos lábios são dobras de pele e mucosa que protegem
a abertura vaginal. Os pequenos lábios, durante o processo de excitação, ficam intumescidos e
aumentam sensivelmente seu tamanho durante a penetração nas relações sexuais. Os grandes
lábios ficam entre o monte púbico (ou monte de Vênus) e se estendem até o períneo, espaço entre
ânus e vulva, e são cobertos por pelos pubianos após a puberdade.

O hímen é uma membrana de tecido conjuntivo forrado por mucosa tanto interna quanto
externamente. Ele pode variar de tamanho e forma. No primeiro ato sexual, sofre ruptura,
permanecendo apenas pequenos fragmentos no local, chamados carúnculas himenais.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

A figura 2 representa os órgãos genitais externos femininos, onde se destaca o monte do púbis, os
lábios maiores e menores e o clitóris:

Figura 2: Órgãos genitais externos femininos.

Fonte: <http://www.exameginecologico.com.br/orgaos-sexuais-externos.htm>. Acesso em: 26/2/2012.

Figura 3: Órgãos reprodutores femininos

(GUYTON, 2006).

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Figura 4: Abdômen e Pélvis Feminina.

Fonte: <http://smartimagebase.com/>. Acesso em: 28/2/2012.

Mamas
A glândula mamária, um órgão par, está situada na parede anterior do tórax (porção superior) e está
apoiada sobre o músculo peitoral maior (da segunda à sexta costela no plano vertical e do esterno
a linha axilar anterior no plano horizontal). As mamas iniciam seu desenvolvimento na puberdade.
É o responsável pela produção de leite para os bebês em seus primeiros meses de vida. A mama é
formada por tecido glandular, por tecido fibroso de conexão de seus lobos e por tecido gorduroso no
intervalo entre os lobos. Cada mama apresenta uma aréola e uma papila e, sua região central. Na
papila mamária ou mamilo, exteriorizam-se 15 a 20 orifícios ductais, que correspondem às vias de
drenagem das unidades funcionantes, que são os lobos mamários.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

Figura 5: Anatomia da mama.

Fonte: <http://mamaraopeito.webnode.com/amamenta%C3%A7%C3%A3o/fisiologia-da-mama/>. Acesso em: 26/2/2012.

O tamanho, o formato, os bicos e a aréola, bem como as glândulas Montgomery, diferem


individualmente de uma mulher para outra. A forma da mama não é afetada pelo tipo básico do
corpo de uma mulher. As mamas raramente são simétricas, mas, na maioria dos casos, a diferença
é de mínima importância. As mamas pequenas têm pouco peso, são altas e empinadas e estão bem
distante da parede do tórax. As mamas grandes são relativamente pesadas, o que faz com que
pendam e se assentem próximas à parede do tórax. As mulheres mais jovens apresentam mamas
com maior quantidade de tecido glandular, o que torna esses órgãos mais densos e firmes. Ao se
aproximar da menopausa, o tecido mamário vai se atrofiando e sendo substituído progressivamente
por tecido gorduroso, até se constituir, quase que exclusivamente, de gordura e resquícios de tecido
glandular na fase pós-menopausa.

A mama é irrigada pela artéria mamária interna e por ramos da artéria axilar. Da artéria mamária
partem os ramos perfurantes que atravessam os quatro primeiros espaços intercostais, em geral
dois vasos por espaço, que atravessam o músculo peitoral, atingindo a face posterior da mama. Os
ramos axilares da vascularização mamária são a artéria subescapular, a artéria torácica externa
e a artéria acromiotorácica. A pele, a aréola, o tecido subcutâneo e o parênquima mamário são
drenados por vasos linfáticos, que se dispõem da superfície para a profundidade, formando uma rede
linfática que se comunica entre si. Grande parte da drenagem linfática da mama segue em direção
aos linfonodos axilares que drenam a linfa proveniente da região centrolateral da mama, enquanto a
região medial da mama drena para os linfonodos da cadeia mamária interna. Os linfonodos axilares
são subdivididos em três níveis: linfonodos do primeiro nível axilar, linfonodos do segundo nível
axilar e linfonodos do terceiro nível axilar.

Na infância, as meninas apresentam discreta elevação na região mamária, decorrente da presença


de tecido mamário rudimentar. Na puberdade, a hipófise produz os hormônios folículo-estimulante
e luteinizante, que controlam a produção hormonal de estrogênios pelos ovários. Com isso, as
mamas iniciam seu desenvolvimento com a multiplicação dos ácinos e lóbulos.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

A progesterona, que passa a ser produzida quando os ciclos menstruais tornam-se


ovulatórios, depende da atuação prévia do estrogênio, é diferenciadora da árvore
ducto-lobular mamária.

Na vida adulta, o estímulo cíclico de estrogênios e progesterona faz com que as mamas fiquem mais
túrgidas no período pré-menstrual, por retenção de líquido. A ação do hormônio progesterona, na
segunda fase do ciclo, leva a uma retenção de líquidos no organismo, mais acentuadamente nas
mamas, provocando nelas aumento de volume, endurecimento e dor. Após a menopausa, devido à
carência hormonal, ocorre atrofia glandular e tendência à substituição do tecido parenquimatoso
por gordura. O estrogênio fortalece a mama por meio de reservas de água e uma irrigação sanguínea
maior, fazendo com que as glândulas mamárias inchem e multipliquem o número de suas células.
Estas alterações são um preparo da gravidez e sua consequente produção de leite. Não havendo a
fecundação, todos os inchaços e outras modificações regridem com o início da menstruação.

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CAPÍTULO 2
Sistema urinário feminino

O aparelho urinário é constituído de dois rins, dois ureteres, uma bexiga e uma uretra. O rim é
o responsável pela homeostase (equilíbrio do meio interno), filtrando o plasma e removendo as
substâncias indesejáveis ingeridas pela pessoa ou produzidas pelo metabolismo corporal.

Os rins são órgãos retroperitoneais que possuem a forma de um grão de feijão, tendo em sua
concavidade o hilo, onde se encontram vasos, nervos e cálices renais, que vão formar a pelve renal,
que nada mais é do que a parte superior do ureter. Cada rim constitui-se de uma cápsula de tecido
conjuntivo denso, de uma zona cortical e de uma zona medular. Eles apresentam diversas funções,
dentre as quais se destacam as seguintes:

»» regulação do equilíbrio hidroeletrolítico – água e eletrólitos;

»» regulação da osmolalidade e das concentrações de eletrólitos dos líquidos corporais;

»» regulação da pressão arterial – excreção de sódio e de água, secreção de renina;

»» regulação do equilíbrio ácido-básico – excreção de ácidos e regulação das reservas


de tampões dos líquidos corporais;

»» gliconeogênese – síntese de glicose a partir de aminoácidos e outros precursores


durante o jejum prolongado;

»» secreção, metabolismo e excreção de hormônios – secreção de eritropoietina


(estimula a produção de eritrócitos), produção da forma ativa da vitamina D
(1,25-diidroxivitamina D3 ou calciferol);

»» excreção de produtos de degradação do metabolismo e de substâncias químicas


estranhas – ureia, creatinina, ácido úrico, produtos finais da degradação da
hemoglobina (bilirrubina), dentre outros.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Figura 6: Sistema reprodutor e urinário feminino.

Fonte: <www.hellophoto.com.br>. Acesso em: 26/2/2012.

Néfron: unidade morfofuncional dos rins. Cada rim possui aproximadamente 1 milhão de néfrons,
que em associação formam o rim. Cada néfron é constituído pelas seguintes estruturas.

»» Corpúsculo renal;

»» Túbulo contornado ou contorcido proximal;

»» Alça de Henle (parte delgada e parte espessa);

»» Túbulo contornado ou contorcido distal.

Figura 7: Estrutura renal e de um néfron.

Fonte: <http://www.webciencia.com/11_19rins.htm>. Acesso em: 26/2/2012.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

As duas porções da Alça de Henle, que são retilíneas, encontram-se na zona medular do rim. Já
os corpúsculos renais e os túbulos de trajeto tortuoso (contorcidos proximal e distal) alojam-se no
córtex (zona cortical).

»» Corpúsculo renal – formado pelo Glomérulo (tufo de capilares) e pela Cápsula


de Bowman, que envolve o glomérulo. Cada corpúsculo renal possui dois polos:
um vascular, em que penetra a arteríola aferente e sai à arteríola eferente; e um
urinário, em que nasce o túbulo contorcido proximal. Nos capilares glomerulares
existem células mesangiais.

»» Células mesangiais – situam-se no meio dos tufos capilares glomerulares, dando-


-lhes sustentação. Produzem o mesângio, juntamente aos macrófagos e mastócitos,
diminuindo a filtração glomerular (FG).

»» Cápsula de Bowman (ou Glomerular) é constituída de dois folhetos: Parietal


(externo) – formado por um epitélio simples pavimentoso, apoiado sobre uma
membrana basal e numa delgada camada de fibras reticulares, e o Visceral
(interno) – acoplado aos capilares glomerulares, representado por um conjunto de
Podócitos (células com prolongamentos), cujos prolongamentos secundários estão
em contato direto com a membrana basal glomerular, e deixam entre si espaços
chamados de fendas de filtração. Entre os dois folhetos há o espaço capsular, que
recebe o Filtrado Glomerular.

»» Túbulo Contorcido Proximal – tem sua parede composta por um epitélio cúbico
simples, com células apresentando uma grande quantidade de microvilosidades
(“Borda em escova”). O citoplasma é acidofílico, rico em mitocôndrias. A membrana
plasmática apresenta inúmeras interdigitações. O Túbulo Contorcido (ou
Contornado) Proximal possui uma parte inicial tortuosa, próxima ao Corpúsculo
Renal, e uma parte retilínea que penetra na camada medular por uma pequena
extensão, e que continua com a Alça de Henle.

»» Alça de Henle (partes delgada e espessa) – as Alças de Henle têm o formato


da letra U, ou seja, um ramo descendente e outro ascendente. Como já destacado,
a Alça de Henle é a única parte do néfron encontrada na zona medular. Na maioria
dos néfrons, os néfrons corticais, as Alças de Henle são curtas. Já os néfrons
justamedulares, que são em menor número, possuem suas Alças de Henle longas.

A transição entre o Túbulo Contorcido Proximal e a Alça de Henle pode ser brusca
ou gradual. A parte delgada da alça tem sua parede formada por células achatadas
com núcleos salientes para a luz. Esta estrutura desta parte da alça, por vezes, pode
ser confundida com a dos vasos sanguíneos, pela sua semelhança com tal. A parte
espessa da Alça de Henle tem sua estrutura da parede igual à do Túbulo Contorcido
Distal, ou seja, formada por epitélio cúbico simples.

»» Túbulo Contorcido Distal – também é revestido por epitélio cúbico simples,


mas diferentemente do túbulo contorcido proximal, possui a borda em escova, pois

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

a parte apical das células do túbulo apresenta microvilos mais curtos e esparsos.
Estes túbulos encostam-se ao corpúsculo renal do mesmo néfron, modificando a
parede do túbulo neste ponto. As células tornam-se cilíndricas, altas, com núcleos
alongados e próximos uns dos outros. Essa região denomina-se mácula densa, e
aparece mais escura nos cortes corados, justamente por causa da proximidade dos
núcleos das células. Evidências experimentais demonstram que a mácula densa é
sensível à concentração dos íons de sódio e de cloro, produzindo um sinal molecular
que modifica o calibre da arteríola aferente, regulando assim a filtração glomerular.
Nessa região o túbulo contorcido proximal entra em íntimo contato com as paredes
das arteríolas aferente e eferente. Nesse ponto, a túnica média da arteríola aferente
também se modifica apresentando, ao invés das fibras musculares lisas, as células
justaglomerulares (JG), que apresentam características de células secretoras.

»» Ductos ou Tubos Coletores – não fazem parte da estrutura do néfron, elas


recolhem o produto final do metabolismo de diversos néfrons. Saindo dos túbulos
contorcidos distais, a urina vai para os ductos ou tubos coletores, que se unem na
zona medular, formando tubos cada vez mais calibrosos e dirigindo-se para as
papilas. Os tubos coletores mais delgados têm revestimento de epitélio cúbico. E,
conforme se fundem e se aproximam das papilas, suas células vão se tornando mais
altas, até virarem cilíndricas.

»» Aparelho justaglomerular – esse conjunto de alterações que ocorrem no túbulo


contorcido distal (mácula densa) e na arteríola aferente (células justaglomerulares)
constituem o aparelho justaglomerular (JG). As células JG produzem a renina, que
atua na elevação da Pressão Arterial e na secreção de aldosterona (um hormônio do
córtex da glândula suprarrenal). A renina atua sobre o angiotensinogênio (proteína
de 14 resíduos de aminoácidos produzida no fígado), retirando-lhe 4 resíduos,
e produzindo, dessa forma, a angiotensina I, que é um decapeptídio inativo.
Quando passa pelos pulmões, a angiotensina I é convertida em angiotensina II, um
octapeptídio altamente ativo, pela ação da ECA – enzima conversora de angiotensina.
A angiotensina II é um vasoconstritor fundamental na regulação da pressão arterial.
Possui uma ação direta no vaso, fazendo vasoconstrição, o que aumenta a resistência
periférica e, consequentemente, eleva a pressão arterial. E também possui um efeito
indireto, estimulando o aumento da secreção de aldosterona, que é o mais potente
mineralocorticoide conhecido, promovendo o aumento da reabsorção de sódio e
água em nível dos túbulos distais, fazendo com que aumente a volemia e, dessa
forma, eleve a pressão arterial.

Ureter: é um órgão muscular que conduz a urina do rim até a bexiga. Assim como os rins, são em
número de dois. Cada um mede aproximadamente 25 cm. O ureter atravessa obliquamente a parede
da bexiga, de modo que se forme uma válvula que impede o refluxo da urina. O ureter é composto
por três túnicas, que são as seguintes.

»» Túnica Mucosa: epitélio estratificado de transição que se apresenta em constante


descamação celular; apresenta também uma dilatação do lúmem (passagem do
estado de vacuidade para plenitude) e evita a absorção de urina.

21
UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

»» Túnica Muscular: apresenta-se nos 2/3 superiores do ureter com as seguintes


camadas: longitudinal interna e circular externa.

»» Túnica Adventícia – constituída por tecido conjuntivo fibroelástico.

Figura 8: Estruturas do sistema urinário.

Fonte: <http://dicasderadiologia.com.br/site/2011/02/resumo-sobre-a-anatomia-do-sistema-urinario/>. Acesso em: 27/2/2012.

Bexiga: é um órgão que recebe a urina formada pelos rins, armazenando-a por algum tempo e a
conduzindo ao exterior à medida que aumenta a quantidade de urina dentro deste “reservatório”,
o que faz com que se eleve a pressão endovesical (normalmente 10cm de água) e, por volta de
200–300 ml, desencadeie o reflexo da micção. A bexiga também é composta por três túnicas, que
são as seguintes.

»» Túnica Mucosa

›› Epitélio estratificado de transição (polimorfo).

›› Lâmina própria de tecido conjuntivo denso.

»» Túnica Muscular

É constituída por três camadas que são as seguintes:

›› Longitudinal interna (formando o músculo Detrusor).

›› Circular média.

›› Longitudinal externa.

22
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

»» Túnica Adventícia e Túnica Serosa

›› É constituída por tecido conjuntivo fibroelástico. Em sua porção superior, a


bexiga possui uma pequena região revestida pelo folheto visceral do peritôneo.

Uretra: é um tubo fibromuscular que conduz a urina da bexiga para o exterior, durante o ato da
micção. Nos homens, a uretra dá passagem ao esperma na ejaculação. Já nas mulheres, é um órgão
exclusivo do sistema urinário. A uretra feminina possui de 4 – 5cm de comprimento, revestidos por
epitélio plano estratificado, com áreas de epitélio pseudo-estratificado colunar. Possui um esfíncter
de músculo estriado, o esfíncter externo da uretra, próximo à sua abertura no exterior.

23
CAPÍTULO 3
Ciclo menstrual e fisiologia
endócrino-metabólica

Os anos reprodutivos normais da mulher caracterizam-se por alterações rítmicas mensais da


secreção dos hormônios femininos e por alterações físicas correspondentes nos ovários e em outros
órgãos sexuais.

O ciclo menstrual apresenta duração média de 28 dias. Apenas um óvulo único é liberado pelos ovários
a cada mês, e o endométrio é preparado para a implantação do “óvulo fertilizado”. Durante os anos
reprodutivos da vida adulta (13 a 46 anos de idade), 400 a 500 folículos primordiais se desenvolvem o
suficiente para expelir seus óvulos (um a cada mês). Os restantes passam por degeneração (tornam-se
atrésicos). Entre os nove e doze anos de idade, a hipófise começa a secretar progressivamente mais
hormônio folículo estimulante e hormônio luteinizante (puberdade). Tanto hormônio folículo
estimulante quanto o hormônio luteinizante estimulam as suas células alvo-ovarianas.

»» Fase Folicular

Primeiros dias do ciclo (15 dias, variação de 9 a 23 dias) e envolve o desenvolvimento


folicular.

»» Fase Ovulatória

Dura de 1 a 3 dias e culmina com a ovulação.

»» Fase Lútea

Corpo lúteo se desenvolve e produz progesterona e estradiol. Esta é a duração mais


constante (13 dias) do ciclo e termina com o sangramento menstrual.

Células da granulosa são as únicas células com receptores para hormônio folículo-
-estimulante.

O sistema hormonal feminino, assim como o masculino, consiste em três hierarquias de hormônios:

»» Hormônio liberador de gonadotropina (GnRH): hormônio de liberação hipotalâmica.

»» Hormônio folículo estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH): hormônios


sexuais hipofisários anteriores, ambos secretados em resposta à liberação de GnRH
do hipotálamo.

»» Estrogênio e progesterona: hormônios ovarianos, que são secretados em resposta


aos dois hormônios sexuais femininos da hipófise anterior.

24
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Os níveis de LH e FSH aumentam gradualmente nos últimos anos da vida reprodutiva e após
a menopausa, a perda do feedback negativo, faz com que os níveis de gonadotropinas sejam em
média 4 a 10 vezes maiores que os da fase folicular. Os principais efeitos destas variações hormonais
são: adelgaçamento do epitélio vaginal e perda das secreções, redução da massa mamária, fogacho
vascular (pulsos de LH) e labilidade emocional (mulheres obesas podem ter menos efeitos de
privação estrogênica, na conversão periférica de estrogênios).

Figura 9: Representação esquemática da atividade do eixo hipotálamo – hipófise – gônadas. (+) estímulo
excitatório – feedback positivo (-) estímulo inibitório – feedback negativo.

»» Efeitos do Estrogênio

›› Útero: fase secretora, fase proliferativa, período menstrual.

›› Trompas de Falópio: aumenta o número de cílios e sua velocidade de


batimento, assim como o número de células epiteliais que estão secretando
ativamente, estimula as secreções tubárias que proporcionam meio mucoide no
qual os espermatozoides podem movimentar-se eficientemente corrente acima
contra o batimento ciliar, fímbrias tornam-se mais vascularizadas.

›› Vagina: epitélio pavimentoso estratificado da vagina é aumentado e suas células


acumulam glicogênio, aumento das secreções vaginais.

›› Mamas: crescimento dos ductos lobulares, aumento da aréola, aumento seletivo


do tecido adiposo da mama.

25
UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

›› Outros tecidos: modificações do fenótipo feminino adulto normal: estímulo


de crescimento dos órgãos reprodutores internos e mamas; crescimento puberal
dos grandes e pequenos lábios, crescimento linear (fechamento precoce dos
centros de crescimento epifisários), aumento dos quadris e cintura pélvica,
deposição específica de gordura nas proximidades dos quadris; a massa adiposa
total é duas vezes maior que a dos homens, enquanto a massa muscular e óssea
corresponde a dois terços da dos homens.

›› Esqueleto: inibe a reabsorção óssea (efeitos nos osteoclastos e induz fatores


locais de crescimento).

›› Rim: reabsorção de sódio estimulada pelo estradiol, antagonista da aldosterona


(junto com a hidroxiprogesterona), induz a natriurese.

›› Fígado: aumento da síntese de proteínas hepáticas: globulina fixadora de


tiroxina, globulina fixadora de cortisol, angiotensinogênio, colesteróis (VLDL,
HDL e reduz LDL).

›› Árvore vascular: efeito vasodilatador (induz a liberação local de vasodilatadores


como o óxido nítrico, prostaglandinas) e antivasoconstritivo (reduz a produção
de endotelina).

»» Efeitos da Progesterona

›› Útero: promove ações secretoras no endométrio uterino, durante a segunda


metade do ciclo menstrual, preparando o útero para a implantação do ovo
fertilizado, diminui a intensidade das contrações uterinas ajudando desta
maneira a impedir a expulsão do ovo implantado.

›› Trompas de Falópio: estimula as secreções tubárias que proporcionam meio


mucoide, no qual os espermatozoides podem movimentar-se eficientemente
corrente acima contra o batimento ciliar.

›› Mamas: promove o desenvolvimento dos lóbulos e dos alvéolos.

›› Ações sistêmicas: elevação da temperatura corporal (0,5ºC) que ocorre após


a ovulação.

›› SNC: aumento do apetite, sonolência e sensibilidade exagerada do centro


respiratório à estimulação pelo CO2.

A pequena quantidade de estradiol presente na circulação provém dos precursores


androgênicos das suprarrenais; o estrogênio dominante é a estrona.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Fase Pré-Ovulatória e Ovulatória

Crescimento do Folículo Ovariano

Fase Folicular do Ciclo Ovariano

Após o nascimento de uma criança do sexo feminino, cada óvulo está envolto por uma única camada
de células granulosas, sendo definida como folículo primordial. Durante toda a infância, acredita-
se que as células granulosas ofereçam nutrição para o óvulo e para secretar um fator inibidor da
maturação do oócito que mantém o óvulo suspenso em seu estado primordial no estágio de prófase
da divisão meiótica. Após a puberdade, quando o FSH e o LH da hipófise anterior começam a ser
secretados em quantidades significativas, os ovários em conjunto com alguns dos folículos dentro
deles, começam a crescer. O primeiro estágio de crescimento folicular é o aumento moderado do
próprio óvulo, cujo diâmetro aumenta duas a três vezes. Dessa forma, se segue o crescimento de
outras camadas das células granulosas em alguns dos folículos, conhecidos como folículos primários.

Figura 10: Estágios do crescimento folicular no ovário.

Fonte: <http://blogdebiologia.wordpress.com/category/reproducao-humana-e-manipulacao-da-fertilidade/reproducao-
humana/>. Acesso em: 27/2/2012.

Somente um único folículo amadurecerá por mês, e os demais sofrerão atresia. Após uma semana ou
mais de crescimento, um dos folículos começa a crescer mais do que os outros; os outros 5 a 11 folículos
em desenvolvimento involuem e se tornam atrésicos. Não se sabe qual a causa da atresia, mas há a
possibilidade de as grandes quantidades de estrogênio do folículo de crescimento agir rapidamente
no hipotálamo, deprimindo a secreção mais intensa de FSH, bloqueando, desta forma, o crescimento

27
UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

posterior dos folículos menos bem desenvolvidos. Dessa forma, o folículo maior continua a crescer
por causa de seus efeitos de feedback positivo intrínsecos, enquanto todos os outros folículos param
de crescer e efetivamente involuem. Esse processo de atresia é importante, pois normalmente permite
que apenas um dos folículos cresça o suficientemente todos os meses para ovular, o que evita que uma
criança se desenvolva em cada gravidez. O folículo único é denominado folículo maduro. A ovulação
na mulher que tem um ciclo sexual de 28 dias se dá 14 dias depois do início da menstruação. Um pouco
antes de ovular a parede externa protuberante do folículo incha-se rapidamente e uma pequena área
no centro da cápsula folicular, denominada estigma, projeta-se como um bico. Em 30 minutos ou mais,
o líquido começa a vazar do folículo por meio do estigma, que rompe inteiramente permitindo que um
líquido mais viscoso, que ocupava a porção central do folículo, projete-se para fora. O líquido carrega
consigo o óvulo cercado por uma massa de milhares de pequenas células granulosas denominadas
coroa radiada. O pico LH é necessário para o crescimento folicular final e para a ovulação. Sem este
hormônio, até mesmo quando grandes quantidades de FSH estão disponíveis, o folículo não progredirá
ao estágio de ovulação. Cerca de dois dias antes da ovulação, a taxa de secreção de LH pela hipófise
anterior aumenta bastante, subindo 6 a 10 vezes e com um pico em torno de 16 horas antes da ovulação.
O FSH também aumenta cerca de 2 a 3 vezes ao mesmo tempo, e FSH e LH agem sinergicamente
causando a rápida dilatação do folículo durante os últimos dias antes da ovulação. O LH tem ainda um
efeito específico nas células granulosas e tecais, convertendo-as principalmente em células secretoras
de progesterona. Portanto, a taxa de secreção de estrogênio começa a cair cerca de 1 dia antes da
ovulação, enquanto quantidades cada vez maiores de progesterona começam a ser secretadas. O LH
causa rápida secreção dos hormônios esteroides foliculares que contêm progesterona. Em algumas
horas ocorrem dois, ambos necessários para a evolução: a teca externa (a cápsula do folículo) começa
a liberar enzimas proteolíticas dos lisossomos, o que causa a dissolução da parede capsular do folículo
e consequente enfraquecimento da parede, resultando em mais dilatação do folículo e degeneração do
estigma. Simultaneamente, há um rápido crescimento de novos vasos sanguíneos na parede folicular
e, ao mesmo tempo são secretadas prostaglandinas nos tecidos foliculares.

As figuras 11 e 12 elucidam de forma bastante clara esses picos hormonais e as alterações celulares.

Figura 11: Concentrações plasmáticas dos hormônios LH, FSH, estrógeno e progesterona durante o ciclo menstrual.

Fonte: <http://www.geocities.ws/bermudesbio/simulado/apar_rep.html>. Acesso em: 27/2/2012.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Figura 12: Concentrações plasmáticas dos hormônios LH, FSH, estrógeno e progesterona durante o ciclo menstrual.

Fonte: <http://www.monteleone.med.br/?pg=cicloMenstrual>. Acesso em: 27/2/2012.

Corpo Lúteo

Fase Lútea do Ciclo Ovariano


Durante as primeiras horas depois da expulsão do óvulo do folículo, as células granulosas e tecais
internas remanescentes e mudam rapidamente para células luteínicas. Elas aumentam de tamanho
e tornam-se repletas de inclusões lipídicas que dão a elas uma aparência amarelada. Este processo
é chamado de luteinização, e a massa total de células é denominada corpo lúteo.

Na mulher normal, o corpo lúteo cresce aproximadamente 1,5 centímetro de diâmetro, atingindo
esse estágio de desenvolvimento 7 a 8 dias após a ovulação. Então, ele começa a involuir e
efetivamente perde suas funções secretórias, bem como sua característica lipídica amarelada. O
estrogênio particularmente e a progesterona em menor extensão, secretados pelo corpo lúteo
durante a fase luteínica do ciclo ovariano, têm efeitos de feedback potentes na hipófise anterior,
mantendo taxas secretórias reduzidas tanto de FSH quanto de LH.

Durante a infância, os estrogênios são secretados apenas em quantidades mínimas, mas na


puberdade, a quantidade secretada na mulher sob a influência dos hormônios gonadotrópicos
hipofisários aumenta 20 vezes ou mais. Nessa época, os órgãos sexuais femininos mudam daqueles
de uma criança para os de um adulto. Os órgãos genitais femininos aumentam de tamanho e os

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

estrogênios também alteram o epitélio vaginal de um tipo cuboide para um tipo estratificado,
considerado mais resistente a traumas e infecções do que o epitélio antigo. As mamas primordiais
de homens e mulheres são exatamente iguais. De fato, sob a influência de hormônios apropriados a
mama masculina durante as primeiras duas décadas de vida pode desenvolver-se o suficiente para
produzir leite da mesma maneira que as mamas femininas. Os estrogênios causam desenvolvimento
dos tecidos estromais das mamas, crescimento de um vasto sistema de ductos, e depósito de gordura
nas mamas. Os lóbulos e alvéolos das mamas desenvolvem-se até certo ponto sob a influência apenas
dos estrogênios, mas é a progesterona e a prolactina que determinam o crescimento e a função final
das estruturas.

Os estrogênios inibem a atividade osteoclástica nos ossos e, portanto, estimulam o crescimento


ósseo. Na puberdade quando a mulher entra em seus anos reprodutivos, seu crescimento em altura
torna-se rápido durante muitos anos. Entretanto, os estrogênios têm outro efeito potente sobre
o crescimento esquelético: causam a união das epífises com a haste dos ossos longos. Este efeito
do estrogênio na mulher é bem mais forte do que o efeito semelhante da testosterona no homem.
Consequentemente, o crescimento da mulher geralmente para muitos anos antes do crescimento do
homem. Os estrogênios aumentam ligeiramente a taxa metabólica do corpo todo, mas apenas cerca
de um terço a mais que o aumento causado pelo hormônio sexual masculino testosterona. Causam
também depósito de quantidades maiores de gordura nos tecidos subcutâneos. Consequentemente,
a porcentagem de gordura corporal no corpo do homem é menor, pois contém mais proteína. Os
estrogênios não afetam muito a distribuição de pêlos. Entretanto, os pêlos efetivamente desenvolvem-
se na região pubiana e nas axilas após a puberdade. Os androgênios formados em quantidades
crescentes pelas glândulas adrenais femininas após a puberdade são os principais responsáveis por
isto. Os estrogênios fazem com que a pele desenvolva uma textura macia e normalmente lisa, mas,
ainda assim, a pele da mulher é mais espessa que a de uma criança ou de uma mulher castrada.
Além disso, os estrogênios fazem com que a pele se torne mais vascularizada, o que muitas vezes
está associado à pele mais quente, promovendo, maior sangramento nos cortes superficiais do que
se observa nos homens.

Sem dúvida a função mais importante da progesterona é promover mudanças


secretórias no endométrio uterino durante a última metade do ciclo sexual feminino
mensal, preparando o útero para a implantação do óvulo fertilizado. Além desse
efeito no endométrio, a progesterona diminui a frequência e a intensidade das
contrações uterinas, ajudando assim a evitar a expulsão do óvulo implantado.

Fase Proliferativa (Fase Estrogênica) do


Ciclo Endometrial
No início de cada mês, grande parte do endométrio descamou-se pela menstruação. Após a
menstruação, resta apenas uma pequena camada de estroma endotelial e as únicas células epiteliais
restantes são as localizadas nas porções remanescentes profundas das glândulas e criptas do
endométrio. Sob a influência de estrogênios, secretados em grandes quantidades pelo ovário durante
a primeira parte do ciclo ovariano mensal, as células do estroma e as células epiteliais proliferam-
se rapidamente. A superfície endometrial é reepitelizada 4 a 7 dias após o início da menstruação.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Em seguida, antes de ocorrer a ovulação, a espessura do endométrio aumenta bastante devido ao


crescimento progressivo das glândulas endometriais e novos vasos sanguíneos no endométrio.

Figura 13: Ciclo menstrual e suas fases.

Fonte: <http://www.portalsaofrancisco.com.br/alfa/gravidez-e-parto/ciclomenstrual-6.php>. Acesso em: 27/2/2012.

Figura 14: Fases: pré-menstrual, menstrual e pós-menstrual.

Fonte: http://dc161.4shared.com/doc/ED7F0KJg/preview.html, . Acesso em: 27/2/2012.

Fase Pós-Ovulatória

Fase Secretora do Ciclo Endometrial

Após a ovulação, durante grande parte da última metade do ciclo mensal, a progesterona e o
estrogênio são secretados em grande quantidade pelo corpo lúteo. A progesterona causa inchaço e
desenvolvimento secretório acentuados do endométrio e as glândulas aumentam em tortuosidade,
para produzir um endométrio altamente secretor que contenha grandes quantidades de nutrientes

31
UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

armazenados para prover condições apropriadas para a implantação de um óvulo fertilizado durante
a última metade do ciclo mensal.

Cerca de uma em cada três mulheres sofre de tensão pré-menstrual (TPM) com a aproximação do
período menstrual, que é caracterizada por um conjunto de sintomas e sinais que se manifesta um
pouco antes da menstruação e desaparece com ela. Se eles persistirem, não se trata da síndrome de
TPM, pois ela está diretamente relacionada com a produção dos hormônios femininos. Sua causa
não é muito conhecida, mas acredita-se que os sintomas são desencadeados pela ação do estrogênio
e da progesterona antes da menstruação. O estresse também pode piorar os sintomas, assim como
o consumo excessivo de chocolate e bebidas contendo cafeína (como café).

As mulheres têm mais probabilidade de ter sintomas acentuados de TPM se houver


outros casos na família, embora ainda não se tenham identificado fatores genéticos.

Menstruação
A menstruação é causada pela redução de estrogênio e progesterona, no final do ciclo ovariano
mensal. Durante as 24 horas que precedem o surgimento da menstruação, os vasos sanguíneos
tortuosos que levam o sangue às camadas mucosas do endométrio tornam-se vasoespásticos,
supostamente devido a algum efeito da evolução como a liberação de um material vasoconstritor.
O líquido menstrual normalmente é não coagulado porque uma fibrolisina é liberada em conjunto
com o material endometrial necrótico. A presença de coágulos durante a menstruação muitas
vezes representa uma evidência clínica de patologia uterina. Quatro a sete dias após o início da
menstruação a perda de sangue para, porque nesse momento, o endométrio reepitalizou-se.

A menopausa surge entre 40 e 50 anos de idade, o ciclo sexual geralmente torna-se


irregular, e a ovulação muitas vezes não ocorre. Depois de alguns meses a alguns
anos, o ciclo para totalmente. A causa da menopausa é o “esgotamento’’ dos ovários.
Durante toda a vida reprodutiva da mulher cerca de 400 dos folículos primordiais
crescem em folículos maduros e ovulam e centenas de milhares de óvulos
degeneram-se. Na época da menopausa, a mulher precisa reajustar sua vida, que
antes era fisiologicamente estimulada pela produção de estrogênios e progesterona
e agora tona-se desprovida desses hormônios. A perda dos estrogênios geralmente
causa mudanças fisiológicas marcantes, incluindo rubor extremo da pele, sensações
psíquicas de dispneia, irritabilidade, fadiga, ansiedade, diminuição da resistência e
calcificação dos ossos do corpo.

Dois dos estrogênios sintéticos mais usados são o etinil estradiol e o mestranol. Dentre
as progestinas mais usadas temos a noretindrona, noretinodrel, etinodiol e norgestrel.
O fármaco é iniciado normalmente nos estágios iniciais do ciclo mensal e mantido
além da época em que normalmente se daria a ovulação. Em seguida, o fármaco é
interrompido permitindo que ocorra a menstruação e inicie-se um novo ciclo.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Ato sexual feminino


O orgasmo feminino refere-se ao prazer sexual intenso alcançado pelas mulheres por meio da
relação sexual, masturbação ou outros meios de forma única ou múltipla. É sentido por intensas
contrações rítmicas, principalmente na região vaginal, durando aproximadamente de 0,8 segundos
cada, totalizando de 3 a 12 contrações; com a sensação de prazer aumentando em intensidade a
cada momento, até que se atinja o clímax, seguido do relaxamento. Cada mulher sente o orgasmo de
forma distinta: algumas só conseguem mediante estimulação clitoriana, penetração, preliminares
longas/curtas e outras nunca conseguiram atingir o pico de prazer máximo na hora do sexo.

Controle nervoso do ato sexual feminino


O controle do ato sexual feminino inicia-se com a estimulação do sistema nervoso superior e/
ou estimulação local dos genitais (principalmente a região do clitóris). Essas estimulações levam
para a medula informações que ativam os neurônios do sistema parassimpático, que por meio de
sinapses com a vagina, útero, genitais externos provocam vasodilatação nessas regiões, tornando-as
intumescidas, o que corresponde à sensação de excitação. As células que estão no epitélio da vagina
e as glândulas vestibulares também são estimuladas pelo sistema parassimpático liberando muco
(lubrificação). Em resposta ao sistema parassimpático, o sistema simpático é ativado após chegar
ao ápice da estimulação. A ativação do sistema simpático produzirá contrações rítmicas da vagina,
o útero e músculos pélvicos, o que corresponde ao momento do orgasmo feminino.

A ocorrência do prazer do orgasmo é proporcionada por uma descarga química


de neurotransmissores tais como as catecolaminas (noradrenalina e adrenalina), a
indoleamina e a serotonina. A dopamina e a serotonina estimulam a produção de
endorfinas que estimulam o prazer. Pode ser sentido no clítoris, na entrada da uretra,
no colo do útero e no ânus ou de em todos ou alguns destes pontos ao mesmo tempo.

A função biológica do orgasmo feminino, diferente do que ocorre nos homens, ainda não é um
consenso. Alguns pesquisadores acreditam que o fato dos humanos andarem em posição ereta tenha
ocasionado problemas, pois o local que o esperma entra nas mulheres, o óstio do colo do útero, fica
localizado numa posição superior. Segundo essa hipótese, o orgasmo provocaria relaxamento na
mulher, e que, por sua vez, deveria ficar deitada para facilitar a fertilização.

Em 1970, alguns estudos analisaram a pressão intravaginal e intrauterina quando as mulheres


faziam sexo. O que se descobriu é que há que uma diferença de pressão durante orgasmos, o que
levaria o esperma para dentro do canal cervical, aumentando as chances de fecundação do óvulo.
Esta hipótese chama-se hipótese da sucção. Alguns cientistas ainda constatam que o orgasmo
feminino não teria qualquer função biológica, sendo comparável ao mamilo dos homens (vestígio
evolutivo das mamas femininas), que seria apenas um vestígio evolutivo do orgasmo masculino.
Ainda, existem aqueles que acreditam que seria possível de forma consciente ou não, a mulher fazer
a seleção de genes melhores por meio do orgasmo, uma vez que alguns pesquisadores desvendaram
que 1 minuto antes do homem ejacular e 45 minutos depois, na ocorrência de orgasmo feminino,
aumentam a retenção de esperma. O orgasmo feminino foi dividido na década de 1960, em fases:
desejo, excitação, orgasmo, orgasmos múltiplos.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

Desejo
Primeira Fase Sexual, em que os instintos são estimulados e os apetites crescem. O desejo, ou a
sensualidade, é uma experiência subjetiva que incita a pessoa a buscar atividade sexual. Em termos
cerebrais, há mensagens neurofisiológicas que motivam a busca por sexo. Esses sinais neurológicos
ainda não foram bem explicados, mas já se fala em uma espécie de Centro de Desejo Sexual no Cérebro,
que seria constituído principalmente por uma pequena região cerebral denominada Claustro. Nas
mulheres, o olfato e principalmente o tato, são bastante responsáveis pelo aumento do desejo sexual.

Excitação
A Segunda Fase do Ciclo Sexual ocorre quando o corpo passa a responder fisiologicamente frente
aos estímulos que dispararam o desejo sexual. Ou seja, a excitação é a resposta do corpo ao desejo.
Na mulher, a excitação é demarcada pela produção de uma secreção responsável pela lubrificação
vaginal. Duas alterações fisiológicas são as principais protagonistas nessa fase. A congestão vascular,
que é o aumento da quantidade de sangue superficial e/ou profunda acumulada em alguns órgãos
do aparelho genital e extragenital feminino, e a miotonia, que é a crescente e involuntária contração
de fibras musculares. Mas a resposta sexual feminina não aparece apenas nos genitais. Ela é um
continuum de todo o corpo frente a estímulos. Aparece nos seios (mamas), com um pequeno
aumento de seu tamanho e com a ereção dos mamilos. Há também o rubor sexual, quando a pele
fica mais avermelhada, e tanto a pressão sanguínea quanto a frequência cardíaca e respiratória
tendem a aumentar. Ocorrem contrações musculares nos órgãos próximos aos genitais, como o
reto (região anal), a uretra e a bexiga. Todos os órgãos genitais femininos vão sofrer as mesmas
alterações fisiológicas de vasocongestão e miotonia. Tanto o clitóris, quanto os pequenos e grandes
lábios aumentam de tamanho, ficando edemaciados e avermelhados. Os grandes lábios se retraem
deixando a entrada da vagina livre. O clitóris fica protegido sob um prepúcio (pele) e a vagina passa
a produzir uma secreção parecida com a saliva por um fenômeno semelhante à transudação (uma
espécie de suor da parede vaginal; muitos, erroneamente, acreditam ser a ejaculação feminina). Há
sensação de contração muscular irregular desses órgãos interno.

Orgasmo
Esta é a última Fase do Ciclo da Resposta Sexual. O orgasmo, o êxtase, o gozo ou ápice de prazer
ocorre quando há liberação de toda a tensão sexual acumulada. A profunda vasocongestão do clitóris,
pequenos e grandes lábios e do terço inferior da vagina denominamos plataforma orgásmica. Pode
ocorrer uma contração muscular prolongada e espástica de 4 a 5 segundos nesta região, antes de ocorrer
a descarga orgásmica. O orgasmo acontece: há uma explosão de contrações rítmicas e involuntárias na
plataforma orgásmica a uma frequência de aproximadamente 12 vezes, a cada 0,8 segundos.

O interessante é que a mulher, logo em seguida, pode ser novamente estimulada


e ter mais que um orgasmo. Essa capacidade multiorgásmica da mulher não é
encontrada nos homens, que precisam de um tempo após a ejaculação para iniciar
outro ciclo de resposta sexual (tempo denominado Período Refratário).

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CAPÍTULO 4
Alterações anatômicas e fisiológicas
durante a gestação

Fisiologia da reprodução

Fertilidade
O óvulo permanece viável e capaz de ser fertilizado depois de ser expelido do ovário por um período
provavelmente de no máximo 24 horas. Portanto, é preciso haver um espermatozoide disponível logo
depois da ovulação para ocorrer fertilização. Alguns espermatozoides podem permanecer férteis no
aparelho reprodutor feminino por até cinco dias. A administração de estrogênio ou progesterona,
desde que nas quantidades apropriadas durante a primeira metade do ciclo mensal, pode inibir a
ovulação. A razão disso é que a administração apropriada de um desses hormônios pode evitar o
pico pré-ovulatório da secreção de LH pela hipófise, que é essencial à evolução. Entretanto, estudos
experimentais sugerem que imediatamente antes de ocorrer o pico, é provável que haja uma depressão
abrupta da secreção de estrógeno, o que causa o efeito de feedback subsequente na hipófise anterior
que ao pico de LH. A administração de hormônios sexuais evitaria a depressão hormonal ovariana
inicial que representaria o sinal desencadeador da ovulação. O problema de estabelecer métodos de
supressão hormonal da ovulação tem sido o de desenvolver combinações adequadas de estrógenos
e progestinas que suprimam a ovulação, mas não causem outros efeitos indesejáveis. Portanto,
praticamente todas as pílulas anticoncepcionais usadas no controle da fertilidade consistem em
alguma combinação de estrógenos e progestinas sintéticas. A principal razão de se usar sintéticos,
pois os hormônios naturais são quase que inteiramente destruídos pelo fígado pouco tempo depois de
serem absorvidos pelo trato gastrointestinal na circulação porta-hepática.

Figura 15: Da ovulação à implantação.

Fonte: <http://maesles.blogspot.com/2010/12/chega-de-duvidas-sobre-ovulacao.html>. Acesso em: 28/2/2012.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

Figura 16: Fecundação ao início da implantação.

Fonte: <http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Biotecnologia/biotecnologia.php>. Acesso em: 28/2/2012.

Gravidez

Na gravidez, a placenta forma quantidades especialmente grandes de gonadotropina coriônica


humana (HCG), estrogênios, progesterona e somatotropina coriônica humana, sendo que as três
primeiras, e provavelmente também a quarta, são essenciais a uma gravidez normal. A menstruação
normalmente ocorre em uma mulher não grávida por volta de quatorze dias depois da ovulação,
época em que grande parte do endométrio uterino descamou-se da parede uterina e é expelido para
fora. Se isto ocorresse após a implantação de um óvulo, a gravidez seria terminada. Entretanto,
isso é evitado pela secreção de gonadotropina coriônica humana pelos tecidos embrionários
em desenvolvimento da seguinte maneira: simultaneamente ao desenvolvimento das células
trofoblásticas do óvulo recém-fertilizado, o hormônio gonadotropina coriônica humana é secretado
pelas células troblásticas sinciciais para os líquidos maternos. A secreção desse hormônio pode ser
medida no sangue pela primeira vez oito a nove dias após a ovulação, pouco depois do blastocisto
implantar-se no endométrio. Em seguida, a taxa de secreção aumenta rapidamente, atingindo um
nível máximo em torno de 10 a 12 semanas de gestação e diminuindo novamente a um valor baixo
em torno de 16 a 20 semanas de gestação, continuando neste nível pelo restante da gravidez. A
gonadotropina coriônica humana tem como função evitar a involução do corpo lúteo no final do
ciclo sexual feminino mensal. Ela efetivamente faz com que o corpo lúteo secrete quantidades

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

ainda maiores de seus hormônios sexuais (progesterona e estrógeno) pelos próximos meses. Esses
hormônios impedem a menstruação e fazem com que o endométrio continue a crescer e a armazenar
grandes quantidades de nutrientes, em vez de descamar no produto menstrual.

Figura 17: Após a implantação, início do desenvolvimento do feto.

Fonte: <http://smartimagebase.com/>. Acesso em: 28/2/2012.

Placenta
A placenta, assim como o corpo lúteo, secreta tanto estrógeno como progesterona e o mais
importante é que os estrogênios secretados pela placenta não são sintetizados de novo a partir de
substratos básicos na placenta. Em vez disso, eles são sintetizados quase inteiramente a partir dos
compostos esteroides androgênicos, que são formados tanto nas glândulas adrenais da mãe quanto
nas glândulas adrenais do feto.

A função do estrógeno é de proliferação na maioria dos órgãos reprodutores e anexos da mulher


como: aumento do útero materno, das mamas, ductos da mama, genitália externa feminina da
mãe. Outra importante função é a que relaxa os ligamentos pélvicos da mãe, de maneira que as
articulações sacorilíacas tornam-se relativamente maleáveis, e as sínfise pubiana elástica, essas
mudanças fazem com que facilite a passagem do feto por meio do canal do parto.

A progesterona é secretada em quantidades moderadas pelo corpo lúteo no início da gravidez e


depois é secretada em enormes quantidades pela placenta. É um hormônio essencial da gravidez
porque é ela que faz as células decíduas desenvolverem- se no endométrio uterino, e essas células
têm um papel importante na nutrição do embrião inicial. Ela também diminui a contractibilidade do
útero grávido, evitando assim que contrações uterinas causem aborto espontâneo. A progesterona
contribui para o desenvolvimento do concepto mesmo antes da implantação, pois especificamente
aumenta as secreções das tubas uterinas e do útero, proporcionando material nutritivo apropriado
para o desenvolvimento da mórula e do blastocisto.

A somatomamotropina coriônica humana é um hormônio placentário descoberto mais recentemente.


É secretado progressivamente durante todo o restante da gravidez em proporção direta ao peso da
placenta. Não se sabe ao certo suas funções, a única coisa que se pode afirmar é que esse hormônio
diminui a sensibilidade à insulina e a utilização de glicose pela mãe, disponibilizando assim,

37
UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

quantidades maiores de glicose para o feto. Outra função é que promove a liberação de ácidos graxos
livres das reservas de gordura da mãe, proporcionando assim uma fonte alternativa de energia para
o metabolismo materno durante a gravidez. Ou seja, hoje acredita-se que a somatomamotropina
coriônica humana é um hormônio metabólico geral com implicações nutricionais específicas tanto
para a mãe quanto para o feto.

As dimensões da placenta oscilam de 15 a 20cm, e a espessura, de 1 a 3cm. O peso


médio de 450g.

A placenta tem três funções principais:

»» metabólica;

»» endócrina;

»» de trocas.

Nesse contexto, o enfoque é dado à placenta com órgão endócrino. A gravidez é acompanhada
de modificações endócrinas nos compartimentos materno, placentário e fetal, que se relacionam
intimamente. A placenta elabora hormônios proteicos e esteroides. É um órgão incompleto, pois
para sintetizá-los necessita de precursores não só maternos, mas principalmente, fetais.

O vilo corial produz:

»» Hormônio Gonadotrófico Coriônico ou Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG);

»» Somatotrófico Coriônico ou Somatomamotropina Coriônica Humana (HCS) ou


Lactogênio Placentário Humano (HPL);

»» Hormônio Tireotrófico Coriônico (HCT);

»» Hormônio Corticotrófico Coriônico (HCC);

»» Hormônios coriônicos similares aos fatores liberadores e inibidores hipotalâmicos;

»» Hormônio liberador de gonadotrofina hipofisária (LHRH ou GnRH);

»» Hormônio liberador de tireotrofina (TRH);

»» Somatostatina (inibidor do Somatotrófico);

»» Hormônio liberador de corticotropina (CRH);

»» Outros hormônios;

›› hormônio melanotrófico;

›› aldosterona.

38
ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Figura 18: Anatomia saudável da placenta.

Fonte: <http://smartimagebase.com/>. Acesso em: 28/2/2012.

»» Hormônio melanotrófico

Atua nos melanócitos para liberação de melanina, aumentando a pigmentação da


aréola, abdômen e face.

»» Aldosterona

Mantém o equilíbrio de sódio, pois a progesterona estimula sua eliminação e a


aldosterona promove sua reabsorção.

»» Hormônio Gonadotrófico Coriônico ou Gonadotrofina Coriônica


Humana (HCG)

›› É um hormônio glicoproteico, secretado desde o início da formação da placenta


pelas células trofoblásticas, após nidação (implantação) do blastocisto.

›› De forma geral, tem função de manter o corpo lúteo, de modo que as taxas de
progesterona e estrogênio não diminuam, garantindo, assim, a manutenção da
gravidez (inibição da menstruação) e a ausência de nova ovulação. Por volta
da 15a semana de gestação, com a placenta já formada e madura produzindo
estrógeno e progesterona, ocorre declínio acentuado na concentração de HCG e
involução do corpo lúteo.

›› Atua no início da gestação como estímulo para manutenção funcional e


morfológica do corpo lúteo.

›› É como LH hipofisário, tem ação luteotrófica.

›› Protege o ovo, que se comporta como enxerto, da rejeição imunológica materna.

39
›› Estimula a síntese de esteroides, por meio da ativação do sistema enzimático
glicogênio-fosforilase e da aromatase, aromatizando os precursores C-19,
transformando-os em estrógenos.

›› Tem atividade tireotrófica intrínseca.

›› Na diferenciação sexual para o feto do sexo masculino, a HCG estimula as células


de Leydig fetais em torno da nona semana para produzir andrógenos.

›› Pode estimular a produção de relaxina, que é produzido primeiramente pelo


corpo lúteo e mais tarde pela placenta. Esta aumenta a flexibilidade da sínfise
púbica e dos ligamentos das articulações sacroilíaca e sacrococcígea, ajudando a
dilatar o colo uterino durante o trabalho de parto.

Lactação
Durante a gravidez, há a necessidade de uma proliferação dos alvéolos e dos dutos para a lactação.
Isto ocorre devido à ação dos hormônios progesterona e estrogênio. O lactogênio placentário e a
prolactina também são muito importantes na preparação das mamas. A prolactina começa a ser
produzida ainda na puberdade, mas em pequena quantidade. O surto deste hormônio acontece em
decorrência da gravidez, e é aumentado, gradativamente, durante a amamentação. Tal hormônio
é responsável pelo crescimento e pela atividade secretora dos alvéolos mamários. O lactogênio
placentário age como a prolactina, desenvolvendo os alvéolos. Estes dois hormônios estão presentes
durante toda a gravidez, porém suas quantidades não são aumentadas, devido à inibição causada
pelos altos níveis de progesterona e estrogênio. Ao final do trabalho de parto, há uma queda nos
níveis destes dois últimos hormônios, ocasionando um aumento nas quantidades de prolactina e
lactogênio placentário, o que possibilita o início da produção de leite.

Enquanto houver a sucção do mamilo pelo bebê, a prolactina continuará produzindo


leite. Isso acontece porque quando o bebê faz a sucção nos mamilos, estimula
o hipotálamo a secretar o fator liberador da prolactina, mantendo seus níveis e,
consequentemente, a produção de leite. A produção de leite só irá diminuir ou cessar
completamente se a mãe não amamentar seu filho, pois nesse caso, não haverá mais a
estimulação decorrente da sucção do mamilo. A sucção do mamilo também estimulará
a hipófise anterior, que irá secretar ocitocina. Este hormônio é o responsável pela
ejeção do leite. Tal mecanismo ocorre porque a ocitocina contrai os músculos ao redor
dos alvéolos, fazendo com que o leite caminhe até o mamilo. O leite só começa a ser
produzido depois do primeiro dia do nascimento. Até este período, haverá a secreção
e liberação do colostro, que é um líquido aquoso, de cor amarelada, que contém
anticorpos maternos.

»» Lactogênio Placentário Humano (HPL)

›› Hormônio proteico, de estrutura química semelhante à da prolactina e da


somatotrofina hipofisária.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

›› Começa a ser secretado pela placenta em torno da 4a semana de gestação.

›› Aumenta na mesma proporção da massa placentária, alcançando os níveis


máximos após 32 semanas, permanecendo relativamente constante depois
disso.

›› Facilita a preparação das glândulas mamárias para a lactação.

›› Promove a liberação de ácidos graxos a partir do tecido adiposo, fornecendo


fonte alternativa de glicose para produção de ATP pela mãe.

›› Induz a diminuição da sensibilidade à insulina e da utilização de glicose na mãe,


determinando maior disponibilidade de glicose para o feto.

»» Hormônio Tireotrófico Coriônico (HCT)

›› O soro da gestante tem efeito estimulante sobre a tireoide durante toda a gestação.

›› Alcança maior nível no fim do primeiro trimestre.

»» Hormônio Liberador de Corticotropina (CRH)

São análogos aos neuro-hormônios sintetizado pelo hipotálamo, e também formado


no citotrofoblasto do vilo corial. É considerado como “relógio” que estabelece as
condições do nascimento. A secreção começa por volta da 12o semana e aumenta
muito até o final da gravidez. O CRH proveniente da placenta tem um segundo
efeito, aumenta a secreção de cortisol (necessário para o amadurecimento dos
pulmões fetais e para a produção de surfactante).

»» Progesterona

Durante as duas primeiras semanas de gestação, a progesterona estimula as


glândulas tubárias e endometriais a secretarem os nutrientes de que depende
o zigoto. A placenta começa a produzir progesterona em torno de 6 semanas e
com 12 semanas já produz quantidade suficiente para substituir a produção feita
pelo corpo lúteo. De forma geral, ela relaxa a musculatura lisa, o que diminui a
contração uterina, para não ter a expulsão do feto. Aumenta o endométrio, pois se
o endométrio não estiver bem desenvolvido, poderá ocorrer um aborto natural ou o
blastocisto se implantar (nidação) além do endométrio. Este hormônio é importante
para o equilíbrio hidroeletrolítico, além de estimular o centro respiratório no
cérebro, fazendo com que aumente a ventilação, e consequentemente, fazendo com
que a mãe mande mais oxigênio para o feto. A progesterona também complementa
os efeitos do estrogênio nas mamas, promovendo o crescimento dos elementos
glandulares, o desenvolvimento do epitélio secretor e a deposição de nutrientes
nas células glandulares, de modo que, quando a produção de leite for solicitada a
matéria-prima já esteja presente.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

As principais funções são:

›› Mantém o revestimento decidual do útero.

›› Modula secreção de HCG e do lactogênio placentário humano.

›› Inibe as contrações uterinas, em parte por inibir a produção de prostaglandinas


e em parte por reduzir a sensibilidade a ocitocina.

›› Impede a expulsão prematura do feto.

›› Estimula as bolsas alveolares das glândulas mamarias e aprimorar a capacidade


de secretar leite.

›› Estimula o centro respiratório materno a aumentar a ventilação, que ajuda a


dissipar maior quantidade de CO2, produzida pela mulher e por seu feto.

»» Estrogênio

A produção envolve uma contribuição materna, placentária e fetal. No início da


gestação é produzido pelo corpo lúteo sob estimulação da HCG e depois pela
placenta, porém para completar a síntese depende dos precursores dos hormônios
esteroides tanto materno como fetal. De forma geral, promove rápida proliferação da
musculatura uterina; grande desenvolvimento do sistema vascular do útero; aumento
dos órgãos sexuais externos e da abertura vaginal, proporcionando uma via mais
ampla para o parto; rápido aumento das mamas; contribui ainda para a manutenção
hídrica e aumenta a circulação. Dividido em estradiol e estrona – que estão na corrente
materna; e estriol – que está na corrente fetal, é medido para avaliar a função feto-
placentária e o bem-estar fetal. Mas suas principais funções são:

›› Em associação com a relaxina promove um relaxamento e amolecimento dos


ligamentos pélvicos e da sínfise pubiana para melhor acomodar o útero em expansão.

›› Atua no fluxo útero-placentário aumentando-o.

›› Estimula a formação da prolactina hipofisária, bloqueando os receptores


prolactínicos mamários e inibindo a lactogênese na gestação.

›› Estimula a hiperplasia e hipertrofia das fibras musculares uterinas e sua atividade


contrátil ao acionar a produção das prostaglandinas.

›› Estimula a força contrátil do miocárdio para aumentar o débito cardíaco na


gravidez.

»» Lactação

Lactação é o processo que envolve a secreção e a ejeção de leite a partir das


glândulas mamárias.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

A lactação é dividida em três fases:

1. Mamogênese: desenvolvimento da glândula mamária.

2. Lactogênese: início da lactação.

3. Lactopoese: manutenção da lactação.

›› Mamogênese

A unidade morfofuncional das mamas é o alvéolo mamário. O desenvolvimento


da glândula mamária inicia com a puberdade e termina no climatério ou com
a castração. Na menacme o estrogênio exerce efeito proliferativo nos canais
mamários e a progesterona produz o crescimento e a expansão dos alvéolos. A
diferenciação completa do tecido funcional da mama requer, além dos esteroides
sexuais, a participação de diversos outros hormônios: prolactina (PRL),
hormônio do crescimento (GH), cortisol, tiroxina e insulina.

Na gestação, acentua-se o crescimento das estruturas glandulares mamárias pela


produção acentuada de estrogênios, progesterona e do lactogênio placentário
humano (HPL), todos segregados pela placenta. Além disso, a gravidez
caracteriza-se pelo acréscimo do cortisol livre no plasma, hiperinsulinemia e
hipertireoidismo fisiológicos. A PRL cresce na gestação durante o 1o trimestre
e aumenta progressivamente até o termo.

Após a expulsão do bebê ocorre um acréscimo acentuado seguido de redução mais


gradual, condicionada à existência ou não de sucção, por parte do recém-nascido.

›› Lactogênese

É o início da produção láctea que ocorre no pós-parto devido declínio dos


esteroides ovarianos e desaparecimento do efeito inibidor sobre a prolactina,
principal hormônio da lactogênese. Durante os primeiros dias apenas secreção de
colostro, substância com grande concentração de proteínas, anticorpos e células
tímicas que ajudam o infante a imunizar contra infecções (gastrintestinais).

›› Lactopoese

A manutenção do leite é ocasionada pela existência do reflexo neuroendócrino


da sucção. A sucção do mamilo age no eixo hipotalâmico-hipofisário e determina
a liberação da PRL e de ocitocina. O estímulo do mamilo inibe no hipotálamo a
liberação do fator inibidor da prolactina (PIF). Sem esse fator inibidor, ocorre a
segregação da PRL. Consequentemente, a PRL inibe as gonadotrofinas – FSH e
LH. A PRL mantém a secreção láctea e a ocitocina age nas células mioepiteliais
e musculares situadas ao redor dos alvéolos e dos canais intralobulares
determinando contração deles e consequentemente a ejeção láctea.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

»» Eixo Hipotálamo Hipófise Mamas

O estímulo inicial para ativação e/ou inibição desse eixo é o estresse, que via
aumento ou redução das concentrações de dopamina, respectivamente, estimula
neurônios específicos no hipotálamo a produzirem ou o hormônio estimulador
de lactotrofo (PRH) ou o hormônio inibidor de prolactina (PIH). O PRH por sua
vez, estimula um grupo celular específico na hipófise (os lactotrofos) a produzirem
o hormônio prolactina. A prolactina estimula o tecido alvo, ou seja, as mamas a
produzir caseína, uma proteína-chave na formação de leite. O inverso é recíproco,
quando o estímulo aumenta a produção do hormônio inibidor de prolactina, que
por sua vez inibe a produção de prolactina (pelos lactotrofos) e consequentemente
reduz a quantidade de caseína e a formação de leite.

A seguir observamos uma representação esquemática da atividade do eixo


hipotálamo-hipófise-mamas (Figura 19).

Figura 19: Representação esquemática da atividade do eixo hipotálamo – hipófise – mamas. (+) estímulo
excitatório – feedback positivo (-) estímulo inibitório – feedback negativo.

Outras alterações no corpo da mulher grávida


As adaptações anatômicas, fisiológicas e bioquímicas à gravidez são profundas, muitas delas
iniciam-se quase logo após a fecundação e prolongam-se por toda a gestação. A maior parte das
alterações ocorre em resposta a estímulos fisiológicos produzidos pelo feto. Igualmente espantosa é
a rapidez com que uma mulher que esteve grávida retoma, quase completamente, o seu estado pré-
gestacional após o parto e a lactação. Durante uma gravidez normal, virtualmente todos os órgãos
e sistemas sofrem alterações anatômicas e fisiológicas que podem modificar consideravelmente os
critérios de diagnóstico e tratamento de doenças. Assim, adaptações fisiológicas de uma gravidez
normal, podem ser mal interpretadas como patológicas e também podem desmascarar ou agravar
doenças pré-existentes.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Aparelho reprodutor

Útero
Na mulher não grávida o útero pesa +/- 70 g e tem uma cavidade de 10 ml ou menos. Durante a
gravidez o útero transforma-se para albergar o feto, a placenta e o líquido amniótico, num volume
total que ronda os 5 L numa gravidez normal de termo, mas podendo atingir os 20 L ou mais. Assim
o útero aumenta a sua capacidade 500 a 1000 vezes acima do seu estado não grávido, atingindo um
peso de +/- 1.100 g. O crescimento do útero dá-se à custa do estiramento e marcada hipertrofia das
células musculares, sendo mínimo o aumento em número dos miócitos. A acompanhar o aumento de
tamanho das células musculares há uma acumulação de tecido fibroso, particularmente na camada
muscular externa, juntamente com um aumento do tecido elástico, o que confere elasticidade e
resistência à parede uterina, que no termo apresenta uma espessura de 1,5 cm ou menos.

No início da gravidez, a hipertrofia uterina deve-se maioritariamente ao estímulo do estrogénio e talvez


tambémdaprogesteronaenãoàpressãodoseuconteúdo,umavezqueasmesmasalteraçõesseverificamem
situaçõesdegestaçãoectópica.Apósas12semanasdegravidez,oaumentodotamanhouterinorelaciona-se
predominantemente com a pressão exercida pelos produtos da concepção em crescimento. A posição
da placenta também influencia a extensão da hipertrofia do útero, visto que a porção desse que a
rodeia cresce mais rapidamente do que o restante órgão. No fim da 12a semana de gravidez, o útero
ultrapassa a pélvis e à medida que continua a crescer, impacta-se com a parede abdominal anterior,
desloca os intestinos lateralmente e superiormente e continuando a crescer quase atinge o nível do
fígado. Quando a grávida está em pé, a parede abdominal susta o útero. Na posição supina o útero vai
para trás, pousando sobre a coluna vertebral e os grandes vasos adjacentes, particularmente a veia
cava inferior e a aorta.

Fluxo sanguíneo útero-placentar – a entrega da maior parte das substâncias essenciais ao


crescimento e metabolismo do feto e placenta, assim como a remoção dos resíduos metabólicos,
depende de uma perfusão adequada do espaço interviloso placentar. A perfusão placentar depende
do fluxo sanguíneo uterino total, que provem principalmente das artérias uterinas e ováricas. O
fluxo sanguíneo uteroplacentar aumenta progressivamente durante a gravidez, variando entre 450
e 650 ml/min próximo do termo. O aumento progressivo do fluxo sanguíneo materno-placentar
ao longo da gravidez ocorre principalmente à custa de vasodilatação, enquanto o fluxo sanguíneo
feto-placentar aumenta por um crescimento continuado dos vasos placentares. Esta vasodilatação
está na dependência da estimulação estrogênica e da progesterona, na medida em que estes
condicionam uma diminuição da resistência vascular. Outros mediadores influenciam também a
circulação uteroplacentar: as catecolaminas (diminuem significativamente a perfusão placentar
como consequência de um aumento da sensibilidade do leito vascular à adrenalina e noradrenalina
quando comparada com a vasculatura sistêmica), a angiotensina II (na gravidez normal os vasos
apresentam-se refractários ao seu efeito vasopressor, o que ajuda a aumentar o fluxo sanguíneo
uteroplacentar), o óxido nítrico – anteriormente chamado fator de relaxamento derivado do
endotélio (é um potente vasodilatador libertado pelas células endoteliais com importantes
implicações na modificação da resistência vascular e consequentemente na perfusão uteroplacentar
durante a gravidez.

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

Figura 20: Progressão das alterações durante a gestação.

Fonte: <http://www.portalveneza.com.br/colunistas/saude/antigas/saude_23.php>. Acesso em: 28/2/2012.

Colo uterino

Apenas um mês após a concepção, o colo uterino começa a sofrer um amolecimento


e se apresentar cianótico, resultante do aumento da vascularidade e edema
juntamente com a hipertrofia e hiperplasia das glândulas cervicais.

Embora o colo tenha uma pequena quantidade de músculo liso, seu maior é tecido conjuntivo. O
rearranjo desse tecido conjuntivo rico em colágeno é necessário para permitir funções tão diversas
como a manutenção de uma gravidez até ao termo, dilatação para permitir o parto e reparação após
o parto de forma a permitir uma nova gravidez bem sucedida. As células da mucosa endocervical
produzem quantidades copiosas de um muco espesso que obstrui o canal cervical rapidamente após
a concepção.

Figura 21: Colo uterino pronto para uma futura gravidez.

Fonte: <http://smartimagebase.com/>. Acesso em: 28/2/2012.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

Ovários

A ovulação cessa durante a gravidez e a maturação de novos folículos fica suspensa.

Normalmente, apenas se encontra um único corpo amarelo nos ovários de uma mulher grávida. Este
funciona, maximamente, durante as primeiras 6 a 7 semanas de gravidez, produzindo a progesterona
necessária à manutenção da gravidez. A sua remoção cirúrgica antes das 7 semanas de gravidez resulta
numa quebra abrupta dos valores séricos de progesterona e, subsequente, aborto espontâneo.

Relaxina – este hormônio proteico tem semelhanças estruturais com a insulina e com os fatores de
crescimento insulina-like I e II. A sua ação biológica principal é a remodelação do tecido conjuntivo
do aparelho reprodutor, permitindo a acomodação da gravidez e um parto bem-sucedido. É
segregada pelo corpo amarelo, decídua e placenta.

Trompas de falópio

A musculatura das Trompas de Falópio sofre pouca hipertrofia durante a gravidez.

Vagina e períneo

Durante a gravidez, o aumento da vascularização e a hiperemia que se desenvolvem na pele e nos


músculos do períneo e vulva, com amolecimento do abundante tecido conjuntivo, condicionam a
cor violeta típica das paredes vaginais.

Pele

Parede abdominal

Nos últimos meses da gravidez, podem surgir marcas avermelhadas com alguma depressão – as
estrias gravídicas – na pele do abdômen, seios e coxas. Por vezes, os músculos da parede abdominal
não aguentam a pressão a que são submetidos, e os retos abdominais afastam-se na linha média,
originando uma diástase de grau variado. Se muito severa, a parede uterina anterior pode ficar
coberta apenas por uma camada de pele, fáscia enfraquecida e peritoneu.

Pigmentação

Em muitas mulheres, a linha média abdominal – linha alba – torna-se muito pigmentada, assumindo
uma cor castanha escura. Ocasionalmente, podem aparecer manchas irregulares acastanhadas
de tamanho variável no rosto e pescoço, dando origem ao cloasma ou melasma da gravidez. A
pigmentação da aréola mamária e da pele dos genitais também podem se acentuar. Estas alterações
pigmentares usualmente desaparecem, ou pelo menos regridem consideravelmente, após o parto.
O hormônio melanócito-estimulante, presente em grande quantidade a partir do fim do 2o mês de

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

gravidez e até ao termo, e o estrogênio e a progesterona com efeito estimulante dos melanócitos,
parecem ser os responsáveis por estas alterações.

Alterações vasculares
Cerca de dois terços das mulheres de raça branca e 10% das de raça negra, aparecem angiomas – as
aranhas vasculares – comuns na face, pescoço, colo e braços. Também em dois terços das grávidas
de raça branca e um terço das de raça negra, encontra-se eritema palmar. Nenhuma dessas situações
se reveste de significância clínica, desaparecendo, na maior parte das mulheres, rapidamente após
o parto. São consequências da hiperestrogenemia.

Seios
Nas primeiras semanas da gravidez, é frequente as mulheres sentirem um aumento da sensibilidade
mamária e formigamentos. Após o segundo mês de gravidez, os seios aumentam de volume e a rede
venosa cutânea torna-se visível. Os mamilos tornam-se maiores, mais pigmentados e protuberantes
e podem exteriorizar o colostro desde cedo. O tamanho do seio antes da gravidez não tem qualquer
correlação com a futura produção de leite.

Alterações metabólicas
Como resposta às necessidades crescentes do feto em desenvolvimento e da placenta, a mulher grávida
sofre numerosas e intensas alterações metabólicas. Só como exemplo, as necessidades adicionais em
energia para o total da gravidez estimam-se em 80 mil Kcal, ou seja, cerca de 300 kcal/dia.

Aumento de peso

A maior parte do aumento de peso durante a gravidez é atribuível ao útero e ao seu conteúdo, aos
seios e ao aumento do volume sanguíneo e do líquido extracelular. Uma menor porção resulta das
alterações metabólicas que condicionam um aumento na água celular e deposição de nova gordura
e proteínas, constituindo as reservas maternas. O aumento médio de peso durante a gravidez é 12,5
kg. O peso inicial materno e o aumento de peso durante a gravidez relacionam-se diretamente com
o peso fetal à nascença.

Metabolismo da água

A retenção aumentada de água é uma alteração fisiológica normal da gravidez. Esta retenção é
mediada, pelo menos em parte, por uma baixa da osmolaridade plasmática de aproximadamente 10
mOsm/kg induzida por um reajuste dos limiares da sede e da produção de vasopressina. No termo,
o conteúdo em água do feto, placenta e líquido amniótico, ronda os 3,5 L. Mais de 3 L acumulam-
se como resultado do aumento do volume sanguíneo materno e do tamanho do útero e dos seios,
fazendo com que, numa gravidez normal, o aumento mínimo de água extra seja, na média, de 6,5 L.
É comum verificarmos a presença de edema dos tornozelos e pernas em grávidas, sobretudo ao final

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

do dia. Essa acumulação de fluído, que pode atingir um litro ou mais, é causada por um aumento
da pressão venosa abaixo do nível do útero, consequência da oclusão parcial da veia cava inferior.
A baixa da pressão coloide osmótica intersticial, induzida pela gravidez normal, também favorece o
edema no fim da gravidez.

Metabolismo das proteínas

Os produtos da concepção, o útero e o sangue maternos são mais ricos em proteínas do que
em gordura e carboidratos. No termo, o feto e a placenta, juntos, pesam cerca de 4 kg e contêm
aproximadamente 500g de proteínas, que representam metade do ganho total em proteínas da
gravidez. Os restantes 500g depositam-se no útero (sob a forma de proteína contrátil), nos seios (na
glândula mamária) e no sangue materno (como hemoglobina e proteínas plasmáticas). Para suprir
essa necessidade em proteínas, verifica-se um aumento no uso das proteínas da dieta.

Metabolismo dos hidratos de carbono

A gravidez normal caracteriza-se por uma ligeira hipoglicemia em jejum, hiperglicemia pós-
prandial e hiperinsulinemia. Estas alterações não podem ser explicadas por uma diminuição
do metabolismo da insulina, pois a sua semivida mantém-se constante ao longo de toda a
gravidez. O aumento basal no nível plasmático da insulina na gravidez normal está associado
à alteração das respostas da grávida à ingestão de glicose. Após uma refeição oral de
glicose, a grávida apresenta hiperglicemia e hiperinsulinemia prolongadas, com uma maior
supressão do glucagon, o que demonstra um estado, induzido pela gravidez, de resistência
periférica à insulina. O propósito desta alteração será, certamente, garantir um aporte
pós-prandial sustentado de glicose ao feto. Estima-se que a ação da insulina, no fim de uma gravidez
normal, seja 50% a 70% mais baixa do que em mulheres saudáveis não grávidas. A grávida passa
rapidamente de um estado pós-prandial, caracterizado por uma hiperglicemia sustentada, para
um estado de jejum, caracterizado por níveis plasmáticos baixos de glicose e aminoácidos, como a
alanina. Durante o jejum, as concentrações mudança brusca do combustível celular da glicose para
os lipídeos, os autores chamam “fome acelerada”. Quando o jejum é prolongado na grávida, essas
alterações tornam-se exageradas e a cetonemia rapidamente aparece.

Metabolismo das gorduras

As concentrações de lipídeos, lipoproteínas e apolipoproteínas no plasma aumentam


consideravelmente durante a gravidez. O armazenamento das gorduras ocorre principalmente
durante o 2o trimestre da gravidez, depositando-se a maior parte centralmente. À medida que a
gravidez evolui, as necessidades nutricionais do feto aumentam marcadamente e a deposição de
gorduras na mãe diminui. No terceiro trimestre, o colesterol total ronda os 245 +/- 10 mg/ml, o
colesterol LDL 148 +/- 5 mg/ml e o colesterol HDL 59 +/- 3 mg/ml. Após o parto, a concentração
destes lipídeos, assim como das lipoproteínas e apolipoproteínas, diminui em taxas diferentes. A
lactação acelera a taxa de diminuição da maior parte destes compostos.

Leptina – hormônio peptídico, primariamente segregado pelo tecido adiposo, desempenha um


papel-chave na regulação da gordura corporal e no gasto de energia. Durante a gravidez, os níveis

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

séricos de leptina aumentam progressivamente, atingindo um pico durante o segundo trimestre, e


mantendo-se, depois, constantes até ao termo, numa concentração três a quatro vezes superior à
das mulheres não grávidas. Este aumento deve-se, não só ao ganho de tecido adiposo associado à
gravidez, mas também ao fato de a placenta também segregar a leptina.

Metabolismo electrolítico e mineral

Durante uma gravidez normal, são retidos quase 1000 mEq de sódio e 300 mEq de potássio. Embora
a filtração glomerular do sódio e do potássio esteja aumentada, a excreção desses eletrólitos não
sofre alteração durante a gravidez, como resultado de um aumento da reabsorção tubular. Embora
a gravidez esteja associada a um aumento do valor absoluto destes eletrólitos, os seus valores séricos
estão ligeiramente diminuídos como resultado do aumento do volume plasmático. Os níveis séricos
totais de cálcio diminuem na gravidez, refletindo a baixa da concentração plasmática de albumina.
Os níveis do cálcio ionizado mantêm-se inalterados.

O feto em desenvolvimento exige um esforço grande à homeostasia materna do cálcio. Durante o


terceiro trimestre, cerca de 200mg de cálcio são depositados, por dia, no esqueleto fetal, tornando
essencial uma ingestão diária adequada em cálcio, de forma a não depletar excessivamente a mãe.
Isto é particularmente importante na gravidez de adolescentes, cujo próprio esqueleto está ainda em
desenvolvimento. Os níveis séricos de magnésio também diminuem durante a gravidez, quer no valor
total quer o magnésio ionizado. A gravidez constitui um estado de depleção extracelular em magnésio.
Por outro lado, os níveis séricos de fosfato mantêm-se semelhantes aos das mulheres não grávidas.
O limiar renal para a excreção do fosfato inorgânico está elevado na gravidez, devido ao aumento
da calcitonina. No que diz respeito à maior parte dos outros minerais, a gravidez não induz grande
alteração ao seu metabolismo, com exceção para o ferro, cuja necessidade aumenta consideravelmente.

Alterações hematológicas

Volume sanguíneo
O volume sanguíneo materno aumenta marcadamente durante a gravidez. No termo, o volume
de sangue atinge os 40% a 45% acima do valor fora da gravidez. O grau de aumento varia
consideravelmente. Em algumas mulheres ocorre um modesto aumento, enquanto noutras o
volume pode duplicar.

A hipervolemia induzida pela gravidez tem várias funções importantes.

1. Responder às necessidades do útero aumentado com o seu sistema vascular


hipertrofiado.

2. Proteger a mãe, e por seu lado o feto, contra os efeitos nefastos da diminuição do
retorno venoso, nas posições supina e de pé.

3. Resguardar a mãe dos efeitos adversos da perda sanguínea associada ao parto.

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

O volume sanguíneo materno começa a aumentar durante o primeiro trimestre, 15% às 12


semanas de gravidez. Durante o segundo trimestre expande-se mais rapidamente, diminui a taxa
de aumento durante o terceiro trimestre e durante as últimas semanas mantém uma plataforma
constante até ao parto. A expansão do volume sanguíneo materno resulta de um aumento quer do
plasma, quer dos eritrócitos. Embora o aumento de plasma seja superior ao aumento de eritrócitos,
este também atinge um valor importante, de cerca de 450 ml, no final de gravidez. Verifica-se uma
hiperplasia eritroide moderada na medula óssea, e a contagem de reticulócitos está ligeiramente
elevada, durante uma gravidez normal. Essa alteração se deve aos valores aumentados de
eritropoietina plasmática, com pico no início do terceiro trimestre, a que corresponde à produção
máxima de eritrócitos.

Concentração da hemoglobina e hematócrito – apesar da eritropoiese aumentada, a concentração


da hemoglobina e o hematócrito diminuem ligeiramente durante uma gravidez normal, originando
uma diminuição da viscosidade sanguínea. A concentração da hemoglobina, no termo, ronda os 12,5
g/dl, e em cerca de 6% está abaixo dos 11 g/dl. Assim, um valor de hemoglobina inferior a 11 g/dl,
sobretudo se perto do termo, deverá ser considerado anormal, não se devendo à hipervolemia da
gravidez, mas sim a uma provável deficiência em ferro.

Metabolismo do ferro
O conteúdo total em ferro numa mulher adulta normal varia entre 2 e 2,5g, ou seja, metade do valor
do homem. Os depósitos de ferro numa mulher jovem são de apenas 300mg.

As necessidades em ferro de uma gravidez normal, totalizam aproximadamente os 1000mg. Cerca


de 300mg são ativamente transferidos para o feto e a placenta e 200 mg perdem-se pelas várias
formas de excreção, primariamente o trato gastrointestinal. Estas são perdas obrigatórias e dão-se
mesmo quando a mãe apresenta deficiência em ferro.

O aumento do volume total de eritrócitos circulantes – cerca de 450 ml – utiliza mais 500 mg
de ferro, pois 1 ml de eritrócitos normais contêm 1,1 mg de ferro. Praticamente todo o ferro para
estes fins é utilizado na segunda metade da gravidez, tornando as necessidades em ferro muito
aumentadas nesta fase, por volta de 6 a 7 mg/dia. Esta quantidade não está disponível nos depósitos
de ferro da maioria das mulheres, e a não ser que seja exogenamente fornecida, não se dará o
aumento desejável no volume eritrocitário e na concentração da hemoglobina.

Na ausência de suplementação em ferro, a hemoglobina e o hematócrito baixarão à medida que


aumenta o volume sanguíneo. A produção de hemoglobina no feto não é, no entanto, alterada, pois
a placenta retira ferro da mãe, mesmo quando esta apresenta anemia severa. A quantidade de ferro
absorvida da dieta, juntamente com o ferro mobilizado dos depósitos, é usualmente insuficiente
para satisfazer as necessidades maternas condicionadas pela gravidez. Se à grávida não anêmica
não for fornecido ferro suplementar, o ferro e a ferritina séricos baixarão durante a segunda metade
da gravidez.

Geralmente, nem todo o ferro adicionado à circulação materna sob a forma de hemoglobina se perde.
Durante um parto vaginal normal, e nos dias seguintes, apenas cerca de metade dos eritrócitos

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

acrescentados à circulação materna são perdidos, na maioria das mulheres. Estas perdas derivam
do sangramento do leito placentar, da episiotomia ou laceração. Num parto vaginal normal de um
só feto, as perdas habituais de sangue rondam os 500 a 600ml, enquanto numa cesariana ou num
parto vaginal de gêmeos as perdas atingem os 1.000ml.

Funções imunológica e leucocitária


A gravidez está associada à supressão de uma variedade de funções imunológicas humorais e
mediadas por células, de forma a aceitar o “estranho enxerto fetal semialogênico”. Um mecanismo
que parece ser muito importante é a supressão das células T-helper (Th) 1 e T-citotóxicas (Tc) 1, o
que diminui a segregação de interleucina (IL) 2, interferon-gama e fator de necrose tumoralbeta.
Também o interferon-alfa, presente na maior parte dos tecidos e fluidos fetais, está frequentemente
ausente em mulheres grávidas normais. A quimiotaxia e adesividade dos polimorfonucleares
neutrófilos começam a diminuir no segundo trimestre e continuam até ao fim da gravidez. A relaxina
impede a ativação dos neutrófilos. Nem todos os aspectos da função imunológica estão, no entanto,
deprimidos. Há um aumento da atividade das células Th2 para provocar uma secreção aumentada
de IL-4, IL-6 e IL-13. No muco cervical, os níveis de imunoglobulina A e G são significativamente
mais altos durante a gravidez. A contagem leucocitária varia consideravelmente durante uma
gravidez normal, usualmente entre 5.000 e 12.000/ microL. Durante o trabalho de parto e no
puerpério precoce pode aumentar marcadamente até 25.000/microL ou mesmo mais, sendo mais
usual variar entre 14000 e 16000/microL. Este aumento, provavelmente, representa a reentrada
na circulação ativa de leucócitos que tinham sido previamente desviados. A atividade da fosfatase
alcalina leucocitária aumenta logo no início da gravidez. A concentração da proteína C reativa, um
reagente sérico de fase-aguda, sobe durante a gravidez e mais ainda durante o parto. Em 95% das
grávidas, fora do trabalho de parto, o valor da proteína C reativa é 1,5 mg/dl ou menos, valor esse
que não varia com a idade gestacional. A velocidade de sedimentação eritrocitária, outro marcador
de inflamação, aumenta na gravidez normal devido ao fibrinogênio e às globulinas plasmáticas,
que estão elevados. Os fatores C3 e C4 do complemento também estão significativamente elevados
durante o segundo e terceiro trimestres da gravidez.

Coagulação
Na gravidez normal, a cascata da coagulação está num modo ativado, como se verifica pelo aumento
de todos os fatores da coagulação, exceto os fatores XI e XIII, com níveis aumentados de complexos
de fibrinogênio de alto peso molecular. Considerando o substancial aumento fisiológico no volume
plasmático, uma elevação tal nestas concentrações representa um marcado aumento na produção
destes procoagulantes.

O fibrinogênio plasmático (fator I) aumenta cerca de 50%, atingindo valores médios de 450 mg/dl
no fim da gravidez, podendo variar de 300 a 600 mg/dl. Complexos solúveis fibrina-fibrinogênio de
alto peso molecular estão presentes na circulação da grávida normal e as concentrações séricas de
Ddímeros aumentam com a idade gestacional. Os tempos da coagulação do sangue total, no entanto,
não diferem significativamente na grávida normal. A gravidez normal também induz alterações nas
plaquetas, diminuindo ligeiramente a sua contagem. Os autores definem trombocitopenia quando a

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

contagem cai abaixo do percentil 2,5, o que corresponde ao valor de 116.000/ml. Durante a gravidez,
a largura e volume das plaquetas aumentam.

A diminuição na contagem plaquetária deve-se, em parte, à hemodiluição, mas também a um


aumento do consumo, o que leva ao aparecimento em circulação, de plaquetas mais jovens e,
portanto maiores. A partir do meio da gravidez, verifica-se um aumento progressivo do tromboxano
A2, que induz a agregação plaquetária. O produto final da cascata da coagulação é a produção de
fibrina, e a função principal do sistema fibrinolítico é remover o excesso de fibrina, produzindo
produtos da degradação da fibrina, como os D-dímeros. A atividade fibrinolítica encontra-
se reduzida na gravidez normal, relacionada com o aumento da concentração dos inibidores do
ativador do plasminogênio. Proteínas reguladoras – há alguns inibidores naturais da coagulação,
incluindo a proteína C, proteína S e a antitrombina. Deficiências herdadas ou adquiridas destes e
doutras proteínas naturais reguladoras, coletivamente chamadas trombofilias, são responsáveis por
mais de metade dos fenômenos tromboembólicos durante a gravidez.

Sistema cardiovascular
Durante a gravidez e o puerpério o coração e a circulação sofrem alterações fisiológicas notáveis. As
alterações mais importantes na função cardíaca ocorrem nas primeiras 8 semanas de gravidez. O
débito cardíaco aumenta logo à quinta semana, como resultado da baixa das resistências vasculares
periféricas e de um aumento da frequência cardíaca.

Entre as semanas 10 e 20, ocorre um marcado aumento no volume plasmático, de tal forma que a
précarga aumenta. A função ventricular durante a gravidez é influenciada tanto pela diminuição das
resistências vasculares periféricas quanto pelas alterações no fluxo arterial pulsátil. A capacitância
vascular aumenta, em parte, por um aumento da complacência vascular.

Coração

A frequência cardíaca em repouso aumenta cerca de 10 batimentos/minuto durante a gravidez. À


medida que o diafragma sobe progressivamente, o coração é deslocado para a esquerda e para cima,
rodando ao longo do seu eixo. Como resultado, o ápice cardíaco move-se lateralmente em relação
à posição habitualmente ocupada, fora da gravidez, originando um alargamento radiográfico da
silhueta cardíaca. A extensão destas alterações è influenciada pelo tamanho e posição do útero,
pelo tônus dos músculos da parede abdominal e pela configuração do abdômen e do tórax. Alem
disto, é normal haver algum derrame pericárdico benigno na gravidez, o que contribui também
para aumentar a silhueta cardíaca, tornando difícil, por vezes, a identificação de graus moderados
de cardiomegalia por meio de estudos radiográficos simples.

A gravidez normal não induz alterações eletrocardiográficas características, a não ser um ligeiro
desvio esquerdo do eixo, resultante da alteração da posição do coração. Alguns sons cardíacos podem
alterar-se durante a gravidez. Um exagero do desdobramento de S1, sem alterações de S2 e um S3
alto e bem audível. Em 90% das grávidas ouve-se um sopro sistólico que desaparece rapidamente
após o parto. O ventrículo esquerdo está aumentado como resultado de hipertrofia excêntrica.
Uma pós-carga marcadamente atenuada, que se manifesta por diminuição da resistência vascular

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UNIDADE ÚNICA │ ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER

periférica e da pressão arterial média, permite um aumento apreciável do débito cardíaco. Além
disso, o diâmetro da aurícula esquerda e o diâmetro, no fim da diástole, do ventrículo esquerdo são
maiores, refletindo o aumento da pré-carga. O aumento da frequência cardíaca e da contractilidade
inotrópica implicam uma diminuição da reserva cardiovascular.

Débito cardíaco – durante uma gravidez normal, a pressão arterial e a resistência vascular diminuem
enquanto o volume sanguíneo, o peso materno e a taxa metabólica basal aumentam. Qualquer um
destes fatores pode afetar o débito cardíaco. É reconhecido que em repouso, quando medido em
decúbito lateral, aumenta de modo significativo, desde o princípio da gravidez. Continua a aumentar
e mantém-se elevado durante a restante gravidez. Tipicamente, o débito cardíaco no fim da gravidez
é apreciavelmente mais alto em decúbito lateral do que em decúbito dorsal, porque nesta última
posição o útero de grande volume frequentemente impede o retorno venoso ao coração. Durante
o primeiro estádio do trabalho de parto, o débito cardíaco aumenta moderadamente, e durante o
segundo estádio, com os esforços expulsivos vigorosos, é apreciavelmente mais alto. A maior parte
do aumento induzido pela gravidez perde-se rapidamente após o parto. Função hemodinâmica no
fim da gravidez – estudos hemodinâmicos invasivos realizados em grávidas saudáveis de 35 a 38
semanas e 11 a 13 semanas após o parto mostraram aumento da frequência cardíaca, da fração de
ejeção e do débito cardíaco no fim da gravidez. As resistências vasculares sistêmica e pulmonar
baixam significativamente, assim como a pressão coloidosmótica. A pressão de encravamento
capilar pulmonar e a pressão venosa central não se alteram significativamente. A função ventricular
esquerda mantém-se semelhante à do estado de não gravidez, pelo que podemos afirmar que a
gravidez normal não é um estado contínuo de “alto débito”.

Circulação e pressão arterial

A posição da grávida afeta a pressão arterial. A pressão arterial diminui até ao seu valor mais baixo
no meio da gravidez e depois sobe até ao fim do tempo. A diastólica desce mais que a sistólica. A
pressão venosa na metade superior do organismo permanece inalterada, mas o fluxo sanguíneo nas
pernas lentifica-se durante a gravidez, exceto em decúbito lateral, suportando a hipótese de que
o útero aumentado oclui as veias pélvicas e a veia cava inferior. Estas alterações contribuem para
o estabelecimento do edema frequentemente observado no termo, e desenvolvimento de varizes
nas pernas e na vulva, assim como o aparecimento de hemorroidas. Também predispõem para a
trombose venosa profunda.

Hipotensão supina – no fim da gravidez, com a mulher em decúbito dorsal, o grande útero grávido
comprime marcadamente o sistema venoso que retorna o sangue da metade inferior do organismo.
Como resultado, o preenchimento cardíaco reduz-se e o débito cardíaco diminui. Em cerca de 10%
das mulheres estes fenômenos causam hipotensão arterial significativa, referida como síndrome
da veia cava inferior ou síndrome da hipotensão supina. Também a aorta pode ser suficientemente
comprimida de forma a baixar a pressão arterial abaixo do nível de compressão. Assim, a pressão
arterial uterina baixa significativamente em relação à pressão na artéria umeral. Na presença de
hipotensão sistêmica, como ocorre com a analgesia espinal, a diminuição na pressão arterial uterina
é ainda mais marcada. Renina, Angiotensina II e Volume Plasmático – o eixo renina-angiotensina-
aldosterona está intimamente envolvido na regulação renal da pressão arterial, por meio do balanço
da água e do sal. Todos os componentes deste sistema estão aumentados na gravidez normal. A

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ANATOMIA E FISIOLOGIA DA MULHER │ UNIDADE ÚNICA

renina é produzida quer pelos rins maternos quer pela unidade uteroplacentar, e o substrato da
renina (angiotensinogênio) é produzido pelos fígados materno e fetal. A estimulação do sistema
renina-angiotensina é importante para a manutenção dos valores da pressão arterial durante o
primeiro trimestre da gravidez. As grávidas normais (sem doença hipertensiva prévia ou induzida
pela gravidez) apresentam refratoriedade aos efeitos hipertensivos da angiotensina II. Esta condição
deriva duma ausência de resposta individual das paredes vasculares à angiotensina II. Nas mulheres
que vão desenvolver, ou que já apresentam pré-eclampsia, não só não existe esta refratoriedade,
como também apresentam uma sensibilidade aumentada à angiotensina II.

Peptídeos Cardíacos Natriuréticos – estes incluem o peptídeo auricular natriurético (PAN) e o


peptídeo tipo beta natriurético (PBN), que são produzidos e segregados pelo miocárdio. Em resposta
ao estiramento das paredes das aurículas, estes peptídeos são segregados e regulam o volume
sanguíneo, originando uma diurese e natriurese significativas. Também promovem o relaxamento
do músculo liso vascular. Os níveis plasmáticos de PAN, na gravidez normal e com uma ingestão
de sódio normal, mantêm-se sobreponíveis aos apresentados fora da gravidez, apesar do aumento
do volume plasmático. Esta adaptação fisiológica é importante para permitir a expansão do volume
do fluido extracelular e o aumento da concentração plasmática da aldosterona, características da
gravidez normal. Os níveis de PAN estão ainda mais baixos nas gestações gemelares. O peptídeo tipo
C natriurético é predominantemente segregado por tecidos não cardíacos. A sua função principal é a
regulação do crescimento do osso fetal.

Prostaglandinas – o aumento da produção de prostaglandinas, na gravidez normal, desempenha


um papel principal na regulação do tônus vascular, pressão arterial e balanço do sódio. A síntese de
prostaglandina E2 na medula renal está muito aumentada no final da gravidez e presume-se que seja
natriurética. A prostaciclina (PGI2), a prostaglandina principal do endotélio, também está aumentada
no final da gravidez e participa na regulação da pressão arterial e da coagulação. A PGI2 foi também
implicada como sendo um factor na resistência à angiotensina, característica da gravidez normal.

Progesterona – a resposta vascular à angiotensina II mediada pelas prostaglandinas pode estar


relacionada com a progesterona. Normalmente, as mulheres perdem a refratoridade vascular à
angiotensina II adquirida, 15 a 30 minutos após se dar o dequite da placenta.

Endotelina – a endotelina-1 é produzida nas células endoteliais e no músculo liso vascular, e é


um potente vasoconstritor que regula o tônus vasomotor local. A sua produção é estimulada pela
angiotensina II, pela vasopressina e pela trombina. As endotelinas, por sua vez, estimulam a secreção
do PAN, aldosterona e catecolaminas.

Fluxo Sanguíneo Cutâneo – o aumento do fluxo sanguíneo cutâneo na gravidez serve para dissipar
o excesso de calor que é gerado pelo aumento do metabolismo.

Trato respiratório
Durante a gravidez, o diafragma sobe cerca de 4 cm. O ângulo subcostal alarga-se à medida que o
diâmetro transverso da caixa torácica aumenta cerca de 2 cm. O perímetro torácico aumenta cerca
de 6 cm, mas não o suficiente para impedir a redução do volume residual funcional, originado pela
subida do diafragma.

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Função pulmonar

A frequência respiratória praticamente não se altera durante a gravidez, mas o volume corrente, o
volume ventilatório por minuto e a absorção de oxigênio por minuto aumentam significativamente
à medida que a gravidez progride. A capacidade respiratória máxima e a capacidade vital forçada
não se alteram apreciavelmente. A capacidade residual funcional e o volume residual estão
diminuídos como consequência da elevação do diafragma. A complacência pulmonar não é afetada
pela gravidez. A condutância das vias aéreas está aumentada e a resistência pulmonar total está
diminuída. O volume crítico de encerramento (volume pulmonar com qual as vias aéreas das
zonas dependentes do pulmão começam a encerrar durante a expiração), é mais alto durante
a gravidez. As necessidades aumentadas em oxigênio e o volume crítico de encerramento mais
elevado tendem a tornar as doenças respiratórias mais graves durante a gravidez. Em qualquer
uma das fases da gravidez, a quantidade de oxigênio que entra para os pulmões por meio do
aumento do volume corrente excede claramente as necessidades aumentadas impostas pela
gravidez. Além disso, a quantidade de hemoglobina em circulação, e, portanto a capacidade de
transporte do oxigênio, aumenta consideravelmente durante uma gravidez normal, assim como
o débito cardíaco. Como consequência, o gradiente do oxigênio arteriovenoso materno diminui.
O conteúdo em oxigênio do sangue arterial é significativamente mais baixo no terceiro trimestre
da gravidez, em virtude da baixa do conteúdo em hemoglobina – a chamada anemia fisiológica
da gravidez.

A função pulmonar não difere nas gestações únicas ou múltiplas, mas quando
comparadas com mulheres não grávidas verifica-se que, no terceiro trimestre, a
capacidade de reserva funcional e o volume de reserva expiratória são 20% e 30 %
mais baixos, respectivamente. Além disso, a ventilação por minuto aumenta cerca
de 30 %, tão cedo como no primeiro trimestre da gravidez.

Equilíbrio ácido-base

Uma sensação aumentada da necessidade de respirar é comum, mesmo no início da gravidez, e


pode, erradamente, ser interpretada como dispneia, levando a pensar em problemas pulmonares
e/ou cardíacos que de fato não existem. O mecanismo da dispneia fisiológica passa pelo aumento
do volume corrente, que diminuindo ligeiramente o pCO2 do sangue causa paradoxalmente
dispneia. Para compensar a alcalose respiratória resultante, os níveis de bicarbonato plasmático
diminuem de 26 para cerca de 22 mmol/L. Como resultado, o pH sanguíneo sobe ligeiramente,
desviando a curva de dissociação da hemoglobina para a esquerda e aumentando a afinidade da
hemoglobina materna para o oxigênio – efeito de Bohr – diminui a capacidade de libertação do
oxigênio do sangue materno. Assim, a hiperventilação que resulta num pCO2 materno diminuído,
facilita a passagem do CO2 do feto para a mãe mas parece afetar a libertação do oxigênio do
sangue materno para o feto. O aumento do pH materno, embora mínimo, estimula um aumento
do 2,3-difosfoglicerato nos eritrócitos maternos, que contraria o efeito de Bohr, desviando a curva
de dissociação da hemoglobina novamente para a direita e facilitando a libertação do oxigênio
para o feto.

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Sistema urinário

Rim

A gravidez provoca várias alterações no sistema urinário. O tamanho dos rins aumenta ligeiramente.
A taxa de filtração glomerular e o fluxo plasmático renal aumentam logo no início da gravidez, um
aumento de 50% ou mais no início do segundo trimestre. A taxa de filtração glomerular mantém-se
elevada até ao termo, embora o fluxo sanguíneo renal diminua para o fim da gravidez. A excreção
renal da calicreína, uma protease tecidular sintetizada nas células do túbulo distal, aumenta entre as
semanas 18 e 34. Tal como com a pressão arterial, a postura materna influencia consideravelmente
a função renal. No fim da gravidez, o fluxo urinário e a excreção de sódio diminuem para menos de
metade na posição supina, quando comparada com o decúbito lateral.

Perda de nutrientes – as grávidas apresentam na urina quantidades de nutrientes muito mais


elevadas do que fora da gravidez, como aminoácidos e vitaminas hidrosolúveis.

Testes da função renal – a gravidez normal influencia a leitura dos testes da função renal. A creatinina
sérica e a ureia diminuem de uma média de 0,7 e 1,2 mg/dl para 0,5 e 0,9 mg/dl, respectivamente.
Valores de 0,9 e 1,4 mg/dl sugerem doença renal e devem requerer um estudo imediato da função
renal. O clearance da creatinina deverá ser 30% mais alto do que os 100 a 115 ml/min, normalmente
encontrados fora da gravidez. O clearance da creatinina é um teste útil para o estudo da função
renal da grávida, desde que a recolha de urina seja feita por um período de tempo correto – durante
o dia as grávidas acumulam água sob a forma de edema nas zonas dependentes, que mobilizam
durante a noite, quando deitadas, e excretam por meio do rim, originando flutuações marcadas na
densidade urinária. Esta alteração do padrão normal diurno do fluxo urinário causa notúria, com
urina mais diluída. A incapacidade de concentrar a urina, após 18h de privação de líquidos, não
significa doença renal, na grávida.

Análise da urina – a glicosúria durante a gravidez não é necessariamente anormal. O aumento


apreciável da filtração glomerular, juntamente com uma diminuição na capacidade de reabsorção
tubular da glicose filtrada, originam frequentemente algum grau de glicosúria, em pelo menos
1/6 das grávidas normais. No entanto, na sua presença não deve ser descurada a possibilidade
da existência de Diabetes Mellitus. Normalmente, não há proteinúria durante a gravidez, exceto,
ocasionalmente e em pequena quantidade, durante ou imediatamente após um esforço vigoroso.
A hematúria, se não for resultado de contaminação durante a colheita, sugere um diagnóstico de
doença do trato urinário.

Uereteres

Quando o útero sobe e sai completamente da cavidade pélvica, encosta aos ureteres e desvia-os
lateralmente, comprimindo-os no bordo pélvico. A dilatação ureteral raramente é simétrica, sendo
comum ser mais marcada à direita, talvez pela dextrorotação do útero. O ureter alonga-se, ao mesmo
tempo em que se distende, originando frequentemente curvaturas no seu trajeto.

Bexiga

Até às 12 semanas poucas alterações anatômicas se observam na bexiga. A partir desse tempo, o
útero aumentado, a hiperemia que afeta os órgãos pélvicos e a hiperplasia dos tecidos muscular

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e conjuntivo, elevam o trígono vesical e aumentam a espessura da sua margem intraureter. A


pressão intravesical aumenta até 20 cm H2O, no fim da gravidez. Para compensar a diminuição da
capacidade vesical, o comprimento da uretra aumenta cerca de 6 mm. Finalmente, para manter a
continência, a pressão intrauretral máxima aumenta de 70 para 93 cm H2O. No entanto, a maioria
das mulheres apresenta algum grau de incontinência urinária durante a gravidez. A perda de urina
deve ser sempre um diagnóstico diferencial com a ruptura de membranas.

Trato gastrointestinal
À medida que a gravidez progride, o estômago e os intestinos são deslocados pelo útero em
crescimento. As implicações destas alterações posicionais são variadas. O apêndice, por exemplo,
é usualmente deslocado para cima e lateralmente, podendo atingir o flanco direito. O tempo de
esvaziamento gástrico não parece modificar-se durante cada um dos trimestres e quando comparado
com mulheres não grávidas (estudo realizado com técnicas de absorção do acetaminofeno –
paracetamol). Contudo, durante o trabalho de parto e especialmente após administração de agentes
analgésicos, o esvaziamento gástrico pode prolongar-se apreciavelmente. Como resultado, é alto
o risco de regurgitação e aspiração durante uma anestesia geral para cesariana, quer de alimentos
quer de suco gástrico extremamente ácido A pirose (azia) é comum durante a gravidez e é muito
provavelmente causada pelo refluxo das secreções gástricas ácidas para o esófago distal. Embora
a alteração da posição do estômago possa contribuir para a sua frequente ocorrência, o tónus do
esfíncter esofágico inferior está diminuído, permitindo a fácil passagem das secreções. Além disso,
a pressão intragástrica é mais alta e a pressão intraesofágica mais baixa nas grávidas. Ao mesmo
tempo a peristalse esofágica está diminuída. As gengivas tornam-se epidêmicas e amolecidas
durante a gravidez e podem sangrar quando ligeiramente traumatizadas, como na escovagem dos
dentes. Um inchaço focal, altamente vascularizado das gengivas, desenvolve-se ocasionalmente mas
tipicamente regride espontaneamente após o parto. A maior parte dos estudos indica que a gravidez
não origina cárie dentária. As hemorroidas são bastante comuns durante a gravidez. Resultam, em
larga medida, da obstipação e da pressão elevada nas veias a jusante do útero grávido.

Fígado

O fígado não sofre alterações, quer em tamanho quer na sua histologia, durante a gravidez. O calibre
da veia porta e o seu fluxo sanguíneo aumentam marcadamente. Nos estudos da função hepática,
a fosfatase alcalina quase duplica, mas muito deste aumento deve-se à fosfatase alcalina de origem
placentar. As transaminases, a gama-GT e as bilirrubinas estão ligeiramente diminuídas durante
a gravidez A concentração da albumina plasmática diminui durante a gravidez. No termo, por
exemplo, a concentração da albumina plasmática ronda os 3g/dl em oposição ao valor habitual
de 4,3 g/dl das mulheres não grávidas. No entanto, o valor total de albumina está aumentado, em
virtude de um volume de distribuição aumentado.

Vesícula biliar

Durante a gravidez normal, a contractilidade da vesícula biliar está diminuída, levando ao aumento
do volume residual. Esta diminuição leva a estase biliar, e esta, ao aumento da concentração em

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colesterol, o que explica o aumento da prevalência de cálculos de colesterol em multíparas. Os efeitos


da gravidez nas concentrações séricas dos ácidos biliares não estão completamente esclarecidos,
embora seja há muito conhecida a propensão na gravidez para o aparecimento de colestase intra-
hepática e do prurido gravídico, da responsabilidade dos sais biliares retidos.

Sistema endócrino

Hipófise

Durante uma gravidez normal, a hipófise aumenta aproximadamente 135%. Este aumento não
condiciona alterações na visão. A hipófise materna não é essencial para a manutenção da gravidez,
como se comprova por gravidezes levadas a bom termo em mulheres que sofreram hipofisectomia,
desde que recebam glucocorticoides, hormônio tiroideiano e vasopressina.

Hormônio do crescimento – durante o primeiro trimestre a hormônio do crescimento é segregada


essencialmente pela hipófise materna e apresenta valores sobreponíveis aos da não gravidez. Às 8
semanas começa a conseguir dosear-se a hormônio do crescimento segregada pela placenta. Às 17
semanas, a placenta é a principal fonte de hormônio do crescimento. Os valores séricos aumentam
lentamente de cerca de 3,5 ng/ml às 10 semanas até atingir um planalto de 14 ng/ml a partir das 28
semanas. Embora a hormônio do crescimento seja abundante na circulação fetal, não se considera
que seja um fator hormonal major na regulação do crescimento fetal, como se comprova pelo fato
de fetos anencéfalos (incapazes de produzir quantidades apreciáveis de hormônio do crescimento
hipofisária) apresentarem, habitualmente, um peso e comprimento quase normais.

Prolactina – os níveis plasmáticos de prolactina aumentam marcadamente durante uma gravidez


normal. No termo, os valores séricos da prolactina são habitualmente 10 vezes superiores (cerca
de 150 ng/ml) aos das mulheres não grávidas. Paradoxalmente, os níveis de prolactina após o
parto baixam, mesmo nas mulheres que amamentam. A principal função da prolactina é garantir
a lactação. No início da gravidez, a prolactina estimula a síntese de DNA e a mitose das células
epiteliais glandulares e das células alveolares pré-secretórias do seio. Também aumenta o número
de receptores para o estrogênio e prolactina nessas mesmas células e promove a síntese de RNA
das células alveolares mamárias, a galactopoiese e a produção de caseína e lactalbumina, lactose
e lipídeos. A prolactina é essencial para a lactação, mas não para levar a termo uma gravidez
bem sucedida.

Glândula tiroide

A gravidez induz um aumento marcado dos níveis circulantes da principal proteína transportadora
da tiroxina, em resposta aos elevados níveis de estrogênio. A placenta produz, em excesso, vários
fatores de estimulação tiroidea. Na gravidez, há uma menor disponibilidade de iodeto para a tiroide
materna. A clearance e excreções renais aumentadas resultam num estado de relativa deficiência
em iodo. A tiroide sofre um moderado aumento no tamanho, devido à hiperplasia glandular e ao
aumento da vascularização. Esta hipertrofia não é patológica e uma gravidez normal não origina
tiromegalia significativa, pelo que qualquer bócio deverá ser investigado.

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A tiroxina total (T4) aumenta abruptamente entre a sexta e a nona semanas, atingindo um planalto
às 18 semanas. A T4 livre sobe ligeiramente, atingindo um pico junto com a HCG e regressando a
valores normais durante o segundo trimestre da gravidez. Os níveis de triiodotironina total (T3)
aumentam mais pronunciadamente até as 18 semanas e depois se mantém. Os níveis de TRH não
estão aumentados na gravidez normal. Estas alterações complexas na regulação tiroideia durante a
gravidez, não parecem alterar o equilíbrio tiroideu, como se verifica nos estudos metabólicos.

Glândulas paratiroides

A regulação da concentração de cálcio está intimamente relacionada com a fisiologia do magnésio,


fosfato, hormônio paratiroide, vitamina D e calcitonina. Os marcadores do turnover ósseo estão
aumentados durante a gravidez, e não descem para os valores basais nos 12 meses a seguir ao parto,
levando os autores a pensar que o cálcio necessário ao crescimento fetal e à lactação sai, pelo menos
em parte, do esqueleto materno.

Hormônio paratiroide e Cálcio – baixas agudas ou crônicas do cálcio plasmático e agudas do


magnésio estimulam a libertação do hormônio paratiroide, enquanto aumentos do cálcio e magnésio
a suprimem. A ação deste hormônio na reabsorção óssea, na absorção intestinal e na reabsorção
renal é aumentar o cálcio do fluido extracelular e diminuir o fosfato. As concentrações plasmáticas
do hormônio paratiroide diminuem no primeiro trimestre e depois aumentam progressivamente
até ao fim da gravidez. Os níveis aumentados derivam da baixa concentração de cálcio nas grávidas,
resultante do aumento do volume plasmático, da taxa de filtração glomerular aumentada e da
transferência materno-fetal do cálcio. O cálcio ionizado baixa apenas ligeiramente. O estado normal
durante a gravidez é de hiperparatiroidismo fisiológico, aparentemente para garantir o aporte
adequado de cálcio ao feto.

Calcitonina e Cálcio – o Cálcio e o Magnésio estimulam a síntese e secreção da calcitonina pelas


células C da glândula tiroide. As ações conhecidas da calcitonina são opostas às do hormônio
paratiroide e vitamina D, no sentido de proteger a calcificação do esqueleto durante períodos de
stress do cálcio, como é o caso da gravidez e da lactação, durante as quais os níveis de calcitonina
estão apreciavelmente elevados.

Vitamina D e Cálcio – a vitamina D, segregada pela pele ou ingerida, é convertida pelo fígado em
25-hidroxivitamina D3. Dessa forma, é então convertida no rim, na decídua e na placenta em
1,25-dihidroxivitamina D3, cujos níveis estão aumentados durante uma gravidez normal. Este é o
composto activo, e estimula a reabsorção do cálcio do osso e a absorção no intestino. A conversão da
25- hidroxivitamina D3 em 1,25-dihidroxivitamina D3 é facilitada pelo hormônio paratiroide e por
níveis plasmáticos baixos de cálcio e fosfato e inibida pela calcitonina.

Glândulas suprarrenais

As glândulas suprarrenais maternas praticamente não sofrem alterações morfológicas durante a


gravidez normal.

Cortisol – a concentração sérica de cortisol está aumentada, mas muito dele circula ligado à sua
globulina de transporte, a transcortina. A taxa de secreção do cortisol não está aumentada, mas

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a taxa de clearance metabólico está diminuída, uma vez que a sua semivida praticamente duplica
durante a gravidez. No início da gravidez os níveis de corticotrofina (ACTH) circulante reduzem-se
drasticamente. À medida que a gravidez progride, os níveis de ACTH e de cortisol livre aumentam.
Este aparente paradoxo pode ser resultante de alguma refratoriedade tecidular ao cortisol.

Aldosterona – por volta das 15 semanas, as suprarrenais segregam quantidades consideravelmente


aumentadas de aldosterona. No terceiro trimestre segregam 1 mg/dia. Se a ingestão de sódio for
restringida, a secreção de aldosterona aumenta ainda mais. Ao mesmo tempo, os níveis de renina e
precursor da angiotensina II estão normalmente elevados, levando ao aumento dos níveis plasmáticos
de angiotensina II e consequente aumento da secreção de aldosterona pelas suprarrenais. A
aldosterona aumentada confere proteção contra o efeito natriurético da progesterona e do peptídeo
natriurético auricular.

Desoxicorticosterona – os níveis maternos deste potente mineralocorticoide aumentam


progressivamente durante a gravidez, atingindo no termo perto de 1500 pg/ml, cerca de 15 vezes o
seu valor normal. Este marcado aumento não deriva da secreção adrenal, mas sim representa uma
produção aumentada no rim, em resposta à estimulação estrogênica. Os níveis de desoxicorticosterona
no feto são mais altos que os maternos, sugerindo transferência de desoxicorticosterona fetal para
a circulação materna.

Sulfato de dehidroepiandrosterona – os seus níveis plasmáticos e excretados na urina estão


diminuídos durante a gravidez, consequência de um clearance metabólico aumentado, por meio da
hidroxilação no fígado materno e conversão em estrogênio pela placenta.

Androstenediona e Testosterona – os níveis plasmáticos maternos destes androgênios estão aumentados


durante a gravidez, por aumento da sua taxa de produção. Eles são convertidos em estradiol pela
placenta, pelo que não se encontram na circulação fetal, mesmo que presentes em grande quantidade na
circulação materna.

Sistema musculoesquelético

Uma lordose progressiva é característica da gravidez normal, no sentido de


compensar o útero em crescimento, em posição anterior. Assim, o centro de
gravidade volta a colocar-se sobre as extremidades inferiores.

As articulações sacroilíaca, sacrococcígea e púbica ganham mobilidade durante a gravidez. Os


autores verificaram que, embora a laxidez das articulações aumentasse durante a gravidez, não
se relacionava com os níveis maternos de estradiol, progesterona ou relaxina. A mobilidade das
articulações pode contribuir para a alteração da postura materna, e dar origem a desconforto na
zona lombar, particularmente incomodativo no final da gravidez. Também, nessa altura, as grávidas
se queixam frequentemente de dores, adormecimento e fraqueza nos membros superiores, que
pode resultar da anteriorização e flexão do pescoço à medida que a lordose progride, provocando
estiramento dos nervos cubital e mediano. Os ossos e ligamentos da pelve sofrem importantes
adaptações durante a gravidez, com relaxamento das articulações, particularmente a sínfise púbica.
O retorno ao normal começa logo após o parto e está completo em 3 a 5 meses.

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Olhos
A pressão intraocular diminui durante a gravidez, em parte por aumento do escoamento do vítreo. A
sensibilidade corneana também está diminuída, e por vezes a córnea apresenta-se espessada devido
a edema, o que pode tornar desconfortável o uso de lentes de contacto previamente bem toleradas.
Para além de uma perda transitória da capacidade de acomodação, quer durante a gravidez quer
durante a lactação, a visão não é afetada pela gravidez.

Sistema nervoso central


Durante a gravidez e no pós-parto imediato, as mulheres queixam-se frequentemente de deficits
de atenção, concentração e memória. Os estudos, por vezes anedóticos, feitos sobre este tema,
mostraram uma diminuição da memória limitada ao terceiro trimestre da gravidez, que não estava
relacionada com depressão, ansiedade, privação de sono ou outras alterações físicas associadas à
gravidez, que era transitório e rapidamente se resolvia após o parto. Com início cerca das 12 semanas
e prolongando-se até 2 meses depois do parto, as grávidas apresentam dificuldade em adormecer,
acordam frequentemente, dormem menos horas durante a noite e o sono é menos reparador.

Parto
Figura 22: Corpo materno e feto prontos para o parto.

Fonte: <http://smartimagebase.com/>. Acessado em: 28/2/2012.

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A ocitocina é um hormônio que potencializa as contrações uterinas tornando-


as fortes e coordenadas, até completar-se o parto. Quando inicia a gravidez, não
existem receptores no útero para a ocitocina. Estes receptores vão aparecendo
gradativamente no decorrer da gravidez. Quando a ocitocina se liga a eles, causa
a contração do músculo liso uterino e também, estimulação da produção de
prostaglandinas, pelo útero, que ativará o músculo liso uterino.

O parto depende tanto da secreção de ocitocina quanto da produção das prostaglandinas, porque
sem estas, não haverá a adequada dilatação do colo do útero e consequentemente, o parto não irá
progredir normalmente. Não são bem conhecidos os fatores desencadeantes do trabalho de parto,
mas sabe-se que, quando o hipotálamo do feto alcança certo grau de maturação, estimula a hipófise
fetal a liberar ACTH. Agindo sobre a adrenal do feto, esse hormônio aumenta a secreção de cortisol e
outros hormônios, que estimulam a placenta a secretar prostaglandinas. Estas promovem contrações
da musculatura lisa do útero. Ainda não se sabe o que impede o parto prematuro, uma vez que nas
fases finais da gravidez, há uma elevação do nível de ocitocina e de seus receptores, o que poderia
ocasionar o início do trabalho de parto, antes do fim total da gravidez. Existem possíveis fatores
inibitórios do trabalho de parto, como a proporção estrogênio/progesterona e o nível de relaxina,
hormônio produzido pelo corpo lúteo do ovário.

A progesterona mantém seus níveis elevados durante toda a gravidez, inibindo o músculo liso
uterino e bloqueando sua resposta a ocitocina e as prostaglandinas. O estrogênio aumenta o grau
de contratilidade uterina. Na última etapa da gestação, o estrogênio tende a aumentar mais que a
progesterona, o que faz com que o útero consiga ter uma contratilidade maior.

A relaxina aumenta o número de receptores para a ocitocina, além de produzir um ligeiro


amolecimento das articulações pélvicas (articulações da bacia) e das suas cápsulas articulares,
dando-lhes a flexibilidade necessária para o parto (por provocar remodelamento do tecido
conjuntivo, afrouxa a união entre os ossos da bacia e alarga o canal de passagem do feto). Tem
ação importante no útero para que ele se distenda, à medida que o bebê cresce. O nível de relaxina
aumenta ao máximo antes do parto e depois cai rapidamente. Ainda não se conhecem os fatores que
realmente interferem no trabalho de parto, mas uma vez que ele tenha iniciado, há um aumento no
nível de ocitocina, elevando muito sua secreção, o que continua até a expulsão do feto.

As mamas começam a desenvolver-se na puberdade. Esse desenvolvimento é estimulado pelos


estrogênios do ciclo sexual feminino mensal, pois estes estimulam o crescimento da parte glandular
das mamas além do depósito de gordura que concederá massa às mamas. Além disso, ocorre um
crescimento bem mais intenso durante o estado de altos níveis de estrogênio da gravidez, e só então
o tecido glandular torna-se inteiramente desenvolvido para a produção de leite. Durante a gravidez
as grandes quantidades de estrogênios secretadas pela placenta fazem com que os sistemas de
ductos das mamas cresçam e ramifique-se. Simultaneamente, o estroma das mamas aumenta a
quantidade de gordura depositada.

Quatro outros hormônios são igualmente importantes para o crescimento do sistema de ductos:
hormônio do crescimento, prolactina, os glicocorticoides adrenais, e a insulina. Sabe-se que cada
um deles tem pelo menos algum papel no metabolismo das proteínas, o que presumivelmente

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explica sua função no desenvolvimento das mamas. O desenvolvimento final das mamas em órgãos
secretores de leite também requer progesterona.

Quando o sistema de ductos estiver desenvolvido, a progesterona junto com o estrogênio causará
crescimento adicional dos lóbulos mamários, com multiplicação dos alvéolos e desenvolvimento de
características secretórias nas células dos alvéolos. Essas mudanças são análogas aos efeitos secretórios
da progesterona no endométrio uterino durante a última metade do ciclo menstrual feminino.

A prolactina é secretada pela hipófise anterior materna e sua concentração no sangue da mãe
aumenta uniformemente a partir da quinta semana de gravidez, até o nascimento do bebê. Além
disso, a placenta secreta grades quantidades de somatomamotropina coriônica humana que
provavelmente tem propiedades lactogênicas. O líquido secretado durante os últimos dias antes
do parto e nos primeiros dias após o parto é denominado colostro, este contém essencialmente
as mesmas concentrações de proteínas e lactose do leite, mas quase nenhuma gordura, e sua taxa
máxima de produção de leite.

Imediatamente depois que o bebê nasce, a perda súbita tanto da secreção de estrogênio quanto
da progesterona pela placenta permite que o efeito lactogênico da prolactina da hipófise materna
assuma seu papel natural de promotor da lactação e durante os próximos 1 a 7 dias, as mamas
começam a secretar quantidades copiosas de leite em vez do colostro. Depois do nascimento do bebê,
o nível basal da secreção de prolactina retorna aos níveis não grávidos durante algumas semanas.
Entretanto, cada vez que a mãe amamenta sinais neurais dos mamilos para o hipotálamo causam um
pico de 10 a 20 vezes na secreção de prolactina que dura aproximadamente 1 hora. Essa prolactina
age nas mamas maternas, pois mantém as glândulas mamárias secretando leite nos alvéolos para os
períodos de amamentação subsequentes. Se o pico de prolactina estiver ausente ou for bloqueado
em decorrência de dano hipotalâmico ou hipofisário ou se a amamentação não prosseguir, as mamas
perdem a capacidade de produzir leite em 1 semana mais ou menos. Entretanto, a produção de leite
pode se manter por vários anos se a criança continuar a sugar, embora a taxa de formação de leite
normalmente diminua consideravelmente depois de 7 a 9 meses.

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